Não sei quem foi o inventor da falsidade segundo a qual o nazismo e o fascismo seriam de esquerda.
domingo, 13 de abril de 2025
Quaquá “faz arminha”: sintomas do fascismo entre nós
sexta-feira, 11 de abril de 2025
M de massas
Filiações excessivas: no fundo admitiram o problema, mas aprovaram a coisa errada
Acabo de receber e ler a decisão da Câmara de Recursos acerca do recurso que impetrei contra o volume excessivo de novas filiações.
Meu recurso está aqui: https://valterpomar.blogspot.com/2025/03/recurso-acerca-das-novas-filiacoes-ao-pt.html
A decisão da Câmara está aqui:
quinta-feira, 10 de abril de 2025
7x1: uma votação reveladora
A Câmara de Recursos do Diretório Nacional do PT rejeitou o recurso que apresentei, solicitando a aplicação do estatuto do PT, que prevê recadastramento quanto houver volume excessivo de filiações.
A decisão em si não me surpreende. O surpreendente foi o resultado: 7 a 1.
A única pessoa que votou a favor do recurso foi a companheira Natália Sena, que representa na Câmara de Recursos a tendência petista Articulação de Esquerda.
Votaram contra o recurso não apenas 4 integrantes indicados pela tendência Construindo um Novo Brasil, mas também 3 integrantes indicados pelas tendências Resistência Socialista, Movimento PT e Democracia Socialista.
A julgar pelos discursos públicos que as respectivas tendências fazem, achei que o resultado poderia ser 4 x 4.
Sendo assim, cabe perguntar: por quais motivos os representantes de tendências que fazem críticas públicas e privadas às filiações em massa, na hora do vamos ver preferiram rejeitar o recurso?
(O tal recurso pode ser lido aqui: Valter Pomar: Recurso acerca das novas filiações ao PT)
Será que o recurso é absurdo?
Será que o recadastramento previsto no estatuto é impossível de fazer?
Será que não houve filiações excessivas?
Será que alguém acredita mesmo no engodo da "atualização cadastral" no dia do PED?
Alguma razão deve existir.
Entre elas, penso em pelo menos duas.
Apelo à Câmara de Recursos: morto não pode votar!
Hoje, dia 10 de abril, deve ocorrer a reunião da Câmara de Recursos do Diretório Nacional do PT.
A Câmara de Recursos é um órgão criado há vários anos, para poupar trabalho ao Diretório Nacional.
Cabe à Câmara fazer uma análise preliminar dos recursos. E, havendo maioria qualificada na Câmara, a decisão é terminativa. Ou seja, não cabe recurso ao DN.
Porém, o DN pode alterar esta regra a qualquer momento.
Isto posto, hoje a Câmara vai debater os recursos referentes às filiações ao PED.
Um dos recursos foi apresentado por mim e está disponível para leitura aqui: Valter Pomar: Recurso acerca das novas filiações ao PT
A secretaria nacional de organização apresentou um parecer recomendando que meu recurso não seja aceito.
Não recebi o tal parecer, pois não sou membro da Câmara. Portanto, por incrível que possa parecer, não tenho como apresentar minhas contrarrazões oficialmente.
Mas quero reafirmar o seguinte: não estou pedindo impugnação de ninguém. Pelo menos ainda. Estou pedindo recadastramento. Por qual motivo? Primeiro, porque o estatuto prevê esta possibilidade. Segundo, porque há indícios de que houve um processo industrial de filiações.
Um exemplo disso pode ser visto abaixo. Detalhe: quem passou esta informação pede para não ser identificado. Vai saber o motivo.
Voltando ao exemplo: a pessoa abaixo aparece como filiada em Maricá, numa ficha abonada por WQ.
quarta-feira, 9 de abril de 2025
Quem pagou o impulsionamento feito pela campanha do Edinho?
Uma pessoa que trabalha na Fundação Perseu Abramo entrou em contato comigo e fez questionamentos que eu retransmiti ao presidente Humberto Costa, bem como a dois outros integrantes da executiva nacional do PT, conforme segue abaixo.
Prezado Humberto
Cc Gleide Andrade
Cc Jilmar Tato
Primeiro, registro que até o presente momento (18h00 de 9 de abril) o companheiro Edinho Silva não informou se efetivamente usou aviação comercial para fazer suas atividades de campanha; logo, também não informou quem teria pago, isto caso tenha utilizado.
Segundo, escrevo para transmitir a vocês uma preocupação que me foi apresentada por uma pessoa que trabalha na Fundação Perseu Abramo. Segundo esta pessoa, a mensagem abaixo, da campanha do Edinho, teria recebido impulsionamento pago.
https://www.facebook.com/share/r/1A4sarTFYr/
Se for isso mesmo, é importante regulamentar minimamente a questão. Lutamos por regulamentação nas campanhas eleitorais e, portanto, não podemos deixar de regulamentar as eleições internas, que tem um eleitorado de 3 milhões de pessoas.
Notem que no anúncio que teria sido impulsionado pelo Edinho, aparece o Partido como fonte pagadora. Mais especificamente, creio que o Diretório Municipal do PT de Araraquara.
Como não entendo de impulsionamento e a referida pessoa da FPA não é especialista, podemos estar interpretando incorretamente as informações; assim peço vosso esclarecimento (motivo pelo qual copio também o Jilmar Tatto, secretário nacional de comunicação do PT).
Seja como for, acho ótima a ideia do PT pagar o impulsionamento de candidaturas. Mas é preciso que exista uma regra para isto, pois não faz sentido um diretório do Partido – que representa o conjunto dos petistas – financiar uma campanha específica.
No aguardo, saudações petistas
Valter Pomar
Anexo 1: os prints com informações detalhadas da postagem cujo link está acima e que foi feita pela campanha do Edinho
Anexo 2: CNPJ
Anexo 3: como aparece quando a postagem é do PT nacional
Um partido para tempos de guerra... de tarifas
1/o pano de fundo é a crise sistêmica. A crise sistêmica é vista por alguns como a coincidência de várias crises: ambiental, econômica, social, política, cultural, militar. Esta visão é parcialmente equivocada. A crise é sistêmica não apenas pela coincidência e retroalimentação das várias crises que a compõem. Ela é sistêmica porque está em questão o modo dominante de produção e reprodução da vida na Terra. A crise sistêmica é a crise do capitalismo. Motivo pelo qual a solução sistêmica é superar o capitalismo. Quem fala da crise e não fala de socialismo é cúmplice ativo ou passivo da crise;
2/o centro da crise está no centro do capitalismo: os Estados Unidos. A hegemonia militar, monetária e financeira precisa de base produtiva. E os EUA vem perdendo a liderança produtiva. Isto corrói as bases políticas e ideológicas da hegemonia dos EUA no mundo mas também corrói a hegemonia da classe dominante dos EUA dentro do seu próprio país. A sociedade estadunidense está profundamente dividida e sua classe dominante também está dividida sobre como fazer a América Great Again;
3/dentro das regras do jogo, regras e jogo criados em grande medida pelos próprios EUA, os Estados Unidos seguirão perdendo. Virar a mesa é a única solução lógica para os EUA tentarem recuperar sua hegemonia. Claro que isto pode acelerar a queda. Mas “there is no alternative”. Neste sentido, existe método na aparente loucura de Trump. Existe método e precedente: Nixon, 15 de agosto de 1971. Os EUA rasgaram os acordos de Bretton Woods, boa parte do mundo se curvou e anos depois a Stars & Stripes triunfou na Guerra Fria. Nixon é espelho também, ainda que invertido, para a operação que Trump tenta fazer, de colocar uma cunha entre China e Rússia;
4/contra os EUA que rasgam o multilateralismo e atropelam a globalização, governos e partidos urbi et orbi defendem o status quo ante. Mas a aparência esconde a essência: no mundo real, quem sabe e pode está tomando medidas protecionistas de variados tipos. Quem sabe mas não pode está tentando negociar com os EUA uma redução de danos. Mas há, também, os que acham que sabem: é o caso de uma parte importante da classe dominante brasileira, de seus empregados no mundo das ideias & da política profissional. Em resumo, esta gente acha que o Brasil vai ganhar nas duas pontas: venderá mais para China e EUA;
5/quem acredita isso não entendeu direito a profundidade do que está ocorrendo. Nas expressões “guerra comercial” e “guerra de tarifas”, o essencial está na palavra guerra. Um país rico e desprotegido como somos não será beneficiado por essa guerra: será saqueado. Claro que haverá um setor do empresariado que se beneficiará com isso: como em toda guerra, os capitalistas abutres sairão ganhando. Mas para a imensa maioria da população brasileira, o que nos espera é uma situação muitas vezes pior do que aquela que sucedeu a Grande Guerra de 1914-1918;
6/há alternativa? Óbvio! E o fato de Lula e o PT estarem na presidência pode ser decisivo. Isto se aproveitarmos a janela aberta pela crise para transformar profundamente o país: soberania alimentar, soberania produtiva, soberania energética, soberania digital, soberania militar, soberania científico-tecnológica, soberania ambiental. Tudo aquilo que nossa classe dominante e o capitalismo realmente existente em nosso país odeiam. Tudo aquilo que só as classes trabalhadoras e uma orientação socialista podem viabilizar;
7/qual a disposição do PT e do governo Lula de liderarem uma revolução deste tipo? Hoje, pequena. Seguimos prisioneiros de uma lógica tradicional de pensar, segundo a qual devemos defender o “sistema” - no caso, o multilateralismo - do ataque trumpista. Que devemos derrotar o trumpismo, nenhuma dúvida. Mas não há como resuscitar o multilateralismo produto da globalização liderada pelos EUA. Quem pensa fazer isso através do acordo Mercosul-União Europeia não percebe – ou finge não perceber - que o pressuposto deste “acordo neocolonial”, palavras de alguém muito importante, é cristalizar o Brasil como nação primário-exportadora. O caminho é outro, a industrialização; e a velocidade deve ser imensa, no espírito dos 50 anos em 5;
8/é nesse contexto que deve ser vista a disputa contra o cavernícola e contra a extrema-direita. Não se trata apenas de uma batalha em defesa das liberdades democráticas. Trata-se de uma disputa em torno do presente e do futuro do Brasil. Bolsonaro, Tarcísio e quetais são a vanguarda do atraso, os porta-vozes do setor mais radical do agronegócio, do capital financeiro e dos interesses imperialistas estadunidenses. Por isso, aliás, há setores da direita gourmet que estão dispostos a um acordo, a uma pacificação, a uma anistia. Pois tirando o bode da sala, podem reunificar a elite em torno do projeto que as unifica: super-exploração da classe trabalhadora, mal-estar social, democracia restrita, dependência externa e subdesenvolvimento;
9/o grande dilema do PT e do governo é como derrotar o neofascismo, sem capitular ao capital financeiro e ao agronegócio. A opção feita até agora – consubstanciada na “frente ampla” com “união e reconstrução” – não conseguiu resolver este dilema. Se nada for feito de diferente, podemos ganhar a eleição presidencial de 2026, mas correndo o risco de ganharmos em condições piores do que as de 2022. O que reduziria as chances de um segundo mandato superior e de novas vitórias eleitorais. A solução aventada – uma frente ainda mais ampla, com mais e melhor reconstrução e alguns acenos à transformação, como é o caso da cobrança de mais impostos sobre os ricos – até agora não se demonstrou suficiente para mudar qualitativamente a situação. E, acima de tudo, é incapaz de lançar as bases de outro modelo de desenvolvimento, que é o que realmente importa, pois ganhar eleições deve ser um meio nesta perspectiva e não um fim em si;
10/é preciso admitir que não se trata de um problema de fácil solução. As regras do jogo institucional favorecem as duas direitas – a extrema e a gourmet – e prejudicam a esquerda. Uma saída é jogar em vários tabuleiros ao mesmo tempo. De um lado o governo deve fazer o que precisa ser feito para proteger o país da crise mundial, a começar por abandonar o arcabouço em que nos metemos. De outro lado, o Partido deve coordenar uma ofensiva de organização, conscientização e mobilização popular. E ambos, Partido e governo, cooperarem em tarefas decisivas. Um exemplo: uma campanha nacional de sindicalização. Hoje, temos 60 milhões de votos mas não temos 10 milhões de sindicalizados. O Brasil será muito diferente se cada eleitor nosso for também vinculado a um sindicato. Assim como será muito diferente se cada um de nossos eleitores aderir não apenas a um candidato, mas a um projeto alternativo de sociedade;
11/há dois pressupostos para que isso dê certo: pensamento estratégico e disposição de luta. O Partido está contaminado pela lógica eleitoral, segundo a qual “estratégia” é pensar nas eleição subsequente. É preciso resgatar o pensamento estratégico, que inclui uma noção muito simples: para mudar o país não basta ter o PT na presidência, para transformar o Brasil é preciso que a classe trabalhadora conquiste o poder. E nada disso se fará sem grandes lutas, sem grandes enfrentamentos. A classe dominante, especialmente seu braço de extrema-direita, sabe perfeitamente disso: dedica-se com afinco a ocupar territórios, construir aparelhos, dominar instituições, ganhar eleições, conquistar corações e mentes em defesa do capitalismo. E não tem medo de polarizar conosco, numa lógica mental típica da guerra fria. Há quem acredite que o melhor jeito de enfrentar isso é desmontando a polarização. Talvez por isso o manifesto de um dos candidatos à presidência do PT tenha 1244 palavras e nenhuma delas seja “socialismo”. Ontem os alérgicos à polarização falavam em “virar a página do golpe”; amanhã, não tenhamos dúvida, serão capazes de defender anistia para os golpistas;
12/Somos a favor do fim da polarização, mas da seguinte forma: através do esmagamento, da destruição, da derrota da extrema-direita. Como temos dito desde 2015, entramos numa época em que se faz necessário um partido para tempos de guerra. Essa é uma das questões de fundo que precisamos debater no processo de eleição das direções partidárias, que concluirá no dia 6 de julho de 2025. Sem responder a estas e outras questões políticas, não conseguiremos superar nossas dificuldades organizativas. Afinal, organização é política concentrada; logo, política errada desorganiza;
13/No mundo, na região e no Brasil, não há nenhuma dificuldade intransponível. Desafios e ameaças existenciais já foram enfrentadas e superadas no passado, podemos fazer o mesmo hoje e no futuro. Mas para isso é preciso oferecer uma alternativa sistêmica para a crise sistêmica. A crise profunda que vivemos é mais uma prova de que o capitalismo ameaça a sobrevivência da humanidade e empurra parte importante da população mundial para o sofrimento físico e mental. A solução sistêmica para a crise está no socialismo. O PT precisa voltar a falar disso, entre outros motivos porque acreditar que é possível construir um futuro melhor é essencial para fazermos do Brasil um país soberano, com bem-estar social, liberdades democráticas e desenvolvimento. Precisamos voltar a falar de socialismo e, principalmente, precisamos voltar a lutar pelo socialismo.
(texto não revisado)
Perguntas ao Edinho: usou? Se usou, quem pagou?
Ontem recebi um ofício assinado por Humberto Costa e Gleide Andrade dizendo o seguinte: “em atenção ao pedido de informações referente às viagens realizadas pelo senhor Edson Antônio da Silva aos municípios de Palmas/TO, Cuiabá/MT e Contagem/MG, o Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores informa que não custeou quaisquer despesas vinculadas a tais atividades e não possui quaisquer informações sobre o assunto.”
Quem não se recorda do assunto pode ler aqui:
https://valterpomar.blogspot.com/2025/04/edinho-foi-de-jatinho-se-foi-quem-pagou.html?m=1
Sendo assim, cabe ao Edinho Silva responder:
-ele usou mesmo um jatinho?
-se usou, quem pagou?
Tendo em vista a ênfase que Edinho vem dando ao tema da tesouraria do Partido, imagino que ele compreenda a necessidade de ser transparente nesta e noutras questões.
Afinal, a democracia petista não rima com abuso de poder econômico nem com dinheiro de empresários interferindo no PED.
As “outras questões” eu deixo para mais tarde. Agora me contentaria em saber se usou e, em caso positivo, quem pagou.
Atenciosamente,
HUMBERTO SÉRGIO COSTA LIMA
Presidente Nacional
Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores
GLEIDE ANDRADE DE OLIVEIRA
Secretária de Planejamento e Finanças
Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores
terça-feira, 8 de abril de 2025
Edinho foi de jatinho? Se foi, quem pagou?
Três pessoas me ligaram para falar a respeito. Mas eu só acreditei quando vi o próprio Edinho postar na sua conta do Instagram um carrossel com o título “um final de semana comigo”. Lá estão imagens de Palmas, Cuiabá e Contagem. Ao contrário do que me disseram, não há imagens de Campo Grande, embora uma pessoa tenha insistido comigo que Edinho também teria estado na capital do MS. Com base nas informações divulgadas pelo próprio Edinho, escrevi a mensagem abaixo reproduzida, que enviei ao presidente Humberto Costa cc à tesoureira Gleide Andrade. Junto da mensagem, mandei alguns prints do referido Instagram. Reproduzo tais prints ao final desta postagem. É uma pena gastar tempo com isso, mas já que Edinho vem cobrando transparência da tesouraria do Partido (controlada por sua tendência desde 1995), imagino que ele deva ser o maior interessado em dar o exemplo.
Bom dia
Escrevo para vocês, presidente e tesoureira do Partido, para relatar e pedir informações sobre o que segue abaixo.
Segundo vi hoje na conta Instagram do companheiro Edinho Silva, ele esteve no último final de semana em três cidades: Palmas, Cuiabá e Contagem.
Salvo melhor juízo, não há vôo comercial disponível para estar nessas três cidades num único final-de-semana, nos horários das atividades divulgadas pelo Instagram (ver prints).
Tudo indica, portanto, que o deslocamento foi feito de jatinho. Suposição reforçada pelo caráter profissional da divulgação, o que supõe o deslocamento também de uma equipe.
Se for isto mesmo, há três possibilidades:
a)ou os custos estão sendo pagos com doação empresarial, caso em que deve estar sendo comunicado ao Partido, que neste caso precisaria discutir novamente como lidar com a situação de dinheiro empresarial numa disputa interna;
b)ou os custos estão sendo cobertos com doações militantes dos apoiadores da campanha, o que seria totalmente legítimo e motivo inclusive de comemoração, pois se trataria de uma demonstração de que o Partido, ou pelo menos setores do Partido conseguem arrecadar quantias significativas para suas atividades internas;
c)ou os custos estão sendo bancados pelo Partido, caso em que gostaríamos de saber quais os procedimentos para também ter acesso e, assim, garantir a isonomia imprescindível em uma disputa democrática.
Isto posto, a pergunta que faço a vocês, presidente e tesoureira, é a seguinte: foi o Partido quem arcou com os custos do deslocamento, particularmente o aluguel do suposto jatinho?
No aguardo, saudações petistas
Valter Pomar 8/4/2025
segunda-feira, 7 de abril de 2025
Obrigado, Mercadante!
O companheiro Aloizio Mercadante, atualmente presidente do BNDES, acaba de publicar na Folha de S. Paulo um artigo intitulado “Obrigado, Alexandre”.
O “Alexandre” em questão vem a ser o ministro Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal.
O artigo de Mercadante é de leitura essencial para quem deseje compreender a renovação ideológica que está em curso em parte da direção do nosso Partido e do nosso governo Lula 3.
A Grécia
O artigo de Mercadante começa falando das origens gregas dos “sistemas políticos do Ocidente”. Não tenho a erudição que Aloizio demonstra acerca da Paideia, mas registro meu espanto com duas afirmações.
Primeiro, com a maneira delicada como Aloizio descreve o fato da chamada democracia grega excluir estrangeiros, escravos e mulheres. Segundo Aloizio, ela seria “imperfeita e restrita”.
Segundo, com a ausência de qualquer menção às grandes revoluções que desde o século 17 jogaram papel insubstituível para destruir as “imperfeições e restrições” vigentes à época.
Noutras palavras: o “impulso civilizatório” que realmente fundou a democracia no sentido moderno da palavra veio da plebe, não da Grécia antiga.
Aliás, registro que certas ideias mitológicas acerca das origens helênicas do “Ocidente” são muito acalentadas pela direita e pelas elites dos países capitalistas decadentes, especialmente neste momento em que enfrentam um desafio que encarnam na China.
O indivíduo
Acerca da Paideia, Aloizio destaca a “educação que criava cidadãos críticos, comprometidos com os valores coletivos da pólis e com a manutenção de um Estado justo”, educação cívica que ele contrapõe ao que estaria ocorrendo hoje, por obra e graça das mal denominadas redes sociais.
Neste ponto, registro meu espanto com outras duas afirmações, ambas presentes na seguinte passagem do texto de Mercadante: “no contexto histórico moderno, os grandes guardiões efetivos da democracia, para além das instituições e do sistema de pesos e contrapesos, são os próprios cidadãos, que informados e bem formados, defendem seus direitos individuais e coletivos e impedem a sempre presente ameaça da deturpação do exercício do poder”.
Primeiro: não sei exatamente o que Aloizio inclui no tal “contexto histórico moderno”. Mas pelo menos no século XX, na maior parte dos países capitalistas, as “instituições” não foram guardiãs da “democracia”.
Vide o caso dos Estados Unidos: ao longo da maior parte do século XX, a serviço de quem e do quê estiveram o Congresso, a Suprema Corte e a Presidência daquele país? Estiveram a serviço da “democracia”??
Segundo: não consigo compreender como alguém de esquerda produz esta síntese que fala de “pesos e contrapesos”, fala de “instituições” e destaca os “cidadãos” como pilar da defesa dos direitos.
Esta maneira de ver a política – centrada nos indivíduos que elegem os integrantes de instituições que se equilibram mutuamente – é totalmente liberal.
É liberal porque exclui do cenário as organizações coletivas das classes trabalhadoras que, na história real - não nos manuais - foram os principais protagonistas da luta democrática em todo mundo.
Não apenas exclui, mas também dilui as classes sociais existentes dentro de cada sociedade numa única e mesma geleia. Além disso, coloca num mesmo saco as sociedades metropolitanas e periféricas, capitalistas e socialistas. O que torna impossível entender por qual motivo o nazismo surgiu no chamado Ocidente e foi derrotado principalmente pelo esforço da União Soviética. Assim como torna impossível compreender por qual motivo a República Popular da China é, hoje, uma das maiores barreiras contra o neofascismo trumpista.
As redes
Sobre o que estaria ocorrendo hoje, Mercadante diz que “vivemos um momento histórico de ‘anti-Paideia’. O século 21 está se tornando o exato oposto do ‘Século de Péricles’. O século 21 está se tornando o ‘século da neocolonização digital’.”
Como disse antes, não tenho a erudição de Aloizio Mercadante, assim vou pular as referências gregas e vou me concentrar no presente: concordo integralmente com Aloizio sobre o efeito corrosivo das “redes sociais desregulamentadas, controladas pelas big techs e seus interesses econômicos, comerciais e políticos”.
Mas discordo da “narrativa” que Mercadante apresenta, narrativa resumida na seguinte frase: “estão corroendo as democracias pela via perversa e maliciosa da destruição da cidadania”.
Esta narrativa transmite a impressão de que antes das redes existia algo que funcionava bem. E esta impressão é simplesmente falsa.
Para não ir mais longe, o neoliberalismo triunfou nos principais países capitalistas desde 1979 e isso aconteceu quando ainda não existiam as tais redes sociais desregulamentadas.
Desde então e antes das redes, já se falava em crise das instituições democráticas.
Não foram as “big techs e suas redes sociais” que inauguraram a substituição do “cidadão pelo consumidor”, dificultando “um real debate público, qualificado e democrático”.
Portanto as “redes sociais” (e o neofascismo) cresceram em terreno que já estava previamente “corroído” pelo neoliberalismo (e se formos mais atrás na história, a coisa tampouco melhora, pelo simples fato de que a relação entre capitalismo e democracia nunca foi harmônica).
A narrativa de Mercadante passa a impressão oposta, como se pode ver na seguinte frase: “as big techs e suas redes sociais (…) tendem também a substituir a imprensa e a política, reais e democráticas, por uma espécie de ‘micropolítica à la carte’, que manipula, degrada e polariza artificialmente a opinião pública”.
Que a Rede Globo e o Estadão digam algo parecido com isso, normal. Mas nós não podemos dizer que antes das redes existiam uma “imprensa” e uma “política” que seriam “reais e democráticas”.
Nessa questão das redes, ninha discordância com Mercadante vai além da narrativa e inclui a “solucionática”.
Considero insuficiente dizer que as redes devam ser “submetidas a um controle legal e democrático que as tornem instrumento útil para a cidadania”.
Entendo que devemos dizer e fazer sobre as redes o mesmo que dizíamos (e não fizemos) acerca da comunicação de massas pré-redes, a saber: não pode existir monopólio privado, deve existir comunicação pública.
No caso, o Brasil precisa ter redes sociais próprias, sob controle nacional e estatal. Ou é isso, ou ficaremos dependentes da “moderação” dos Mark e Elon da vida.
Neste particular, pouco ou nada devemos esperar da “articulação global”, ao menos com a União Europeia e Ásia. É o Estado brasileiro que deve tomar a iniciativa e criar redes brasileiras.
O multilateralismo
Aloizio considera que “os ataques às democracias atingem o multilateralismo e as instituições que sustentam as regras da ordem global, e levam ao desrespeito sistemático de acordos, tratados e convenções internacionais por parte de alguns países”.
Aqui, novamente, fica evidente que a “narrativa” de Mercadante contrapõe o presente a um passado que supostamente seria melhor. Cá entre nós, se fosse mesmo “melhor”, de onde o neofascismo teria surgido? Veio de Marte? Nasceu por geração espontânea? Ou foi resultado das contradições do “multilateralismo” e de suas “instituições”?
A verdade, na minha opinião, é a seguinte: o neofascismo é filho legítimo do neoliberalismo e da crise do capitalismo. Motivos pelos quais nossa oposição ao neofascismo não pode ser baseada na mistificação e na mitificação acerca do passado neoliberal. Nem pode estar baseada numa aliança com a direita gourmet neoliberal.
O judiciário
O introito anteriormente comentado serve para Mercadante situar num “sentido mais amplo e civilizatório” o “esforço de juízes como Alexandre de Moraes, e o empenho de uma instituição tão importante como o STF”.
Há pessoas e computadores que têm memória limitada: só assim para entender a visão parcial que muita gente, Mercadante inclusive, têm acerca do STF.
Vamos lembrar: o Supremo foi fundamental para o sucesso do golpe de 2016 e para a eleição do cavernícola em 2018.
Que, hoje, as contradições entre os diferentes setores da classe dominante levaram a maioria do Supremo noutra direção, não tenho dúvida. Mas as posições atuais da maioria do Supremo não justificam análises simplistas.
Quero lembrar, ademais, que havia e segue existindo todo um debate sobre a partidarização da justiça e acerca da judicialização da política. Esse debate não comparece no texto de Mercadante.
No seu lugar surge um “Poder Judiciário” que supostamente estaria na "linha de frente" em “defesa da democracia, da cidadania, dos direitos individuais e coletivos, da legalidade e do Estado democrático de Direito; e contra a tendência internacional de consolidação de autocracias, abertas ou veladas”.
Este tipo de narrativa, que faz desaparecer as nuances, as contradições, os conflitos, resumindo tudo a luta do bem contra o mal, não é típico da esquerda. Paradoxalmente, é típico da direita que Aloizio pretende criticar.
Xandão
Como já disse e repito, erudição não é minha praia. Mas li num velho livro espanhol um raciocínio genial, que diz mais ou menos assim: a descrição que se faz de certos personagens históricos não corresponde ao que eles foram, mas sim ao que eles deveriam ser para servir de exemplo para as futuras gerações.
Lembrei disso ao ler o elogio que Mercadante faz a Xandão, pessoa cuja trajetória pré-Supremo pode ser resumida no fato de que ele foi indicado ao STF pelo golpista Michel Temer. Quanto a trajetória de Xandão no Supremo, quero lembrar do seu voto num julgamento essencial, ocorrido em abril de 2018, portanto há sete anos.
Cito a seguir texto publicado pelo UOL: “Depois de mais de dez horas de sessão, a maioria do STF (Supremo Tribunal Federal) negou o habeas corpus preventivo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para que ele possa recorrer em liberdade de sua condenação em segunda instância no processo do tríplex. Em uma votação acirrada, seis dos onze ministros mantiveram o atual entendimento da Corte, que permite a execução da pena após decisão em segundo grau. Apesar de dois ministros terem mudado de posição sobre a possibilidade de prisão na segunda instância, o placar se manteve inalterado --6 a 5-- em comparação aos julgamentos no qual o STF fixou, em 2016, a possibilidade de início de cumprimento da pena nessa fase do processo".
Como votou Alexandre de Moraes? Xandão votou contra Lula. Segundo a matéria do UOL, Xandão teria dito o seguinte: “A jabuticaba seria o inverso: só começar a execução após transito em julgado, depois de todas as possibilidades recursais”.
Não sei como Mercadante consegue conciliar esta trajetória, que ele certamente conhece melhor do que eu, com a afirmação de que Alexandre de Moraes e o STF estariam destinados a “defender nossa democracia, nossos direitos e nossa capacidade de participarmos, de forma pacífica e sem manipulações indevidas, dos debates públicos destinados a identificar, promover e defender o bem comum, como se fazia nas ágoras atenienses”.
Se bem que nas ágoras atenienses só participavam homens de bem. Logo, se for esse o parâmetro, talvez seja mesmo possível dar nó em pingo dágua.
Democracia
Mercadante encerra seu texto dizendo que “a democracia interessa a quem é de esquerda, de centro ou de direita”.
Adoraria que isto fosse verdade. Mas não é.
A direita fala em “democracia”. Até a extrema-direita fala em “democracia”. Mas como a história comprova, a direita é assassina de democracias. E o faz sem dor na consciência, pelo simples motivo de que para eles “democracia” tem um significado distinto do significado que tem para nós.
O centro também fala em democracia. Mas seu posicionamento real depende da correlação de forças. A maior parte do centro apoiou o golpe de 2016 e votou no cavernícola em 2018. Aliás, como já ouvi uma vez ser dito por um assessor do presidente Lula, na prática o “centro não existe”.
Portanto, a democracia interessa mesmo é a nós, da esquerda.
A classe trabalhadora precisa de liberdades democráticas. Por isso, concordando com Mercadante, devemos ser contra o “neocolonialismo digital".
E em nome disso, podemos e devemos fazer alianças. Mas sem confiar nos aliados de direita e centro, sem baixar a guarda, sem acreditar que pêras nascem em carvalhos.
Exemplo dessa postura está no último parágrafo do artigo de Mercadante.
Palavra de Mercadante: “As utopias, como escreveu Eduardo Galeano, são como o horizonte. Por mais que caminhemos em sua direção, nunca o alcançamos. As utopias, contudo, servem justamente para isso, para nos obrigar a caminhar. A caminhar no rumo correto. Enquanto tivermos na vanguarda dessa caminhada interminável, porém imprescindível, com cidadãos como Alexandre de Moraes, estaremos bem. Nossa democracia estará bem”.
Fazer de Alexandre Moraes a vanguarda da nossa caminhada interminável pela utopia pode ser apenas um exagero brega de ghostwriter.
Mas também pode ser algo deveras simples: mais uma confirmação de que parte da esquerda brasileira está trocando de utopia.
Obrigado, Mercadante, por nos lembrar disso!
sábado, 5 de abril de 2025
Resposta a um raciocínio boçal
Me enviaram hoje um texto que começa assim:
“Enquanto Pedro Pomar, defendeu a revolução pela via armada, Lula demonstrou que transformações profundas, podem ser alcançadas pela via democrática, sem sacrificar sangue inocente, com políticas públicas bem estruturadas e focadas na redução das desigualdades. Seu legado, é marcado por avanços significativos nos indicadores sociais e econômicos, que melhoraram concretamente a vida de milhões de brasileiros, especialmente os mais pobres, sem necessidade de conflito ou derramamento de sangue.”
quinta-feira, 3 de abril de 2025
Fóssil soviético não usa fusca!
Quaquá, como qualquer um, tem qualidades e tem defeitos.
E além disso tem dinheiro.
Muito dinheiro.
E como uma coisa leva a outra, a imprensa noticiou planos assaz curiosos que o prefeito tem para utilizar parte dos recursos de Maricá:
Maricá compra 10 projetos inéditos de Oscar Niemeyer por R$ 73 milhões – Política – CartaCapital
Prefeito de Maricá propõe comprar SAF do Vasco - Estadão
O dinheiro ajuda Quaquá a não ter medo das aparências.
Por exemplo, não tem medo ser chamado de coronel.
Isso explica a tranquilidade com que ele empossa publicamente as pessoas, como se pode ler na notícia abaixo:
Se for mesmo verdade o que está escrito na matéria acima, Quaquá teria dito o seguinte: "Aqui no Rio (o presidente) será o meu filho Diego. Fabiano tem que se concentrar no trabalho para viabilizar a candidatura dele a vice-governador. Vai chefiar nosso GTE (Grupo de Trabalho Eleitoral) e organizar a chapa de deputados estaduais e federais. Diego será o presidente".
Ao mesmo tempo que nomeia uns, Quaquá escracha outros.
Por exemplo, Quaquá diz que não consegue ver "o Edinho, com cabelo engomado e sapatinho engraxado, subindo a Mangueira comigo ou visitando um assentamento do MST".
Sobre o volume excessivo de filiações registrado no Rio de Janeiro, Quaquá fala que filiou ao partido "os que amam o Lula". Portanto, não houve uma filiação industrial mas sim uma explosão sentimental.
E sobre o autor destas linhas, Quaquá disse o seguinte: (...) O Walter (sic) Pomar não enche um fusca. (...) O PT é um partido de massa; não é partido da União Soviética. Apesar desse fóssil que se chama Walter Pomar (…).
A respeito, registro apenas que não tenho um fusca. Aliás, não tenho carro. Mas se tivesse, como todo bom fóssil soviético eu teria um Lada. Blindado.