sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Alinhamento com os EUA pode?

Embora o voto do Brasil na ONU tenha decepcionado alguns, entusiasmou outros.

Alguns chegaram ao ponto de afirmar que a resolução aprovada pela ONU teria sido “escrita pelo Brasil”.

Outros afirmaram - como fez um colega de profissão - que o voto do Brasil teria rompido com a “diplomacia bolsonarista de alinhamento com Putin, o trumpismo e toda a extrema direita global que apoia a criminosa guerra de invasão russa”.

Tirante o exagero retórico, quem pensa isto não percebe que, usando a mesma lógica, se poderia dizer que, ao votar como votou, o Brasil adotou um “alinhamento” com os Estados Unidos e com o “partido da guerra” europeu.

Afirmar que “neutralidade diante de uma agressão é cumplicidade com o agressor” exige, por coerência, denunciar como também cúmplice o silêncio absoluto da resolução da ONU acerca das responsabilidades e crimes da OTAN, dos EUA, da UE e do atual governo ucraniano.

Notas à parte, se a OTAN não recuar, não haverá paz. Perceber isto não é ser aliado de Putin. Mas não falar disso é ser aliado dos EUA. O que, no caso de nós latino-americanos, é pior do que um crime: é um erro….



Brevíssimo comentário sobre o voto do Brasil na ONU

Muita gente não compreendeu, lamentou ou se disse decepcionada pelo fato do Brasil ter votado, na ONU, na mesma resolução que os Estados Unidos votou.

Ou seja: muita gente não entendeu ou não levou a sério os seguidos recados do chanceler Mauro Vieira, aquele para quem "saímos de cima do muro".

O que ainda não consegui entender, portanto, não é o voto em si.

O que ainda não consegui entender é como se pretende combinar este voto com os EUA, com a proposta do "clube da paz".

Do ponto de vista de quem efetivamente pretende intermediar negociações de paz, melhor seria a abstenção ou algo do gênero. 

Seja como for, certos estão os que perceberam que os tempos mudaram e que não se deve pedir peras al olmo.













segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Sebo e brechó

Pessoas interessadas em adquirir os livros e itens abaixo relacionados, devem proceder assim:

1/enviar um zap para 19 99 151 33 67 informando qual livro ou item desejam adquirir;

2/depois de receber a confirmação de que o item segue disponível, proceder o pagamento do valor estipulado OU negociar o valor no caso deste não estar estipulado;

(o valor inclui o correio)

3/em seguida enviar o endereço e aguardar que o correio entregue.

SEGUE A LISTA

1/Agenda 2023 (30,00)



2/Socialismo ou barbárie (40)



3/Quase lá (30)



4/Socialismo em debate 1917-1987 (40)



5/Livros do Gaspari



terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Quaquá e o jumento

A self de Quaquá com Pazuelo gerou muitas críticas.

Mais detalhes sobre a self estão aqui: http://valterpomar.blogspot.com/2023/02/quaqua-pisoteando-o-tumulo-de-mais-de.html

A reação de Quaquá foi subir o tom.

Num vídeo divulgado no instagram, ele defende as virtudes da "tolerância" e do "diálogo".

Ao mesmo tempo, chama seus críticos de "esquerda classe média", "UDN de sunguinha da zona sul", "pseudomoralistas", "esquerda stalinista", "idiotas", "fascistas igual os nazistas".

O vídeo está aqui: https://www.instagram.com/reel/CoqS_eVg6cB/?igshid=YmMyMTA2M2Y=

Como podem ver, Quaquá é um tigrão na hora de criticar a esquerda, mas quase um dandy no trato de figuras como Pazuelo.

Além do vídeo, Quaquá também postou uma imagem no seu instagram.

A referida imagem segue abaixo.

É compreensível que Quaquá goste de alguns bolsonaristas, mas não goste de jumentos. 

Afinal, como cantam os Saltimbancos, jumento não é o grande malandro da praça.

Ironias a parte, o caso é muito simples: Pazuelo (assim como Bolsonaro) tem o direito ao devido processo legal. 

Mas não é preciso esperar a conclusão do devido processo legal para chegar à conclusão política de que Pazuelo (assim como Bolsonaro) são responsáveis por muitos crimes contra a vida do povo brasileiro.

Aliás, se em nome de esperar o veredito da justiça nós tratarmos estes cavernícolas com a cordialidade proposta por Quaquá, não haverá nem mesmo o devido processo legal contra os criminosos.

Memória, verdade e justiça. Anistia não!




  







Quaquá: "pisoteando o túmulo de mais de 450 mil mortos"


Tem muita gente muito indignada com a foto acima.

Nessa foto, um deputado federal petista abraça e faz "joinha" ao lado de um ex-ministro do governo cavernícola.

Não qualquer ministro, mas exatamente aquele que esteve a frente do Ministério da Saúde num dos momentos mais letais da pandemia.

Alguém que merece ser processado, condenado e preso.

Assim sendo, compreendo a indignação.

Indignação compartilhada inclusive por pragmáticos.

Afinal, pragmatismo sin pundonor termina mal, como sabe muito bem o Candido Vaccarezza, cuja lembrança me veio agora: afinidades eletivas explicam.

Isto posto, embora seja solidário à indignação geral, confesso que, vindo do referido deputado, nada mais me espanta.

Não me espanta ele se declarar "marxista", como o fez em sua intervenção no Diretório Nacional do PT reunido no dia 13 de fevereiro de 2023, intervenção dedicada a apresentar o projeto de resolução da tendência "Construindo um novo Brasil".

Nem me espanta ele tirar a referida foto com Pazuelo e postar a foto junto com um textículo onde se defende por antecipação da crítica dos "intolerantes", elogia o "tom civilizado do General" e afirma querer "com ele criar pontes de diálogo com os militares".

Não me espanto nem mesmo com o êxtase demonstrado por Quaquá na foto, contrastando com o olhar sem graça do amigo do homônimo da vaca fardada.

O único que tenho a dizer é que “não pode ser a esquerda que vai dar de braços a Bolsonaro, para sair as ruas pisoteando o túmulo de mais de 450 mil mortos”.

A frase acima é do Quaquá e está no jornal O Dia de 27 de maio de 2021, num artigo intitulado "é coerência que se chama?"

Mais detalhes, aqui: https://pagina13.org.br/quaqua-insulta-quem-deseja-lutar/





A Carta Capital e a "renovação do mandato"

A Carta Capital publicou uma informação incorreta.

A referida incorreção está aqui: https://www.cartacapital.com.br/cartaexpressa/pt-renova-mandato-e-gleisi-fica-na-presidencia-do-partido-ate-2025/

Lá está dito o seguinte "O PT decidiu nesta segunda-feira 13 renovar os mandatos da direção nacional e das direções estaduais por dois anos. A medida foi formalizada durante reunião do Diretório Nacional".

Não é verdade que o PT decidiu renovar os mandatos.

O que o Diretório Nacional do PT decidiu foi prorrogar os mandatos das direções nacional e estaduais.

As atuais direções foram eleitas em 2019, para um mandato de quatro anos.

Portanto, neste ano de 2023 deveriam ocorrer eleições.

Mas o Diretório Nacional do PT, por maioria de votos - mas não por unanimidade - decidiu prorrogar os mandatos nacional e estaduais.

Sobre os mandatos municipais, haverá nova discussão e deliberação.

Com isto, os dirigentes nacionais e estaduais eleitos em 2019 ficarão até 2025.

Votei contra esta prorrogação e expliquei os motivos na própria reunião.

Entendo, embora discorde, os motivos de quem defendeu prorrogar.

Assim como entendo os motivos de quem traduz "prorrogar" por "renovar".

É o famoso "dourar a pílula".

A última vez que se fez isso foi, que eu recorde, em 2003. O mandato foi prorrogado até 2005. 

Não é um bom precedente.

Vida que segue.




segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Que apito toca o fio de Rudá?

O PT fez 43 anos.

Muita gente escreveu a respeito.

Por exemplo, o Rudá Ricci.

Foi uma amiga que me chamou a atenção para o “fio” do Rudá sobre o PT.

O fio está aqui:

https://twitter.com/rudaricci/status/1624804486752440321?t=LP5azjY_TxBv8Eywlm4GQA&s=08

Neste fio Rudá começa reconhecendo que "a contribuição do partido à democracia brasileira é inquestionável".

Em seguida, ele procura "analisar as mudanças no ideário e prática petistas nessas 4 décadas".

O começo é um pouco insólito.

Ele diz que o PT "nasceu em 1979" e que a sigla "tinha sido definida como política dos trotskistas das diversas edições da 4ª Internacional. Um encontro dessas correntes criou o PT por aqui, mas logo se deram conta que faltavam justamente os líderes das greves metalúrgicas. Deram um passo atrás".

Diz também que "PT existe na Espanha (1979), Uruguai (1984), Costa Rica. Temos Partido Socialista dos Trabalhadores na Argentina, todos trotskistas. A sigla está no México (1975), Panamá (1983, de inspiração trotskista), Peru, Reino Unido".

Em seguida Rudá afirma que "o PT criado em 1980 nasceu como um freio de arrumação na iniciativa de 1979 e, logo se descobriu o jeito metalúrgico de fazer política. Num piscar de olhos, os trotskistas ficaram numa posição menor que a de sindicatos, movimentos sociais, católicos e intelectuais".

Ou seja, segundo Rudá o PT não teria nascido para ser uma expressão política do setor mais combativo da classe, mas sim para ser um "freio de arrumação" na iniciativa de um setor minoritário...

Na sequência, Rudá comenta que "na foto clássica de fundação do PT num colégio paulista, Paulo Skromov aparece na mesa principal do evento. Skromov era trotskista e foi presidente do Sindicato dos Coureiros do Estado de São Paulo. Foi um dos organizadores do Movimento pelo PT de dezembro de 1979. Skromov presidiu a plenária de fundação do PT no Colégio Sion, em 10 de fevereiro de 1980. Era trotsksista desde 1968 e fez parte da Organização de Mobilização Operária (OMO) e a Organização Marxista Brasileira (OMB)”.

Para resumir a ópera, Rudá adota um específico ponto de vista, como sendo o melhor observatório do ponto de conjunto. O resultado é, na minha opinião, bastante anedótico, mas para lá de insatisfatório enquanto relato histórico.

Sigamos o fio.

Rudá afirma que a “concepção inicial do PT passa por uma primeira fase, de 1980 a 1983. No primeiro momento, articulou forte vertente basista e anti-institucional baseada na Teologia da Libertação, embora o sindicalismo ‘autêntico’ (que daria origem à CUT) tivesse influência de marxistas”.

Depois escreve que “em 1982, o PT participou de sua primeira campanha eleitoral com campanha nitidamente classista. Os candidatos apareciam como militantes de esquerda, muitos se diziam ex-guerrilheiros ou ex-presos políticos. Lula, candidato ao governo paulista, fez 10% dos votos. É no bojo do baque que as eleições de 1982 causaram no PT que surge o famoso “Manifesto dos 113”. O número se deve às assinaturas que subscreveram este documento. O Manifesto logo se torna um divisor de águas no partido”.

Rudá reproduz então algumas passagens do tal Manifesto: “O Manifesto começa afirmando que ‘defendemos o PT como partido de massas, de lutas e democrático. Combatemos, por isso, as posições que, por um lado, tentam diluí-lo numa frente oposicionista liberal, como o PMDB’. Prossegue e critica a ‘ação predominantemente parlamentar-institucional’, algo que criaria uma cisão interna nas direções petistas atuais. Segue se opondo aos que ‘se deixam seduzir por uma proposta socialista sem trabalhadores, como o PDT.’ Continua: ‘Também combatemos aqueles que (...) se encerram numa proposta de partido vanguardista tradicional’.”

Chegando neste ponto, Rudá afirma que “o PT se definia como socialista, antissoviético e antipopulista. É de se estranhar que, hoje, neopetistas citem a experiência soviética como alinhada ao PT”.

Não sei quem seriam esses “neopetistas” que Rudá critica.

Mas sem dúvida o que ele fala é de estranhar mesmo.

É de estranhar porque, entre outros motivos, palavras como soviético ou antisoviético não comparecem no Manifesto dos 113.

O alvo do Manifesto dos 113 foi duplo: os que desistiam do Partido pela direita e os que tentavam aprisionar o PT nos moldes das pequenas organizações autoproclamadas revolucionárias e supostamente de vanguarda.

Ser vanguardista tradicional não era um ato soviético, ser crítico a “proposta de partido vanguardista tradicional” não era um ato antissoviético.

Aliás, basta ler os nomes de alguns dos signatários do Manifesto para suspeitar isso...

De 1983, Rudá pula para 1989.

É um salto e tanto, uma vez que foi neste período (1984-1988) que o PT começou a formular a denominada estratégia democrático, popular e socialista.

Mas enfim, não se deve pedir peras ao olmo, digo, aos fios.

Sobre 1989, Rudá afirma que “a candidatura de Lula foi para o 2o turno, disputando com Collor e, por pouco, não vence a eleição. Eu participei como coordenador da elaboração do programa agrário e posso atestar que sabíamos que a vitória seria ameaçada pela extrema-direita. Passadas as eleições de 89, o debate interno na corrente majoritária – a Articulação – apontava para o PT se preparar para ganhar as eleições como possibilidade concreta. Significava ampliar as alianças, abrandar o marco socialista e se aproximar do alto empresariado. As campanhas de 1994, 1998 e 2002 seguiram este marco de alteração significativa do ideário original do PT. Mas, o que mudou de mais importante a partir de 1994? Vou listar 4 mudanças que consideram mais radicais”.

Vejamos.

“A primeira mudança foi a relação com movimentos sociais. A relação original era umbilical. Não era de mera escuta, mas de alinhamento. A partir de 1994, a relação passou a ser de, no máximo, consulta. Outra mudança foi no processo de tomada de decisão do partido. Antes, a base mandava. Os famosos núcleos de base do PT tinham mais poder que parlamentares petistas. Eu mesmo vivenciei este poder durante a Constituinte e quando fui coordenador de sub-região em SP. A partir de 1994, as decisões passaram a ser mais centralizadas. Os militantes e intelectuais do partido perderam força e os dirigentes da corrente majoritária e marqueteiros passaram a dominar o cenário”.

Façamos uma pausa. Sem dúvida houve mudanças na relação entre o Partido e os movimentos sociais. Mas dizer que antes havia uma relação “umbilical”, de “alinhamento” e depois passou a ser uma relação de, no máximo, “consulta”, me parece simplificar demasiado a coisa. Sem falar que desconsidera a vida real, na qual estava em curso um refluxo das lutas sociais, sob impacto do neoliberalismo.

Mas o esquisito mesmo é dizer que antes a base “mandava”, mas a partir de 1994 os “militantes e intelectuais” perderam força e “os dirigentes da corrente majoritária e marqueteiros” passaram a dominar o cenário.

Para começo de conversa, a corrente majoritária entre 1995 e 2005 nunca passou de 60% dos votos nos encontros nacionais ou nas eleições diretas.

E – mesmo discordando de seus métodos e de suas posições – os tais “dirigentes” da “corrente majoritária” neste período citado eram dirigentes... porque tinham imensa base social, influência política, apoio na militância de base e inclusive na chamada intelectualidade partidária.

Negar isso e contrapor militantes e intelectuais a dirigentes e marqueteiros é pior que uma simplificação.

Rudá diz que “dessa mudança decorreu o institucionalismo. Se havia rejeição ao campo institucional nos primeiros 15 anos do PT, a partir da segunda metade dos anos 1990, o campo institucional passou a ser prioritário, alinhado à meta de vencer eleições. Vejam que uma mudança leva à outra”.

O jeito com que Rudá descreve os fenômenos é assaz curioso.

Como é possível dizer que “havia rejeição ao campo institucional” nos primeiros 15 anos do PT, se nesses primeiros 15 anos o PT participou das eleições de 1982, 1985, 1987, 1988, 1989, 1990, 1992 e 1994? Se o PT participou do Congresso Constituinte? Se o PT governou inúmeras cidades?

Talvez o que Rudá esteja querendo dizer é que o lugar do “institucional” na estratégia do PT se alterou.

Mas dizer que antes havia “rejeição” e depois deixou de haver “rejeição” é simplesmente falso.

Assim como é falso insinuar que só a partir de 1995 passamos a ter a “meta de vencer eleições”, como se antes disputássemos sem querer ganhar.

Mas o pior está por vir.

Palavras de Rudá: “Finalmente, o ideário e o programa do partido. De socialista o PT passou a adotar um viés socialdemocrata. Depois, eliminou a palavra ‘socialista’ de seu discurso e, finalmente, já no século XXI, caiu de boca no ideário social-liberal, afeto aos interesses do mercado”.

O socialismo perdeu peso? Certamente.

Cresceu o “viés socialdemocrata”? Certamente.

Apareceu uma turma “social-liberal”? Certamente, aliás Palocci é o exemplo clássico.

Mas simplesmente não é verdade que a palavra “socialista” tenha sido “eliminada” do discurso do PT, a partir de 1995.

Basta ler as resoluções do 3º Congresso do PT ou do 6º Congresso do PT (este realizado em 2017), para ver que isto não é fato.

É verdade que se deixar na mão de algumas pessoas ou setores, o termo “socialismo” simplesmente sumirá.

Mas ao menos por enquanto o termo “eliminou” é incorreto.

Tampouco é fato que o PT “caiu de boca no ideário social-liberal, afeto aos interesses do mercado”.

Se isto fosse verdade, o tal mercado não teria tido motivos para estimular e apoiar o golpe de 2016, a fraude contra Lula e a eleição do cavernícola.

Segundo Rudá, “o lulismo passou a ser a marca desta mudança. Para além da figura de Lula, é uma concepção de Estado e de política que adota o referencial do parlamentarismo como eixo. Outra inspiração evidente é o rooseveltianismo, aquela concepção de alavancou o New Deal”.

Como diria um amigo, Rudá nos oferece uma salada e tanto.

Primeiro tem este componente chamado “lulismo”, acerca do qual já se escreveu muito, mas se esclareceu pouco.

Depois tem o FDR; sem dúvida há um amplo setor da esquerda brasileira que tem o New Deal como inspiração para suas políticas econômicas.

Infelizmente para este setor, não foi o New Deal que tirou os EUA da crise dos anos 1930, mas sim o envolvimento dos EUA na Segunda Guerra.

E, finalmente, tem o mais complicado: será verdade que no PT existe uma concepção de Estado e de política que adota o “referencial do parlamentarismo como eixo”?

Minha opinião: em 1993 um setor importante do PT defendeu o parlamentarismo e foi solenemente derrotado.

Prevaleceu no Partido, em 1993, o bom senso: era mais fácil ganhar a presidência do que fazer maioria no Congresso.

Entretanto, nem os presidencialistas, nem o conjunto do Partido, conseguiu resolver o problema de conjunto, a saber: como ganhar a presidência e ao mesmo tempo fazer maioria no congresso.

Como o problema não foi resolvido adequadamente, foi se constituindo a tal “política de governabilidade”.

Chamar esta “governabilidade” de “parlamentarismo” é simplesmente forçar a mão.

Rudá passa destas afirmações para outras ainda mais maraquexe (não confundir com mequetrefe).

Diz ele que “a concepção social-liberal do lulismo preserva o mercado. O alto empresariado, ao contrário, flerta com o ultraliberalismo que desagrega a sociedade. O lulismo não gera risco algum ao mercado financeiro”.

Que há social-liberais no PT, não tenho dúvida.

Que Lula não quer destruir o “mercado”, também não tenho dúvida.

(Aliás, eu também não quero destruir o mercado, entre outras coisas porque o mercado não pode ser “destruído”, ele pode ser “superado” numa fase muito avançada do socialismo.)

Que o alto empresariado é ultra-liberal, também não tenho dúvida.

Mas dizer que Lula é social-liberal e que não gera “risco algum ao mercado financeiro” é puro negacionismo.

Neste ponto do seu fio Rudá faz os elogios de praxe (afinal, é aniversário): “O PT é o maior partido brasileiro, o que chegou 7 vezes ao segundo turno das eleições presidenciais desde o fim do regime militar, ganhando duas. É o partido que mantém sempre uma das principais bancadas federais e o que efetivamente dita a agenda nacional. No ano passado, o Datafolha revelou que o PT é o partido preferido de 28% dos brasileiros entre os 3.666 ouvidos em 191 cidades entre os dias 13 e 16 de dezembro”.

Sobre o elogio acima, duas correções.

O PT chegou ao segundo turno em 1989, 2002, 2006, 2010, 2014, 2018 e 2022. E ganhou 5 vezes (2 com Dilma e 3 com Lula), não duas vezes.

E o PT não dita a agenda nacional. Quem dera isso fosse verdade. O PT disputa, polariza, influencia, mas não dita.

Mas depois de elogiar, Rudá enfia a faca.

Suas palavras: “Não dá para comparar com nenhum outro partido brasileiro. Sua importância é incontestável. Porém, não se trata mais de um partido de esquerda. A questão posta não é o da legitimidade e importância do PT, mas que apito ele efetivamente apita no século XXI. (FIM)”

Realmente, é o fim.

“Não se trata mais de um partido de esquerda”.

Como diria o mineiro: cumbasenoqueocebaseaestabesteira?

Se Rudá dissesse que o PT não é mais revolucionário ou não é mais socialista, ainda seria compreensível, mesmo que questionável.

Mas dizer que o PT não é de esquerda??

Ele seria o que?

De centro?

De direita?

As categorias de esquerda e direita expressam posições relativas.

Na política brasileira, goste ou não Rudá, o PT lidera um bloco contraposto a outro bloco.

O nome dado aos blocos pode variar, mas eles expressam forças sociais contrapostas. E os nomes precisam indicar isso.

Se Rudá quiser chamar o bloco liderado por nós de direita, teria que chamar o outro bloco de esquerda. E assim por diante.

Podemos debater o que significa concretamente ser de esquerda, mas dizer que o PT não é de esquerda levaria a dizer que, no Brasil de 2022, o bolsonarismo e o neoliberalismo não são de direita.

Isto posto, só me resta apelar ao velho e bom alemão: ao se deparar com uma ideia, pergunte sempre a quem ela presta serviços.

A quem presta serviços, a quem interessa, dizer que o PT não é de esquerda?

Que apito toca o fio de Rudá?


TEXTO SEM REVISÃO

 

 

 

 


domingo, 12 de fevereiro de 2023

Observações e emendas ao texto proposto pela CNB

No dia 13 de fevereiro acontecerá uma reunião do diretório nacional do PT. 

Será a primeira reunião do DN, depois da histórica vitória e posse de Lula. 

E será a primeira reunião presencial do Diretório Nacional do PT, desde março de 2020. 

Ou seja: há quase três anos o Diretório não se reúne presencialmente. 

Entre os pontos em debate, está a situação política nacional. 

Foram apresentados 7 textos para debate, assinados respectivamente por: MPT e Tribo; Articulação de Esquerda; DAP; DS; CNB; EPS; RS. 

Se não houver nenhuma surpresa, o texto que deve ser aprovado – como texto-base – deve ser o assinado pela tendência CNB (Construindo um Novo Brasil). 

Por este motivo e para ganhar tempo, a direção nacional da tendência petista Articulação de Esquerda debateu o referido texto apresentado pela CNB. 

A partir deste debate, apresentamos a seguir alguns comentários e emendas ao referido texto.

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1.O texto não trata do tema Yanomami. Propomos acrescentar algo similar ao que segue: “Concluímos este documento exortando o governo a continuar fazendo tudo o que for necessário para reparar, julgar e punir todos os crimes cometidos pelo governo genocida. O massacre do povo Yanomami é um crime contra a humanidade. Anistia não!”

 

2.Na mesma linha, consideramos necessário incluir no texto o compromisso do Partido com o fim da mineração nas terras indígenas. Neste sentido, achamos incorreta a seguinte expressão contida no texto: “extração primária e desmedida das riquezas naturais”. O termo "desmedido" abre espaço para uma interpretação que não consideramos adequada.

 

3.O texto não faz referência a guerra em curso na Ucrânia. Aliás, o termo “guerra” só aparece uma vez, ao lado da palavra soft. Propomos acrescentar uma formulação similar ao que segue: “O terceiro mandato do companheiro Lula teve início em meio a uma situação mundial de imensa complexidade, marcada pelos desdobramentos da crise de 2008, pela pandemia da Covid 19, pelo agravamento da situação ambiental, pela ascensão da República Popular da China, pela guerra da Rússia contra a aliança Ucrânia/OTAN e, destacadamente, pela tentativa que os Estados Unidos fazem de reverter seu declínio enquanto potência hegemônica. Neste cenário, as primeiras medidas do governo Lula vêm reafirmando sua disposição de contribuir na construção de outra ordem mundial, inclusive através de iniciativas como a CELAC, a Unasul e os BRICS, assim como vem reiterando sua posição contrária à guerra”.

 

4.Ainda sobre a questão internacional, consideramos indispensável dirigir uma saudação aos povos em luta em todo o mundo, a começar por uma saudação ao povo peruano.

 

5.O texto cita 18 vezes o presidente Lula e cita 1 vez a expressão “classe trabalhadora”. Propomos a inclusão de um parágrafo onde se diga algo similar ao que segue: “Para derrotar tanto o neoliberalismo quanto o neofascismo, assim como para enfrentar as pressões do imperialismo, será necessário muito mais do que um governo exitoso: será necessário um movimento político e social liderado pela esquerda, dirigido pelo PT e ancorado nos movimentos sociais e na classe trabalhadora com consciência de classe, principal responsável pela nossa vitória eleitoral na disputa presidencial de 2022. Para tanto, é fundamental ampliar a unidade da esquerda política e social brasileira. Esta unidade é mais do que nunca necessária, porque os desafios postos para a esquerda partidária e social brasileira, bem como para o governo Lula, são muito mais complexos do que aqueles enfrentados de 2003 a 2016”.

 

6.Por falar em classe trabalhadora, é importante que a resolução do DN destaque adequadamente os temas abordados no encontro de Lula com as centrais sindicais, entre os quais o chamamento à organização e luta, o salário mínimo, a isenção do imposto de renda, a questão previdenciária e a reforma trabalhista.

 

7.O texto não utiliza, em nenhum momento, os termos indústria, industrialização e reindustrialização. Propomos a inclusão de um parágrafo que diga algo similar ao que segue: “O sucesso estratégico da esquerda dependerá de vários fatores, dentre os quais se destacam a auto-organização do povo e sua participação no governo, a combinação entre políticas públicas e reformas estruturais, com destaque para a reindustrialização do país. Precisamos deixar de ser uma subpotência agro-minério-exportadora e devemos passar a ser potência industrial de novo tipo. E nesse esforço a Petrobrás e a Eletrobrás sob controle público cumprem um papel insubstituível”.

 

8.O texto não faz referência aos atentados de 8 de janeiro, nem utiliza, em nenhum momento, o termo “militares” ou “forças armadas”. Propomos a inclusão de um parágrafo que diga algo similar ao que segue: “Teremos pela frente um longa disputa contra o imperialismo, o neoliberalismo e o neofascismo. Os acontecimentos de 8 de janeiro são mais uma prova de que o caminho da pacificação do país passa pelo julgamento, condenação e punição (inclusive prisão) dos criminosos, a começar por Jair Bolsonaro e todos os que foram cúmplices dos crimes de 8 de janeiro. Precisamos desarmar os grupos paramilitares. Trata-se, também, de estabelecer outra cultura, outro padrão de funcionamento nas forças armadas e nas polícias, que foram colonizadas pelo neofascismo, bem como definir outros critérios de escolha dos comandantes. Ou alteramos a atual institucionalidade e o conjunto da sociedade, ou a ameaça neofascista continuará presente, como aliás o golpismo militarista esteve presente em toda a história republicana brasileira. Neste sentido, não cabe enxergar no bonapartismo judicial uma alternativa idônea contra o neofascismo. Não haverá superação do neofascismo, enquanto não houver superação do neoliberalismo, uma nova institucionalidade, uma nova sociedade. E nada disso será produzido pelo caminho da judicialização da política”.

 

9.Na mesma linha, propomos que se inclua o seguinte: “O golpe de 8 de janeiro reforça a necessidade de alterar o artigo 142 da Constituição, bem como de substituir o Ministro da Defesa."

 

10.Embora o documento faça várias referências ao ocorrido nos anos anteriores, consideramos necessário fazer uma referência explícita ao informe final da comissão de transição, bem como aos discursos feitos pelo presidente Lula no dia da posse, os quais fazem um balanço da herança maldita deixada pelo golpismo e pelo governo neofascista e neoliberal.

 

11.Em nossa opinião, o documento não caracteriza adequadamente quem é a nossa oposição. Propomos a seguinte caracterização: “Entre 2003 e 2016, polarizávamos com o neoliberalismo tucano. Hoje enfrentamos duas direitas – a direita tradicional neoliberal e a extrema-direita ultraliberal - que estão presentes tanto fora quanto dentro do governo, com destaque para o presidente do Banco Central, formalmente “independente”, mas efetivamente submisso aos interesses do capital financeiro e da extrema direita. Embora distintas, as duas direitas se combinam e se alimentam. Foi a direita neoliberal tradicional que abriu as portas para o neofascismo, o apoiou no segundo turno de 2018, respaldou parte importante de suas ações e o protegeu, nos momentos de maior fragilidade, de um impeachment; sem falar que parte dos neoliberais contribuiu para levar a disputa de 2022 para o segundo turno. Para além disso, é o ambiente gestado pelo neoliberalismo que empurra parte da sociedade em direção ao neofascismo. Por outro lado, a ameaça neofascista dá aos neoliberais instrumentos para chantagear a esquerda, seja através de espaços ocupados no governo e no Congresso, seja através da grande mídia e dos chamados mercados. O mesmo vale, com nuances, para o imperialismo: o governo dos Estados Unidos, que deu declarações contra os atentados de 8 de janeiro, é encabeçado hoje por quem foi personagem central no golpe de 2016”.

 

12.Na mesma linha de apontar o dedo para o neoliberalismo, propomos incluir na resolução do DN uma referência ao chamado escândalo das Americanas, mais um fato a reforçar nosso combate contra o capital financeiro, bem como a necessidade de um imposto sobre grandes fortunas e da necessidade de revogar a “independência” do Banco Central, independência que como sabemos o torna totalmente subordinado ao capital financeiro (e, no caso do atual presidente do BC, subordinado ao bolsonarismo).

 

13.Por analogia, consideramos necessário que o Diretório Nacional do PT questione a presença, em nosso ministério da Educação, de influentes defensores de uma política educacional de corte empresarial, distinta da política educacional defendida pelo campo democrático popular, conforme apontado recentemente num documento da CNTE.

 

14.Toda vez que o texto refere-se ao terceiro governo Lula, propomos acrescentar a expressão “quinto governo petista” ou equivalente.

 

15.Finalmente, toda vez que o texto refere-se a “retomada” do “projeto democrático, popular e soberano”, propomos acrescentar o termo “socialista”.

 

16.Finalmente, propomos que o documento final do DN faça referência ao aniversário de 43 anos do PT e ao aniversário de 40 anos da CUT.

 

Outras observações serão feitas, se possível for, no decorrer da reunião do Diretório Nacional do PT.

 

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SEGUE ABAIXO, NA ÍNTEGRA, O TEXTO ACIMA COMENTADO

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O terceiro governo Lula e a retomada do projeto democrático, popular e soberano (CNB)

 

O Diretório Nacional do PT se reúne em um histórico momento de retomada do projeto democrático, popular e soberano no Brasil, sob a liderança excepcional do Presidente Lula. A maioria do povo brasileiro soube identificar com clareza o que estava em jogo nas eleições de 2022, depois de anos de sofrimento com a fome, o desemprego, o desalento, o autoritarismo e o descaso com a vida de milhares de pessoas como foi na pandemia.

 

A maioria da sociedade brasileira, que assistiu à criminalização da política, o golpismo, a perseguição implacável e a injusta condenação e encarceramento de um de seus maiores líderes populares que é Lula, ao dar seu voto para a coalizão democrática representada pela chapa Lula - Alckmin, liderada pelo PT, reconheceu em Lula e em seu programa o único caminho possível para o resgate de nosso povo e de nosso país na encruzilhada histórica em que estava.

 

Vencemos as eleições, mas continuamos a lutar, pois há muito o que avançar. Afirmamos, como partido do presidente da república e do maior líder popular da história do Brasil, que esse momento requer esforços adicionais e bastante complexos para nosso partido e para a esquerda brasileira.

 

O governo do Presidente Lula começou bem. A aprovação da Emenda Constitucional que garantiu o Bolsa Família de 600 reais e mais 150 por criança, o aumento do salário mínimo acima da inflação, a garantia da retomada da capacidade de investimento no primeiro ano do governo representaram uma imensa vitória política e mostraram grande capacidade de articulação política do governo e de nossos líderes e interlocutores no Congresso Nacional. Uma política ampla, correta e realista de alianças no parlamento nos leva a vitórias que mudam a vida real do povo.

 

Não vivemos um momento histórico qualquer. O bolsonarismo, expressão atual da extrema direita brasileira, é um fenômeno histórico e ao mesmo tempo contemporâneo. Ele é fruto das imensas desigualdades e brutalidades da história do Brasil. É guardião da casa grande e do chicote da senzala. Do preconceito e conservadorismo de parte dos setores médios urbanos e rurais, desde o império, sócios minoritários das rebarbas da sociedade escravocrata. Da economia da dependência externa e da extração primária e desmedida das riquezas naturais para enriquecer o negócio colonial, com seus gerentes internos em sociedade com os patrões externos, consubstanciada no projeto neoliberal.

 

Mas também é articulado àquilo que a pós-modernidade produziu com suas redes sociais e seus algoritmos, controlados pelos poucos multibilionários donos das empresas controladoras das redes sociais, que passaram a controlar corações e mentes através do Big Data que organiza a loucura e o ódio coletivo. O arcaico e o pós-moderno se articulam contra a democracia e os maiores avanços da civilização. O bolsonarismo não é um fenômeno isolado, e o ex-presidente, com suas tosquisses e suas ações desumanas e repugnantes, representa um pedaço grande de um país marcado por iniquidades, desigualdades, preconceitos e violências. 

 

Portanto, cabe ao governo do Presidente Lula, com todo o tamanho de sua autoridade política, social e moral, e ao PT como seu partido, reconstruir o tecido social, com igualdade de gênero e raça, defender e vigorar a democracia no Brasil. Cabe ao governo do Presidente Lula propor um caminho de desenvolvimento econômico e de justiça social para o país e nosso povo, para que possamos construir o país tão sonhado por gerações que nos antecederam e pelas futuras gerações que nos seguirão. Esse caminho deve girar em torno de três questões essenciais para a construção da nação brasileira:

 

1- A questão democrática como prioritária

 

Os escândalos engendrados contra nossos governos, nosso partido e nossas lideranças, desde o primeiro governo do presidente Lula e que se seguiram nos governos da presidenta Dilma, mostram que está mais do que claro que a criminalização da política e a destruição da democracia é um projeto.

 

Um projeto articulado de fora, numa guerra “soft” envolvendo redes sociais, mídias empresariais variadas e a parte cooptada do judiciário brasileiro, cuja maior expressão foi o juiz Sergio Moro e sua quadrilha de procuradores. É preciso forjar na Câmara e no Senado um pacto de ampla maioria que una todos os democratas e forças amplíssimas que se oponham ao Estado Policial e o complexo de poder que tenta criminalizar a política e destruir a democracia, reconstruindo marcos legais e aprofundando o Estado de Direito e as garantias individuais e democráticas. 

 

A reconstrução de nossa democracia, além dos aspectos econômicos essenciais que traz para nosso povo, passa também pelo combate ao racismo, o machismo, à misoginia, o capacitismo, o preconceito geracional e à LGBTfobia. A essência e a razão do nascimento do PT como partido foram dar protagonismo político e social à classe trabalhadora e ao povo em toda sua diversidade. Não é por outra razão que o bolsonarismo, além do imenso sofrimento econômico e social que seu projeto econômico causou ao povo, fez dessas iniquidades e perseguições instrumentos de seu governo.

 

A perseguição às mulheres, as juventudes, as LGBTs, PCDs e o racismo escancarado de seu governo trouxeram de volta a parte mais asquerosa da história brasileira, escancarando todos os preconceitos e horrores que aniquilaram por anos a vida de tantos brasileiros e brasileiras.

 

2- A questão da soberania nacional e a retomada de ideia força do Brasil como protagonista

 

 

Gerações anteriores sonharam com um Brasil soberano e inserido no mundo de forma independente e autônoma, com uma economia industrializada e moderna tecnologicamente, com o que ha de mais diversificado e contemporâneo no mundo, como potência do sul, liderando o desenvolvimento latino americano. Esse sonho precisa ser resgatado para o imaginário popular e para a agenda da política.

 

Cabe ao governo Lula colocar essa questão no centro da agenda, com seu poder de articulação no mundo, o que de fato já começou a fazer com sua ida na COP 27 e na reunião da CELAC na Argentina, mas que precisa também ser assumida pelo PT e pela esquerda brasileira, buscando ampla aliança com forças democráticas e nacionais.

 

No plano nacional, o tema das políticas fiscal e monetária estão no centro do debate. Acertadamente, o governo do Presidente Lula através de seu Ministério da Fazenda conduzido por Fernando Haddad tem pautado no país a discussão essencial da reforma tributária e do novo arcabouço fiscal, depois da tragédia do chamado teto de gastos que nunca foi respeitado e só serviu como cortina de fumaça para justificar o  descaso com as necessidades do povo brasileiro, enquanto o rentismo lucra através da política de juros altos do Banco Central, que não controlou a inflação e impede a construção de uma trajetória de investimentos para o desenvolvimento do país.

 

 

3-  A questão da justiça social e o estado de bem-estar social.

 

O Estado de bem-estar social brasileiro é uma obra inconclusa. Precisamos avançar passos largos para sua consolidação. Não é admissível que tenhamos retrocedido tanto, depois dos governos Lula e Dilma terem tirado o Brasil do mapa da fome, termos regredido tanto. A fome voltou aos lares brasileiros e a degradação humana e a violência tomaram conta de nossas cidades. É preciso que a questão social seja a essência desse caminho. A aprovação definitiva do Bolsa-Família de 600 reais com 150 reais por criança e do aumento real do salário mínimo pelo governo Lula, antes mesmo da posse, foram vitorias imensas. Consolidar o SUS; garantir escola de tempo integral da creche ao ensino médio; avançar no ensino técnico e ampliar a oportunidades de acesso e permanência ao ensino superior; construir novas formas de relação entre trabalho e estudo para nossas juventudes sem-sem (sem oportunidade de estudo e sem oportunidade de trabalho digno),  avançar rumo a renda básica de cidadania para os mais pobres; (agricultura familiar) enfim, garantir padrões civilizatórios dos principais países do mundo em um pacto cumulativo e progressivo de distribuição mais equânime da renda e das riquezas nacionais é uma prioridade que deve envolver todos os setores da sociedade e amplas forças políticas. 

 

O papel do PT

 

Desde o golpe contra a presidenta Dilma, em 2016, nosso partido passou por um longo processo de luta e resistência. Sob a liderança da Presidenta Gleisi, retomamos a ocupação das ruas e nossos laços com os movimentos sociais e populares, a juventude voltou a bater em nossa porta para construir o presente e o futuro do PT, organizamos a luta da resistência através da campanha nacional e internacional Lula Livre e participamos de maneira ativa da Vigília Lula Livre, organizamos os comitês de luta e trouxemos as organizações populares para a participação protagonista da campanha eleitoral.

Mais uma vez, em nome do movimento democrático da sociedade brasileira, o PT inovou com a organização da Federação Partidária Brasil da Esperança, juntamente com os partidos de esquerda aliados PC do B e PV, e se aliançou com a federação, também de esquerda, constituída entre PSOL e Rede, além da aliança estratégica com o  PSB .

Organizar o partido e transformar os comitês de luta em núcleos de mudança sociais e núcleos do PT. Organizar nossa rede de formação política, unificar a ação de nossos ministros e dirigentes de estatais e direções de governo petistas, no sentido de organizar o povo a partir das políticas transformadoras de nosso governo, são tarefas essenciais e prioritária do período. Para além dessas tarefas, o investimento partidário nos CPLs deve envolver: discutir e pautar na sociedade o debate econômico, social e político do governo Lula; organizar as manifestações de rua em apoio do governo Lula; manter fóruns de atuação antifascista com as personalidades e grupos mais amplos que apoiaram a eleição de Lula; organizar nos CPLs servidores federais petistas e de esquerda, nos estados e no DF; nuclear os setoriais nos CPLs; e preparar a atuação junto à retomada dos canais de diálogo e participação social do governo federal, como conselhos e conferências.

Temos a convicção de que só um PT forte e um povo organizado sustentarão um longo ciclo de transformações sociais profundas no Brasil. Só o PT, nascido e criado na luta democrática será capaz de conduzir a nação brasileira no rumo da democracia, da soberania e da justiça social para liderar a America latina e o Caribe no mesmo rumo, nos inserindo como a grande de pátria continental de forma soberana no sistema mundial como nação feliz, justa e democrática.