domingo, 30 de outubro de 2022

Vamos comemorar muito, porque amanhã o trabalho recomeça!



Vencemos!!!

Abstenção: um pouco menor do que no primeiro turno.

Votos brancos: 1,43% ou seja 1.769.678 votos

Votos nulos: 3,16% ou seja 3.930.762 votos

Cavernícola: 49,10% dos votos válidos ou 58.206.322 votos.

Lula: 50,90% dos votos válidos ou 60.345.825 votos.

Lula foi novamente eleito presidente do Brasil!!!

Viva Lula! 

Viva a militância! 

Viva a esquerda democrática e popular! 

Viva o PT!

E, acima de tudo, viva a classe trabalhadora brasileira.

Vamos festejar muito: ganhamos o segundo turno.

Mas já começou o terceiro turno.

A extrema-direita foi derrotada eleitoralmente, mas conseguiu o que pode ser apresentado como uma vitória política.

Afinal, para além dos resultados estaduais e proporcionais, quase metade do eleitorado ativo votou a favor da continuidade do governo cavernícola

O resultado apertado surpreendeu principalmente quem leu errado as pesquisas, subestimando o efeito abstenção e também subestimando o crescimento da extrema-direita na reta final.

Talvez tenha contribuído para esta leitura errada o fato de que nunca antes na história deste país um governo capaz de tanta merda tenha conseguido tanto apoio para a sua reeleição.

Nas próximas horas veremos o que a turma do cavernícola vai fazer diante da derrota apertada.

Aqui, alguns palpites de véspera:  Valter Pomar: Dilema cavernícola

A apertada diferença entre o primeiro e o segundo colocado reforça, em muitos analistas, uma opinião que vem de longe: a tese segundo a qual a esquerda teria ganho apenas graças às alianças feitas com parcelas da direita gourmet. 

Haverá muito tempo para discutir estas e outras opiniões, no contexto de um balanço completo deste duro processo eleitoral, majoritário e proporcional, nacional e nos estados.

Mas neste balanço completo há desde já, para nós, uma cláusula pétrea: a eleição de Lula deveu-se antes de mais nada à classe trabalhadora com consciência de classe, em particular aos mais pobres, espalhados em todo o país, mas concentrados no nordeste do Brasil.

E isto nos dá muito orgulho e a certeza de que estamos do lado certo!

De resto, sem ilusões acerca do que virá: afinal, seguem vivas as profundas contradições que gestaram o golpe de 2016, a fraude de 2018 e a extrema-direita de massas liderada pelo genocida.

É exatamente por isso que, findo o segundo turno, já teve início o terceiro turno, que começa na "transição” e prosseguirá a partir de 1 de janeiro de 2023.

Por isso, esta noite é de muita festa, mas amanhã o trabalho recomeça.


ps. dedico este texto a todos os "gênios" da raça e suas previsões totalmente furadas, mas que lhes rendem fama e prestígio, especialmente entre quem só gosta de ouvir previsões otimistas.

sábado, 29 de outubro de 2022

Dilema cavernícola

A eleição presidencial não está decidida. Lula está com a vantagem, mas isso ainda precisa ser confirmado nas urnas. E como a diferença será pequena, terá grande importância a movimentação das próximas horas.

que o cavernícola ainda pode fazer, para tentar ganhar? “Raspar o tacho” do eleitorado indeciso? Aumentar a produção de fake news? Sabotar o deslocamento de eleitores? Tumultuar as seções de votação? Colocar em dúvida o anúncio dos resultados? 

Algumas dessas operações já estão em curso. 

Outras operações - por exemplo, auto-atentados e/ou atentados reais contra pessoas chave da campanha adversária- dependem em parte de um cálculo estratégico que a cúpula do bolsonarismo deve estar fazendo nesse exato momento.

A necessidade de calcular deve-se a dúvida (deles) sobre o que fazer a partir da noite de 30 de outubro.

A saber: não importa se for por uma maioria de 1 voto, se a extrema-direita tiver êxito no segundo turno, de imediato o cavernícola dará mais e mais passos em direção a um regime neofascista. 

Mas…. e se estas operações de última hora não tiverem êxito? E se, apesar ou por causa do que eles façam, ainda assim Lula vencer?

Neste caso, a depender do que tenha sido feito para tentar vencer, o cavernícola não terá como recuar e será obrigado a se insurgir contra o resultado, numa edição canarinho e ampliada do ataque trumpista contra o Capitólio. E frente a isso, tampouco nós poderemos recuar em defesa da soberania popular.

Por medo deste cenário de confrontação (sim, eles têm medo de nós!), existe ao redor do cavernícola quem - invertendo a fórmula clássica - defenda ser melhor seguir, nas próximas horas, “não tão devagar que pareça covardia, nem tão rápido que pareça provocação”.

Os defensores desta atitude são os mesmos que argumentam ser melhor, frente a uma possível vitória de Lula, deixar de lado qualquer tipo de “operação Capitólio” e adotar nos próximos anos uma tática mais “sofisticada”, combinando ações fora-da-lei com uma oposição institucional mais ou menos radical.

Aos preços vigentes às 12h34 de sábado 29 de outubro, acho que o cavernícola optará por este segundo caminho, como aliás já cantou a bola o tantas vezes sincericida Paulo “Granada” Guedes.

Há vários motivos para esta segunda opção prevalecer, entre os quais o fato do cavernícola saber que existe - do lado oposto - muita gente que prefere os riscos decorrentes de um péssimo acordo aos riscos decorrentes de travar uma boa luta.

Atitude essa que contribuiu para que sigam impunes, até hoje, tanto os crimes da ditadura quanto os da privataria tucana.

Como não somos a favor do quanto pior melhor, esperamos que a extrema direita acate a vitória de Lula. Mas pelo mesmíssimo motivo, esperamos que um futuro governo Lula contribua, no limite de suas forças e “como nunca antes na história desse país”, para que a lei seja cumprida e os criminosos sejam punidos.

Mas até para que isto possa acontecer, será preciso primeiro converter nossa maioria nas pesquisas em maioria nas urnas!

Por isso, sigamos em campanha até o último segundo! 

Aos "sociopatas" da Joven Kan

Provando que a simpatia é recíproca, mas não proporcional, a Jovem Kan News dedicou alguns segundos de sua programação a comentar um trecho de entrevista concedida por mim à jornalista Dafne Ashton, do Brasil 247.

Interessados podem conferir aqui: 

Jovem Pan News no Twitter: "#OsPingosNosIs | Intelectual do PT ataca jornalistas e defende medidas contra a imprensa; bancada comenta 📺 Confira na JP News https://t.co/28mm7K12lq" / Twitter

Acerca do que foi dito pela turma da Jovem Kan, faço quatro rápidos comentários:

1/ao contrário do que especula um dos comentaristas da Kan, desde 2013 não sou mais secretário-executivo do Foro de São Paulo. Detalhes aqui:  Valter Pomar: A quem possa interessar;

2/ao contrário do que afirma um dos comentaristas da Kan, eu não defendi no jornal Extra um terceiro mandato para Lula. Eu defendi um terceiro mandato para o PT. Aqui está: Valter Pomar: 'Sou a favorável ao terceiro mandato para o PT , mas o Lula não será candidato' (globo.com);

3/não sou "classificado" pelo PT como intelectual, sou membro do Diretório Nacional do Partido;

4/por fim, mas sem dúvida o mais importante, registro com satisfação a tranquilidade com que a turma da Kan recebeu a alcunha de "sociopatas". Como diria um poeta e eleitor de Lula, "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”...


ps. estou curiosíssimo para saber que balanço a Jovem Kan faz do “debate” de 28/10 entre Lula e o cavernícola. Será que vão admitir que dali não saiu nada capaz de alterar o resultado do dia 30? Será que vão reconhecer que Lula se saiu melhor? Ou será que vão adotar a interpretação do sociopata mor e apresentar como “shakespereana” a porca performance do cavernícola?

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Comentário (aparentemente) fora de hora

A eleição presidencial não está decidida.

A vantagem é nossa, mas a vitória depende dos votos depositados nas urnas no próximo domingo, dia 30 de outubro.

Por isso, campanha, campanha e campanha, até o último segundo.

Sempre lembrando que esta eleição não acaba quando termina.

Haverá um terceiro turno, no qual enfrentaremos as forças - ora combinadas, ora separadas - do neofascismo, da direita gourmet neoliberal e do imperialismo.

Nossas chances de êxito neste terceiro turno aumentarão muito, se formos vitoriosos na eleição para governador de São Paulo.

Deste ponto de vista, foi muito importante o desempenho de Fernando Haddad no debate da Globo dia 27 de outubro.

Também contribuirá muito, para o nosso êxito no tal terceiro turno, perceber que as fórmulas adotadas no passado recente não darão conta dos desafios futuros, principalmente devido ao contexto (nacional e mundial) atual, bem mais difícil e complexo do que o vigente ao redor de 2003.

Noutras palavras, além de muito trabalho, também será necessário ter muita criatividade política, estratégica e programática.

E a necessidade de criatividade vale, inclusive, para aqueles setores da esquerda que seguem acusando o PT de "hegemonismo".

Sim, ainda há quem o faça, como pude relembrar num debate travado hoje, 28 de outubro, no programa Faixa Livre.

Quem quiser checar, está aqui: https://youtu.be/pi68kcNkw98

A acusação é, além de improcedente, extemporânea: afinal, nosso objetivo é derrotar o cavernícola e nesta tarefa precisamos de unidade, não de disputa entre nós.

Mas, gostemos ou não, concordemos ou não, é inevitável que na disputa da batalha presente haja gente travando as preliminares das batalhas futuras.

E é exatamente por isso que há vários interessados em diminuir a importância do PT na batalha contra o cavernícola, pensando não na votação do dia 30 de outubro, mas sim nas disputas que virão a seguir.

Que setores de centro e direita atuem assim, absolutamente normal: mirando no PT, alvejam a esquerda como um todo e com isso aumentam as chances de se livrar do cavernícola, mas não de todas as suas políticas.

Mas que setores de esquerda pensem assim, é prova de que o espírito do Coronel Gomes penetrou fundo na alma de muita gente de esquerda.

Afinal, só isso explica não perceber que é com o PT - não contra, nem sem, mas com o PT - que podemos construir uma alternativa positiva para a classe trabalhadora brasileira.









quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Jovem Pan: “a gente não pende para nenhum lado”

Hoje, como faço sempre que posso, acompanhei a partir das 6 da manhã a programação da rádio Jovem Pan.

Não! Não é promessa nem masoquismo, mas tentativa de ciência: a Jovem Pan é um bom observatório para acompanhar o universo paralelo da extrema direita brasileira. 

Por exemplo, ouvir do “comentarista” Ricardo “boiada” Salles que o governo cavernícola “acabou com aquela coisa bem comunista”…. aquele “mar de conselhos”.

Mas hoje, 27 de outubro de 2022, confesso ter ficado muito decepcionado com o que ouvi.

Depois de tanto tempo acompanhando a Jovem Pan exatamente porque seus programas e comentaristas fazem questão de se assumir como “conservadores” e de “direita”, defensores explícitos do cavernícola e inimigos de morte do PT e da esquerda, hoje ouvi estupefato uma das chefes do jornalismo da Jovem Pan dizer que “a gente não pende para nenhum lado”.

Cumé???

Será uma infiltração comunista na cúpula da emissora?

Ou será um sinal de que estão começando a se adaptar ao que temem possa vir a ser o resultado das urnas, no próximo dia 30?

Seja lá o que for, fica aqui a sugestão: ouçam a Jovem Pan, antes que acabe.

Afinal, mais cedo ou mais tarde, tudo algum dia acaba. Até o universo paralelo.

ps. as 11h55 ouvindo de novo a Jovem Pan vi que cometi um erro. A frase correta é “a Jovem Pan não pende para nenhum lado”. Ou seja: meu ouvido das 6 da manhã passou o pano!!! A verdadeira frase era ainda mais mentirosa!!!





quarta-feira, 26 de outubro de 2022

“Não vai ter golpe!”

O cavernícola fez um pronunciamento e convocou os ministros militares para uma reunião de emergência.

O objetivo imediato é pressionar o judiciário para que acolha suas reclamações acerca das inserções.

De outras vezes funcionou.

Pode ser que desta vez funcione.

Mas... e se não funcionar?

E se o judiciário tratar as reclamações do cavernícola como o que são: tentativa de tumultuar o processo eleitoral?

Nesse caso, o cavernícola teria que escolher.

Pode escolher participar do processo e - caso se confirme a sua derrota - reclamar da fraude. 

Seria uma versão trash do roteiro seguido por Aécio Neves em 2014.

Mas o cavernícola pode escolher escalar.

Por exemplo, orientando a turma do Bob a tumultuar o funcionamento das seções eleitorais.

Em nenhum dos casos parece estar no plano imediato um golpe clássico, não por falta de vontade nem por falta de golpistas, mas por falta dos apoios e dos pretextos indispensáveis.

Seja como for, independente do que eles farão ou deixarão de fazer, o nosso lado não pode perder o foco: ganhar as eleições no dia 30 de outubro, com a maior margem possível, tendo como argumento central a defesa da pauta do povo.

Este é o melhor antídoto contra os cavernícolas: povo nas ruas e nas ruas, sem temer e sem tremer. 

Lula presidente!


ps. uma companheira lembrou de que no passado recente "a gente disse que não ia ter golpe e teve". É verdade e serve como duplo alerta, primeiro para não subestimar o golpismo e segundo para não confundir nosso desejo com a realidade (tipo fazemos quanto cantamos "o povo, unido, jamais será vencido"). Isto posto, no momento o que está em jogo é uma pressão (golpista) sobre o judiciário. E, caso essa pressão não tenha êxito, é possível que comece um tumulto (golpista) contra as urnas ou algo do gênero. Mas neste momento não estão dadas as condições (apoios e pretextos) para um "golpe clássico". Entre estas condições está nosso lado temer e tremer. Se nosso lado temer e tremer, o lado de lá pode escalar. Se nosso lado ficar firme (nem temer, nem tremer), as chances do lado de lá escalar ficam menores.

ps2. nossa maior preocupação, neste momento, deve seguir sendo ganhar as eleições. Manter o foco e manter a linha. 






























segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Fascista bom é fascista preso

Bob “mensalão” Jefferson atirou nos PF, mas acertou mesmo foi no pé do cavernícola.

Teria sido um absoluto desastre para eles, não fosse pela (pequena) contribuição dada para aumentar o medo.

Não me refiro aos medrosos sofisticados, tipo certo jornalista para quem o bangue bangue do Bob teria sido previamente combinado com Bozo e, portanto, deveríamos “agir com calma”.

O que seria “agir com calma”? Fazer o que fez o cara da PF que foi gravado confraternizando com o Bob depois do atentado?

Seja como for, por “aumentar o medo” refiro-me às justas preocupações de quem, por conta de estar identificado com as cores e com o número da campanha Lula, teme ser xingado, agredido, ter seu carro vandalizado e sua vida posta em risco.

As preocupações são justas e necessárias. Como diz o ditado, prudens vivit cun cura, stultus sine cura (perdoem algum erro no latim).

Mas na boa, esperávamos o quê??

Golpistas educados??

Milicianos gentis??

Neofascismo cordial??

Genocidas cheios de amor para dar??

A escolha não está entre “ter medo” ou “não ter medo”.

A escolha esta em “derrotá-los agora” ou “derrotá-los depois”, neste segundo caso a um preço muito mais caro.

E até por isso, o PT não pode repetir a atitude dos que dirigiram a “transição democrática” dos anos 1980: fascista bom é fascista preso.



domingo, 23 de outubro de 2022

“Lugar de bandido é na cadeia”

Bob “mensalão” Jefferson precisa ser julgado, condenado e as chaves precisam ser jogadas fora.
E isso vale para o cavernícola chefe dele.
Eles sabem disso.
Nós sabemos disso.
E eles sabem que nós sabemos 
Por isso essa semana vai ser muito tensa.
E também por isso precisamos continuar ocupando redes e ruas.
Com muita bandeira, adesivo e cor vermelha, disputando voto a voto até o último segundo.
E logo em seguida começa o terceiro turno.
Portanto, guarda alta, pois esta eleição não acaba quando termina!

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Dosar melhor o sal

E cá estamos nós, há nove dias do decisivo dia 30 de outubro.

E a grande questão segue sendo: quem vai ganhar a eleição presidencial?

Lula ou o cavernícola?

Lula ou o neofascista?

Lula ou o misógino?

Lula ou o racista?

Lula ou o negacionista?

Lula ou o genocida?

Lula ou o pedófilo?

Quando a gente enumera estas perguntas e olha para as famosas pesquisas, muita gente sente um friozinho na barriga.

Afinal, se pesquisas estiverem certas, mais de 45% do eleitorado ativo está apoiando um monstro.

E se as pesquisas estiverem erradas, ou se as pesquisas – mesmo certas – não estiverem captando o que pode ocorrer, como aliás não captaram no primeiro turno, o monstro pode vencer.

Quando a gente fala isso, há vários tipos de reações.

Primeira reação: tem a turma do deixa disso, vamos ganhar, os números garantem.

Um bom exemplo dessa turma é o cada vez mais famoso André Janones.

No primeiro turno, por exemplo, ele disse:



E agora, sobre o segundo turno, ele já vaticinou:



Como ele, tem muito economista e estatístico, amador ou não, "torturando" os números para tentar extrair deles algo impossível: converter pesquisa em votação, converter intenção de voto em voto.

Vejam o caso da última pesquisa DataFolha.

Nela nós aparecemos com 52, o cavernícola com 48.

A margem de erro é de 2 pontos percentuais

Portanto, é matematicamente possível que estejamos 50 a 50.

Ademais, o cavernícola vem crescendo lentamente.

Nesse ritmo, precisaria de 9 semanas para ele virar?

Verdade!

Mas... e se o ritmo crescer?

Sabe, aquilo que a gente aprende sobre aceleração ou sobre quantidade virar qualidade?

Isso de certa forma aconteceu no primeiro turno: ele vinha crescendo pouco a pouco, depois deu uma parada, mas na reta final deu um salto.

Claro, para dar um salto ele precisa conseguir votos. E aonde ele conseguiria isso?

Por exemplo, nas abstenções: foram 32 milhões e 700 mil os que se abstiveram no primeiro turno.

E também poderia conseguir entre os que votaram noutras candidaturas, ou branco, ou nulo.

A conclusão deveria ser – ao contrário do que diz Janones – a de que precisamos ampliar a diferença, para ampliar a margem de segurança, para reduzir o risco de sermos ultrapassados na reta final.

E para que lutemos ainda mais para ampliar a diferença, precisamos antes de mais nada nos dar conta do risco que corremos e, portanto, da necessidade de nos esforçarmos ao máximo para conseguir mais votos.

Portanto, pessoal, sugestão para os próximos dias: vamos acreditar só em pesquisa ruim, pois estas nos forçam a ir à luta. 

Pesquisa boa, estas que deixam a gente em situação confortável, situação de espectador, situação de torcida, vamos esquecer delas.

Eu falei que tem várias reações. Uma é "torturar" pesquisas. Outra é buscar a "bala de prata".

Bala de prata, aqui, não é a da música do Fernando e Sorocaba.

Refiro-me à bala de prata que serve para matar certos monstros.

Pois bem, tem gente que acha que tem a solução mágica para a reta final: a tal bala de prata.

Antes que alguém diga que isto é impossível, que ninguém acredita nisso, peço licença para citar novamente o incrível Janones, o mago da redes, o amado dos carentes de ilusões:



Aqui vale lembrar que a lista de balas de prata é grande.

Tem a citada live do Janones.

Tem o "pintou um clima".

Tem Aparecida.

Tem os assassinados durante a pandemia.

Tem os 51 imóveis.

(Tinha até os direitos de resposta, mas parece que os cavernícolas do judiciário conseguiram, ao menos provisoriamente, um stand by.)

Tem uma lista enorme, mas a verdade é que não estamos diante de uma situação que se resolva com balas de prata.

Vejamos agora uma terceira reação. 

Lembrando, a primeira é "torturar" pesquisas. A segunda é buscar a bala de prata. E a terceira é “já fizemos de tudo, não sei mais o que fazer”: são os resignados, que as vezes completam seu fatalismo com um "está na mão de Deus".

De fato, nós já fizemos de tudo, inclusive algumas coisas erradas sobre as quais não é de bom tom falar agora.

E o problema está em achar que fazendo de tudo, com certeza a gente conseguiria estar muito na frente ou, quem sabe, a gente com certeza ganharia já no primeiro turno.

A verdade é outra: esta eleição é muito, mas muito difícil.

Este foi um dos motivos pelos quais insistimos tanto que deveríamos tentar tirar o cara antes, no momento em que ele estava mais fragilizado, na pandemia, pois sabíamos – e dissemos isso, e escrevemos isso na época – que ele poderia se recuperar e seria um osso duro de roer.

Mas, como sabemos, teve muita gente que achava que seria mais seguro e mais fácil tirar ele nas eleições.

Achavam isso porque se iludiam quanto a força do nosso inimigo.

Hoje, como dissemos no início desta gravação, está na cara que estamos diante de um criminoso que – apesar disso e/ou por causa disso – recebeu 51 milhões de votos no primeiro turno.

A conclusão que precisamos tirar é que o resultado do dia 30 de outubro vai ser por pouco.

Não vai ser de muito.

E aí vem uma quarta reação: a dos animadores de torcida.

Aqui quero dizer que prefiro mil vezes os animadores de torcida aos "torturadores" de números, assim como prefiro os animadores de torcida aos defensores da bala de prata e aos resignados.

Ademais, reconheço ser muito dura a vida de animador de torcida.

Na guerra, seria algo equivalente àquele sargento que busca entusiasmar a tropa que está saindo das trincheiras para atacar o inimigo.

O cara sabe que nem todo mundo vai voltar inteiro, mas mesmo assim ele tem que animar a tropa.

Aconteça o que acontecer, o animador tem que manter alta a moral da tropa.

Os animadores têm seu papel na história e grande importância: afinal, tem muita gente que perde achando que ia ganhar, mas é muito incomum alguém ganhar se está tomado pelo derrotismo.

Entretanto, contudo, todavia, só animação não basta.

É preciso palavra de ordem, é preciso material, é preciso diretriz, é preciso orientação, é preciso comando.

E, infelizmente, me perdoem pela crítica, as vezes parece que nossa campanha tem muito animador e pouca direção.

Tirante, é claro, o já citado Janones, a Tebet e o Meirelles.

A Tebet é a do vamos tirar o vermelho das ruas.

E o Meirelles é o que acabou de fazer uma palestra para investidores dizendo que "com Lula a economia seria incerta e que Bolsonaro ainda pode vencer".

(Pausa para pensar com carinho e afeto em alguns aliados.)

O problema é que quando a gente pede postura dirigente, tem gente que responde o que já comentamos: nós já fizemos de tudo, estamos fazendo tudo certo, não tem que mexer em nada, não dá para dar cavalo de pau etc.

De fato nós já fizemos de tudo, inclusive algumas coisas erradas.

E de fato estamos fazendo muita coisa certa. Se não fosse assim, não teríamos ganho o primeiro turno com 6 milhões de votos à frente e não estaríamos liderando as pesquisas.

Mas como propor ajuste fino não é proibido, fica aqui uma lista de sugestões baseada na teoria do feijão com arroz.

A teoria do feijão com arroz é a seguinte: trata-se da melhor comida do mundo, mas se errar a quantidade de sal, fo-fodeu (com o perdão da palavra).

E o que propomos, para esta reta final, é pelo menos dosar melhor o sal.

Seguem então nossas sugestões, todas propositalmente óbvias:

Primeira sugestão, ampliar a mobilização. Tem que ter visual, tem que ter gente na rua o tempo todo e tem que conversar com as pessoas. Muita gente indecisa é alvo de abordagem pessoal pelo lado de lá, pelas redes sociais, pelo pastor e pelo empresário.

Há notícias de que grandes empresas que fazem anúncios e vendas por internet estão sendo veículo para propaganda bolsonarista.

E há denúncias de que muitas centenas de empresas estão reunindo os trabalhadores para fazer pressão ilegal e criminosa.

Nós temos que contra-atacar de várias formas, e uma delas é buscar fazer conversas corpo-a-corpo.

Alguém citou o exemplo das duplas de mórmons, os vendedores de Sentinela e equivalentes que vão de casa em casa. 

Segunda sugestão, esta para a direção da campanha: convocar para a semana final uma atividade nacional simultânea, em que Lula esteja numa cidade, mas fale através das redes para comícios reunidos em todas as cidades do país.

É preciso fazer um abraço nacional, uma atividade nacional, um momento de celebração pelo futuro do nosso país.

Terceira sugestão, também para  as direções de campanha, em cada cidade: convocar reuniões para organizar em detalhe a reta final e o dia da eleição, inclusive para que não se repita o ocorrido no primeiro turno.

Não dá para ter carros e bandeiras do lado de lá circulando a rodo, enquanto nosso povo está na clandestinidade visual.

O eleitor nosso precisa chegar e ver que não está só, precisa ver que somos maioria.

E nessa organização da reta final, lembrar de preparar um plano b para os casos em que a direita tente sabotar o transporte e a votação.

Lembrando que eles já sabem onde somos maioria. Tá fácil para eles, portanto, identificar onde sabotar.

Quarta sugestão, essa é para todos e todas: nesta reta final, acentuar a defesa da pauta do povo, os interesses dos pobres contra os ricos, da classe trabalhadora contra a elite.

Pedindo desculpas para os aliados da direita gourmet, o fato é o seguinte: quem pode vencer esta eleição é a identidade de classe entre Lula e a maioria de nosso povo.

Quinta sugestão, também para todos e todas: nesta reta final, enfatizar as medidas favoráveis aos que recebem mais de dois salários mínimos mês.

Por razões perfeitamente conhecidas, que atuam aqui e também noutros países do mundo, um setor da classe trabalhadora vota com a extrema direita.

Devemos buscar o voto destes trabalhadores.

Sexta sugestão, também para todo mundo: incluir em nosso discurso, com muito mais ênfase do que foi feito até agora, a defesa do futuro que queremos para o Brasil.

Não basta falar do legado.

Não basta falar das propostas.

Tem que falar do futuro.

Contrapor o Brasil que queremos, ao "brazil" que eles estão "con-destruindo".

Sétima sugestão, esta para nosso companheiro Lula: mudar a atitude no último debate de TV. 

Falar para o povo, não para o cavernícola.

O mesmo se aplica, com as devidas ressalvas, aos programas finais de rádio e TV.

Por último, mas não menos importante, uma oitava sugestão, esta para o alto comando da campanha: é preciso dizer, sem meias palavras, que estamos correndo alto risco.

Podemos vencer e vamos vencer, se formos com tudo para cima, se colocarmos no centro a defesa da  pauta do povo, e se contarmos, além da nossa maravilhosa militância e dos indispensáveis animadores  de torcida, com um comando coletivo, que atue como estado maior e faça os devidos ajustes finais, a dosagem do sal.

Lembrando do seguinte: se tudo correr bem, se vencermos nas ruas, será preciso garantir a vitória, garantir a posse e governar.

O melhor, portanto, ainda está por vir.

E como diziam os Originais do Samba: Nunca tenha medo do seu inimigo/Também nunca ande de cabeça baixa e bem danado/Pois nem tudo que cai do céu é sagrado (...) Que amanhã um lindo dia vai nascer.

Quem não conhece, pode ouvir aqui: https://www.letras.com.br/os-originais-do-samba/confianca


quinta-feira, 20 de outubro de 2022

O que mais pode ser feito?

É dura a vida de animador de torcida.

Na guerra, seria algo equivalente àquele sargento que busca entusiasmar a tropa que está saindo das trincheiras para atacar o inimigo.

Aconteça o que acontecer, o animador tem que manter alta a moral da tropa.

Os animadores têm seu papel na história e grande importância: afinal, tem muita gente que perde achando que ia ganhar, mas é incomum ganhar com ânimo de derrotista.

Entretanto, contudo, todavia, só animação não basta.

Hoje, por exemplo, tem gente explicando que o DataFolha divulgado ontem, 19/10, seria bom para nós.

E seria mesmo, se a eleição tivesse sido ontem e se o resultado 52x48 fosse a votação efetivamente depositada na urna.

Acontece que a eleição é dia 30. 

Detalhe que muitos animadores de torcida respondem afirmando que o crescimento do cavernícola está sendo “incremental” e nesse ritmo ele precisaria de muitas semanas para passar à frente.

Acontece que o primeiro turno já demonstrou que os cavernícolas crescem mais do que nós na reta final. Portanto, precisamos ter uma boa dianteira, para funcionar como margem de segurança.

Notem que apesar da crescente mobilização da militância, apesar (ou por causa) das “fake news do bem” e apesar dos tiros no pé dados pelo lado de lá, a margem de segurança segue mais ou menos a mesma.

O que ainda poderia ser feito para ampliar a margem de segurança?

Aqui vão algumas sugestões, todas óbvias:

1/ampliar a mobilização;

2/convocar para a semana final um comício nacional (em que Lula esteja numa cidade, mas fale através das redes para comícios reunidos em todas as cidades do país);

3/organizar a reta final e o dia da eleição, inclusive para que não se repita o ocorrido no primeiro turno;

4/acentuar a defesa da pauta do povo, os interesses dos pobres contra os ricos, da classe trabalhadora contra a elite;

5/enfatizar as medidas favoráveis aos que recebem mais de 2 salários mínimos mês;

6/incluir em nosso discurso, com muito mais ênfase do que foi feito até agora, a defesa do futuro que queremos para o Brasil;

7/mudar a linha dos programas e, principalmente, mudar a atitude no último debate de TV;

8/por último, mas não menos importante, o comando da campanha precisa dizer, sem meias palavras, que estamos correndo alto risco.

A eleição presidencial será decidida por pouco, não por uma fórmula mágica, nem por uma “bala de prata”. E o que pode decidir a nosso favor é rua rua rua em defesa da pauta do povo.

E para isso precisamos, além da maravilhosa militância e dos indispensáveis animadores  de torcida, de um comando que aja como estado maior, não como animador de torcida.


quarta-feira, 19 de outubro de 2022

O pessimismo da vontade e o otimismo da razão

Muitos eleitores de Lula estão convencidos de que o cenário eleitoral está consolidado e, portanto, já vencemos, só falta publicar o resultado.

O fantástico êxito no podcast Flow seria a prova mais recente disso, somada às grandes manifestações do nosso lado, contra as dificuldades do lado de lá (Aparecida, "pintou um clima", atividades esvaziadas).

Paradoxalmente, grande número de eleitores de Lula está com medo.

Medo do que, se vamos vencer?

Há várias respostas para essa pergunta.

Uma resposta é: no íntimo, parte de nós sabe que o cenário eleitoral não está consolidado.

Pelo contrário: o cavernícola está subindo lentamente nas pesquisas.

Entretanto, de forma similar ao ocorrido no primeiro turno, parte deste crescimento do cavernicola não aparece nas pesquisas.

Embora as pesquisas não demonstrem, é possível perceber (especialmente para quem é sudestino) que - se tudo correr bem - a diferença a nosso favor será pequena.

Existem entre nós muitos que não percebem ou que não concordam com isso.

Para estes, as coisas seguem no fundamental tal e qual eram no início do segundo turno, ou seja, estaríamos 6 a 8 milhões de votos na frente.

E também existem os que, exatamente porque percebem o que pode estar ocorrendo, têm tanto medo das implicações que preferem não externar explicitamente suas preocupações.

Neste caso, talvez sem o saber, fazem uma aplicação invertida da conhecida afirmação de Gramsci, sobre o “pessimismo da razão e o otimismo da vontade”.

No lugar da atitude sugerida por Gramsci, adotam a versão Icsmarg: o “pessimismo da vontade e o otimismo da razão”.

O pessimismo da vontade: supostamente não haveria nada que pudesse ser feito, diferente do que já estaríamos fazendo.

O otimismo da razão: vamos vencer porque acreditamos que vamos vencer. E coitada da Cassandra que lembrar da mera existência de outra possibilidade!

Pode ser que aconteça assim? 

Pode ser que vençamos o segundo turno com uma diferença significativa a nosso favor?

Pode, sempre pode ser, até porque não é fácil para o cavernícola superar a diferença do primeiro turno.

O lado de lá, como sabemos, também dá tiro no pé e também está preocupado.

No fundo, no fundo, eles têm muito medo de nós, embora nós infelizmente não façamos por merecer…

Entretanto, minha opinião é que estamos dando sorte para o azar: se nada fizermos de diferente, corremos alto risco de terminar também invertendo aquele raciocínio sobre a repetição na história.

Marx falava sobre a repetição na história, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.

Mantida a incorreta atitude segundo a qual estaríamos bem e não haveria nada a fazer diferente do que já vem sendo feito, corremos o risco de viver - depois da fraude-farsa de 2018 - uma imensa tragédia.

Moral da história: estão cobertos de razão os que têm medo.

E estão muito errados tanto os que se deixam paralisar pelo medo, quanto os que se deixam acalentar pelo “otimismo da vontade”.

Por fim: é possível vencer, podemos vencer e vamos vencer, à condição de que adotemos várias medidas urgentes, entre as quais eu destaco colocar mais e mais e mais a pauta do povo no centro do debate.

Lula fez isso, na Band, ao defender o povo trabalhador do complexo do Alemão.

Lula fez isso, também, nos melhores momentos do podcast Flow.

Pobres contra ricos, tostão contra milhão, futuro contra passado, classe contra baixaria, rua rua e rua.





terça-feira, 18 de outubro de 2022

Sobre o debate na Globo

Assim que terminou o debate na Band, no domingo 16 de outubro, começou o debate sobre o debate.

A maior parte deste debate se deu entre apoiadores da campanha Lula. 

Além de centenas de milhares de comentários individuais e de milhares de opiniões transmitidas em lives, há centenas de textinhos e textões a respeito.

O simples fato de existir tanto debate revela que o confronto na Band não terminou em nocaute.

Por isso mesmo, vários dos que opinaram a respeito afirmam que Lula teria “vencido por pontos”.

E alguns buscaram confirmar esta opinião recorrendo aos resultados de pesquisas feitas durante e logo após o debate, com grupos focais e com o público que assistiu o debate (público majoritariamente eleitor de Lula, é bom lembrar).

Para complicar a análise, tanto a campanha de Lula quanto a do cavernícola editaram seus “melhores momentos”, o que faz com que muitas pessoas formem sua opinião não a partir do debate propriamente dito, mas a partir destes recortes.

E como se não bastasse tudo isso, há mais um fator a considerar na avaliação do debate, a saber: estamos no meio de uma guerra e, portanto, não se fala tudo o que se pensa.

Isto posto, deixarei para outra hora esta polêmica e vou falar do debate na Globo.

Nele, se não acontecer nada de novo (hipótese muito baixa disto ocorrer), o cavernícola vai entrar mais tranquilo do que entrou no debate da Band. Isso por três motivos fundamentais:

1/ o debate da Band aconteceu logo depois do cavernícola ter contribuído para popularizar outra palavra difícil, além de neofascista, misógino e genocida: pedófilo. Isso lhe custou uma noite mal dormida, pelo menos um dia de campanha perdido, muitos milhões de reais (aliás, quem acha que o empresariado não tem lado nessa eleição deveria explicar de que planeta vem o dinheiro usado pela campanha miliciana) gastos em contrapropaganda e um exitoso trabalho de lobby que lhe rendeu uma decisão favorável do Xandão, aquele que supostamente não teria nada a temer. Aliás, as pessoas que difundiam que o ministro Alexandre de Moraes seria correto nesta eleição deveriam se perguntar como se explica ele passar o pano nesta situação do “pintou um clima”;

2/ o debate na Band demonstrou, para o cavernícola e seus apoiadores, algo que deveria ter sido óbvio para todos nós desde o início: não é nada fácil debater com um canalha. No confronto entre a verdade e a mentira, entre um cidadão e um sociopata, quem tem maior dificuldade é o lado do bem. Pois o lado oposto não tem nenhuma dificuldade em mentir, em caluniar, em difamar, em desviar o assunto, em lançar dados falsos, em usar técnicas de intimidação psicológica (tipo tocar no adversário, deixando o oponente na dúvida sobre o que seria mais adequado: se conter ou dar um chega para lá, acompanhado de um sonoro “tire as mãos de mim, seu imundo”). Aliás, a avaliação da Jovem Pan (sim, eu escuto a cloaca) é a de que o cavernícola entrou nervoso e depois teria dominado a situação e, portanto, poderia fazer o mesmo no debate da Globo;

3/finalmente e na minha opinião o mais importante, o cavernícola saiu do debate na Band seguro de que tem a palavra mágica: “corrupção”. Parece incrível, afinal trata-se de assunto manjado desde 2005. Mas, como nos filmes e séries acerca do sobrenatural, "corrupção" seria a senha para o monstro assumir o controle da situação. Aliás, registre-se que – diferente de certo coronel, que não sei por onde anda – Moro colocou o orgulho no saco e veio dar um little help para seu comparsa. Dizem até que foi posicionado de forma a ser visto por nosso candidato.

Pelos três motivos citados, é possível que cavernícola entre mais tranquilo no debate da Globo. Entretanto, há algumas diferenças importantes entre o debate da Band e o da Vênus Platinada. Uma destas diferenças é o momento: véspera do segundo turno. Se não houver nenhuma alteração daqui até lá, o quadro eleitoral continuará o seguinte: o cavernícola atrás nas pesquisas, por pouco, crescendo, mas ainda atrás.

Se esta for a situação, o cavernícola disporá então de três armas: a capacidade de mobilização de sua tropa; “operações especiais” que dificultem o voto do nosso povo; e produzir algum fato novo que gere impacto na massa de pessoas que se abstiveram no primeiro turno.

Sendo assim, é provável que o cavernícola entre no debate da Globo ainda menos preocupado com o debate em si e ainda mais preocupado em falar para seu povo. Lembrando que na lógica do valentão, se você xinga a mãe do outro e o xingado não fala nada, é porque você ganhou, ou seja, animou sua torcida e deprimiu a do inimigo.

Se as coisas forem assim, o que o nosso lado poderia aprender do debate na Band que possa ser útil no debate da Globo? Como me ensinaram o pai nosso há muito tempo (no primário em Belém do Pará) e como há muitos vigários envolvidos na preparação de Lula, vou me limitar a dar umas sugestões políticas, todas espero que óbvias.

Nosso principal objetivo no debate (nas redes e principalmente nas ruas, onde esta eleição será decidida) deve ser ampliar a diferença entre nós e o cavernícola, de maneira a neutralizar os ganhos que eles possam conseguir na reta final, seja devido às abstenções, seja devido ao crescimento de chegada que eles já demonstraram ter.

Para ampliar a diferença, precisamos buscar votos em todos os lugares, mas principalmente o voto de quem não compareceu no primeiro turno. E neste mister não devemos acreditar em “balas de prata”. Embora possamos e devamos dizer toda a verdade sobre o monstro, não cabe cair no conto (do vigário!!!) de que será isso, muito menos num debate mano-a-mano, que vai decidir o jogo. Até porque nem a Globo, nem o Xandão, são de confiança e não custa nada darem direito de resposta e ganho de causa para o cavernícola.

Assim, o mais garantido é ficar no que alguns chamam de feijão com arroz: a pauta do povo. Por pauta do povo, leia-se o seguinte três-em-um: a comparação de legados, as propostas e o futuro pelo qual lutamos.

Os melhores momentos de Lula, no debate da Band, foram quando ele se concentrou nisto. Às vezes é melhor deixar uma canalhice sem resposta e usar o tempo para falar do que realmente interessa ao povo: desmascarar o governo cavernícola e suas políticas; apresentar mais e melhores propostas; e principalmente disputar o futuro.

Especialmente no debate da Globo, este tema do futuro precisa ter mais destaque. 

Quando o cavernícola fala de Deus, Pátria, Família e Liberdade, ele está – do jeito neofascista dele – disputando que tipo de futuro teremos em nosso país e no mundo. 

Da mesma forma, quando ele tenta converter o processo eleitoral numa guerra religiosa, o que está em jogo é qual futuro queremos construir, para quem e onde, se na terra ou no céu.

O lado de lá sabe desde sempre da importância da luta ideológica nessas eleições. 

Para eles, trata-se de uma batalha “espiritual”. Nas palavras que uma amiga ouviu de uma influencer de direita, o que estaria em jogo não seria a economia, não seria essa ou aquela política, o que estaria em jogo seria nossa “espiritualidade”.

Não se enfrenta este tipo de abordagem apenas com legado e propostas. E não vamos conseguir derrotar a legião dos espíritos de porco com “fake news do bem”, invenção que Janones deve ter customizado a partir dos ensinamentos de Emília, acho que na visita ao país da gramática de Monteiro Lobato.

Contra o futuro passado do lado de lá, precisamos mobilizar a esperança laica e concreta em um futuro radicalmente melhor para o povo brasileiro.

Nosso candidato sabe fazer isso de várias maneiras. Foi, por exemplo, o que ele fez ao falar da picanha e da cerveja, da educação, da saúde. 

Mas seu melhor momento – no que diz respeito a falar do futuro – foi quando ele saiu em defesa do povo criminalizado pelo cavernícola.  

Ao defender a classe trabalhadora e, principalmente, ao dizer que confia no povo, ele mobilizou uma crença simples, mas sempre inspiradora: a de que o futuro está em nossas mãos, nas mãos de dezenas e dezenas de milhões de pessoas espalhadas por todo este país, que trabalham de Sol a Sol.

Esta é, penso eu, a nossa "palavra mágica", capaz de despertar em parte dessa massa que se ausentou do primeiro turno um poderoso sentimento de identidade com nosso projeto de futuro. 

É com classe, muita classe trabalhadora, que podemos vencer a baixaria.

Boa sorte ao companheiro Lula e a todos e todas nós, no derradeiro debate.

domingo, 16 de outubro de 2022

Opinião sobre o debate

Terminou o debate, começou o debate acerca do debate.


Há opiniões para todos os gostos. Eu tenho as minhas, que detalharei noutro momento, mas adianto que o eleitoralmente mais relevante é o seguinte:

1/ alguém que votava em Lula deixará de votar? Minha opinião é que não.

2/ alguém que votava em Bolsonaro deixará de votar? Minha opinião é que não.

Se isso for verdade, resta saber como o debate afetou as pessoas que no primeiro turno votaram em branco, nulo ou se abstiveram, ou votaram noutros partidos.

Minha opinião é que o debate “em si” não produzirá nenhuma alteração significativa.

Isto é bom?

Não, não é bom. Pois significa dizer que a situação continuará como antes, ou seja, uma lenta redução da diferença entre Lula e o cavernícola.

Moral da história: esqueçam da “bala de prata”, esqueçam do desempenho-maravilhoso-no-debate-que-vai-mudar-tudo. E esqueçam do Xandão!

Esta eleição será decidida por pouco. E a vitória será conquistada principalmente no corpo-a-corpo, pela militância, especialmente pela que veste vermelho.

Um último comentário: o melhor momento do debate, na minha opinião, foi quando Lula falou da classe trabalhadora que mora na favela. É está identidade que pode nos fazer triunfar. 

Palpite sobre o debate de 16 de outubro


Se as pesquisas estiverem certas, Lula está na frente.

Mas se as pesquisas estiverem certas, cerca de metade do eleitorado ativo pretende votar num criminoso.

O único consolo para esta situação é que, visto do outro lado do rio, o panorama é parecido, mas nesse momento pior para eles.

Frente a isso, podemos confiar que esta situação de ligeira vantagem para nós vai permanecer até a apuração?

Na minha opinião, não devemos confiar nisto. Entre outros motivos porque na reta final eles vão atacar com tudo e, por outro lado, as abstenções farão mais falta para nós.

Sendo assim, o que fazer?

Tirante os amoedos da vida, tudo indica que já raspamos o tacho da defesa da democracia. A massa de eleitores que ainda não se decidiu não parece se comover pelos riscos que o cavernícola oferece ao “equilíbrio de poderes”.

Outra alternativa é insistir em que o cara é um monstro: matéria-prima não falta, como se pode constatar pelos escândalos mais recentes (Aparecida, “pintou um clima” etc.). Aliás, confirmando o que dissemos em texto criticando o “janonismo”, a verdade sobre o cavernícola é mais demolidora do que qualquer fake news que alguém possa imaginar.

Entretanto, contudo, todavia, as famosas pesquisas sugerem que atacar a “pauta de costumes” deles pode servir para empatar, mas não parece suficiente para ampliar nossa vantagem. E embora as pesquisas digam que estamos na frente, a prudência (e o ocorrido no primeiro turno) recomendam que lutemos para ampliar nossa atual vantagem.

Tudo indica que para os mais de 32 milhões que se abstiveram, a “questão democrática” não é o centro do mundo. E a troca de acusações não parece comover muito quem acha que “é tudo igual”. 

“Resta”, portanto, a pauta do povo: legado, propostas e futuro. 

Quem está acompanhando o horário eleitoral “gratuito” percebe que no mix da propaganda cavernícola tem grande peso as promessas sociais. E parece ser isso que tem ajudado o monstro a se manter competitivo.

Salvo melhor juízo - e ao mesmo tempo que devemos seguir insistindo na questão democrática e nas denúncias sobre o monstro que nos governa - é com o arsenal da pauta do povo que precisamos atacar com tudo o cavernícola. 

Desmascarar seu governo e suas políticas; apresentar mais e melhores propostas; e principalmente disputar o futuro.

A importância que a religião assumiu nesta eleição está ligada a isso. Contra a manipulação da fé pela extrema direita, precisamos mobilizar a esperança laica e concreta em um futuro radicalmente melhor para o povo brasileiro.

O lado de lá sabe da importância da luta ideológica nessas eleições. Para eles, trata-se de uma batalha “espiritual”. E embora se trate em boa medida de uma batalha contra a legião do espírito de porco, para ter maiores chances de vencer devemos invocar algo vintage, mas sempre inspirador: despertar em parte dessa massa que se ausentou do primeiro turno o poderoso sentimento de que trabalhador vota em trabalhador.

Como diriam os Jedi: que a força esteja com Lula!


 



sexta-feira, 14 de outubro de 2022

A entrevista de Janones ao Valor

O deputado federal André Janones (do partido Avante, eleito por MG) concedeu uma interessante entrevista ao jornal Valor.

A íntegra da entrevista está disponível no link abaixo e copiada ao final deste texto.

https://valor.globo.com/politica/eleicoes-2022/noticia/2022/10/10/centralizar-pauta-da-esquerda-e-grande-desafio-diz-janones.ghtml

Apresentado como “piloto das redes sociais lulistas”, Janones emite algumas opiniões óbvias, outras consensuais, outras interessantes, mas também emite opiniões extremamente perigosas acerca do tema no qual é tido como especialista.

Antes de entrar no busílis, vamos ver as preliminares.

Depois de uma série de perguntas sobre a campanha em Minas Gerais, o Valor pergunta a Janones sobre as redes sociais.

Valor: Sua missão como coordenador da campanha do Lula foi ajudar a turbinar as redes sociais do PT. Acha que foi bem sucedido? Muda alguma coisa na estratégia das redes para o segundo turno?

Janones: Campanha não é só rede social, ninguém ganha eleição só pelas redes, mas é um dos pontos principais. Agora eu posso garantir que, nas redes sociais, a gente não vai perder a eleição. A gente conseguiu igualar o debate com eles no primeiro turno e acredito que nesse segundo turno a gente vai fortalecer ainda mais.

Valor: O que é possível melhorar nas redes da campanha lulista nessa segunda rodada?

Janones: O que eu quero melhorar para o segundo turno é a gente ter uma comunicação mais centralizada, em vez de estar num dia discutindo saúde, noutro educação, noutro segurança. Vamos estabelecer que “hoje a pauta é essa” e, então, nosso lado [campanha lulista] no país inteiro vai tratar desse assunto. Centralizar [a pauta] é algo que eles fazem muito bem e a gente ainda não conseguiu fazer isso. Espero conseguir agora.

Valor: Existe uma reclamação do eleitorado por uma campanha mais propositiva. No entanto, na largada desse segundo turno, o que vimos nas redes sociais foi um baixo nível sem precedentes, com ataques de ambos os lados sobre satanismo, envolvimento com a maçonaria e, até mesmo, canibalismo. É isso o que o eleitor espera dos candidatos?

É ao responder a esta pergunta que Janones começa a emitir as opiniões “extremamente perigosas” a que nos referimos antes. Reproduzo a seguir a resposta integral e em seguida comentarei.

Janones: Primeiro, quando você diz que os eleitores reclamam que queriam ver mais propostas na campanha, veio à minha mente a frase do Cazuza na música “O Tempo não Para”, quando ele diz que “as suas ideias não correspondem aos fatos”. As pessoas dizem tanto que querem ouvir propostas, propostas e quando você coloca um vídeo falando sobre propostas, ele dá 10 mil visualizações e mil compartilhamentos. Mas quando você coloca um [vídeo] falando de baixarias, ele dá 10 milhões de visualizações e 1 milhão de compartilhamentos. Então, infelizmente, isso é mentira, as pessoas estão mentindo para si mesmas, elas não querem propostas, elas querem baixaria.

Repito a frase de Janones: “as pessoas estão mentindo para si mesmas, elas não querem propostas, elas querem baixaria”.

Certamente há "pessoas" que querem baixaria. Mas as “pessoas” são como os “mineiros”: muita gente, diversificada, opiniões diferentes, gostos diferentes. 

Janones poderia ter dito que parte do eleitorado, inclusive parte do eleitorado que reclama por mais propostas, no fundo prefere fake news. Neste caso, teria dito algo tão verdadeiro quanto comentar que parte dos que reclamam da corrupção não percebem a contradição existente entre sua reclamação e a famosa frase: “sem nota ou com nota?”

Mas Janones não faz esta distinção entre os diferentes tipos de "pessoas". Ele faz um comentário no atacado: “as pessoas não querem propostas, elas querem baixaria”. 

Terá sido um deslize verbal, uma falha na hora de argumentar? Infelizmente, não, pelo menos é o que deduzo do que vem a seguir.

Valor: E qual seria a explicação para esse comportamento das pessoas, e, consequentemente, do eleitor?

Janones: Isso ocorre quando a gente está disputando com alguém que rebaixou o nível do debate, isso eu tenho dito desde o início da minha participação na campanha. Vamos pegar a analogia de uma luta: não tem como você subir num ringue para lutar e dizer “eu não vou dar golpe abaixo da linha da cintura porque a regra não permite”, se o seu adversário está te socando abaixo da linha da cintura. Eu não me orgulho de estar fazendo esse tipo de política, ajudando a descer o nível. Só que o adversário faz isso. E se a gente não fizer igual, eles vão ganhar a eleição e continuar mais quatro anos no poder. Aí estaremos daqui a algum tempo desfiando os nossos bons modos, a nossa educação, as nossas propostas no porão de uma ditadura. Isso está muito próximo de acontecer.

Valor: Por que o senhor atribui ao outro lado a iniciativa de rebaixar o nível do debate eleitoral?

Janones: A gente está falando de um candidato que ganhou a eleição de 2018 criando a ficção da mamadeira de piroca, falando que o Lula ia aprovar o casamento entre mãe e filho e por aí vai. Se a gente não combater com essas armas, a gente não vai ter democracia daqui a alguns dias. Não há opção quando o adversário está indo por esse lado.

Valor: Por que o senhor vê essa ameaça à democracia com a eventual reeleição de Bolsonaro?

Janones: Porque se Bolsonaro for reeleito, com aquela proposta que eles já estão fazendo tramitar de aumentar o número de ministros do STF [Supremo Tribunal Federal] para 15 e outras medidas, eles vão conseguir o que sempre foi o sonho do bolsonarismo: instituir uma ditadura pelo viés democrático. A gente precisa retirar o Bolsonaro do poder, reinstituir uma democracia plena e, aí sim, a gente vai poder refutar esse tipo de debate. Pra mim, a gente está vivendo um estado de exceção. Neste momento, não tem outra maneira da gente ir à luta, a não ser utilizando as mesmas armas que eles.

Suponho que Janones deva ter refletido bastante sobre o que disse nos trechos acima reproduzidos, assim que não me resta senão dizer que estas posições são inaceitáveis. Repito os trechos: “se a gente não fizer igual”, “se a gente não combater com essas armas”, “utilizando as mesmas armas que eles”.

Lamento dizer, mas “fazer igual” a um assassino é cometer assassinato, fazer igual a um criminoso é cometer um crime, fazer igual a um defensor da tortura é defender a tortura, fazer igual a um fundamentalista é defender o fundamentalismo, fazer igual a um homofóbico é praticar homofobia etc.

Aqui uma explicação: não acho que se derrota Al Capone com métodos de Woodstock. Sou favorável a bater duramente em nosso inimigo, sem dó nem piedade. E não sou favorável a linha do “amor contra o ódio”. E poderia prosseguir a lista, até o ponto de dizer que contra a violência do opressor é legítima a violência do oprimido.

Mas a depender do que se faça e do como se faça, o resultado prático pode ser o seguinte: parte do povo, exatamente a parte que temos que disputar, pode não perceber a diferença. E quando não se percebe a diferença, é muito comum que a escolha de muitas "pessoas" acabe recaindo sobre o original, sobre o legítimo, naquele que faz maldade porque gosta de fazer maldade (e não, como diz Janones, porque seria necessário, embora ele não tenha "orgulho" de descer o nível).

Parte da confusão de Janones deriva do fato de que a imagem das “armas” e do “ringue” passa a impressão de que estamos numa luta física entre dois contendores; e isso não é verdade. 

Não se trata de uma situação em que uma pessoa te ameaça com uma arma e, portanto, em legítima defesa, você usa a "mesma arma" do inimigo.

A situação sobre a qual estamos discutindo é uma luta política, da qual participam dezenas e dezenas de milhões de pessoas, algumas como participantes ativas, outras como protagonistas. E nesta luta política, a diferença de comportamento entre os combatentes é um fator importante no convencimento político

Quadrilhas pode usar as “mesmas” armas, porque são quadrilhas. Já uma campanha de esquerda não pode usar as “mesmas” armas que um partido de milicianos, pelo simples fato de que não somos milicianos.

Não se trata, quero deixar claro, de um discurso simplista do tipo “os fins não justificam os meios”; embora esta afirmação seja parcialmente verdadeira, meu argumento é outro: se por acaso adotássemos as “mesmas” armas do nosso inimigo, seríamos derrotados, eleitoral, política e ideologicamente. Entre outros motivos porque, se usássemos as "mesmas" armas, estaríamos legitimando e fortalecendo o caldo de cultura do qual o nosso inimigo se alimenta.

Claro, Janones tem o direito de pensar como quiser e tem o direito de dar a entrevista que quiser a respeito. Cada um responde pelo que pensa e diz. Acontece que na entrevista ao Valor, ele compromete o PT com essa posição.

Valor: O senhor teve desentendimentos com o PT quando entrou na campanha de Lula para ajudar na comunicação nas redes sociais. Esses problemas foram superados?

Janones: O PT é um partido muito grande e muito democrático. Não é como o partido do Bolsonaro, onde ele age como um ditador, diz “vamos fazer isso agora e ponto final”. No PT, tudo é muito debatido, muito discutido, as decisões são mais lentas, o Lula não decide nada sozinho, ele não impõe nada. O que ocorreu foi que algumas pessoas tinham entendimentos diferentes, alguns criticavam algumas posturas, outros elogiavam. Foi um processo natural de convencimento das medidas [a serem adotadas], e vieram os resultados. Hoje tem um relativo consenso de que a gente precisa utilizar as mesmas armas que eles [nas redes], mas com objetivos distintos.

Valor: Como é possível usar as mesmas armas que o adversário, mas com objetivos diferentes?

Janones: Eu uso o algoritmo da rede para divulgar algumas coisas que você pode questionar num ponto de vista ético, mas não no ponto de vista técnico-jurídico. “Ah, o Janones disse que o auxílio emergencial acaba em dezembro”. Sim, e isso é verdade. O que não acaba em dezembro é o Auxílio Brasil. Mas as pessoas entenderam que como eu falei só de “auxílio”, seria o Brasil, mas daí é subjetivismo da gente acertar o que as pessoas estão pensando. Eu utilizo as mesmas armas que eles, mas tendo cuidado técnico de não incorrer em “fake news”. E ainda com objetivos distintos, como defender a liberdade de imprensa, defender as instituições contra o negacionismo. Seria prepotência afirmar que faço isso sozinho, eu tento colaborar para a sobrevida da democracia no nosso país.

Não sei em que instância do PT esta discussão teria sido feita e onde teria sido construído o tal “relativo consenso de que a gente precisa utilizar as mesmas armas que eles [nas redes]”.

O que posso garantir é que este tema não foi debatido nem pelo Diretório, nem pela Executiva nacional do Partido. Mas isto é o menos importante. 

O mais importante é que a posição de Janones está errada e não está produzindo, nem vai produzir, os efeitos que ele promete. E está errada entre outros motivos porque não é possível utilizar “as mesmas armas que eles [nas redes], mas com objetivos distintos”.

A prova de que isso não é possível está na resposta dada por Janones à seguinte pergunta: “Valor: Como é possível usar as mesmas armas que o adversário, mas com objetivos diferentes? Janones: Eu uso o algoritmo da rede para divulgar algumas coisas que você pode questionar num ponto de vista ético, mas não no ponto de vista técnico-jurídico” (...) “Eu utilizo as mesmas armas que eles, mas tendo cuidado técnico de não incorrer em “fake news”.

Isso que fala Janones acerca do cuidado "técnico" de não incorrer em fake news me recorda certas passagens kafkianas dos manuais da CIA, que estabeleciam gradações entre o que seria e o que não seria “tortura” do ponto de vista “técnico jurídico”.

Ou são as "mesmas armas" ou não são. 

O resto é embromation de quem promete mais do que entrega ou de quem não tem coragem de tirar todas as consequências da posição que defende.

Por exemplo: o vídeo do canibalismo e o vídeo da maçonaria não são fake news. Pode ser inútil e até contraproducente usar este tipo de material, mas fake news não são. Já sobre o tema do Auxílio Brasil, chega a ser pueril acreditar que teria efeitos positivos o tipo de abordagem citada por Janones, pois se trata de uma pegadinha que rapidamente pode ser desfeita. Mas é disso mesmo que Janones está falando, quando fala em usar as "mesmas armas"???

O mais inacreditável nessa argumentação de Janones é que a realidade do governo Bolsonaro é muito pior do que qualquer fake news. Portanto, simplesmente não se faz necessário inventar nada, distorcer nada, exagerar nada. Sendo assim, qual a necessidade de dizer, numa entrevista a um jornal de grande circulação, que vamos usar as “mesmas armas” que o adversário???

Ademais, como compatibilizar esta atitude supostamente maquiavélica, com o discurso de que o amor vai vencer o ódio?? Um dos dois não cabe na mesma campanha, a não ser que tenhamos entrado na era do duplipensar e da pós-verdade tão ao gosto de Bannon.

No final da entrevista, confrontado com a pergunta: “Lula vai ganhar a eleição?”, Janones responde “Eu acredito que, se a gente não fizer nada errado, temos de 70% a 80% de chance de Lula ser eleito. Tem que acontecer algo muito fora da curva para ele não se eleger. A tendência é que ele vença as eleições. A gente está confiante, acredito que vamos vencer se trabalharmos muito e não colocarmos salto alto. A gente está na frente e se fizer tudo certo até o dia 30, venceremos”.

Confesso meu relativo alívio em ler esta resposta. Pois num post publicado antes do primeiro turno, Janones disse estar certo de que venceríamos no dia 2 de outubro e por larga margem. Agora parece ter se dado conta de que não é assim.

Também confesso meu relativo alívio ao ler sua declaração segundo a qual “o desafio que vai ser gigante é vencer o bolsonarismo, que não morre com a vitória de Lula no dia 30”. Concordo inteiramente, assim como concordo com a afirmação segundo a qual “eles deixaram muitas sequelas”. 

Mas meu alívio é apenas relativo, porque uma das sequelas do bolsonarismo é – lamento dizer – a posição defendida por Janones nesta entrevista ao Valor. Repito: sou a favor do enfrentamento total com nosso inimigo, sem dó nem piedade. Mas isso não significa usar "as mesmas armas" que nosso inimigo, não significa apelar para a "baixaria", não significa "descer o nível", não significa usar fake news, não significa fazer ou ser "igual" a eles.

Que o cavernícola queira arrastar-nos para a pocilga o tempo todo, faz todo sentido. Mas que alguns de nós achem que chafurdar na lama seria indispensável, isso não faz sentido algum.  Pelo contrário: podemos e vamos triunfar porque somos radicalmente diferentes destes criminosos que hoje governam o país. 

Lula presidente!


ps. um exemplo: contra as menções do cavernícola sobre presidiário, criminosos e quetais, nossa resposta deve ser lembrar a verdade: miliciano, famiglia corrupta, o assassinato de Marielle. Não é preciso inventar uma única fake news, não é preciso usar a "arma" da mentira.

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Abaixo o texto comentado

https://valor.globo.com/politica/eleicoes-2022/noticia/2022/10/10/centralizar-pauta-da-esquerda-e-grande-desafio-diz-janones.ghtml

Reeleito com mais de 238 mil votos, o deputado federal André Janones (Avante-MG) - um dos coordenadores da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e piloto das redes sociais lulistas - ressaltou que a votação em Minas Gerais será decisiva para o resultado final da disputa presidencial.

Nesta entrevista exclusiva ao Valor, Janones revelou pontos da estratégia da campanha para repetir a vitória de Lula no segundo maior colégio eleitoral do país, mantendo o mesmo resultado, ou ampliando a diferença do petista sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL). No primeiro turno, essa vantagem foi de cerca de 600 mil votos. Uma das táticas serão agendas distintas de Lula e do candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB), no Estado.

O parlamentar reconheceu o peso do apoio do governador Romeu Zema (Novo) a Bolsonaro na disputa local, mas ponderou que uma parcela dos votos que o reelegeram foi casada com votos em Lula. Por isso, não recebeu com apreensão o gesto de Zema.

Depois de renunciar à candidatura à Presidência da República para apoiar Lula, Janones terminou a corrida por uma vaga na Câmara Federal como o segundo deputado mais votado de Minas, atrás do bolsonarista Nikolas Ferreira (PL), que obteve quase 1,5 milhão de votos, emergindo como o campeão de votos do país. Ele atribuiu o desempenho do adversário a uma estratégia do Centrão para que todos os votos bolsonaristas do Estado para deputado federal se concentrassem no vereador de 26 anos.

O aliado de Lula adiantou ao Valor que vai aprimorar a estratégia nas redes sociais neste segundo turno. Um desafio é “centralizar” as pautas da esquerda, método que, segundo ele, o adversário domina de seu lado. Janones rechaçou os argumentos de que o eleitor reivindica uma campanha mais propositiva, num momento de enxurrada nas redes de temas controvertidos como satanismo, maçonaria e canibalismo. Ele observou que, “infelizmente”, postagens que envolvem conteúdo de baixo nível atraem muito mais os eleitores do que a divulgação de propostas.

Com atuação polêmica nas redes, o aliado de Lula avalia que, neste momento, é preciso recorrer às mesmas armas que os adversários para não perder a eleição. “Não tem como você subir num ringue para lutar e dizer que não vai dar golpe abaixo da linha da cintura, se o seu adversário está te socando abaixo da cintura”, alegou. Ele reafirmou que Lula é o favorito nessa segunda rodada, mas para alcançar a vitória, não há espaço para erro. A seguir, os principais pontos da entrevista ao Valor.

Valor: A votação em Minas Gerais será decisiva para o resultado do segundo turno da eleição presidencial?

André Janones: Tudo indica que sim. Eu costumo dizer que Minas Gerais é uma “quali”, é como se fosse uma pesquisa [qualitativa] onde você consegue ter uma amostra exata do que é o Brasil. Se você pegar as regiões de Minas que estão mais próximas de São Paulo, o presidente Bolsonaro venceu. Na minha região, o Triângulo Mineiro, a gente tem influência maior de São Paulo, e lá, na maioria das cidades, o Bolsonaro venceu. Já no Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas, a diferença pró-Lula foi gigante. Então, eu acho que é um retrato fidedigno do que é o Brasil. Por isso, praticamente, em todas as disputas [presidenciais], quem vence aqui vence no restante do país.

Valor: Qual a estratégia para repetir a vitória de Lula em Minas no segundo turno?

Janones: Na quarta-feira, tivemos nossa primeira reunião da coordenação da campanha no Estado. Eu, o deputado Reginaldo Lopes [PT], os deputados federais e estaduais eleitos e mesmo alguns não eleitos e definimos a estratégia de fazer uma campanha descentralizada nas bases, cada um nos seus redutos eleitorais, uma campanha muito intensa de rua e nas redes.

Valor: Como serão as agendas com Lula e Geraldo Alckmin?

Janones: Ficou definido que Lula estará em Minas três vezes, pelo menos, durante o segundo turno. Ele vai intensificar sua presença no Estado para que a gente possa garantir uma boa vitória aqui. Também ficou definido uma maior participação de Alckmin no Estado. Ele e Lula estão se dividindo na campanha e teremos algumas agendas somente com Alckmin.

Campanha não é só rede social, ninguém ganha eleição só pelas redes, mas é um dos pontos principais”

Valor: Qual meta vocês projetam para Lula em Minas no segundo turno?

Janones: A gente mantém a diferença [vantagem de cerca de 600 mil votos para Lula], ou amplia. No pior cenário, a gente mantém.

Valor: Qual o impacto na campanha lulista do apoio do governador Romeu Zema ao presidente Bolsonaro?

Janones: Não é algo preocupante, não vai virar a eleição o apoio do Zema [ao Bolsonaro], mas seria fugir da realidade dizer que não tem peso algum. Não é motivo para se assustar, mas é para ficar alerta. Agora achei um pouco duvidosa a atitude dele de declarar apoio ao Bolsonaro no dia seguinte às eleições. Uma parte dos mineiros se sentiu traída porque ele não fazia campanha para o Bolsonaro no primeiro turno, até porque isso tiraria votos dele.

Valor: Zema teve muitos votos de eleitores de Lula?

Janones: Na grande maioria dos eleitores, estava consolidado o voto “Luzema”, como aconteceu o voto “Lulécio” [Lula + Aécio em 2006]. Ele poderia ter feito essa transição [de apoio ao Bolsonaro] mais devagar. Mas acho que para por aí, ele não vai entrar de cabeça nas eleições, ele tem um Estado para cuidar.

Valor: Nesse novo cenário, com Zema apoiando Bolsonaro, como o senhor acha que vai se comportar o eleitor mineiro?

Janones: O mineiro é muito inteligente, não se deixa manipular. Prova disso foi o voto “Luzema”. Nem Zema conseguiu convencer o eleitor dele a não votar em Lula, nem Lula convenceu o seu eleitor a votar no [Alexandre] Kalil. O mineiro deu uma demonstração de que sabe o que quer. Não acredito que a mudança de posição do governador interfira na decisão do mineiro de votar em Lula no segundo turno.

Valor: Há receio do eventual uso da máquina do governo mineiro em favor de Bolsonaro?

Janones: A gente não acredita que o Zema se disporia a isso. Ele está se posicionando enquanto político, enquanto cidadão, é um direito dele. Eu tenho severas críticas a ele, fui oposição a ele, mas isso não me faz deixar de reconhecer algumas qualidades no governador. E uma delas é a ética. Eu não acredito que o Zema se disporia a utilizar a máquina [pública] para beneficiar o candidato dele.

Valor: Mas o apoio de Zema a Bolsonaro não suscita no eleitor o temor de que o voto em Lula prejudique o Estado de Minas Gerais?

Janones: A postura de Lula sempre foi republicana, ele é um estadista. Ele terá um relacionamento republicano com qualquer dos governadores eleitos. Esse foi um dos motivos que deixaram o Zema mais à vontade para declarar apoio ao Bolsonaro, saber que Lula não persegue, não retalia.

Valor: A que se pode atribuir o desempenho eleitoral do deputado eleito Nikolas Ferreira (PL), que obteve 1,5 milhão de votos dos mineiros e foi o mais votado do país?

Janones: Essa votação não foi do Nikolas, ele não teve e nunca teria essa votação. Esses votos foram do Bolsonaro. Minas Gerais elegeu um [deputado] Hélio Negão [PL-RJ], agora temos o Hélio Negão de Minas. Isso não tem nada de votação no Nikolas.

Valor: Mas os votos foram para ele...

Janones: Minas votou no Bolsonaro para deputado federal. Nas redes sociais, o Bolsonaro, a primeira-dama [Michelle Bolsonaro], o senador eleito [Cleitinho Azevedo], o Eduardo [Bolsonaro], toda a base bolsonarista pediu para os mineiros votarem no Nikolas. É como a [Carla] Zambelli em São Paulo. É muito fácil explicar como ele teve mais de 1 milhão de votos e o Lula ganhou em Minas. Eles [bolsonaristas] concentraram todos os votos em um só candidato. Se você pegar os cinco deputados mais votados em Minas, os outros quatro são da esquerda e, juntos, somam 1 milhão de votos. Foi um acerto do Bolsonaro com o Centrão para descarregar todos os votos ideológicos no Nikolas e ele levou junto com ele deputados do Centrão que não têm nada de ideológico.

Eu acredito que, se a gente não fizer nada errado, temos de 70% a 80% de chance de Lula ser eleito”

Valor: Sua missão como coordenador da campanha do Lula foi ajudar a turbinar as redes sociais do PT. Acha que foi bem sucedido? Muda alguma coisa na estratégia das redes para o segundo turno?

Janones: Campanha não é só rede social, ninguém ganha eleição só pelas redes, mas é um dos pontos principais. Agora eu posso garantir que, nas redes sociais, a gente não vai perder a eleição. A gente conseguiu igualar o debate com eles no primeiro turno e acredito que nesse segundo turno a gente vai fortalecer ainda mais.

Valor: O que é possível melhorar nas redes da campanha lulista nessa segunda rodada?

Janones: O que eu quero melhorar para o segundo turno é a gente ter uma comunicação mais centralizada, em vez de estar num dia discutindo saúde, noutro educação, noutro segurança. Vamos estabelecer que “hoje a pauta é essa” e, então, nosso lado [campanha lulista] no país inteiro vai tratar desse assunto. Centralizar [a pauta] é algo que eles fazem muito bem e a gente ainda não conseguiu fazer isso. Espero conseguir agora.

Valor: Existe uma reclamação do eleitorado por uma campanha mais propositiva. No entanto, na largada desse segundo turno, o que vimos nas redes sociais foi um baixo nível sem precedentes, com ataques de ambos os lados sobre satanismo, envolvimento com a maçonaria e, até mesmo, canibalismo. É isso o que o eleitor espera dos candidatos?

Janones: Primeiro, quando você diz que os eleitores reclamam que queriam ver mais propostas na campanha, veio à minha mente a frase do Cazuza na música “O Tempo não Para”, quando ele diz que “as suas ideias não correspondem aos fatos”. As pessoas dizem tanto que querem ouvir propostas, propostas e quando você coloca um vídeo falando sobre propostas, ele dá 10 mil visualizações e mil compartilhamentos. Mas quando você coloca um [vídeo] falando de baixarias, ele dá 10 milhões de visualizações e 1 milhão de compartilhamentos. Então, infelizmente, isso é mentira, as pessoas estão mentindo para si mesmas, elas não querem propostas, elas querem baixaria.

Valor: E qual seria a explicação para esse comportamento das pessoas, e, consequentemente, do eleitor?

Janones: Isso ocorre quando a gente está disputando com alguém que rebaixou o nível do debate, isso eu tenho dito desde o início da minha participação na campanha. Vamos pegar a analogia de uma luta: não tem como você subir num ringue para lutar e dizer “eu não vou dar golpe abaixo da linha da cintura porque a regra não permite”, se o seu adversário está te socando abaixo da linha da cintura. Eu não me orgulho de estar fazendo esse tipo de política, ajudando a descer o nível. Só que o adversário faz isso. E se a gente não fizer igual, eles vão ganhar a eleição e continuar mais quatro anos no poder. Aí estaremos daqui a algum tempo desfiando os nossos bons modos, a nossa educação, as nossas propostas no porão de uma ditadura. Isso está muito próximo de acontecer.

Valor: Por que o senhor atribui ao outro lado a iniciativa de rebaixar o nível do debate eleitoral?

Janones: A gente está falando de um candidato que ganhou a eleição de 2018 criando a ficção da mamadeira de piroca, falando que o Lula ia aprovar o casamento entre mãe e filho e por aí vai. Se a gente não combater com essas armas, a gente não vai ter democracia daqui a alguns dias. Não há opção quando o adversário está indo por esse lado.

Valor: Por que o senhor vê essa ameaça à democracia com a eventual reeleição de Bolsonaro?

Janones: Porque se Bolsonaro for reeleito, com aquela proposta que eles já estão fazendo tramitar de aumentar o número de ministros do STF [Supremo Tribunal Federal] para 15 e outras medidas, eles vão conseguir o que sempre foi o sonho do bolsonarismo: instituir uma ditadura pelo viés democrático. A gente precisa retirar o Bolsonaro do poder, reinstituir uma democracia plena e, aí sim, a gente vai poder refutar esse tipo de debate. Pra mim, a gente está vivendo um estado de exceção. Neste momento, não tem outra maneira da gente ir à luta, a não ser utilizando as mesmas armas que eles.

Valor: O senhor teve desentendimentos com o PT quando entrou na campanha de Lula para ajudar na comunicação nas redes sociais. Esses problemas foram superados?

Janones: O PT é um partido muito grande e muito democrático. Não é como o partido do Bolsonaro, onde ele age como um ditador, diz “vamos fazer isso agora e ponto final”. No PT, tudo é muito debatido, muito discutido, as decisões são mais lentas, o Lula não decide nada sozinho, ele não impõe nada. O que ocorreu foi que algumas pessoas tinham entendimentos diferentes, alguns criticavam algumas posturas, outros elogiavam. Foi um processo natural de convencimento das medidas [a serem adotadas], e vieram os resultados. Hoje tem um relativo consenso de que a gente precisa utilizar as mesmas armas que eles [nas redes], mas com objetivos distintos.

Valor: Como é possível usar as mesmas armas que o adversário, mas com objetivos diferentes?

Janones: Eu uso o algoritmo da rede para divulgar algumas coisas que você pode questionar num ponto de vista ético, mas não no ponto de vista técnico-jurídico. “Ah, o Janones disse que o auxílio emergencial acaba em dezembro”. Sim, e isso é verdade. O que não acaba em dezembro é o Auxílio Brasil. Mas as pessoas entenderam que como eu falei só de “auxílio”, seria o Brasil, mas daí é subjetivismo da gente acertar o que as pessoas estão pensando. Eu utilizo as mesmas armas que eles, mas tendo cuidado técnico de não incorrer em “fake news”. E ainda com objetivos distintos, como defender a liberdade de imprensa, defender as instituições contra o negacionismo. Seria prepotência afirmar que faço isso sozinho, eu tento colaborar para a sobrevida da democracia no nosso país.

Valor: O senhor acredita que ainda desperta algum ciúme nos petistas por causa do seu protagonismo nas redes e de sua aproximação de Lula?

Janones: Não posso afirmar que isso não esteja ocorrendo. De repente, não chegou até mim. Mas na minha frente, pelo menos, nunca ocorreu isso que alguns setores da imprensa divulgaram [sobre ciúmes dele dentro do PT]. Eu sempre fui muito bem recepcionado, em todas as reuniões da coordenação eu fui aplaudido. Eles sempre pedem para eu falar, o presidente Lula interage comigo durante a minha fala. No comício da campanha em Belo Horizonte, eu fiquei emocionado com a recepção que tive dos deputados do PT, que são quem teoricamente poderiam ter algum tipo de ciúme. Nas tratativas na minha experiência pessoal, na minha frente, sempre fui muito bem tratado, fui ouvido. Nos momentos em que não fui ouvido, foi por essa questão natural de ser um partido plural e é normal as pessoas terem opiniões diferentes.

Valor: Lula vai ganhar a eleição?

Janones: Eu acredito que, se a gente não fizer nada errado, temos de 70% a 80% de chance de Lula ser eleito. Tem que acontecer algo muito fora da curva para ele não se eleger. A tendência é que ele vença as eleições. A gente está confiante, acredito que vamos vencer se trabalharmos muito e não colocarmos salto alto. A gente está na frente e se fizer tudo certo até o dia 30, venceremos.

Valor: Qual seria o passo seguinte após a eventual vitória nas urnas?

Janones: Depois, o desafio que vai ser gigante é vencer o bolsonarismo, que não morre com a vitória de Lula no dia 30. Eles deixaram muitas sequelas, formaram uma bancada forte na Câmara e no Senado. A gente vai ter que trabalhar muito para que o Brasil fique livre disso, e a democracia possa ser fortalecida.