O roteiro abaixo foi adotado em cursos realizados no Paraná, Espírito Santo e Rio Grande do Norte, durante o ano de 2010. Com adaptações, pode ser utilizado em novos cursos.
Sexta, 19h: CONJUNTURA
-abertura preliminar, lembrando que a apresentação dos cursistas e da programação detalhada do curso será feita sábado pela manhã
-roteiro da exposição de conjuntura
Após a onda de vitórias eleitorais das forças de esquerda e progressistas (1998, Chavez até 2009, Funes), se criou uma nova correlação de forças na América Latina.
Entretanto, como não conseguimos vencer no Peru, Colômbia e México, esta correlação de forças se estabilizou num patamar que não é suficiente para nossos objetivos.
Por outro lado, a direita latino-americana superou a confusão provocada pelo efeito-dominó de derrotas e está desenvolvendo, desde 2008 pelo menos, uma contra-ofensiva visando recuperar espaços perdidos.
Esta contra-ofensiva recebeu o paradoxal reforço:
a) da crise internacional, que cria dificuldades econômicas para a maioria dos governos progressistas, em particular para Venezuela, Bolívia, Equador e Cuba;
b) da vitória de Obama, cuja imagem positiva (construída midiaticamente e devido ao efeito “bode-Bush na sala”) permitiu aos EUA recuperar parte de sua margem de manobra.
Podemos resumir assim os principais movimentos feitos pela direita:
a) reforçar as “cabeças de ponte” (Colômbia, Peru, México);
b) atacar “elos fracos” da cadeia progressista (Panamá, Honduras. Paraguai, Guatemala);
c) fortalecer alternativas eleitorais de direita nos “elos fortes” da cadeira progressista, criando uma “nova direita” que mistura doses de Sarkozy e Berlusconi (figuras “empresariais” de sucesso, tipo Pinera no Chile, o presidente eleito no Panamá, o filho de Bordaberry no Uruguai etc.);
d) isolar Venezuela
e) neutralizar Brasil.
A grande dificuldade política da direita latino-americana está em como tratar o governo brasileiro. Para isolar Chavez, eles projetaram uma imagem positiva de Lula e do Brasil. Com isso, eles têm dificuldade de lidar com o apoio que nossa política externa tem prestado a Venezuela e Cuba, a atitude no caso de Honduras, os acordos feitos com Evo e Lugo, as boas relações com o governo do Irã, a abertura da embaixada na Coréia, a decisão de comprar armas na França etc.
Aos preços de hoje, podemos dizer o seguinte: prevalece na política do Departamento de Estado dos EUA a convicção de que não podem aparecer como opositores a Lula, mas que o melhor para eles seria que o PSDB ganhasse as eleições no Brasil. Sem isto, eles não terão a liberdade necessária para operar no seu pateo trasero.
Esta liberdade de ação é fundamental para o governo dos EUA por dois motivos: a crise não terminou e o que vem por aí (curto e médio prazo) é um período de profunda instabilidade.
Nessas condições, devemos trabalhar com as seguintes diretrizes:
a) não perder nenhum governo para a direita; b) acelerar o processo de integração regional; c) aprofundar o processo de mudanças.
Embora possa parecer, estas três diretrizes não necessariamente se harmonizam. Por exemplo: no Chile, derrotar a direita implica em votar em Eduardo Frei. Isto não é garantia de “aprofundar as mudanças”.
Outro exemplo: no afã de aprofundar as mudanças, Zelaya adotou uma tática para a qual não dispunha de correlação de forças. O resultado foi, até o momento, “perder um governo para a direita” (ainda que no médio prazo o saldo principal do processo esteja sendo a criação de uma base popular para o que não existia, uma esquerda hondurenha de massas).
Assim, é preciso ver como articular, em cada caso concreto, as três diretrizes.
Noutras palavras: ter, como os Estados Unidos e a direita latino-americana, uma estratégia geral e táticas particulares para cada país.
No caso brasileiro, a vitória de Dilma Roussef atende a dois objetivos: “não perder nenhum governo para a direita” e “acelerar o processo de integração”.
Mas como fica o terceiro objetivo: “aprofundar o processo de mudanças”?
Para responder isto, é preciso perceber que em 2010 haverá dois confrontos, articulados mas distintos:
a) o confronto entre neoliberalismo + desenvolvimentismo privado (ou seja, capitaneado pelas grandes empresas) versus desenvolvimentismo orientado pelo Estado em associação com setores privados;
b) o confronto entre desenvolvimentismo conservador e o desenvolvimentismo democrático-popular.
A vitória de Dilma será a vitória do desenvolvimentismo orientado pelo Estado, em associação com setores privados.
A vitória de Serra seria a vitória do desenvolvimentismo conservador, privado e associado ao neoliberalismo.
A vitória de Serra (se for ele mesmo o candidato da oposição de direita) seria uma derrota clara do desenvolvimentismo democrático e popular.
Já a vitória de Dilma manterá aberta a disputa entre desenvolvimentismo conservador (ou seja, aquele que não toca nas estruturas de propriedade e poder) versus o desenvolvimentismo democrático popular (aquele que se faz mediante reformas estruturais que alterem a propriedade e o poder).
Nas eleições de 2010 não existe a menor chance de solucionar integralmente a disputa, em favor das reformas estruturais. Mas existe a possibilidade de resolver o desenlace em favor da direita.
Assim, a tática da esquerda nas eleições de 2010 tem que levar em conta estas implicações ou objetivos: a) por um lado, ver como impedir a direita de vencer; b) por outro lado, ver como acumular forças em favor das reformas estruturais.
O primeiro objetivo exige levar Dilma para o segundo turno e vencer as eleições no segundo turno.
O segundo objetivo implica reconstruir a unidade dos partidos e movimentos que integram o campo democrático-popular (o que inclui uma plataforma comum e certos acordos político-organizativos, mas que só vai se “resolver” –como ocorreu no final dos anos 1970— quando o movimento de massa estabelecer um rumo hegemônico).
Um dos principais obstáculos à reconstituição do campo democrático-popular é a diferença de análise acerca do governo Lula.
Resumidamente:
a) um setor majoritário da esquerda comete, frente ao governo Lula, o erro que o PCB adotou frente aos governos JK e Jango, a saber, uma postura de adesismo estratégico;
b) um setor minoritário da esquerda comete, frente ao governo Lula, o erro que o PCB adotou frente ao segundo governo Vargas, a saber, uma postura de oposição esquerdista.
O campo democrático-popular não deve cair no adesismo estratégico, nem no esquerdismo.
No terreno da tática eleitoral, isto se traduz em dois movimentos: a) independente do que cada um faça no primeiro turno, é preciso votar contra a direita no segundo turno; b) é preciso disputar o programa de governo do mandato Dilma, incidindo a favor do desenvolvimentismo democrático-popular.
No terreno estratégico, é preciso enfrentar um problema ainda mal-resolvido: o caminho estratégico para a revolução socialista, que neste momento está obtendo “maior sucesso” na América Latina não é o da insurreição (que não venceu em lugar nenhum), nem o da guerra popular prolongada (tampouco vitoriosa), nem o da guerra de guerrilhas (vitoriosa em Cuba e Nicarágua), muito menos o “movimentismo” (que não é caminho para o poder), mas sim o caminho “chileno” (praticado explicitamente na Venezuela, Bolívia e Equador): a disputa e o exercício de governos eleitos como parte fundamental da luta pelo poder.
Entretanto, uma parte da esquerda revolucionária não tirou as devidas conseqüências disto e não consegue implementar uma estratégia de acúmulo de forças e de disputa pelo poder nos marcos deste caminho estratégico. Na prática, discute as questões, analisa a realidade e opera a partir de uma matriz de interpretação da realidade baseada em outros paradigmas estratégicos. Ao fazer as perguntas erradas, obtém respostas erradas.
Este curso, apesar de bastante sintético (dois dias), vai tentar exatamente apresentar as perguntas certas.
Sábado, manhã: HISTÓRIA DA LUTA PELO SOCIALISMO NO MUNDO
-apresentação dos participantes
-apresentação da programação do curso
-distribuição de 6 linhas do tempo (3 são para rascunho, as outras três para serem preenchidas ao término de cada aula)
-pedir que os alunos (em 10 minutos) coloquem na linha do tempo os principais marcos da história da luta pelo socialismo no mundo
-pedir que as pessoas digam ou escrevam na lousa ou colem cartela quais são, na sua opinião, os três principais marcos da história da luta pelo socialismo no mundo
-comentar o que os alunos indicarem e com base no que eles colocarem, desenvolver os seguintes pontos (buscando sempre apoio nas resoluções da AE):
1) os diferentes significados da palavra socialismo e o significado com o qual nós da AE trabalhamos (socialismo como transição etc.)
2) as relações entre capitalismo e socialismo
3) o socialismo como movimento social da classe trabalhadora por outra sociedade
4) o socialismo como visão de mundo (ideologia) e como teoria
5) o socialismo como tentativas de transição do capitalismo ao comunismo (experiências do século XX)
6) os principais marcos da luta pelo socialismo (por exemplo: eu falaria da luta pela redução da jornada de trabalho & pelo direito a voto, do lançamento do Manifesto Comunista e da revolução russa)
7) o socialismo no século XXI (a derrota da primeira grande tentativa, feita no século XX e os desafios no século XXI, diferenciando isto do “socialismo do século XXI do Chávez)
-ao final, pedir que eles preencham novamente a linha do tempo, mas apenas para seu próprio consumo e registro
Sábado, tarde: HISTÓRIA DA LUTA PELO SOCIALISMO NO BRASIL
-pedir que os alunos (em 10 minutos) coloquem na linha do tempo os principais marcos da história da luta pelo socialismo no Brasil
-pedir que as pessoas digam ou escrevam na lousa ou colem cartela dizendo quais são, na sua opinião, os três principais marcos da história da luta pelo socialismo no Brasil
-comentar o que os alunos indicarem e com base no que eles colocarem, desenvolver os seguintes pontos (buscando sempre apoio nas resoluções da AE):
1) os principais marcos da história do Brasil (1500, 1810-1822, 1850, 1888-1889, 1930, 1980...), mostrando os grandes períodos (colônia, parte do sistema colonial e da acumulação primitiva de capital, natureza particular da formação social brasileira, império, o processo “negociado” de superação do escravismo, o processo de industrialização, as características fundamentais: desigualdade, conservadorismo política, inserção subordinada);
2) lembrar que a história é resultante da luta, que nesta luta predominou o setor dominante, falar:
a) dos principais movimentos de resistência & luta dos setores dominados (indígenas, negros escravos, setores pobres urbanos, camponeses, proletariado urbano, setores médios);
b) destacando a seguir as diferentes correntes político-ideológicas presentes no século XX (anarquistas, comunistas, tenentes, trabalhistas, socialistas, cristãos de esquerda, nacionalistas radicais, liberal-democratas, desenvolvimentistas);
c) destacando dentro disto as diferentes estratégias seguidas (revolução pelo alto, diferentes variantes de luta armada, participação eleitoral, mobilização social);
3) mostrar que o desenvolvimentismo foi a gramática hegemônica da política brasileira no século XX, sendo o neoliberalismo uma exceção que em certa medida retomou traços do agrarismo pré-revolução de 30. Mostrar os diferentes tipos de desenvolvimentismo;
-ao final, pedir que o pessoal leia o texto “Observações sobre a revolução burguesa” (se for possível ler em sala, melhor)
Sábado, noite: HISTÓRIA DO PT
-pedir que os alunos (em 10 minutos) coloquem na linha do tempo os principais marcos da história do PT
-pedir que as pessoas digam ou escrevam na lousa ou colem cartela dizendo quais são, na sua opinião, os três principais marcos da história do PT
-comentar o que os alunos indicarem e com base no que eles colocarem, desenvolver os seguintes pontos (buscando sempre apoio nas resoluções da AE):
O Partido dos Trabalhadores foi fundado em 1980. Quatro grandes setores confluíram na sua criação:
a) sindicalistas do chamado “novo sindicalismo”, especialmente os metalúrgicos, bancários e petroleiros;
b) militantes de organizações de esquerda atuantes na oposição contra a ditadura (alguns entraram em caráter individual no PT, outros entraram por decisão de suas respectivas organizações);
c) lideranças populares formadas pelas pastorais e comunidades da Igreja Católica, especialmente do setor progressista;
d) parlamentares e lideranças atuantes no Partido do Movimento Democrático Brasileiro, o PMDB (durante muitos anos, o único partido de oposição legalizado no país).
Também em 1980, foi reorganizado Partido Socialista Brasileiro (PSB, liderado por Miguel Arraes) e foi criado o Partido Democrático Trabalhista (PDT, liderado por Leonel Brizola).
Seguiram atuando na clandestinidade, até 1986, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB, liderado por João Amazonas) e o Partido Comunista Brasileiro (PCB, cuja principal liderança era Roberto Freire).
Outra organização existente na época era o Movimento Revolucionário 8 de Outubro, que não se legalizou como partido e atuava no interior do PMDB; só em 2008 o MR-8 decidiu sair do PMDB e criar um partido, cujo nome é Pátria Livre.
Foi em 1989, no segundo turno da campanha presidencial, que o PT adquiriu a condição que mantém até hoje: a de principal partido da esquerda brasileira. Condição que foi mantida ao longo dos anos 1990 e ratificada durante os dois mandatos do governo Lula.
A trajetória do PT pode ser dividida nos seguintes períodos:
a) 1980-1989, a luta contra a ditadura militar e contra a “transição conservadora para a democracia”;
b) 1990-2002, na oposição aos governos neoliberais;
c) 2003-2009, governando o Brasil.
No período 1980-1989, o PT experimentou três grandes modificações: a) como já dissemos, tornou-se principal partido da esquerda brasileira; b) de partido-frente, no interior do qual atuavam diversos “partidos clandestinos”, tornou-se um partido com tendências internas; c) de partido centrado na luta social, tornou-se alternativa eleitoral de governo.
O PT sempre admitiu, no seu interior, a existência de tendências internas. Vale dizer que desde o início e até hoje, a maioria destas tendências atua diretamente nos movimentos sociais, sem que haja qualquer tipo de constrangimento ou impedimento, uma vez que a “autonomia dos movimentos sociais” (reconhecida pelo Partido) se traduz, no mais das vezes, na recusa a centralizar unitariamente a ação da militância petista nestes movimentos sociais (pois, em alguns casos, obrigar os militantes petistas --que são maioria nos movimentos-- a ter uma posição única equivaleria a eliminar na prática a possibilidade de autonomia).
Como nos anos 1980 algumas das tendências eram, de fato, “partidos dentro do partido”, houve necessidade de uma regulamentação, que foi feita pelo 5º Encontro Nacional do Partido (realizado em 1987).
A regulamentação de tendências aprovada no 5º Encontro e reafirmada pelo 1º Congresso do PT (1991), disciplinou o que seria uma tendência interna (no fundamental, seriam correntes de opinião que reconheciam o “caráter estratégico” do PT); definia a necessidade de registro e reconhecimento pela direção (na prática, sempre bastou comunicar à direção nacional do PT); definia os parâmetros de sua atuação (exigindo, por exemplo, que se abstivessem de ter sedes próprias e de aparecer publicamente enquanto tendências), proibia finanças internas concorrentes com as do PT e definia que relações internacionais eram privativas do Partido enquanto tal.
Posteriormente, garantiu-se a proporcionalidade na composição das instâncias partidárias, ou seja, toda tendência que atingisse o mínimo de votos necessário teria as respectivas cadeiras no Diretório e na Comissão Executiva Nacional do PT.
Do ponto de vista formal, a regulamentação das tendências solucionou a
questão e é nos seus marcos que o PT funciona até hoje. Entretanto, outras dificuldades surgiram, decorrentes: a) do surgimento de outros centros de poder interno, concorrentes com as direções partidárias (bancadas parlamentares, governos e governantes); b) da desigualdade existente, no interior do Partido, no tocante ao acesso à recursos financeiros e materiais.
Outra dificuldade foi o surgimento do auto-denominado “Campo majoritário” (1995-2005), agrupamento de várias tendências que constituía cerca de 70% do Diretório Nacional do PT. Por ter maioria absoluta praticamente garantida, este “Campo” começou a adotar posições sem consulta, debate e votação prévia na direção. Este comportamento –que chamávamos de “maioria presumida”— foi uma das razões da crise de 2005.
O XIII Encontro Nacional e o 3º Congresso do PT, no balanço da crise de 2005, reconheceram na ausência de democracia, concentração de poder e na falta de funcionamento regular das instâncias partidárias, especialmente em nível nacional, uma das causas da crise.
No período 1990-2002, o PT experimentou os efeitos combinados:
a) da crise do chamado socialismo real e
b) da ofensiva neoliberal no Brasil.
De 1990 até 1995, houve uma dura luta interna, acerca do que fazer nesta nova situação. Foi só a partir de 1995 que se estabeleceu uma orientação majoritária e hegemônica no Partido, que podemos sintetizar em torno do seguinte: “alianças da esquerda com o centro, em torno de um programa alternativo ao neoliberalismo, visando conquistar o governo federal”.
A eleição de Lula em 2002 evidencia os aspectos positivos daquela orientação estratégica; ao mesmo tempo, as dificuldades enfrentadas pelo PT e pelo governo Lula entre 2003-2005 demonstram os aspectos negativos daquela orientação estratégica.
No período 2003-2009, o PT enfrenta uma situação absolutamente nova para a esquerda brasileira: compor, na condição de principal partido, o governo federal.
É importante lembrar que o governo Lula não é um governo petista; o governo Lula é um governo de coalizão, composto por partidos de esquerda, de centro e até de direita (caso do PP, partido criado por iniciativa do setor ideologicamente mais conservador do antigo partido da ditadura, o PDS).
O governo Lula possui duas fases: a primeira vai de 2003 até 2005 e a segunda vem de 2006 até hoje. Na primeira fase, a política hegemônica no governo é de conciliação com a herança neoliberal. Na segunda fase, a política hegemônica no governo é desenvolvimentista.
Curiosamente, na primeira fase o PT tinha mais ministros do que hoje, mas a política implementada pelo governo era mais distante das resoluções aprovadas pelo XII Encontro do PT (2001); já na segunda fase, o PT reduziu seu número de ministros, mas a política implementada tornou-se mais próxima do programa do PT.
Quais as principais reflexões “político-organizativas” que podemos fazer ao longo desta trajetória?
A primeira delas: o PT é um partido-lago, não um partido-fonte. Noutras palavras, o PT não é produto de um programa ao redor do qual se nucleiam as pessoas; o PT é produto do movimento de um setor de vanguarda da classe trabalhadora, que arrasta atrás de si diferentes setores sociais, políticos e ideológicos. Portanto, influências diferentes que desaguam no “lago” que é o próprio Partido.
Esta característica (partido-lago) ajuda o Partido a manter os seus vínculos com a classe trabalhadora. Mas, ao mesmo tempo, torna o PT extremamente suscetível as mudanças de humor da própria classe. Quanto esta radicaliza, o Partido vai atrás; quanto esta recua, o Partido também recua. Num certo sentido, isto explica por qual motivo o PT é um “partido de retaguarda”, não um “partido de vanguarda”.
Sem dispor de uma doutrina teórica oficial, o “petismo” é basicamente uma corrente política em torno de alguns pontos de referência (socialismo, democracia, classe trabalhadora, mobilização), combinados e interpretados de diferentes formas ao longo dos trinta anos de vida do Partido.
Assim é que, quando ocorre a crise do socialismo real, enfatiza-se o caráter democrático do Partido. E, quando a direita ataca o PT e o governo Lula, em 2005, recorda-se a natureza de classe do Partido, contra as elites que o golpeiam.
A segunda questão é que, fortemente influenciado pela sua própria atuação prática, o Partido sofreu nos anos 1990 e até hoje uma forte guinada “institucional”. Para exemplificar: de 1980 até 2010, em 30 anos de vida, o PT terá participado de 16 eleições nacionais.
Com uma eleição a cada dois anos (ou seja, um ano intermediário para pagar as contas da anterior e preparar a próxima), há uma deformação na vida partidária: “programa” tende a se transformar em “plataforma eleitoral”; estratégia passa a ser pensar as eleições que vão ocorrer daqui há 4 anos; tática passa a ser como ganhar as próximas eleições; política de alianças se confunde com coligação eleitoral; militância se transforma em “cabos eleitorais”; poder se converte em governo; e a maior parte das finanças partidárias são conseguidas e são gastas em função de campanhas eleitorais.
Da mesma forma que partidos que atuaram em condições de clandestinidade e de luta armada sofrem deformações por conta disto, o PT também vem sofrendo fortes deformações organizativas por conta desta rotina eleitoral. Há um viés “governamental” no horizonte intelectual, programático e estratégico do Partido; uma transferência de poder, das instâncias partidárias, para os governos e bancadas parlamentares; e uma mudança nas relações internas, se introduzindo diferenças hierárquicas oriundas do Estado; e uma tendência a polarizar as relações entre os militantes que estão “nos movimentos”, “no parlamento”, “no governo” e “no Partido”, que de centro diretor estratégico da atuação de todos os militantes, corre o risco de se converter numa agência reguladora voltada a normatizar nossa participação nos processos eleitorais.
Este tipo de deformação foi experimentada nas cidades e nos estados em que fomos governo; e o enfraquecimento experimentado pelo Partido foi fatal, contribuindo tanto para nossa derrota eleitoral, quanto para dificultar nosso retorno ao governo nas eleições seguintes.
A terceira questão é: se não adotarmos fortes medidas corretivas, podemos deixar de ser um partido militante socialista; e nos convertermos num partido eleitoral trabalhista. Noutras palavras: um partido que organiza a concorrência eleitoral nos marcos do capitalismo, não a disputa pelo poder tendo como objetivo o socialismo.
Com maior ou menor acidez e clareza, o conjunto da direção do PT percebe estes problemas e medidas têm sido discutidas ou adotadas, para enfrentar os seguintes problemas:
a) o financiamento da atuação partidária: a maior parte da receita partidária é proveniente, hoje, da contribuição de empresas privadas. Não se trata apenas das campanhas eleitorais. A atividade cotidiana do Partido depende, em grande medida, da contribuição de empresas privadas. Os recursos provenientes do Fundo Partidário estatal e das contribuições militantes não dão conta de financiar os gastos correntes do PT. No médio prazo, isto é evidentemente insustentável: um partido de trabalhadores sustentado por contribuições de grandes empresas;
b) o financiamento das campanhas eleitorais: até hoje, o PT não conseguiu viabilizar o financiamento público das campanhas eleitorais, o que a nosso ver reduziria o custo geral dos processos eleitorais, assim como reduziria os níveis de corrupção e de oligarquização do legislativo brasileiro. Da mesma forma, não conseguimos introduzir o voto em lista. Por conta disto, mesmo no interior do PT as campanhas eleitorais se tornaram empreendimentos extremamente custosos, ao mesmo tempo que vão consolidando “carreiras políticas” e mandatos dedicados prioritariamente à sua própria reeleição; c) a redução da democracia interna, resultado da influência (nas disputas internas) do poder econômico, do acesso aos meios de comunicação, da manipulação de máquinas externas (governos, mandatos parlamentares, organizações sindicais etc.), tudo isto incidindo sobre uma massa de filiados recentes, que não tiveram acesso nem à experiência de luta de décadas anteriores, tampouco tendo acesso à formação política (pois desde os anos 1990 até hoje, caiu expressivamente o número de atividades de formação) ou a uma comunicação interna regular (pois o Partido não possui uma imprensa regular);
d) com a ampliação do número de filiados (ainda pequeno, em relação a população geral do país: 1,3 milhão em 200 milhões) e o enfraquecimento da vida orgânica (núcleos de base, “setoriais” e diretórios com funcionamento deficiente), a solução encontrada desde o 1º Congresso do Partido foi a introdução da eleição direta das direções partidárias. O PT realizou eleições diretas em 2001, 2005, 2007 e as realizará novamente nos dias 22 de novembro e 6 de dezembro de 2009. O processo de eleições diretas demonstrou algumas qualidades, mas também grandes defeitos. O debate interno prévio à eleição é reduzido, a maioria dos votantes não é militante ativo, estabelece-se uma distância enorme entre bases (que votam) e direções (que são votados e dirigem), entre outras distorções;
e) a ausência de formação política por parte da maioria dos filiados, a qual devemos agregar as deficiências na política de formação, bem como o déficit teórico do próprio Partido frente a questões programáticas e estratégicas;
f) a transformação de várias tendências internas em grupos de pressão, vinculados a interesses eleitorais de uma ou outra liderança interna, ou simplesmente ao controle de cotas de poder nas direções;
g) o surgimento de centros paralelos de poder, que concorrem (e muitas vezes suplantam) as instâncias partidárias. Tais centros paralelos de poder (os governos, as bancadas parlamentares, os dirigentes de alguns movimentos sociais, lideranças públicas com forte base eleitoral) dificultam tremendamente os processos decisórios internos;
h) as relações entre Partido e movimentos sociais, bem como as relações entre partido e governo.
Os problemas “político-organizativos” acima citados são, como diz o nome, antes de mais nada políticos. Não se resolvem no terreno administrativo, nem serão solucionados através de declaração de interesses. Tampouco decorrem apenas de “opções” feitas por este ou aquele setor que dirige o Partido.
Embora as opções, as intenções e os problemas gerenciais possam ter sua influência, os problemas político-organizativos que afetam o PT só podem ser compreendidos como parte e decorrência do processo de luta política-social em que estamos envolvidos, na sociedade brasileira concreta.
Neste sentido, é importante não fetichizar o debate organizativo. Como dizia um velho dirigente, a organização tem que estar a serviço da política. E, portanto, é na política (no sentido mais amplo da palavra) que se deve buscar a saída para estes problemas.
Uma das novidades políticas surgidas de nossa experiência de governo é, exatamente, o surgimento do “lulismo”, que podemos definir como a identificação direta de setores importantes da classe trabalhadora com o presidente Lula. As relações entre “lulismo” e “petismo” remetem para um tema enfrentado por outras experiências da esquerda: a entrada em cena de camadas populares, com um tipo diferente de experiência política, e as influências que isto têm sobre a democracia interna do Partido.
Domingo, manhã: HISTÓRIA DO GOVERNO LULA
- pedir que os alunos (em 10 minutos) coloquem na linha do tempo os principais marcos da história do governo Lula
-pedir que as pessoas digam ou escrevam na lousa ou colem cartela dizendo quais são, na sua opinião, os três principais marcos da história do governo Lula-comentar o que os alunos indicarem e com base no que eles colocarem, desenvolver os seguintes pontos (buscando sempre apoio nas resoluções da AE):
(CADA PROFESSOR DEVE ADAPTAR A SEU GOSTO O ROTEIRO ELABORADO PELO WLADIMIR, QUE ESTÁ DISPONÍVEL EM PPT, atachado)
Domingo, tarde: DESAFIOS & AVALIAÇÃO
-pedir que os alunos façam um cochicho (definir quantas pessoas por grupo de cochicho) e digam quais são os principais desafios organizativos, táticos e estrátégicos do PT para 2010 e os próximos anos. Os alunos devem indicar 1 desafio organizativo, 1 tático e 1 estratégico;
-ouvir o retorno dos cochichos e debater o tema com os alunos, enfatizando os pontos que estão no plano de trabalho da AE para 2010 e que foram enfatizados em nossa disputa no PED, a saber: 1) vencer as eleições de 2010, criando as condições políticas para um governo superior; 2) implementar no terceiro mandato medidas democrático-populares que nos aproximem do nosso projeto socialista; 3) ampliar o protagonismo da esquerda e do PT, o que implica na reforma política interna, que transforme filiados-eleitores em militantes socialistas.
-ao término, cabe ao grupo local fazer a avaliação. Sugerimos uma avaliação individual por escrito (que ficará com os organizadores, para leitura e sistematização posterior), sobre os seguintes pontos:
-temário adequado?
-abordagem dos temas adequada?
-avaliação dos professores
-avaliação da turma
-avaliação dos horários
-avaliação do local
-avaliação da infra-estrutura
-idéias para prosseguimento
-outros comentários
Depois que todos tiverem escrito e entregue sua avaliação (10 minutos), uma rodada de falas livres e o agradecimento final dos organizadores.