Sei quem é
Riobaldo Tatarana: personagem principal de Grande Sertão Veredas de Guimarães
Rosa.
Viver é
perigoso, dizia Riobaldo.
Mas eu não
sei quem é Riobaldo Tartarana (sic), autor de artigos publicados no blog www.marxismo.org
Debater é
perigoso, deve pensar este outro Riobaldo.
Discordo
dele: acho ótimo que vivamos num ambiente de certa liberdade democrática, que nos
permite debater abertamente e de cara limpa todas as questões.
Digo certa
liberdade, porque o ocorrido ontem no Paraná é um lembrete dos limites destas
liberdades democráticas.
De toda
forma, mesmo sem saber quem é ou mesmo se existe, se é um nome de guerra ou um
apelido coletivo, vou tentar responder ao texto intitulado “Fica Valter Pomar.
Enquanto isso, trabalhadores e jovens dizem adeus”.
O link e a
íntegra deste texto estão ao final.
Quem tiver
interesse em ler os momentos anteriores deste debate, aqui estão os links.
Deixando de
lado os floreios e indo direto ao ponto: não concordo que sair do Partido dos
Trabalhadores seja uma solução para a situação que estamos vivendo.
Quem quer
anular, destruir, interditar, criminalizar e cassar o registro do PT é uma
parcela importante da direita, do oligopólio da mídia e do grande capital.
Os inimigos
de classe querem acabar com o PT. E contam com a ajuda indireta daqueles
setores do próprio Partido que adotam uma linha política e um comportamento
equivocado.
A EM &
Riobaldo só consideram um aspecto do problema: os erros cometidos pelo setor
que hoje é majoritário no Partido. E desconsideram e/ou minimizam o outro
aspecto: os objetivos do nosso inimigo de classe.
Neste seu
texto, o inimigo de classe tem papel secundário. Quem aparece com destaque é o
PT ou o governo, apresentados como instrumento direto ou indireto deste inimigo
de classe.
Partindo
deste ponto de vista e não considerando os vários aspectos do problema, cometem
o seguinte equívoco: para tentar derrotar a “direita do PT”,
fazem o jogo da direita contra o PT.
Incapazes de
dizer para onde vão depois que decidiram sair do PT, EM & Riobaldo
apresentam o seguinte álibi: não tem mais cura, não tem mais retorno, não tem
mais o que salvar, o novo não nasceu mas o velho já morreu, o melhor que
podemos fazer é guardar distância do cadáver fedorento.
Até agora
foram palavras minhas.
Vamos
reproduzir agora o que diz Riobaldo: “A decisão da Esquerda Marxista de saída
do PT está centrada no fato de que os jovens já abandonaram o partido há um bom
tempo e os trabalhadores seguem o mesmo caminho”.
Parte
importante da classe trabalhadora nunca foi petista, nunca votou nas
candidaturas do PT, nunca seguiu as orientações das organizações de massa
dirigidas pelo PT, mantendo-se na órbita de influência da direita. É por isto,
aliás, que as candidaturas presidenciais do PSDB arrecadam dezenas de milhões
de votos.
Outra parte
da classe trabalhadora mantém uma relação instável com o PT, estando sob
disputa.
Finalmente,
há uma parte da classe que mantém uma relação de apoio ao Partido dos
Trabalhadores.
Se tomarmos
1980-2001, 2002-2010 e 2010-2014 como pontos (aproximados) de observação, o que
podemos concluir?
Entre 1980-
2001 o primeiro e o segundo grupo (os contrários
e os em disputa) reuniam a maior
parte da classe, mas a tendência era de crescimento
dos apoiadores.
Entre
2002-2010, o segundo e o terceiro grupo (os em disputa e os leais) reuniam a
maior parte da classe, mas a tendência continuava sendo a de crescimento dos apoiadores.
Entre 2010-2014
o primeiro e segundo grupo (os contrários e os em disputa) voltaram a ser
maioria. E a tendência passou a ser de ampliação
dos contrários, com redução acentuada dos apoiadores e dos em disputa.
Dito de
outra forma: a redução da influência do PT é acompanhada do crescimento da influência
da direita, do oligopólio e do capital. Este “detalhe” some da análise feita no
artigo da EM & Riobaldo.
Ou melhor:
os fatos são apresentados como se o afastamento em relação ao PT fosse o
crescimento de uma crítica de esquerda. E isto é simplesmente falso.
Claro que
parte dos que saem do PT vão para grupos que estão à esquerda do PT. Mas isto
se dá nos marcos de uma redução geral da influência da esquerda.
Ou seja: o
percentual de trabalhadores que são influenciados pela esquerda diminui, mesmo
quando o percentual de militantes que estão à esquerda do PT possa crescer.
Fenômeno que
--- no caso da juventude – também ocorreu na segunda metade dos anos 1960:
cresceu a radicalização na vanguarda da juventude (contra as posições oficiais
do PCB) ao mesmo tempo em que crescia o conservadorismo político no conjunto da
juventude. O que fez a vanguarda da juventude se radicalizar na contramão do
comportamento da massa.
O que
descrevemos acima, relativo a classe trabalhadora, ocorreu também com outras
classes e setores sociais. E se não podemos falar de trabalhadores em geral,
menos ainda podemos falar de juventude em geral.
O comportamento da juventude
trabalhadora e dos jovens filhos/as de trabalhadores apresenta uma dinâmica
diferente do comportamento da juventude vinculada a outros setores sociais.
Exatamente por
que analisam equivocadamente o comportamento e o estado de ânimo dos vários
setores da classe e da juventude, a EM & Riobaldo rejeitam a importância da
reforma política.
Pelos
motivos que expus acima, considero que o principal erro da EM & Riobaldo não
está nas críticas que fazem ao PT.
Aliás, parte
do que eles dizem, até Lula diz.
O principal
erro da EM & Riobaldo não está nos “detalhes”, está no conjunto da obra, na
visão equivocada que eles têm sobre o estado da arte da luta de classes no Brasil.
É esta visão de
conjunto que os leva a sair do PT. Não o balanço que eles fazem do PT.
Mas como é
difícil sustentar a visão idílica que eles têm acerca da luta de classes como
um todo, Riobaldo & EM optam pelo caminho mais fácil: a crítica aos
defeitos do PT.
Neste
sentido, a referência que Riobaldo faz a Lênin é mais do que reveladora: “Estar
ou não em um partido, para os revolucionários, não tem relação direta com a
quantidade de erros e traições da direção desse partido (Lenin, por exemplo,
aconselhou os comunistas ingleses a intervirem no Partido Trabalhista, por
conta da ligação desse partido com o movimento operário, mesmo os trabalhistas tendo
apoiado sua burguesia na 1ª Guerra Mundial). A intervenção dos marxistas em um
partido está ligada à relação que ele tem com os jovens e trabalhadores. O
quanto ele segue sendo uma referência para as lutas dos oprimidos pelo
capitalismo. E convenhamos, o PT não consegue atrair e mobilizar as massas para
nenhum combate mais, aliás, a direção do PT, por sua política, teme as massas
nas ruas. É por isso que mesmo quando atacado, não convoca mobilizações na base
para defender o partido”.
Pelo visto,
Riobaldo acha: 1) que os trabalhistas de então tinham mais “ligação com o
movimento operário” do que o PT possui atualmente; 2) que os trabalhistas de
então eram “uma referência para as lutas dos oprimidos pelo capitalismo” maior
do que a do PT atualmente.
Recomendo a
Riobaldo reler a literatura a respeito, pois suspeito que ele está equivocado.
Mas o
principal equívoco não exige ler terceiros, basta reler o que o próprio
Riobaldo acabou de escrever.
Segundo
Riobaldo, “o PT não consegue atrair e mobilizar as massas para nenhum combate
mais, aliás, a direção do PT, por sua política, teme as massas nas ruas. É por
isso que mesmo quando atacado, não convoca mobilizações na base para defender o
partido”.
Mesmo supondo
que isto fosse verdade (e não é: basta pensar na greve dos professores de SP ou
nas ações da CUT contra o PL 4330, todas conduzidas por petistas), mesmo
relevando a confusão que Riobaldo faz entre o PT e determinados dirigentes,
ainda assim cabe perguntar: “a intervenção dos marxistas em um partido está
ligada à relação que ele tem com os jovens e trabalhadores” ou está
ligada à capacidade de “atrair e mobilizar as massas para (o) combate”?
São coisas
diferentes. As vezes, estar ligado à classe exige evitar
alguns combates. A não ser que acreditemos que a maioria da classe está
sempre
mobilizada para o combate...
O fato é que
Riobaldo afirma (com Lênin) uma idéia certa (relação permanente) para
logo em seguida deslizar para uma idéia errada (combate permanente).
Este
deslizamento está vinculado ao que disse antes: é uma visão de conjunto que os
leva a sair do PT. Não o balanço que eles fazem do PT.
É também
esta visão de conjunto que faz Riobaldo & EM defender uma política de
alianças... sem alianças, estigmatizando qualquer aliança como “colaboração de
classes”.
Acredito que
Riobaldo, seja lá quem for, estava no congresso do PT em que Rui Falcão, em
defesa da “prioridade para o PMDB”, pediu a delegados e delegadas que
derrotassem a proposta de resolução que falava em aliança prioritária com os
partidos e setores de partidos que defendem o programa democrático e popular.
Em nossa
opinião, esta política continua justa: o problema da atual política de alianças
do PT não está na presença do PMDB, mas no papel dado ao conjunto do PMDB, que
abriu espaço para que este partido hoje controle a vice-presidência da
República, a presidência do Senado e da Câmara.
Por isto
defendemos que o PT deve construir um campo de alianças prioritário com os
partidos e setores democráticos e populares.
Riobaldo
acha que isto é vago, mas Rui Falcão não achou nada vago e tratou de derrotar
nossa proposta, pois sabia que na prática nossa posição poderia conduzir a uma
ruptura com o PMDB.
Para além
das alianças eleitorais, há um tema mais amplo: houve “colaboração de classes”
quando o PMDB não estava no governo, continua havendo com o PMDB no governo e
haverá “colaboração” sempre e quando a classe trabalhadora precisar fazer
alianças com setores inimigos.
A questão é:
estas alianças devem ser rejeitadas sempre? Ou são necessárias em determinadas
circunstâncias?? Toda aliança é “colaboração” no mal sentido da palavra???
Achamos que
em determinadas circunstâncias alianças são necessárias. Quem não entende isto
pode se achar marxista, mas não passa de maximalista.
Exatamente
por ser um governo de coligação (de partidos e de classes), o governo Lula e o
governo Dilma não são nem nunca foram “petistas” nem “de esquerda”.
Como são
governos de coalizão, os governos Lula e Dilma aplicaram e aplicam políticas
que também interessam a setores da burguesia.
Mesmo assim,
tais governos merecem ser defendidos sempre e quando eles estiveram em
conflito com a fração dominante do capital, do oligopólio da mídia e da direita
oposicionista, para não falar do imperialismo.
Riobaldo &
EM sabem disto, pois estiveram no PT de 2003 até 2015. E não me consta que
tenham defendido a ruptura do PT com o governo. E pediram voto em Dilma e Lula
em todas as eleições.
Portanto, é
bastante curioso que só agora considerem que “a política deste governo é
indefensável do ponto de vista marxista, de independência de classe”. Antes
não?
Oportunista
não é quem aceita cargos em ministérios ou estatais. Oportunista é quem defende
uma política que não é baseada em princípios, que não tem coerência com nossa
ideologia e estratégia.
Pergunto de
novo: se agora o governo Dilma é “indefensável”, como caracterizar a
política de quem participou de um partido que apoiou governos similares
entre 2003 e 2014??
É fato que o
governo foi à direita em 2015. Mas o governo não é o PT e o PT não é a direção
nacional do PT. Quem quer que esteja participando das atividades partidárias
sabe que existe disposição de reagir e de mudar a linha. Exemplo disto tem sido
a atitude da direção da CUT, que é majoritariamente petista e majoritariamente
vinculada às tendências moderadas do PT. Sair neste momento pode ser revelar um
erro similar aos que saíram no segundo turno do PED de 2005.
As
tendências moderadas do PT ainda são amplamente majoritárias entre os trabalhadores
organizados. Basta comparar os votos da EM no congresso da CUT com os votos da
Articulação Sindical. Sair do PT não contribuiria em nada para mudar a linha
política destes setores da classe trabalhadora organizada.
Ironicamente,
ainda que do jeito errado, foi isto que a EM tentou fazer no debate acerca do chamado
mensalão. Adotaram uma linha errada, mas a motivação era digamos justa. Agora,
que a burguesia dobra a aposta em relação ao que fizeram em 2005, agora em que
a CUT adota uma postura melhor que a adotada em 2003, exatamente agora Riobaldo
& EM decidem sair do PT...
A direção
nacional da AE está discutindo nossa orientação para a votação das MPs. Minha
posição pessoal é votar contra e espero que seja esta a posição da direção. Mas
fazer do voto de um parlamentar algo mais importante do que a postura de
milhares de dirigentes em todo o país é... cretinismo parlamentar.
Até porque, independente
de nossa postura no parlamento, nossa posição desde o início foi a favor da
retirada das MPs. Veja por exemplo o que está no principal documento aprovado
pelo segundo congresso da AE: “coerente com o compromisso firmado pela
presidenta Dilma Rousseff durante a campanha eleitoral, de manutenção dos
direitos sociais e trabalhistas, o Governo deve retirar as MPs 664 e 665”.
Portanto,
Riobaldo, voce simplesmente não fala a
verdade quando diz que poderíamos “exigir” que “que o governo retirasse as
MPs. Mas vocês não fizeram isso. E continuam sem fazer”.
O texto
citado, caso queira conferir, está aqui:
http://www.pagina13.org.br/pt/um-partido-para-tempos-de-guerra-contribuicao-da-tendencia-petista-articulacao-de-esquerda-para-o-5o-congresso-do-pt/#.VUJMLtJVhHw
Voce
tampouco fala a verdade quando nos ataca dizendo que “não adianta criticar só a
direita, quando a direita está na composição e na política do próprio governo!”.
Basta ler o
documento supracitado para ver que fazemos exatamente esta crítica. A diferença
é que o fazemos para tentar corrigir os rumos do governo, proteger o PT e
defender a classe trabalhadora.
Por fim: ficar
impactado pela situação que estamos vivendo e às vezes pensar que “sair”
poderia ser uma solução é sinal de saúde mental.
Mas sair do
PT seria uma solução para os problemas que estamos vivendo?
Quando
observamos estes problemas sob o prisma da luta de classes, sobre o ângulo da luta
da classe trabalhadora pelo poder, a conclusão é que sair do PT não é solução,
apenas contribuiria para agravar o problema.
O PT é uma das conseqüências de uma situação histórica aberta no final dos anos 1970 e que define até hoje os marcos estratégicos dentro dos quais lutamos.
Se a direita
tiver êxito, se com a inestimável ajuda de uma linha política equivocada o PT
vier a ser derrotado, então veremos o encerramento de um período histórico, mudarão
os marcos em que lutamos pelo poder e, portanto, a estratégia que a maior parte
da esquerda defende hoje não fará mais sentido. Por isso, o
debate sobre o PT não diz respeito apenas ao PT, diz respeito a se vamos
encerrar o atual ciclo histórico com uma radicalização pela esquerda ou com um
retrocesso pela direita.
Setores
importantes da direita, do oligopólio, do grande capital e do imperialismo não
querem apenas a destruição do PT. Querem a destruição, a desorganização, a
desmoralização da vanguarda da classe trabalhadora, vanguarda em grande parte
criada nas lutas do final dos anos 1970. Se a direita tiver êxito, isto levará à
fragmentação da esquerda (como ocorreu depois de 1964).
A direita
pode ter êxito, com a ajuda inestimável dos erros cometidos por setores do
próprio PT. Como diria o (outro) Riobaldo, viver é mesmo muito perigoso. Mas já
que é perigoso, melhor correr perigo fazendo a coisa certa: tentando impedir
que a direita faça aquilo que ela mais deseja neste momento.
SEGUE ABAIXO
O LINK E A INTEGRA DO TEXTO CRITICADO
http://www.marxismo.org.br/blog/2015/04/29/fica-valter-pomar-enquanto-isso-trabalhadores-e-jovens-dizem-adeus
Fica Valter Pomar. Enquanto isso, trabalhadores e jovens dizem adeus.
29/04/2015 - 17:15
Riobaldo Tartarana
O diabo mora nos detalhes, diz um
ditado popular. Assim sendo, Valter Pomar no começo da sua tréplica (veja aqui) ao meu
artigo, ironiza que errei no título do seu texto (e ele tem razão) utilizando
duas letras maiúsculas ao invés de minúsculas.
Mais à frente, veremos alguns outros detalhes, um tanto mais relevantes,
que Valter esquece. O fato central é que continuamos discordando nas avaliações
políticas e ele erra quando me acusa de estar contra a “esquerda marxista” (em
minúsculo).
Valter polemiza com nossas posições, o que é seu direito. Mas também é
meu direito considerar que ele está muito longe do marxismo no método, nas
análises e nas posições políticas.
A decisão da Esquerda Marxista de saída do PT está centrada no fato de
que os jovens já abandonaram o partido há um bom tempo e os trabalhadores
seguem o mesmo caminho. A direção do PT olha, impotente, sua base social se
distanciar, pois está presa por seus compromissos com a burguesia e o
imperialismo.
A juventude, em especial, não conhece o PT da luta contra a Ditadura, só
conhece o PT no governo. E este governo (do PT) é aquele que mantem as
universidades públicas cada vez mais sucateadas e com vagas insuficientes, é o
governo que colocou à disposição, através do ministro da justiça, as tropas da
Força Nacional de Segurança para o governador Geraldo Alckmin (PSDB) reprimir
as manifestações em São Paulo contra o aumento da tarifa no começo de junho de
2013, é o governo que se alia aos inimigos, aperta a mão de Maluf, abraça
Collor e Sarney, curva-se aos capitalistas.
De 2003 a 2013 esta situação foi se acumulando. Explodiu nas jornadas de
junho de 2013. A resposta do governo (e do PT) a esta situação foi a “Reforma
Política”, apoiada pela maioria do partido, incluindo a Articulação de Esquerda
(AE), corrente de Valter Pomar. Só que esta resposta está longe de atender aos
anseios concretos que levaram milhões às ruas por transporte, saúde e educação,
públicos, gratuitos e para todos. Por essas e outras, a juventude vê o PT como
um partido igual aos outros, o que foi admitido pelo próprio Lula na
melancólica comemoração dos 35 anos do PT. Este partido não atrai mais a
juventude, pois deixou de ser um instrumento para a organização e o combate por
um mundo novo, mais justo, livre, fraterno e igualitário.
Como dissemos na Carta Aberta a Lula, Dilma e à
direção do PT, logo após o 2º turno, o PT recebeu uma última
advertência na eleição de 2014. O governo e o PT, desde então, decidiram ir
mais à direita. Isto só poderia provocar o abandono definitivo de toda uma
camada de trabalhadores que ainda acreditava no PT.
Estar ou não em um partido, para os revolucionários, não tem relação
direta com a quantidade de erros e traições da direção desse partido (Lenin,
por exemplo, aconselhou os comunistas ingleses a intervirem no Partido
Trabalhista, por conta da ligação desse partido com o movimento operário, mesmo
os trabalhistas tendo apoiado sua burguesia na 1ª Guerra Mundial). A
intervenção dos marxista em um partido está ligada à relação que ele tem com os
jovens e trabalhadores. O quanto ele segue sendo uma referência para as lutas
dos oprimidos pelo capitalismo. E convenhamos, o PT não consegue atrair e
mobilizar as massas para nenhum combate mais, aliás, a direção do PT, por sua
política, teme as massas nas ruas. É por isso que mesmo quando atacado, não
convoca mobilizações na base para defender o partido.
Internamente, o aumento dos filiados “virtuais” e a criação do PED
(Processo de Eleição Direta) desvirtuou a democracia operária presente na
origem do PT. Agora, os congressos e encontros reúnem uma maioria de
funcionários de gabinetes parlamentares ou de cargos de confiança. Os
trabalhadores tiveram pouca vez e voto para mudar o rumo catastrófico que a
direção conduziu e continua conduzindo o partido.
Valter declara em seu artigo “Eu não
mudei”. Verdade. Eu li as decisões da AE que Valter cita (www.pagina13.org.br). E, confesso, não tinha lido o
texto Comemoração e Luta.
E para provar que Valter não mudou, ressalto um parágrafo desse último
texto, lançado após o 2º turno:
“De imediato, isto exige que nossa tática para 2016 e 2018 seja
construída tendo como aliado preferencial não o PMDB(grifo nosso),
mas sim esta esquerda política e social que foi às ruas garantir nossa vitória.
Precisamos organizar uma Frente Popular, unificando os partidos de esquerda e
os movimentos sociais, numa coalizão estratégica para disputar o comando do
Estado. Não será um movimento fácil, pois temos o PMDB na vice e com grande
influência num Congresso Nacional ainda mais conservador do que em anteriores
legislaturas. Mas é um movimento necessário, pois não haverá vitória sem
mudança enão haverá mudança tendo o PMDB como aliado prioritário(grifo
nosso). Aliás, como suposto aliado prioritário, pois a maior parte do PMDB já
opera contra nós há anos.”
O que salta aos olhos neste parágrafo, em meio a palavras bem de
esquerda, é que a AE continua com a posição que o PMDB não pode ser o “aliado
prioritário”. E como o diabo mora nos detalhes, já que a AE não está propondo
claramente romper a aliança com o PMDB, o que ela propõe nesse texto, então, é
continuar a tratar o PMDB como um aliado... “não prioritário”. Isso vai
aparecer novamente na resolução de seu último Congresso, quando diz:
“Embora a tática eleitoral em 2016 tenha aspectos locais, cabe ao
Partido definir os parâmetros nacionais do processo, em torno das seguintes
diretrizes: apoio ao governo Dilma, defesa de uma plataforma de aprofundamento
das mudanças e prioridade para os partidos de esquerda nas alianças.”
Ou seja, priorizar partidos de esquerda, mas manter a porta aberta para
partidos de direita.
Valter pode falar que defende há tempos uma “mudança global na
estratégia do partido”, belas palavras, mas que não mudam o fato de que ele e
sua corrente não combateram as alianças de Lula e Dilma nas eleições anteriores
e, no PED 2013, dizia vagamente que a política de alianças para a eleição de
2014 deveria ser “orientada pelo programa de reformas estruturais”, deixando
claro que o debate não deveria ser “com ou sem o PMDB” e que as alianças
precisariam se ampliar no segundo turno, caso contrário cairíamos no beco sem
saída “ou ganhamos no primeiro turno, ou perdemos no segundo turno”. Isso tudo
está na nota de esclarecimento redigida por Valter Pomar e publicada em nosso
site naquela oportunidade, e que agora ele indica em seu novo texto, na
tentativa de convencer os leitores de que ele sempre combateu a colaboração de
classes. Como nós já constatávamos na introdução da nota de esclarecimento de
2013: “De todo modo, não há nenhum empecilho para a colaboração de classes na
sua posição”.
Nós sempre combatemos, inclusive na eleição de Lula em 2002, as alianças
com a burguesia e a submissão ao capitalismo evidenciada na chamada “Carta aos
brasileiros”. A burguesia foi entrando cada vez mais no governo, em 2006 o PMDB
foi agregado ao leque de alianças. No novo mandato de Dilma, representantes dos
principais setores da burguesia são chamados a compor o ministério.
Estes governos, mesmo que encabeçado por um partido com origem entre os
trabalhadores (PT) é composto também por partidos burgueses (PMDB, PP, PDT,
etc.), e aplica, concretamente, a política da burguesia. Para Valter, que só vê
esquerda e direita, este é um governo de esquerda que precisa ser defendido.
Para nós, a política deste governo é indefensável do ponto de vista marxista,
de independência de classe.
E nós, que sempre recusamos cargos em ministérios ou em estatais, somos
agora acusados por Valter Pomar de oportunistas. As palavras, na política, tem
seu significado, e o oportunismo está evidentemente ligado à quebra dos
princípios, na busca pelo poder político e econômico no interior do
capitalismo. Nós sempre tivemos firmeza nos princípio de independência de
classe e de luta pelo socialismo.
Valter ainda nos critica por termos
decidido sair agora, quando o PT é alvo da direita. Recordemos alguns fatos.
Nós, da Esquerda Marxista, fomos os que na época do julgamento do chamado
“mensalão”, apresentamos a proposta à direção do PT de um “Encontro Nacional de
trabalhadores em defesa do PT e da CUT. Contra a criminalização do movimento
operário e popular”, proposta ignorada pelos dirigentes e pelos
próprios condenados. Nós também entramos com uma representação
criminal no Ministério Público por incitação ao magnicídio contra Bolsonaro,
que incitou o fuzilamento da presidente em ato público no final do ano passado.
Nós que condenamos publicamente os ataques às sedes do PT em Jundiaí e no centro de São Paulo,
colocando que a direção deveria chamar mobilizações para repudiar esses
atentados. Nós fomos e somos contrários aos ataques da burguesia contra o PT.
No entanto, é preciso constatar, a submissão do governo e do PT, que apanha sem
reação, é o que encoraja estes ataques, que não tem como alvo só o PT, mas o
conjunto da luta da classe trabalhadora.
E, apesar de tudo e de todos, apesar da covardia das direções, jovens e
trabalhadores vão às ruas, fazem greves e manifestações, contra a repressão e a
criminalização das lutas, contra os ataques de patrões e governos, pelas
reivindicações. É com esse movimento que os revolucionários precisam estar
conectados e é essa disposição de luta que pode derrotar a burguesia e abrir
uma saída.
Valter me acusa de criticar muito o PT e que isto é normal em uma cisão.
Verdade. Mas as críticas da Esquerda Marxista à direção do PT existem há anos e
foram todas expostas em nosso site, nas teses de nossas chapas e aos congressos
do PT.
A maior crítica que fiz no meu artigo foi à AE (já que era uma resposta
ao dirigente desta corrente) e à sua posição de cobertura da direção do PT.
Valter diz que sofremos de cretinismo parlamentar ao centrar fogo na questão
dos parlamentares. O problema Valter, é que vocês não dirigem a CUT, mas vocês
têm parlamentares, que poderiam em alto e bom som colocar suas críticas e
exigir com a CUT (posição formal) que o governo retirasse as MPs. Mas vocês não
fizeram isso. E continuam sem fazer.
Nós enxergamos muito bem o movimento que faz a burguesia. E este
movimento começa com a posição da direção da Petrobras, com o acordo do
governo, de vender ativos da empresa para resolver o seu problema de
endividamento. Ora, se a Petrobras foi roubada por um grupo de empresários e
empresas, não é justo que seus bens sejam confiscados por decreto
governamental, sem indenização, que todas estas empresas sejam estatizadas e
que se mobilize o povo para defender isso?
Ao invés disso, a Petrobras pretende vender ativos, inclusive do Pré-Sal
(que já não é completamente estatal). Depois de mobilizar até navios de guerra
para ameaçar manifestantes que se pronunciaram contra o leilão do campo de
Libra, agora a Petrobras pretende vender o restante. Sim, acusar o Serra é
fácil, ainda mais que ele está fazendo exatamente o que o governo pretende:
abrir caminho para a venda do Pré-sal.
E, lembremos, o “fato positivo” que o governo pretende criar na atual
situação de crise é mais concessões e privatizações, enquanto a inflação
aumenta, o emprego diminui, as indústrias demitem, os juros aumentam. Não
adianta criticar só a direita, quando a direita está na composição e na
política do próprio governo.
Sim, estivemos (quase) todos unidos contra o PL 4330. “Quase” porque o
governo foi ao congresso negociar emendas para garantir a arrecadação dos
tributos e não para barrar a terceirização. É um ponto de vista de classe, o
problema é o ajuste.
Por último, Valter nos acusa de não vermos as manifestações de “direita”
nas ruas. As manifestações foram de um setor da pequena burguesia (as pesquisas
feitas entre os manifestantes de São Paulo mostram a predominância deste setor)
infladas pela burguesia (rede Globo em primeiro lugar) para pressionar o PT. E
o partido então, segue sua caminhada para a direita. O governo segue com
privatizações e medidas de “ajuste”, tirando dos trabalhadores para seguir o
pagamento da “dívida” aos banqueiros. No momento em que Dilma, respondendo às
manifestações, passa a defender um “ajuste” mais forte, o jornal O Globo passa
a se posicionar com um “apoio crítico” ao governo. Critica mas defende.
E esta é a posição da maioria da burguesia. Não por acaso FHC é contra o
impeachment. E Aécio oscila. Eduardo Cunha diz que vai rejeitar a entrada do
pedido, simplesmente. E as manifestações desidratam-se. Diminuem de tamanho e a
“marcha sobre Brasília” é noticiada com destaque na Folha com a presença de...
23 caminhantes. A pequena burguesia, sem perspectiva histórica, aparece e some.
E os trabalhadores? Esses continuam em sua luta. Mostrando que não estão
acuados por uma suposta “onda conservadora”. Greves de professores,
metalúrgicos e outros varrem o país. Em alguns casos, como dos professores do
Paraná, adquirem o caráter de greves de massas. A direção da CUT tenta conter
este processo, usando o fato de ser direção da maioria dos sindicatos e
conduzindo greves isoladas de professores de norte a sul do país. Posiciona-se
contra as MPs 664 e 665, mas não mobiliza a base para o combate. Nos
metalúrgicos quer apressar o ACE (Acordo Coletivo Especial) onde se troca a
manutenção do emprego pela redução do salário e direitos. Só que na Volks, um
acordo nesse sentido foi derrotado pelos operários, que impuseram a manutenção
dos empregos.
É dessa disposição de luta da classe trabalhadora e da juventude que
nascerá o futuro. Destas lutas nascerá a reorganização do proletariado. O PT,
no momento atual, com essa política, segue o destino que os gregos reservaram
ao PASOK.
Valter tem todo o direito de ficar no PT, mas gentilmente alertamos que
ele está conduzindo sua corrente a afundar no navio que ele ajudou a levar para
os rochedos, apoiando a política de colaboração de classes.
Nós saímos do PT e buscamos atrair jovens e trabalhadores para construir
algo novo. Estamos propondo a construção de uma Frente de Esquerda, para abrir
caminho para uma organização independente da classe trabalhadora, tarefa que
convocamos militantes, sindicalistas, estudantes, organizações, partidos,
coletivos e correntes para dar a sua contribuição na busca de uma saída
política para a atual situação.