Há um ditado segundo o qual em tempos de guerra, a primeira vítima é a verdade. Por este e por outros motivos, há muita controvérsia sobre o que está efetivamente acontecendo na guerra entre o Estado Terrorista de Israel e a República Islâmica do Irã.
Mas não precisa existir dúvida sobre o panorama completo: está em curso uma escalada que pode a qualquer momento desembocar num conflito nuclear.
Nosso país está preparado para estes tempos de guerra? A resposta é: não. Precisamos nos preparar? Sim, com a mais absoluta urgência. Isto significa concentrar energias para construir, no mais curto espaço de tempo, nossa soberania alimentar, nossa soberania energética, nossa soberania produtiva, nossa soberania comunicacional e nossa soberania militar.
Acima de tudo, precisamos que a população brasileira, especialmente as classes trabalhadoras, estejam informadas acerca do que realmente está ocorrendo. E o ponto de partida para compreender os acontecimentos começa nos Estados Unidos da América e passa por Israel.
Os Estados Unidos (EUA) sabem que estão perdendo a batalha produtiva, científica e tecnológica. Os EUA sabem, também, que –ao menos dentro do jogo e das regras que em grande medida foram criadas por eles mesmos - é praticamente impossível reverter esta situação de declínio da hegemonia estadunidense.
Essa constatação leva os EUA a romper as regras do jogo, como está fazendo o governo Trump no terreno do comércio e nos acordos ambientais.
Mas apenas isso não é suficiente. O tempo corre contra os Estados Unidos. É por isso que a ameaça de guerra, a preparação para a guerra e a guerra propriamente dita tornam-se um componente de importância cada vez maior na política dos Estados Unidos.
Alguém pode dizer que não existe novidade nisso. Afinal, desde o nascimento até os dias atuais os Estados Unidos são um país banhado em sangue. Isto é verdade. Mas também é verdade que houve uma mudança nos termos da economia política desta equação.
No passado, o desempenho militar dos EUA era em grande medida determinado pela sua força econômica. Hoje, a sobrevivência econômica dos EUA depende em grande medida do seu desempenho militar.
Isto é assim, independente de quem esteja presidindo os Estados Unidos. O para muita gente “simpático Obama” ganhou o Prêmio Nobel da Paz, provavelmente devido ao número de pessoas que Barack mandou assassinar utilizando drones. E coitado de quem acreditou nos discursos em que Trump prometia acabar rapidamente com as guerras.
Em escala menor, mas vivendo dilemas semelhantes, estão Israel, a França, a Alemanha, a Inglaterra e o Japão. O Japão está se rearmando. As antigas potências coloniais europeias estão fazendo o mesmo. Aliás, no capitalismo em crise, a guerra continua sendo um ótimo negócio: construir armas, destruir e reconstruir países é uma aparentemente inesgotável fonte de lucros.
Aparentemente, porque existe uma fronteira que não deve ser cruzada. E acontece que Israel está empurrando os integrantes do G7, a começar pelos Estados Unidos, para que cruzem esta fronteira. A saber: uma guerra generalizada & nuclear.
Há vários motivos para que Israel esteja agindo desta maneira. Um deles é o famoso senso de oportunidade, ou seja: se não for agora, pode não ser nunca mais.
Pode não ser nunca mais, porque a classe dominante de Israel sabe mais do que ninguém que sua sobrevivência depende do apoio financeiro, diplomático e militar dos Estados Unidos. Acontece que os EUA, apesar de seguirem poderosos, estão declinando. Portanto, o Estado de Israel também corre contra o tempo. Com a diferença de que os EUA têm a vantagem de que podem sobreviver ao seu próprio declínio.
Esta constatação racional, combinada com a glorificação da violência e com o desprezo racista pelo restante da humanidade que caracterizam o sionismo, fazem com que o Estado Terrorista de Israel esteja disposto a tudo, inclusive a um conflito nuclear, para derrotar o Irã, único Estado na região que faz oposição a Israel e que até agora não teve o mesmo destino do Iraque, Síria e Líbia.
Sobre as mentiras mais recentes de Israel contra o Irã, recomendamos a leitura do artigo de Jeffrey Sachs e Sybill Fares, publicado no dia 16 de junho e disponível no seguinte endereço: Opinion | Stop Netanyahu Before He Gets Us All Killed | Common Dreams
Para além das mentiras desmascaradas por Sachs e Fares, há também toda uma discussão sobre qual o papel dos EUA na operação de Israel.
Trump seria o adulto na sala, que mantém o cão raivoso preso numa corrente? Seria o irmão mais velho do bandido mais novo, que vai ter que intervir para ajudar Israel a completar o “serviço sujo”? Será que foi tudo combinado previamente? Será que Israel agiu sem combinar previamente com Trump? Ou seria tudo isto e mais um pouco, junto e misturado?
Qualquer que seja a resposta que se dê para as perguntas acima e para muitas outras, o fato é que os demais Estados e povos do mundo estão sendo colocados diante de dilemas existenciais.
Vamos aceitar viver sob a chantagem de Estados terroristas? Ou vamos enfrentar a chantagem, apesar dos riscos?
Quando se olha para o curto prazo, há motivos legítimos para a dúvida sobre o que fazer. Basta ver o que está ocorrendo nos dias de hoje com os cubanos, haitianos, palestinos e iranianos, para ter certeza de que enfrentar não se trata de uma escolha fácil.
Mas quando se olha para o horizonte, não deveria existir dúvida alguma. Afinal, a continuidade da hegemonia dos Estados Unidos e do capitalismo por ele impulsionado não resultará, em nenhuma hipótese, num mundo melhor.
Muito antes pelo contrário: o que nos aguarda, caso não lutemos aqui e agora, é uma imensa distopia, onde vão se misturar catástrofe climática, guerras disseminadas, extrema direita, submissão das pessoas às máquinas etc. Ou lutamos, ou poderá não existir futuro para a humanidade.
Sobre o que fazer aqui e agora há várias respostas possíveis. Mas para dar estas respostas, é preciso um estado de ânimo diferente do que tem prevalecido em alguns setores da esquerda brasileira. É preciso pressa, é preciso disposição de superar os problemas estruturais, é preciso disposição efetiva de derrotar os inimigos. Noutras palavras, é preciso de um partido para tempos de guerra, orientado pela vontade de construir um mundo diferente.