Íntegra
da entrevista concedida em 13 de março de 2013 para a jornalista, Isadora Stentzler.
1. Como o senhor explicaria a forma do governo de esquerda no PT?
Ao assumir governos, em âmbito municipal, estadual e nacional, o PT
busca implementar algumas diretrizes básicas, entre as quais a participação
popular, a transparência e a inversão de prioridades. No âmbito nacional, isto
se materializa em governos democráticos, comprometidos com o bem-estar social
das maiorias, com o desenvolvimento econômico combinado com a redução
estrutural das desigualdades, com a soberania nacional combinada com a
integração regional.
2. O Governo Chávez poderia ser tomado como um exemplo para os demais
partidos de esquerda? Ele exerceu alguma influencia no território brasileiro,
principalmente no PT?
O governo Chávez (1999-2013) democratizou a Venezuela, ampliou o bem
estar do povo venezuelano, reforçou a soberania nacional da Venezuela, apoiou
decididamente a integração regional sul e latinoamericana e caribenha, defendeu
a democratização das relações internacionais. Além disso, o governo Chávez
estabelecia como seu horizonte a construção do socialismo. A experiência do
governo Chávez teve e continuará tendo influência sobre o conjunto dos partidos
de esquerda, no mundo e no nosso continente. Evidentemente, não deve ser visto
como modelo, mas deve ser defendido e estudado.
3. Como é um partido socialista, de esquerda, liderar um país
capitalista?
É contraditório, como tudo na vida. Mas é bem melhor, para o Brasil, ser
governado por nós do que ser governado por partidos neoliberais... Somos um
partido comprometido com o socialismo, ou seja, comprometido com a construção
de uma sociedade sem exploração nem opressão. Mas como atuamos em um país
capitalista, nosso esforço estratégico deve ser --estando ou não no governo--
implementar medidas que transfiram poder das minorias para as maiorias, para os
trabalhadores, para as camadas populares. Transferir poder para as maiorias
significa, por exemplo, democratizar a propriedade, a riqueza, a renda,
garantir emprego, salários, aposentadorias, ampliar o peso do Trabalho na
riqueza nacional, democratizar o Estado, os aparatos de comunicação, a
indústria cultural, ampliar a oferta de serviços públicos, colocar a economia
sobre controle social, público etc.
4. Se fosse implantar um regime socialista total, quais seriam as
dificuldades?
Não sei bem o que voce quer dizer quando fala de "regime socialista
total". Mas uma sociedade sem exploração nem opressão não se
"implanta", se constrói. Trata-se de um processo político, social,
econômico e cultural de longa duração. Que exige, entre outras coisas, que a
classe trabalhadora aprenda a resolver as grandes questões da sociedade, não
como fazem os capitalistas, em benefício de uma minoria, mas sim em benefício
de uma maioria. E este aprendizado é feito a quente, através da atividade
política, nos movimentos sociais, nos partidos, nos locais de trabalho e
estudo, nas relações familiares, nos parlamentos, nos governos etc.
5. O modelo do governo de Chávez, Bolivariano, foi bom ou ruim? Ele
poderia ser tomado como exemplo para o Brasil?
Para a Venezuela, foi ótimo. Hoje a Venezuela tem mais democracia, mais
bem estar e mais soberania nacional do que nunca teve, antes de Chávez. E
também foi ótimo para a América Latina e para o mundo, entre outras coisas
porque demonstrou --como outros governos da América Latina, como o nosso no
Brasil, também estão demonstrando-- que é possível governar em benefício das
maiorias. Trata-se de uma experiência que deve ser estudada por nós. E
constitui um exemplo num sentido muito concreto: o compromisso com o povo, com
a democracia, com os interesses nacionais, com o socialismo. Mas, como já
disse, nós não trabalhamos com a idéia de que existam modelos que devem ser
copiados.
6. O Partido dos Trabalhadores teria planos, a longo ou curto prazo, de
tornar o Brasil um país socialista por completo?
O Partido dos Trabalhadores é um partido socialista e, portanto, temos
como objetivo que o mundo e também nosso país sejam socialistas, ou seja,
sociedades em exploração nem opressão.
7. Gostaria de comentar alguma outra coisa ainda não mencionada e que
julgue importante?
Sim. Há grandes meios de comunicação, no Brasil e no mundo, que
dedicam-se a desqualificar o que foi o governo Chávez, sua prática e sua
teoria. Para fazer isto, mentem descaradamente. Mas não importa o que digam:
não daqui há 100 anos, já hoje Chávez é um dos grandes heróis latinoamericanos.
E é um herói, porque o povo venezuelano é heróico, politizado e vai dar
continuidade as transformações iniciadas em 1999, elegendo Nicolás Maduro como
presidente no próximo dia 14 de abril.
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