Apresentação
O 6º Congresso do Partido dos
Trabalhadores, realizado entre 31 de maio e 2 de junho de 2017, aprovou um
conjunto de resoluções, publicado no presente caderno.
Foram meses de debate,
envolvendo petistas de todos os quadrantes, desde que a máxima instância
partidária foi convocada. Além das discussões propiciadas pelas teses das
distintas tendências, a direção nacional buscou estimular a construção coletiva
de posições, com a criação de uma comissão de sistematização.
Essa comissão, que já havia
elaborado um folheto de debates no início do processo congressual, foi
responsável por redigir e apresentar projetos de resolução à plenária
deliberativa do 6º Congresso, recolhendo contribuições das tendências, dos
estados e dos grupos de discussão instalados durante o próprio congresso.
Aprovadas essas resoluções,
praticamente por unanimidade, revelando a unidade e a coesão de nosso partido
frente ao campo golpista e seu programa, coube à mesma comissão incorporar
emendas e dar redação final aos documentos deliberados pelos delegados.
Esse método nos trouxe aos
textos aqui reunidos, divididos em cinco temas: situação internacional,
situação nacional, balanço dos governos petistas, estratégia e programa,
funcionamento partidário e organização. Além dessas cinco resoluções centrais,
dois anexos foram adicionados: sobre o combate interno ao machismo e sobre a
luta contra o racismo.
Outras propostas, apresentadas
como moções, estão incorporadas aos anais do 6º Congresso e compõem o acervo
documental dessa histórica empreitada.
O PT demonstrou, mais uma vez,
vitalidade orgânica e democracia interna, analisando criticamente o período
histórico interrompido pelo golpe contra a presidenta Dilma Rousseff e
construindo uma rica orientação política para o cenário de resistência no qual
vivemos.
Os documentos congressuais
sintetizam o rumo que nosso partido propõe às classes trabalhadoras e às forças
progressistas de nosso país. São uma ferramenta para avançarmos na unidade do
campo popular, em sua capacidade de luta, tendo como objetivo central a
reconstrução de uma alternativa democrática contra as oligarquias nativas e
seus sócios internacionais.
O 6º Congresso carregou a marca
fundacional do PT: suas resoluções foram debatidas e aprovadas em meio às batalhas
contra a agenda ultraliberal do governo usurpador, às manifestações e protestos
que tomaram as ruas do país, à grande greve geral do dia 28 de abril. Foram
escritas e decididas dentro das trincheiras nas quais vive, luta e se organiza
o povo brasileiro.
Saímos desse processo mais
unidos, mais confiantes e mais dispostos ao bom combate por um país justo,
democrático e soberano. O caráter socialista e popular de nosso partido,
forjado ao longo de sua história, se vê reafirmado pelas posições adotadas nos
textos congressuais, que devem servir de guia para a ação prática de todos os
petistas.
Viva o 6º Congresso!
Viva o Partido dos
Trabalhadores!
Gleisi
Hoffmann
Presidenta
Nacional do PT
RESOLUÇÃO SOBRE SITUAÇÃO INTERNACIONAL
1.
A crise do
capitalismo, que teve seu epicentro nos países desenvolvidos em 2008, não se
encerrou. Teve consequências – de desaceleração ou de recessão econômica –
sobre o conjunto dos países do mundo com importantes impactos negativos sobre o
Brasil e a América Latina.
2.
Um conjunto de
fatores, surgidos em diferentes momentos da história recente, compõe o cenário
internacional, dentre eles: a hegemonia sem precedentes do capitalismo no
mundo; a natureza do capitalismo contemporâneo, altamente financeirizado e sob
profunda e duradoura crise; o declínio relativo da potência hegemônica, os EUA;
a ascensão de outros polos de poder, produzindo uma situação mundial
crescentemente multipolar, o que não significa um mundo pacífico; blocos,
acordos e tratados com sintomas de desarranjo e crise, e não de ordem e
estabilidade; a resistência da classe trabalhadora face ao aumento das taxas de
exploração, de desemprego, de redução na remuneração, piora nas condições de
trabalho e reversão de direitos sociais.
3.
Para os governos
progressistas, tal conjuntura
indicou que a continuidade das políticas de inclusão social exigiria reformas
econômicas e sociais mais profundas e estruturais, que aumentariam os conflitos distributivos entre classes, com um
acirramento da luta entre elas.
As dificuldades políticas – que incluem derrotas eleitorais e os golpes de
Estado no Brasil, Honduras e no Paraguai – estão inseridas nesse contexto.
4.
O colapso de 2008 é a mais grave crise do capitalismo desde
1929. As causas que produziram a crise de 2008 são de
variados tipos: os programas de globalização neoliberal que dominaram o mundo
nos anos 1980 e seguintes; as baixas taxas de crescimento dos países
capitalistas centrais, que se arrastam desde os anos 1970; a ocorrência, em
espaços de tempo cada vez menor, de crises
financeiras de variados tipos e profundidades; e um conjunto de outros
fenômenos, que afetam o meio-ambiente, as fontes de energia e de alimento,
entre outros. As diversas causas que
produziram a crise de 2008, sua profundidade, extensão
e continuidade, indicam que
estamos diante de uma "crise de acumulação", ou seja, que o
capitalismo enfrenta dificuldades agudas para continuar se
reproduzindo de forma ampliada.
5.
A resposta dos países capitalistas centrais à crise é, no
plano interno, aprofundar os ataques contra os
direitos políticos e sociais da classe trabalhadora; e, no plano externo,
aprofundar as agressões imperialistas contra a soberania nacional dos países
economicamente mais frágeis e multiplicar
as guerras de pilhagem contra os
povos.
6.
Essas agressões geram reações e possibilidades de diferentes tipos e conteúdos. É o caso das grandes
lutas sociais e das alternativas políticas e eleitorais impulsionadas por
forças de esquerda em todos os continentes.
7.
Na Europa, frustrações com a
socialdemocracia no poder levaram o
eleitorado tradicional à abstenção, o que ajuda a explicar, inclusive, resultados
eleitorais de setores ultraconservadores e fascistas. Recentemente, surgem projetos de esquerda que combatem a globalização
capitalista.
8.
Por outro lado, no caso da América Latina e Caribe, temos a
ação dos governos progressistas e de esquerda.
9.
No outro plano, surgem alianças e blocos como os BRICS, que
disputam espaço com a hegemonia dos EUA.
10. Mas também
surgem reações e alternativas reacionárias, como é o
caso do fundamentalismo terrorista e do populismo de direita, que, junto com o neoliberalismo, conduzem o mundo, por diferentes caminhos, ao agravamento
da instabilidade, das crises e das guerras.
11. O PT reafirma
sua oposição à política de guerra e exploração que é aplicada pelo sistema
capitalista mundial em crise, bem como sua solidariedade à luta dos trabalhadores e povos por sua emancipação em todo
o mundo.
12. O mundo caminha para o aumento acelerado dos conflitos entre o imperialismo e os países
dependentes, entre os super-ricos e uma crescente maioria empobrecida. Por isso
mesmo, a dinâmica atual do capitalismo é cada vez mais autoritária e incorpora, de modo crescente e permanente,
ameaças às liberdades democráticas. As políticas de superausteridade esvaziam os regimes de bem-estar social e impõem
novas formas de exclusão social e aumento acelerado da desigualdade. Esse mundo
não pode ser compreendido e nem superado,
se não empreendermos a crítica radical do capitalismo e a defesa do socialismo
democrático, recolocando essa perspectiva como motor de nossas ações.
13. A crise econômica também afetou o continente
latino-americano e caribenho,
devido à retração dos mercados dos países desenvolvidos e à queda dos preços das commodities na
esfera internacional, tendo em vista a
dependência da maioria de seus países da exportação de produtos primários.
Apesar do expresso compromisso político com a integração regional como
mecanismo de inserção soberana da região na economia mundial, os governos
progressistas e de esquerda da região não lograram imprimir maior ousadia e
assertividade à integração econômica da região, através da criação de cadeias
produtivas regionais complementares entre si, da diversificação econômica - no caso de países dependentes de um
único fator de produção -, maior
agilidade na construção da integração na infraestrutura e na área energética,
bem como na consolidação de uma nova arquitetura financeira capaz de financiar
o desenvolvimento autônomo, integrado e soberano da região como, por exemplo, o
Banco do Sul.
14. Além disso, se os governos progressistas e de esquerda
tiveram um protagonismo importante para o progresso social desde a eleição de
Hugo Chávez na Venezuela em 1998, não conseguiram consolidar transformações
estruturais importantes, como as
reformas política, tributária e dos
meios de comunicação, ainda que,
em alguns casos, transformações estruturais importantes, no caminho de uma
refundação institucional, tenham sido levadas a cabo, como na reforma da lei
dos meios de comunicação na Argentina, e,
ainda mais, nas refundações
constitucionais da Venezuela (1999), do
Equador (2008) e da Bolívia
(2009).
15. Apesar do revés político recente da Argentina e do
Brasil, há resistências importantes. A oposição de direita, majoritária no
parlamento venezuelano, não conseguiu impor a sua agenda golpista ao país. Daniel Ortega, da Frente
Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), foi reeleito na Nicarágua com 72% dos
votos. Lenin Moreno, o candidato a presidente pelo Movimento Alianza País,
venceu a disputa em segundo turno da eleição presidencial no Equador. No Cone
Sul, o direitista Macri não tem conseguido solucionar os problemas econômicos
de seu país e, mais do que isso,
tem agravado a situação social e
aumentado o desemprego. O golpista Temer, isolado por sua ilegitimidade
original, denúncias de corrupção e uma política antipopular de contrarreformas,
está ameaçado de cair antes que se esgote o mandato usurpado. Mantém-se profunda instabilidade
política. A direita, na
Argentina e no Brasil, promove uma verdadeira “caçada
política” a Cristina Kirchner e a Luiz Inácio Lula da Silva, para impedi-los de
se candidatarem nas próximas eleições presidenciais, ou ainda tentar interditar judicialmente a candidatura
do presidente Fernando Lugo, do
Paraguai, deposto por um golpe parlamentar em 2012.
16. Na Colômbia, se vislumbra, ainda que num horizonte um
pouco distante, a possibilidade de fortalecimento de uma esquerda democrática
com o acordo de paz firmado entre o governo e as FARC–EP e o início das conversações com o segundo grupo mais
importante, o ELN. Entretanto, a extrema direita colombiana tenta sabotar esta
possibilidade a todo custo e cabe à cidadania do país atuar para assegurar a
transição para esta nova realidade, o que requer também o apoio dos partidos
progressistas e de esquerda da região.
17. O Foro de São Paulo, secretariado pelo PT desde sua
fundação, vem buscando responder à nova realidade política da América Latina e
do Caribe, construindo um programa político denominado "Consenso de Nossa
América". Neste sentido, a realização do XXIII Encontro, a realizar-se em julho, na Nicarágua, será uma oportunidade importante para proporcionar maior
dinamismo às nossas iniciativas políticas, à luz dos atuais desafios que a nova conjuntura nos impõe.
18. Em seus trinta e
sete anos de existência, a atuação internacional do Partido dos Trabalhadores
buscou responder aos desafios de um mundo e de um país em transformação. Nos
anos seguintes à sua fundação, nosso trabalho internacional esteve marcado
pelas ações de solidariedade às lutas por libertação
nacional e denúncia contra as violações de Direitos Humanos em vários países da América
Latina e Caribe.
19. Com os
resultados obtidos na eleição presidencial de 1989, o PT ganhou maior
reconhecimento e projeção internacional. Situa-se
neste cenário a convocatória feita por Lula e Fidel Castro a partidos,
movimentos e organizações de esquerda da América Latina e Caribe, para uma
reunião em julho de 1990, daquilo que mais tarde se tornaria o Foro de São
Paulo.
20. Os anos 1990 foram fortemente marcados pela crise dos países do
chamado "socialismo real" e pela rápida expansão do neoliberalismo na
América Latina. Neste mesmo período, o PT consolidou sua opção de trilhar
caminhos próprios, a partir de relações internacionais
plurais com vários setores de esquerda e democráticos, o que também reflete a
própria diversidade constitutiva do PT. Foi também nos anos 1990 que o PT se
engajou no debate sobre a integração regional, contrapondo-se à orientação
neoliberal pautada exclusivamente em acordos
comerciais e apontando a necessidade de que os processos de regionalismo se
orientassem pela integração das estruturas produtivas e dos povos. Também nos
anos 1990, o Partido vai progressivamente conquistando administrações
municipais e consolidando o chamado modo petista de
governar, com forte espaço para instrumentos de democracia participativa, com
repercussão, reconhecimento e ações internacionais, que, aliás, contribuíram
para o surgimento do Fórum Social Mundial.
21. Com a primeira eleição de Lula, em 2002, e o início do mandato em 2003, a atuação do PT ganhou nova
dimensão e novos desafios, incluindo dessa vez a tarefa de contribuir na
formulação e implementação da política externa brasileira e, simultaneamente, manter uma
elaboração e uma prática autônomas enquanto Partido.
Desde então e até 2016, granjeamos um grande reconhecimento internacional, o
que ajuda a explicar a mobilização internacional contra o golpe, tanto por
parte de organizações políticas e sociais, quanto por parte de governos. A
esse respeito, o 6º Congresso do
PT agradece a solidariedade, tanto dos amigos de sempre – os governos e
partidos de esquerda, socialistas e progressistas de todas as regiões do mundo -, quanto de governos que divergem de
nossa orientação política, mas
que se manifestaram de maneira firme contra o golpismo. Também é digna de nota a atuação firme e
incansável dos petistas e núcleos do exterior na luta pela democracia e contra
o golpismo em diversas partes do mundo.
Diante das considerações acima
consolidadas, o 6º Congresso Nacional do PT sintetiza sua política
internacional nas seguintes resoluções:
1.
As principais características do atual
cenário mundial são as crises, as guerras e a instabilidade generalizada. O
aparecimento da xenofobia e do protecionismo comercial surgem como elementos ao mesmo tempo decorrentes e alimentadores
da crise política. A dominância da globalização neoliberal entrou em crise.
2.
Nos países centrais, as políticas neoliberais
não foram interrompidas com a crise de 2008. Os grandes estados capitalistas
fizeram uma profunda intervenção estatal, mas seu objetivo foi salvar o grande
capital, sem alterar o padrão de acumulação. Este tipo de intervenção impediu o
colapso, mas às custas de uma ampliação da polarização social, assim como do
aprofundamento das agressões imperialistas e do recurso crescente à manipulação
do "terrorismo" e de questões étnicas ou confessionais para fins de
"guerra interna". As forças que causam a crise e que se beneficiam dela
são as mesmas que dominam o poder político, econômico, militar e ideológico nos
Estados Unidos e União Europeia.
É por isso que as ações práticas do governo dos EUA ampliam a crise.
3.
Em decorrência dessa contraofensiva
capitalista, os valores humanistas e civilizatórios estão perdendo espaço para
a xenofobia, o racismo e o preconceito;
a intolerância e a descrença na política fazem crescer a tecnocracia. Os partidos que se reivindicam socialistas em todo o mundo precisam, lado a lado aos movimentos sociais,
construir a unidade no combate e resistência ao golpismo e às políticas de
ajuste fiscal e exploração que a direita implementa em todos os continentes.
4.
Há anos vimos chamando a atenção para os riscos derivados da
crise econômica internacional, particularmente, devido ao receituário
neoliberal aplicado para enfrentá-la. A implementação de políticas de
austeridade, num momento em que
a economia mundial necessita de estímulos, somente poderia levar ao resultado atual de estagnação do crescimento econômico mundial, aceleração da concentração da renda
mundial, atingindo níveis nunca
vistos, e evolução para uma profunda crise
social e política.
5.
As lutas nacionais contra a direita, contra
os golpistas, as lutas democráticas e lutas sociais por reivindicações
econômicas deverão se combinar necessariamente com a reivindicação da soberania
nacional e do projeto de integração regional com uma inserção soberana, altiva
e ativa no hemisfério e no mundo.
6.
A atual situação mundial e regional, acima de
tudo, requer a maior unidade possível da esquerda, dos progressistas e
democratas para enfrentá-la, impondo a construção de uma agenda comum dos
partidos políticos, movimentos sociais e sindicatos, a exemplo do que vem sendo
construído no âmbito da Jornada Continental por Democracia e Contra o
Neoliberalismo, por um conjunto de redes e movimentos sociais, incluindo a CSA
– Confederação Sindical das Américas.
Entre
os temas a serem considerados estão postos:
I. Defesa de uma nova ordem internacional de caráter
multilateral, fundamentada na paz entre os povos, ancorada no respeito ao
direito internacional e comprometida com a solução de conflitos, com o respeito
dos Direitos Humanos, com o
combate às desigualdades e à pobreza, com o desenvolvimento ambientalmente
sustentável, incluindo a reforma das organizações internacionais, que, como
herdeiras do contexto pós-segunda guerra mundial, já não refletem o mundo
atual. Neste sentido, articulações como os BRICS são
essenciais, pois trata-se de uma
aliança que configura uma novidade de peso no cenário internacional. Ao PT caberá desenvolver estratégia própria de ação
internacional, em conjunto com
partidos, movimentos sociais e sindicais,
que possam incidir sobre essa aliança.
II. Defesa de um amplo processo de integração regional
econômica e social soberana, na perspectiva estratégica de desenvolvimento
econômico e social de longo prazo da região latino-americana e caribenha,
procurando a maior complementação entre os países, como condição para
inserir-nos em um mundo globalizado, preservando a capacidade decisória sobre o
futuro de nosso povo. Essa estratégia de desenvolvimento de longo prazo deve
assegurar que as transformações estruturais e as mudanças tecnológicas contribuam
com os objetivos do desenvolvimento humano, igualdade e sustentabilidade
ambiental, fortalecendo a nova institucionalidade regional, como a UNASUL e a CELAC, além da
democratização do Mercosul. Neste sentido, particularmente aqui em nosso país,
é fundamental que nossas bancadas parlamentares federais se engajem na
aprovação do projeto de lei das Eleições Diretas para os representantes
brasileiros no Parlasul.
III. Defesa de políticas ambientais mundiais que busquem uma relação
harmoniosa entre os seres humanos e a natureza, bem como o incentivo ao
desenvolvimento de novas tecnologias para uma economia sustentável. Lutaremos
pelo cumprimento das metas de redução de gases de efeito estufa, como previsto
no acordo de Paris COP 21 - ONU. Enfatizamos ainda a luta pela proteção da
biodiversidade e da diversidade
sociocultural de povos e comunidades tradicionais. Neste contexto, o 6º Congresso Nacional do
PT repudia o ato unilateral do governo dos Estados Unidos, que anunciou seu rompimento com o acordo do clima de Paris,
interrompendo longo processo de negociações, de votos e de compromissos
compatíveis com a preservação do planeta e de todas as suas formas de vida.
IV. Defesa dos processos democráticos da região
latino-americana e ampliação da democracia, com a adoção de mecanismos eleitorais que tornem o voto o mais representativo
possível e de instrumentos de democracia direta.
V. Defesa da democratização dos poderes judiciários na
região latino-americana e caribenha.
VI. Democratização dos meios de comunicação em toda a
região latino-americana e caribenha.
VII. Respeito à soberania
do Haiti, com a completa retirada das tropas policiais e militares da ONU.
VIII. Ampla liberdade de organização sindical e de
negociação coletiva.
IX. Fortalecimento do Foro de São Paulo como principal
espaço de articulação e expressão da esquerda latino-americana.
X. Fortalecimento da presença e atuação do partido na África.
XI. Aproximação com as alternativas de esquerda, no plano
internacional, com capacidade real de mobilização e disputas de governos,
buscando estabelecer agendas e planos comuns de ação.
7.
O 6o
Congresso determina ao Diretório Nacional que organize, até o final de 2017,
uma Conferência sobre o PT e as Relações Internacionais, com o objetivo de
detalhar nossa atividade mundial, fortalecer o trabalho da Secretaria de
Relações Internacionais e envolver o conjunto do partido nas iniciativas do
setor.
RESOLUÇÃO SOBRE SITUAÇÃO
NACIONAL
1.
O
Partido dos Trabalhadores realiza seu 6º Congresso em meio a uma conjuntura
marcada pelo crescimento intenso das mobilizações sociais pela saída de Michel
Temer do governo, contra o golpe e os ataques aos direitos consagrados na
Constituição de 1988. O País vive uma profunda crise institucional e política,
fortemente agravada pelas denúncias
contra o presidente golpista e contra o senador Aécio Neves, escancarando, para parcelas cada vez
mais amplas de trabalhadores e jovens, o sentido do golpe e a natureza corrupta
do bloco golpista.
2.
As denúncias
recentes revelam com toda crueza as entranhas do sistema político conformado a
partir do financiamento privado de campanhas, das piores práticas fisiológicas
e da tentativa voraz de submeter o Estado aos interesses do sistema financeiro
e dos grandes grupos patronais.
3.
O
golpista Michel Temer está refazendo a Constituição e, sem legitimidade,
efetiva o programa antipopular e antinacional derrotado nas urnas desde 2003,
visando ampliar os padrões de lucratividade do capital. Foi a saída encontrada
pelas oligarquias financeiras, industriais, agrárias, midiáticas e pelos
partidos que as representam para subordinar a política econômica aos
pressupostos da ortodoxia neoliberal,
em sintonia com a tendência mundial do capitalismo de concentrar e exportar
capitais, ampliando a financeirização da economia no contexto da globalização.
Trata-se do projeto dos sem-voto.
4.
Trata-se
de outro projeto de País, envolvendo
uma visão sobre o Estado e suas instituições, sobre a economia, as relações de
trabalho, a sociedade, a política, o poder coercitivo, a democracia, a cultura,
os valores e os modos de vida.
5.
Pretendem
seguir atacando os direitos de nosso povo, especialmente dos mais pobres,
reduzindo a renda dos trabalhadores, promovendo o desemprego, pois a miséria, a
exclusão social, racial e a
pobreza são funcionalmente necessárias aos padrões de acumulação pretendidos
pelo grupo que usurpou o poder.
6.
O
governo ilegítimo de Michel Temer, depois de aprovar a PEC 55, que promove
o ajuste fiscal e congela por 20 anos os investimentos públicos, pretende
continuar a privatização de áreas estratégicas da economia, vender nossas
terras e entregar nosso território, cria as condições para o massacre dos
indígenas e trabalhadores rurais e
segue operando o desmonte do sistema Petrobrás, a partir da venda de
seus ativos e da revogação da lei que
garantia a estatal como operadora
exclusiva do Pré-Sal. Enfraquece os
bancos públicos, como se
verifica no caso das demissões no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal.
Pretende entregar as áreas sociais, o quanto possível, à exploração da
iniciativa privada.
7.
O
desmonte dos direitos trabalhistas trará o aumento do desemprego, da
rotatividade da mão de obra e da precarização, em contraposição a uma fase de
ampliação da formalização do trabalho, verificada especialmente entre 2003 –
2013, e uma queda brutal na
renda dos salários no Brasil, além de inviabilizar a sustentação da Previdência
Social, contribuindo para sua privatização e comprometendo o futuro dos
trabalhadores.
8.
O
desmonte da Previdência ampliará o tempo de contribuição dos trabalhadores e
diminuirá o acesso aos benefícios pelos setores mais vulneráveis, na medida em que deixará de ter como
referência o salário mínimo. Trata-se de um desmonte que, reafirmamos,
beneficiará o mercado da previdência privada, afrontando um direito.
9.
Sem
legitimidade, a permanência de Michel
Temer no poder se torna exercício de força e promoção de instabilidade
política. Por isso o presidente
ilegítimo, enquanto constata a corrosão de sua base de sustentação no
Congresso, lança mão da violência e da coerção, como ficou evidente com a ação brutal da PM do Distrito
Federal e da Força Nacional
contra a grande manifestação pelas Diretas-Já em 24 de maio. Ainda mais grave e truculento foi o chamado
ilegal e acintoso ao Exército, atitude que não se via no Brasil desde a
redemocratização.
10. Prevendo o crescimento
vertiginoso das manifestações, Temer
opta pela violência e baixa o decreto que previa o emprego das Forças Armadas
para a “garantia da Lei e da Ordem no DF”. Tratava-se de sitiar o Congresso
para votar as reformas. O conjunto das manifestações das entidades da sociedade
civil, juristas, intelectuais, da oposição no Congresso e de setores
progressistas levou à revogação
do decreto um dia depois.
11. São práticas de um Estado de
Exceção que pretende seguir perseguindo e criminalizando os movimentos sociais,
como nos casos dos ataques violentos contra a população indígena, no Mato
Grosso e Maranhão, e da chacina
de trabalhadores rurais na Fazenda Santa Luzia, no município de Pau D'arco, no Pará.
12. Tal violência se intensificou
especialmente depois da Greve Geral de 28 de abril, uma das maiores de nossa
história, da importante greve dos professores que a antecedeu e das
manifestações contra o golpe, por Diretas-Já.
13. Isso explica porque setores da
mídia oligopolizada, comitê central do golpe, e os partidos que ainda sustentam
o governo defendam a continuidade de Meirelles e sua equipe, a qualquer
custo. O conflito público, sem
precedentes, entre grupos de comunicação em torno das gravações sobre o diálogo
de Michel Temer com um dos donos da JBS, diz respeito, fundamentalmente, à garantia das melhores condições para
acelerar o ritmo da votação das “reformas”.
14. Para aplicarem seu programa neoliberal, os próceres do golpe precisam
destruir o PT, enfraquecer e desmoralizar os partidos de esquerda e os
movimentos sociais, e o fazem pervertendo as informações e a pluralidade e a liberdade de expressão que dizem
defender. Os oligopólios da comunicação estão em sintonia com a violência
perpetrada por setores do Ministério Público, das polícias e do Judiciário, que se erigiu no Brasil como um
poder bonapartista, isto é, que
se anuncia acima das classes e dos poderes da República, afrontando o Estado de Direito.
15. A violência do Estado, levada a
efeito por setores do Ministério Público, do Judiciário e das polícias, particularmente no que se
refere à Operação Lava Jato,
materializa-se nas prisões por mera suspeita, nas conduções coercitivas sem
base legal, nos vazamentos criminosos de dados e na exposição da intimidade dos
investigados, na invasão desregrada das comunicações pessoais, inclusive em
relação aos advogados, no
cerceamento da defesa em procedimentos ocultos, nas denúncias e sentenças calcadas em acusações negociadas com
réus, e na não produção lícita de provas, tornando tais práticas ainda mais
banais.
16. A “República de Curitiba”
mantém dirigentes do PT presos há mais de um ano, alguns sequer condenados pelo
regime de exceção que se instala no País. Pedimos liberdade para os presos políticos do PT.
17. De igual maneira, pretendem aprofundar a brutal e inigualável perseguição a Lula e
sua família. Trata-se de tentar apagar e desqualificar o legado de seu governo
e da presidenta Dilma, ao mesmo
tempo em que busca invalidar e interditar o debate sobre as reformas e
transformações das quais o Brasil tanto necessita.
18. O PT luta pelo fim da
corrupção, defende a apuração e a punição de todos os crimes nos marcos
incontornáveis do Estado de Direito.
19. Querem destruir a Constituição
de 1988 e fazem o possível para
separar a economia da política, desmoralizando-a com o intuito claro de
desqualificar a representação, como expressão da soberania popular. O ataque à democracia e a política são
imprescindíveis para reduzir direitos dos trabalhadores e comprometer a
soberania do País.
20. Diante dos fatos envolvendo as
gravíssimas denúncias contra o governo Temer, as elites têm se divido entre
duas alternativas: aqueles que pretendem manter Temer no poder e aqueles que
querem sua saída, com eleições indiretas para a presidência. Os dois grupos têm
em comum a opção pela manutenção
da atual equipe econômica.
21. O PT manifesta sua posição
inegociável pelas Diretas-Já e
contra o golpe dentro do golpe. Enfrentamos quaisquer iniciativas das classes
dominantes de impor eleições indiretas por meio de um Colégio Eleitoral. O PT
rejeita terminantemente as duas alternativas dos golpistas. Para pôr fim a essa crescente escalada de
retrocessos, é preciso antecipar
as eleições, inclusive do Congresso Nacional, para que a vontade livre e
soberana do povo se manifeste nas urnas. O PT e seus parlamentares não votarão
no Colégio Eleitoral.
22. O PT empenhará o melhor dos
seus esforços na formação da mais ampla unidade das forças progressistas pela
saída de Michel Temer e por eleições livres e diretas já para presidente e
vice-presidente, senadores e deputados federais.
23. Impulsionaremos uma vigorosa
mobilização e organização popular por eleições livres e diretas ao lado das
Frentes Brasil Popular e Povo sem Medo.
24. Continuaremos a lutar pela
retirada das reformas da Previdência e Trabalhista; pela revogação da Lei de
Terceirização; pela revogação da Emenda Constitucional 95 do Limite de Gastos;
da Lei de Terceirização (13.429); da Reforma do Ensino Médio, e demais medidas
contra a Conferência Nacional (CONAE) e o Fórum Nacional de Educação.
Continuaremos a defender a volta do marco regulatório do Pré-Sal e a política
de conteúdo nacional para a Petrobrás.
25. Apontamos a urgência da
realização da reforma política,
para que a eleições sejam verdadeiramente livres, e a soberania do povo seja
exercida plenamente, sem o
controle do poder econômico. Defendemos o financiamento público exclusivo; a
manutenção do sistema de voto proporcional e lista partidária pré-ordenada,
eleita em convenção democrática e alternadamente entre homens e mulheres; o fim das coligações proporcionais; cláusula de
desempenho e federações
partidárias.
26. O PT vem há mais de um ano
elaborando um Programa de Emergência para o país. Aprovou no Diretório Nacional, em fevereiro de
2016, o documento intitulado O
Futuro está na retomada das mudanças; aprovou, na bancada, o
Programa Nacional de Emergência e
contribuiu ativamente na elaboração do programa da Frente Brasil Popular.
Seguem, ao final dessa resolução, os principais pontos do Plano
Nacional de Emergência.
27. Nas eleições de 2018 o PT mobilizará sua militância
em todo País, no sentido de ampliar sua
bancada de deputados e senadores,
e as bancadas progressistas de parlamentares para a Câmara dos Deputados e o
Senado Federal.
28. O PT lutará para impedir que os
golpistas interditem o direito do companheiro Lula ser candidato à Presidência da República. Em primeiro
lugar, porque seria uma
violência contra a democracia - particularmente em se tratando de quem no momento
lidera todas as pesquisas de opinião -, mas também porque a eleição de Lula é
uma condição para revogar as mudanças impostas
pelos golpistas. Para adotar medidas de emergência que encadeiem reformas
estruturais, que só o governo Lula pode conduzir, e que enfrentem a crise do
ponto de vista das classes trabalhadoras, é necessária a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte,
livre, democrática e soberana,
que revogue as medias antipopulares e antinacionais de Temer, reforme as instituições, fortaleça o Estado, realize a reforma tributária, empreenda a democratização das comunicações, a reforma agrária, com
preservação ecológica, a reforma urbana e a proteção ambiental, a reforma
do Judiciário, assegure e amplie
a oferta e a qualidade dos direitos sociais, promova a justiça social e fortaleça a democracia.
29. A grandeza dos desafios para pôr fim aos privilégios, à corrupção,
à desigualdade social e regional, à injustiça e ao autoritarismo requer do PT
firmeza e vigor na dinamização e fortalecimento de suas instâncias, de sua
política de organização, formação e comunicação como um partido de massas que,
junto com os movimentos sociais, buscará organizar milhares de jovens e
trabalhadores e trabalhadoras no País.
30. Por isso lutaremos: pela
imediata retirada das contrarreformas da Previdência e Trabalhista do Congresso
Nacional; pela revogação da Lei da Terceirização (13.429); pela revogação da
lei que retira da Petrobrás a condição de operadora exclusiva do Pré-Sal; para
tornar sem efeito as vendas e depreciações de ativos do sistema Petrobrás; pela
revogação da EC 95, pela revogação da reforma
do ensino médio e das contrarreformas realizadas
pelo governo golpista de Michel Temer!
31. Sabemos da dimensão de nossas
responsabilidades. Honraremos a memória e a história de todos aqueles que, com
determinação, lutaram e lutam pela transformação do Brasil em um país livre,
justo, democrático e soberano.
Fora, Temer!
Eleições
Diretas Já!
Nenhum
Direito a menos!
O 6o Congresso aprova os seguintes pontos para um Plano
Nacional de Emergência:
Defender os direitos
da classe trabalhadora
a) Valorização e aumento real do salário mínimo
para que o poder de compra dos trabalhadores estimule a economia.
b) Garantia do Benefício de Prestação
Continuada e reajustes de acordo com a inflação.
c) Garantia do Bolsa Família com reajustes de
acordo com a inflação; alteração da faixa de pobreza, visando incluir mais famílias, e ampliação da política de formação profissional para os
beneficiários.
d) Garantia
da Renda Básica de Cidadania, de caráter universal de direito de todos
os brasileiros, tal como determina a Lei 10.835.
e) Aumento das parcelas do benefício do seguro
desemprego, medida que já conta com previsão legal em momento de alto
desemprego.
f) Ampliação do Programa Minha Casa, Minha
Vida. Retomar as obras destinadas à faixa de rendimentos mais baixos do
programa (paralisadas); instituir plano
para financiamento a longo prazo de reformas residenciais, revendo a
localização dos projetos do atual programa; ampliar o sistema de cooperativa e assegurar a implementação da Lei 11.888, que garante assistência técnica pública.
g) Criação do Fundo Nacional de Desenvolvimento
e Emprego. Esse fundo seria destinado a obras de infraestrutura, saneamento,
habitação, mobilidade urbana e energia
renovável, estabelecendo
contrapartidas sociais e gerando
novos empregos.
h) Defender as definições constitucionais sobre
Seguridade Social e a
Previdência Pública, mantendo a
fórmula 85/95 como regra de acesso para aposentadoria.
Ampliar as condições de financiamento e
recuperar a capacidade de investimento do Estado
a) Retomar o Planejamento de Estado, envolvendo os municípios e os estados
com amplo debate e comunicação que permita a participação de vários setores da
sociedade, principalmente dos trabalhadores e trabalhadoras.
b) Estabelecer uma política de uso criterioso e
gradual de 25% das reservas cambiais em um Fundo Nacional de Desenvolvimento e
Emprego, destinado a
investimento em infraestrutura,
e fundos setoriais de aval para operações de investimento produtivo e geração
de emprego.
c) Implantar um sistema tributário progressivo.
d) Rever a Lei 9.249/95 para eliminar, particularmente,
a possibilidade de distribuir lucros como se fossem juros.
e) Alterar a tributação do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), criando
uma nova tabela para o imposto de renda, ampliando a faixa de isenção, criando
novas faixas e tributando mais quem possui alto rendimento.
f) Regulamentar o inciso VII do art. 153 da
Constituição Federal, que trata do imposto sobre grandes fortunas.
g) Acelerar as medidas de combate à sonegação e
de recuperação da dívida ativa, para
ampliar a arrecadação daqueles que
devem ao Estado brasileiro.
h) Redução dos encargos da dívida pública,
fator fundamental para estabilidade da trajetória da dívida.
i) Reformar o imposto sobre heranças e doações,
conferindo progressividade às alíquotas, isentando as de pequenos
valores e equiparando as grandes às alíquotas praticadas nos EUA e países
europeus, com arrecadação distribuída para União, estados e municípios.
j) Adotar uma política tributária especifica
para operações de crédito,
favorecendo as micro e pequenas empresas, direcionadas a um Programa Nacional
de Geração de Emprego.
k) Fomentar
a indústria, mediante linhas de crédito do BNDES, condicionadas à ampliação dos
postos de trabalho.
l) Estabelecer, no BB e na CEF, linhas de refinanciamento de dívidas familiares, para reconduzir
as famílias endividadas ao mercado de consumo.
m) Realizar,
da mesma forma, o refinanciamento das micro e pequenas empresas, com uma linha
emergencial com recursos do BNDES, operados pelo BB, CEF e cooperativas de
crédito.
n) Reduzir intensamente os juros reais.
o) Revitalizar
o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC).
p)
Retomar as políticas de
desenvolvimento local e regional, fortalecendo
vocações econômicas e as
experiências culturais das localidades,
visando superar as desigualdades regionais.
q)
Fortalecer as políticas voltadas ao
desenvolvimento sustentável da Amazônia, em defesa de sua biodiversidade e de sua capacidade econômica, contra a
desnacionalização. Retomar o plano Amazônia Sustentável.
r)
Fortalecer as instituições públicas
como a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), Banco da
Amazônia (BASA) e Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA).
s)
Fortalecer as políticas e instituições voltadas ao
desenvolvimento do Nordeste, tais como
a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS).
Salvar Estados e Municípios
a) Renegociar as dívidas de estados e
municípios e estabelecer um plano emergencial, tendo em vista que as taxas de
juros que vigoraram sobre essas dívidas são
abusivas.
b) Criar
um programa federal para pequenas obras de manutenção e reparos nos
municípios.
c) Repassar aos estados e municípios recursos
das multas de repatriação sem condicionalidades.
d) Ampliar
o crédito para estados e municípios, visando a superação das desigualdades regionais, e impulsionar políticas de
desenvolvimento local, geração de emprego, renda e inclusão.
Investir em Infraestrutura
a) Fortalecer as ações previstas no Plano
Nacional de Saneamento construído nos governos Lula e Dilma.
b) Fortalecer a Política Nacional de Resíduos
Sólidos.
c) Fortalecer o Plano Nacional de Logística e
Transporte.
d) Expandir a produção de energia elétrica
focada em energias renováveis, principalmente eólicas, solar e bioeletricidade.
e) Completar as obras ferroviárias de
integração nacional, como a ferrovia Norte-Sul, Leste-Oeste e Transnordestina,
dentre outras, fundamentais para redução dos custos de transporte no país.
Salvar a Petrobrás e o Pré-Sal, os maiores
patrimônios brasileiros
a) Impedir e reverter a fragmentação,
destruição e privatização da Petrobrás.
b) Modificar seu Plano Estratégico 2017-2021
para retomar os objetivos de crescimento da produção, buscando novas formas de
financiamento e mantendo a integridade de uma empresa integrada de energia.
c) Estabelecer regras na legislação que impeçam
a privatização disfarçada e a preços vis de ativos da Petrobrás e a entrega de
blocos gigantes do Pré-Sal, que estão sendo realizadas pelo governo golpista.
d) Retomar a política de conteúdo nacional e
compras da Petrobras, restabelecendo e reformulando os programas de conteúdo
nacional para gerar empregos no País, superando a perda de postos de trabalho causada nos últimos dois anos.
e) Retomar o Plano Estratégia Nacional de
Ciência, Tecnologia e Inovação como eixo estruturante do desenvolvimento brasileiro.
Garantir direitos por meio das Políticas
Sociais
a) Defender e aperfeiçoar o SUS, ampliando as condições de seu
financiamento público.
b) Defender os preceitos constitucionais em
relação ao Sistema de Proteção e Seguridade Social como garantia de cidadania.
c) Defender o Plano Nacional de Educação
construído nas Conferências Nacionais de Educação, com investimentos
progressivos para alcançar 10% do PIB em educação, e retomar a construção do
Sistema Nacional de Educação.
d) Defender o Plano Nacional de Cultura, com
investimentos de, no mínimo, 1% do PIB em políticas culturais, e o Sistema
Nacional de Cultura.
e) Defender o Sistema Único da Assistência
Social.
f) Implantar uma nova política nacional sobre
drogas, considerando a interdisciplinaridade da temática, envolvendo as áreas
de saúde, educação, trabalho, segurança e assistência social.
g) Defender políticas públicas que efetivem os
direitos de cidadania dos povos indígenas, reconhecendo sua autonomia e especificidades.
h)
Retomar a reforma agrária para garantir a segurança alimentar e
nutricional com fornecimento de alimentos saudáveis, além de assegurar dignidade para quem vive no
meio rural brasileiro.
i)
Retomar e ampliar a política de
fortalecimento da agricultura familiar, com sustentabilidade ambiental,
econômica, social, cultural.
j)
Retomar o Programa Nacional de Segurança Pública, com cidadania e foco
especial na reestruturação do sistema penitenciário.
k)
Retomar o Plano Nacional de Políticas
Públicas LGBTT, combater a
lgbtfobia e criminalizar a violência
e a discriminação contra a
população LGBTT.
l)
Combater todas as formas de discriminação e violência contra os
cidadãos. Defender incondicionalmente
os Direitos Humanos e os direitos civis.
m)
Retomar a Política Nacional voltada à
Igualdade de Gênero, que visa combater
a discriminação, o machismo,
a exploração, a misoginia, a violência e a desigualdade
em relação às mulheres.
n) Retomar a Política voltada à Igualdade
Racial, que visa combater o racismo
e o genocídio da juventude
negra, aprovada nas Conferências Nacionais. Retomar a aplicação da Lei 10.639/
11.645.
o)
Retomar a Política Nacional para
Juventude aprovada nas Conferências Nacionais.
RESOLUÇÃO SOBRE BALANÇO
DOS GOVERNOS PETISTAS
1.
O Partido dos Trabalhadores foi fundado em 1980,
tendo realizado, desde então, seis congressos (contando o atual) e
quinze encontros nacionais (inclusive dois extraordinários), mais um sem-número
de reuniões estaduais, municipais e setoriais, que aprovaram resoluções
programáticas, estratégias, táticas e organizativas.
2.
De conjunto, estas resoluções contêm não apenas um balanço do
presente e diretrizes para o futuro, mas também uma análise do passado,
inclusive da trajetória do Partido dos Trabalhadores, da ação de sua
militância, de seus mandatos parlamentares e executivos, da contribuição que
buscamos dar para a luta das classes trabalhadoras no Brasil e no mundo.
3.
Portanto, ao incluir o tema “balanço” em sua pauta,
o 6º Congresso não “inventou a roda”. Pelo contrário, pretendeu dar
continuidade a uma prática
crítica e autocrítica que o Partido dos Trabalhadores busca adotar desde sua
criação.
4.
Não somos os únicos a proceder assim. Tanto na
esquerda brasileira quanto mundial, esta atitude crítica e autocrítica é
almejada por muitos outros partidos. Mas nem todos possuem a pluralidade de
opiniões que caracteriza o PT.
5.
Nós sabemos que esta pluralidade não impediu nem
impede, muito pelo contrário, que exista entre nós uma grande convergência em
defesa de um conjunto de objetivos programáticos, entre os quais a luta contra
todas as formas de opressão e exploração, a luta contra o capitalismo, o
colonialismo e o imperialismo, a luta contra o machismo, o racismo e a homofobia,
a defesa do socialismo democrático, do bem-estar social, da mais profunda
democracia, da soberania nacional, do desenvolvimento sustentável, da
integração regional, da paz e do desenvolvimento, assim como de uma nova ordem
mundial.
6.
A pluralidade interna do PT tampouco impediu ou
impede que consigamos construir
importantes sínteses estratégicas e táticas, nas lutas sociais e na ação
institucional, bem como na busca pela
construção de um partido socialista, de massas e
democrático.
7.
Foi assim que construímos nosso Partido e
desenvolvemos nossa ação, acumulando ao longo de quase quatro décadas um
relevante conjunto de experiências em termos de organização popular, de luta
social e de ação institucional, em todos os níveis. Experiências que a
Fundação Perseu Abramo deve seguir sistematizando, debatendo e divulgando.
8.
Sobre todas e cada uma destas experiências e
formulações, há no interior do nosso Partido balanços muitas vezes
diferenciados. Não achamos que isto seja um problema: trata-se de outra das
muitas expressões de nossa pluralidade e, principalmente, de nossa democracia
interna, que rejeita “vereditos oficiais” e não aceita “dar por encerrada a
discussão”, especialmente sobre temas de natureza histórica, sobre os quais
ainda se discutirá muito, sem que seja necessário emitir sobre eles qualquer
pretensa “última palavra”.
9.
Até porque nossas experiências e formulações não
são propriedade privada do Partido dos Trabalhadores: elas fazem parte do
patrimônio histórico do povo brasileiro. Primeiro, porque nossas experiências e
formulações são inseparáveis das lutas deste povo. Segundo, porque o
aprendizado acerca de nossas experiências e formulações está posto ao serviço
das lutas populares. Terceiro, porque é inevitável, legítimo e necessário que haja
um permanente debate entre os que
militam nas diferentes organizações populares acerca das formulações e
experiências protagonizadas pelo PT.
10. Aliás,
nosso Partido já produziu diferentes avaliações acerca de sua própria
trajetória, assim como da trajetória de outras experiências de esquerda. Não
apenas porque o PT é plural, não apenas porque esta pluralidade é distinta a
cada momento, mas também porque nosso ponto de vista é resultado de um
acumulado histórico – no qual se incluem valores, princípios e tradições que
nos marcam desde a criação do Partido -, sempre fortemente marcado pelas
circunstâncias de cada época.
11. A
época que vivemos, por exemplo, é caracterizada pela tentativa, patrocinada pelo grande capital e
por seus instrumentos, especialmente o oligopólio da mídia, de desmoralizar e destruir o Partido
dos Trabalhadores, bem como os avanços conquistados entre 1 de janeiro de 2003
e 12 de maio de 2016, período em que petistas estiveram à frente da presidência da República.
12.
Por isto, ao realizar o balanço deste período, não
podemos deixar de enfatizar nossos êxitos. Não porque não tenhamos cometido
erros, tampouco porque tenhamos sido exitosos em tudo. Aliás, se fosse assim, o
golpe não teria ocorrido e viveríamos no socialismo. Enfatizaremos nossos êxitos,
em primeiro lugar, porque foi
contra eles que os golpistas agiram e seguem agindo. Em segundo lugar,
enfatizaremos nossos êxitos como resposta às mentiras e ao desmonte praticado
pelos golpistas. E, em terceiro lugar, como um argumento adicional em defesa de
nosso regresso à presidência da República.
13.
Embora possa parecer óbvio, achamos necessário
afirmar: se nós mesmos não defendermos o que fizemos, quem o fará? E se não
temos motivos para defender o que fizemos, por que defendemos ser útil, ao povo
brasileiro, o regresso do PT à presidência da República?
14.
Ao destacar nossos êxitos, não deixaremos de
apontar nossos erros e insuficiências. Está mais do que claro que os golpistas
agiram contra nós, devido ao que fizemos de correto. Mas também está claro que tiveram sucesso no golpe devido a
nossos erros e insuficiências. Evidentemente, identificar quais foram estes
erros e insuficiências não alterará a história que passou, nem reduzirá o
tamanho da derrota que sofremos, mas
contribuirá para que consigamos dar a volta por cima e possamos voltar mais
fortes e mais capazes de triunfar.
15.
É importante, quando falamos de nossos êxitos,
recordar que nossos governos não foram homogêneos. Os governos Lula e Dilma não
foram iguais; o primeiro mandato de Lula não foi igual ao segundo, assim como o
primeiro mandato de Dilma não foi igual ao interrompido segundo mandato. Mas,
quando comparamos o desempenho de nossos governos com o desempenho de governos
anteriores (nos referimos aqui, especificamente, aos mandatos de Sarney,
Collor, Itamar e Fernando Henrique), constatamos que existe uma diferença
profunda: durante nossos governos houve uma melhoria no padrão de vida da
maioria da população brasileira. Aliás, podemos dizer que durante os mandatos
Lula e Dilma nosso país ocupou a
vanguarda mundial no combate à fome, à pobreza e à miséria: dezenas
de milhões de pessoas passaram a ter direito à vida. De inspiração antineoliberal, nossos governos implementaram não
apenas políticas públicas de inclusão social e transferência de renda, mas
principalmente de ampliação de direitos.
16.
Elevar o padrão de vida da maioria da população
brasileira também foi um dos êxitos de nossos governos, a razão
fundamental pela qual – independentemente
dos nossos erros e insuficiências - consideramos que valeu a pena e segue
valendo a pena o esforço de construir o Partido dos Trabalhadores, participar
das organizações e mobilizações das classes trabalhadoras, disputar eleições e
exercer mandatos, travar a luta política, ideológica e cultural contra o
capitalismo e em defesa do socialismo democrático.
17.
Alguns – inclusive no próprio Partido dos
Trabalhadores – interpretam a frase “melhorar o padrão de vida” de maneira
reducionista, como se fora o mesmo que dizer “consumir mais”. Alguns fazem esta
interpretação em tom de crítica, outros em tom de elogio. Estas diferentes
interpretações remetem a uma questão extremamente importante: que tipo de
sociedade almejamos e quais os variados caminhos para construí-la.
18.
O conjunto das teses debatidas no 6º Congresso Nacional do PT apontam
que as classes trabalhadoras têm o direito de consumir mais, salientando, explícita ou
implicitamente, que entendem isto como parte de um processo histórico que
tornará possível, às classes trabalhadoras, assumir o controle das riquezas
materiais e espirituais produzidas pela sua atividade criativa. Portanto,
“consumir mais” não é nem pode ser um objetivo em si mesmo; pelo contrário,
deve ser visto como parte de uma caminhada que inclui construir novos padrões
de consumo e de vida em sociedade, de relação com outros povos e com a
natureza. Motivo pelo qual, quando apontamos a ampliação do consumo individual
e familiar como um desdobramento importante daquilo que nossos governos
fizeram, também apontamos que não foi e/ou não deveria ter sido apenas isto o
que fizemos e o que pretendemos fazer.
19.
A geração de empregos vai muito além de
proporcionar um salário: numa sociedade como a nossa, o desemprego tende a
produzir todo tipo de constrangimento, sofrimento e humilhação. Já a geração de
emprego gera não apenas desdobramentos econômicos, mas também efeitos
culturais, sociais e psíquicos extremamente positivos, não apenas para um
indivíduo, mas para o conjunto da vida em sociedade.
20.
De maneira similar, o acesso à educação vai muito
além de proporcionar qualificações técnicas e perspectivas futuras de melhoria
salarial. Ao possibilitar que
milhões de trabalhadores e filhos de trabalhadores tenham acesso à escola, à
educação e à cultura, estamos desprivatizando e socializando o saber
acumulado pela humanidade.
21.
O acesso à casa própria vai muito além da redução
do gasto com aluguel; trata-se de garantir que as pessoas do povo tenham sua
moradia, seu teto, seu abrigo, seu lar, contribuindo para a segurança material
e emocional, sem a qual os laços comunitários são mais facilmente ameaçados e
destruídos.
22.
O acesso à energia elétrica vai muito além da
possibilidade de utilizar eletrodomésticos; trata-se de transportar para nosso
tempo pessoas e regiões que vinham sendo mantidas em condições do século XIX e
anteriores.
23.
O Bolsa Família significa
muito mais do que um dinheiro depositado numa conta bancária, assim como a política de reajuste do
salário mínimo e das aposentadorias vai muito além de impedir a erosão
inflacionária. Para milhões de pessoas, significa sentir-se parte de uma
comunidade, significa demonstrar que compartilhamos responsabilidades e destinos,
que ninguém pode ser sujeito ao abandono, à miséria, à privação, ao esquecimento e desemparo na doença e na velhice.
Este talvez seja o sentido mais profundo de políticas como o SUAS e o SUS,
entre muitas outras.
24.
Portanto, quando observadas em conjunto, estas e outras políticas públicas que, no curto prazo, podem ter resultado ou efetivamente
resultaram em ampliação do consumo, também tinham relação – algumas vezes tênue
e contraditória, outras vezes intensa e cristalina – com o projeto de
devolver às classes trabalhadoras, enquanto indivíduos e enquanto coletivo, o
produto do seu trabalho. E, ao mesmo tempo, de permitir às classes
trabalhadoras afirmar outros padrões societários, internos e externos, de
relação entre os seres humanos e de relação com a natureza. É por isto que
governos que se empenharam em gerar empregos e aumentar os salários, também
buscaram garantir e ampliar direitos, combater o racismo, a homofobia, a
violência contra a mulher, a exclusão e desrespeito com os povos indígenas. É por
isso que nossos governos, em sua política externa, romperam com o hábito de
“falar fino com os poderosos e falar grosso com os frágeis”. É por isso,
igualmente, que buscamos – ainda que com muitas contradições – superar o modelo
predatório que caracteriza nossa economia há séculos.
25.
As teses debatidas no 6º Congresso não
têm dúvida em apontar os limites de tudo que fizemos e o tanto que deixamos de
fazer. Até porque não se conseguiria mudar, em menos de duas décadas, séculos
de história. O que mais importa é que estas teses deixam claro que pretendemos
voltar a governar e o faremos reafirmando que não queremos ser um país
plutocrático, a serviço dos que ganham sem trabalhar, nem queremos ser um
país falsamente meritocrático, que garante para alguns padrões de “classe
média”, às custas de muitos que são privados do acesso ao consumo e aos
direitos. Queremos ser um país onde as classes trabalhadoras tenham um alto
padrão de vida, material e cultural, com base em novos paradigmas de consumo e
de vida em sociedade, de relação com outros povos e com a natureza.
26.
Sabemos que para atingir estes objetivos é
necessário garantir fortes políticas públicas, que não apenas materializem, mas que também permitam ampliar de
forma expressiva e continuada os direitos. Neste sentido, com todos os limites
que possam ter tido e que efetivamente tiveram, os governos Lula e Dilma
construíram experiências que contrastam com a lógica anteriormente predominante
em diversas esferas do Estado: a ideia de que políticas públicas são precárias
por natureza, ineficientes, quando muito tratadas como matéria prima de
marketing, carentes da seriedade e da atenção que devem merecer ações cujo
destinatário é o povo brasileiro.
27.
Se os governos Lula e Dilma construíram e apontaram
para aquele tipo de experiências, contrastantes com o que pensava e ainda pensa
a classe dominante deste país, é antes de mais nada porque, ao longo de sua
história de 37 anos, o Partido dos Trabalhadores desenvolveu uma prática que
apontava num sentido inovador. Fizemos isto contribuindo para a organização e
participando da luta das classes trabalhadoras, de todos os setores explorados
e oprimidos. Fizemos isto através da ação de governos municipais e estaduais,
da luta parlamentar e de leis por nós propostas, das lutas políticas e sociais
que o PT protagonizou ou integrou. Os governos Lula e Dilma são e devem ser
vistos como uma parte importante desta trajetória. Não como seu ápice, nem como
seu final, pois muito ainda há o que fazer e muito mais ainda conseguiremos fazer:
transformações profundas e estruturais, em direção ao socialismo democrático.
28. O
golpismo busca desmontar, no plano simbólico e material, as ações implementadas
por nossos governos nacionais no sentido de melhorar o padrão de vida da
maioria da população brasileira. As teses debatidas no 6º Congresso
apontam que o trabalho deletério dos golpistas foi facilitado pela política
econômica adotada no início do segundo mandato da presidenta Dilma, política
que -- para além dos efeitos econômicos e sociais que produziu -- teve como
principal efeito político desorientar parte de nossa base social e eleitoral.
Os golpistas contaram, também, com a força do oligopólio da mídia, contra o
qual nossos governos não tomaram as medidas reclamadas pelo nosso Partido e por
grande parte da esquerda brasileira. Os golpistas se beneficiaram, ainda, da
hegemonia que as forças de centro-direita seguiram mantendo sobre grande parte
das instituições brasileiras, desde o Judiciário até o Congresso Nacional, que
não foram objeto de uma reforma política e de Estado. Contribuiu para o golpe o
controle do capital financeiro, transnacional e oligopolizado sobre a economia
nacional - um controle explícito
no financiamento privado empresarial das eleições, assim como nas operações de
sabotagem e desestabilização econômica que foram praticadas contra nossos
governos. Nossos governos enfrentaram de forma tímida o capital
financeiro. Deveríamos ter realizado uma auditoria cidadã e soberana da dívida
pública e denunciado ao povo brasileiro o quanto dos recursos públicos são
destinados ao esquema da dívida. Finalmente, mas não menos importante, o
golpismo foi em alguma medida estimulado, respaldado e orientado por agentes
estatais e não estatais estrangeiros.
29. Nunca
é demais repetir que o programa político, econômico e social do golpismo foi
derrotado nas eleições de 2002, 2006, 2010 e 2014. Sendo que nas três últimas
eleições presidenciais, o povo avaliou e aprovou, majoritariamente, as
realizações dos governos Lula e Dilma. Todavia, há pesquisas que informam que
parte importante da população brasileira aprovou o que fizemos, votou em nossas
candidaturas, mas não compreendeu adequadamente o vínculo existente entre nossas realizações administrativas e um
determinado programa, uma visão de mundo.
30.
Neste sentido, é preciso reconhecer que falhamos em
explicar e convencer o conjunto de nosso eleitorado de que os êxitos obtidos por nossos governos só foram possíveis
ali onde conseguimos construir políticas publicas que materializassem uma visão
alternativa e antagônica à concepção neoliberal, entreguista e antidemocrática, que foi hegemônica na presidência da
República, entre 1990 e 2002.
31.
Não é segredo que existem em nosso Partido
diferentes opiniões acerca do quanto fizemos. Há quem esteja convicto de que
fizemos o máximo que a correlação de forças permitia e permitiria. Há os que
afirmam que poderíamos e deveríamos ter feito mais. Há quem esteja convencido
de que conciliamos em demasia com os interesses do grande capital, do
agronegócio e da especulação financeira.
32.
Mas é importante ressaltar que nenhuma das
posições apresentadas durante o 6º Congresso Nacional do PT duvida que --
especialmente quando comparados ao governo usurpador -- nossos governos
efetivaram políticas públicas que buscavam implantar outra concepção de
desenvolvimento, expressa, por
exemplo, na política externa
altiva e ativa, no arquivamento do projeto de Área de Livre Comércio das
Américas (ALCA), no estreitamento dos laços com os vizinhos da América do Sul,
no aprofundamento de projetos comuns aos BRICS, nas relações com o continente
africano, nas políticas de
participação popular, na Lei da
Partilha do Pré-Sal, na retomada
do papel protagonista do Estado, tanto no desenvolvimento econômico quanto na
ampliação do bem-estar social.
33.
As teses debatidas no 6º Congresso
destacam, especificamente, um conjunto de ações e políticas que ampliaram os
direitos, a saúde e a educação da classe trabalhadora, especialmente das
mulheres, da juventude, dos negros e das negras: a Política de Valorização do
Salário Mínimo, a PEC das Domésticas, a Lei Maria da Penha, o Programa Bolsa
Família, que em 2016 mantinha 13,9 milhões de família fora da extrema pobreza,
o programa Mais Médicos, a política de cotas,
a ampliação do investimento público total em educação em relação ao PIB, de
4,5% em 2004 para 6,2%, em 2013.
34.
Portanto, as teses destacam nossos êxitos em termos
de ampliação do bem-estar social, das liberdades e direitos democráticos, de
fortalecimento da soberania e da integração regional, êxitos reconhecidos pela
maioria do eleitorado em 2006, 2010 e 2014. Mas, apesar disso, fomos vítimas de um golpe jurídico, parlamentar e
midiático. Golpe que foi seguido de uma eleição municipal em 2016, em que as
candidaturas petistas tiveram – com exceções – um desempenho negativo.
35. As teses
debatidas no 6º Congresso do PT apontam que o golpe foi em grande medida
uma reação do grande capital nacional e internacional, do oligopólio da mídia e
de diferentes setores da direita, dentro e fora do Estado brasileiro. Reação
contra nós, contra o que nós somos, contra o que nós efetivamente fizemos,
contra o que eles temiam que poderíamos vir a fazer e, também, reação contra
nossa recusa em capitular e implementar o programa dos golpistas. Uma reação
que não se dirigia apenas contra nossos governos, mas contra o que há de mais
combativo na classe trabalhadora e no conjunto do povo brasileiro. Uma
reação que tinha e tem como objetivo efetivar um programa antipopular e
antinacional, um programa derrotado nas urnas nas quatro últimas eleições presidenciais,
um programa que visa ampliar os padrões de lucratividade do capital. O golpe
foi a saída encontrada pelas oligarquias financeiras, industriais, agrárias,
midiáticas e pelos partidos que as representam para subordinar a política
econômica aos pressupostos da ortodoxia neoliberal, em sintonia com a tendência mundial do capitalismo de concentrar
e exportar capitais, ampliando a financeirização da economia no contexto da
globalização. Trata-se de aplicar outro projeto de país, projeto que envolve
uma visão sobre o Estado e suas instituições, sobre a economia, as relações de
trabalho, a sociedade, a política, o poder coercitivo, a democracia, a cultura,
os valores, os modos de vida.
36. Não há
consenso, nas diferentes teses
debatidas no 6º Congresso Nacional, acerca dos motivos pelos quais
o golpe foi vitorioso. Nem tampouco há consenso acerca da relação entre o golpe
e aquilo que fizeram e/ou deixaram de fazer nossos governos nacionais.
37.
Mesmo quando manifestam opiniões parecidas, as
teses apresentam nuances importantes, seja para compreender o que ocorreu, seja
para contribuir para nossas ações futuras. Mas é comum a todas as teses apontar
a relação entre a política econômica adotada no segundo mandato da presidenta
Dilma e o golpe finalizado em 31 de agosto de 2017. Assim como é comum a todas
as teses apontar não apenas os erros cometidos pelos governos, mas também os
erros cometidos pelo Partido, assim como as debilidades dos movimentos sociais.
38. No que
diz respeito especificamente ao governo Dilma, é importante lembrar a crítica
feita pelo próprio Diretório Nacional do Partido, transcrita em algumas teses.
Ao invés de acelerar o programa distributivista, como havia sido defendido na
campanha da reeleição presidencial em 2014, o governo adotou medidas de austeridade
sobre o setor público, os direitos sociais e a demanda. O ajuste fiscal, além
de intensificar a tendência recessiva, gerou confusão e desânimo na base social
petista: entre os trabalhadores, a juventude e a intelectualidade progressista,
disseminou-se a sensação, estimulada pelos monopólios da comunicação, de
estelionato eleitoral. A popularidade da presidenta rapidamente despencou. As
forças conservadoras sentiram-se encorajadas a buscar a hegemonia nas ruas,
pela primeira vez desde as semanas que antecederam o golpe militar de 1964. O
enfraquecimento da esquerda, nos meses seguintes à vitória apertada no segundo
turno de 2014, rapidamente alterou a correlação de forças no país, dentro e
fora das instituições. A direita retomou a ofensiva. As frações de centro,
assistindo ao derretimento do
governo na opinião pública, começaram a se descolar da coalizão presidencial,
deslizando para uma aliança conservadora que impôs sucessivas derrotas parlamentares à administração federal. Apesar
de seguidas decisões do Partido, apontando ser indispensável mudar a política
econômica para recuperar apoio político e social, o governo prosseguiu no rumo
que escolhera, agravando as dificuldades e se distanciando do que era efetivamente necessário:
recompor o equilíbrio fiscal através da tributação dos mais ricos e desmontar o
oligopólio dos bancos, entre outras medidas que permitissem recursos para o
Estado aprofundar políticas de desenvolvimento com distribuição de renda.
Portanto, não se tratava nem se trata
de um reordenamento orçamentário, mas sim de um novo ciclo programático baseado em reformas estruturais, sem
o que o processo de desindustrialização e dependência externa vai se
aprofundar, conduzindo o Brasil a uma situação econômica que já experimentamos
antes da Revolução de 1930.
39. Como
já foi dito por resoluções partidárias, registradas em algumas teses, o golpe
confirmou que a burguesia, em determinada correlação de forças, pode até
aceitar certas mudanças nos períodos expansivos, quando os avanços das camadas populares não resultam em diminuição de
seus ganhos absolutos ou relativos. Mas a burguesia oferece brutal resistência
quando esse equilíbrio distributivo está sob ameaça, particularmente nas fases
de contração econômica. Noutras palavras, pode-se dizer que uma tentativa de
golpe viria, mais cedo ou mais tarde, sejam quais fossem as formas e os
pretextos.
40. Nesse
sentido, como é dito em várias teses, deveríamos compreender que a
hegemonia dos trabalhadores no Estado e na sociedade não depende exclusiva ou
principalmente de administrações bem-sucedidas, nem tampouco de maiorias
parlamentares, mas sim da construção de uma força política, social e cultural
capaz de dirigir a sociedade e as instituições, derrotando nossos inimigos em
todos os terrenos. Para construir esta força, deveríamos ter costurado um
programa e uma aliança estratégica entre os partidos populares e os movimentos
sociais, que pudesse ampliar o peso da esquerda, dentro e fora das
instituições. Deveríamos, ainda, ter desenvolvido um trabalho articulado de
disputa de hegemonia pelo partido, pelos governos petistas e pelas bancadas,
através de políticas de Estado e
das políticas partidárias de formação e comunicação, dentre outros. Sem isto, o
nosso crescimento institucional foi insuficiente e, além
disso, foi contaminado pelo financiamento empresarial de campanhas,
afetando nossa nitidez político-ideológica, expondo negativamente nossa imagem,
abrindo flancos para ataques de aparatos judiciais controlados pela
direita.
41. Como essa construção não ocorreu, nosso
balanço é chamado a explicar por quais motivos o impeachment foi aprovado por
um parlamento onde a “base do governo” era supostamente majoritária, respaldado por um Supremo Tribunal
Federal composto, em sua ampla maioria, por ministros indicados por presidentes
petistas, apoiado em provas produzidas por
investigações conduzidas por um Ministério Público e por uma Polícia Federal
fortalecidas em nossas gestões e
publicizado por meios de
comunicação financiados, em boa medida, através de verbas publicitárias do
governo federal. Sem falar que Temer, o usurpador, teve sua candidatura a
vice-presidente da República respaldada pelo voto amplamente majoritário de
dois encontros do PT.
42.
Sobre cada um destes pontos, as teses
debatidas no 6º Congresso oferecem diferentes interpretações. Algumas
apontam para a existência de uma estratégia de conciliação de classes, que
inclusive não teria se preparado para a hipótese de ocorrer uma reação
golpista. Outras interpretações reconhecem decisões efetivamente incorretas,
mas consideram que elas teriam se dado nos marcos de uma estratégia correta,
que buscou levar em conta a correlação de forças. Independentemente da opinião que tem acerca destas diferentes
interpretações, a maioria das teses aponta que nosso retorno ao governo deveria
ser acompanhado da criação de condições para uma reforma geral das instituições, a ser feita por meio de uma Assembleia Nacional
Constituinte.
43.
Outro ponto presente em todas as teses é o tema da
corrupção. É feita uma crítica da corrupção e da promiscuidade entre o público e o privado, seja
enquanto componente indissociável do capitalismo em geral e da história do
Estado burguês no Brasil, seja enquanto “efeito colateral” dos mecanismos de
financiamento privado empresarial.
44.
Embora haja diferentes e algumas vezes muito
contraditórias apreciações nas teses debatidas no 6º Congresso,
pode-se dizer que todas apontam ser indispensável superar a adaptação do
Partido ao "modus vivendi" da
política tradicional no Brasil. Algumas teses destacam como exemplo principal
de “adaptação” as coligações eleitorais com partidos de centro-direita,
especialmente o PMDB. Outras destacam o estabelecimento de uma relação
tradicional entre partido e governo, com o primeiro subordinando-se ao segundo,
o que inclusive impediria o desempenho adequado e a defesa eficaz de ambos.
45.
Na opinião de algumas teses, este processo de
adaptação teria levado o PT, inclusive, a não travar alguns debates políticos e
ideológicos apontados como decisivos. Embora cada tese faça sua lista
específica, todas apontam que, em nome de cálculos eleitorais e/ou de
governabilidade institucional, teríamos deixado de debater ou teríamos feito
concessões em diversos temas, entre os quais são citados a questão do aborto, a
segurança pública, a taxação das grandes fortunas, a reforma política, a
reforma do sistema penitenciário, a reforma agrária, a defesa dos povos
indígenas, entre outros. Há teses que chamam a atenção para o fato de que
recusamos a tese formal da autonomia do Banco Central, mas que na prática esta
autonomia foi exercida, beneficiando os interesses rentistas. Além disso,
muitas resoluções de Conferências Nacionais – como as de Educação, Saúde,
Direitos Humanos e Comunicação – teriam sido deixadas de lado.
46.
Diversas teses fazem uma crítica enfática ao que
consideram uma determinada interpretação do “republicanismo”, que teria nos
levado a decisões equivocadas em questões relativas ao Ministério Público, à Procuradoria Geral da República, ao
Supremo Tribunal Federal e à Polícia
Federal. Na opinião destas teses, sem aquele tipo de “republicanismo”, a Operação Lava Jato e, antes dela,
a Ação Penal 470 não teriam conseguido instalar uma “justiça de exceção”,
organizada com o objetivo de
destruir o PT e Lula. Com o mesmo propósito, mas utilizando uma terminologia
distinta, há teses que criticam a crença na neutralidade das
instituições.
47.
A título de conclusão, podemos afirmar que, ao tratar do tema “balanço”, as teses debatidas no 6º
Congresso Nacional discutem em
que medida a ação dos nossos governos influiu e deixou de influir na relação de
forças entre as classes sociais existentes no Brasil.
48.
Do ponto de vista da ação presente e futura do
Partido, o 6º Congresso considera que esta é uma das questões fundamentais
sobre as quais devemos nos debruçar, se quisermos voltar a governar o Brasil e
se quisermos ser vitoriosos numa próxima experiência governamental. A saber:
como utilizar nossa presença no governo nacional para alterar a relação de
forças na sociedade brasileira. Ou, dito de outra forma: o que fazer para
fortalecer cultural, política e economicamente as classes trabalhadoras? Como
atrair os setores médios, buscando impedir que eles se convertam em tropa de
choque da reação? Que ações implementar com o objetivo de dividir e enfraquecer
o poder cultural, político e econômico da classe dominante? Responder a estas
perguntas é uma das principais contribuições que o balanço pode e deve dar para
a discussão sobre nosso programa, nossa estratégia, nossa tática e nossa
política de organização.
49.
Concluímos enfatizando este último ponto: mudar o
Brasil implica conquistar governos, mas exige principalmente construir um novo
poder. E construir um novo poder é uma tarefa das organizações da classe
trabalhadora, dentre as quais o
próprio Partido dos Trabalhadores. Neste sentido, talvez um de nossos maiores
erros tenha sido acreditar ser possível terceirizar, para os governos, tarefas
políticas, sociais e culturais que cabiam antes de tudo ao próprio
Partido.
50.
Reconhecer este erro e tomar as medidas práticas
para que ele não se repita - realizando
mudanças no trabalho de massas cotidiano, no discurso feito junto à sociedade,
na política de alianças, na atitude perante as instituições do Estado, no peso
do institucional, nos costumes, no direcionamento das atividades partidárias,
no esforço para produzir uma cultura e uma elaboração teórica à altura das
necessidades – é o principal sentido das resoluções de balanço do 6º Congresso
do Partido dos Trabalhadores.
RESOLUÇÃO SOBRE ESTRATÉGIA E
PROGRAMA
1.
O
desenvolvimento do capitalismo brasileiro, ao longo de sua história, tem sido
alavancado por superexploração do trabalho, concentração de renda e riqueza,
exclusão social e subordinação aos centros imperialistas. O processo de
formação das classes dominantes locais, associado à sua inserção subalterna na
ordem capitalista mundial, somente ofereceu, aos trabalhadores e às demais
camadas populares, a chibata do escravismo, da desigualdade, da dependência e
da pobreza.
2.
Esses
fenômenos, longe de constituírem deformações ou enfermidades do sistema,
representam sua própria lógica. Cruzam-se e sintetizam o processo permanente de
barateamento da mão de obra, apropriação dos recursos estatais por grupos
monopolistas, abertura indiscriminada aos fluxos internacionais de capital,
desobrigação fiscal sobre o lucro capitalista e exploração predatória dos
recursos naturais. São esses os caminhos pelos quais a burguesia brasileira
historicamente se embrenhou para compensar fragilidades estruturais e melhorar seu
lugar na acumulação planetária de capitais.
3.
A
reprodução da miséria e da pobreza, acompanhada por opressão de raça e gênero,
sempre foi funcional para a manutenção de um gigantesco exército industrial de
reserva, além de refletir a situação de abandono provocada por modelos de
desenvolvimento nos quais o mercado interno se restringe às camadas médias e
ricas da sociedade.
4.
Ao
longo dessa trajetória, ocorreram variações, de duas naturezas distintas. O
primeiro tipo refere-se a quando frações nacionalistas da burguesia, com forte
base entre os trabalhadores, ascenderam à direção do Estado, como foram os
casos do segundo governo de Getúlio Vargas e da administração de João Goulart.
O segundo, durante os governos Lula e Dilma, quando um partido orgânico da classe
trabalhadora alcançou o comando do poder público. Essas experiências tiveram em
comum o redirecionamento do orçamento nacional para a expansão do mercado
interno de massas por meio do aumento de salários e direitos, do fortalecimento
do Estado como indutor e coordenador do desenvolvimento econômico e da adoção
de uma política internacional efetivamente soberana. Mais cedo ou mais tarde,
nesses capítulos de nossa história, os setores hegemônicos do empresariado e
seus aliados externos acabariam por comandar movimentos de caráter
antinacional, antipopular e antidemocrático, com o objetivo de trazer o
capitalismo brasileiro de volta ao seu leito histórico.
5.
Até
o final do governo Fernando Henrique Cardoso, marcado pela financeirização
global, essas características se exacerbaram: além de gerarem sofrimento e
escassez de oportunidades às amplas maiorias, levaram à perda de força
propulsora, atolando o país em baixas taxas de crescimento e investimento, ao
mesmo tempo em que a rentabilidade dos ativos financeiros impulsionava os
lucros monopolistas.
6.
A
principal consequência desse processo, no mundo do trabalho, é bastante
conhecida: brutal precarização das relações laborais. O país foi empurrado à
desindustrialização, à ampliação do território dedicado à agricultura de
commodities e ao extrativismo mineral, à subordinação ao sistema financeiro
internacional.
7.
Esse
cenário começou a ser alterado durante os governos liderados pelo PT, quando a
elevação geral dos salários, a expansão de direitos, a recuperação do Estado e
a reorientação do orçamento público impulsionaram o mercado interno,
dinamizando o conjunto da economia em conjunto com a expansão do comércio
mundial de commodities. A partir da crise capitalista de 2008, no entanto,
paulatinamente emergiu forte reação burguesa, buscando cortar profundamente
custos salariais diretos e indiretos, além de recuperar espaço nos gastos e
fundos públicos, particularmente através da receita com juros e subsídios
diversos. Essa contraofensiva foi relativamente contida até 2013, pelo sucesso
das administrações petistas em preservar o consumo familiar, o investimento
estatal e o crescimento econômico geral. Mas adquiriu agressividade quando
começaram a declinar os fatores que serviam de compensação às elites frente ao
aumento constante da renda do trabalho. Trata-se, enfim, da prova mais recente
de incompatibilidade entre a via brasileira de desenvolvimento capitalista e os
interesses nacionais-populares. O golpe de Estado perpetrado em 2016 foi a
expressão política dessa arremetida do grande capital.
8.
O
velho sistema oligárquico-burguês revela-se, portanto, incapaz de garantir
desenvolvimento sustentável, justiça social, direitos civis e independência
nacional. Nessas circunstâncias, criar as condições políticas, materiais e
culturais para o nascimento de uma sociedade pós-capitalista, de natureza
socialista e democrática, constitui a tarefa histórica fundamental que norteia
o Partido dos Trabalhadores, tal como afirmam o Manifesto de Fundação e as
resoluções sobre socialismo petista aprovadas no 7º Encontro Nacional (1987),
no 1º Congresso (1991) e no 3º Congresso (2007).
9.
A
emancipação dos trabalhadores, nesse sentido, somente será possível com a
superação do regime capitalista, incapaz de resolver os grandes problemas do
país. Reformas que arrefeçam sua natureza parasitária devem ser entendidas como
potencialmente antagônicas às características dominantes que o regulam,
colocando sob tensão a sobrevivência do próprio sistema e desmontando seus
pilares de sustentação, ao mesmo tempo em que favorecem a educação política e a
mobilização de amplas massas.
10. O PT entende que a reconstrução
do socialismo como ideal de amplos setores sociais é um dos maiores desafios de
nossa época.
11. Nosso partido se constituiu
realizando uma profunda crítica aos limites e às contradições da
social-democracia e ao chamado socialismo real. Ao fazê-lo apontou a
necessidade de superação da gênese e dinâmicas da concentração capitalista, de
ruptura dos monopólios sobre a indústria, o comércio, a terra e as finanças, a
necessidade de planificação democrática da economia, de fortalecimento de
empreendimentos não monopolistas e da economia solidária e cooperativa, de
grande desenvolvimento da ciência, da tecnologia, das artes e da cultura em
geral, bem como de sua democratização, de proteção e sustentabilidade
ambiental.
12. As transformações econômicas,
sociais, políticas e culturais, na direção da superação da dominação de seres
humanos por outros seres humanos, envolverão processo continuado de lutas e conquistas,
rupturas e conflitos, criação e recriação de experiências em todos os campos da
vida humana. Como em outros períodos históricos as experiências de
transformação nada terão de linear.
13. O Partido dos Trabalhadores
buscará, com maior audácia e rigor teórico, com vigor e compromisso,
intensificar o debate sobre os fundamentos de nossa concepção de socialismo
democrático em diálogo com as forças populares, intelectuais, artistas,
partidos de esquerda, alimentando-nos para isso também da interlocução com a
esquerda em diferentes partes do mundo. Mas o fazemos a partir da luta e da
experiência concreta da classe trabalhadora, cuja força e movimento alimentam a
existência do PT. Temos a convicção de que a sociedade capitalista, baseada na
exploração e na opressão, está longe de ser o fim da história e de que ela pode
e deve ser superada, para que a humanidade alcance novos patamares de dignidade
e padrões de convívio social justos e livres.
14.
O
socialismo pelo qual lutamos corresponde à mais profunda democratização. Isto significa
democracia social; pluralidade ideológica, cultural e religiosa; igualdade de
gênero, igualdade racial, liberdade de orientação sexual e identidade de
gênero. A igualdade entre homens e mulheres, o fim do racismo e a mais ampla
liberdade de expressão sexual serão traços distintivos e estruturantes da nova
sociedade. O pluralismo e a auto-organização, mais do que permitidos, deverão
ser incentivados em todos os níveis da vida social. Devemos ampliar as liberdades
democráticas duramente conquistadas pelos trabalhadores na sociedade
capitalista. Liberdade de opinião, de manifestação, de organização civil e
político-partidária e a criação de novos mecanismos institucionais que combinem
democracia representativa e democracia direta. Instrumentos de democracia
direta, garantida a participação das massas nos vários níveis de direção do
processo político e da gestão econômica, deverão conjugar-se com os
instrumentos da democracia representativa e com mecanismos ágeis de consulta
popular, libertos da coação do capital e dotados de verdadeira capacidade de
expressão dos interesses coletivos.
15.
O socialismo petista é internacionalista. Somos
todos seres humanos, habitantes de um mesmo planeta, casa comum a que temos
direito e de que todos devemos cuidar. O capitalismo é um modo de produção que
atua em escala internacional e, portanto, o socialismo deve também propor
alternativas mundiais de organização social. Apoiamos a autodeterminação dos
povos e valorizamos a ação internacionalista, no combate a todas as formas de
exploração e opressão. O internacionalismo democrático e socialista é nossa
inspiração permanente. Os Estados nacionais devem ter sua soberania respeitada
e devem cooperar para eliminar a desigualdade econômica e social, bem como
todos os motivos que levam à guerra e aos demais conflitos políticos e sociais.
Os organismos multilaterais criados após a Segunda Guerra Mundial deverão ser
reformados e/ou substituídos, para que sejam capazes de servir como superestrutura
política de um mundo baseado na cooperação, na igualdade, no desenvolvimento e
na paz.
16. A
economia socialista deverá ter como centro organizador o planejamento
democrático e ambientalmente orientado. Uma economia colocada a serviço, não da
concentração de riquezas, mas do atendimento às necessidades presentes e
futuras do conjunto da humanidade. Para tanto será necessário retirar o
planejamento econômico das mãos de quem o faz hoje: da anarquia do mercado
capitalista, bem como de uma minoria de tecnocratas estatais e de grandes
empresários, a serviço da acumulação do capital e, por isso mesmo, dominados
pelo imediatismo, pelo consumismo e pelo sacrifício de nossos recursos sociais
e naturais.
17.
O principal pilar desse novo modo de produção será
a propriedade pública dos grandes meios de produção. As riquezas da humanidade
são uma criação coletiva, histórica e social, de toda a humanidade. O
socialismo que almejamos, só existirá com efetiva democracia econômica. Deverá
organizar-se, portanto, a partir da propriedade social dos meios de produção.
Propriedade social que não deve ser confundida com propriedade estatal, e que
deve assumir as formas (individual, cooperativa, estatal etc.) que a própria
sociedade, democraticamente, decidir. Democracia econômica que supere tanto a
lógica do mercado capitalista, quanto o planejamento autocrático estatal
vigente em muitas economias ditas socialistas. Queremos prioridades e metas
produtivas que correspondam à vontade social, e não a supostos interesses
estratégicos de quem comanda o Estado. Queremos conjugar o incremento da
produtividade e a satisfação das necessidades materiais, com uma nova
organização do trabalho, capaz de superar a alienação característica do
capitalismo. Queremos uma democracia que vigore tanto para a gestão de cada
unidade produtiva, quanto para o sistema no conjunto, por meio de um
planejamento estratégico sob o controle social.
18.
O
progresso desse novo sistema depende, em grande medida, da integração
latino-americana e do fortalecimento de blocos que se contraponham ao controle
dos Estados imperialistas sobre as principais entidades creditícias,
comerciais, reguladoras e militares do planeta. A alternativa socialista não se
circunscreve apenas às fronteiras nacionais, pois sua viabilidade está parcialmente
condicionada pela capacidade de criar gigantescos ativos em infraestrutura,
crédito, mercado de consumo, escala de produção, comércio exterior, tecnologia
e inovação, proteção do meio ambiente e autodefesa.
19. Os ideais e valores do
socialismo democrático se constituem, para nós, nos referenciais para
formulação das bandeiras de luta, para resgatar o que está sendo destruído pelo
governo golpista e aprofundar a construção de nosso programa alternativo para o
país, que deve avançar nas reformas democrático-populares iniciadas nos
governos Lula e Dilma.
20. As profundas reformas de que
nosso país necessita exigem a um só tempo mobilização popular e construção
social, elaboração intelectual e política. Nosso intuito é que sejam defendidas
pela maioria dos trabalhadores e trabalhadoras, pela juventude, pelos
intelectuais e cientistas, de todas as etnias, em todas as regiões.
21.
O
PT está desafiado a contribuir para a ampliação da organização e consciência
crítica das classes trabalhadoras na luta contra as orientações e as medidas
ultraliberais impostas por um governo sem voto e sem legitimidade. Nesse
processo o partido deve seguir atualizando seu programa em diálogo com os
movimentos sociais, com as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, com todos os
setores e personalidades comprometidos com a transformação da sociedade
brasileira no rumo da justiça social e da verdadeira democracia. Trata-se de
combinar, cada vez mais, mobilização social e ação institucional, o que
envolverá conflitos e rupturas, pois a natureza das classes dominantes
brasileiras, além de colonial e racista, é profundamente antidemocrática,
refletindo mentalidade política decorrente do caráter particularmente predador
e excludente do capitalismo tardio. Mesmo diante de reformas que beneficiem as
classes populares sem afetar de modo estrutural os interesses das elites, o
grande capital não hesita em atropelar o Estado de Direito.
22.
A
realização dessas tarefas históricas depende, a médio e longo prazos, da
construção do poder popular, de um Estado dirigido pelas classes trabalhadoras,
condição indispensável para impulsionar reformas que promovam a transformação
profunda da vida nacional. Esse é o caminho que materializa o destino traçado
no manifesto de fundação do PT: “conquistar a liberdade para que o povo possa
construir uma sociedade igualitária, onde não haja explorados nem
exploradores”.
23.
A
edificação do Estado popular ultrapassa a disputa pelo comando das velhas
instituições oligárquicas: apenas a radicalização da democracia, no curso de
uma revolução política e constituinte, poderá sedimentar o processo de mudanças
que almejamos. Novas instituições e métodos, que combinem mecanismos
representativos com instrumentos plebiscitários, democracia direta e poder
local, são indispensáveis para as reformas estruturais e a transição ao
socialismo, com a plena vigência, entre outros direitos fundamentais, do voto
universal e secreto, da liberdade de imprensa e manifestação, da livre
organização partidária e sindical.
24. A via de aproximação para as
classes trabalhadoras poderem colocar na ordem do dia o nascimento do Estado
popular, nas condições históricas atuais, é a retomada da Presidência da
República e a formação de uma maioria parlamentar defensora das reformas
estruturais. Este é o desdobramento almejado de um processo que combine lutas
institucionais e sociais, política de alianças e construção partidária,
elaboração programática e reivindicações específicas, mobilização popular e
batalha eleitoral, gestão local e atuação parlamentar, educação de massas e
batalha cultural.
25. A conquista do governo federal
representa etapa essencial, mas não significa que o poder político terá
transitado para as classes trabalhadoras. No interior do Estado poderá ser
aberto, por período indeterminado, contraposição entre o Poder Executivo,
recuperado pelo bloco histórico progressista, e antigas instituições que servem
aos desideratos das oligarquias. Apenas com a intensificação da disputa por
hegemonia essa situação poderá ter solução favorável, a partir de medidas político-administrativas
que ampliem o poder popular, de pressão permanente e organizada das ruas, do
desmonte dos monopólios de comunicação, da elevação da consciência e cultura
das massas, do reforço dos movimentos populares e do desaparelhamento do sistema
jurídico-policial.
26. As forças progressistas,
inclusive ao reconquistarem o governo federal, deverão levar em conta o
aprendizado recente: se não estiverem preparadas para enfrentar ataques das
elites oligárquico-burguesas à democracia, como resposta previsível desses
setores à perda da direção do Estado, estarão fadadas a sucessivas derrotas
estratégicas. As medidas concernentes vão além de garantir maioria parlamentar:
implicam democratizar o Poder Judiciário, o Ministério Público e a Polícia
Federal, entre outras estruturas de coerção, impedindo seu controle pela alta
tecnocracia ou por nichos corporativos vinculados aos interesses das classes
dominantes.
27. Esse processo de democratização
inclui o fortalecimento e a reformulação do papel das Forças Armadas, com sua
dedicação exclusiva à defesa nacional e a programas de integração territorial.
Também são imprescindíveis a aplicação das recomendações prescritas pela
Comissão Nacional da Verdade acerca dos direitos humanos e a alteração dos
currículos das escolas de oficiais, expurgando valores antinacionais e
antidemocráticos como o elogio ao golpe de 1964 e ao regime militar que então
se estabeleceu.
28. Igualmente deve ser
estabelecido novo marco regulatório das comunicações, que acabe com o
oligopólio da mídia e assegure o direito à livre expressão, criando as bases
jurídico-materiais para um modelo plural que incorpore os meios fundamentais de
informação, entretenimento e cultura.
29.
Entretanto,
as medidas adotadas pelo governo usurpador, de ruptura da ordem democrática e
das garantias constitucionais, colocam sob risco a estratégia proposta por
nosso partido desde 1987, particularmente se vier a bloquear, mesmo
momentaneamente, o caminho eleitoral ao comando do Estado. Somente poderemos
enfrentar cenário com essas características se fortalecermos nossas relações
com movimentos, frentes e partidos que tenham seu centro de gravidade na
organização e mobilização popular, para defendermos o processo democrático a
partir da vigilância e da fiscalização das instituições, recorrendo a métodos
de intensa participação social. Para tanto, o Partido dos Trabalhadores deve
recombinar atuação nos parlamentos e executivos com a intensificação da atuação
de seus filiados nos núcleos, diretórios zonais, municipais e estaduais, nos
setoriais, de modo a fortalecer a participação nos sindicatos, organizações
estudantis, culturais e populares, nas entidades de bairro e movimentos
reivindicatórios, ajudando na revitalização da política e da confiança na
participação popular, como instrumento de libertação econômica, social e
política das classes trabalhadoras.
30.
A
formação de uma maioria social, política e eleitoral que sustente nossa
estratégia deve estar ancorada em um programa que responda às angústias do povo
brasileiro e aos entraves para o desenvolvimento nacional com reformas que
desatem os nós impostos pelo capitalismo monopolista e orientem políticas
públicas a serem adotadas ao se reconquistar o governo nacional.
31. As reformas estruturais – de
cunho democrático, antimonopolista, antilatifundiário, anti-imperialista e
libertário – representam plataforma capaz de agregar amplas parcelas da
população, das classes trabalhadoras aos pequenos e médios empresários, o mundo
da cultura e a juventude, as mulheres e a população lgbtt, os negros e os
índios, os pobres da cidade e do campo. Trata-se, afinal, de tarefas
inconclusas ou negadas pela hegemonia burguesa no Brasil, cuja realização
romperia o dique da superexploração do trabalho, da exclusão social e da
dependência nacional, da plutocracia política e do autoritarismo estatal, ao
mesmo tempo em que se avançaria no rumo de uma sociedade pós-capitalista.
32. Tais propostas buscam abrir a
transição para outro sistema econômico-social, dotando o país de um modelo que,
sustentado pelo dinamismo do mercado interno e a centralidade do consumo
coletivo, na forma de obras de infraestrutura e serviços públicos universais,
promova a reindustrialização acelerada, o desenvolvimento regional, a
autossuficiência agrícola, a independência financeira, a soberania nacional e a
integração continental.
33. A principal bandeira de nosso
programa é a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte livre,
democrática e soberana, destinada a reorganizar estruturalmente o Estado
brasileiro e aprovar reformas que reorganizem suas bases socioeconômicas e
institucionais, dilaceradas pelo governo usurpador. A democratização das
instituições brasileiras é preâmbulo indispensável para as demais reformas
estruturais.
34.
Treze
capítulos fundamentais sintetizam essas reformas:
Reforma política. Parlamento unicameral e proporcional ao número de eleitores em cada
estado. Adoção do voto em lista
partidária. Proibição de coligações proporcionais. Criação de federações
partidárias. Financiamento público exclusivo das campanhas eleitorais. Fortalecimento
dos mecanismos de democracia direta e soberania popular, subordinado a
deliberações da Assembleia Nacional Constituinte, com ampliação da prerrogativa
de convocação dos plebiscitos também para o poder executivo e os eleitores,
entre outros instrumentos.
Democratização da
mídia. Proibição de propriedade cruzada. Proibição de
propriedade de meios por parlamentares, governantes ou familiares até segundo
grau. Criação de um Fundo em Defesa da Liberdade de Imprensa, com um percentual
da receita publicitária das televisões aberta e fechada, além das rádios, para
estimular novos meios de comunicação. Cláusula de objeção por consciência em
todas as redações. Criação de um Conselho Social de Comunicação, que autorize e
renove licenças para emissoras de rádio e TV, retirando essa prerrogativa do
parlamento. Criação do direito gratuito de antena para televisão aberta e
rádios.
Reforma do
sistema de segurança pública. Instituição de mandatos
limitados para ministros da Suprema Corte, do STJ, do TST e desembargadores dos
TRFs e TJs. Desmilitarização das PMs estaduais e unificação com a polícia
judiciária. Reformulação do Sistema Nacional Penitenciário, com a incorporação
de todas as prisões e casas de detenção a um modelo único de gestão.
Reforma
tributária. Tributação de juros sobre capital
próprio. Tributação sobre lucros e
dividendos. Taxação sobre remessa de lucros e dividendos ao exterior. Extensão
do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) para barcos e
aviões. Adoção de Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF). Revisão da tabela do
imposto de renda sobre pessoas físicas, com aumento do piso de isenção e
ampliação progressiva das faixas de contribuição. Aumento do imposto sobre
doações e grandes heranças, com repactuação do valor arrecadado entre União,
estados e municípios.
Reforma
financeira. Lei antitruste do sistema financeiro.
Separação entre bancos comerciais e de investimento. Ampliação dos direitos
operacionais de bancos municipais e cooperativos. Reorganização do Banco
Central como guardião da moeda, do emprego e do desenvolvimento nacional.
Fortalecimento dos bancos públicos. Criação de uma agência de proteção aos
direitos do consumidor de produtos financeiros.
Reforma agrária. Adoção de regime progressivo para o Imposto Territorial Rural para
propriedades improdutivas. Redefinição dos índices de produtividade para fins
de reforma agrária. Proibição da venda de terras para estrangeiros.
Estabelecimento de limites regionais para a propriedade agrária e o
agronegócio. Fortalecimento da agricultura familiar e das cooperativas
agroindustriais como vertentes principais para a conquista de autossuficiência
alimentar. Defesa dos direitos e heranças dos povos originários.
Empresas de
energia. Recomposição do regime de partilha, com a
participação obrigatória da Petrobras nas explorações do Pré-Sal. Criação do
Sistema Nacional de Energia, com o controle estatal sobre todas as distintas
empresas do setor.
Plano Nacional de
Desenvolvimento Sustentável.
Definição de metas e meios para o crescimento
da economia por meio de um plano decenal, que tenha como principal objetivo a
recuperação da indústria brasileira e a renovação da infraestrutura do país.
Regionalização do desenvolvimento a partir de planos para o norte e o nordeste
do país.
Direitos sociais,
trabalhistas e previdenciários. Restabelecimento da obrigação
constitucional mínima com saúde e educação. Revogação da PEC 55. Aprovação da
Consolidação de Leis Sociais, constitucionalizando o direito à renda mínima e
outros benefícios. Constitucionalização da lei de valorização do salario mínimo
por vinte anos. Redução da jornada máxima semanal de trabalho para 40 horas.
Reforma urbana. Combate à concentração de
propriedades urbanas por meio de medidas fiscais progressivas e limitação legal
da especulação imobiliária. Políticas públicas que eliminem o déficit
habitacional, protejam as áreas verdes e de lazer, expandam os terrenos
destinados a fins públicos como esporte e cultura.
Acesso à saúde e
educação. Fortalecimento do SUS, com aumento das
verbas para saúde pública até 10% da receita corrente bruta. Cumprimento das
metas do Plano Nacional de Educação, com investimentos de 10% do PIB nas redes
públicas de ensino.
Direitos das
mulheres. Descriminalização do aborto e regulamentação de sua prática no
serviço público de saúde. Garantia do direito ao pagamento de
salário igual para trabalho igual. Extensão da licença-maternidade de seis
meses para todas as trabalhadoras.
Direitos humanos. Descriminalização progressiva do consumo de drogas.
Constitucionalização dos direitos de casais homoafetivos como entidade familiar
plena. Promoção de
políticas públicas e educacionais de combate ao racismo, ao machismo, à
homofobia e a toda forma de preconceito.
35.
A
realização desse programa, a ser detalhado em intenso diálogo social, tem como
ponto de apoio fundamental uma coalizão de partidos e movimentos que represente
os operários, os trabalhadores do campo e os camponeses sem terra, os
assalariados de serviços e comércio, os micro e pequenos empreendedores, os
trabalhadores domésticos, os pequenos proprietários rurais e urbanos. Também
deve agregar cientistas, intelectuais, artistas e jovens que impulsionam
movimentos progressistas no campo da cultura e na sociedade; movimentos
antirracistas que lutam por igualdade racial, de libertação das mulheres que
lutam por igualdade de gênero, os agrupamentos de defesa dos direitos de gays,
lésbicas e transexuais.
36.
A
Frente Brasil Popular, espaço fundamental de nossa estratégia, deve ser
ampliada e fortalecida como instrumento de mobilização e colaboração
programática, preservando sua autonomia em relação às coligações eleitorais ou
governamentais. Ao representar os agentes principais do projeto nacional que
defendemos, deve atuar também para isolar as vozes do grande capital, ao mesmo
tempo em que busca dividir sua base de apoio, atrair setores que se descolam de
sua direção e estabelecer acordos táticos capazes de contribuir para o
fortalecimento do campo popular. O PT igualmente se empenhará em manter o diálogo
e estreitar relações políticas com a Frente Povo Sem Medo.
37. A Frente Brasil Popular tem o papel de
aglutinar forças, alinhar o debate, encaminhar ações conjuntas e forjar a
unidade da esquerda. Não deve suplantar as entidades que a compõem ou se sobrepor
aos partidos, às centrais sindicais e movimentos sociais, aos quais cabem o
protagonismo das ações. À Frente Brasil Popular cabe a construção da unidade na
ação. Ao PT cabe o compromisso de priorizar a construção dos movimentos sociais
que compõem a FBP.
38. A política de alianças,
incluindo as coalizões eleitorais, deve aglutinar quem partilhe de uma
perspectiva anti-imperialista, antimonopolista, antilatifundiária e
radicalmente democrática. Aponta para um governo encabeçado pelo PT,
Lula presidente, com partidos, correntes e personalidades que estabeleçam
compromisso programático dessa natureza. A
consolidação de uma esquerda antissistema, com clara identidade de projeto,
constitui elemento central de nossa orientação política.
39. O Partido dos Trabalhadores
dedicará suas melhores energias a esse projeto, engajando sua capacidade de
formulação, convocação e representação. Temos consciência de que nosso
desempenho poderá ter peso decisivo no sucesso dessa grande aliança, ampliando
suas fronteiras, aprofundando seu enraizamento e alargando seus horizontes.
40. Ao retomarmos o fio da meada da
estratégia democrático-popular, estabelecida ao longo da história de nosso
partido, enriquecida pelas lições do período de governo e atualizada aos novos
problemas nacionais, o Partido dos Trabalhadores reafirma seu compromisso com a
construção do caminho brasileiro ao socialismo e com a luta do povo brasileiro
por sua plena emancipação.
RESOLUÇÃO
SOBRE FUNCIONAMENTO PARTIDÁRIO E ORGANIZAÇÃO
1.
O Partido dos
Trabalhadores realiza seu 6º Congresso Nacional sob o fogo cerrado da aliança
golpista que destituiu a Presidenta Dilma, impôs um governo ilegítimo e
impopular e um programa neoliberal derrotado nas quatro últimas eleições
presidenciais. Somente pela força e pela violência institucional esse golpe se
sustenta e se perpetua. No seu horizonte, a destruição do PT e da esquerda, como alternativa de poder, está posta como um dos objetivos da aliança
golpista.
2.
O PT resiste com o
povo brasileiro ao golpe, ao governo Temer e à sua agenda de contrarreformas em curso no Congresso
Nacional. O 6º Congresso reivindica,
nessa resistência, a imensa
contribuição que o PT deu, dá e dará ao processo político brasileiro e à luta
democrática e socialista na América Latina e no mundo. Nosso legado não será
enxovalhado e nosso futuro não será destruído pelas elites brasileiras e
internacionais que se colocam no campo do golpe.
3.
Somos hoje cerca de
1,7 milhão de filiados e filiadas com diferentes tipos de relação orgânica com
o partido, e uma tênue política
de organização, comunicação e mobilização para integrá-los plenamente à vida partidária, a oportunidades de
participação e formação.
4.
Nossos estatutos
preveem como principais espaços de organização partidária desses filiados e
filiadas os núcleos, os setoriais e os diretórios. A fragilidade desses
mecanismos se expressa hoje na existência pífia de núcleos nos municípios, na
falta de enraizamento e vida permanente dos setoriais na base e na falta de
atividade permanente e de quórum
nos milhares de diretórios
zonais e municipais pelo país.
5.
Assim, o conjunto de
filiados e filiadas pouco participa das instâncias criadas para sua organização
no interior do partido e de
atividades para além dos
períodos de campanhas eleitorais, sejam elas de formação, de cultura, de
finanças ou de mobilização.
6.
Sem organização
permanente e enraizada disponível,
os processos eleitorais internos e externos são atualmente o auge do processo
de participação nas decisões do partido
para a imensa maioria de filiados. Ampliar a participação militante, recuperar
qualidade em nossa capacidade de elaboração programática e de disputa ideológica na sociedade,
nossa relação com os movimentos sociais organizados e as lutas dos mais
variados setores que se levantam na defesa de seus direitos, bem como recuperar iniciativa
política e novas práticas e avanços na formação política, comunicação e
mobilização do Partido são diretrizes essenciais das principais decisões deste
6º Congresso.
7.
Desde já, esse debate que se inicia no 6º
Congresso, de revisão de nossas
estruturas, programas e estatutos,
fica pautado para toda a militância do PT, sob coordenação da nova Direção Nacional eleita e tendo como horizonte de decisão o próximo
Congresso, quando teremos a oportunidade de discutir, especificamente,
nossa vida partidária, ajustar rumos e consolidar, em alterações estatutárias de maior fôlego, nosso compromisso com esse partido imprescindível à luta do povo
brasileiro desta e das futuras gerações.
8.
O 6º Congresso
reafirma algumas das mais importantes conquistas estatutárias da história do
PT, decorrentes de uma concepção radicalmente democrática que preside sua
tradição: o caráter plural e democrático da construção partidária, o direito de
tendências à proporcionalidade
para a constituição de direções partidárias, a organização militante em
núcleos, setoriais e diretórios.
9.
Alguns temas são
encruzilhadas que precisamos vencer neste momento histórico de enfrentamento, e, para tanto,
se colocam para a deliberação de delegados e delegadas deste 6º Congresso.
Sobre a filiação e
a participação de filiados e filiadas na vida interna
1.
Considerando a
necessidade de fortalecer o PT para enfrentar a ofensiva conservadora que
pretende retirar direitos sociais duramente conquistados, o 6º Congresso decide
realizar no 2º semestre de 2017 uma Campanha Nacional de Filiação e de
atualização de dados cadastrais dos filiados. A campanha deverá ter um foco
especial n@s trabalhador@s mulheres, negr@s, indígenas e jovens. Para facilitar
o acesso aos filiados, equipes deverão
ser organizadas em cada município para promover atividades descentralizadas (nos
bairros) e realizar visitas às
residências dos filiados, bem como utilizar mídias sociais (como o Facebook,
WhatsApp, Instagram, etc).
2.
O PT realizará, anualmente, jornadas nacionais de
filiação e de formação política, associadas entre si, com o objetivo de ampliar
sua presença na sociedade, em particular entre trabalhador@s, jovens, mulheres,
negr@s e indígenas.
3.
As listas de filiados
e filiadas serão públicas para todas
as comissões executivas, nos três níveis federativos – nacional, estadual e municipal
-, conferindo transparência à movimentação interna de filiados e filiadas, além
de sua condição de adimplência junto ao SACE.
Sobre a organização
de base e setorial do Partido
1.
O PT realizará,
bianual ou extraordinariamente, já a partir de 2018, encontros zonais, municipais e estaduais, de forma
presencial, com pauta política definida pelo Diretório Nacional do PT, abertos
à participação de todos os filiados e filiadas militantes nos encontros de base
e com delegados e delegadas eleitos (as) nestes para os de nível superior.
2.
Núcleos e setoriais
devidamente constituídos e acompanhados pelas direções zonais e municipais
terão direito à voz sobre os
temas de debate nas instâncias dirigentes.
3.
Cada setorial
partidário nacional ou estadual organizará núcleos setoriais de base nos
diretórios zonais e municipais.
4.
Cada diretório zonal
ou municipal organizará reuniões periódicas internúcleos, com caráter de formação política e construção de
agendas comuns com os movimentos sociais.
5.
A construção de
núcleos e setoriais será a prioridade de um esforço nacional em 2018,
coordenado pelas Secretarias Nacionais de Organização, Mobilização e Movimentos
Populares e Políticas Setoriais.
6.
O 6º Congresso
convoca os encontros setoriais e o Congresso da JPT para o segundo semestre de
2017, com pauta e cronograma definidos na primeira reunião do novo diretório
nacional eleito. O 6º Congresso decide criar a Secretaria Setorial Nacional
LGBT, a ser constituída neste mesmo cronograma.
7.
O congresso do PT
convoca para o segundo semestre de 2017 o Congresso da JPT. Logo após o 6° Congresso
Nacional do PT, a JPT deve convocar um conselho
político juntamente com todas as forças políticas nacionais, que terão participação
garantida, a fim de construir
uma proposta de regimento e pauta política, que será encaminhada ao diretório nacional.
8.
Para ampliar a
atuação da Juventude do PT, é preciso adotar medidas que contribuam com a sua
sustentação financeira, de modo a garantir espaços de formação política, fóruns
de discussão e amplificar o debate com os diversos movimentos
sociais de juventude que apresentam e discutem suas agendas.
9.
As cotas de 20% para
a juventude são fundamentais para o processo de transição geracional, para
formação e a chegada de companheiros e companheiras aos espaços de decisão do
partido. O Congresso do PT
reforça a defesa e a garantia das cotas de juventude, sem prejuízo à construção
de uma JPT de massas. É necessário que a JPT e o conjunto do partido
realizem uma ampla discussão
sobre a participação dos jovens nas instâncias partidárias e sobre a relação das cotas com o
fortalecimento da JPT. O PT deve fortalecer a articulação junto aos movimentos
sociais de juventude, para
garantir que o partido esteja
sintonizado com as pautas e as lutas sociais que são prioridades para a juventude.
10.
O PT ampliará, por meio de uma plataforma digital que
integrará múltiplas finalidades,
a participação de filiados e filiadas em comunidades e núcleos virtuais, a
gestão política do partido, o
acesso a cursos à distância de formação de base, de militantes e dirigentes, a realização de enquetes sobre temas
variados propostos pela direção ou outras instâncias partidárias e a votação, por meio digital, em referendos e plebiscitos
convocados pela direção
partidária.
11. Caberá ao Diretório Nacional
regulamentar os dispositivos de nossos estatutos sobre a realização de plebiscitos e referendos para a tomada de decisões de filiados e filiadas sobre
temas de nossa construção partidária, programa ou resoluções políticas.
Sobre as direções
partidárias
1. Entre 1980 e 2001, o PT elegeu suas direções
em congressos. De 2001 a 2013, por meio do PED. No 5º Congresso do PT
decidiu-se pela manutenção do PED. Em 2017, o DN resolveu, em caráter extraordinário, realizar um processo combinado: eleição de delegados e direções
municipais por meio de PED e eleição de direções estaduais e nacional durante o congresso. O 6º Congresso do
partido, ouvidas as diferentes
opiniões de mérito a respeito e tendo em vista solucionar a questão de forma democrática, decide:
a)
Convocar um
plebiscito para decidir sobre o processo de eleição das direções partidárias.
b)
O Diretório
Nacional regulamentará o plebiscito, com base nas diretrizes a seguir:
i.
Poderão votar no
plebiscito todos os filiados e as filiadas até o dia 3 de junho de 2017, respeitadas as demais regras estatutárias,
inclusive as aprovadas no 6º congresso.
ii.
A votação será feita
em urna eletrônica, num único dia, em todo o país, naquelas cidades em que haja
diretório municipal eleito pelo PED realizado em 9 de abril de 2017.
iii.
As propostas que
serão submetidas à votação no plebiscito serão inscritas junto ao DN do PT. As
propostas devem ser subscritas, obrigatoriamente, por pelo menos um integrante
do DN. O prazo de inscrição das propostas será estabelecido pelo DN, quando da regulamentação
do plebiscito. Uma vez recebidas as propostas, o DN irá debatê-las, na perspectiva de construir uma síntese. Concluído
este debate, o DN definirá quais as formulações que serão submetidas à votação,
preservado o direito de apresentação de todas as propostas existentes que
tenham o apoio de pelo menos um membro do Diretório Nacional.
iv.
O DN poderá incluir
outras questões – não vinculadas ao processo de eleição das direções
partidárias -- para votação no plebiscito.
v.
O Diretório Nacional
elegerá uma Comissão Eleitoral, com representação das diferentes propostas que
serão submetidas à votação.
vi. Caberá a esta Comissão Eleitoral receber
da SORG e homologar a lista de filiados e filiadas aptos ao voto, lista que
será utilizada nas urnas eletrônicas.
vii. Caberá a esta Comissão Eleitoral também
organizar uma programação de debates sobre os diversos temas, que devem incluir: a) pelo menos um debate
presencial em todos os Diretórios Municipais; b) pelo menos um debate
presencial em cada macrorregião e microrregião partidária; c) pelo menos um
debate presencial em cada Diretório Estadual, preferencialmente transmitido ao
vivo, ou então gravado para
posterior divulgação; d) um material impresso, que será enviado a todos os filiados e filiadas, material no
qual haverá espaço idêntico para a defesa de cada uma das posições inscritas
para votação na urna.
viii.
A decisão do
plebiscito entrará em vigor a partir da eleição da próxima Direção Nacional do PT, convocada para 2019.
2.
A paridade de gênero
e as cotas geracional e étnico-racial serão mantidas e valorizadas para a plena garantia
das políticas previstas no Estatuto e nas resoluções do V Congresso.
3.
O PT dará especial
atenção à constituição das Comissões de Ética e dos Conselhos de Assuntos
Disciplinares, previstos no Estatuto e no Código de Ética, de modo a criar efetivamente as condições para
que o partido enfrente os
dilemas éticos da prática de seus
filiados e filiadas em todos os níveis. Será objeto de especial atenção da nova
direção a escolha imediata e posse das Comissões de Ética e Conselhos de
Assuntos Disciplinares em todos os níveis.
4.
O Congresso Nacional
determina à Comissão de Ética nacional que examine todos os casos analisados pela CEN e/ou pela Câmara de Recursos, no quais uma destas instâncias
tenha deliberado a anulação total ou parcial dos resultados do PED de 9 de
abril de 2017 e/ou dos
Congressos Estaduais, devido à ocorrência
de fraudes. A Comissão de Ética deve analisar estes casos e abrir processo
ético contra filiados e filiadas que sejam acusados e ou suspeitos de
responsabilidade por estas fraudes. O resultado de cada um destes
processos, com as devidas sanções, deve ser remetido ao DN, que deliberará
pelas medidas e punições cabíveis. Esta deliberação e a aplicação das devidas
sanções deve ocorrer antes da elaboração da lista de filiados e filiadas que
participarão do plebiscito que decidirá sobre o processo de eleição das
direções.
5.
O
6º Congresso decide ampliar o Diretório Nacional para 90 integrantes, mais o
Presidente ou Presidenta, os (as) Líderes das Bancadas da Câmara e do Senado e
o Presidente de Honra, Luiz Inácio Lula da Silva. A Comissão Executiva Nacional
passará a ter 26 integrantes. O 6º Congresso orienta o Diretório Nacional a
constituir uma Comissão Política, com reuniões semanais convocadas pela
presidência nacional, e faculta aos Diretórios Regionais a prerrogativa
de aumentar o atual número de membros na direção, em até um terço.
6.
A nova direção
partidária eleita pelo 6º Congresso, com a presença da Fundação Perseu Abramo e
da Escola Nacional de Formação Política, realizará imediatamente um
planejamento de suas tarefas e atividades para o biênio 2017/2018, e funcionará
com coletivos abertos à participação dos membros do Diretório Nacional em todas
as Secretarias Nacionais. Fica criado o cargo de secretário adjunto junto às
secretarias da Executiva Nacional, em especial nas secretarias de Finanças, Comunicação, Formação Política,
Organização, Relações Internacionais e Secretaria Geral, a serem escolhidos
dentre os membros do DN, preferencialmente eleitos por chapas diferentes. A
direção estimulará o engajamento de dirigentes em coletivos de participação nas
várias secretarias. O Conselho
Fiscal será revitalizado e realizará reuniões periódicas com a Secretaria
Nacional de Finanças e Planejamento para integração de seus trabalhos. O DN
regulamentará o papel e a indicação dos adjuntos e o funcionamento do Conselho
Fiscal.
7.
O 6º Congresso
convoca para o segundo semestre de 2017 e o primeiro semestre de 2018 três Conferências Nacionais, as de
Relações Internacionais, de Formação Política e de Comunicação, com o objetivo
de delimitar no planejamento do próximo Diretório Nacional propostas de
estratégia, programa e sistema nacional de suas respectivas áreas, bem como a
interface entre elas. O Diretório Nacional do PT definirá o cronograma e a
pauta de debates dessas conferências.
8.
Unidade
na adversidade, democracia interna, participação, justiça e transparência nas
relações internas do partido são condições para o fortalecimento desse
instrumento de esquerda dos mais importantes dos últimos tempos para a classe
trabalhadora brasileira. Assim, o 6º Congresso
estimula o PT a promover iniciativas inovadoras para ampliar a transparência e a publicização, nas instâncias dirigentes de todos os níveis,
dos recursos financeiros recebidos e gastos pelo partido, bem como promover formas de participação de todas as
tendências no interior do partido e dos mandatos (vereadores, prefeitos,
governadores, vice-governadores, deputados estaduais, deputados federais e
senadores).
Sobre a mobilização e a organização do
petismo
1.
O PT organiza parte
do petismo espalhado pela sociedade: ao longo de sua história, nosso partido
consolidou uma preferência partidária expressiva no eleitorado nacional, uma
influência importante no pensamento político na academia, no mundo
da cultura e nos movimentos sociais, e tornou-se uma
referência na opinião de setores fundamentais da classe trabalhadora e dos mais
variados grupos sociais oprimidos e discriminados. Milhões de pessoas,
eleitores e eleitoras fiéis ao
PT, a Lula e a Dilma, simpatizantes de nossas
posições políticas, participantes das lutas sociais e de esquerda, formam um
campo potencial de organização do PT,
muito maior do que nossa capacidade atual de implementar políticas nessa
direção.
2.
O esforço
desencadeado pelas Conferências Nacionais de Relações Internacionais,
Comunicação e de Formação Política, pelo Congresso da JPT e pelos encontros
setoriais em todos os níveis convocados para o segundo semestre de 2017 por
este 6º Congresso deve estar voltado a esse desafio, o de abrir-se de forma
organizada à mobilização e organização do petismo na sociedade, seja para
ampliar a mobilização geral contra o golpe,
pelas Diretas-Já e em defesa dos
direitos ameaçados pelo governo
e pelo parlamento golpistas,
seja para ampliar a filiação e a participação
dos petistas “de coração” nas
estruturas partidárias. Como tarefas permanentes das secretarias de Mobilização, Movimentos Populares e Políticas
Setoriais e de Formação Política, o PT incluirá a organização de equipes de
mobilização e educação popular no âmbito dos diretórios municipais.
3.
Como tarefas
permanentes das direções em todos os níveis, o 6º Congresso convoca a realização de Festivais Nacionais do
PT, que integrem as dimensões da
cultura, do debate político-ideológico, da convivência fraterna e da formação
política de filiados, filiadas e simpatizantes do partido. Não são poucas as referências internacionais da esquerda
socialista sobre realização de festivais de seus partidos ou jornais. Muitas
referências há também nas origens do movimento operário e socialista no
Brasil, em que a dimensão cultural e afetiva da festa, do teatro, da música, da
dança e da gastronomia, integram-se num projeto comum de
luta social e política.
4.
O PT valorizou muito
mais que hoje essa dimensão cultural na sua construção. É hora de reabrirmos
nossas sedes, os escritórios políticos de nossos mandatos e os espaços privados
disponibilizados por uma militância sempre generosa, transformando-os em espaços
públicos de debate político, de realização de saraus e atividades culturais, de
iniciativas de grupos, núcleos e setoriais voltados às suas bases sociais.
5.
O Festival Nacional
do PT se realizará anualmente e poderá acontecer também nos municípios e nos
Estados, conforme cronograma e programação definidos pelo Diretório Nacional do
PT. Será o espaço para nosso encontro, a nossa confraternização, a nossa
formação, a nossa abertura ao diálogo com o petismo e a nossa afirmação como
partido para o engajamento de corações e mentes, num projeto socialista e libertário de vida e de Nação.
6.
O 6º
Congresso encaminha para a Fundação Perseu Abramo a tarefa de continuar
pesquisando e sistematizando as experiências do modo petista de governar, com vistas ao aprimoramento de sua
metodologia para implementação nos governos municipais, estaduais e federal do
PT.
7.
O Partido dos Trabalhadores historicamente
agrega ao caráter nacional de sua construção a diversidade regional e a
pluralidade desse imenso país. Com o objetivo de ampliar cada vez mais a
participação da militância regional em espaços de decisão, o 6º Congresso
estimulará a constituição de fóruns regionais, a exemplo do Fórum do PT da
Amazônia, uma das experiências mais ricas de afirmação da diversidade e das especificidades
regionais na elaboração de políticas públicas e de integração de ações
partidárias, com acompanhamento da Secretaria Nacional de Coordenação Regional.
8.
Caberá à Direção Nacional eleita elaborar, em conjunto com a militância partidária em ambientes virtuais, uma política
de comunicação que incorpore ao cotidiano de todas as nossas instâncias de
direção e de organização de base a disputa de nossas posições nas redes
sociais.
Sobre as finanças partidárias
1.
O PT definiu na sua
fundação o objetivo de se construir como partido financiado pelos próprios trabalhadores e trabalhadoras,
pela sua própria militância, para manter-se, crescer e transformar-se em
realidade política no plano nacional.
2.
Esse espírito deve
nortear um novo esforço de autofinanciamento,
na busca da autossustentação
financeira, que este 6º Congresso lança como desafio para o conjunto do partido. A corajosa decisão desta
Direção Nacional, no contexto da mais grave crise de nosso Partido e de ataque
das elites ao nosso projeto, de recusar
receber recursos empresariais para as campanhas e financiamento partidário,
antes mesmo da resolução, pela
qual tanto lutamos, de fim do financiamento empresarial determinado pelo
Supremo Tribunal Federal, deve nos inspirar a recuperar o caráter de classe e
militante original de nossa sustentação financeira.
3.
O PT conclama o
conjunto dos filiados e das filiadas a vencer o desafio de ampliar nossa fonte
própria de recursos financeiros para além dos obtidos através do Estado (Fundo
Partidário) e de contribuições de detentores de mandatos, gestores (as) e
assessorias, bem como a manter a
determinação de estrito cumprimento de vedação ao recebimento de recursos de
empresas.
4.
O 6º Congresso orienta
o Diretório Nacional, bem como os diretórios estaduais e municipais, a
apreciarem, nas instâncias respectivas, previsões orçamentárias, gastos e
estratégias de arrecadação. Orienta ainda a divulgação periódica de balancetes
acerca da execução orçamentária e financeira de cada organismo dirigente.
5.
Com a finalidade de
ampliar a adesão ao SACE, o Diretório Nacional realizará campanhas junto aos
filiados e filiadas, para contribuição partidária regular, para além das atuais contribuições
estatutárias.
6.
A Direção Nacional
do PT aprovará anualmente uma atividade de arrecadação militante de âmbito
nacional, e as direções zonais, municipais, setoriais e estaduais serão
incentivadas a realizar atividades de arrecadação. Como recomendação, as
atividades de finanças partidárias devem, sempre que puderem, serem públicas,
disputando espaço em locais públicos e servindo de mecanismo de debate com a
população sobre o padrão de financiamento da atividade partidária no país.
Questões para aprofundamento e decisão
do Diretório Nacional
1.
O 6º Congresso
remete ao Diretório Nacional do PT, para aprofundamento e deliberação nesta
gestão 2017-2019, os seguintes pontos debatidos e aprovados na forma do
Regimento Interno nos Grupos de Trabalho, porém não apreciados pelo Plenário:
a)
Realização de campanhas anuais ou bianuais de
refiliação: O PT realizará
bianualmente (ou anualmente) a renovação do compromisso de filiados e filiadas
com o partido, pela qual o
conjunto de filiados e filiadas deverá reafirmar
sua filiação através de um ou mais meios de participação na vida partidária, os quais serão definidas pelo
Diretório Nacional. Filiados e filiadas com mais de um ano de filiação terão
direito à voz e voto nas
instâncias partidárias e na eleição das direções, e todos os filiados e as
filiadas que confirmarem seu compromisso partidário receberão periodicamente, pelos meios disponibilizados em seu
cadastro, os materiais de
comunicação do partido.
b)
Mandatos das direções partidárias: Os mandatos das instâncias dirigentes do
partido serão de dois, três ou
quatro anos.
c)
Sobre as obrigações financeiras dos filiados e
filiadas para participação no processo eleitoral: O 6º Congresso decidirá da
conveniência de ampliar a obrigatoriedade de quitação de obrigações financeiras
de filiados e filiadas, para que
exerçam o direito de voto nas eleições internas do PT. Sobre as condições para
a participação dos filiados e filiados com direito de votar e serem votados ou votadas na eleição de direções, o partido decidirá sobre:
Proposta 1 – Votam todos os filiados e filiadas
que tenham reafirmado sua filiação no ano correspondente ao da eleição e
estiverem em dia com sua contribuição financeira;
Proposta 2 – Votam todos os filiados e filiadas
que tenham reafirmado sua filiação no ano correspondente ao da eleição, sendo
que dirigentes, candidatos e candidatas e detentores de mandatos ou cargos de
assessoria institucionais devem estar em dia com sua contribuição financeira.
d)
Redução do prazo de filiação partidária para
participação no processo eleitoral: O prazo mínimo de filiação para participar do
processo eleitoral, em quaisquer das modalidades definidas, passa a ser de seis
meses, para todos os filiados e filiadas.
e)
Adoção do principio da proporcionalidade
qualificada para composição das direções partidárias: A composição das direções partidárias
em todos os níveis passará a observar o sistema de proporcionalidade
qualificada, em que as chapas serão chamadas a escolher os cargos das
instâncias executivas, de acordo com a votação que obtiveram.
f)
Direito de voto a núcleos e setoriais em instâncias
dirigentes: Núcleos e
setoriais devidamente constituídos e acompanhados pelas direções zonais e
municipais terão direito a voto sobre os temas de debate nas instâncias
dirigentes, sempre que estes forem previamente debatidos.
g)
Sobre a obrigatoriedade da implementação de
Diretórios Zonais: Em todos
os municípios onde houver mais de uma zona eleitoral, em cada uma delas deverá
ser formado, ainda em 2017, um Diretório Zonal para organizar e orientar a
atividade militante na região, sendo este Diretório Zonal eleito em encontro
presencial de todos os filiados e filiadas da zona eleitoral, conforme
regulamentação do Diretório Nacional.
h)
Sobre os procedimentos para apuração de denúncias
pela Comissão de Ética: Toda denúncia fundamentada de desvio ético de filiado ou filiada do
PT, ou denúncia fundamentada com repercussão na sociedade, deve
obrigatoriamente ser encaminhada pela Comissão Executiva local, estadual ou
nacional, à Comissão de Ética ou ao Conselho de Assuntos Disciplinares. Todo filiado ou filiada que tiver
condenação no Poder Judiciário,
em casos que tenham implicação ética, deve, obrigatoriamente,
ter sua conduta avaliada pelos organismos disciplinares internos, com pleno
direito à defesa e à decisão terminativa.
i)
Sobre a distribuição do Fundo Partidário: Regulamentar o art. 205 do
Estatuto, no sentido de viabilizar a destinação da arrecadação do Fundo Partidário pelos Estados, designando 5% para capitais, 7,5% a
ser dividido entre as cidades com mais de 200 mil habitantes e 7,5% a ser
dividido entre as demais cidades. Os repasses serão feitos diretamente da Direção Nacional aos municípios, após os devidos cálculos.
j)
Financiamento da JPT: Com esse objetivo, o PT aplicará no
mínimo 5% do Fundo Partidário em um orçamento próprio para a Juventude do PT. A JPT deverá criar e eleger um
conselho gestor para administrar
esse recurso, de acordo com
calendário e planejamento de ações que será aprovado no 4º Congresso Nacional
da JPT.
k)
Sobre o financiamento dos setoriais: os Setoriais de Cultura /
Sindical / Agrário e Meio Ambiente contarão com 10% do Fundo Partidário para o
funcionamento e desenvolvimento de suas atividades.
l)
Supressão do Artigo 8º do Código de Ética: facultaria aos militantes que exercem
cargos públicos de primeiro escalão, no Poder Executivo, a participação em
instâncias partidárias do mesmo nível.
2.
O Diretório Nacional do PT decidirá sobre essas questões no decorrer
desta gestão eleita pelo 6º Congresso.
ANEXO I
RESOLUÇÃO SOBRE
ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA
CONTRA AS MULHERES
NO PT
1.
A discriminação e
opressão das mulheres têm sua origem histórica na organização dos espaços de
interação social, divididos entre o público e o privado. Diante desse quadro,
não é possível ignorar a posição de discriminação, exploração e desigualdade em
que estão inseridas as mulheres no mundo. A discussão entre luta de classes e
gênero, assim como a luta contra a ideologia patriarcal, deve perpassar todas as nossas reflexões e
ações. Não é admissível pensar o socialismo sem igualdade de gêneros.
2.
O PT, desde sua
fundação, luta em defesa dos direitos das mulheres trabalhadoras e condena em
seu Estatuto qualquer forma de discriminação de gênero (Artigo 14, item II).
3.
A luta da classe
trabalhadora nestes 37 anos de existência do PT foi capaz de obter muitas conquistas. No caso dos
direitos das mulheres trabalhadoras, no Brasil, ainda são negados direitos democráticos elementares, como o
direito ao aborto; e
trabalhistas, prevalecendo a
desigualdade salarial entre homens e mulheres nas mesmas funções. Apesar de
algumas conquistas importantes no combate à violência contra a mulher, como a
Lei Maria da Penha, há muito a ser conquistado.
4.
Hoje, com o processo
golpista que se instalou no país, a ofensiva para retroceder nos direitos
trabalhistas ameaça em particular a mulher trabalhadora, que é duplamente oprimida na sociedade
capitalista. O golpe representa também um recrudescimento dos aspectos
mais reacionários da ideologia dominante como, por exemplo, a
criminalização do aborto, a misoginia e o machismo, que se manifestam abertamente como
expressão no terreno ideológico da opressão da mulher, que repousa, em última
instância, nas relações de produção baseadas
na propriedade privada dos grandes meios de produção. Por isso a
questão da opressão da mulher
está integrada à questão da luta de classe.
5.
Partido de massa, o
PT não está imune a que ocorram em
seu interior manifestações de machismo ou até mesmo de violência física contra
as mulheres. Qualquer manifestação de machismo e misoginia que possa
ocorrer no nosso partido deve ser combatida e corrigida, por
todos e todas. Esta não é uma luta apenas das mulheres. Nesses casos,
valendo-se de seu Estatuto e de suas instâncias, tais questões serão julgadas e
devidamente punidas.
6.
No seu 6º Congresso
Nacional, dedicado à companheira “Marisa Letícia da Silva”, o PT reafirma
vivamente seu compromisso com a luta contra qualquer forma de opressão da
mulher, em defesa de seus direitos, compreendendo que as bandeiras específicas
da mulher trabalhadora, da luta pela plena igualdade entre homens e mulheres,
integram a vocação do PT, que é
a de lutar em defesa da classe trabalhadora e por uma nação livre e
soberana.
7.
O 6º Congresso
Nacional reafirma também que o Partido dos Trabalhadores é um partido de homens
e mulheres, em condições de igualdade, portanto reafirma a condenação de qualquer manifestação de
discriminação e violência contra suas filiadas.
8.
Desta forma, o 6º
Congresso Nacional do PT resolve:
a)
Ficam criadas as
Comissões de Combate à Violência Contra a Mulher nos Diretórios Estaduais do
PT, com prazo de três meses para
sua instalação em todos os Estados.
b)
São funções da
Comissão de Combate à Violência Contra a Mulher:
i.
Acolher solicitações
da Comissão de Ética e
Disciplina com denúncias apresentadas por filiadas (cis gênero ou transgênero)
sobre violências praticadas contra si, por filiados;
ii.
Orientar as filiadas
sobre seus direitos partidários, incluindo procedimentos para abertura de
pedido à Comissão de Ética, bem como em relação aos
serviços de atendimento às mulheres vítimas de violência disponibilizados pelo poder público e
eventuais medidas judiciais cabíveis;
iii. Analisar os fatos relatados pela vítima
e encaminhá-los à
Comissão Executiva, para conjuntamente discutir a existência de falta
ética originada de violência contra a mulher, deliberar sobre a admissibilidade desta e, se for o caso, remeter à Comissão
de Ética e Disciplina do partido. Emitir parecer no prazo máximo de 30 dias.
iv.
Acompanhar o
processo da Comissão de Ética, orientando a vítima até o
encerramento deste e,
eventualmente, sobre os procedimentos para recorrer a instâncias superiores.
c)
Da composição e
funcionamento da Comissão de Combate à Violência Contra a Mulher:
i.
A Comissão será
presidida pela Secretária Estadual de Mulheres e formada por mais três filiadas, indicadas pela secretaria em consulta ao Coletivo
Estadual de Mulheres e ratificadas pelo respectivo Coletivo;
ii.
Preferencialmente,
as filiadas indicadas terão expertise na temática da violência contra a mulher;
iii. Orienta-se observar a necessidade de
incluir mulheres negras, jovens e LGBTs
na composição de cada colegiado, de acordo com o relato apresentado pela
denunciante;
iv.
O mandato da
Comissão coincide com o mandato da Secretaria e Coletivo Estadual de Mulheres
do PT.
d)
Os Diretórios
Municipais ficam autorizados a criar suas Comissões de Combate à Violência
Contra a Mulher, desde que observadas as mesmas funções e composição ora adotadas
e mediante notificação à Secretaria Estadual de Mulheres do respectivo Estado.
e)
A Secretaria
Nacional de Mulheres do PT organizará campanha educativa semestral sobre o
combate à violência contra a mulher, a
ser veiculada em todas as instâncias partidárias.
ANEXO II
RESOLUÇÃO SOBRE
COMBATE AO RACISMO
1.
O 6º Congresso do
Partido dos Trabalhadores acontece num contexto político de ataques a direitos
constitucionais fundamentais, que golpeiam a democracia, o Estado de Direito e as conquistas do campo democrático e popular. Ocorre
ainda, em um contexto de criminalização da política e de fortalecimento da ideologia de direita, a exemplo do movimento Escola Sem Partido, que ameaça as lutas contra o
racismo, o machismo, a LGBTfobia e a democracia.
2.
Na questão
étnico-racial, os impactos do
golpe são ainda mais nefastos. O racismo, forjado a partir do escravismo
criminoso, se materializa,
dentre outras formas, no extermínio da juventude negra, na violência às
mulheres negras, no ataque às religiões de matriz africana, aos territórios
quilombolas e indígenas. Soma-se a
isso a precarização no mundo do trabalho e a retirada de direitos trabalhistas, ampliando a exploração sobre a população negra, que já ocupa os
piores postos de trabalho e tem os menores salários, resultando num profundo retrocesso às conquistas históricas da
classe trabalhadora, inclusive nos recentes direitos das trabalhadoras
domésticas.
3.
O Partido dos
Trabalhadores desenvolveu, por meio da política interna e de seus programas de governo que incluem políticas públicas que tratam das relações raciais, o
maior e mais ousado projeto de ações afirmativas, buscando a promoção da
igualdade racial para a população negra em seus diversos setores e, em especial, para
a juventude, as mulheres, a população LGBT, os povos de terreiros, as
comunidades quilombolas e povos indígenas. No entanto, internacionalmente, o
que vemos são conflitos sociais, raciais, xenofobia, aumento do fascismo, do
fundamentalismo e da exploração da classe trabalhadora, que têm forte impacto sobre a população
negra no Brasil e no mundo.
4.
No 4º Congresso
Nacional o partido, ficou estabelecida a priorização do diálogo com a base partidária, a partir de três segmentos
estratégicos - mulheres,
juventude e étnico-racial -,
assegurando sua representação nas cotas de direção. A garantia de financiamento
para as mulheres petistas vem contribuindo para seu empoderamento nas
estruturas do partido, fortalecendo e ampliando sua participação nas lutas
sociais e partidárias.
5.
E, seguindo esse
caminho, o 6º congresso precisa dar um passo adiante, assegurando que tanto a
juventude quanto a população negra e indígena também disponham de condições
objetivas para viabilizar as ações programáticas deliberadas nas instâncias do
partido.
6.
Considerando que
somos 53% da população brasileira e que existe uma intrínseca associação entre
o combate ao racismo e a luta de classes, é fundamental o fortalecimento das
instâncias do Partido dos Trabalhadores, particularmente da Secretaria Nacional
e Secretarias Estaduais de Combate ao Racismo, que são equipamentos políticos
estratégicos para restabelecer a relação necessária entre a sociedade, seus
territórios e o partido.
7.
Assim, em relação à
população negra e aos povos indígenas, o 6º Congresso Nacional aprova a
seguinte resolução:
a)
O Diretório Nacional
definirá orçamento que assegure a
execução das ações de combate ao racismo e de promoção da igualdade racial,
deliberadas em um seminário
promovido pela Secretaria Nacional de Combate ao Racismo;
b)
Esse Seminário será
realizado em até 30 dias após a
posse da Direção Nacional, assegurando a participação do coletivo
nacional, secretárias e secretários estaduais de combate ao racismo;
c)
Até o 7º Congresso deverá haver um amplo debate
sobre os mecanismos de financiamento desta política.