quarta-feira, 31 de julho de 2024

Venezuela: buscando respostas para algo que ainda não consegui entender

Muitos dos governos, grupos e pessoas que não reconheceram (ainda) o resultado das eleições venezuelanas, reconheceram desde o início o resultado das eleições russas.

Teve muxoxos e questionamentos, mas não aconteceu nenhum movimento de efetivo questionamento em relação a reeleição de Putin.

Será porque acham que o sistema eleitoral russo e o último processo mais democráticos do que o da Venezuela?

Será que acham Putin um democrata?

Suspeito que o motivo real é mais pragmático: no caso da Rússia, não daria em nada questionar. 

Já no caso da Venezuela, questionar pode dar em alguma coisa: no melhor dos casos, derrubar o governo; no pior dos casos, deixar o governo na defensiva e acumular forças para o que virá em seguida.

Entendo que a direita brasileira, Cavernícola à cabeça, adote esta tática. Afinal, eles não têm nada a perder e tem tudo a ganhar.

Mas até agora não consegui entender por quais motivos uma parte da esquerda brasileira adota esta tática.

Certamente, há os que agem para ter 1 minuto de destaque nos meios de comunicação da direita. Mas vou partir da hipótese otimista, segundo a qual esta postura é marginal (no sentido de mega minoritária).

Certamente, também existem os que estão motivados pelos mais sublimes valores democráticos, combinada com o inegável direito à dúvida, mais uma propensão a dar lições aos outros sobre como fazer a coisa certa, adicionada a visão crítica que muita gente tem acerca da Venezuela, de Chávez e especialmente de Maduro.

Embora exista quem atue movido pelas supracitadas pulsões, a verdade é que a maior parte da esquerda brasileira já demonstrou, por inúmeras vezes, que é extremamente capaz de equilibrar suas dúvidas, seus princípios e suas preferências, com altas doses de pragmatismo. 

Assim sendo, fico pensando qual seria a variável pragmática envolvida na postura de quem cobra enfaticamente de Maduro algo que só a justiça eleitoral pode dar; algo que a justiça eleitoral venezuelana sempre deu, mas nos prazos e nas formas previstas em lei.

Será que é para enfatizar que somos pela democracia, evitando que a extrema-direita agarre esta bandeira?

Se for isso, é pragmatismo de tiro curto. Pois as relações entre a direita brasileira e a direita venezuelana são antigas; assim como são antigas as relações entre a esquerda brasileira e a venezuelana. Uma derrota de Maduro, digamos o que digamos, será uma derrota nossa.

Será que é para manter a direita gourmet em situação confortável, sem ter que explicar por qual motivo coabita um governo com (supostamente) bolivarianos radicais?

Se for isso, também é fórmula passageira. Pois mais cedo ou mais tarde a situação vai exigir uma definição. E aí voltaremos ao mesmo problema existente no ponto de partida, com o prejuízo de termos ficado encima do muro. Se não reconhecermos, vitória da direita. Se reconhecermos, a direita nos acusará do mesmo que antes, pouco importa o que digam as atas e os números.

Será que é para não se isolar dos demais governos da região ou do hemisfério ocidental? 

Se for isso, digamos que é dar milho ao bode. Pois dada a correlação de forças atualmente existente, esta será a primeira de muitas vezes em que teremos que fazer escolhas que nos colocarão em conflito com eles. Salvo, é claro, se a lógica for achar melhor uma péssima concessão do que uma difícil divergência. 

Por mais que vire e revire o problema, não encontro uma resposta adequada. Repetindo, acho que tem pessoas que agem motivadas pelo holofote, outras motivadas por certa soberba, outras por restrições a Maduro & cia., outras motivadas por dúvidas sobre o processo eleitoral, outras para defenderem sua concepção de democracia.

Compreendo essas posições, embora discorde delas.

O que não consigo entender é por qual motivo pragmático uma parte da esquerda está adotando posições que - mesmo não sendo esta a sua intenção - na prática estão contribuindo para legitimar uma intentona golpista, promovida por gente abertamente fascista.

Procuro a razão pragmática por trás desta postura, mas não acho.

E talvez seja porque não exista. 

Talvez estejamos diante de um daqueles casos em que, incrivelmente, há muitas emoções envolvidas e bem pouco pragmatismo.

Ou talvez, numa versão mais simplória, não fizemos a devida reflexão sobre o que estava acontecendo e sobre o que poderia acontecer. 

E, como decorrência, vamos definindo nossa posição ao longo do processo, sendo jogados para cá ou para lá, a partir das ações e reações daqueles que de fato estão protagonizando a situação.

No final das contas, pode ser só isso. Como diria um amigo cubano, no hay qué pedirle pera al olmo.

Mas é possível pedir um pouco de pragmatismo. Pelo menos isto.


 

terça-feira, 30 de julho de 2024

Venezuela: O Globo ataca o PT

Se não fosse tão perigoso, o jornal O Globo seria apenas ridículo.

Citando o próprio jornal, "a lembrança é sempre um incômodo para o jornal, mas não há como refutá-la. É História. O GLOBO, de fato, à época, concordou com a intervenção dos militares, ao lado de outros grandes jornais, como O Estado de S.Paulo, Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil e o Correio da Manhã, para citar apenas alguns".

O trecho acima está aqui: Apoio ao golpe de 64 foi um erro | Memória O Globo

No mesmo lugar, está dito também: "(...) o apoio a 1964 pareceu aos que dirigiam o jornal e viveram aquele momento a atitude certa, visando ao bem do país. À luz da História, contudo, não há por que não reconhecer, hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões editoriais do período que decorreram desse desacerto original. A democracia é um valor absoluto. E, quando em risco, ela só pode ser salva por si mesma".

Essa autocrítica seria quase sincera, não fosse um detalhe: o apoio do Globo ao Golpe de 1964 não foi um ponto fora da curva. 

Assim sendo, é simplesmente ridículo o jornal achar que pode questionar as "credenciais democráticas" do presidente Lula e do PT.

Mas, definitivamente, O Globo não tem medo do ridículo. É o que se pode confirmar, lendo o editorial intitulado "Nota do PT sobre Venezuela precisa ser condenada".

O editorial foi disponibilizado em versão digital no dia 30 de julho e, ao que dizem, sairá na versão impressa do dia 31 de julho.

Vejamos, ponto a ponto, as afirmações do jornal do falecido "doutor Marinho".

"A nota da Executiva Nacional do PT sobre a eleição na Venezuela, se não for rechaçada publicamente, abala as credenciais democráticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva". 

Traduzindo: O Globo quer que Lula repudie a nota do PT. 

"O texto divulgado na segunda-feira reconhece Nicolás Maduro como presidente eleito e descreve o pleito de domingo como uma “jornada democrática e soberana”. 

Precisando: a Venezuela tem uma justiça eleitoral. Foi esta justiça eleitoral que anunciou, oficialmente, que Nicolás Maduro é o presidente eleito. Não é o PT, nem O Globo, nem as pesquisas, nem o CNE quem decidiu; foi o povo venezuelano, através da eleição, que por maioria escolheu eleger Maduro.

"Nenhuma menção às irregularidades em série durante todo o processo eleitoral nem à repressão pelas Forças do regime e milícias aos protestos pacíficos contra a fraude". 

Explicando: a nota do PT não é uma obra de ficção, por isso não menciona o que não existiu. Por outro lado, a nota do PT omite qualquer referência aos atos de violência cometidos pela extrema-direita venezuelana, em vários casos com agressões físicas e tiros contra a população. A nota do PT tampouco menciona que esta mesma extrema-direita se recusou a assinar o compromisso de respeito aos resultados eleitorais. Imagina se falasse: o editorialista de O Globo teria que tomar - com o perdão da citação - chá de camomila.

"A nota contraria a posição de democracias ao redor do mundo, inclusive a do próprio governo brasileiro".

Lembrando: democracia não é unanimidade, democracia é debate, pluralidade, várias opiniões, diversidade. Discurso único, posição única, receita única, é coisa de neoliberal.  

"Lula e o PT têm laços com os governantes da Venezuela desde os tempos de Hugo Chávez e, ao longo dos anos, não faltaram palavras de apoio. Após uma contestada eleição para uma Assembleia Constituinte em 2017, Lula pediu uma salva de palmas ao pleito. Em 2019, rechaçou a pressão internacional sobre o país vizinho: “Cada um que se meta na sua vida, e deixem o povo da Venezuela [eleger] democraticamente seus dirigentes”. De volta ao Planalto, recebeu Maduro em Brasília afirmando haver uma narrativa autoritária sendo construída sobre ele. Em seguida, disse haver mais eleições na Venezuela que no Brasil e defendeu a ideia de que o conceito de democracia é relativo. Não é".

Historiando: Chávez foi eleito em 1998. Desde então e até hoje, são cerca de 26 anos, onde ocorreram mais de 26 processos eleitorais. O sistema eleitoral venezuelano se tornou um dos melhores do mundo, segundo Jimmy Carter, aquele bolivariano que foi presidente dos Estados Unidos. A oposição está lá na Venezuela, governa estados, cidades, possui parlamentares e meios de comunicação. Mesmo assim há quem ache que a Venezuela é uma ditadura. E que considere que esta sua interpretação é "absoluta". 

"Como sabem os venezuelanos presos por suas posições políticas, os impedidos de concorrer em eleições e os milhões de eleitores que se sentem novamente roubados após uma contagem de votos, os significados de democracia e eleições livres não são elásticos. Assim como a gravidade, não mudam dependendo do país, algo que o PT parece resistir a aceitar".

Retificando: na Venezuela tem pessoas que foram presas por crimes previstos em lei, não por defender posições politicas. Na Venezuela o voto é facultativo e se alguém não votou, não foi por ser impedido. Não houve roubo na contagem de votos. O Globo mente. E o PT resiste, contrapõe e não aceita mentiras.

"Em menos de um ano, essa é a segunda vez que eleições feitas por líderes autocratas são elogiadas. Em março, o secretário de Relações Exteriores do partido exaltou a vitória do russo Vladimir Putin como “feito histórico”. Nada sobre os candidatos da oposição russa impedidos de participar, nem sobre Alexei Navalny, morto numa prisão perto do Círculo Ártico. Descrições fantasiosas como essa parecem sair da literatura, de um mundo orwelliano, não da realidade".

Perguntando: O Globo não concorda com Putin, nem com Maduro. Mas chama Putin de "presidente da Rússia". Reconhece portanto o resultado proclamado, apesar de dizer do processo eleitoral russo coisas que não diz nem mesmo acerca do processo eleitoral venezuelano. Qual a causa destes dois pesos e duas medidas??

"A nota da Executiva do PT sobre a Venezuela foi divulgada num momento em que Lula parecia se distanciar do apoio incondicional ao regime chavista. Na semana passada, o presidente se disse assustado com as declarações de Maduro de que, se perdesse as eleições, haveria um banho de sangue. “Quem perde as eleições toma banho de votos, não de sangue”, disse. Após a contagem de votos suspeita nesta semana, o Itamaraty não reconheceu a vitória de Maduro e disse aguardar a publicação dos dados desagregados por mesa de votação".

Ironizando: O Brasil é uma democracia, o governo é de coalizão, o PT é um partido. Por qual motivo O Globo se incomoda tanto com a diversidade alheia?? Prefere a uniformidade da ordem unida?? Está preocupado em garantir a nossa unidade monolitica?? Ou virou defensor do centralismo democrático??

"O negacionismo democrático demonstrado pela nota do PT destoa do discurso empregado pelo partido para descrever a conjuntura brasileira. Aqui, diz enxergar ameaças ao Estado Democrático de Direito".

Desenhando: a oposição de extrema-direita, que afirma ter havido fraude, é ligada ao VOX espanhol, que é ligado ao Milei argentino, que é ligado ao cavernícola brasileiro, que é ligado ao Trump, que por sua vez apoia a direita genocida de Israel, que gosta e é gostada por todos os citados. Este turma toda quer derrubar Maduro e não dá a mínima para o Estado Democrático de Direito, nem na Venezuela, nem no mundo. Portanto, o discurso do PT é o mesmo, O Globo é que finge confundir focinho de porco com tomada.


"Embora a carreira de Lula na vida pública brasileira não permita acusações de autoritarismo, a contradição entre as visões externa e interna é uma aberração e precisa ser reparada. Além de ser um dos principais valores dos brasileiros, a defesa da democracia reforça a posição do país no plano internacional".

Ridicularizando: O Globo não tem a mínima moral para falar de democracia. Dentro do PT têm pessoas que criticam Maduro, que não concordam com a nota da executiva nacional, que tem restrições ao processo eleitoral venezuelano. Mas dentro do PT não tem golpista. O Globo é um jornal golpista. Em 1964, em 2016 e sempre. E se vamos falar de "aberração" que precisa ser "reparada", falemos do oligopólio comunicacional empresarial, que está em absoluta contradição com o que diz a Constituição de 1988.

Resumindo: quem precisa ser condenado é O Globo. Algum dia será.


SEGUE A NOTA CITADA ACIMA

Nota do PT sobre Venezuela precisa ser condenada

Declaração em favor de Maduro enfraquece as credenciais democráticas do presidente Lula

A nota da Executiva Nacional do PT sobre a eleição na Venezuela, se não for rechaçada publicamente, abala as credenciais democráticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O texto divulgado na segunda-feira reconhece Nicolás Maduro como presidente eleito e descreve o pleito de domingo como uma “jornada democrática e soberana”. Nenhuma menção às irregularidades em série durante todo o processo eleitoral nem à repressão pelas Forças do regime e milícias aos protestos pacíficos contra a fraude. A nota contraria a posição de democracias ao redor do mundo, inclusive a do próprio governo brasileiro.

Lula e o PT têm laços com os governantes da Venezuela desde os tempos de Hugo Chávez e, ao longo dos anos, não faltaram palavras de apoio. Após uma contestada eleição para uma Assembleia Constituinte em 2017, Lula pediu uma salva de palmas ao pleito. Em 2019, rechaçou a pressão internacional sobre o país vizinho: “Cada um que se meta na sua vida, e deixem o povo da Venezuela [eleger] democraticamente seus dirigentes”. De volta ao Planalto, recebeu Maduro em Brasília afirmando haver uma narrativa autoritária sendo construída sobre ele. Em seguida, disse haver mais eleições na Venezuela que no Brasil e defendeu a ideia de que o conceito de democracia é relativo. Não é.

Como sabem os venezuelanos presos por suas posições políticas, os impedidos de concorrer em eleições e os milhões de eleitores que se sentem novamente roubados após uma contagem de votos, os significados de democracia e eleições livres não são elásticos. Assim como a gravidade, não mudam dependendo do país, algo que o PT parece resistir a aceitar.

Em menos de um ano, essa é a segunda vez que eleições feitas por líderes autocratas são elogiadas. Em março, o secretário de Relações Exteriores do partido exaltou a vitória do russo Vladimir Putin como “feito histórico”. Nada sobre os candidatos da oposição russa impedidos de participar, nem sobre Alexei Navalny, morto numa prisão perto do Círculo Ártico. Descrições fantasiosas como essa parecem sair da literatura, de um mundo orwelliano, não da realidade.

A nota da Executiva do PT sobre a Venezuela foi divulgada num momento em que Lula parecia se distanciar do apoio incondicional ao regime chavista. Na semana passada, o presidente se disse assustado com as declarações de Maduro de que, se perdesse as eleições, haveria um banho de sangue. “Quem perde as eleições toma banho de votos, não de sangue”, disse. Após a contagem de votos suspeita nesta semana, o Itamaraty não reconheceu a vitória de Maduro e disse aguardar a publicação dos dados desagregados por mesa de votação.

O negacionismo democrático demonstrado pela nota do PT destoa do discurso empregado pelo partido para descrever a conjuntura brasileira. Aqui, diz enxergar ameaças ao Estado Democrático de Direito. Embora a carreira de Lula na vida pública brasileira não permita acusações de autoritarismo, a contradição entre as visões externa e interna é uma aberração e precisa ser reparada. Além de ser um dos principais valores dos brasileiros, a defesa da democracia reforça a posição do país no plano internacional.

Venezuela: Tarso Genro e o percentual

É extensa a lista dos que estão opinando sobre as eleições venezuelanas.

A opinião mais recente que vi foi a do ex-ministro Tarso Genro.


De fato, não devemos desperdiçar a experiência. 

É fato que numa disputa apertada entre duas pessoas - Bolsonaro e Lula, Dilma e Aécio, Maduro e Capriles - é preciso apurar grande parte dos votos, antes de poder fazer uma projeção segura de quem venceu.

É fato, também, que numa disputa entre várias candidaturas, a depender da distância entre o primeiro e o segundo colocado, bem como a depender da votação das demais, é possível fazer uma projeção segura a partir de uma apuração menor.

No caso da Venezuela, por exemplo, eles apuraram 80%.

Quem está falando em 70% é a direitista Corina, que disse que seu candidato venceu por este percentual.

Talvez por isso Tarso tenha vinculado o percentual "70" com o nome de Bolsonaro. 

Pois é disso que se trata, na Venezuela: quem está reclamando de fraude é a extrema-direita, não os democratas.

Mas o problema principal que vejo na declaração de Tarso é que não se trata do TSE, nem do Brasil.

Se trata do CNE e da Venezuela.

Ninguém é obrigado a reconhecer o resultado. 

Mas exigir a um poder independente de outro país que forneça provas de lisura é, na minha opinião, roçar o alambrado da ingerência.

Tenho a mais absoluta certeza de que muitos destes que acham normal pedir atas, como se fiscais da oposição fossemos, reagiriam indignados se tal pedido fosse feito por uma chancelaria de um país estrangeiro e dirigida ao nosso TSE.

Seja como for, Tarso tem razão: não devemos desperdiçar a experiência.

E a experiência demonstra que a extrema-direita - vide Trump e Bolsonaro - também sabe gritar "fraude" e pedir por "democracia".

Engane-se quem quiser.


 






Venezuela: Cantalice e o ovo

O companheiro Cantalice acaba de publicar mais uma mensagem no X.

Diz o referido:



"Precipitação" é a crítica que Cantalice fez, por escrito, à nota publicada no dia 29 de julho pela comissão executiva nacional do PT, acerca do resultado da eleição venezuelana.

A respeito dessa crítica, repito aqui o que disse a Cantalice, no mesmo dia 29 às 23h56: "a única coisa que está se 'precipitando' neste momento é a escalada de violência por parte da extrema-direita".

Isto posto, confesso que fico espantado com Cantalice.

Ele é capaz de dizer que, no Brasil, “o ovo da serpente do fascismo começou a ser chocado em junho de 2013".

Mas não é capaz de enxergar o serpentário que, na Venezuela, está nesse exato momento gritando "fraude" e clamando por "transparência".

As pessoas que enchem a boca para falar de democracia, deveriam pelo menos denunciar a ação violenta dos fascistas na Venezuela.

Ou será que acham que isto seria "precipitação e pressa pequeno-burguesa"??



 

Venezuela: a opinião de Paim e Contarato

Dois senadores petistas postaram mensagens sobre a Venezuela.

Um deles é o senador Paim, que disse o seguinte:


Outro foi o senador Contarato, que disse o que segue:

O senador Paim tem razão: a situação é gravíssima, embora já tenha sido pior. Mas, apesar disso, o atual presidente foi reeleito. Logo, devemos desconfiar do resultado. Certo? Não, errado. 

Aqui no Brasil, por exemplo, a situação era muito difícil em 2014 e mesmo assim ganhamos as eleições. Foi no segundo turno, por 51,64% contra 48,36%.

Aécio não aceitou, a direita gritou fraude e entrou no modo golpe, que foi consumado em 2016.

Maduro ganhou agora por 51,20%. Do outro lado havia vários candidatos de oposição. Parte aceitou, parte não aceitou.

A parte da oposição que não aceitou está gritando fraude e entrou no modo violência golpista, fato constatado pelos observadores internacionais, inclusive por um deputado federal com quem os senadores poderiam conversar.

Pode ser que os senadores acham que nosso processo eleitoral é 100% confiável, enquanto o sistema eleitoral venezuelano não teria "transparência".

(Toda vez que falo esta palavra, me lembro de uma entidade que foi recentemente desmascarada.)

Sugiro aos senadores, caso pensem que falta transparência ao sistema eleitoral venezuelano, que leiam o seguinte texto: https://fpabramo.org.br/cooperacao-internacional/saiba-como-se-vota-na-venezuela/

Agora, caso sigam convictos de que falta mesmo esclarecer algo, que há algo de suspeito quando as pesquisas e a mídia dizem algo e as urnas dizem outra coisa, só peço uma coisa: que nas postagens que fazem, denunciem também a extrema-direita.

Ninguém é obrigado a confiar no Maduro ou no Elvis Amoroso (sim, meus senhores, este é o nome do cabeça do "TSE" venezuelano).

Mas quem viveu o 8 de janeiro de 2023, aqui no Brasil, não tem o direito de calar frente às violências que estão em curso neste momento, patrocinadas pela extrema-direita e constatadas inclusive por petistas que lá estiveram, acompanhando o processo.


Venezuela: será que Aldo Fornazieri já ouviu falar de Corina?

 O professor Aldo Fornazieri publicou a seguinte mensagem sobre a Venezuela.


Tem pobres contra Maduro, contra o PSUV e contra o governo bolivariano?

Sim, tem.

Tanto na Venezuela como no Brasil, a extrema-direita tem muitos eleitores pobres.

Tem pobres participando das ações violentas contra Maduro, neste exato momento?

Sim, tem.

Tanto na Venezuela como no Brasil, a extrema-direita sempre mobiliza muitos pobres para suas ações violentas.

Até porque os ricos não gostam de sujar as mãos.

A polícia está reprimindo?

Sim, está. Aliás, se não fizer isso, mais cedo ou mais tarde virá um golpe de Estado. Inclusive porque vários manifestantes da direita estão armados e dando tiros.

Os pobres estão se mobilizando contra a fraude eleitoral?

Para começo de conversa, parte importante do "povo pobre" votou em Maduro.

Outra parte está passiva, assistindo.

E uma minúscula parte - pelo menos até agora - está envolvida nesses atos de vandalismo.

Fazer desta minúscula parte um exemplo representativo de todo o povo pobre, é parte da campanha da extrema-direita.

Que Fornazieri repercuta isso, fala mais sobre a qualidade da sua ciência do que sobre a realidade.

Quanto a fraude, é preciso provar que ela existiu, a não ser que se aceite o critério do Aécio, segundo o qual a certeza da véspera é o que vale.

E para provar que a fraude existiu, tem que apontar o que teria havido, entrar com os devidos recursos junto ao CNE, aguardar o julgamento.

É isso o que a extrema-direita está fazendo?

Não.

Aliás, antes mesmo da eleição ocorrer, a extrema-direita não assinou o compromisso de respeitar os resultados eleitorais. Todas as candidaturas assinaram, menos eles.

Curiosamente, alguns governos - que apoiaram e insistiram na assinatura de tal compromisso - agora estão dando fé à algumas das reclamações desta mesma extrema-direita.

E o que a extrema-direita está fazendo?

Primeiro, dizendo que ganhou com 70% e que seu candidato é o presidente eleito.

Operação Guaidó, segunda edição...

Segundo, deflagrando uma onda de violência.

Tenhamos a opinião que tivermos sobre Maduro, é simplesmente irresponsável não perceber que a alternativa não é democrática, é o fascismo.

Quem fica criando corvos, depois não venha choramingar e dizer que não sabia.


segunda-feira, 29 de julho de 2024

Venezuela: a opinião de Reginaldo Lopes

 O deputado federal Reginaldo Lopes foi ao X lacrar sobre a Venezuela.



A opinião do deputado é parecida com a opinião dos bolsonaristas e da tucanagem. Talvez a única diferença seja a sutileza no tratamento dado a Maduro: ao invés de chamar logo de "ditador", Reginaldo prefere dizer que Maduro teria "a postura de um ditador".

Publicada em outro momento, esta definição seria apenas falsa e mentirosa. Dita hoje, dia 29 de julho, é um regalo para a extrema-direita venezuelana e mundial.

O dia 29 mal começara e já circulava o pedido do presidente argentino, dirigido às forças armadas da Venezuela, para que depusessem Maduro.

O dia 29 está terminando, com brasileiros e brasileiras (pessoas que Reginaldo conhece, aliás) com dificuldades para sair da Venezuela, porque gangues da extrema direita estão fazendo bloqueios violentos em algumas ruas e estradas.

Sendo este o contexto, a crítica de Reginaldo serve - mesmo que não seja esta sua intenção - para legitimar este tipo de violência. Afinal, as gangues estariam supostamente reagindo a um ditador.

Claro que não é toda a oposição que age assim. Mas uma parte da "oposição organizada" na Venezuela é de extrema-direita, usa da violência e defende a intervenção estrangeira no país. 

Um governo "verdadeiramente democrático" aplica a lei contra este tipo de oposição. É isso que vem ocorrendo na Venezuela.

Aqui no Brasil, Bolsonaro acusa a esquerda de ser "ditatorial" exatamente porque defendemos aplicar a lei para investigar e punir seus crimes. Na Venezuela acontece situação muito parecida.

Criticar Maduro, assim como criticar Lula, é um direito democrático de toda e qualquer pessoa. E Reginaldo Lopes tem todo o direito de fazer as críticas que achar adequadas. Mas pode e deve ser contraditado e até desmentido por quem acredita no contrário.

Última observação: gostemos ou não de Maduro, ele ganhou as eleições presidenciais de 2024. Isso aconteceu porque uma parte importante do povo venezuelano não se dobrou à chantagem, às pressões, às violências. Reconhecer a vitória de Maduro é respeitar este povo de luta.

Que um petista não seja capaz de entender isto, mesmo depois de tudo que passamos, é assunto para outro momento.













Venezuela: o que deseja o Itamaraty?

Tem coisas que entendemos e concordamos.

É o caso de boa parte da politica externa brasileira.

Tem coisas que entendemos e discordamos.

Por exemplo, a decisão de prorrogar a isenção de vistos para certos países.

Está aqui: Isenção de vistos para turistas da Austrália, Canadá e Estados Unidos é prorrogada — Agência Gov (ebc.com.br)

Mas tem coisas que, além de discordar, não conseguimos compreender.

É o caso de recente nota do Itamaraty sobre a eleição na Venezuela.

A nota está aqui: Eleições e apuração na Venezuela — Ministério das Relações Exteriores (www.gov.br)

Os dois primeiros parágrafos da nota até consigo entender. Numa leitura bem otimista, o governo estaria se posicionando como intermediário nas negociações que virão, entre oposição e governo, entre Venezuela e Estados Unidos.

Já a segunda parte da nota é, sob qualquer aspecto, incompreensível. Ao menos para mim.

Refiro-me ao seguinte trecho: "Aguarda, nesse contexto, a publicação pelo Conselho Nacional Eleitoral de dados desagregados por mesa de votação, passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito".

Considero incompreensível, primeiro porque se o objetivo é intermediar futuras negociações, bastava ter dito o que está escrito nos dois primeiros parágrafos.

Segundo porque não cabe ao Itamaraty assumir para si, especialmente em uma nota oficial, uma demanda de parte da oposição.

Last but not least, ao exigir o que está na nota, o Itamaraty - vou ser gentil - roça o alambrado da ingerência. 

Imagine se o ministério do exterior da Venezuela viesse a público fazer exigências ao Tribunal Superior Eleitoral brasileiro, dizendo o que deve ser feito para dar "transparência, credibilidade e legitimidade" ao resultado?

Aliás, declarações recentes do presidente da Venezuela acerca do sistema eleitoral brasileiro foram criticadas exatamente por terem soado assim. 

Será que o Itamaraty resolveu oferecer "reciprocidade" ao Maduro, na linha "ingeres aqui que ingiro ali"? 

Se foi isso, sugiro entre outras coisas que se garanta reciprocidade também no caso dos vistos.

Ou será que simplesmente erraram na mão?

Se foi isso, sugiro que se corrija o rumo. 

Afinal, há um movimento do eixo do mal (Milei e companhia) e de parcelas da extrema-direita venezuelana, no sentido de acabar com o "caráter pacífico da jornada eleitoral".

O Brasil e outros países podem ajudar a deter esse processo. As maneiras de deter podem ser várias. Nenhuma delas combina com o que está dito no final desta nota do Itamaraty.





Venezuela: saudades do Aécio?

Se depender de algumas pessoas, devemos substituir as eleições por pesquisas.

Só assim dá para entender certas reações frente ao resultado proclamado pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela.

Vamos por partes.

A Venezuela fez eleições sob cerco duríssimo. As sanções causam danos à vida do povo. Evidentemente, isso leva parte das pessoas a votar na oposição ou, pelo menos, a deixar de votar no governo. Mas onde está escrito que - nessas condições de cerco - a oposição tem que necessariamente ganhar?

Até mesmo Boric deve saber que, em condições também extremamente difíceis, a Unidade Popular chilena conseguiu crescer eleitoralmente. Aliás, esse foi um dos motivos que fez a extrema-direita chilena ir para o golpe: pela via eleitoral não estava dando certo para eles. 

Nós aqui no Brasil vivemos algo similar em 2014. Crente de que nos derrotaria, a oposição não acreditou no resultado e, ato contínuo, decidiu ir para o golpe.

Mas, repito, onde está dito que - devido ao cerco e as difíceis condições -  a oposição tem que necessariamente ganhar? Aliás, vamos combinar, se isso fosse mesmo verdade, o imperialismo teria então uma fórmula imbatível para derrotar, "eleitoral e democraticamente", a esquerda. Basta fazer sanções e esperar que o povo se volte contra o governante de turno.

E se alguém não corresponder aos resultados previstos na fórmula, "obviamente" é porque fraudou ou algo do gênero. É este, aliás, o sentido do post do agora manjado Boric no X: o resultado não devia ser o que ele acreditava que seria, logo não é crível.

Há algum indício de fraude? Até agora, absolutamente nenhum. Pode aparecer? Sim, sempre pode, sempre tudo pode acontecer. Mas, evidente, quem esperava Maduro certamente seria "com certeza" derrotado é capaz de ficar esperando, em silêncio barulhento ou reclamando sem provas, até que fabriquem algum "indício".

Por quais motivos existe uma diferença entre as pesquisas e os resultados? Pelos mesmos motivos que diferenças semelhantes apareceram em inúmeras outras eleições, em inúmeros outros países. 

Vale lembrar, ademais, que na Venezuela as eleições são facultativas. Isso acrescenta uma variável a mais na lista de motivos que podem explicar a diferença entre as pesquisas e as eleições. Mas até prova em contrário, quem tem que explicar esta diferença são os institutos de pesquisa, não o Conselho Nacional Eleitoral. A não ser, é claro, se tivermos "a mais absoluta certeza" de que Maduro não poderia nunca ser vitorioso.

Vale dizer que o resultado foi apertado. Se a oposição estivesse unida, seria ainda mais apertado. Foi o governo que impediu a oposição de se unificar?

Vale lembrar, também, que parte da oposição venezuelana é assumidamente golpista. Maria Corina, a queridinha da mídia, integra o eixo do mal liderado pelo VOX espanhol. Evidentemente isso leva parte da oposição a não aceitar nunca os resultados.

Aliás, Corina foi impedida de concorrer porque a lei assim manda. No Brasil os caras impediram Lula de concorrer. Foi uma fraude política e obviamente ilegal, mas "legalizada" pela justiça e aplaudida pela mídia. Na Venezuela, parte da oposição queria que se fizesse uma fraude em sentido contrário. Infelizmente para eles, a justiça de lá não cooperou. Isto atrapalhou o desempenho da oposição? Seguramente. Isso foi uma fraude e uma ilegalidade? Não, não foi.

O processo eleitoral venezuelano não é como o brasileiro. O chamado voto impresso permite que se audite o resultado de uma forma agora inexistente no Brasil, onde se auditam as urnas e o sistema de transmissão de dados. Num clima eleitoral quente, este tipo de auditagem adotado na Venezuela dá armas para a oposição retardar e questionar resultados. E, segundo o CNE, desta vez houve também um ataque contra o sistema de transmissão de dados. Isso atrasou a divulgação do primeiro boletim, gerando obviamente incertezas, dúvidas e temores. Mas isso quer dizer que houve fraude da parte do governo? Ou quer dizer que houve uma tentativa, da parte de alguém mundo afora ou Venezuela adentro, de criar um clima de incerteza que desse veracidade ao discurso de que houve fraude?

Aliás, quem lembra do ocorrido no processo eleitoral, antes do golpe contra Evo Morales na Bolívia?

Até hoje, em todas as eleições realizadas na Venezuela desde Chávez, nunca houve fraude eleitoral ou desconhecimento do resultado. Ninguém tem obrigação de acreditar na palavra do CNE, mas dado o histórico, os caras merecem o famoso benefício da dúvida.

A questão, insisto, é que tem gente que não tinha dúvida alguma. Aliás, o discurso de "fraude" já estava pronto. Não tem nada que ver com o resultado.

A triste verdade é que Aécio fez escola, inclusive em lugares inesperados.

Maduro!

Quando aqui no Brasil era uma hora da manhã de segunda-feira, 29 de julho, o senhor Amoroso, cabeça do Conselho Nacional Eleitoral, informou o resultado das eleições presidenciais de Venezuela.

Amoroso informou que a apuração ainda não terminou, mas a tendência é "contundente e ireversível".

Venceu Nicolas Maduro, com 5.150.092 votos (51,20%).

Em segundo lugar ficou Edmundo Gonzalez, com 4.445.978 votos (44,02%).

O resultado corresponde a 80% dos votos apurados.

A participação total foi de 59% do eleitorado.

Amoroso explicou que o atraso na apuração se deveu a uma agresion contra el sistema de transmision de los datos.

Nicolas Maduro, em discurso feito logo depois, afirmou que a referida agressão fez parte de uma operação terrorista, cujo objetivo era afirmar que a eleição fora uma fraude.

Coincidentemente, antes mesmo do anúncio do resultado, Javier Milei, presidente da Argentina, postou no X o seguinte:

DICTADOR MADURO, AFUERA!!!
Los venezolanos eligieron terminar con la dictadura comunista de Nicolás Maduro. Los datos anuncian una victoria aplastante de la oposición y el mundo aguarda que reconozca la derrota luego de años de socialismo, miseria, decadencia y muerte.
Argentina no va a reconocer otro fraude, y espera que las Fuerzas Armadas esta vez defiendan la democracia y la voluntad popular. 
La Libertad Avanza en Latinoamérica.

E logo depois do anúncio dos resultados, foi a vez de Gabriel Boric, presidente do Chile, postar também no X o que segue abaixo:

El régimen de Maduro debe entender que los resultados que publica son difíciles de creer. La comunidad internacional y sobre todo el pueblo venezolano, incluyendo a los millones de venezolanos en el exilio, exigimos total transparencia de las actas y el proceso, y que veedores internacionales no comprometidos con el gobierno den cuenta de la veracidad de los resultados. 
Desde Chile no reconoceremos ningún resultado que no sea verificable.

Confirma-se assim o óbvio: para alguns, a única hipótese aceitável ("crível") era Maduro perder.

Sendo assim as coisas, a primeira tarefa dos setores progressistas, democráticos e de esquerda, é defender o respeito ao resultado da eleição.

Depois, é claro, cabe avaliar os resultados e discutir suas implicações. 

Por enquanto, só um comentário: mais uma vez, apesar de todas as pressões, uma parte decisiva do povo venezuelano escolheu não se dobrar e não se render.

Um grande viva a este povo!






Trump, Kamala e os "trouxas"

O que fazer enquanto se aguarda o anúncio oficial do resultado das eleições venezuelanas?

Quem não tiver bom senso, pode passar o tempo lendo o mais recente texto que o PCO dedicou a desancar um tal de Valter Pomar.

Tá aqui: Valter Pomar: a reboque dos monstros democratas • Diário Causa Operária (causaoperaria.org.br)

O citado texto do PCO nomeia o referido cidadão 25 vezes.

Faço um apanhado do que o tal texto diz sobre o referido cidadão.

Que ele está “a reboque dos monstros democratas”.

Que é “incapaz de responder à crítica de que ele estaria a reboque do Partido Democrata norte-americano”.

Que ele “não tem coragem de dizer abertamente se quer que Kamala Harris seja a próxima presidente dos Estados Unidos”.

Que falha miseravelmente na tarefa de “denunciar os maiores inimigos da classe operária e da humanidade de conjunto”.

Que afirma “de forma envergonhada” que “Kamala Harris é o “mal menor” dessas eleições”.

Que ele está “inevitavelmente, aderindo à campanha do Partido Democrata” e “capitulando diante da grotesca operação do imperialismo norte-americano que consiste em apresentar Kamala Harris como uma “aliada” dos oprimidos em todo o mundo”.

Que está “dando aos maiores genocidas do planeta a oportunidade de serem bem recebidos nas fileiras da esquerda”, além de estar “dando aval a todo oportunista que (...) convide para seu palanque os apoiadores da genocida de saias Kamala Harris”.

Que ele “abre as portas para o Partido Democrata, lhe oferece uma taça de vinho e diz: bem-vindo seja, ó, tu, que não estás alinhado com o 'cavernícola'.”

Que ele “torna tudo ainda mais vergonhoso”.

Que “aquilo pelo que ele torce – a derrota de Trump – não fará a esquerda avançar”.

Que para ele “a vitória da Chevron, da CIA e da AIPAC seria 'o melhor para o Brasil'.”

Que ele é um “pequeno burguês histérico, com medo do trumpismo”.

Que ele está “está pronto para se agarrar ao imperialismo como um bote salva-vidas”.

Que ele “recorre a um expediente infantil”.

Que ele “passa pano” para a candidatura de Kamala Harris.

Que ele ajuda a candidatura democrata a “confundir os trabalhadores”.

Que ele é “assustado”.

Que ele “confunde ideologia com estrutura política”.

Que ele se “alinha ao cinismo da imprensa capitalista”.

Que ele tem uma “concepção infantil da política”.

Que ele não consegue “compreender o que acontece em seu próprio País”.

Tem algo mais, mas pulo logo para a afirmação final: o tal Valter Pomar é um “trouxa”!

Não sei quem é esta pessoa a quem o PCO acusa de ser um instrumento do Partido Democrata. Eu é que não sou!

Isto posto, quero fazer o seguinte comentário: 

1/por incrível que possa parecer, nas décadas de 1920 e 1930, na época da ascensão do fascismo e do nazismo, teve alguns militantes socialistas e comunistas que não apenas passaram o pano na extrema-direita, mas inclusive se alinharam organicamente com a extrema-direita. Aliás, um dos que foi executado no dia 28 de abril de 1945 e teve o corpo pendurado ao lado de Mussolini (ele próprio um ex-dirigente socialista) foi Nicola Bombacci, um antigo e conhecido militante de esquerda. Quem quiser mais detalhes a respeito de pelo menos um exemplo daquela esquerda que se aproximou da extrema-direita, pode ler o livro Historia de la ultraizquierda, de Christophe Bourseiller. Em resumo, a atitude do PCO frente à extrema-direita não é uma jabuticaba;

2/as posições do PCO sobre Trump, sobre Bolsonaro e sobre as eleições para prefeito de São Paulo capital – para ficar nesses três exemplos – não são confusão. São expressões de uma linha política que conduz o PCO a se tornar aliado objetivo da extrema-direita. Para quem acha esta crítica exagerada, recomendo rever as declarações do principal dirigente do PCO, segundo quem o cavernícola estaria sendo vítima de uma perseguição;

3/o PCO acredita que Trump é o mal menor. É o que se depreende dos trechos a seguir:

“A candidatura democrata, além de ser mais perigosa que a candidatura de Trump porque confunde os trabalhadores (com a ajuda de esquerdistas como Pomar), é também mais monstruosa”.

“Donald Trump, (..._) representa um setor com maiores restrições aos danos causados pela política agressiva do imperialismo norte-americano. Não é à toa que Trump tenha se posicionado, em mais de uma oportunidade, contra a continuidade da guerra da Ucrânia e mesmo contra a continuidade da guerra na Faixa de Gaza”.

“Donald Trump e o setor que representa, por mais sanguinário que seja, por mais que possa se envolver em futuras guerras genocidas, não tem a mesma determinação política que os democratas”;

4/da minha parte, prefiro não passar pano, seja nos Democratas de Kamala, seja nos Republicanos de Trump. Quem quer que vença, nos causará muitos problemas, não apenas para nós, mas para as forças de esquerda em todo o mundo. Entre estes problemas, no caso da esquerda brasileira, está o seguinte: uma vitória de Trump vai, ao menos no curto prazo, estimular a turma do cavernícola;

5/o PCO é uma seita. Seu método de debate decorre disso, embora haja também alguns problemas cognitivos. Afinal, só um problema cognitivo explica que alguém seja capaz de dizer que “Donald Trump e o setor que representa (...) não tem a mesma determinação política que os democratas”.

Isto posto, voltemos à espera dos resultados da eleição na Venezuela.

 

Segue o texto citado

Valter Pomar: a reboque dos monstros democratas

Dirigente da Articulação de Esquerda desenvolve a sua própria tese do "mal menor"

No texto O PCO e Trump, Valter Pomar, incapaz de responder à crítica de que ele estaria a reboque do Partido Democrata norte-americano, reclamou de que este Diário teria apresentado uma “interpretação mentirosa” de seu ponto de vista. Apresentemos, então, não uma “interpretação”, mas uma citação literal do que diz o dirigente da Articulação de Esquerda:

“Oque eu disse e repito é que, do ponto de vista da política brasileira, a vitória de [Donald] Trump ajuda o bolsonarismo. O que não quer dizer que a vitória de Kamala Harris ajude a esquerda brasileira”.

Essa mesma ideia é apresentada em outros momentos, durante entrevistas suas À TV 247:

“Eu não acho que, se [Joe] Biden ganhasse as eleições, mudaria a nossa situação política e social substancialmente [grifo nosso]. O que realmente tem de relevante é que a extrema direita vai bater bumbo se Trump ganhar” (Contramola, com Valter Pomar: Atiraram no Trump, acertaram no Biden? (15.07.24)).

“Tanto Trump quanto Biden vão causar sérios problemas no Brasil, sendo que Trump causa um problema adicional [grifo nosso], que é reforçar dentro do Brasil as posições cavernícolas [pró-Jair Bolsonaro (PL)]” (Contramola, com Valter Pomar – Biden desistiu. E agora? 22.07.24).

A gente não deve baixar a guarda e esperar coisa boa de quem quer que ganhe. Claro que, para nós, brasileiros, por conta das ligações entre o cavernícola [Jair Bolsonaro] e Trump, é melhor que Trump perca [grifo nosso]. Mas isso não significa que a derrota do Trump seja a vitória da esquerda” [idem]

Não importa se Pomar não tem coragem de dizer abertamente se quer que Kamala Harris seja a próxima presidente dos Estados Unidos. Também dizer que os brasileiros não devem esperar “coisa boa” do Partido Democrata não é relevante. O que importa é se, diante da atual disputa no país mais importante da ordem mundial, Pomar é capaz de denunciar os maiores inimigos da classe operária e da humanidade de conjunto. Nisso, ele falha miseravelmente.

Dizer que “é melhor que Trump perca” é apenas uma forma envergonhada de Pomar admitir que a sua adversária, Kamala Harris, é o “mal menor” dessas eleições. É o mesmo que dizer aos brasileiros que a  vitória do Partido Democrata trará menos prejuízo que a vitória do Partido Republicano. Neste sentido, Pomar não precisa fazer como a deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ), que, achando que vivia nos Estados Unidos, prometeu “eleger” Kamala Harris. Na medida em que ele não apresenta o Partido Democrata como o que há de pior nas eleições norte-americanas, ele está, inevitavelmente, aderindo à campanha do Partido Democrata. Está capitulando diante da grotesca operação do imperialismo norte-americano que consiste em apresentar Kamala Harris como uma “aliada” dos oprimidos em todo o mundo. Ao não dizer claramente: “abaixo a farsa Kamala Harris, pois os maiores inimigos dos brasileiros estão por trás de sua candidatura”, Pomar está dando aos maiores genocidas do planeta a oportunidade de serem bem recebidos nas fileiras da esquerda. Está dando aval a todo oportunista que, diante do pretexto de que “é melhor que Trump perca”, convide para seu palanque os apoiadores da genocida de saias Kamala Harris.

Que Kamala Harris é a principal inimiga a ser combatida, ninguém que conheça a história do movimento operário deveria ter qualquer dúvida. Em 1899, depois de os partidos operários já terem passado por um conjunto de experiências desastrosas, na qual setores dirigentes partiram para uma aliança com a burguesia, o revolucionário alemão Wilhelm Liebknecht descreveu com precisão qual era a política a ser seguida diante de disputas como a que se vê hoje nos Estados Unidos. E ele não poderia ser mais claro: o falso amigo é sempre o pior inimigo. “O inimigo é mais perigoso quando ele vem como amigo à fortaleza, quando se esgueira sob a cobertura da amizade, e é reconhecido como amigo e camarada”. Ignorando a lição de Liebknecht, Pomar abre as portas para o Partido Democrata, lhe oferece uma taça de vinho e diz: bem-vindo seja, ó, tu, que não estás alinhado com o “cavernícula”.

Valter Pomar pode achar que seu apoio aos inimigos da humanidade ficaria menos vergonhoso por dizer que “a derrota de Trump não seja a vitória da esquerda”. Isso, no entanto, torna tudo ainda mais vergonhoso. Afinal, aqui Pomar reconhece que aquilo pelo que ele torce – a derrota de Trump – não fará a esquerda avançar. E se não fará a esquerda avançar, fará com que, necessariamente, outro setor avance. Para Pomar, portanto, a vitória da Chevron, da CIA e da AIPAC seria “o melhor para o Brasil”. Como um pequeno burguês histérico, com medo do trumpismo, Pomar está pronto para se agarrar ao imperialismo como um bote salva-vidas, ainda que, para isso, tenha de abrir mão de um programa que permita a esquerda avançar.

É por isso que, no texto O PCO e Trump, Valter Pomar recorre a um expediente infantil dos adversários do Partido da Causa Operária. Pomar acusa o PCO de “passar o pano em Trump”. Ou seja, acusa o PCO de, assim como Wilhelm Liebknecht, apresentar aos trabalhadores a candidatura de Kamala Harris como o que há de mais pernicioso no planeta. O expediente utilizado por Pomar apenas tem um único objetivo, o final das contas: rotular a política revolucionária como “trumpista” para que ele possa livremente “passar pano” para a candidatura de Kamala Harris.

Pomar, por exemplo, acusa a candidatura de Trump de ser “monstruosa”. E a de Harris, não é? E o governo Biden, não é?

A candidatura democrata, além de ser mais perigosa que a candidatura de Trump porque confunde os trabalhadores (com a ajuda de esquerdistas como Pomar), é também mais monstruosa. Os democratas são os representantes das petroleiras e do complexo industrial militar norte-americano. Isto é, da maior máquina de guerra que a humanidade já viu. Uma máquina que também é representada pelo Partido Republicano, como o foi durante o governo de George Bush, mas que tem uma série de contradições com a figura de Donald Trump, que representa um setor com maiores restrições aos danos causados pela política agressiva do imperialismo norte-americano. Não é à toa que Trump tenha se posicionado, em mais de uma oportunidade, contra a continuidade da guerra da Ucrânia e mesmo contra a continuidade da guerra na Faixa de Gaza.

Donald Trump e o setor que representa, por mais sanguinário que seja, por mais que possa se envolver em futuras guerras genocidas, não tem a mesma determinação política que os democratas. O assustado Valter Pomar, ao se preocupar apenas com a “monstruosidade” de Trump, e não com a do Partido Democrata, confunde ideologia com estrutura política. O dirigente da Articulação de Esquerda, assim, se alinha ao cinismo da imprensa capitalista, para quem mais importa o discurso de um burocrata do governo norte-americano do que as bombas que ele arremessa sobre as tendas em Rafá.

Essa concepção infantil da política, em que as palavras e as intenções são mais importantes que a ação e a estrutura política, faz com que Pomar também não consiga compreender o que acontece em seu próprio País. Apoiar Kamala Harris em nome de um enfraquecimento do bolsonarismo não apenas é criminoso, uma vez que coloca os trabalhadores a reboque do imperialismo, mas também parte de uma avaliação completamente equivocada.

Quem derrubou a presidenta Dilma Rousseff em 2016? Foi a CIA, as petroleiras e os mesmos setores que hoje apoiam Kamala Harris. Mais do que isso: foi um governo do Partido Democrata. Mais ainda: foi o governo no qual Joe Biden era vice-presidente, e no qual ele ocupava um papel importante em sua política externa. Esse mesmo governo, anos antes, havia se envolvido em um escândalo de espionagem, no qual Edward Snowden revelou que os Estados Unidos monitorava empresas brasileiras, como a Petrobrás, e o próprio governo brasileiro. Esse mesmo governo, em 2018, colocou o hoje presidente Lula na cadeia.

Só por esses dados, Pomar deveria concluir que, sem a intervenção dos amigos genocidas de Biden e Harris, não haveria bolsonarismo no Brasil. Mas há mais: esses mesmos senhores foram quem permitiram que Bolsonaro fosse eleito em 2018. E que, nos dias de hoje, mantêm o bolsonarismo vivo para que exerçam uma pressão para que o governo Lula não se choque com o programa neoliberal.

A aliança dos democratas com a extrema direita não está restrita ao bolsonarismo. Quem colocou Javier Milei na presidência da Argentina, se não os democratas? Quem colocou Daniel Noboa na presidência do Equador? Quem colocou Nayib Bukele na presidência de El Salvador? Não foi Donald Trump. E não há porque acreditar que Kamala Harris represente, em qualquer medida, um freio a essa política.

Não bastasse tudo isso, ainda há as monstruosidades na Faixa de Gaza. O Partido Democrata, que seria o “mal menor” para o sábio Valter Pomar, não parece ser um mal tão menor assim no Oriente Médio. Graças ao apoio do governo Biden, “Israel” já assassinou diretamente, por meio de bombardeios, 20 mil crianças! Pomar teria apenas que explicar por qual motivo ele acredita que o Partido Democrata não faria o mesmo no Brasil…

O fascismo é um recurso da burguesia imperialista que sempre será utilizado em momentos de crise. Foram os democratas, por exemplo, que montaram toda a estrutura fascista que hoje sustenta o regime ucraniano. Afinal, em toda a história, o fascismo só conseguiu se impor como um regime de força quando teve o apoio dos banqueiros, das petroleiras, da grande indústria – enfim, daqueles que hoje estão aplaudindo a “mulher negra” Kamala Harris. E que estão colocando a seu reboque trouxas como Valter Pomar.

domingo, 28 de julho de 2024

Atualizando um assunto desagradável

"Sei que todos nós temos coisas mais urgentes para fazer". 

Esta é a frase que abre o último parágrafo da carta que encaminhei, no dia 20 de julho de 2024, ao secretário-geral nacional do Partido, o companheiro Henrique Fontana, uma carta contendo dois tópicos: primeiro, minha análise de uma série de mensagens postadas, no grupo de zap do Diretório Nacional do Partido, pelo vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá; segundo, minha cobrança de que o secretário-geral cumpra sua obrigação estatutária, a saber, encaminhar para votação na CEN a admissibilidade (ou não) de dois pedidos de comissão de ética existentes contra o vice-presidente.

Um desses pedidos de comissão de ética é de autoria do companheiro Olavo Carneiro, que nele "deu entrada" em novembro de 2021. O outro pedido de comissão de ética é de autoria de diversas tendências petistas (Articulação de Esquerda, Avante PT, Democracia Socialista, Diálogo e Ação Petista, Esquerda Popular Socialista, Militância Socialista) e "deu entrada" em fevereiro de 2023.

Ambos pedidos seguem engavetados.

No dia 22 de julho de 2024, o companheiro Henrique Fontana me escreveu uma mensagem, via zap, dizendo que me ligaria nos próximos dias. 

Efetivamente, no dia 26 de julho, sexta-feira, conversamos por telefone. Não vem ao caso relatar aqui o teor da conversa, sempre muito agradável, como sempre é o relacionamento com o companheiro Henrique Fontana. Mas é necessário prestar contas do desfecho: pelo menos até agora (28 de julho), os dois pedidos de comissão de ética não foram submetidos à apreciação da executiva nacional. E, ao menos por enquanto, não está previsto que sejam submetidos.

Caso fossem analisados pela CEN, haveria duas possibilidades: seu arquivamento ou seu encaminhamento à comissão de ética. No primeiro caso, só restaria recorrer ao Diretório Nacional; no segundo caso, o processo seguiria seu curso, com a reserva prevista em nosso estatuto e código de ética.

A solução de não submeter o pedido à análise da CEN permite e ao mesmo tempo obriga os defensores da comissão de ética a seguir fazendo pressão pública. 

Afinal, está em curso um flagrante desrespeito ao estatuto do Partido. Ademais, fica a impressão - que sempre pode ser falsa - de que as atitudes do vice-presidente são consideradas coisa menor; ou de que são consideradas coisa maior, mas por isso mesmo não seria conveniente (seja lá por que motivos for) tratá-las no plano das instâncias, ao menos neste momento.

Na minha opinião não são coisa menor. Também na minha opinião, não há como considerar conveniente - exatamente num momento político em que nossas resoluções partidárias apontam o cavernícola como inimigo principal - deixar proliferar atitudes que passam o pano em bolsonaristas e em bolsonarices. Também penso ser regra geral que problemas não tratados não diminuem, pelo contrário crescem de tamanho.

Pouco me importa a motivação das atitudes que deram origem aos pedidos de comissão de ética. Será a “naturalização” da vulgaridade e truculência? Será o mero oportunismo eleitoral, de quem deseja conquistar os votos do eleitorado bolsonarista? Ou será decorrência de uma linha política muito pessoal, acerca de como (supostamente) conquistar o apoio de setores da classe trabalhadora que estão distantes do petismo? 

Qualquer que seja a origem e os motivos, deixar fazer e deixar passar as atitude citadas em minha carta e nos dois pedidos de comissão de ética é, na minha opinião, desmoralizante para as pessoas que o fazem e também desmoralizante para o conjunto do Partido. 

As pessoas que o fazem são maiores de idade e respondem pelas suas atitudes. Mas pelo Partido respondemos todos nós e, portanto, seguirei exigindo - publicamente - o que já fiz na minha carta de 20 de julho, carta que encerra da seguinte maneira: "Sei que todos nós temos coisas mais urgentes para fazer. Foi algo parecido que pensei quando, noutras gestões deste Diretório Nacional, me pediram para lidar com dois casos espinhosos, um no Rio de Janeiro e outro no Mato Grosso do Sul. Eu cumpri minha tarefa. Espero que você, prezado secretário-geral Henrique Fontana, também cumpra a sua, mesmo que todos sempre tenhamos coisas mais importantes que fazer".
 




quinta-feira, 25 de julho de 2024

Jovem contra Maduro

Quarta 24/7 e quinta 25/7 consegui, finalmente, ouvir a Jovem Pan.

Assunto principal dos três programas que escutei? Venezuela.

Num dos programas, os apresentadores da Jovem Pan cobriram Maduro de impropérios e concluíram dizendo que o presidente da Venezuela deve ser "eliminado".

Dado o contexto, não há dupla interpretação possível: pelo menos dois apresentadores da Jovem Pan fizeram incitamento ao magnicidio.

Noutro programa, os apresentadores disseram que todas as pesquisas indicam que a oposição vai ganhar e por uma grande diferença; portanto, só haveria três alternativas: ou Maduro aceita a derrota, ou Maduro frauda o resultado para fingir que ganhou, ou Maduro não consegue fraudar e vai para o golpe explícito.

Para a Jovem Pan, não existe a hipótese "Maduro ganha". Resta saber por qual motivo a rádio não aproveita para propor que as pesquisas (deles) substituam as eleições.

Num terceiro programa, as apresentadoras reclamaram que Maduro vai continuar governando, porque - como sempre - ele vai fraudar as eleições.

Quando e onde ocorreram fraudes nas eleições passadas? As apresentadoras não informaram, pois para elas Maduro é um ditador e, portanto trata-se de um axioma: eleição ganha por Maduro é fraude.

Em todos os programas, ouvi diferentes tipos de reclamações contra o Brasil, contra Lula, contra Celso Amorim e contra o PT, além de muita deturpação acerca do discurso onde Maduro fala em banho de sangue.

Nos três programas que ouvi, ninguém lembrou que a fala de Maduro foi similar ao que disse Macron, contra quem não se ouviu grita similar. 

Talvez em francês e ditas por um direitista, certas coisas fiquem aceitáveis, vai saber.

A frase de Macron está aqui: Macron alerta sobre risco de “guerra civil“ a medida que eleições se aproximam | CNN Brasil

Resumo da ópera: para a turma da Jovem Pan, só há um resultado reconhecível.

E querem que o governo brasileiro entre nessa onda. Pois, na hipótese de Maduro ganhar, o Brasil é peça essencial para impedir o que a direita sonha em fazer na Venezuela.

Maduro vai ganhar? Depende de pessoas como as que aparecem na foto abaixo. Espero que elas tenham êxito.






 

terça-feira, 23 de julho de 2024

O PCO & Trump

Que setores da esquerda passam o pano nos Democratas, isso já sabíamos.

Mas que setores da esquerda passam o pano em Trump, isso apenas suspeitávamos.

Refiro-me ao PCO, mais precisamente ao texto que pode ser lido no seguinte endereço: 

https://causaoperaria.org.br/2024/o-entusiasmo-com-a-politica-genocida-do-partido-democrata/

Segundo o referido texto, o medo com Trump é produzido por uma "campanha da burguesia, do grande capital"

O texto diz ainda que "por mais negativa que seja a figura de Donald Trump, (...) há uma operação em curso para impedir que o republicano seja eleito. E que parte fundamental dessa operação consiste justamente em apresentar Trump como uma “grande ameaça”, em persegui-lo judicialmente e, até mesmo, em tentar freá-lo por meio de atentados. A polarização entre Trump e Biden, neste sentido, não expressa uma polarização entre o conjunto da população norte-americana e a extrema direita" (...) mas sim uma polarização "entre o chamado “Estado profundo” – a CIA, o FBI, o Serviço Secreto etc., controlado pelos grandes monopólios industriais e financeiros dos Estados Unidos – e a candidatura confusa de Donald Trump, que reúne de supremacistas a setores da classe operária, mas que expressam uma insatisfação com a política oficial do Estado norte-americano".

Repetindo, a definição do PCO sobre a candidatura Trump é a seguinte: uma "candidatura confusa".

Esta definição do PCO não é confusa. É monstruosa. 

Trump e Kamala, assim como a cúpula dos dois grandes partidos (Democratas e Republicanos), expressam o ponto de vista de diferentes setores da classe dominante estadounidense.

Trump não é candidato de "supremacistas a setores da classe operária"; Trump é candidato de uma parte da classe dominante, defende posições fascistas, disputa com Biden para saber quem apoia mais o genocídio de Israel contra a Palestina etc.

Quem está "confuso" não é Trump. Confuso está quem ainda não percebeu para onde vai o PCO. 

Ou melhor dizendo: onde já está o PCO, que além de flertar com o bolsonarismo, flerta também com Trump.

Para não dizer que não falei de flores, alerto que o PCO me atribui uma frase que não é minha.

No texto do PCO está dito o seguinte: Pomar apresenta o problema da seguinte maneira: “calma, não vamos comemorar ainda porque não é certo que Trump será derrotado”.

As aspas são indevidas, pois eu não disse a frase que está entre aspas. E, dado o contexto, elas servem para sustentar uma interpretação mentirosa acerca do meu ponto de vista.

Portanto, estas aspas não são um equívoco desmotivado, são uma fraude proposital.

O que eu disse e repito é que, do ponto de vista da política brasileira, a vitória de Trump ajuda o bolsonarismo. O que não quer dizer que a vitória de Kamala Harris ajude a esquerda brasileira. Quem quiser ouvir a respeito, pode assistir aqui: 

https://www.youtube.com/live/uvSfOhtgRA8?feature=shared












segunda-feira, 22 de julho de 2024

Comentários acerca do “Sul Global”



Há um intenso debate acadêmico acerca da categoria “Sul Global”. Neste texto, vamos abordar a categoria de outro ângulo: o da política. Meu ponto de partida é uma constatação: hoje, o capitalismo é mais hegemônico do que nunca foi, em toda a sua história. Isto significa que as contradições do capitalismo são mais intensas, hoje, do que nunca foram. E estas contradições são múltiplas. Algumas se manifestam no terreno estritamente nacional. Outras têm abrangência internacional ou mundial. É o caso, por exemplo, da contradição entre o imperialismo e o restante do mundo.

A extração de riquezas produzidas em outras regiões do mundo não é uma novidade. Ela contribuiu para o surgimento do capitalismo. E continua sendo um fator importante, durante toda a história do capitalismo, desde a “acumulação primitiva” até os dias atuais.

Entretanto, o capitalismo mudou, o mundo mudou e a natureza desta extração também mudou. Entre essas mudanças, cito o surgimento dos monopólios, o surgimento do capital financeiro, a exportação de capitais e a decorrente expansão do capitalismo para todas as regiões do mundo.

Em decorrência destas mudanças, a expansão do “imperialismo” no início do século 20 foi qualitativamente distinta da expansão dos impérios coloniais nos séculos XV e posteriores.

Uma das decorrências da expansão do imperialismo foi empurrar o mundo para duas guerras mundiais (1914-1918, 1939-1945). Foi neste ambiente que surgiu o nazifascismo. E foi também nesse ambiente que ocorreram três grandes revoluções: a mexicana, a chinesa e a russa, sendo que as duas últimas deram início à transições socialistas.

Ao término da Segunda Guerra Mundial, o imperialismo seguiu existindo, mas de forma mais contida que antes, por três motivos fundamentais: a existência de um forte movimento socialista, a existência de uma onda de descolonização e a existência de uma onda desenvolvimentista.

A partir dos anos 1980, entretanto, o capitalismo desencadeou uma exitosa ofensiva econômica, política e ideológica contra todos os seus inimigos. E nos anos 1990, o socialismo soviético colapsou, a socialdemocracia liberalizou, o desenvolvimentismo e o pós-colonialismo regrediram.

O resultado global disto foi ampliar a exploração do trabalho, exploração cujos efeitos mais severos afetam a classe trabalhadora dos países periféricos (inclusive quando ela migrava para os países centrais). Além de ganhar maior intensidade, o imperialismo também assumiu outras características.

Entretanto, este “novo mundo imperialista” entrou em crise em 2008. A crise envolve múltiplas dimensões, da ambiental à militar. Do ponto de vista político, o centro da crise está nos Estados Unidos, mais exatamente no declínio da hegemonia dos Estados Unidos, vis a vis a ascensão da República Popular da China. Trata-se de uma crise que pode se estender por muito tempo ainda e os desfechos da crise estão em aberto.

Devemos lutar por uma solução para esta crise, uma solução que preserve a humanidade e que atenda às necessidades e interesses da maioria, ou seja, da classe trabalhadora. Do ponto de vista geopolítico, isto significa que o mundo não pode mais ser controlado pelo capitalismo, muito menos a partir de seu eixo anglosaxão.

Dito de outra forma: se a maioria dos habitantes da Terra quiser elevar substancialmente seu padrão e qualidade de vida, terão que impor uma derrota ao seu respectivo capitalismo, bem como impor uma derrota ao capitalismo imperialista. E se a maioria tiver êxito nisso, haverá tanto uma mudança em direção ao socialismo, quanto um deslocamento geopolítico, com uma redução da importância dos EUA e dos países da Europa; e uma ampliação da importância dos demais países. Há várias maneiras de denominar este conjunto de países, profundamente distintos entre si. Uma destas maneiras é agrupá-los sob a denominação “Sul Global”.

Evidentemente, termos de embocadura geográfica tem dificuldade para expressar determinações políticas, econômicas e sociais. O que precisamos é de uma aliança entre as classes trabalhadoras de todo o mundo, sob a direção política dos setores mais explorados. Estes mais explorados existem tanto no “Sul” quanto no “Norte”. Mas é óbvio que os mais explorados se encontram, principalmente, no “Sul”; assim como vieram do “Sul” os mais explorados que trabalham no “Norte”.

Por outro lado, esta aliança entre as classes trabalhadoras de todo o mundo inclui movimentos, partidos e também governos. E deve buscar alianças com governos que, embora não sejam da classe trabalhadora, estão em choque com o conjunto do imperialismo ou com alguma de suas manifestações. Alguns destes governos estão no “Norte” geográfico, mas a maioria deles encontra-se no “Sul” geográfico.

Portanto, o termo “Sul Global” pode e deve ser utilizado. Mas é preciso ter presente que este termo, assim como “Terceiro Mundo”, “países em desenvolvimento”, “periferia”, “não alinhados” e tantos outros, não são uma descrição científica.











domingo, 21 de julho de 2024

Kamala Harris

Muitas pessoas estão publicando mensagens entusiasmadas acerca de Kamala Harris.

Teve até um ministro de um certo país sul-americano que festejou a renúncia de Biden, ao som do hino gringo.

O que explica tanto entusiasmo?

O fato de ser uma mulher negra disputando? Seguramente isto pesa, numa variante plus das ilusões em Hillary e Obama.

Desconhecimento sobre quem é e sobre o que pensa Kamala? Talvez.

Identificação com a política dos Democratas? É possível.

Viralatice? Sempre tem alguma rondando, infelizmente.

Mas acho que o que explica mesmo o entusiasmo de muita gente é algo mais visceral: o medo.

Há muito medo acerca das decorrências de uma vitória de Trump (inclusive aqui em nosso país).

E, ao menos até ontem, Trump parecia impossível de derrotar.

Agora, depois da renúncia de Biden, parece haver uma chance de Trump ser derrotado.

Se a chance é real ou não, aí é outra discussão.

Mas o medo de Trump é tão grande, que a mera possibilidade de derrotá-lo gera euforia e a euforia gera reações impróprias, digamos assim.

Entretanto, conhecendo os EUA, acho melhor ter prudência.

Derrotar Trump continua sendo difícil.

E na hipótese de Kamala (se for mesmo a indicada) vencer, melhor não vender ilusões.

Ou alguém esquece de quanta besteira se disse acerca do que significaria o governo Biden?

Assim, melhor dominar o medo, pois aconteça o que acontecer nas eleições de novembro nos EUA, o que virá por aí exigirá política acertada, base social e coragem. Muita coragem.








sexta-feira, 19 de julho de 2024

Relato de uma reunião

 Texto publicado na edição de julho do jornal Página 13.

PARTIDO

Relato de uma reunião

Valter Pomar

É impossível contar todos os detalhes da reunião do Diretório Nacional do PT realizada no dia 18 de julho de 2024. Não apenas porque seria muito longo, mas principalmente porque o melhor são os bastidores, que, por motivos óbvios, devem continuar por detrás dos panos. Isto posto, o que segue é apenas um aperitivo.

Começo pelo começo. O Diretório é composto por 94 pessoas, sendo uma presidenta eleita à parte, um presidente de honra e dois líderes de bancadas, no Senado e no Congresso, respectivamente. Os demais 90 foram eleitos por uma das oito chapas que disputaram o congresso de 2019. A reunião do Diretório, no dia 18 de julho, foi híbrida (umas dez pessoas estavam presencialmente em Brasília e os demais entraram por Zoom). Na véspera da reunião, várias pessoas avisaram que não poderiam ir e foram substituídas por suplentes. Apesar da possibilidade de participação virtual e apesar da possibilidade de inscrever suplentes, votações importantes contaram com a participação de um número bem menor que os 94.

Logo na abertura, tivemos um debate e votação sobre a pauta da reunião. Esta pauta incluía três pontos: conjuntura, recursos e substituições. Entretanto, havia uma dúvida acerca do seguinte: o ponto substituições incluía ou não a proposta de tirar Quaquá da vice-presidência nacional do Partido? A proposta de tirar Quaquá já havia sido apresentada e rejeitada na última reunião do Diretório; um dos argumentos utilizados para rejeitar era o de que o assunto não estava na pauta. Para contornar esta objeção, desta vez a proposta foi feita já no dia 2 de julho (ver box). Mas a presidenta e o secretário-geral decidiram não incluir na pauta. O proponente insistiu e o tema foi a voto, depois das respectivas defesas.

A defesa de não incluir na pauta foi feita por Jilmar Tatto, que junto com Gleide Andrade constituem atualmente a “fração dirigente da fração dirigente”, ou seja, os dois principais porta-vozes da tendência Construindo um Novo Brasil. O resultado foi 26 votos a favor de não incluir na pauta; 17 votos a favor de incluir na pauta; e sete abstenções. Não vamos aqui listar os nomes de quem votou no quê, mas recomendamos perguntar aos que votaram.

Por benevolência da presidência da reunião, o próprio Quaquá falou após a votação. Para variar, utilizou a sua fala para ofender pessoalmente quem discorda dele, como já fez várias vezes no grupo de zap do Diretório Nacional, num tom desqualificado, violento e preconceituoso. De substantivo, Quaquá não contou se vai ou não aceitar o convite para ser testemunha de defesa dos Brazão, mas, se depender do que disse e de como disse, é possível que sim. E, se isto acontecer, a maioria do Diretório Nacional do PT confirmará mais uma vez ser adepta de Adam Smith: mesmo avisados que VDM, preferem “deixar fazer, deixar passar”.

Vencida a preliminar, o Diretório passou a escutar a apresentação dos seis textos que foram inscritos para o debate. A inscrição ocorreu na véspera da reunião e, portanto, a maioria dos integrantes do Diretório conhecia, no máximo, o texto assinado por sua própria tendência. Os textos apresentados foram subscritos pelas seguintes tendências: texto 1, Movimento PT + Tribo; texto 2, Articulação de Esquerda; texto 3, Resistência Socialista; texto 4, Democracia Socialista + Militância Socialista; texto 5, Construindo um Novo Brasil; texto 6, Avante + Socialismo em Construção. O texto da Articulação de Esquerda e os demais podem ser lidos aqui: https://pagina13.org.br/contribuicoes-ao-diretorio-nacional-do-pt-de-18-de-julho/

Além desses seis textos, os integrantes da tendência O Trabalho – que se apresentam às vezes como do Diálogo e Ação Petista – apresentaram três emendas ao texto da CNB, que, segundo eles, seria o texto vencedor, daí a “economia processual” – que a meu ver tem outro nome.

A apresentação do texto da Articulação de Esquerda foi feita pelo autor destas linhas. O áudio da minha fala foi disponibilizado pelo podcast Em tempos de guerra, a esperança é vermelha na edição de 19 de julho. Do texto da AE, destaquei os pontos a seguir citados.

Primeiro, que “a principal tarefa do Partido dos Trabalhadores nas próximas semanas é disputar e vencer as eleições municipais de 2024. Trata-se de criar as condições para melhorar a vida da população por meio da presença de petistas e aliados a serem eleitos(as) para as câmaras municipais e as prefeituras. Trata-se, igualmente, de derrotar as candidaturas de direita e extrema-direita que procuram eleger-se para atender a seus próprios interesses e aos das classes dominantes e oligarquias locais. Trata-se, portanto, de acumular forças para as grandes batalhas já em curso, e que devem se aprofundar, em torno do destino do Brasil. Neste sentido, reafirmamos a importância de as campanhas eleitorais combinarem a defesa de propostas municipais com a defesa do governo Lula e de nossas propostas para o país”.

Segundo, que “as pesquisas de opinião revelam que o apoio ao nosso governo e às nossas políticas segue mais ou menos no mesmo patamar desde as eleições de 2022. Tendo em vista o tempo transcorrido desde nossa vitória e as imensas diferenças entre nosso governo e o anterior, era de se esperar que estivéssemos em melhor situação. Dentre as muitas medidas necessárias para melhorar rapidamente a situação, destacamos duas: um salto de qualidade nos investimentos públicos e outro na política de comunicação. Noutras palavras, trata-se de, simultaneamente, melhorar a vida e elevar a consciência política da população”.

Terceiro, que, para dar salto nos investimentos públicos, “é preciso superar as limitações presentes no Marco Fiscal”. Detalhe importante: logo depois que terminou a reunião do Diretório, fomos informados publicamente acerca dos bloqueios e contingenciamentos anunciados por Haddad e Tebet com a anuência do presidente Lula.

Vale citar que, na reunião, Haddad recebeu – de dois oradores da CNB – elogios imensos, a ponto de um deles propor uma nota de solidariedade, pois, na opinião dele, Haddad estaria sendo submetido a uma operação de desgaste equivalente à sofrida por Lula e Dilma. A proposta está relacionada à ideia, amplamente difundida, de que Haddad é potencial candidato à Presidência da República; não ficando claro como lidar, simultaneamente, com a condição de presidenciável e com as decorrências do déficit zero.

Quarto destaque feito a partir do texto da AE: que “o governo e seus líderes no Congresso precisam tomar lado em todas as grandes questões; e precisam compreender que a pior derrota é aquela em que silenciamos nossa verdadeira posição”.

Quinto, que “o PT propõe que o governo brasileiro rompa relações diplomáticas e comerciais com o Estado de Israel e que interrompa todos os convênios existentes com aquele país”.

A esse respeito, transcrevo aqui mensagem que nos foi enviada – depois da reunião – por um companheiro de Santa Catarina, a partir de um artigo de Clara Matei no Il Fatto Quotidiano de 18 de julho: “a revista médica Lancet acabou de divulgar uma estimativa conservadora com mais de 186 mil mortes em Gaza, 8% da população pré-bélica; número que é destinado a aumentar dado o nível apocalíptico de destruição: hospitais em escombros, pomares e campos reduzidos a pó, recursos hídricos contaminados; lixo e detritos em uma faixa de terra hiperpoluída; 20 milhões de órfãos e meio milhão de pessoas deixadas para morrer de fome com o bloqueio das ajudas humanitárias; contínuos bombardeios às escolas da ONU que acolhem os refugiados, 70% das quais destruídas nos últimos 10 dias, matando centenas de crianças. Enquanto isso, a CNN dispensa todos os seus apresentadores árabes, suspeitos de darem exagerada atenção ao caso; o Congresso dos EUA aprova uma norma que veta ao Departamento de Estado citar as estatísticas dos mortos fornecidas pelo Ministério da Saúde de Gaza; o American Israel Public Affairs gasta US$ 15 milhões para fazer Jamaal Bowman capitular nas primárias do Partido Democrata; de sua parte, nos últimos 10 meses, o Congresso dos EUA aprova US$ 12,5 bilhões em ajuda militar que se traduzem em ganhos garantidos para uma rede de 50 multinacionais que participam do massacre em Gaza, da General Motors a Google; e, no dia seguinte à invasão terrestre de Gaza, Israel concede 12 licenças de exploração de jazidas de gás para multinacionais, entre elas a British Petroleum”.

Além de destacar, do texto da AE, os cinco pontos acima citados, o autor destas linhas aproveitou para fazer críticas ao texto da CNB. Meio na brincadeira, meio não, um companheiro da CNB reclamou desta atitude, dizendo que o tempo de apresentação devia ser utilizado apenas para apresentar o próprio, não para criticar os textos de terceiros. Talvez ele tenha razão no plano da formalidade, mas, tendo em vista que nosso objetivo não é cumprir o ritual burocrático, mas, sim, debater, é melhor aproveitar o tempo para colocar logo o dedo nas feridas.

Para começo de conversa, uma questão de proporções. O texto da CNB tem 2.520 palavras. Destas, pelo menos 874 palavras são uma relação de feitos positivos do governo. Como disse o apresentador do texto da CNB e um de seus autores, “eu não consigo não ser governista”. A definição é precisa: no Diretório do PT, há dois tipos de pessoas, há as que defendem o governo e há as governistas. Governistas são aqueles que esquecem que o excesso de velas põe fogo na igreja.

Claro que estamos de acordo em destacar os inestimáveis avanços promovidos pelo governo. Mas sem exageros. Dois exemplos de exagero.

Exemplo 1: o texto da CNB fala o seguinte: “A recente regulamentação da reforma tributária na Câmara, a despeito de correlações de forças majoritariamente desfavoráveis, também representa um grande passo para toda a sociedade na direção de um país mais justo e igualitário”. Isto é um exagero: a reforma tributária em aprovação não é um “grande passo”, assim como a anterior também não foi.

Durante a reunião, na tentativa de responder a esta crítica, duas pessoas da CNB reafirmaram que “dada a correlação de forças, foi um grande avanço”. Suponhamos que isto fosse verdade. Mesmo assim, isso quer dizer que, dada a correlação de forças, tivemos avanços e obviamente tivemos derrotas. Por qual motivo o texto da CNB só fala dos avanços e não fala das derrotas? A resposta está em Ricupero: falar do que é bom e esconder o que é ruim. Os amigos governistas esquecem que Ricupero pôde fazer isso e mesmo assim apenas por algum tempo, basicamente porque tinha a Globo et caterva do seu lado. Nós, que não temos nem Globo nem caterva, somos obrigados a sempre explicar tudo para o povo, não apenas os avanços, mas também as derrotas.

Exemplo 2: o texto da CNB fala que “o salário-mínimo subiu acima da inflação pelo segundo ano, o que já produziu o maior aumento da renda média per capita da história (11,5% em 2023). Do mesmo modo, 87,3% dos reajustes salariais negociados em maio ficaram acima da inflação”. Mesmo que a afirmação fosse exata, ainda assim seria preciso lembrar que o valor do salário-mínimo pós-golpe de 2016 estava tão defasado, que um aumento pode ser ao mesmo tempo estatisticamente imenso, mas pequeno em termos absolutos.

Citando informações disponíveis no site do governo e noutras páginas, se verifica que “o salário-mínimo, que até 30 de abril de 2023 era de R$ 1.302, foi reajustado em 1º de maio para R$ 1.320 mensais”. Portanto, mais 18 reais, O “valor do salário-mínimo em 2024 no Brasil é de RS 1.412,00. Este valor representa um aumento de 7,7% em relação ao salário-mínimo anterior, que era de R$ 1.320,00.” Portanto, 92 reais. “Recentemente, o governo anunciou uma proposta de atualização do salário-mínimo para o ano de 2025, elevando o valor para R$ 1.502”. Portanto, 90 reais.

Durante o debate, um integrante da CNB falou – longe do microfone – que os críticos estavam subestimando a imensa diferença que faz para o povo este valor aparentemente tão pequeno. Os críticos estariam subestimando, também, o efeito multiplicador: um valor pequeno, na mão de muita gente, vira um valor muito grande. Na verdade, o cidadão da CNB que disse isso subestima é a inteligência dos críticos. Primeiro, é óbvio que sabemos do efeito multiplicador. Sabemos tanto, que queremos que o aumento seja maior, para que o efeito multiplicador seja muito maior, inclusive porque temos pressa. Segundo, ao ouvir esse tipo de demagogia, lembro de Lula perguntando, numa reunião do Diretório Nacional, quantas pessoas ali presentes recebiam até dois salários-mínimos. O silêncio que se seguiu a esta pergunta foi quebrado por um comentário jocoso, que alguém fez em voz alta: “tem que perguntar, também, quantos trabalham em empregos normais”. Existe um problema de classe na, digamos, paciência com que alguns setores do DN enfrentam certos debates e situações. A vida relativamente acomodada de alguns, mais uma visão política baseada na ditadura da correlação de forças, explica como percebem certas urgências do povo.

Outra passagem do texto da CNB, criticada no debate, lembra que “87,3% dos reajustes salariais negociados em maio” teriam ficado “acima da inflação”. Foi lembrado aos amigos da CNB que nosso governo teve uma postura diferente ao negociar, como vimos no caso da greve do ensino público federal, quando, em 2024, se chegou a conceder reajuste zero nos salários (embora, às vezes, aumentando benefícios). Aliás, registre-se que o texto da AE elogia a atitude da Comissão Executiva Nacional do PT, no sentido de buscar uma saída negociada e respeitosa para a greve do ensino público federal.

Um dos principais problemas da resolução da CNB é que eles parecem não acreditar que caiba, ao Partido, apontar os graves problemas do governo. Alguns defendem esta tese com uma ênfase que lembra certos comissários dos tempos de Brejnev: aliás, um dos porta-vozes deste ponto de vista estudou mesmo na URSS, neste período. Outros defendem esta tese por razões práticas: consideram que uma crítica vinda do PT, nesse contexto eleitoral e de polarização, pode contribuir com os ataques do inimigo. E pode mesmo, isso deve ser reconhecido e não pode ser minimizado. Mas acontece o seguinte: nosso governo tem problemas. Se o Partido não fala deles, não armamos nossa militância para enfrentar as críticas feitas pelo povo e pela oposição. Os problemas não desaparecem se deixarmos de falar deles. E tampouco desaparecem se exagerarmos nos elogios.

Além disso, cabe perguntar: quando sair o resultado das eleições municipais de 2024, se o resultado for mais negativo que positivo, este resultado vai ser creditado a quê? Aos erros do Partido, que supostamente não teria sabido aproveitar o cenário extremamente positivo criado pelo governo? Ademais, se está tudo tão bem, por que as pesquisas ainda mostram o que mostram??

Verdade seja dita, o texto da CNB não desconhece a existência de problemas, embora não fale deles. O texto diz o seguinte: “A conjuntura aponta, no entanto, que é necessário forçar mais a disputa no âmbito da agenda da reforma tributária”. A “conjuntura aponta” é o jeito dissimulado que o texto encontra para falar de alguns dos problemas. No lugar dessa atitude, propomos reconhecer o óbvio: as pesquisas demonstram que marcamos passo; demonstram que estávamos melhor, em março de 2023, do que estamos hoje; demonstram que – se não fizermos o que deve ser feito, com urgência – o nosso resultado nas eleições 2024 poderá não ser o que gostaríamos e muito menos o que seria necessário.

O texto da CNB reconhece, também, que estamos num momento em que o governo é pressionado “pelo capital financeiro e a mídia corporativa para cortar gastos em cima dos mais pobres”. Frente a isto, o texto da CNB defende várias posições corretas. Mas, ao mesmo tempo, comete duas concessões retóricas à posição do capital financeiro.

 Concessão retórica 1: falar que a equipe econômica do ministro Fernando Haddad “priorizou políticas sociais sem abdicar da responsabilidade com os gastos públicos”.

 Concessão retórica 2: criticar o capital financeiro por colocar “em dúvida a capacidade do governo de manter estável a relação dívida pública/PIB”.

No contexto e na forma, são duas concessões retóricas aos neoliberais. O correto seria explicitarmos que existem duas posturas diferentes em relação ao que seja “responsabilidade com os gastos públicos”. Uma delas, a nossa, não adota o termo “gastos” para falar de políticas sociais e, ademais, exige responsabilidade com o atendimento das necessidades públicas.

O correto seria, também, explicarmos que “manter estável a relação dívida/PIB” significa manter estável a transferência de recursos da população em direção e em favor do setor financeiro. Aliás, esta fórmula – manter estável a relação dívida/PIB – foi uma das péssimas contribuições de Antonio Palocci à famosa “Carta aos brasileiros”, contribuição que ajuda a entender por qual motivo alguns a denominaram de “carta aos banqueiros”.

O texto da CNB faz essas concessões retóricas, entre outros motivos, porque uma parte do governo apoia as demandas do capital financeiro e há petistas que estimulam ou deixam estimular esta postura.

O texto da CNB fala, ademais, que “Campos Neto tornou-se o maior entrave ao crescimento do país”. Pergunta: Campos Neto saindo da presidência do Banco Central, o entrave vai desaparecer? O texto da CNB lembra que, “recentemente, o presidente Lula obteve vitórias importantes ao denunciar os efeitos destrutivos dos juros”. Ocorre que, dentre estas vitórias, não esteve ganhar o apoio dos quatro diretores indicados por Lula. Afinal, na mais recente votação, houve aprovação unânime da manutenção da taxa de juros, apesar das corretas e públicas críticas feitas pelo presidente Lula. Ou seja, os quatro diretores indicados por Lula votaram na mesma posição que Campos Neto, “o maior entrave”. Cabe lembrar, também, que a postura de setores do governo nesse episódio foi a de criticar Lula, ou seja, criticar a crítica feita por Lula aos juros altos.

Para não dizermos que não falamos das flores, vale a pena ler o que diz o texto da CNB sobre as redes sociais. A saber: “As redes sociais não são um campo minado para as esquerdas, como ficou demonstrado nos episódios recentes do PL Antiaborto e a PEC das Praias. Em ambas as disputas, a esquerda envolveu a sociedade e saiu vitoriosa sobre a narrativa mentirosa da extrema-direita. O que ficou demonstrado é que é possível fazer a disputa política e vencer, mesmo diante de uma estrutura criminosa que age à revelia das leis e com a o auxílio das Big Techs”.

Mas, como tudo tem seu lado B, chama a atenção um trecho do texto da CNB que vem logo depois do elogiado: “Diante dos efeitos das fake news no país, o enfrentamento à extrema-direita deve perpassar todas as estratégias da disputa política nas eleições municipais deste ano, inclusive em segmentos e temas espinhosos para o Partido”.

Engana-se quem achar que “temas espinhosos” são aqueles que não foram nem ao menos citados no texto da CNB. A saber: o ensino médio, o agronegócio e a reforma agrária.

Sobre o ensino médio, depois de nossa crítica, um dos líderes do governo falou do assunto. Falou, mas não explicou, pois dizer que “era posição do governo” não é explicação. E, sobre o agronegócio, um dos líderes da CNB disse, fora do microfone, a seguinte frase: “para que mexer com eles?”. Assim fica explicada a falta de menção tanto ao agro quanto à reforma agrária.

E quanto à industrialização, tema obviamente estratégico? Salvo engano, fala-se de indústria uma única vez, referindo-se a “modernizar indústria”. Neste caso, curiosamente, o texto da CNB foi econômico nos elogios.

Mas, como já dissemos, o que a CNB considera como “temas espinhosos” são outros temas. Segundo o texto da CNB, seria “preciso incorporar o discurso de defesa da família, mostrar propostas sobre segurança pública, por exemplo, e ampliar o diálogo com os evangélicos”. Como é óbvio, há diferenças importantes – no Partido – acerca de como abordar estes temas. E algumas declarações e posturas vêm revelando que há, em setores da CNB, uma abordagem conservadora desses temas.

Finalmente, o texto da CNB cita ações positivas adotadas pelo Partido, como preparação para a eleição de 2024. E agrega que o bolsonarismo estaria “sem discurso”. Discordamos disso. Não é exato dizer que o bolsonarismo esteja sem discurso. Tampouco é exato dizer que o extremismo de direita foi derrotado no Reino Unido e na França. Na Pérfida Albion, parte do voto conservador “vazou” em direção à extrema-direita. Já na França, a extrema-direita foi a mais votada, embora tenha ficado em terceiro lugar na eleição de parlamentares.

Além de subestimar a extrema-direita, o texto da CNB não lembra que o neofascismo não é nosso único inimigo. O texto da CNB não fala, mas precisamos lembrar que a direita tradicional também é nossa inimiga. Aliás, no Brasil, tanto a extrema-direita quanto a direita tradicional são neoliberais.

Por isso, aliás, antes de “apoiar enfaticamente a proposta apresentada pelo presidente Lula de buscar construir um movimento internacional de países e partidos do Campo Democrático para barrar os avanços do extremismo direitista mundo afora”, devemos definir quem integra o tal “campo democrático”. Biden e Macron, por exemplo, não fazem parte.

Em seguida à apresentação de todos os textos inscritos, houve um debate no qual falaram 12 pessoas, metade delas da CNB. Ao término do debate, aconteceu a votação. O texto da CNB foi aprovado com 31 votos. Os demais textos, somados, obtiveram 41 votos (incluindo duas abstenções, 11 votos no texto do Movimento PT, nove votos no texto da Resistência Socialista, oito votos no texto conjunto da DS e da MS, seis votos no texto da Avante mais Socialismo em construção, cinco votos no texto da AE). O resultado global (31 x 41) confirmando que a CNB é uma maioria cada vez mais relativa.

No momento em que revisamos este texto, a resolução final DN estava sendo votada no grupo de zap do Diretório Nacional do PT, após ter sido formatada por uma comissão de emendas. O texto final, que está publicado nesta edição de Página 13, mantém os principais defeitos do texto originalmente apresentado pela da CNB. Quem quiser detalhes sobre o debate acerca das emendas, pode escutar a edição de 19 de julho do podcast “Em tempos de guerra, a esperança é vermelha”.

Além deste debate político, o Diretório Nacional do PT votou recursos e resoluções organizativas. Sobre elas, demos um relato ao podcast citado anteriormente. A mais importante destas votações teve um efeito mais prático que simbólico: trata-se de uma resolução segundo a qual as decisões sobre o fundo eleitoral serão tomadas “conjuntamente” pela bancada federal e direção partidária. Embora, em caso de divergência, a decisão final caiba ao Diretório, a resolução faz uma concessão simbólica a um princípio que – aceito – vai destruir o PT. Trata-se do princípio segundo o qual teria sido graças à bancada que conquistamos o fundo eleitoral. A verdade é outra. A bancada não foi trazida por uma cegonha, os parlamentares não se elegem sozinhos, não há bancada sem partido. A defesa feita pela presidenta do Partido e os 54 votos a favor desta resolução (houve 18 votos contrários e uma abstenção) revela que cresce, dentro do PT, a posição dos que defendem um partido parlamentar tradicional.

Como a realidade é mais forte que os desejos, o day after da reunião foi o debate sobre o que fazer frente a uma decisão monocrática de um ministro supremo, decisão segundo a qual, no município onde um partido da federação está irregular, nenhum partido da federação pode lançar candidatura. Não sabemos se esta decisão será mantida ou alterada. Nem sabemos o preço político que será pago por alguma alteração. O que sabemos é que, neste caso da Federação, assim como no caso citado anteriormente, é que nosso Partido paga um preço alto demais toda vez que se adapta ao status quo. O PT – se quiser sendo o PT – não pode se submeter ao estilo Capitão Gancho de fazer política.

Valter Pomar é membro do Diretório Nacional do PT.

 

Box

No dia 2 de julho, foi enviado ao Diretório Nacional e ao secretário-geral Henrique Fontana a seguinte mensagem:

Prezado Fontana, escrevo para solicitar a inclusão, na pauta do DN de 15 de julho, a proposta de retirar o Washington Quaquá da vice-presidência do PT. Lembro que a pauta da reunião já inclui alterações no DN e na CEN. Portanto, esta que estou propondo é mais uma alteração. Lembro que o número de vice-presidências não é estatutário, motivo pelo qual o DN pode deliberar a respeito (sem falar que este DN tem deliberado sobre temas estatutários...). Lembro, ainda, que as chapas indicam quem integra a CEN e isto não estou propondo alterar (não proponho retirar Quaquá da CEN, proponho tirar ele da vice-presidência). Lembro, por fim, que cabe ao DN indicar quem ocupa os cargos, portanto é legítimo que o DN delibere a respeito. Isto que falei antes diz respeito, digamos assim, a admissibilidade. Ainda sobre isto, lembro que estou propondo isto pela segunda vez e desta vez em tempo hábil, portanto não se argumente que a proposta chegou encima da hora. Finalmente, não se trata de uma questão ética, mas política. Precedente a esse respeito foi dado quando a chapa da CNB achou por bem retirar a Paola do DN, por razões políticas (para que o processo contra ela não afetasse a imagem do Partido, ou algo assim). Se uma chapa pode fazer isso, o DN também pode. Finalmente, quanto ao mérito, trata-se desta vez das reiteradas declarações que Quaquá tem dado em favor dos irmãos Brazão. A mais recente foi em entrevista concedida por Washington Quaquá para a Hildegard Angel. O Brasil 247 divulgou um recorte, que pode ser conferido aqui:

 https://x.com/brasil247/status/1807355674478903575?t=9OWRq2BlHd6rEl0fSffl6g&s=08

 Nele, Quaquá declara ter “certeza absoluta” de que os Brazão não são culpados pela morte de Marielle Franco. Os Brazão podem não ser culpados? Podem. A acusação contra os Brazão pode estar sendo utilizada para desviar a atenção dos verdadeiros culpados? Pode. Portanto, Quaquá pode estar certo? Também pode. Ele pode estar certo acerca do envolvimento da família cavernicola? Com certeza pode. Mas nada disso explica a defesa que Quaquá faz dos Brazão, cujo protuário é público, notório e indefensável. Neste particular, a postura pública de Quaquá afeta negativamente o Partido ao qual pertencemos. Registro, ainda, que “certeza absoluta” acerca de quem foi o mandante do assassinato de Marielle só tem ou quem foi o mandante, ou quem tem provas “absolutas” sobre quem foi o mandante. Portanto, a ênfase “absoluta” de Quaquá neste caso revela ou que ele sabe muito mais do que diz, ou bazófia de fanfarrão. Seja como for, ao se expor na defesa de dois bandidos contumazes, Quaquá passa a impressão ou de que perdeu qualquer parâmetro, ou de que deve algo, ou de que teme o que ambos possam fazer e dizer, ou que sua tática de disputar o voto do bolsonarismo o está levando longe demais. Aliás, nenhuma das hipóteses é contraditória com as demais. Seja como for, repito que sua conduta afeta negativamente o PT. Por conta disso, mais uma vez apresento, ao Diretório Nacional do Partido, a proposta de que ele seja pelo menos afastado da vice-presidência. Ele poderá continuar falando o que fala, mas não na condição de vice-presidente do Partido. Tenho a "absoluta certeza" de que não dá para assistir calado defesa tão apaixonada dos Brazão, independente do que fizeram ou deixaram de fazer no caso Marielle.

Atenciosamente, saudações petistas, Valter Pomar, 2/7/2024

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Segue resolução aprovada pelo Diretório Nacional, em votação realizada no dia 19 de julho, no grupo de zap do DN, com 49 votos a favor.

Resolução do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores

 

Passados 18 meses deste terceiro mandato do presidente Lula, o país passa por um processo de consolidação de políticas voltadas à reconstrução do país e recuperação de direitos e de soberania. Após o golpe de 2016 e sucessivos ataques do neoliberalismo e da extrema direita aos direitos da população, o Brasil retomou o caminho do desenvolvimento soberano, ao mesmo tempo em que se reposicionou no cenário da geopolítica global, hoje em grande ebulição e mudanças profundas.

 

Apoiamos enfaticamente a proposta apresentada pelo presidente Lula de buscar construir um movimento internacional de países e partidos do Campo Democrático para barrar os avanços do extremismo direitista mundo afora, bem como a agenda de construção de consensos da nossa diplomacia, na direção de um mundo mais multipolar.

 

Destacamos que a defesa da democracia só terá êxito se combinada com a luta contra o neoliberalismo e com a defesa da soberania nacional, parâmetros que também são definidores acerca de quem de fato integra o campo democrático.

 

O cenário ainda se mostra desafiador para o campo progressista, ante a escalada da extrema direita no Brasil e no mundo. Cabe, contudo, destacar, no âmbito regional, os inestimáveis avanços promovidos pelo governo em prol da melhoria da qualidade de vida da nossa população, conquistas que começaram antes mesmo da posse de Lula, com a PEC da Transição, no fim de 2022.

 

De lá para cá, os resultados no campo social são mais do que palpáveis, em uma demonstração inequívoca dos acertos de Lula e da equipe econômica do ministro Fernando Haddad, que priorizou políticas sociais sem abdicar da responsabilidade com as contas públicas:

 

-     O salário mínimo subiu acima da inflação pelo segundo ano, o que já produziu um importante aumento da renda média per capita (11,5% em 2023). Na mesma direção, 87,3% dos reajustes salariais negociados em maio ficaram acima da inflação;

 

-     Após bater a casa dos dois dígitos em 2022, a inflação segue sob controle, dentro da margem de tolerância da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (até 4,5%), na casa dos 4%. Em junho, o IPCA  desacelerou para todas as faixas de renda. Em 12 meses, o menor índice foi entre as famílias de baixa renda (3,66%);

 

-     O país tem a menor taxa de desemprego em 10 anos (7,1%) e um recorde de pessoas empregadas: 101, 3 milhões. Mais de 2,5 milhões de novos empregos foram criados em 18 meses, evidenciado a recuperação do mercado por Lula após a era da precarização de Paulo Guedes;

 

-     O tenebroso inverno de filas do osso na porta dos açougues de todo o país, formadas por 33 milhões de famintos gerados por Bolsonaro, tem sido, progressivamente, deixado para trás. Em 18 meses, 24 milhões de brasileiros já foram resgatados de quadros ultrajantes de insegurança alimentar;

 

-     O consumo de carne aumentou, com o aumento do poder aquisitivo da população e a redução em 6,5% dos preços do produto nos últimos 12 meses. Com inflação sob controle e renda e emprego em alta, a população voltou a consumir itens antes negados por Guedes e Bolsonaro: nos últimos 12 meses, cresceu em quase 8% o consumo de produtos ligados à categoria “sabor e prazer”, como chocolates, doces e bebidas;

 

-     A Lei de Igualdade Salarial, de autoria do governo do presidente Lula,  representa um passo importante na correção de uma injustiça histórica contra as mulheres brasileiras, que recebem salários 22% menores que os homens. Após um ano de sua aprovação, os primeiros Relatórios de Transparência Salarial e de Critérios Remuneratórios mostram que a lei representa um forte avanço para o combate às desigualdades e o fortalecimento do tema nas negociações coletivas;

 

-     A Nova Lei de Cotas, uma conquista histórica das gestões do PT para o nosso povo, acaba de completar dez anos com mudanças importantes no serviço público: ampliação de 20% para 30% da reserva de vagas em concursos públicos e nos processos seletivos simplificados, além da inclusão das populações indígenas e quilombolas;

 

-     Tivemos recordes de beneficiários do Bolsa Família (21 milhões de famílias em junho de 2024);

 

-     Outro recorde foi o de profissionais do Mais Médicos (25.400 em 2023, mais do que o dobro do ano anterior);

 

-     Os recursos para a merenda escolar cresceram 39% em 2023, beneficiando alunos matriculados no ensino básico da rede pública, além de indígenas e quilombolas, crianças na pré-escola e em creches e estudantes em escolas de tempo integral. A escola em tempo integral, indispensável para a estratégia de desenvolvimento do país, terá investimentos de R$ 12 bilhões até 2026;

 

-     O país acaba de testemunhar, no início deste mês, o maior Plano Safra da história. São mais de R$ 476 bilhões em diversas linhas de crédito acessível e com melhores condições, especialmente para o agricultor familiar;

 

-     O programa Pé de Meia, ação de  incentivo financeiro-educacional de R$ 200 para estudantes matriculados no ensino médio público, e que são beneficiários do Bolsa Família, já atraiu mais de 2,5 milhões de estudantes até abril. O programa, fundamental para manter nossos estudantes comprometidos com seu processo de formação na rede pública, já garantiu o pagamento de quatro parcelas até o fim de junho;

 

-     Além disso, o governo garantiu a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até dois salários mínimos por mês (R$ 2.824) a partir de 2025, beneficiando 15 milhões de brasileiros.

 

Do ponto de vista da economia popular e do crescimento do PIB, o Brasil surpreende positivamente:

 

-     O PIB segue em constante revisão para cima, atualmente com projeções que apontam um patamar de 2,5% de crescimento em 2024;

 

-     Voltamos a figurar entre as 10 maiores economias do mundo, com o FMI projetando a oitava posição para o Brasil em 2024;

 

-     Seguimos batendo recorde de exportações, com 165 novos mercados abertos para os produtos nacionais desde o início do mandato do presidente Lula;

 

-     Com efeito, a despeito de uma inaceitável taxa de juros (10,5%), nossa produção industrial cresceu mais do que a média mundial. Em 12 meses, o país ascendeu 23 posições em um ranking de 116 países que mede a atividade e hoje ocupa o 45º lugar;

 

-     O país abriu, entre janeiro e junho, 1,43 milhão de pequenos negócios;

 

-     O Desenrola Brasil permitiu que cerca de 15 milhões de pessoas fossem beneficiadas com a negociação de R$ 53,2 bilhões em dívidas, reduzindo a inadimplência entre a população que mais precisa. Já o Desenrola Pequenos Negócios permitiu um volume financeiro renegociado de mais de R$ 2,1 bilhões até 30 de junho;

 

-     A venda de eletrônicos, eletrodomésticos e portáteis bateu um recorde no 1º semestre de 2024, com um volume superior a 51,5 milhões de unidades comercializadas.

 

Todos esses dados comprovam a decisão acertada de Lula de recuperar, por meio de uma série de programas e ações, a dignidade do povo brasileiro, perdida após anos de desmonte da máquina pública, no projeto ultraneoliberal operado por Bolsonaro. Não é pouca coisa, dadas as condições políticas em que se deu nossa vitória eleitoral e a composição do Congresso Nacional.

 

A recente regulamentação da reforma tributária na Câmara, a despeito de correlações de forças majoritariamente desfavoráveis - e dos importantes limites decorrentes do peso de setores empresariais, do agronegócio, de grupos financeiros e da grande mídia -, também representa um passo para toda a sociedade na direção de um país mais justo e igualitário.

 

A nova cesta básica, que será composta de mais produtos vitais para as famílias de baixa renda, como as carnes, leite e derivados, configura enorme conquista para o povo brasileiro. A conjuntura aponta, no entanto, que é necessário avançar mais na disputa da agenda da reforma tributária.

 

O Partido dos Trabalhadores entende ser inadiável a reforma na tributação sobre a renda, construindo um novo sistema progressivo onde os super-ricos paguem mais e a população que ganha pouco deixe de ser penalizada por uma injusta carga tributária. A taxação sobre os mais ricos, das aplicações em offshores e das casas de apostas, são exemplos de medidas fundamentais para promover uma inédita e necessária justiça tributária no país.

 

Nesse sentido, acerta o governo em isentar quem ganha até dois salários mínimos, corrigindo uma distorção antiga e agravada pelo governo anterior. Mas é preciso seguir em frente para garantir a promessa de campanha do presidente Lula de isentar, até 2026, quem ganha até R$ 5 mil.

 

No momento em que o governo é pressionado pelo capital financeiro e a mídia corporativa para cortar gastos em cima dos mais pobres, é imperioso que o Partido dos Trabalhadores amplifique a firme defesa dos pisos constitucionais da saúde e da educação, recuperados após a superação do famigerado Teto de Gastos, e da vinculação do salário mínimo para pensões e o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Os benefícios, concedidos a idosos e deficientes de baixa renda, garantem recursos essenciais às famílias e são fundamentais ao funcionamento da economia popular.

 

A política de valorização do salário mínimo, e suas vinculações, é uma marca histórica dos governos do PT e deve ser defendida em todas as esferas do debate econômico nacional. O piso mínimo é um farol referencial para todo o mercado de trabalho.

 

Do mesmo modo, o país não pode abrir mão de discutir a desoneração da folha de pagamento, que perpetua um sistema que isenta, em bilhões de reais, setores poderosos do país, em detrimento da população mais vulnerável.

 

Assim como merece uma discussão profunda na sociedade a Medida Provisória nº 1227/2024 , chamada de MP do Fim do Mundo, que limita e corrige distorções na compensação de créditos tributários e de créditos presumidos da contribuição para o PIS/PASEP e a Cofins.

 

Ao lado da extrema direita, o capital financeiro tem intensificado suas manobras para enfraquecer a agenda de defesa dos direitos sociais de Lula. Distorcem falas do presidente e semeiam falácias para alimentar movimentos especulativos com a moeda e os juros, em prejuízo do país.

 

Nesse sentido, cabe ao partido manter a pressão por juros mais baixos. O bolsonarista Roberto Campos Neto tem utilizado a presidência do Banco Central como um bunker para sabotar a economia do país e uma plataforma de articulação político-partidária. Por meio de projeções notoriamente exageradas e especulativas no Boletim Focus, por sinalizações indevidas ao mercado e por declarações totalmente descabidas para a autoridade monetária, Campos Neto e seus juros estratosféricos tornaram-se o maior entrave ao crescimento do país.

 

Recentemente, o presidente Lula fez contundente denúncia sobre os efeitos destrutivos dos juros sobre o poder de compra das famílias. Por causa das entrevistas do presidente para emissoras de rádio nas últimas semanas, mais e mais pessoas começam a entender como a taxa Selic interfere na organização das suas finanças pessoais, o que foi percebido em pesquisas que registram amplo apoio da sociedade às manifestações de Lula.

 

É dever do partido respaldar o presidente, chamando o governo a um maior engajamento nessa batalha e a amplificar a comunicação em temas caros ao campo progressista na disputa política nas ruas e nas redes. Ao mesmo tempo, o governo também deve ampliar o alcance dos seus canais de interlocução com a sociedade, envolvendo todos os ministros na divulgação de ações estratégicas que precisam chegar à população, e não apenas pela voz do presidente Lula. O governo precisa informar à sociedade todas as suas políticas e ações, de forma sistemática, por todos os meios disponíveis.

 

A participação popular, que desde a origem do PT está presente no modo de petista de governar, é insubstituível para fazer com que o programa avance e tenha a marca do povo. Seu desenvolvimento ainda está nos passos iniciais e precisa ser acelerado.

 

Tendo em vista o profundo desmonte do Estado brasileiro na gestão de Bolsonaro, a integração de ações estruturantes de pastas estratégicas para o desenvolvimento soberano do país, no âmbito da gestão de nosso governo, deve ser intensificada no próximo período.

 

É preciso enfrentar a destruição do planeta e a crise climática. O capitalismo, especialmente em sua variante neoliberal, é intensamente predatório ao meio ambiente. A superação desse modelo, portanto, é fundamental para a defesa da civilização e dos direitos da maioria da população da terra. O PT deve estar no centro de um projeto global de nova economia que alia igualdade, equidade, desenvolvimento e sustentabilidade.

 

Um exemplo muito positivo na percepção da sociedade sobre o trabalho do governo federal é o caso da crise ambiental no Rio Grande do Sul. Com a sobriedade exigida pela situação, governo agiu rapidamente, mobilizando todos os ministérios e recursos disponíveis para socorrer o estado e ajudar na sua reconstrução. A seriedade da atuação da gestão federal, que transferiu bilhões de reais para múltiplas ações de socorro imediato ao Sul, foi captada pela população de todo o país.

 

Nunca um governo foi tão eficiente e presente para apoiar a população e a economia da região. A intervenção, a partir de agora, deve ser marcada pelo processo de reconstrução e restauração do dinamismo da economia do estado. Contudo, é preciso que o governo Lula, com o apoio dedicado das universidades e da sociedade civil, construa um novo modelo de desenvolvimento baseado na cooperação entre economia, ciência, planejamento no uso do solo, sustentabilidade ambiental e combate às desigualdades.

 

Também cabe ressaltar que esse resultado positivo – inclusive pelos sinais recentes de retomada da economia no Rio Grande do Sul, - ocorreu em meio à frenética atuação da extrema direita, que tentou lucrar politicamente com a tragédia do povo gaúcho, espalhando mentiras nas redes sociais que prejudicaram, inclusive, o socorro à população.

 

As redes sociais não são um campo minado para as esquerdas, como ficou demonstrado nos episódios recentes do PL do Estuprador e da PEC das Praias. Em ambas as disputas, a esquerda e a sociedade saíram vitoriosas sobre a narrativa mentirosa da extrema direita. O que ficou demonstrado é que é possível fazer a disputa política e vencer, mesmo diante de uma estrutura criminosa que age à revelia das leis e com a cumplicidade das Big Techs.

 

Por isso, o partido deve provocar com urgência o debate sobre a regulamentação dos grandes conglomerados digitais, que lucram bilhões de dólares com a desinformação e a disseminação de mensagens de grupos de extrema direita no Brasil e no mundo. Mais do que nunca é necessário que a sociedade cobre do Congresso Nacional a sua responsabilidade nessa discussão, que não pode ser submetida a conveniências ou disputas de poder dentro da Câmara ou do Senado. Sobretudo após a disseminação da inteligência artificial, cujos impactos sobre as sociedades ainda nem começaram a ser mensurados.

 

É necessário que nosso governo lidere um diálogo amplo com sociedade civil, especialistas e o Congresso para regulamentação do uso das redes sociais e da inteligência artificial. Não é possível que empresas milionárias sigam lucrando com mentiras, desinformação e fake news que geram violências, ameaças às escolas, à vida de crianças, mulheres, negros e negras e contra as instituições democráticas. Além da regulação de conteúdos, é igualmente urgente a tributação das grandes plataformas de redes digitais, que escapam da taxação recorrendo a paraísos fiscais. Com esses tributos, poderemos realizar um grande programa de inclusão digital no Brasil.

 

O enfrentamento à extrema direita deve perpassar todas as estratégias da disputa política nas eleições municipais deste ano, inclusive em temas tradicionalmente manipulados pelo adversário, como a segurança pública, a religiosidade, entre outros.

 

Ao mesmo tempo em que destacamos as tarefas dos petistas que estão no governo, ressaltamos as tarefas do próprio partido. Defendemos o governo Lula e apontamos o que precisa mudar. Por isso, é necessário travar a disputa política e ideológica, a partir dos governos, das bancadas e lideranças partidárias. Fazer a campanha das candidaturas petistas e do campo popular, enfrentando a extrema direita e todos os que defendem o neoliberalismo. Organizando e mobilizando a sociedade, sempre respeitando nossa diretriz, que defende a autonomia dos movimentos frente a partidos e governos. Nesse espírito, destacamos a adequada postura da Comissão Executiva Nacional do PT e das lideranças parlamentares petistas, que buscaram construir uma saída negociada e respeitosa para a greve dos trabalhadores e trabalhadoras do ensino superior público.

 

O partido deve lutar para ampliar a sua base nos municípios e preparar o terreno para a disputa de 2026. Nesse sentido, a Conferência Eleitoral de 2023 fortaleceu estratégias importantes para a formação das candidaturas do PT no pleito deste ano. Cabe frisar a nossa prioridade em fortalecer candidaturas nas capitais e cidades com mais de cem mil eleitores, com o GTE dialogando com a Federação Brasil da Esperança na construção de candidaturas vitoriosas da legenda e de aliados nas capitais e principais cidades do país.

 

Nas eleições municipais, não apenas devemos lutar para aumentar nossa representação nas Câmaras Municipais, fortalecendo, na nossa representação, a diversidade do povo brasileiro: mulheres, negros, indígenas, pessoas LGBT, trabalhadores e trabalhadoras das camadas historicamente excluídas da política nacional.

 

Devemos também lutar para derrotar o bolsonarismo, visto que essa é a batalha central  hoje na política nacional, principalmente nas eleições de 2026. Nesse sentido, temos que fortalecer os candidatos do campo democrático onde for possível no primeiro turno mas, principalmente, no segundo turno.

 

Para isso, o PT investiu na realização de seminários, como o de Finanças, cursos de formação, e na área de comunicação, sobretudo digital. Por meio do fortalecimento de suas ferramentas de comunicação, a Casa 13 foi reestruturada. As cartilhas elaboradas pela Fundação Perseu Abramo (FPA), com contribuições aos programas de governo municipais dos candidatos do partido, também têm sido essenciais para a disputa política.

 

Todos esses instrumentos serão fundamentais para barrar o bolsonarismo e o discurso de ódio e desinformação da extrema direita em outubro, ao lado de um participação mais efetiva das lideranças e ministros do partido, bem como do presidente Lula, em uma agenda nacional de eventos municipais.

 

Os desdobramentos dos escândalos envolvendo Bolsonaro e sua família, como o desvio das joias e a espionagem da Abin em seu desgoverno, empurram o bolsonarismo para a defensiva, mas isso nem de longe recomenda baixar a guarda diante do adversário. Na falta de argumentos políticos e diante dos avanços na economia popular, a extrema direita recorrerá cada vez mais fortemente à mentira e à manipulação da assim chamada pauta de costumes que é, na realidade, a pauta do ódio, da discriminação e do preconceito.

 

No cenário internacional, o Partido dos Trabalhadores condena veementemente o genocídio promovido por Israel sobre o povo palestino. Por isso, apoiamos os pedidos do presidente Lula por um cessar-fogo imediato na região.

 

De acordo com a revista médica Lancet, a fúria assassina de Netanyahu já causou 186 mil mortes em Gaza, 8% da população pré-bélica,mero que deve crescer, dado o nível apocalíptico de destruição: hospitais em escombros, pomares e campos reduzidos a pó, recursos hídricos contaminados; lixo e detritos em uma faixa de terra hiperpoluída; 20 milhões de órfãos e meio milhão de pessoas deixadas para morrer de fome com o bloqueio da ajuda humanitária.

 

O partido também repudia a decisão do Parlamento de Israel, o Knesset, de se proferir contra a criação do Estado palestino, uma vez que o Brasil e outros 142 países membros da ONU reconhecem o território palestino como Estado soberano. Em maio, Espanha, Noruega e Irlanda também anunciaram que reconhecem a Palestina como um Estado independente.

 

As recentes derrotas eleitorais do extremismo de direita no Reino Unido e na França, assim como no México, trazem lições valiosas ao campo progressista latino-americano: o enfrentamento político, amparado por uma ampla articulação em defesa da democracia, deve ser o único caminho para a libertação das minorias.

 

É dever do Partido dos Trabalhadores fazer este enfrentamento, sempre mantendo seus canais de interlocução com a militância para ampliar nossa base de organização popular, por meio da defesa de políticas públicas essenciais à cidadania e da economia popular. Só assim será possível construir os alicerces de um novo Brasil, melhor, mais democrático e mais justo.

 

VIVA O POVO BRASILEIRO! VIVA O PARTIDO DOS TRABALHADORES!