sábado, 26 de abril de 2025

Texto em debate na direção nacional da AE

No dia 27 de abril faremos uma reunião da direção nacional da AE, para tratar exclusivamente do PED 2025. Pedimos que estejam presentes nossas candidaturas à presidência nos estados e nossas candidaturas à presidência nas capitais de estado. A reunião será aberta com a leitura e debate da seguinte proposta de resolução:

O texto abaixo está em debate e será alterado, total ou parcialmente, no processo de debate.

A direção nacional da tendência petista Articulação de Esquerda, reunida no dia 27 de abril para debater exclusivamente o PED 2025, aprovou a seguinte resolução.

1/A evolução da situação mundial, regional e nacional coloca o Brasil diante de imensos desafios e ameaças. Parte vêm de fora, especialmente das ameaças que o governo dos EUA faz contra todo mundo que não aceita ser “quintal” do imperialismo. Parte dos desafios e ameaças vem de dentro, da extrema-direita, do neoliberalismo, do modelo baseado na primário-exportação e na especulação financeira. 

2/As ameaças e desafios vividos pelo Brasil podem ser enfrentados e superados. Para isso estamos no governo federal, para isso existem nossos governos estaduais e municipais, para isso existem nossos mandatos parlamentares, para isso existem os movimentos sociais, os sindicatos, as organizações dos trabalhadores, das mulheres, dos indígenas, dos quilombolas, dos negros e negras, dos lgbt, de todos e de todas que são explorados e oprimidos. Para isso existe o PT. 

3/Mas para que o PT contribua na solução dos nossos desafios imediatos e históricos, nosso Partido precisa de “união, reconstrução e transformação”. Tanto no PT nacional, quanto no PT de cada estado e cidade de nosso país.

4/Quase todo mundo percebe esta necessidade de “união, reconstrução e transformação”. Aliás, até mesmo o “candidato da situação” tem feito nas últimas semanas um “discurso de oposição”, chegando ao cúmulo de criticar as filiações em massa que sua tendência sempre fez. Seria cômico, se não fosse trágico, ver um dos candidatos do grupo que se pretende maioria criticar o estado das coisas, como se não tivesse nada que ver com os problemas.

5/Os problemas organizativos do Partido são imensos. Mas sua origem é essencialmente política. Uma estratégia que absolutiza a ocupação de espaços institucionais é incompatível com a existência de um partido militante, com instâncias que funcionem, com presença organizada nos territórios, com atuação coletiva junto aos movimentos, com presença cotidiana junto ao povo. 

6/Por isso, o ponto de partida para superar nossos problemas organizativos é uma mudança na linha política do Partido. As posições políticas defendidas pelo “candidato da situação” vão no sentido oposto e terão como resultado mais provável agravar os problemas do Partido. Esse risco é tão evidente que nas últimas semanas o “candidato da situação” tem falado cada vez menos de política e cada vez mais de organização. Mas ao fazer isso cai no problema já citado: não existe solução administrativa para problemas que são políticos. 

7/É com este objetivo – contribuir no debate dos problemas políticos e na formulação de propostas que permitam ao nosso Partido estar à altura dos desafios destes tempos de crises e de guerras – que a tendência petista Articulação de Esquerda vem apresentando em todo o país chapas e candidaturas para disputar o PED 2025. Não temos a pretensão de conhecer todos os problemas e suas soluções; mas estamos seguros de que nossa participação no debate contribuirá positivamente para que o Partido construa coletivamente a estratégia mais adequada.

8/Hoje, depois de meses de polêmica pública entre os integrantes da tendência “Construindo um novo Brasil” (CNB), todo mundo está podendo enxergar o que seria do Partido se as polêmicas e as decisões ficassem restritas a este grupo.

9/Nesse mesmo espírito, não apenas lançamos chapas e candidaturas da AE, como também estimulamos que o mesmo fosse feito por todas as tendências da chamada esquerda petista. Além disso, onde existia base política para isso, participamos de iniciativas comuns, sempre tendo como norte contribuir no debate político, ampliar a representação da esquerda nas direções partidárias e eleger presidentes que não sejam da citada CNB. 

10/Ao mesmo tempo, trabalhamos para democratizar o processo eleitoral. Isso não é fácil de fazer, em primeiro lugar porque o sistema eleitoral partidário possui inúmeros defeitos de fabricação. Entre esses “defeitos”, o principal é não apenas permitir, mas inclusive estimular que as pessoas votem sem ter participado de nenhum debate, sem conhecer o conjunto das propostas em jogo. Além disso, há um estímulo para filiações em massa, não para fortalecer o  Partido, mas sim para ocupar espaços nas direções, fato que foi reconhecido publicamente pelo já citado “candidato da situação”. Ademais, há fraudes de todo o tipo no processo, inclusive a fabricação de resultados falsos.

11/Até o momento, o Diretório Nacional do PT, a secretaria nacional de organização e a Câmara de Recursos pouco ou nada fizeram no sentido de enfrentar esses problemas. Um exemplo disso é o fato da Câmara de Recursos ter rejeitado por quase inacreditáveis 7 a 1 o recurso que apresentamos, em favor do recadastramento previsto pelo estatuto nos casos de filiação em volume excessivo. A votação já citada, 7 a 1, demonstrou que há uma enorme diferença entre o que falam e o que fazem determinados setores do Partido, quando se trata de combater as fraudes. 

12/Nesse mesmo sentido, registramos e repudiamos a resistência que setores do Partido vem adotando contra as urnas eletrônicas. 

13/Outro obstáculo contra a democratização do PED é o abuso de poder. Até o momento, o Diretório Nacional do PT não tomou nenhuma providência em relação ao uso de um avião particular – não sabemos se propriedade pessoal de um milionário pessoa física ou propriedade de uma pessoa jurídica. Tampouco o DN tomou qualquer medida para investir o fato comprovado de que o Diretório Municipal de Araraquara tem pago o impulsionamento da propaganda de Edinho Silva. Importante dizer que os valores são vultosos (salvo engano, mais de 150 mil reais) e se desconhece de onde eles vieram, antes de terem sido depositados na conta do DM para que este pudesse pagar o impulsionamento. É evidente, ademais, que a candidatura de Edinho Silva tem um estrutura profissional de comunicação, além de contar com um eficiente lobby junto à mídia comercial e um evidente empenho de pessoas que estão a frente de cargos em diferentes níveis de governo.

14/Repete-se no caso das infrações cometidas por Edinho Silva o mesmo modus operandi adotado por um setor do DN frente às atitudes de Washington Quaquá: mesmo diante de evidentes problemas, nada é feito. O que vai nos empurrando para um PED sem lei.

15/Sendo este o contexto, confirma-se o acerto de lançarmos nossa chapa “em tempos de guerra a esperança é vermelha” e a candidatura de Valter Pomar à presidência nacional do PT, assim como candidaturas presidências em vários estados (RS, MS, TO, SP, SE) e também em vários municípios. A verdade é que há temas, debates e posicionamentos sobre os quais nosso posicionamento é singular e diferenciado. Dito de outra maneira, pelo menos até agora só nós estamos dispostos a enfatizar certas questões e por o dedo em determinadas feridas.

16/Um dos motivos pelos quais isso ocorre é a expectativa, por parte de alguns setores do Partido, de buscar o apoio de um setor da CNB contra outro setor da CNB. Do nosso lado, defendemos a necessidade de demarcar com as duas candidaturas oriundas da CNB, seja aquela de viés social-liberal, que defende ampliar as alianças com a direita gourmet; seja aquela de viés populista de direita, que defende alianças e aproximações com setores da extema-direita. Por razões óbvias, as candidaturas de Romênio Pereira e Rui Falcão tem dificuldade em fazer esta dupla demarcação, demarcação que nossa chapa "em tempos de guerra a esperança é vermelha" e a candidatura de Valter Pomar à presidência nacional seguirão fazendo. Queremos conquistar o voto dos filiados que ainda têm referência na CNB, mas queremos conquistar este voto através do debate político acerca da necessidade de outra estratégia para o Partido.

17/Para além da disputa presidencial e num certo sentido mais importante, existe a disputa pela composição do novo Diretório Nacional do PT. É uma disputa muito difícil, inclusive devido ao já citado abuso de poder econômico e às filiações industriais realizadas em muitos estados e cidades. A disputa será ainda mais dura, se acontecer da CNB se apresentar dividida em âmbito nacional: nesse caso, é provável que cresça expressivamente o número de votantes, o que pode vir a ocorrer às custas da representação da esquerda partidária.

18/Se a esquerda quiser manter e inclusive ampliar nossa presença no Diretório Nacional e na Executiva Nacional, é muito importante lançar chapas e candidaturas em todos os níveis, inclusive nacional. Em particular nós da Articulação de Esquerda, que seguimos sendo uma corrente de opinião, cuja votação não depende dos aparatos, mas sim da influência conquistada no debate, nós não temos alternativa senão a de lançar o maior número possível de candidaturas e chapas. Afinal, quem não se apresenta, desaparece.

19/Há um antídoto contra a participação em massa de filiados industriais: a participação em massa da Nação Petista. Há dezenas de milhares de filiados ao PT que seguem petistas mas deixaram de participar dos PEDs, entre outros motivos por desencanto com os rumos seguidos ultimamente por setores do Partido. É preciso convencer essas pessoas a virem participar do processo e votar nas posições de esquerda. Esse convencimento existe muito debate político, debate que deve ser o mais público e o mais massivo que pudermos. 

20/Conclamamos nossa militância a se engajar no PED: a eleição supostamente “interna” do PT incidirá sobre o futuro do governo e do Brasil. Os capitalistas sabem disso e têm lado. O jornal O Estado de São Paulo, a Globo, a embaixada dos Estados Unidos, o capital financeiro e Ciro Nogueira têm suas preferências dentro do PT. A base do PT tem que ser chamada à participar, à votar nas candidaturas da esquerda, particularmente nas candidaturas e chapas da “em tempos de guerra, a esperança é vermelha”.


Roteiro da fala no lançamento em Campo Grande



No dia 26 de abril estive no lançamento das candidaturas de Elaine Becker à presidenta do PT de Campo Grande (MS) e de Humberto Amaducci à presidente do PT do Mato Grosso do Sul.
 
Preparei minha fala no avião (atenção Edinho: avião da Latam) mas ao chegar deixei no carro o computador com o roteiro dentro. Ainda bem, porque o roteiro pressuponha o dobro do tempo que efetivamente tive.

Seja como for, segue abaixo o que não foi planejado. O que foi efetivamente dito, acho eu, está disponível em alguma nuvem.

BD.
No dia 23 de abril, quarta, eu estava em São Mateus, uma cidade no norte do ES.
Pensei em falar algo sobre a Olga Benário.
Mas não falei. 
Depois fui para Vitória, Porto Alegre e hoje estou aqui na rua Filinto Muller.
Este horror de nome serve para lembrar que o fascismo não é um raio em céu azul.
O Brasil surgiu como colônia, portanto numa situação de dependência.
Dependência é exploração em dose dupla, porque supõe “dar lucro” para os dominantes daqui e para os de fora.
Naquele contexto, o recurso ao trabalho escravo foi uma consequência lógica, derivada dos objetivos da classe dominante.
A desigualdade brutal, por sua vez, exigia a mais dura repressão, violência cotidiana.
Uma violência física e a violência mental.
Durante muito tempo a esquerda brasileira reputava que a dependência, a exploração, a falta de liberdades, eram de responsabilidade do imperialismo, do latifúndio, dos políticos reacionários.
A culpa não era do capitalismo, mas da ausência dele, como disse uma vez o Prestes.
O mundo e o Brasil mudaram muito, mas tem gente que continua pensando a mesma coisa.
E por pensar assim, fica dando nó em pingo dágua: buscando aliados na classe dominante, como o objetivo de encontrar soluções capitalistas para os problemas criados pelo capitalismo.
Queremos resolver estes problemas.
E defendemos a necessidade de alianças.
Mas a verdade é que só a classe trabalhadora é capaz de superar a dependência e a desigualdade.
Só a classe trabalhadora tem interesse real nas liberdades democráticas.
Portanto, só a classe trabalhadora é realmente interessada no desenvolvimento.
E as alianças têm que levar isto em consideração.
Quando surgiu, o PT foi uma novidade por vários motivos.
Um dos motivos é que se diferenciou do que então pensavam os Partidos Comunistas acerca do capitalismo e do socialismo no Brasil.
Hoje, curiosamente, os setores mais críticos ao comunismo dentro do PT são exatamente os que mais copiam a estratégia dos antigos partidos comunistas.
Nossa batalha dentro do PT é árdua, entre outros motivos porque a classe dominante tem interesse num PT domesticado.
Veja o caso do Edinho.
Avião, 156 mil de impulsionamento, Jovem Pan, Globo News, até o Estadão declarou apoio,
Nâo porque gostem do PT.
Mas porque querem um PT fraco, submisso.
Nossa batalha dentro do PT é árdua, também, porque as regras do jogo não nos favorecem.
As regras permitem que votem pessoas que não participaram de nenhum debate,
Permitem, também, que vote quem se filiou apenas para votar.
340 mil novos filiados.
Infelizmente, na Câmara de Recursos não passou o recadastramento que propusemos. A DS, o Movimento PT, a Resistência Socialista, votaram contra o recadastramento que nós propusemos.
Aliás, é incrível: até o Edinho esteja atacando as filiações sem critério; mas na hora de fazer algo a respeito, sempre a promessa vir-a-fazer-alguma-coisa-depois.
E esse é o terceiro motivo pelo qual nossa batalha é árdua. 
Uma parte da esquerda vai cansando, vai se adaptando, vai mudando de lado.
Aliás, é bom lembrar que tanto Edinho quanto Quaquá estiveram, no passado, muito à esquerda de onde estão hoje.
Mas deixemos de lado estes dois personagens, falemos da Nação Petista.
Muitos integrantes da Nação Petista desistiram de “dar murro em ponta de faca”, foram se afastando da militância.
Vou explicar por quais motivos não passa pela minha cabeça fazer algo assim, mesmo que as vezes dê um cansaço e um desânimo muito grande.
Primeiro motivo é que eu se eu parasse de militar e me dedicasse única e exclusivamente a trabalhar e viver, eu teria uma vida muito tranquila. Mas isto implicaria em não olhar para trás nem olhar para os lados. Não olhar para trás, ou seja, não olhar para quem permitiu que eu chegasse até aqui. E não olhar para os lados, não olhar para como vive a maioria da população brasileira, por causa do capitalismo.
Segundo motivo é porque eu adoro ficção científica, sou apaixonado pela ideia de que algum dia a humanidade estará povoando os planetas do Sistema Solar e além. Mas para isso é preciso que exista humanidade. E o futuro da humanidade está ameaçado. E o nome da maior ameaça é capitalismo.
Em terceiro lugar porque acredito que podemos vencer. E se vencermos, além de podermos começar a resolver os nossos problemas, o Brasil poderá dar uma contribuição imensa para resolver os problemas que o mundo atravessa hoje.
Mas para vencermos é preciso falar de capitalismo, de socialismo, de luta de classes, de poder para a classe trabalhador, de reformas etc. E é preciso que dezenas de milhões de pessoas falem disso. E, principalmentente, é preciso que atuem na prática movidos por esta perspectiva.
É preciso um partido como o PT, do lado certo da história. Por isso nosso “plano” é trabalhar pela “reconstrução e transformação” do Partido.
Na política, precisamos voltar não apenas a falar mas também a lutar de verdade por mudanças estruturais como a reforma agrária e a urbana, pela democratização da comunicação social, pela revogação das contrarreformas trabalhista e previdenciária, por um Banco Central a serviço do povo e não a serviço da especulação, pela industrialização do Brasil, pela soberania alimentar, energética, produtiva, ambiental, científico tecnológica. 
O PT precisa voltar a falar e a lutar pelo socialismo, precisa voltar a ser um partido militante, com atuação nos anos pares mas também nos anos ímpares, presente de forma organizada nas lutas cotidianas do povo brasileiro, atuante no debate ideológico acerca do futuro do Brasil e do mundo, defensor das grandes bandeiras do povo brasileiro, da classe trabalhadora urbana e rural, dos pequenos proprietários, dos negros e negras, dos quilombolas, dos indígenas, das mulheres, dos lgbt, da esquerda, do socialismo. 
Nada disso vai acontecer da noite para o dia. O PT vai precisar de uma fisioterapia política e organizativa, para lembrar como praticar certas ideias. Mas certamente a eleição de um presidente e de um diretório nacional de esquerda serão um passo importante nesse sentido.
Um dos maiores desafios do PT é recuperar o apoio organizado e consciente da maioria da classe trabalhadora brasileira. Veja o que aconteceu nas eleições 2022: se somarmos os votos dados ao cavernícola, com os votos nem-nem, vamos constatar que a maioria da classe trabalhadora não votou no PT. Pior ainda: o número de trabalhadores filiados a sindicatos é muito menor do que o número de trabalhadores que votam em nós. Ao mesmo tempo e de outro lado, a direita vem ocupando territórios, ganhando corações e mentes. É preciso mudar isto: a maioria da classe trabalhadora precisa ser ganha para as posições da esquerda, precisa se organizar, precisa se mobilizar em defesa de seus interesses, precisa se libertar das ideias e da influência da direita gourmet e da extrema-direita.
Outro desafio é compreender o tamanho da mudança que está em curso no mundo. Desde a crise de 2008 até hoje, vivemos uma crise sistêmica: ambiental, econômica, social, política, militar, ideológica. A depender da resposta que nós dermos à esta crise, o Brasil terá na melhor das hipóteses um grande passado pela frente. Mas se dermos a resposta certa, podemos mudar o lugar do Brasil no mundo e mudar profundamente a sociedade brasileira. A janela está aberta, mas o tempo corre contra nós. Se o PT fizer a escolha certa, aumentarão muito as chances de termos um futuro feliz para a maioria do povo brasileiro: soberania, desenvolvimento, bem-estar, democracia. E socialismo.
No PT existem divergências desde 1980. E vão continuar a existindo: partido sem divergências é partido morto. 
Mas na minha opinião é preciso encerrar um longo ciclo, que começou em 1995. É hora de abrir um novo ciclo, em que a CNB enquanto tendência deixe de ser hegemônica como é hoje. Mas para isso é preciso começar derrotando, no processo de eleição direta das direções (PED) de 6 de julho as posições expressas pelos dois pré-candidatos vinculados a esta tendência. 
Ou seja, precisamos derrotar tanto as posições social-liberais, que acham possível conciliar com o neoliberalismo; quanto precisamos derrotar o social-populismo, que acha possível conciliar com o neofascismo. É preciso também que o próximo tesoureiro do PT não seja da CNB. Isto fará bem para eles mesmos, que se habituaram com este lugar, o que criou deformações muito sérias. Nestes tempos de crise, de guerra e de ameaças neofascistas em que vivemos, é hora da chamada “esquerda petista” assumir a hegemonia. 
A imensa maioria da base do PT está junto da população. Os militantes estão nas periferias, estão entre os trabalhadores, nas empresas, nas escolas, nos bairros, nos espaços de lazer. O problema não é o PT, o problema não é a base do PT, o problema está nas direções do Partido, que não coordenam o trabalho de base. Sou da direção do PT há bastante tempo e posso contar nos dedos as vezes em que dedicamos alguma reunião para debater temas como organização de base e luta social. Isso tem que mudar. O PT deve continuar disputando eleições, precisamos ter mais mandatos de prefeitos e governadores, precisamos de mais vereadores, deputados e senadores. Precisamos vencer em 2026, em 2030 e depois. Mas nada disso será possível, se não recuperarmos presença organizada nos territórios, se não voltarmos a ser um partido presente no cotidiano da classe trabalhadora. 
Outro passo importante nesse sentido é fazer o governo Lula superar seus problemas.
O governo Lula é ele e suas circunstâncias. A principal destas circunstâncias é o cerco imposto por um Congresso majoritariamente de direita, que expressa os pontos de vista do agronegócio, do capital financeiro e do imperialismo. Para acabar com este cerco é necessário, entre muitas outras coisas, eleger um Congresso de esquerda. Mas para isso seria necessário fazer uma reforma política-eleitoral, o que este Congresso nunca vai aprovar. Por conta disto, uma parte do governo e uma parte da esquerda acham que a única alternativa é fazer péssimos acordos, ceder, transigir, capitular. O resultado disto são os Liras da vida, as emendas impositivas, a ameaça de uma anistia para os golpistas et caterva.
Para romper este círculo vicioso é necessário mais disputa política e muita mobilização social, pressão de baixo para cima e de fora para dentro das chamadas instituições. O governo precisa ousar mais, enfrentar mais, disputar mais. Em geral é melhor uma boa disputa do que um péssimo acordo. E o Partido precisa apostar tudo na organização e mobilização da sociedade, ajudando a criar as condições para derrotar este Congresso de direita e, também, criando condições melhores para o funcionamento geral do governo.
Além disso, o Partido precisa incidir mais nas políticas do governo como um todo. Tem ministros que nunca deviam ter entrado, como o da Defesa. E a política econômica precisa se libertar do arcabouço em que nos metemos.
 


Entrevista à CNN: a opinião dos cinco candidatos



A CNN publicou um texto sobre o PED.

O texto está aqui: Quem são os cinco candidatos à presidência do PT e o que defendem cada um

Seguem abaixo as perguntas (em negrito) feitas pela jornalista Alice Groth e as respostas que dei.

1/Quais os seus planos à frente da presidência do PT?

O plano número 1 é acabar com o presidencialismo no PT. 

Brincadeiras à parte, o fato é que convivem dentro do PT duas tradições concorrentes acerca do papel de quem assume a presidência do Partido. Há os defensores do modelo vigente nos partidos tradicionais, segundo o qual eleger um presidente do PT equivale a eleger um presidente da República. Neste modelo, o presidente deveria ter poderes superiores aos do conjunto da direção do Partido. É por isso, aliás, que um dos pré-candidatos à presidência acha que ele poderá escolher o tesoureiro do Partido, como pode no passado, quando foi prefeito, escolher o secretário de finanças.

De outro lado, existimos nós que somos defensores da tradição de esquerda, segundo a qual a direção do Partido deve ter funcionamento coletivo, cabendo ao presidente ser porta-voz e coordenador deste coletivo.

Isto posto, nosso “plano” é trabalhar pela “reconstrução e transformação” do Partido.

Na política, precisamos voltar não apenas a falar mas também a lutar de verdade por mudanças estruturais como a reforma agrária e a urbana, pela democratização da comunicação social, pela revogação das contrarreformas trabalhista e previdenciária, por um Banco Central a serviço do povo e não a serviço da especulação, pela industrialização do Brasil, pela soberania alimentar, energética, produtiva, ambiental, científico tecnológica. 

O PT precisa voltar a falar e a lutar pelo socialismo, precisa voltar a ser um partido militante, com atuação nos anos pares mas também nos anos ímpares, presente de forma organizada nas lutas cotidianas do povo brasileiro, atuante no debate ideológico acerca do futuro do Brasil e do mundo, defensor das grandes bandeiras do povo brasileiro, da classe trabalhadora urbana e rural, dos pequenos proprietários, dos negros e negras, dos quilombolas, dos indígenas, das mulheres, dos lgbt, da esquerda, do socialismo. 

Nada disso vai acontecer da noite para o dia. O PT vai precisar de uma fisioterapia política e organizativa, para lembrar como praticar certas ideias. Mas certamente a eleição de um presidente e de um diretório nacional de esquerda serão um passo importante nesse sentido.

2- Se o senhor for presidente, como pode ajudar o governo do presidente Lula?

O governo Lula é ele e suas circunstâncias. A principal destas circunstâncias é o cerco imposto por um Congresso majoritariamente de direita, que expressa os pontos de vista do agronegócio, do capital financeiro e do imperialismo. Para acabar com este cerco é necessário, entre muitas outras coisas, eleger um Congresso de esquerda. Mas para isso seria necessário fazer uma reforma política-eleitoral, o que este Congresso nunca vai aprovar. Por conta disto, uma parte do governo e uma parte da esquerda acham que a única alternativa é fazer péssimos acordos, ceder, transigir,capitular. O resultado disto são os Liras da vida, as emendas impositivas, a ameaça de uma anistia para os golpistas et caterva.

Para romper este círculo vicioso é necessário mais disputa política e muita mobilização social, pressão de baixo para cima e de fora para dentro das chamadas instituições. O governo precisa ousar mais, enfrentar mais, disputar mais. Em geral é melhor uma boa disputa do que um péssimo acordo. E o Partido precisa apostar tudo na organização e mobilização da sociedade, ajudando a criar as condições para derrotar este Congresso de direita e, também, criando condições melhores para o funcionamento geral do governo.

Além disso, o Partido precisa incidir mais nas políticas do governo como um todo. Tem ministros que nunca deviam ter entrado, como o da Defesa. E a política econômica precisa se libertar do arcabouço em que nos metemos. Se eu for eleito presidente, significa que o Partido escolheu fazer um giro à esquerda, escolheu fazer isso que falei antes. Agora, quem está satisfeito como as coisas como estão, quem acha que não corremos grandes riscos em 2026, obviamente tem outras opções em quem votar.

3- Quais os maiores desafios do partido hoje?

Eu vou citar dois desafios. O primeiro é recuperar o apoio organizado e consciente da maioria da classe trabalhadora brasileira. 

Veja o que aconteceu nas eleições 2022: se somarmos os votos dados ao cavernícola, com os votos nem-nem, vamos constatar que a maioria da classe trabalhadora não votou no PT. Pior ainda: o número de trabalhadores filiados a sindicatos é muito menor do que o número de trabalhadores que votam em nós. AO mesmo tempo e de outro lado, a direita vem ocupando territórios, ganhando corações e mentes. É preciso mudar isto: a maioria da classe trabalhadora precisa ser ganha para as posições da esquerda, precisa se organizar, precisa se mobilizar em defesa de seus interesses, precisa se libertar das ideias e da influência da direita gourmet e da extrema-direita.

O segundo desafio é compreender o tamanho da mudança que está em curso no mundo. Desde a crise de 2008 até hoje, vivemos uma crise sistêmica: ambiental, econômica, social, política, militar, ideológica. A depender da resposta que nós dermos à esta crise, o Brasil terá na melhor das hipóteses um grande passado pela frente. Mas se dermos a resposta certa, podemos mudar o lugar do Brasil no mundo e mudar profundamente a sociedade brasileira. A janela está aberta, mas o tempo corre contra nós. Se o PT fizer a escolha certa, aumentarão muito as chances de termos um futuro feliz para a maioria do povo brasileiro: soberania, desenvolvimento, bem-estar, democracia. E socialismo.

4- Qual a sua opinião sobre o racha interno dentro do partido?

Não existe um racha no Partido. No PT existem divergências desde 1980. E vão continuar a existindo: partido sem divergências é partido morto. Agora, é verdade que existe um “racha” na tendência denominada “Construindo um novo Brasil”. A briga é tão grande que um amigo, membro desta tendência, diz que o nome mudou para “construindo uma nova briga”. Feita a provocação, deixa eu dizer o seguinte: as pessoas que integram esta tendência são e vão continuar sendo muito importantes para o PT, absolutamente insubstituíveis. Mas na minha opinião é preciso encerrar um longo ciclo, que começou em 1995. É hora de abrir um novo ciclo, em que a CNB enquanto tendência deixe de ser hegemônica como é hoje. Mas para isso é preciso começar derrotando, no processo de eleição direta das direções (PED) de 6 de julho as posições expressas pelos dois pré-candidatos vinculados a esta tendência. Ou seja, precisamos derrotar tanto as posições social-liberais, que acham possível conciliar com o neoliberalismo; quanto precisamos derrotar o social-populismo, que acha possível conciliar com o neofascismo. É preciso também que o próximo tesoureiro do PT não seja da CNB. Isto fará bem para eles mesmos, que se habituaram com este lugar, o que criou deformações muito sérias. Nestes tempos de crise, de guerra e de ameaças neofascistas em que vivemos, é hora da chamada “esquerda petista” assumir a hegemonia. E, se depender de mim, hegemonia na política, mas sem controlar a tesouraria. É preciso recolocar a política no comando, não o dinheiro.

5- Se o senhor vencer as eleições, o PT reforçará a presença junto à população, especialmente nas periferias e entre os trabalhadores, como tem cobrado o presidente Lula?

Então, aqui tem que explicar o seguinte: a imensa maioria da base do PT está junto da população. Os militantes estão nas periferias, estão entre os trabalhadores, nas empresas, nas escolas, nos bairros, nos espaços de lazer. O problema não é o PT, o problema não é a base do PT, o problema está nas direções do Partido, que não coordenam o trabalho de base. Sou da direção do PT há bastante tempo e posso contar nos dedos as vezes em que dedicamos alguma reunião para debater temas como organização de base e luta social. Isso tem que mudar. O PT deve continuar disputando eleições, precisamos ter mais mandatos de prefeitos e governadores, precisamos de mais vereadores, deputados e senadores. Precisamos vencer em 2026, em 2030 e depois. Mas nada disso será possível, se não recuperarmos presença organizada nos territórios, se não voltarmos a ser um partido presente no cotidiano da classe trabalhadora. Aliás, se for por esse motivo, melhor então o Lula votar em nós. Não se arrependerá.


sexta-feira, 25 de abril de 2025

“Finalmente Edinho se explicou”

O título deste texto será utilizado sem aspas quando Edinho explicar:

-por qual motivo o Diretório do PT de Araraquara está pagando o impulsionamento de campanha de Edinho?

-se é verdade que o Diretório já teria gasto mais de 156 mil reais neste impulsionamento?

-seja qual for o valor efetivamente gasto, de onde veio o dinheiro? Foi do mesmo filiado que é dono do “aviãozinho” que Edinho admitiu ter usado para fazer campanha? 

Tendo em vista a ênfase que Edinho supostamente concede às boas práticas na tesouraria do Partido, ele certamente vai explicar tudo isso.

Espero que ele o faça ao Partido, não na Jovem Pan, Globo News, Estadão ou veículos similares que tão generosos têm sido para com o autodeclarado amigo do Ciro Nogueira.




segunda-feira, 21 de abril de 2025

Que viva Francisco!


 Há pessoas que são gigantes, Quixotes que permanecerão sempre jovens na memória dos que lutam por uma vida melhor para a humanidade! E que viva Francisco: duvido que se encontre um Papa mais simpático!

domingo, 20 de abril de 2025

A perigosa nova trazida pelo pastor Oliver Goiano

No dia 20 de abril a UOL publicou uma entrevista com o pastor Oliver Costa Goiano, apresentado como coordenador do Núcleo Nacional dos Evangélicos do PT.

Quem quiser pode conferir aqui: PT depende da igreja evangélica, diz pastor Oliver Costa Goiano

A entrevista é bem interessante e o pastor defende algumas posições com as quais estou de acordo.

Mas, ao mesmo tempo, é uma entrevista deveras assustadora, ao menos para mim que defendo que o PT continue sendo laico e que continue lutando por um Estado também laico.

Evidentemente, não tenho certeza se o que foi publicado foi efetivamente dito. Feita essa ressalva, comento a seguir a entrevista, tomando como fio da meada a ordem em que as afirmações aparecem na publicação e me concentrando nas divergências.

Começo concordando com o pastor no seguinte: também acho um “erro quando a esquerda zomba dos cultos evangélicos”. As crenças religiosas devem ser respeitadas. Mas por isso mesmo acho um equívoco defender que “Lula precisa ter fotos com os pastores com a mão na cabeça dele”. Na minha opinião, este tipo de postura facilmente se transforma em manipulação política, uma forma de desrespeito.

Além disso, “tirar foto com pastor, fazer vídeo com pastor”, “levar o presidente Lula a igrejas e aos cultos” não funcionou no passado, por qual motivo funcionaria agora? 

Me parece que a ideia que está por detrás deste tipo de proposta é a clássica “se não pode vencê-los, una-se a eles”. O problema deste caminho é, ao meu ver, duplo: primeiro, nós deixarmos de ser o que ainda somos, ou seja, um partido laico; segundo, os evangélicos preferirem o original do que a cópia. 

O pastor Oliver afirma que “oramos a Deus para que o novo presidente do PT, seja lá qual for, dê protagonismo ao núcleo evangélico do PT”. Mas provando que além de orar é preciso também vigiar, Oliver diz que "o PT não precisa ir mais para a esquerda”. Como se vê, como todo bom pastor, Oliver tem lado.  

Lado e uma interpretação bem weberiana acerca da ética de certos protestantes. Segundo o pastor, “a Universal tem deputados muito importantes para nós. O bispo Edir Macedo precisa muito da ajuda do presidente com os negócios dele na África. O governo Lula fez relações sul-sul muito importantes. A Universal não deve aderir de novo ao bolsonarismo”.

Segundo entendi, o pastor propõe seduzir Edir Macedo através dos negócios. Sem entrar em outras considerações, fazer isso seria repetir o erro que adotamos em relação as Forças Armadas durante o período 2003-2016: achar que atendendo suas demandas econômicas, ganharíamos seu apoio político. 

Aliás, se a memória não me trai, acho que cometemos o mesmo erro em relação ao Edir Macedo. O resultado foi: eles se fortaleceram, nós não.

A parte mais problemática da entrevista, na minha opinião, é quando o pastor fala que “o futuro de qualquer sociedade depende do grupo mais organizado. Não existe no Brasil uma instituição mais poderosa do que a igreja evangélica. Ela se tornou esse fenômeno cultural ao chegar a todas as classes sociais. O futuro do PT também depende das igrejas evangélicas”.

O crescimento da influência evangélica é um fato. Que são um grupo organizado é outro fato. Não sei se são a "instituição mais poderosa" e "organizada" do país. Mas é verdade que alguns pastores e os donos de certas igrejas querem decidir o futuro do Brasil. A pergunta é: vamos aceitar isso? Vamos concordar, vamos tolerar que o futuro do Brasil "dependa" de uma igreja? 

Este raciocínio do pastor – que, repito, pode ter sido em alguma medida alterado pela edição jornalística - é não apenas contraditório, mas também antagônico com a concepção que o PT sempre defendeu, acerca da laicidade do Estado. Não é possível um Estado laico, nem um partido laico, ali onde o futuro depende de uma igreja, de uma religião, seja ela qual for.

Paradoxalmente, o mesmo pastor que fala isso, também defende que “o PT precisa voltar às suas origens lembrando que o nosso debate é econômico". Mas o pastor fala que nosso debate "é econômico" apenas quando está tentando demarcar com o que ele chama de pauta identitária. 

Evidentemente, não faz o menor sentido defender o respeito e a importância das religiões – ponto em que estou totalmente de acordo com o pastor – e ao mesmo tempo dizer que “nosso debate é econômico”.

Mas para além disso, não é verdade que o debate do PT ou de qualquer partido socialista deva ser “econômico”, ao menos no sentido vulgar desta palavra. Nosso debate é sistêmico, é global, é integral,  nada do que é humano nos é estranho, incluindo estas interessantes invenções da humanidade: as religiões e os deuses.

O próprio pastor demonstra que nosso debate não é “econômico” quando ele próprio dá as suas opiniões – enquanto “pastor petista” – acerca das “crianças trans”, quando diz que o “aborto é um assassinato”, quando se posiciona “contra a legalização das drogas”, quando defende a fusão entre a ação da polícia e dos pastores.

Nada disso é "econômico".

Cada um destes temas citados pelo pastor merece um debate decente, o que não foi possível nem na entrevista, muito menos nesse comentário que estou fazendo. Apenas registro que nesse quesito a postura do pastor não se diferencia da postura da direita que hegemoniza as igrejas evangélicas. Não se diferencia no mérito e, principalmente, não se diferencia na embocadura: no fundo eles, pastor inclusive, querem um Estado meio evangélico

A novidade que o pastor nos traz é que ele também quer um partido meio evangélico.

Espero que as orações do pastor não sejam atendidas por quem vai votar no PED. E espero que as lideranças laicas do PT se pronunciem a respeito. Pois o silêncio oportunista de quem não concorda com um absurdo é as vezes muito mais grave do que o absurdo em si.

Voto em celular seria pior que um crime

No dia 19 de abril a Folha publicou uma notinha segundo a qual "o PT avalia o uso de um aplicativo de celular para fazer a votação do PED".

Reproduzo ao final a íntegra da tal notinha.

A afirmação não tem fonte. Mas já ouvi esta ideia ser defendida por um dos entusiastas da campanha do Edinho.

Sendo assim, antecipo aqui a minha posição: mudar o sistema de votação na véspera do pleito é pior que um crime, é um erro.

Não vou aqui elencar o número de problemas que podem advir de um sistema de votação feito por aplicativo, desde hackeamento até fraude em massa. Tampouco vou lembrar dos riscos de adoção de uma novidade de última hora (quem lembra da Operação Tabajara, acontecida no PED de 2001??).

Me limito a dizer: não se pode mudar as regras no meio do jogo. ]

Noutro PED, com preparação adequada, com regras votadas com antecedência, podemos discutir alternativas. Mas agora, no afogadilho, nem pensar. Melhor mesmo é garantir as urnas eletrônicas, medida útil para reduzir a fraude.

As diretrizes iniciais do PED estão aqui: PED 2025: Diretório Nacional do PT aprova Resolução de Calendário e Diretrizes | Partido dos Trabalhadores

E as regras estão aqui: REGULAMENTO PED 2025

Aliás, por falar em regras, quero lembrar que o item "a" do artigo 15 do regulamento diz o seguinte: "Será instaurado processo disciplinar contra filiados e filiadas envolvidos em casos de abuso de poder político, econômico ou ingerência indevida de governos ou mandatos de outras siglas em qualquer etapa do PED".

O impulsionamento de propaganda de uma candidatura (a de Edinho Silva), com dezenas de milhares de reais pagos pelo PT, é claramente um caso de abuso de poder econômico.

Registro que, segundo a Meta, pode chegar a mais de 150 mil reais.

Como é óbvio, não se trata propriamente de dinheiro do Partido. Assim como avião particular usado por Edinho para deslocamento entre agendas não é propriamente empréstimo de um filiado. 

Espero que o companheiro Humberto Costa, nosso presidente nacional, faça ver aos irresponsáveis que por este caminho não vamos chegar a bom porto.


Segue a notinha citada:

PT pede urnas eletrônicas ao TSE e analisa voto por celular em eleição do partido | Política Livre

O PT solicitou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) o empréstimo de urnas eletrônicas para a realização da eleição interna para escolher o presidente do partido, em julho.

O presidente interino da legenda, senador Humberto Costa (PE), e a tesoureira, Gleide Andrade, se reuniram no final de março com a presidente da corte, ministra Cármen Lúcia. O tribunal ainda não deu resposta sobre a solicitação.

O partido avalia também outros métodos de votação. Um dele é o modelo seguido pela seção paulista da OAB no ano passado, em que a eleição foi feita por um aplicativo próprio de celular.

A expectativa é de que entre 200 mil e 300 mil petistas participem da eleição, em cerca de 3.000 municípios.

quarta-feira, 16 de abril de 2025

Edinho certamente não disse isso

A Folha de S. Paulo publicou hoje uma declaração atribuída ao Edinho Silva.

Segundo tal declaração, Edinho seguirá as regras depois que formalizar sua candidatura.

Não acredito que Edinho tenha dito tal coisa.

Edinho já foi prefeito, já foi parlamentar, já foi ministro, já foi tesoureiro de campanha presidencial.

Quem já foi tudo isto sabe muito bem que abuso de poder econômico não rima com um partido de trabalhadores.

Ademais, não dá para exigir transparência da tesouraria do Partido e não ter transparência em sua própria campanha.

Por exemplo: quem está pagando a propaganda de Edinho nas redes sociais?

Segundo a empresa Meta, seria o Diretório Municipal do PT de Araraquara.

É isso mesmo? Ser for, de onde veio o dinheiro? De onde vieram as dezenas de milhares de reais gastos até agora?

De militantes? Ou doação de algum amigo rico, como aquele que emprestou o avião onde Edinho se deslocou numa agenda de campanha?

O PT passou poucas e boas, no passado recente, por conta de atitudes e práticas desse tipo.

Por tudo isso, acho que a Folha atribuiu ou entendeu errado as declarações de Edinho.




Ou então Edinho se enganou, assim como parece ter se enganado ao dizer que o avião privado no qual ele se deslocou teria sido emprestado por um filiado ao PT de Tocantins.

Segundo a imprensa, o filiado-que-tem-um-avião-mas-que-não-é-jatinho seria filiado no PT do Mato Grosso, não de Tocantins. A saber: Carlos Augustin, da Petrovina Sementes, que dizem ser uma das maiores produtoras de sementes de soja do Brasil. 

Mais detalhes aqui: https://petrovinasementes.com.br/presidente-e-fundador-da-petrovina-sementes-e-destaque-no-canal-rural/

Isto, é claro, se isto for verdade. Mas pode não ser. Vai saber.

terça-feira, 15 de abril de 2025

Revelação de Edinho Silva na Jovem Pan




CQD, devemos ouvir a Jovem Pan.

Em geral para acompanhar o discurso de um setor da direita.

Nesse caso, para ter uma resposta do Edinho acerca do jatinho.

A pergunta foi feita no dia 8 de abril e pode ser lida aqui:

https://valterpomar.blogspot.com/2025/04/edinho-foi-de-jatinho-se-foi-quem-pagou.html?m=0

A resposta foi dada no dia 14 de abril e pode ser lida aqui:

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painel/2025/04/candidato-a-presidente-do-pt-diz-que-produtor-rural-emprestou-aviao-para-viagem.shtml?utm_source=whatsapp&utm_medium=social&utm_campaign=compwa

Para quem não é assinante, copio e colo abaixo o texto da Folha.

Segundo este texto, Edinho explico que não seria um jato, mas um avião. 

(Na fotografia posta no início desta postagem tem um jato, no caso um modelo Dassault Falcon 7X.)

Edinho disse ser um avião de um "filiado ao PT" que seria "produtor rural de Palmas". Edinho não quis revelar o nome do filiado, mas disse que "os militantes do PT do Mato Grosso sabem quem ele é". 

(Curioso: o cara é de Palmas Tocantins, mas quem o conhece são "os militantes" do PT do Mato Grosso. Trechos estão no vídeo abaixo.)




Edinho disse também que "não tem nada que se justifique para tentar fazer disso um debate público".

Discordo de Edinho. Se alguns candidatos viajam de jatinho e outros de ônibus, há uma séria desigualdade. Se o jatinho foi emprestado por um filiado-que-é-produtor-rural-e-cujo-nome-não-pode-ser-revelado, há um sério problema. E se é necessário explicar isso para quem já foi tesoureiro de campanha presidencial, então temos um enorme problema.

Reitero que o Diretório Nacional do PT tem que normatizar a questão. E Edinho poderia depositar, na conta do Partido, para ser redistribuído aos demais candidatos, o dinheiro que ele economizou graças ao filiado produtor rural de Palmas.

Segue o texto da Folha, copiado e colado:

Candidato a presidente do PT diz que produtor rural emprestou avião para viagem

Candidato da principal corrente do PT à presidência do partido, o ex-prefeito de Araraquara (SP) Edinho Silva confirmou ter usado um avião particular, cedido por um apoiador, para um deslocamento na campanha interna.

Em entrevista ao programa Direto ao Ponto, da Jovem Pan, nesta segunda-feira (14), ele disse que um produtor rural filiado ao PT emprestou seu avião para que ele se deslocasse de Palmas (TO) para Cuiabá (MT) em 5 de abril, por falta de voos de carreira. Disse que a aeronave não é um jato, no entanto.

"De Palmas a Cuiabá de fato tem um filiado do PT, que é um produtor rural de Palmas, ele não tem um jato, longe disso. Ele mandou um avião me buscar, porque senão eu não faria Palmas a Cuiabá", declarou.

Edinho não quis revelar quem é o apoiador. "Os militantes do PT do Mato Grosso sabem quem ele é".

O tema vem gerando polêmica no partido desde que Valter Pomar, que também é candidato a presidente do PT, levantou questionamentos sobre a estrutura de campanha de Edinho e o possível uso de jatos para deslocamentos.

O ex-prefeito afirma que em geral vem usando voos de carreira para as viagens, custeados por apoiadores. "Eu tenho usado avião de carreira e pago passagem com apoio de filiados", declarou.

Segundo ele, é legítimo e necessário que os candidatos viajem pelo país. "Estamos num período de pré-campanha. Você tem que conversar com os filiados do PT, com a militância. Não tem nada que se justifique para tentar fazer disso um debate público", afirmou.

Edinho é candidato da tendência Construindo um Novo Brasil e é o favorito para a eleição interna, com voto direto dos filiados, marcada para julho.

Na semana passada, o PT aprovou a concessão de dez passagens aéreas para candidatos a presidente do partido durante a campanha interna. Mas não há regra sobre outros gastos eleitorais.


Pergunta ao companheiro Edinho

Companheiro Edinho

Peço tua atenção para o relatório que segue abaixo.

Não é de minha autoria, mas de um militante petista que pesquisou a respeito.

Segundo tal relatório, baseado nos dados da Meta, o Diretório Municipal do PT de Araraquara teria patrocinado o total de R$ 156.370,00 em anúncios para as páginas de sua pré-candidatura a presidente nacional do PT.

Tal afirmação procede? O valor é esse mesmo?

Não faço a pergunta ao PT de Araraquara, por razões óbvias: os anúncios patrocinados são seus e você, que preza tanto pela transparência na tesouraria partidária, certamente é quem melhor saberá responder a pergunta.

Aproveito para reiterar a pergunta que fiz, anteriormente, sobre o tema jatinho: você utilizou um jatinho para fazer deslocamentos em sua campanha? Em caso positivo, quem pagou?

Faço estas perguntas para, entre outras coisas, saber que providências devo tomar para garantir um mínimo de isonomia material no PED.

No aguardo de sua resposta, atenciosamente, saudações petistas

Valter Pomar

ps. envio abaixo prints do referido relatório, mas caso queira o arquivo é só solicitar que envio




















segunda-feira, 14 de abril de 2025

Equador: notas dissonantes



Recomendo ler as três notas abaixo, todas assinadas por petistas. Uma nota é firme. Outra não diz nada com nada. E a terceira é no mínimo curiosa, tendo em vista a posição anterior sobre a Venezuela. 

A companheira Monica Valente, secretaria executiva do Foro de São Paulo, divulgou a seguinte nota sobre a eleição do Equador:

La Secretaría Ejecutiva del Foro de São Paulo expresa su total apoyo a la compañera Luisa González y a los partidos y movimientos que la apoyaron.

Los indicios de fraude en el proceso electoral, especialmente durante el escrutinio, son muy fuertes y consistentes.

No solamente eso, como también el menosprecio con la Constitución por parte del presidente candidato, que debería haber licenciado de sus funciones, pasando por el decreto de estado de excepción en las provincias en las que Luisa González había ganado en la primera vuelta, la reasignación de 18 recintos electorales, la violencia simbólica de la militarización ostensiva y evidente en todo el país durante todo el proceso.

Apoyamos la demanda para abrir las urnas y recontar los votos, y que se investiguen todas las inconsistencias presentadas, garantizando el respeto a la voluntad del pueblo ecuatoriano y la soberanía popular.

Asimismo, saludamos a la querida Luisa González por su liderazgo firme y su compromiso inquebrantable con el pueblo.

Monica Valente, Secretaria Ejecutiva do Foro de São Paulo

São Paulo, 14 de abril de 2025.


A executiva nacional do Partido dos Trabalhadores, por sua vez, soltou a seguinte nota:

Saudamos o povo equatoriano pela importante participação no processo eleitoral realizado neste domingo (13), demonstrando resiliência em meio aos desafios enfrentados pelo país. No entanto, é essencial que todo processo eleitoral seja conduzido com máxima transparência e clareza, pilares indispensáveis de qualquer democracia legítima.

Manifestamos preocupação diante de fortes indícios que levantam questionamentos sobre a condução das eleições. A transparência e a confiança no processo eleitoral são princípios que não podem ser negligenciados, pois a democracia só se fortalece com processos claros e imparciais, que reflitam fielmente a vontade do povo.

Respeitamos o direito de qualquer candidato ou força política de apresentar suas observações e questionamentos sobre o processo eleitoral, dentro dos marcos legais e institucionais. Reiteramos que a soberania popular deve ser o guia maior em decisões que impactem o futuro do Equador.

Neste momento desafiador, manifestamos nossa solidariedade ao povo equatoriano e renovamos nosso compromisso com a luta por justiça social e pela integração dos povos da América Latina. Reafirmamos nosso compromisso com a democracia como valor fundamental para garantir a soberania popular e construir sociedades mais justas e igualitárias.

Executiva Nacional do PT, 14 de Abril de 2025.

E o governo Lula soltou a seguinte nota:

Saúdo o povo equatoriano e o presidente reeleito, Daniel Noboa, pelas eleições de domingo, 13 de abril. O Brasil seguirá trabalhando com o Equador em defesa do multilateralismo, pela integração sul-americana e o desenvolvimento sustentável da Amazônia.

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República




Olá companheiro Rui Falcão


 

Olá companheiro Rui Falcão

Agradeço pelo convite para o lançamento de tua candidatura. 

Minha intenção original era estar presente, mas decidi priorizar a plenária sindical nacional da tendência petista Articulação de Esquerda, que acontece no mesmo dia e hora do lançamento. 

Como você sabe, desde 2015 estou participando do movimento docente e não tenho como me ausentar desta reunião sindical da AE, em que além dos temas gerais - campanha pela redução da jornada e fim da escala 6x1, tributação dos ricos e Marcha à Brasília, Primeiro de Maio e a Plenária Nacional da CUT em outubro – também debateremos as eleições do Andes Sindicato Nacional, que estou acompanhando diretamente em apoio à chapa 4 “Oposição para renovar o Andes”.

Isto posto, quero reafirmar a importância de sua candidatura à presidência nacional do PT, seja pela contribuição que você dará ao processo, seja pelo fato de que “marchando separados e golpeando juntos” nossas três candidaturas combinadas – a sua, a minha e a de Romênio Pereira – receberão votos de diferentes setores da militância, contribuirão para o crescimento de nossas respectivas chapas e criarão as condições para que ocorra segundo turno na disputa presencial.

Ao longo da marcha, criaremos as condições para uma aliança de segundo turno em torno daquele de nós três que “chegar lá”. Da minha parte seguirei trabalhando para derrotar de conjunto a política implementada pelas diferentes frações da tendência “CNB”, representadas a preços de hoje por Edinho Silva e Washington Quaquá.

Destaco, finalmente, a necessidade de exigirmos conjuntamente que haja lisura no processo eleitoral. Recentemente a CEN e o DN homologaram uma mudança nas regras do PED. Embora tenhamos posições diferentes a respeito, a mudança confirmou a existência de dificuldades que podem restringir a participação legítima das bases partidárias, aumentando o peso daqueles que forem levados a votar por outras razões e meios.

A esse respeito, embora também tenhamos posições diferentes a respeito, a Câmara de Recursos do Diretório Nacional do PT reconheceu implicitamente que há irregularidades dentre as 340 mil novas filiações realizadas até fevereiro de 2025, mas determinou que uma “atualização cadastral” deva ser feita apenas no dia do PED, o que obviamente não vai alterar os resultados.  

Ademais, a candidatura de Edinho Silva não respondeu aos questionamentos que fiz sobre o suposto uso de jatinho e sobre o Diretório Municipal do PT de Araraquara ter pago o impulsionamento de propaganda da candidatura de Edinho. 

Estes e outros problemas precisam ser denunciados e sanados, para que possamos dedicar nossas atenções ao debate sobre o programa, a estratégia, a tática e o funcionamento do Partido, a ação dos nossos governos e bancadas, as lutas sociais e as eleições 2026.

Sobre isso você conhece nossas posições e me limito a reforçar que é preciso voltar a falar de socialismo e, principalmente, voltar a lutar pelo socialismo.

Sem anistia para golpista, boa luta para todos nós!

São Paulo, 14 de abril de 2025

Valter Pomar, candidato à presidência nacional do Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras

domingo, 13 de abril de 2025

Quaquá “faz arminha”: sintomas do fascismo entre nós




Não sei quem foi o inventor da falsidade segundo a qual o nazismo e o fascismo seriam de esquerda.

Seja quem for, não teria sido falso dizer que alguns nazistas e fascistas vieram da esquerda.

O nome “nacional socialista”, por exemplo, está relacionado a um micro partido infiltrado e depois colonizado por Hitler, inicialmente por ordem da inteligência (sic) militar alemã

(Sou de opinião que uma certa seita denominada “operária” está prontinha para operação similar.)

Já os “fascios de combate” viraram o que viraram em boa medida graças a Mussolini, personagem antes importantíssimo no Partido Socialista italiano.

(Em defesa do PS, vale dizer que expulsaram Mussolini antes disso acontecer.)

Tudo isso para dizer que ninguém deveria se espantar com certas afinidades entre as posições da extrema-direita e as recentes declarações de WQuaquá sobre segurança pública (ver vídeo).

Como se pode ver no vídeo, Quaquá elogia o trabalho de toda a PM do Rio de Janeiro, especialmente do BOPE. O paradigma de segurança pública de Quaquá é o “combate”. Não tem legalidade e, principalmente, não tem novidade na política de (in)segurança que Quaquá propõe, política que não deu certo em lugar nenhum: no fim das contas a principal vítima é a população pobre que Quaquá diz querer defender. Vitima também uma parte dos policiais envolvidos, que morre, se suicida, enlouquece. 

Não somos a favor de “dar rosa para bandido”. Aliás é também por isso que confrontamos as posições de Quaquá, enquanto outros calam, quando não se associam, tolerando que faça filiações em massa e blindando-o na comissão de ética do Partido.

Somos a favor de uma política que efetivamente funcione. E, no que toca a segurança pública, as “propostas” de Quaquá - vindas da mesma pessoa que passa o pano nos irmãos Brazão e faz alianças com bolsonaristas - soam ademais como bravata de valentão. Mas é uma bravata especialmente perigosa, porque valida um tipo de política de (in)segurança pública que, repetimos, já vem sendo testada e dando errado em todo lugar.

Como disse um companheiro que entende do riscado mil vezes mais do que eu: “a fala do prefeito Quaquá não tem diferença nenhuma da fala do tenente Derrite... pura demagogia e visão de extrema direita. A diferença é que o Derrite tem mais legitimidade da narrativa de extrema direita...única diferença.”

Último registro: não é por acaso que Quaquá começa sua entrevista (ver vídeo) atacando a esquerda. Notem que ele não ataca uma parte da esquerda; ele ataca “a” esquerda. Isso faz parte do mesmo mecanismo mental que levou um Aldo Rebelo (ex-PCdoB) para o colo da direita. Aliás, o mesmo mecanismo mental que levava Mussolini a atacar a esquerda ao mesmo tempo que falava de “revolução” o tempo todo.

Em resumo: como todo partido de massa, o PT possui no seu interior todas as posições que existem na classe trabalhadora. Tem socialistas, tem social democratas, tem trabalhistas, tem social liberal de jatinho. E tem, inclusive, gente costeando o alambrado do fascismo.

O que me espanta não é que existam. O que me espanta é a tolerância de que gozam, inclusive por parte de gente que defende, como centro da tática, combater o fascismo e defender a democracia. 

Talvez vendo Quaquá “fazendo arminha” eles se toquem do perigo que corremos. 








 

sexta-feira, 11 de abril de 2025

M de massas

Primeiro M. pediu: “explica pra mim pq filiação em massa é ruim”.

Depois M. provocou: vocês “parecem um bando de loucos que não querem que o partido cresça”.

De fato, se queremos um partido de massas, que problema existiria numa filiação em massa?

Aliás, se gostamos de movimento de massas, porque usar a mesma palavra em sentido pejorativo?

Vou além: o PT é grande, mas precisa ser muito maior.

Na minha conta, precisamos ter 15 milhões de militantes.

E aí está o nó da questão: precisamos de militantes. E para ter militantes, é preciso que o Partido exista, tenha direção, núcleos, formação, comunicação, sedes, atividade o tempo todo.

Para ternos 15 milhões de militantes, é preciso inclusive fazer uma campanha permanente de filiação ao PT, uma campanha que precisa ser organizada nacionalmente pelo Partido. 

Hoje não é assim. Hoje as filiações são feitas de forma mais ou menos aleatória. As pessoas se filiam, as tendências filiam, os mandatos filiam, até mesmo políticos de direita filiam gente no PT. Algumas vezes há sinais de esquemas semi-empresariais, em que “gatos” arregimentam filiados em troca de pagamento.

O resultado disso não será um partido de massas militante, um partido de de esquerda. O resultado disso será um partido de massas tradicional, em que as pessoas são convertidas em números, “garrafas” mobilizadas de vez em quando para reforçar este ou aquele grupo, esta ou aquela pessoa, quase nunca para reforçar o Partido.

Nossa crítica é contra este tipo de “filiação em massa”.

O estatuto do Partido tem um dispositivo contra este tipo de filiação. Infelizmente, o atual Diretório Nacional não está disposto a fazer a coisa certa.

Os Quaquás da vida agradecem.

Filiações excessivas: no fundo admitiram o problema, mas aprovaram a coisa errada

Acabo de receber e ler a decisão da Câmara de Recursos acerca do recurso que impetrei contra o volume excessivo de novas filiações.

Meu recurso está aqui: https://valterpomar.blogspot.com/2025/03/recurso-acerca-das-novas-filiacoes-ao-pt.html

A decisão da Câmara está aqui:







Depois de ler a decisão acima, decidi recorrer ao Diretório Nacional do Partido, com base no seguinte.

I.A Câmara de Recursos é um órgão criado há vários anos, para poupar trabalho ao Diretório Nacional.

II.Cabe à Câmara votar recursos. Havendo maioria qualificada na Câmara, a decisão é terminativa. Ou seja, não caberia recurso ao DN. O pressuposto disto é que uma maioria qualificada na Câmara equivale a maioria do DN.

III.Porém:

a/em tese o DN pode alterar esta regra;
b/a Câmara não pode ir além das suas funções.

IV.Na minha opinião, foi isso que a Câmara de Recursos fez no dia 10 de abril, ao votar o meu recurso sobre volume excessivo de filiações. Meu recurso solicitava explicitamente o seguinte:

“1/que em todas as cidades aptas a participar do PED, nas quais a SORG detecte um número de filiados maior do que o número de votos dados à chapa de vereadores do PT nas eleições municipais de 2024, se determine recadastramento, nos termos do artigo décimo, parágrafo único;”

“2/pelos motivos citados no recurso, que se determine imediato recadastramento, nos termos do artigo décimo, parágrafo único, nas cidades de Brejo Grande (SE), Propriá (SE), Alvarães (AM), Maués (AM), Parintins (AM), Benjamin Constant (AM), Goianésia do Pará (PA);”

“3/pelos motivos citados no recurso, que se determine imediato recadastramento, nos termos do artigo décimo, parágrafo único, nas cidades de Itaguai (RJ), Belford Roxo (RJ), São Gonçalo (RJ), Mesquita (RJ), Itaguaí (RJ) Maricá (RJ), Petrópolis (RJ), Japeri (RJ), São João de Meriti (RJ), Itaboraí (RJ), Nova Iguaçu (RJ), Duque de Caxias (RJ), Niterói (RJ) e Rio de Janeiro (RJ);”

“4/que se determine imediato recadastramento, nos termos do artigo décimo, parágrafo único, nas cidades abaixo listadas, onde houve um crescimento igual ou maior que 10 vezes a média nacional, que foi de 13%: BATALHA, PRIMAVERA, PORTEL, MATÕES, PEDRA BRANCA, FERNANDO FALCÃO, OLHO D'ÁGUA DO CASADO, VISEU, ICÓ, CRAÍBAS, BOCA DA MATA, BREJO GRANDE, ESPÍRITO SANTO DO DOURADO, CACIMBINHAS, CAMUTANGA, BOA ESPERANÇA DO NORTE, SÃO VICENTE FÉRRER, ALTINHO, PEDREIRAS, GOIANÉSIA DO PARÁ, SERRA DO RAMALHO, BENJAMIN CONSTANT, ITAGUAÇU DA BAHIA, COARACI, ÁGUA BRANCA, SANHARÓ, PALMEIRA DOS ÍNDIOS, POÇO DAS TRINCHEIRAS, JANDUÍS, ICATU, ABAETETUBA, JUNQUEIRO, ÁGUA BRANCA, MACEIÓ, CAJUEIRO, GARRAFÃO DO NORTE, TERRA ALTA, SÃO PEDRO DO PIAUÍ, ALTO ALEGRE, SÃO MIGUEL DOS CAMPOS, URUBURETAMA, CAPINZAL DO NORTE, MURICI, TUTÓIA, SÃO DOMINGOS DO PRATA, BELFORD ROXO, BREVES, CARIDADE, ULIANÓPOLIS, ARAPIRACA;”

“5/que o Diretório Nacional garanta urna eletrônica nos estados e cidades com maior número de filiados, bem como nas 67 cidades em que o número de filiados mais que dobrou entre outubro de 2024 e fevereiro de 2025.”

“6/solicitamos, por fim, que a SORG forneça as seguintes informações: quantos novos filiados se filiaram individualmente? Quantos novos filiados tem abonador de filiação? Quantos novos filiados foram registrados utilizando senha de dirigente partidário?”

V.O que decidiu a Câmara de Recursos? Copio e colo abaixo:

“Negar provimento ao pedido, por considerar insuficientes os argumentos apresentados
para caracterizar um aumento excessivo no número de novas filiações.
Nos municípios questionados - ver relação em anexo - os(as) filiados(as) deverão
atualizar seus dados cadastrais durante o processo de votação do PED 2025.
Aqueles que se filiaram após outubro de 2024 e não participarem do PED terão suas
filiações suspensas.
O Diretório Municipal deverá entrar em contato com os(as) filiados(as) que tiverem
suas filiações canceladas, a fim de prestar os devidos esclarecimentos, bem como
orientá-los(as) sobre a possibilidade de realizar uma nova filiação, caso haja interesse.”

VI.Primeira observação: a Câmara simplesmente desconheceu os itens 5 e 6 do meu recurso. 

Em primeiro lugar, portanto, vou recorrer ao Diretório Nacional para que responda aquilo que a Câmara não fez.

VII.Segunda observação: a Câmara adotou uma resolução paradoxal, digamos assim. Se a Câmara considerou “insuficientes os argumentos apresentados para caracterizar um aumento excessivo no número de novas filiações”, por qual motivo então decidiu que “nos municípios questionados os(as) filiados(as) deverão atualizar seus dados cadastrais durante o processo de votação do PED 2025”. Atualização cadastral poderia e deve ser feita regularmente, em todo o país. Ao decidir fazer apenas nos “municípios questionados”, a Câmara reconheceu – de maneira oblíqua, envergonhada – que há problemas. 

Em segundo lugar, portanto, vou solicitar ao Diretório Nacional que reabra a discussão e esclareça o ponto: ou bem existem problemas reais “nos municípios questionados” (e nesse caso cabe aplicar o que prevê nosso estatuto, no artigo 6o: recadastramento de todos os novos filiados e novas filiadas”) ou bem não cabe fazer “atualização cadastral” (tucanização do recadastramento) apenas nos “municípios questionados”.

VIII.Terceira observação: a Câmara está usurpando um poder que é exclusivo do Congresso do Partido. A saber: está legislando e criando figuras estatutárias que não existem. A saber: “os(as) filiados(as) deverão atualizar seus dados cadastrais durante o processo de votação do PED 2025. Aqueles que se filiaram após outubro de 2024 e não participarem do PED terão suas filiações suspensas. O Diretório Municipal deverá entrar em contato com os(as) filiados(as) que tiverem suas filiações canceladas, a fim de prestar os devidos esclarecimentos, bem como orientá-los(as) sobre a possibilidade de realizar uma nova filiação, caso haja interesse.” Para começo de conversa, ninguém é obrigado a comparecer no PED. As pessoas adoecem, tem outros compromissos etc. Entretanto, segundo a decisão da Câmara, se elas não comparecerem, não poderão fazer a “atualização cadastral”. Se não fizerem a atualização, vão ter sua filiação suspensa. Detalhe: isso valerá apenas para os novos filiados. Aqueles sobre os quais, segundo a Câmara, seriam “ insuficientes os argumentos apresentados para caracterizar um aumento excessivo no número de novas filiações”. Mas então por qual motivo o tratamento diferencial? Ademais, a Câmara deliberou que as pessoas que não “atualizarem seu cadastro” e forem filiados novos serão não apenas suspensas, mas expulsas, porque terão que “realizar uma nova filiação, caso haja interesse.” Em resumo, a Câmara se transformou em organismo que refez nosso estatuto. 

Em terceiro lugar, portanto, vou pedir ao DN que reabra o debate a respeito e reforme a decisão inteira; reaberto o debate, argumentarei em favor do recurso que apresentei originalmente.

IX.Quarta e última observação: o recurso que a Câmara rejeitou pedia recadastramento. Obviamente, a ser feito antes do PT. O que a Câmara aprovou é um unicórnio. As pessoas terão seu nome de votação na lista de filiados. Mas antes de poderem votar, terão que fazer uma “atualização cadastral”. Não sei se a Câmara efetivamente acredita que será possível fazer tal operação em meio ao PED. Mas supondo que seja possível, pergunto: o que acontecerá se na “atualização” aparecer alguma discrepância que coloque em dúvida, por exemplo, se a pessoa é ela mesma, se está ciente de que se filiou ao Partido, se tem alguma noção do que é o PED? A pessoa poderá votar assim mesmo? Ou haverá uma confusão? 

Qualquer que seja a resposta, fica evidente que a Câmara não apenas extrapolou, ela também criou algo irreal. O que a Câmara devia ter feito era determinar o recadastramento agora, antes do PED. Havia e segue existindo base estatutária para isso. Há meios eletrônicos para fazer isso com rapidez e eficiência. 

O recadastramento deve ser feito antes do PED exatamente para identificar os problemas e, depois de identificados, abrir o devido processo contra os casos devidamente individualizados. Quantas problemas serão identificados no recadastramento? Não sabemos. O que sabemos é que só depois de constatados os problemas se poderia verificar o que fazer. Mas suspender automaticamente as filiações de quem não se recadastrar é impossível, é ilegal. E, ademais, é inócuo no que diz respeito ao PED. 

Por tudo isso, vamos apelar ao Diretório Nacional do PT para que reabra o debate a respeito do recurso. 

Ao contrário do que disse a Câmara, há sim argumentos suficientes para caracterizar que houve um volume excessivo de novas filiações. Todo mundo sabe que há distorções. Todo mundo fala delas. Todo mundo percebe, por exemplo, que o número de filiados no estado do Rio de Janeiro não tem base política. A própria Câmara, embora não tenha tido a coragem de admitir isso, aprovou uma medida hipócrita e ilegal que no fundo admite que os problemas existem. Aliás, as recentemente divulgadas pretensões presidenciais de certo personagem derivam exatamente desta distorção.

Sendo assim, a decisão adotada na Câmara precisa ser reformada. A decisão que ela adotou consegue o prodígio de, ao mesmo tempo, desconhecer o que prevê nosso estatuto acerca do "volume excessivo" de novas filiações e reescrever o estatuto no que diz respeito ao processo de filiação e desfiliação. O Diretório Nacional tem o poder de reabrir o debate, pelo bem do PED. E principalmente pelo bem do PT.


(sem revisão, não corresponde necessariamente ao recurso que será protocolado proximamente)