quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Antes tarde, do que tarde demais

A prisão de Dirceu, Genoíno e Delúbio resume, de maneira exemplar, certos dilemas estratégicos da esquerda brasileira.

A prisão foi realizada antes de o Supremo Tribunal Federal (STF) analisar os embargos apresentados pelos três. O processo não transitou em julgado.

Mesmo concluído o processo, a pena deveria ser cumprida em regime semi-aberto. Mas a ordem de prisão omitia isto, motivo pelo qual começaram a cumprir pena em regime fechado.

Os três foram transferidos de avião para o presídio da Papuda, em Brasília. O adequado teria sido ficarem desde o início em local próximo a sua moradia e familiares. No caso de Genoíno, cujo estado de saúde é grave, o correto teria sido a prisão domiciliar. [Aliás, o Estado e a administração da Papuda têm o dever de proteger a vida de Genoíno. Com ou sem autorização de Joaquim Barbosa, deve transferir imediatamente o preso para onde possa receber cuidados médicos adequados.]

Arbitrariedades judiciais e policiais são cometidas usualmente contra a maior parte da população carcerária. Assim, o ocorrido deve nos fazer lembrar o quanto ainda deve mudar este país, para que o sistema judicial e prisional não trate as pessoas de acordo com sua posição de classe.

Entretanto, a arbitrariedade aplicada a “petistas ilustres” não é prova de que a justiça é "cega", mesmo quando injusta. Casos similares e recentes comprovam o contrário. Pessoas acusadas de crimes similares, mas pertencentes a outros partidos, estão recebendo tratamento privilegiado.

Por isto, independentemente da opinião que tenhamos sobre cada um deles, sobre o que fizeram ou deixaram de fazer, sobre se mereciam ou não algum tipo de punição, a verdade é que foram julgados, apenados, condenados e presos desta forma por serem petistas, porque isto permite atingir o Partido dos Trabalhadores.

Toda a Ação Penal 470 foi marcada pela ilegalidade. As mais graves são o julgamento em uma única instância, a condenação por crime não comprovado, uma aplicação aberrante do chamado “domínio de fato”, a tolerância frente a casos similares praticados pelo PSDB, a definição de penas em clima de loteria, o caráter espetacular do julgamento, assim como o objetivo explícito e assumido de prejudicar politicamente o Partido dos Trabalhadores.

Isto ocorreu sob a batuta de procuradores gerais da República e de uma maioria absoluta de ministros do STF indicados durante os governos Lula e Dilma. Portanto, apesar de seu papel destacado, Joaquim Barbosa não é o único responsável pelas violências jurídicas cometidas no processo.

Dizendo de outra forma: as ilegalidades cometidas durante a Ação Penal são de responsabilidade, direta e indireta, parcial ou total, de muitas autoridades, inclusive daquelas indicadas pelos governos Lula e Dilma. E no caso destas, não se trata de equívocos isolados: há um “método” nas indicações, bem como na conduta (ou falta de conduta) do Ministro da Justiça e da Polícia Federal. 

Ao indicar pessoas de direita, ou suscetíveis à pressão da direita, o governo facilita aos setores conservadores disfarçar o caráter de classe e o caráter partidário de seus atos. E há setores do governo que acreditam que isto é “republicanismo”, ou seja, convertem seus erros em virtude.

Infelizmente, não se trata de raio em céu azul. Cumprir, sem nem ao menos questionar, uma ordem de prisão redigida de forma perversamente ilegal, não tomar atitude pública e firme em defesa dos direitos humanos dos presos, é coerente com um conjunto de atitudes (e falta de atitudes) de nossos governos na área da segurança, dos direitos humanos e da justiça.

A Ação Penal 470 teve origem, desde a entrevista do então deputado Roberto Jefferson, no consórcio entre a direita demotucana e o oligopólio da comunicação, cabendo a este último o papel de cérebro, de direção estratégica.

Porém, a atitude do governo Lula e do governo Dilma frente à mídia manteve no fundamental o status quo ante, numa atitude que um companheiro denominou de "sadomasoquismo político".

Já o Partido dos Trabalhadores, principal vítima dos ataques da mídia, adotou desde o princípio de 2013 uma retórica mais dura, todavia sem provocar inflexão na postura governamental, nem mesmo na política de comunicação do próprio partido, que é de uma fragilidade patética.

Toda a AP 470 foi construída em torno de uma tese: a de que teria ocorrido compra de votos. Nada, absolutamente nada, foi comprovado a respeito. E tudo, absolutamente tudo, foi comprovado acerca do caráter pernicioso do financiamento empresarial privado das campanhas eleitorais.

Aqui, mais uma vez, está presente o já citado “método”, que explica grande parte dos prejuízos causados, ao PT, pela influência concedida a Marcos Valério, um dos operadores do caixa dois tucano nos anos 1990. Os fatos mostraram a imensa ilusão de classe cometida por quem acreditou que “se eles fazem, também podemos fazer”.

É verdade que a crise iniciada em 2005 teve, como um saldo positivo, fortalecer a convicção, dentro do PT e de amplos setores da sociedade brasileira, de que é necessário eliminar totalmente o financiamento empresarial privado das campanhas eleitorais.

Mas mesmo aí, o “método” se fez presente: o papel lamentável cumprido pelo deputado Candido Vaccarezza, admoestado mas nunca punido pelo Partido, mostra a inconsequência com que muitos defendem a reforma política. Inconsequência que é diretamente proporcional ao grau de dependência (e acomodação) de tantos frente ao financiamento empresarial privado.

Olhando-se de conjunto, o processo como um todo, inclusive a prisão de Dirceu, Genoíno e Delúbio, resultam de um duplo movimento: por um lado, da ação combinada da direita partidária, do oligopólio da mídia e de seus tentáculos no aparato judicial-policial; por outro lado, de um conjunto de ações, opções, omissões e erros cometidos pelo PT e aliados de esquerda.

É importante perceber que a ação da direita parece ter grande respaldo popular, inclusive entre eleitores de Lula, Dilma e do PT. Há vários motivos para isto, alguns já citados, outros não, que levam parcela importante do povo brasileiro a considerar o PT “tão corrupto” quanto os demais partidos, opinião que provoca mais danos sobre nós petistas do que sobre os outros.

Esta visão incorreta sobre o PT ajuda a alimentar uma brutal ofensiva ideológica da direita, que tem como alvo não apenas o petismo, mas a esquerda, as liberdades civis e democráticas em geral. [A chamada judicialização da política é uma das expressões desta ofensiva.]

Não é fácil reagir a isto. Mas é preciso reagir e já. E a primeira maneira de reagir é compreender como foi que chegamos a este ponto, quais ações, opções, omissões e erros foram cometidos individualmente, por setores ou pelo conjunto do petismo.

Setores do PT acreditam que tudo teria sido diferente, caso o Partido tivesse adotado uma postura distinta em 2005, inclusive afastando-se completamente dos que cometeram erros. Certamente teria sido diferente. Mas não foi esta a opção da então e novamente atual maioria do Partido. Delúbio Soares, por exemplo, foi expulso e depois reintegrado ao Partido. Portanto, o conjunto do PT não pode agir, agora, como se tivesse tomado outra atitude em 2005. Isto vale muito especialmente para os que integravam então e integram novamente a maioria partidária: seus atos precisam ter alguma consequência com a opção que adotaram em 2005.

Setores do PT agem como se a prisão de Dirceu e Genoíno constituísse um “acidente de percurso”. Assim como as manifestações de junho, as sabotagens e rupturas na base aliada, o pequeno crescimento do PIB e a greve de investimentos do grande Capital seriam “pontos fora da curva”. Nós pensamos o contrário: a prisão de Dirceu e Genoíno faz parte de uma tragédia anunciada. Pois, de um certo ponto de vista, ambos simbolizam uma estratégia baseada em concessões aos inimigos. Concessões que para muitos pareciam acertadas, quando o inimigo aparentemente recuava. Mas agora está claro que recuaram para melhor saltar, sobre nós, com uma fúria brutal.

Setores do PT parecem acreditar que nada disto terá implicações eleitorais. Não acreditamos nem um pouco nisto. E mesmo que não tivesse implicações eleitorais, certamente enfraquece o PT. Cabendo perguntar: como será um segundo mandato Dilma, com um PT enfraquecido? Qual a chance de realizarmos reformas democrático-populares, construirmos uma hegemonia de esquerda, acumularmos forças em direção ao socialismo, com um PT enfraquecido?

Setores do PT concentram sua energia em denunciar a ilegalidade das prisões e da AP 470, prestando solidariedade aos presos e buscando inclusive maneiras de anular o julgamento. Sem prejuízo de tudo o que se pode e deve fazer neste sentido, temos que entender que a prisão de dois ex-presidentes do Partido é, na melhor das hipóteses, uma metáfora do que nos aguarda, a todos e a todas nós, se o PT não mudar seu “método” de fazer política. Mais precisamente, precisamos mudar de estratégia.

Para quem ainda não percebeu, acabou o tempo em que um “mau acordo” parecia melhor do que uma “boa luta”. Já há tempos, uma boa luta não é apenas melhor, é a única alternativa. Não foi esta a conclusão do PED. Tampouco parece ter sido este o tom da resolução aprovada pelo Diretório Nacional do PT, dia 18 de novembro de 2013.

A defensiva eterna não é capaz de derrotar uma ofensiva e não há tática vitoriosa nos marcos de uma estratégia superada: espero que seja esta a tônica dos debates no V Congresso do Partido, em dezembro de 2013. Pois a melhor resposta que podemos dar a todo o processo que resultou nas prisões é mudar a política do Partido. Antes tarde, do que tarde demais.

Valter Pomar, 20 de novembro de 2013
[versão revisada]













quarta-feira, 13 de novembro de 2013

PED 2013: avaliação preliminar

1.A direção nacional da Articulação de Esquerda reuniu-se, nos dias 12 e 13 de novembro, para fazer uma avaliação do Processo de Eleições Diretas das direções do Partido dos Trabalhadores.

2.Trata-se de uma avaliação preliminar: os resultados finais acabam de ser divulgados, cabendo uma análise detalhada no âmbito municipal, estadual e nacional; e também porque o PED não acabou, uma vez que há segundo turno para a presidência do Partido em vários estados e municípios

3.É o caso do Rio Grande do Sul, onde estamos comprometidos com a vitória do presidente Ary Vanazzi. É o caso de Pernambuco, onde estamos comprometidos com a vitória do presidente Bruno Ribeiro. É o caso de Vitória-ES (Max Dias), Três Lagoas-MS (Antonio Carlos Modesto) e São Gonçalo-RJ (Almir Barbio). É o caso, também, de Sergipe, onde a direção estadual da AE decidirá nos próximos dias nossa posição frente ao segundo turno disputado por dois candidatos da CNB.

4.Há, também, outros casos onde candidatos nossos, candidatos apoiados por nós no primeiro turno, ou candidatos com que disputamos enfrentam o segundo turno (é o caso de Palmas-TO).

5.A direção nacional da Articulação de Esquerda coloca-se à disposição para ajudar as respectivas direções estaduais e municipais, tanto na deliberação quanto na campanha propriamente dita.

6. Nos locais onde o processo eleitoral já encerrou, as direções municipais e estaduais devem convocar reuniões de avaliação, produzir balanços por escrito e fazer circular estes balanços na lista eletrônica nacional da AE.

7.Concluído o segundo turno, no dia 24 de novembro, e finalizada a totalização dos votos do primeiro turno, a direção nacional da AE realizará nova reunião para fazer um balanço completo do processo de eleições diretas das direções petistas, balanço que será publicado na edição de dezembro do jornal Página 13.

8. Sem prejuízo do que será tratado em nossa próxima reunião, a direção nacional realizou desde já um balanço preliminar do primeiro turno do PED.

9.Do ponto de vista político, e considerando fundamentalmente o resultado nacional, a conclusão principal é que a maioria dos votantes não optou pelas chapas e candidaturas que defendiam mudanças na estratégia, na tática e no padrão de funcionamento do PT.

10. Esta opção conservadora e continuísta que predominou no PED poderá ter implicações graves sobre o futuro próximo e mediato do PT e da luta política no Brasil. Isto porque a situação política exige não apenas ousadia e renovação, mas principalmente outra orientação política e outra conduta organizativa.

11. Não foi esta, entretanto, a opção da maioria dos que votaram. Não apenas os filiados-eleitores, mas inclusive parcela majoritária dos militantes do PT segue apostando, conscientemente ou por simples inércia, na política de centro-esquerda. Apesar de parcelas crescentes reconhecerem os limites desta política e o acúmulo de problemas, não quiseram tirar as consequências disto na hora de votar nas chapas e candidaturas.

12. Aliás, é preciso dizer que a maioria dos que votaram no PED não quis levar em devida conta o recado que as ruas nos deram em junho de 2013, em mobilizações que podem voltar a ocorrer, dado que certas condições objetivas e subjetivas seguem presentes; não considerou adequadamente o cenário de dificuldades econômicas e a mudança de postura por parte do grande capital frente ao nosso governo; segue acreditando que o cenário de 2014 está mais para vitória no primeiro turno, do que para um segundo turno acirradíssimo; e não dimensiona corretamente o grau de desgaste do PT junto à diversos setores da população, com destaque para a juventude, inclusive a juventude trabalhadora. Onde há segundo turno na eleição da presidência do Partido, estes temas continuam presentes no debate e lutaremos pela vitória de candidaturas que tenham compreensão deste conjunto de desafios.

13. Não basta, contudo, criticar a maioria, seu gosto pelo aparato em detrimento da política, a tendência à pulverização despolitizada de chapas vinculadas ao grupo majoritário, a incapacidade de evitar a “tragédia anunciada” que foi a organização do PED. É preciso também reconhecer, de maneira autocrítica, as debilidades do conjunto de tendências, chapas e candidaturas que propunham mudanças na política e no comportamento do Partido.

14. Embora este tópico vá ser mais desenvolvido no documento de balanço que apresentaremos após o segundo turno, podemos antecipar o seguinte: desde 2005, a chamada esquerda do PT vem sofrendo um processo de divisão e redução de sua influência, que somadas a dificuldades políticas mais gerais, bem como ao processo de burocratização e degeneração da vida interna partidária, criam enormes obstáculos para que a minoria de esquerda possa voltar a ser maioria. Assim, uma de nossas tarefas é recompor a esquerda petista, para que volte a existir a possibilidade de a minoria virar maioria. Deste ponto de vista, nossa principal conquista no PED 2013, em âmbito nacional, foi termos conseguido resistir e impedir o aniquilamento que se anunciava quando houve a cotização artificial de dezenas, talvez centenas de milhares de filiados.

15. Do ponto de vista organizativo, o PED 2013 foi pior do que todos os anteriores. Podemos dizer que há um amplo consenso sobre isto dentro do Partido. O problema é que esta avaliação comum parte de posições muito distintas e até opostas. Por um lado estão os que, como nós, defendemos que o processo de eleição das direções partidárias seja feito através de encontros partidários. Por outro lado, estão os que defendem “qualificar” o PED, por meio de adoção de regras que reduzam o peso dos filiados-eleitores e ampliem o peso dos militantes, na linha do que foi aprovado no IV Congresso do Partido e posteriormente flexibilizado ou até mesmo revogado pelo Diretório Nacional. Finalmente, há os que querem flexibilizar ainda mais as regras, secundarizando a participação ativa, a formação política, o autofinanciamento, os debates, etc. reforçando assim a influência dos filiados-eleitores em detrimento dos militantes.

16. Em termos objetivos, o número de filiados que participou do PED 2013 foi inferior ao PED 2009. Em 2009 votaram 518.192 filiados e filiadas. Em 2013, votaram 425.604 petistas.

17. Dos mais de 1 milhão e 700 mil filiados petistas, foram pagas as cotizações de 809 mil. Destes que cotizaram (ou foram cotizados), 387.837 filiados não compareceram para votar, deixando clara a alta dose de artificialidade e a influência do poder econômico presentes no processo de filiação e cotização. A artificialidade foi tamanha que só restou, a um dos responsáveis pela organização do PED, ter um surto de "amnésia" para tentar explicar o grande número de cotizados ausentes: "O voto hoje é mais criterioso, as pessoas precisam passar por atividade partidária, tem que efetuar contribuição financeira. É um processo muito mais complexo. No PT, não é só voto. As pessoas têm que participar efetivamente do processo", disse o dirigente citado, numa coletiva à imprensa.

18. Somando os que votaram nulo (10.343) ou branco (36.317), com os que estavam cotizados mas não compareceram (387.837), temos 434.497 filiados, número maior do que os dos 421.507 que votaram em alguma chapa. É preciso analisar cuidadosamente os motivos pelos quais tantos filiados votaram em branco ou nulo para presidente e chapas nacionais. Assim como é necessário compreender por quais motivos a “abstenção de cotizados” variou, de cidade para cidade, de estado para estado.

19. A quebra na votação pode ser ilustrada pelo resultado presidencial: em 2009 José Eduardo Dutra ganhou no primeiro turno com 58% e 274 mil votos. Rui Falcão foi eleito, agora, com 69,5% mas com 268 mil votos.

20. A maioria dos que votaram não participou de nenhum debate, tampouco teve acesso ao jornal com as posições das chapas e candidaturas nacionais. Setores do PT trabalharam para esvaziar e esterilizar a discussão. Em alguns estados, como São Paulo, não ocorreu nenhum debate nacional. Mesmo onde o debate ocorreu, sua profundidade foi inferior ao necessário. A falta de debates contribuiu para a impressão, forte em muitos setores do Partido, de que o PED não ajudou a qualificar nossas direções partidárias.

21. Apesar do enorme esforço político e material, o resultado final do PED nacional não provocou alterações significativas na composição do Diretório e da Comissão Executiva Nacional do PT. Exemplo disto: em 2013 as chapas que apoiam Rui Falcão receberam 69% dos votos; em 2009, os mesmos setores obtiveram 70%.

22. Claro que para os setores minoritários, um pequeno deslocamento pode ser a diferença entre estar ou não na direção do PT. A Articulação de Esquerda passou por esta prova. Conseguimos sair do PED 2013 com a mesma presença na direção nacional do PT que obtivemos em 2009: 4 integrantes no DN e 1 na CEN. Ademais, tivemos resultados nas eleições estaduais e municipais que expressam nosso enraizamento na classe trabalhadora, nos movimentos sociais, na institucionalidade, no debate de idéias e no Partido. Nosso resultado global, obtido contra todo tipo de pressão externa e debilidades internas, foi produto em parte da quebra na votação geral, mas também de nossa ação, inclusive de uma correta decisão política de priorizar, durante o PED, o debate político-programático. Assim, sem prejuízo da necessária autocrítica de nossos erros e debilidades, saímos deste PED com moral alta e sentimento de dever cumprido.

23. Para nos representar no próximo Diretório Nacional, apresentamos como titulares os seguintes companheiros e companheiras: Bruno Elias, secretário executivo do Conselho Nacional de Juventude do Governo Federal; Jandyra Uehara, da executiva nacional da Central Única dos Trabalhadores; Adriano Oliveira, secretário de formação política do PT-RS; Rosana Ramos, da atual Comissão de Ética Nacional do PT.

24. Nossa chapa indica como suplentes: Valter Pomar, dirigente nacional do PT; Iriny Lopes, deputada federal PT-ES; Jonatas Moreth, da executiva nacional da juventude do PT; Ana Affonso, deputada estadual PT-RS; Rubens Alves, dirigente nacional do PT; Ana Lucia, deputada estadual PT-SE; Mucio Magalhaes, dirigente nacional do PT; Adriele Manjabosco, diretora da UNE.

25. Para nos representar na Comissão Executiva Nacional, a chapa “A Esperança é Vermelha” indica o companheiro Bruno Elias, um jovem com experiência nos movimentos sociais, no governo e no Partido. Alguém à altura da tarefa política e afinado com a necessidade de renovação, que vem sendo vocalizada (mas não praticada) por diversos líderes partidários.

26. Propomos que o companheiro Bruno Elias assuma a Secretaria Nacional de Movimentos Populares. Estamos seguros de que ele terá, a frente desta secretaria, o mesmo compromisso partidário demonstrado em outras tarefas, compromisso também demonstrado por representantes de nossa tendência, no período recente, a frente das tarefas de formação politica e relações internacionais. As companheiras Jandyra Uehara e Rosana Ramos estão encarregadas de todas as conversas e negociações relativas à composição da nova CEN.

27. A direção nacional da AE concluiu sua avaliação preliminar do PED, fazendo um reconhecimento e um agradecimento aos filiados e filiadas petistas que confiaram em nós, à militância que fez nossas campanhas, aos que foram candidatos e candidatas à direção e presidência.

28.  Seja onde o resultado foi expressivo, seja onde foi modesto, fizemos uma campanha politicamente clara, defendendo mudanças profundas na estratégia, na tática e no funcionamento do PT. Nas redes sociais, nos destacamos por uma campanha ágil, criativa e bonita, que ajudou a quebrar o silêncio da mídia acerca do PED. Disputamos o PED da forma como sempre deveria ser, oferecendo nossas ideias e nossa disposição militante. E seguimos na luta por um PT democrático-popular e socialista, com muita esperança vermelha e sem medo de ser feliz.

A direção nacional da Articulação de Esquerda
13 de novembro de 2013


domingo, 10 de novembro de 2013

Para quem escolheu um "historiador" candidato à presidência nacional do PT

Não vou lembrar quantos dias nos separam de São Crispim, não vou comparar a nuvem de vans com as flechas que fizeram os espartanos combater "à sombra" nas Termópilas, nem vou dizer que "não passarão", porque infelizmente isto em geral deu azar.

Quero apenas pedir que neste dia 10 de novembro de 2013 façamos como sempre: dar o nosso melhor em defesa de nossas idéias e de nossos ideais, até porque estamos nessa por tudo isto e por nada mais. E nessa toada seguiremos, haja o que houver.

Um grande abraço, especialmente em quem está na linha de frente das campanhas da chapa "A Esperança é vermelha" em todo o país.

Valter Pomar

sábado, 9 de novembro de 2013

Sobre Chico de Oliveira na Folha de S. Paulo

Prezado Caio
Agradeço pelo envio.
Não tinha visto.
Li. E não gostei.
Confesso que não gosto do que o Chico de Oliveira escreve.
Considero teoricamente inconsistente, politicamente inconsequente e literariamente espalhafatoso (para usar um termo educado).
No caso das idéias dele, ele tem razão: não foi bom envelhecer.
Para quem achar exagerado isto que estou falando, peço que comparem a entrevista que ele deu ao Ricardo Galhardo, há alguns poucos meses, tratando exatamente das manifestações de junho, vis a vis o que ele fala agora para a Folha.
No fundo, como intelectual, Chico me lembra FHC, capaz de análises sociológicas curiosas, com pontos aqui e ali até interessantes, mas que na política resultam em absolutamente qualquer coisa (também para ser educado, afinal é sábado). 
Veja a opinião que Chico dá sobre a proposta de uma Assembléia Constituinte. Chama a proposta de "idiota". Se ele falasse isto da  proposta de pacto fiscal, eu poderia entender e concordar. Mas a proposta de Constituinte foi exatamente o mais avançado que surgiu naquele momento, e o fato de ter surgido da boca da presidenta foi muito positivo. E não seguiu adiante por causa da resistência da direita, da sabotagem do PMDB e da covardia política (ou aberta traição) de setores do próprio PT, como o infame Vaccarezza.
Veja o que Chico fala sobre o crescimento: diz que o Brasil está crescendo "de forma violentíssima" nos últimos 20 anos. Crescendo "desde FHC", o amigo-da-foto-do-álbum-de-família que ele Chico sempre dá um jeito de preservar, em contraponto a Lula que ele sempre dá um jeito de criticar de maneira para lá de desrespeitosa.
Vejam o que Chico fala da questão agrária: no Brasil, diz ele, "não tem questão camponesa". Ou, na ponta oposta mas com o mesmo sentido, vejam a proposta do "Estado indígena".
Vejam o que Chico fala da dupla Marina/Campos: "nenhum deles tem proposta nenhuma", quando até as pedras sabem da influência da casa das garças no ideário da dupla.
Na prática, limpem a retórica esquerdista, e encontrarão em Chico um substrato reacionário que ele compartilha com seu amigo FHC, e cuja base está na leitura errada que fazem do desenvolvimento capitalista no Brasil.
Uma das frases mais eloquentes neste sentido é a seguinte: "A tragédia brasileira de hoje é que o Brasil precisa de uma revolução social, mas não tem forças revolucionárias. O campesinato não existe. O operariado não é revolucionário, é sócio do êxito capitalista no Brasil. Os principais fundos de pensão são todos eles, entre aspas, de propriedade dos trabalhadores. E todos eles atuam nas grandes empresas capitalistas. A burguesia nunca foi revolucionária." 
Perguntado pela Folha sobre "o que a esquerda pode fazer?", Chico responde: "nada".
Chico é isto: o retrato da impotência da ultra-esquerda. 
Assim, ele não rasgou o verbo. Rasgou as vestes.
Abraços e bom final de semana
Valter Pomar


A íntegra da entrevista
Folha - Oitenta anos. Que tal?
Chico de Oliveira - Oscar Niemeyer disse que a velhice é uma merda. Eu não só tão radical. Mas ela não tem essas bondades que geralmente se diz. A história de que o sujeito ganha em sabedoria é uma farsa. Não é bom envelhecer.
O senhor está bem, está lendo, fazendo críticas.
Só aparentemente. Eu tomo dez remédios por dia. Entre insulina para diabetes, remédio para hipertensão... Não é nada bom. As pessoas sábias deveriam morrer cedo (risos).
Antigamente era assim. Esse negócio de longevidade é uma novidade, né?
É, a longevidade é uma coisa recente mesmo. Não é façanha sua. É da economia, basicamente. É a economia que te leva até os 80 anos. São as condições de vida que mudam, você não precisa de trabalho pesado. Quem condiciona tudo é o trabalho. E, evidentemente, gente da minha classe social está apta a aproveitar essas benesses do desenvolvimento capitalista. Mas pessoalmente não é agradável. Só que não existe solução. Você vai se matar para poder não cumprir os desígnios de sua classe social?
O senhor se surpreende aos 80. Em junho, milhares de brasileiros foram às ruas protestar. E o senhor disse que era tudo inédito e surpreendente. Na sua avaliação, qual é o saldo?
É bom não fazer uma cobrança positivista do tipo "o que é que deu aquilo?". Deu algum resultado, a tarifa de ônibus baixou. Mas deu uma coisa ótima. O ótimo é que a sociedade mostrou que é capaz ainda de se revoltar, é capaz de ir para a rua. Isso é ótimo. Não precisa resultados palpáveis. O que é bom em si mesmo foi o fato de a população, alguns setores sociais, se manifestarem. Assustarem os donos do poder, e isso foi ótimo. Isso é que é importante. Esse objetivo foi cumprido. Eu falava que era inédito porque a sociedade brasileira é muito pacata. A violência é só pessoal, privada, o que é um horror. Quando vai para a violência pública, as coisas melhoram. Esse é o resultado que nos interessa: um estado de ânimo da população que assuste os donos do poder.
Assustou mesmo?
Assustou. Porque era uma coisa realmente inédita, com setores sociais que geralmente dizem que são conformistas, parte da juventude. Esse tipo de manifestação mostrou que não é assim. Isso é bom para a sociedade. Não é bom para os donos do poder. Mas são eles, exatamente, que a gente deve assustar. Se puder, mais do que assustar, derrubá-los do poder. Não acho que essas manifestações tenham esse caráter, essa forma. Mas regozijo-me porque foi manifestado o não conformismo.
O senhor disse que sociedade brasileira é muito pacata. Por que tem essa característica e qual é a melhor explicação?
É um complexo de fatores, não é fácil definir. Quem fala sobre isso geralmente aponta as raízes escravistas. Uma sociedade que não faz muito tempo, faz 100 anos, libertou-se do escravismo. Isso deu lugar a uma sociedade que apanha, mas não reage. Quem melhor estudou isso foi Gilberto Freyre. Ele estudou isso, do ponto de vista saudosista, mas é quem mais foi fundo nessa espécie de conformismo na sociedade. Embora a interpretação de Sérgio Buarque [de Holanda] também seja boa, a sociedade que se conforma. Para ele, é o homem cordial. Gilberto tem outro "approach", ele vai para a cultura. Cultura não no sentido de quem carrega livro, mas na forma pela qual a sociedade se construiu e se reconhece nela. É basicamente a ideia da casa grande. A casa grande é uma formação conformista. Tem uma violência que explode a cada momento. E tem um senhor de escravo que é compadre de escravo. É uma formação muito complexa. Muito interessante para um sociólogo estudar, mas muito pesada para quem sofre os efeitos dessa cultura brasileira. Que não é a portuguesa exatamente, não é a indígena. É um mix de várias fontes. Não tivemos nenhuma grande revolução violenta. A que o Brasil comemora sempre, que é a de 1930, não teve nada de especialmente violenta. Teve os gaúchos saindo do sul, [Getulio] Vargas a frente. Na verdade enfrentaram uns paulistas aí, mas terminou tudo em pizza (risos). Isso marca muito a sociedade brasileira. Esse conformismo que só explode em violência privada, o sujeito que morre de facada. Você liga a televisão e vê: todo dia tem uma tragédia dessa.
Se sempre foi assim, o que desencadeou em junho?
Não foi sempre assim, claro. Isso é o meu jeito de falar. Havia violência, muita violência, mas não era uma violência que se tornava pública porque era uma violência de escravos e isso sempre foi abafado. Hoje é uma sociedade urbana, extremamente violenta e que só explode em violência privada. Sobre violência pública, não temos muito o que contar. Nesse quesito, o Brasil perde de longe para qualquer outra revolução. A revolução mexicana, por exemplo, foi uma coisa espantosa. Espantou o mundo tudo. No Brasil, não. A cubana também.
Bom, da cubana tem gente com medo até hoje por aqui.
Ah, é (risos). Fidel, que não teve jeito de prosseguir com aquela revolução, está aí. Está envelhecendo à sombra dela. Mas o Brasil é isso. Não dá para lamentar propriamente. Ninguém ama a violência. Mas isso influi muito no caráter, na formação da sociedade. Eu não tenho mais, mas toda casa brasileira tem uma empregada doméstica. A empregada doméstica é um ser em definição. Ela não é pública nem privada. Algum progresso se deu pelo fato de que elas agora pedem carteira assinada. Isso parece nada, mas é muita coisa. Mas, em geral, isso leva a uma situação acomodatícia, uma relação de compadre com a comadre. Isso molda a sociedade em geral.
Está na arquitetura brasileira, o quarto de empregada na lavanderia. Existe algo assim em algum outro país?
Não tenho notícia de nenhum outro lugar. Isso [o quarto de empregada] tem um nome científico: edícula (risos). Temos quarto para empregada, né? É realmente fantástico... Nas sociedades que eu conheço, não é assim. Na Europa pode ter tido um período, mas hoje não existe. Nos Estados Unidos, tão pouco. O Brasil é muito especial. Criou uma forma de convivência, um processo com muita força que se reproduz mesmo nas sociedades urbanas.
O senhor acha que os governantes ficaram com medo de verdade?
Não. Ainda não. Mas deu um susto. Teve. Os jornais repercutiram de forma bastante conservadora, né? Mas deu um susto.
Aí a presidente Dilma Rousseff lançou na sequência aquela ideia de Assembleia Constituinte para a reforma política. O que achou da resposta?
Eu achei idiota. Não gostaria de fazer uma avaliação precipitada do governo Dilma para não dar força à direita que está em cima dela o tempo todo. Mas é uma resposta idiota. Ninguém resolve o problema assim com reforma da Constituição. Ela seria importante para encaminhar os novos conflitos. A Constituição deveria ser o que molda as relações no Brasil. Não é. Ninguém dá bola para a Constituição.
O que teria sido uma resposta adequada?
Seria reconhecer que o país está atravessando uma zona de extrema turbulência devido ao crescimento econômico. Não é que o caráter do povo é violento. Isso é uma bobagem. Não é que uma reforma política vai resolver os problemas da violência pública. Isso é outra bobagem. Ela teria que reconhecer o Brasil está atravessando um período de extrema turbulência porque o crescimento econômico é que cria a turbulência, não é o contrário. Todo mundo pensa que o crescimento apazigua. Não é verdade. O crescimento exalta forças que não existiam, o capitalismo é um sistema econômico violentíssimo. Os EUA, que são o paradigma do capitalismo, são uma sociedade extremamente violenta, tanto pública quanto privada. O Brasil vive uma espécie de adormecimento devido a essa cultura que eu estava comentando. De repente, o tipo de crescimento econômico violento e tenso em pouco tempo quebra todas as amarras, e a violência vai para rua.
Mas a presidente Dilma é criticada pelo baixo crescimento, é criticada porque o país não cresce.
Não é verdade. O país está crescendo de forma violentíssima nos últimos 20 anos. Numa perspectiva mais de longo prazo, desde Fernando Henrique, passando por Lula e agora Dilma. Além de quê é um crescimento econômico diferenciado. Não dá mais para crescer no campo. Agora o crescimento é na cidade. E na cidade gera relações público-privadas diferentes. Se o Estado não tem políticas para tal, é melhor ficar calado do que dizer besteira. Reforma da Constituição. E daí? O que a reforma da Constituição faz? Para o que passou, não tem efeito nenhum.
Parte das manifestações dizem muito respeito às polícias estaduais. O que o senhor acho do papel dos governadores?
Esse [Geraldo] Alckmin é uma coisa... Todo mundo pensa que o crescimento econômico influi na política de forma positiva. Isso é uma ilusão. O Alckmin é bem o representante dessa política. Um ser anódino. Já chamaram ele de picolé de chuchu. O José Simão [inventor do apelido] talvez seja o melhor sociólogo brasileiro. Ele de fato não desperta paixões nem ódio. Em geral é assim. Não tem nenhum governador que inspire empolgação, esperança de que um dia desse casulo nasça uma espécie de borboleta bonita. Nenhum deles. Mesmo o Tarso Genro, do Rio Grande do Sul, que é um tipo mais educado. Vai para o governo e se amolda. O Alckmin: pelo jeito a população aprova esse estilo anódino, que não diz nada com nada. Isso é ruim, viu? Ruim porque é o Estado mais importante da Federação, o que poderia dar uma chacoalhada nesse sistema. Mas não dá. E tudo muito conformado. E a imprensa tem um papel horroroso: o que for conformismo, ela exalta; o que for rebeldia, ela condena. Daí que o viés conservador no olhar sobre essas manifestações é a tônica. Ninguém vê nisso um processo de libertação da sociedade. Todo mundo quer a passividade. Eu saúdo essas manifestações como uma amostra de que a sociedade pode e deve manifestar-se sempre que as condições de sua existência sejam tão iníquas como são hoje.
Que avaliação o senhor faz do movimento "black bloc"?
Faço uma boa avaliação. Se eles se constituem como novos sujeitos da ação social, é para saudar. Vamos ver se, com a ajuda deles, a gente chacoalha essa sociedade que é conformista. Parece que tudo no Brasil vai bem. Não é verdade. Vai tudo mal. Porque o Estado não age no sentido de antecipar-se à sociedade que está mudando rapidamente. Você tem uma sociedade como a brasileira em que a questão operária tornou-se central. E aí vem o Lula e ele está fazendo um trabalho sujo, que é aquietar aquilo que é revolta. Essa sociedade não aguenta esse tranco.
Trabalho sujo?
Ah, tá. A questão operária tem a capacidade de transformar o Brasil e ele está acomodando. De certa forma, está matando a rebeldia que é intrínseca a esse movimento. Rebeldia não quer dizer violência, sair para a rua para quebrar coisa. Rebeldia é um comportamento crítico.
Onde o senhor vê isso no Lula?
Em tudo. Lula é um conservador, ele nunca quis ser personagem desse movimento [operário]. Ele foi contra a vontade dele. Mas ele, no fundo, é um conservador. Ele age como. Na Presidência, atuou como conservador. Pôs Dilma como uma expressão conservadora. Porque você não vende uma personalidade pública como gerente. Gerente é o antípoda da rebeldia. Ele vendeu a Dilma como gerente. Uma gerentona que sabe administrar. É péssimo. O Brasil não precisa de gerentes. Precisa de políticos que tenham capacidade de expressar essa transformação e dar um passo a frente. Ele empurrou a Dilma goela abaixo. Não se pode nem ter uma avaliação mais séria dela, pois ele não deixa ela governar. Atrapalha ela, se mete, inventa que ele é o interlocutor. Aí não dá. E ela não pode nem reclamar. É uma cria dele, né?
O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos disse que Dilma tem insensibilidade social. Citou problemas com movimentos sociais, indígenas, camponeses, meio ambiente. O senhor concorda?
Eu não diria com essa ênfase. O Boaventura, eu conheço bem, um sociólogo importante. Essa ênfase na questão camponesa... O Brasil não tem camponês. Isso é um equívoco teórico que vem do fato de a gente analisar o desenvolvimento capitalista brasileiro nos moldes europeus. Não é assim. Aqui nunca teve campesinato, nem terá. Porque, basicamente, aqui teve uma propriedade extremamente concentrada do escravismo. Isso se projetou depois numa economia capitalista. O que tem é uma questão urbana grave, pesada, que é preciso resolver. Não tem questão camponesa, isso é uma celebração do passado.
Mas problema indígena tem.
Indígena é um problema. Porque a sociedade só sabe tratar indígena absorvendo e descaracterizando. Para tratar dessa questão é preciso, na verdade, de uma revolução de alto nível. Qual é essa revolução de alto nível? É reconhecer que há um Estado indígena.
Estado indígena?
É. A real solução. Há um Estado indígena. E o Estado capitalista no Brasil não pode tratar essa questão, não sabe tratar essa questão. Ele só sabe tratar indígena atropelando, matando, trazendo para dentro da chamada civilização. Os irmãos Vilas-Boas são os arautos dessa solução. Eles são ótimos, mas a visão deles estava equivocada. A real solução é de uma gravidade que a gente nem pode propor. Trata-se de um Estado indígena. Separa. Separa. E nada de integrar. Deixa. Ajuda até eles a proporem suas próprias... Ninguém tem coragem de dizer isso no Brasil. Então todo mundo quer integrar. Para integrar, você machuca, você mata, você dissolve as formações indígenas. Já a questão camponesa é falsa. O que existe é um assalariado agrícola pesado que sofre os efeitos de um desenvolvimento acelerado. O Estado do Mato Grosso era uma reserva antigamente. Hoje você passa lá e só não tem mato. É grosso, mas sem mato.
E o tema do meio ambiente? Sensibiliza o senhor?
Eu não acredito que o meio ambiente seja uma forma de fazer política. A Marina Silva está aí lançada. Ela não tem nada a dizer sobre o capitalismo? Será? Será que a política ambiental é ruim? Ou é o capitalismo que é ruim? Ela não diz nada disso. Então, para mim a Marina Silva é uma freira trotskista (risos). Cheia de revolução sem botar o pé no chão. Ela juntou com o Eduardo Campos, uma jogada política importante. Mas nenhum deles tem proposta nenhuma. A Marina fica com esse ambientalismo démodé, não diz o que quer. Criticar a política de meio ambiente é fácil. Quero ver ela criticar o sistema capitalista nas formas em que ele está se reproduzindo no Brasil. Aí é botar o dedo na ferida. Mas ambientalismo...
O senhor disse que a política da Dilma é conservadora. O senhor diria que ela é de direita?
Não, não diria. Ela é um personagem difícil, coitada. Ela é uma personagem trágica. Porque ela não pode fazer o que ela se proporia a fazer. Ela tem uma história revolucionária. Mas ela não pode fazer isso porque ela está lá porque Lula a colocou. E Lula não é um revolucionário. Ao contrário, ele é um antirrevolucionário. Ele não quer soluções de transformação, ele quer soluções de apaziguamento. E ela está lá para fazer isso. Ela seria mais para o outro lado. Mas não teria força política para isso. Nem existe força social revolucionária. É preciso a gente combater os nossos próprios mitos. Então Dilma está sendo empurrada para a direita. Pelo Lula. Talvez, se as opções estivessem em suas mãos, Dilma faria uma política mais de esquerda no sentido amplo. Mas ela não foi eleita para isso. Nem tem força social capaz de impor essa mudança. A tragédia brasileira de hoje é que o Brasil precisa de uma revolução social, mas não tem forças revolucionárias. O campesinato não existe. O operariado não é revolucionário, é sócio do êxito capitalista no Brasil. Os principais fundos de pensão são todos eles, entre aspas, de propriedade dos trabalhadores. E todos eles atuam nas grandes empresas capitalistas. A burguesia nunca foi revolucionária. Florestan Fernandes deu xeque-mate quando tratou da revolução burguesa no Brasil. É o melhor livro de Florestan.
O que o senhor espera da eleição do ano que vem?
Mais do mesmo. Com nomes diferentes. Ninguém tem capital político para fazer diferente. Além do que, como dizia Telê Santana, em time que está ganhando não se mexe. Eles estão ganhando. Para fazer o projeto de país e sociedade que eles pensam, eles estão ganhando. Nós estamos perdendo. A esquerda está perdendo. Perdendo suas referências e sua força na sociedade. Então, do ponto de vista deles, eles estão ganhando.
E o que a esquerda pode fazer?
Nada. O Aécio Neves não disse a que veio. E não tem proposta nenhuma, na verdade. A dupla Marina-Campos também não tem proposta nenhuma. O ambientalismo... O que é exatamente? Nem ela diz, nem ela sabe. Ela sabe é ficar nesse floreio, que não resolve coisa nenhuma. A Dilma é o que você está vendo. Ela não faz política porque tem de fazer o projeto do Lula. E o projeto do Lula é isso, é conservador. Então é mais do mesmo. A resultante de tudo será um governo muito parecido com o atual: o pouco de virtude que esse governo tem e a carga de irresoluções que ele reproduz.
O que é o pouco de virtude?
O pouco de virtude é, talvez, dar um pouco mais de atenção à área social. Que eu não gosto, para falar a verdade, porque é um conformar-se em não resolver. O Bolsa Família é uma declaração de fracasso. Não é uma declaração de vitória. Para não morrer de fome, a gente vai dar uma comidinha. Eu não gosto disso. Eu sou socialista há 50 anos. Para mim, a gente tem de mudar. E mudar não é necessariamente por revolução violenta, pois está um pouco fora de moda. Mudar fundo. O Estado brasileiro é detentor das principais empresas capitalistas do país. Não são empresas de fazer favor. A Petrobras não faz favor a ninguém. Agora mesmo que a questão dela está repercutindo muito na imprensa, ela pode dizer "eu não estou aqui para fazer favor". Mas se puder fazer capitalismo e distribuir melhor a renda, essa é a tarefa dela. O Estado brasileiro é muito forte, ao contrário do que se passa na maioria dos países. O Estado nos EUA não é forte. Nem na Europa é mais. Foi [forte] na grande virada social-democrata, mas não é mais. No Brasil ainda é. Portanto é aproveitar isso e fazer uma transformação que vá na direção dos interesses populares. O Bolsa Família não é solução. Ele é uma espécie de conformismo: deixa como está para ver como fica; dá um pouquinho de comida para isso não virar revolta. Eu não gosto desse tipo de política. Acho o Bolsa Família uma política conservadora que atende uma dimensão da miséria popular, mas não tem promessa de transformação

Respostas de sábado, 9 de novembro

1)Amanhã é o dia da eleição, qual a sua avaliação do processo nesses meses que antecederam o PED?

Comparado aos partidos tradicionais brasileiros e mesmo comparado a alguns partidos de esquerda, o processo de eleição direta das direções petistas é algo muito rico. Agora, se julgarmos o PED à luz dos nossos próprios parâmetros e à luz das necessidades do próprio PT, este processo eleitoral interno está repleto de insuficiências e de problemas muito graves. Como já dissemos várias vezes, o PED converte nossos filiados em eleitores, quando o que precisamos é de militantes. Apesar deste contexto negativo, nós e outros setores do Partido cumprimos as regras, combatemos as distorções e principalmente insistimos no debate político: o PT precisa mudar. Mudar de estratégia, em direção a reformas estruturais e ao socialismo. Mudar de tática, para que o segundo mandato Dilma seja muito superior ao atual. E mudar de funcionamento, com autonomia financeira, formação e comunicação de massas, aproximação aos movimentos sociais, diretórios, núcleos e setoriais que funcionem efetiva e permanentemente, não apenas nos anos pares, não apenas para fins eleitorais. Quanto ao resultado em si, vamos avaliar depois: a hora é de lutar para vencer, para garantir segundo turno nas disputas presidenciais e diretórios partidários em que todas as correntes internas estejam representadas, especialmente a esquerda petista. Para isto contamos com (e aproveitamos para agradecer) a militância, mobilizada voluntariamente, combatendo máquinas e poder econômico, apoiada em convicção política e ideológica. 
2)Que PT pode sair deste PED? Qual o impacto disto para o Brasil e para o mundo?

Depende da votação, depende de saber quem for vencedor nas disputas presidenciais, depende de verificar quais setores predominaram na composição das direções. A grosso modo, podemos ter uma renovação conservadora, com um diretório menos plural e menos capaz politicamente do que o atual. Ou podemos ter uma renovação de fato, com novo presidente, diretórios plurais e sintonizados com as necessidades de um Brasil que pede reformas estruturais, de uma América Latina que pede integração regional, de um mundo que pede uma alternativa socialista. Nosso esforço, como já disse, foi para que o PT saia deste processo, que se encerra no V Congresso, defendendo uma estratégia democrático-popular e socialista, com ênfase em construir um novo padrão de desenvolvimento para o Brasil, com alto crescimento, sustentabilidade ambiental, bem-estar social, vanguarda tecnológica, ampla democracia, direitos humanos e civis ampliados. E um partido militante, que esteja preparado para o novo período em que entramos, de agravamento dos conflitos entre Estados em âmbito internacional e dos conflitos entre classes sociais, especialmente aqui no Brasil. O melhor ainda está por vir, a questão é saber se estaremos à altura dos desafios presentes e futuros. Para isto será necessário ter muita esperança. Esperança vermelha.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Entrevista para Rodrigo Vianna



1) O senhor tem dito que o partido precisa rever sua tática e sua estratégia. Já não bastam as políticas compensatórias, adotadas desde Lula, seria preciso caminhar para  reformas estruturais. Qual seria esse novo "programa"? E o PT atual tem disposição pra isso, ou se tornou refém da pura lógica eleitoral?

Vamos por partes: não acho que o PT tenha se tornado refém da "pura lógica eleitoral". 
Acho que é mais correto dizer que há "duas almas" --ou dois chips, se quiser uma imagem mais moderna, ou duas estratégias, para usar uma linguagem mais política-- operando no PT. Uma é comprometida com a transformação profunda da sociedade brasileira. A outra é comprometida com o melhorismo.
As duas estratégias necessitam, para materializar seus propósitos, que o Partido dispute eleições, ganhe e governe.
A diferença é que a estratégia melhorista faz o Partido ir se contentando, se adaptando, se conformando, se domesticando frente aquilo que é possível obter através dos processos eleitorais.
Já a estratégia transformadora continua empurrando o Partido a brigar contra os limites da institucionalidade ou, para ser mais exato, contra os limites da democracia burguesia realmente existente no Brasil.
É importante dizer que os resultados obtidos pelo Partido, ao longo destes mais de 33 anos, especialmente ao longo destes praticamente 11 anos de governo, não são produto exclusivo nem de uma, nem de outra estratégia.
São produto da ação combinada das duas, no contexto da luta de classes que ocorre na sociedade brasileira, que por sua vez está imersa numa conjuntura internacional também conflituosa e cambiante.
Agora, uma coisa é verdade: a estratégia melhorista predominou, desde 1995, desde a eleição de José Dirceu presidente do PT no Encontro que fizemos na cidade de Guarapari, no Espírito Santo.
Em segundo lugar, não acho que nossa ação de governo, desde 2003, tenha sido marcado por políticas compensatórias. 
Por um lado, a escala de pessoas beneficiadas pelas cotas, pelo ProUni e pela Bolsa Família, para ficar nestes três casos, faz com que estas políticas não sejam meramente "compensatórias", focalizadas, micro: elas possuem efeitos macroeconômicos muito mais amplos.
Por outro lado, estas políticas citadas, e outras do mesmo tipo, tiveram papel complementar na melhoria das condições de vida do povo brasileiro, desde 2003: papel muito mais essencial tiveram políticas universais clássicas, como a geração de empregos, a elevação da massa salarial, do salário mínimo e das aposentadorias.
O correto, na minha opinião, é dizer que nossa ação de governo, a partir de 2003, foi marcada pela seguinte orientação: melhorar a vida do povo através de políticas públicas, sem fazer reformas estruturais.
E o que está ocorrendo, hoje, é que esta orientação estratégia "melhorista", baseada em políticas públicas, está esgotando sua capacidade de melhorar de maneira sustentável, continuada e ampliada as condições de vida do povo.
Dito de outra forma: apenas com políticas públicas, sem reformas estruturais, não vamos conseguir concluir a superação do neoliberalismo, nem tampouco vamos superar a natureza conservadora, antidemocrática e dependente do capitalismo brasileiro.
Para atingir estes objetivos, para termos um Brasil efetivamente democrático-popular, e também para acumular forças em direção ao socialismo, precisamos de uma estratégia transformadora, uma estratégia que nos permita realizar reformas estruturais, entre as quais destaco a Lei da Mídia Democrática, a reforma política e a Assembléia Constituinte, a reforma tributária, as reformas agrária e urbana, uma política econômica baseada no protagonismo do Estado e na produção de bens de consumo público, associadas a consolidação das políticas públicas universais de saúde, educação, cultura e transporte.
  
2) Setores do partido reclamam de filiações em massa que teriam ocorrido nos últimos meses? Isso pode viciar o resultado do PED? De quem partiu essas iniciativa? E como avalia o papel dos setores majoritários do PT?

O PT tem poucos filiados: 1 milhão e 700 mil. Precisaríamos ter 10 milhões. Para mim, portanto, o problema não está na quantidade.
O problema está no fato de aumentarmos o número de filiados, sem aumentar o número de militantes. 
O partido vem crescendo em tamanho, mas nossa capacidade de mobilização e a influência das idéias de esquerda não cresce no mesmo ritmo.
Por outro lado, grande parte dos atuais filiados ao PT, filiou-se a partir de 2003. 
Entre estes novos filiados, há duas minorias e uma maioria. 
Há uma minoria de filiados que entrou no PT pelos motivos clássicos: por sermos um partido de trabalhadores, um partido de esquerda, um partido socialista.
Há outra minoria que entrou no PT por mero oportunismo eleitoral, para usufruir do potencial da legenda: é o caso dos neopetistas, políticos tradicionais que vieram de outros partidos abrigar-se no PT, geralmente a convite de algum petista ilustre que acha que isto é "ampliação". 
Mas, dentre os novos filiados, pós 2003, a grande maioria é composta por pessoas que simpatizam com o PT pelo que fizemos em nossos governos, especialmente no âmbito federal. 
Por um lado, isto é bom. Por outro lado, isto é insuficiente: o PT quer muito mais do que aquilo que nossos governos estão fazendo.
Se não garantimos formação política para estas pessoas, elas se convertem num "exército eleitoral de reserva" das posições melhoristas, chapa branca, meramente governistas, dentro do PT.
O antigo campo majoritário, que dirigiu o PT entre 1995 e 2005, estimulou a filiação em massa deste tipo de pessoa. E não proporcionou formação político-ideológica.
Os herdeiros do campo majoritário deram prosseguimento à esta política.
O resultado é o que estamos vendo neste PED: 806 mil habilitados a votar, parte dos quais tiveram sua cotização paga por terceiros, dos quais apenas uma minoria participou ou mesmo consegue acompanhar os debates ideológicos e estratégicos entre as chapas concorrentes.
Enquanto a estratégia melhorista estava proporcionando resultados, este problema foi sendo contornado. Mas agora, quando o PT precisa dar um salto na sua estratégia e na sua conduta, este tipo de filiação em massa converteu-se num peso, num freio, num problema gravíssimo
 

3) Imagina que as correntes de esquerda têm ainda base interna pra reverter esse quadro? Qual papel de sua candidatura a presidente do partido?

Eu penso assim: ou o PT muda, ou a esquerda sofrerá uma enorme derrota histórica. Ou o PT muda, ou estes 34 anos, em particular os três mandatos presidenciais, ficarão para a história como um hiato progressista, numa história predominantemente conservadora.
Por isto, por não querer lamentar a oportunidade perdida, não acho que devamos abrir mão de disputar os rumos do PT, não acho que possamos entregar os pontos, não acho que tenhamos o direito de assistir a esterelização do caráter transformador do Partido.
Acho, também, que a esquerda petista é muito maior do que nossas tendências, do que nossas chapas, do que nossas candidaturas, do que a votação que possamos receber no PED. Como disse antes, expressamos uma das "almas" do Partido. 
A minha candidatura a presidente do PT, assim como nossa chapa "A esperança é vermelha", são parte desta batalha pelos rumos do PT. Outros participam desta batalha, alguns com posições à nossa esquerda, outros com posições mais ao centro, que em muitos casos se confundem com as posições estratégicas dos herdeiros do campo majoritário.
No caso específico da minha candidatura, sou porta-voz da defesa de que o PT mude de estratégia, adote outra tática para 2014 e faça profundas transformações em seu funcionamento e conduta. 

4) O PT sofre ataques sem fim por parte de setores da velha mídia corporativa. Mas, por outro lado, a legenda não erra ao evitar o debate franco sobre o que se passou em 2005, durante o chamado Mensalão?

Em 2005, nós defendemos que o PT fizesse um debate completo sobre o ocorrido, fazendo o ajuste de contas e as punições internas que coubesse fazer. Dizíamos naquela época que, sem isto, nossa defesa pública sempre seria incompleta.
Naquele momento, predominou outra postura, entre outros motivos porque prevaleceu o argumento de que um ajuste de contas interno poderia produzir provas e prejudicar a defesa das pessoas envolvidas.
Acontece que a história mostrou que a direita não precisa de provas para produzir condenações, nem na justiça, nem na mídia oligopolizada, que conseguiu firmar na cabeça de grande número de pessoas a versão segundo a qual nosso partido é "tão corrupto quanto os demais".
Esta versão é falsa, não corresponde ao que de fato ocorreu, nem leva em conta a luta de nossos governos contra a corrupção.
O mais grave, contudo, não é a batalha de versões sobre o passado e sobre o presente, batalha que vai continuar por muito tempo.
O mais grave é que se não fizermos reforma política, se não acabarmos com o financiamento privado de campanhas eleitorais, se o PT continuar dependendo de doações empresariais para financiar grande parte de suas atividades cotidianas, o Partido vai degenerar.
É por este motivo que um dos pontos que temos defendido no PED é que o partido tem que voltar a autofinanciar-se. Se cada filiado petista contribuir com 5 reais ao mês, o Partido consegue sustentar seu funcionamento sem depender de doações empresariais, nem mesmo do fundo partidário. Isto terá um imenso efeito saneador sobre a vida interna do PT, fazendo personagens como o Cândido Vaccarezza perderem poder e influência.

5) Há quem veja muitas semelhanças entre a trajetória do PT e a de partidos como o PSOE espanhol e o SPD alemão. Eram legendas com forte inserção popular, base sindical, mas se transformaram em "máquinas eleitorais". Esse é um caminho sem volta para o PT?

Eu quero que o PT ganhe eleições, que ganhe cada vez mais eleições. A questão é: com qual política? Para fazer o quê?
 
O problema principal do PSOE espanhol e do SPD alemão foi que, dos anos 1980 em diante, capitularam frente ao neoliberalismo. 
 
Em geral, a capitulação da social-democracia foi tão grande que mesmo seu desempenho eleitoral vem declinando. 
 
Com o PT ocorreu diferente: embora o grupo majoritário do PT tenha feito muitas concessões ao neoliberalismo, a capitulação que ocorreu por lá não ocorreu por aqui.
 
Por isto, enquanto a social-democracia européia perdia posições, o PT ascendia eleitoralmente.
 
Assim, eu acho que a social-democracia européia não é parâmetro para o que está ocorrendo conosco. Nem a de agora, submissa ao neoliberalismo, nem a do imediato pós-Segunda Guerra, pois se quisermos construir no Brasil algo parecido ao que foi o Estado de bem-estar dos anos 50 e 60 na Europa, precisaremos confrontar pesadamente o capitalismo realmente existente por aqui.
 
Isto porque o Brasil, ao contrário dos países europeus, não dispõe nem da ameaça soviética para amolecer as elites, nem do financiamento dos Estados Unidos, nem de uma periferia para explorar.
 
Eu acho que se quisermos buscar exemplos históricos para os riscos que o PT corre, não precisamos atravessar o Atlântico: basta olhar o que ocorreu com o comunismo e com o trabalhismo brasileiros, pré e pós-1964.

6) Quem é o inimigo principal em 2014: PSDB ou PSB? Como lidar com Eduardo e Marina? Parece que a comparação com os anos FHC não será mais suficiente para garantir vitória petistas. Qual deve ser o discurso central de Dilma?

O inimigo principal é o capital financeiro e seus aliados. Eles estão executando um movimento de pinça contra nós: por um lado, o PSDB, que pode vir de Aécio ou de Serra. Por outro lado, o PSB-Rede, que pode vir de Eduardo ou Marina.
O programa de todos eles é, no fundamental, o mesmo: crescimento com ampliação da desigualdade, redução da democracia e aprofundamento da dependência externa.
Agora, do ponto de vista estritamente eleitoral, quem oferece mais perigo é a dupla Eduardo & Marina.
Aécio quer ser o pós-Lula. Eduardo & Marina vão tentar apresentar-se como o lulismo sem o petismo. Por isto, aliás, cabe a Lula uma parte importante do enfrentamento deles.
Mas o que fará mesmo a diferença será convencermos o povo de que o segundo mandato Dilma será superior ao atual. Isto passa por outro programa, outro tipo de campanha e outro tipo de política de alianças. É isto, aliás, que temos defendido no PED.