Roteiro para discussão
sobre situação latino-americana, para reunião do Grupo de Conjuntura da FPA
11 de março de 2013
O principal fato deste
período é a morte de Hugo Chávez.
Seguindo o roteiro apresentado na reunião
anterior, devemos analisar o impacto da morte do Chávez sobre a dinâmica
interna de cada país e sobre a dinâmica da integração regional.
Comecemos pela
Venezuela. O impacto imediato é o mobilizar e cerrar fileiras dos setores
populares liderados por Chávez, indicando a vitória de Nicolas Maduro nas eleições
presidenciais de 14 de abril próximo.
Por isto mesmo, a
oposição terá que escolher entre disputar ou não, já que ao participar reconhecerá
a legitimidade do processo, ampliará a mobilização do chavismo e pode
proporcionar a Nicolas Maduro uma votação similar ou até superior a obtida por
Chávez na eleição presidencial de outubro de 2012.
Nesta decisão, vai
pesar a disputa interna à oposição: se por um lado nova derrota pode enfraquecer
Henrique Capriles, por outro lado lançar outro nome pode fortalecer uma alternativa
a Capriles e ao mesmo tempo enfraquecer eleitoralmente a oposição, em 14 de
abril e posteriormente.
Seja como for, se não
houver nenhuma novidade, a tendência é Nicolas Maduro ser o próximo presidente
da República Bolivariana da Venezuela. Aí começam os desafios de médio prazo,
que são basicamente três: 1) estabelecer uma direção coletiva, tanto pública
quanto interna, para o “bolivarianismo”; 2) enfrentar as debilidades do
processo, especialmente as econômicas; 3) e um terceiro desafio, já enfrentado
em processos similares, diz respeito a como lidar com a herança ideológica, teórica,
programática, cultural do próprio chavismo.
Este desafio, é
importante dizer, não se limita aos próprios venezuelanos. Especialmente por
iniciativa da direita, está em curso um balanço da experiência venezuelana;
sendo que no caso da direita, isto tem não apenas com o objetivo de
desqualificar o que foi feito, mas também de caracterizar como “autoritarismo
populista e voluntarista” o conjunto das orientações do que acostumamos chamar
de chavismo.
É importante que o
conjunto da esquerda participe deste debate, uma vez que a experiência do
governo Chávez (1999-2013) tem inúmeros ensinamentos a nos dar acerca dos
problemas e das possibilidades de uma estratégia de transição ao socialismo, a
partir da conquista eleitoral de governos, nas atuais condições latinoamericanas
e caribenhas.
Para além daqueles
pontos óbvios, acerca dos quais nos compete defender o governo de Hugo Chávez, cabe
considerar que o chavismo tem quatro
características que merecem ser destacadas e analisadas neste debate: 1-a preocupação
em construir uma doutrina, vinculando o passado (Bolívar), o presente
(integração) e o futuro (socialismo do século XXI); 2-uma linha militar,
segundo a qual a revolução bolivariana é pacífica, mas não é desarmada; 3-um
internacionalismo hiperativo, com um forte componente de solidariedade
material; 4-um forte destaque para a participação democrática, inclusive
eleitoral, do povo; 5-a compreensão de que a polarização é, no fundamental,
positiva.
O debate sobre o
balanço da experiência venezuelana está recolocando sobre a mesa a “teoria” das
“duas esquerdas”, a “carnívora” e a “vegetariana”; assim como recoloca o debate
sobre os dois caminhos da América Latina, o supostamente exitoso “Arco do
Pacífico” em aliança com os EUA versus os caminhos propostos pela Alba, Celac,
Unasul e Mercosul.
Isto nos remete para a
discussão acerca do impacto da morte de Hugo Chavez sobre os demais países da
região e, também, sobre o processo de integração.
Os Estados Unidos e seus
aliados europeus enxergam no fato uma brecha, por onde poderiam penetrar e
desestabilizar o processo bolivariano e, com isso, afetar o conjunto da
esquerda regional, especialmente aqueles países que receberam mais apoio da
Venezuela (Cuba e Nicarágua, entre outros).
Paradoxalmente, esta
possibilidade (desestabilização da Venezuela) não é de total agrado de alguns
governos de centro-direita existentes na região. Especialmente no caso do
governo colombiano, a existência de um forte pólo chavista cumpre um papel de
contraponto e de estabilização regional, útil para Santos tanto no conflito com
as Farc quanto no conflito com Uribe.
No caso dos países
receptores da solidariedade material venezuelana, é importante considerar que –mesmo
na hipótese mais provável da vitória de Maduro— o ritmo, a extensão e a capacidade
de pronta-resposta da Venezuela tendem a reduzir-se, pelo menos por algum
tempo.
Considerando que o
Brasil já entrou em período eleitoral, e considerando a situação argentina e
venezuelana, podemos prever que o processo de integração regional poderá sofrer,
ao menos no curto prazo, uma certa “crise de direção”.
Lembramos, a este
respeito, o que foi dito no Roteiro de 25 de fevereiro: “a crise internacional,
a contraofensiva dos Estados Unidos e aliados, somadas as dificuldades e
debilidades dos setores progressistas e de esquerda, produziram uma situação,
hoje, de equilíbrio relativo entre as forças pró-integração subordinada e as
forças pró-integração autônoma. (...) Evidente que não vai durar para sempre a
situação atual, de equilíbrio relativo entre as forças pró “integração
subordinada” e as forças pró “integração autônoma” Ademais, a situação de
equilíbrio tende a favorecer, no médio prazo, aqueles que são favoráveis à
integração subordinada”.
Reafirmamos também que 2013
“será o ano de controlar os problemas econômicos da Argentina, acomodar
politicamente a situação na Venezuela, relançar o crescimento acelerado no
Brasil.”
“Será o momento,
também, de acelerar o processo de integração regional, para o que será
necessária uma atitude mais pró-ativa do tripé Brasil-Argentina-Venezuela”.
“Será o momento de
neutralizar a operação Arco do Pacífico, através de três movimentos: ajudar a
que tenha êxito o processo de negociação FARC-Santos; recuperar o governo
peruano para o projeto de integração regional; trabalhar pela vitória da centro-esquerda
nas eleições chilenas, com base num programa de maior colaboração do Chile com
Unasul e Mercosul.”
“Será um momento,
ainda, de reforçar a institucionalidade da esquerda na Venezuela, Bolívia e
Equador, aprendendo com os últimos acontecimentos na Venezuela, que confirmam a
necessidade de múltiplas lideranças de massa e fortes organizações partidárias.”
“No curto prazo, temos
pela frente a eleição paraguaia, no dia 21 de abril.”
“No caso do México,
América Central e Caribe, cabe analisar os movimentos iniciais do novo governo
mexicano, acompanhar de perto o processo eleitoral salvadorenho, e estabelecer
vínculos mais profundos com as novas gerações dirigentes na Nicarágua e em
Cuba.”
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