segunda-feira, 11 de março de 2013

Roteiro 11 de março


Roteiro para discussão sobre situação latino-americana, para reunião do Grupo de Conjuntura da FPA

11 de março de 2013

O principal fato deste período é a morte de Hugo Chávez.
 Seguindo o roteiro apresentado na reunião anterior, devemos analisar o impacto da morte do Chávez sobre a dinâmica interna de cada país e sobre a dinâmica da integração regional.
Comecemos pela Venezuela. O impacto imediato é o mobilizar e cerrar fileiras dos setores populares liderados por Chávez, indicando a vitória de Nicolas Maduro nas eleições presidenciais de 14 de abril próximo.
Por isto mesmo, a oposição terá que escolher entre disputar ou não, já que ao participar reconhecerá a legitimidade do processo, ampliará a mobilização do chavismo e pode proporcionar a Nicolas Maduro uma votação similar ou até superior a obtida por Chávez na eleição presidencial de outubro de 2012.
Nesta decisão, vai pesar a disputa interna à oposição: se por um lado nova derrota pode enfraquecer Henrique Capriles, por outro lado lançar outro nome pode fortalecer uma alternativa a Capriles e ao mesmo tempo enfraquecer eleitoralmente a oposição, em 14 de abril e posteriormente.
Seja como for, se não houver nenhuma novidade, a tendência é Nicolas Maduro ser o próximo presidente da República Bolivariana da Venezuela. Aí começam os desafios de médio prazo, que são basicamente três: 1) estabelecer uma direção coletiva, tanto pública quanto interna, para o “bolivarianismo”; 2) enfrentar as debilidades do processo, especialmente as econômicas; 3) e um terceiro desafio, já enfrentado em processos similares, diz respeito a como lidar com a herança ideológica, teórica, programática, cultural do próprio chavismo.
Este desafio, é importante dizer, não se limita aos próprios venezuelanos. Especialmente por iniciativa da direita, está em curso um balanço da experiência venezuelana; sendo que no caso da direita, isto tem não apenas com o objetivo de desqualificar o que foi feito, mas também de caracterizar como “autoritarismo populista e voluntarista” o conjunto das orientações do que acostumamos chamar de chavismo.
É importante que o conjunto da esquerda participe deste debate, uma vez que a experiência do governo Chávez (1999-2013) tem inúmeros ensinamentos a nos dar acerca dos problemas e das possibilidades de uma estratégia de transição ao socialismo, a partir da conquista eleitoral de governos, nas atuais condições latinoamericanas e caribenhas.
Para além daqueles pontos óbvios, acerca dos quais nos compete defender o governo de Hugo Chávez, cabe considerar que o  chavismo tem quatro características que merecem ser destacadas e analisadas neste debate: 1-a preocupação em construir uma doutrina, vinculando o passado (Bolívar), o presente (integração) e o futuro (socialismo do século XXI); 2-uma linha militar, segundo a qual a revolução bolivariana é pacífica, mas não é desarmada; 3-um internacionalismo hiperativo, com um forte componente de solidariedade material; 4-um forte destaque para a participação democrática, inclusive eleitoral, do povo; 5-a compreensão de que a polarização é, no fundamental, positiva.
O debate sobre o balanço da experiência venezuelana está recolocando sobre a mesa a “teoria” das “duas esquerdas”, a “carnívora” e a “vegetariana”; assim como recoloca o debate sobre os dois caminhos da América Latina, o supostamente exitoso “Arco do Pacífico” em aliança com os EUA versus os caminhos propostos pela Alba, Celac, Unasul e Mercosul.
Isto nos remete para a discussão acerca do impacto da morte de Hugo Chavez sobre os demais países da região e, também, sobre o processo de integração.
Os Estados Unidos e seus aliados europeus enxergam no fato uma brecha, por onde poderiam penetrar e desestabilizar o processo bolivariano e, com isso, afetar o conjunto da esquerda regional, especialmente aqueles países que receberam mais apoio da Venezuela (Cuba e Nicarágua, entre outros).
Paradoxalmente, esta possibilidade (desestabilização da Venezuela) não é de total agrado de alguns governos de centro-direita existentes na região. Especialmente no caso do governo colombiano, a existência de um forte pólo chavista cumpre um papel de contraponto e de estabilização regional, útil para Santos tanto no conflito com as Farc quanto no conflito com Uribe.
No caso dos países receptores da solidariedade material venezuelana, é importante considerar que –mesmo na hipótese mais provável da vitória de Maduro— o ritmo, a extensão e a capacidade de pronta-resposta da Venezuela tendem a reduzir-se, pelo menos por algum tempo.
Considerando que o Brasil já entrou em período eleitoral, e considerando a situação argentina e venezuelana, podemos prever que o processo de integração regional poderá sofrer, ao menos no curto prazo, uma certa “crise de direção”.
Lembramos, a este respeito, o que foi dito no Roteiro de 25 de fevereiro: “a crise internacional, a contraofensiva dos Estados Unidos e aliados, somadas as dificuldades e debilidades dos setores progressistas e de esquerda, produziram uma situação, hoje, de equilíbrio relativo entre as forças pró-integração subordinada e as forças pró-integração autônoma. (...) Evidente que não vai durar para sempre a situação atual, de equilíbrio relativo entre as forças pró “integração subordinada” e as forças pró “integração autônoma” Ademais, a situação de equilíbrio tende a favorecer, no médio prazo, aqueles que são favoráveis à integração subordinada”.
Reafirmamos também que 2013 “será o ano de controlar os problemas econômicos da Argentina, acomodar politicamente a situação na Venezuela, relançar o crescimento acelerado no Brasil.”
“Será o momento, também, de acelerar o processo de integração regional, para o que será necessária uma atitude mais pró-ativa do tripé Brasil-Argentina-Venezuela”.
“Será o momento de neutralizar a operação Arco do Pacífico, através de três movimentos: ajudar a que tenha êxito o processo de negociação FARC-Santos; recuperar o governo peruano para o projeto de integração regional; trabalhar pela vitória da centro-esquerda nas eleições chilenas, com base num programa de maior colaboração do Chile com Unasul e Mercosul.”
“Será um momento, ainda, de reforçar a institucionalidade da esquerda na Venezuela, Bolívia e Equador, aprendendo com os últimos acontecimentos na Venezuela, que confirmam a necessidade de múltiplas lideranças de massa e fortes organizações partidárias.”
“No curto prazo, temos pela frente a eleição paraguaia, no dia 21 de abril.”
“No caso do México, América Central e Caribe, cabe analisar os movimentos iniciais do novo governo mexicano, acompanhar de perto o processo eleitoral salvadorenho, e estabelecer vínculos mais profundos com as novas gerações dirigentes na Nicarágua e em Cuba.”

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