O Partido da Causa Operária é uma
seita. Vive noutro mundo, onde o PCO seria “o partido de esquerda que mais
cresce no Brasil.”
A frase acima
está no mais recente artigo que o PCO dedica à atacar este que vos escreve. Os artigos
anteriores do PCO, bem como meus respectivos agradecimentos, podem ser lidos aqui:
Valter Pomar
Mas é preciso registrar uma novidade importante. Antes os artigos do PCO vinham sem assinatura, motivo pelo qual eu os atribuí a “Bibi”.
Já o mais recente artigo
veio assinado por Victor Assis da Silva, motivo pelo qual vou citá-lo como
Victor do PCO.
O artigo de Victor
do PCO tem cerca de 31 mil caracteres, o que corresponde a umas 6 páginas do
jornal Página 13. Mas se tirarmos as agressões pessoais sobra pouca
coisa.
Parte do que sobra já foi comentado por mim noutras oportunidades, como é o caso do debate sobre os juros, sobre a Venezuela, sobre as eleições nos EUA, sobre Boulos e sobre o nacionalismo de direita, sobre Sílvio Almeida e sobre o STF, bem como sobre Arthur Lira e sobre a corrupção.
Portanto, não voltarei a estes temas. A seguir, alguns comentários sobre outros temas.
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Chamo a atenção para o uso de termos como “chilique”, “histérico” e “prostituem”.
Também chamo
a atenção para a seguinte afirmação: “Pomar não gostou de ser desmascarado. Não
pega bem no ambiente em que vive, onde ser bajulado significa conseguir um
cargo e onde conseguir um cargo significa ganhar mais dinheiro. Para um
pequeno-burguês, sua vaidade coincide com o instinto de sobrevivência de seus
privilégios sociais”.
Na minha
opinião, isto acima só Freud explica.
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Igualmente peço que leiam o trecho a seguir:
“Quando Pomar diz que o PCO se
aliou a figuras da extrema direita porque defendeu um determinado princípio
político, ele está admitindo que a esquerda não deveria ter princípios, mas sim
uma política que se adaptasse às suas conveniências”.
Evidentemente
eu não admito isso. O que eu afirmo é: os “princípios” da classe trabalhadora
não são iguais aos “princípios” dos capitalistas.
Como exemplo da diferença entre uma coisa e outra, basta ler o seguinte trecho do texto do PCO:
“Se o Supremo Tribunal Federal (STF) cassa os direitos políticos da maior
liderança operária do País, o atual presidente Lula, a esquerda, segundo Pomar,
deveria se voltar contra o tribunal. No entanto, se o mesmo tribunal cometer o
mesmo tipo de arbitrariedade contra um direitista como Jair Bolsonaro (PL), o
STF deve ser defendido. E assim deve ser defendida a Suprema Corte por
atropelar os direitos democráticos de Trump, e assim deve ser defendido o STF
por derrubar uma plataforma como o X, que era utilizada por 20 milhões de
brasileiros…”.
Para começo
de conversa, o STF não cometeu “o mesmo tipo de arbitrariedade” contra
Bolsonaro e contra Lula. Aliás, o STF não está cometendo nenhuma “arbitrariedade”
contra Bolsonaro. Pelo contrário, até agora está pegando levíssimo, inclusive
criando as condições para o cavernícola – a depender dos resultados da eleição
2024 – conseguir uma decisão congressual que o permita disputar as eleições de
2026.
E a Suprema
Corte dos EUA não está atropelando os direitos de Trump; o candidato in
pectore do PCO segue em sua campanha eleitoral e tem condições
inclusive de vencer.
Quanto ao X,
quem dera o STF e o governo brasileiro tivessem disposição de fazer o que deve
ser feito. A operação de multinacionais da comunicação, mais a ação do oligopólio
nacional da mídia, são ameaças constantes à soberania e à democracia.
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O PCO defende
Bolsonaro, Trump e o X por diversos motivos. Um deles é sua crença de que, numa
sociedade de classes, existiriam princípios universais aos quais devemos não apenas recorrer quando possível, mas também exaltar e nos submeter a eles.
Por exemplo:
eles acham que seria oportunismo dizer que “existe um problema jurídico e
existe um problema político” e que, portanto, todas as questões jurídicas
são relativas.
Outro exemplo:
Victor do PCO defende a liberdade de expressão irrestrita e acusa o autor
destas linhas de ser “adepto da tese de que os inimigos de classe dos
trabalhadores não deveriam ter direito à expressão”.
Em circunstâncias revolucionárias e/ou de guerra, posso vir a defender exatamente isso ou algo parecido: restringir ao mínimo os direitos de nossos inimigos.
Mas nas circunstâncias atuais, que não são revolucionárias nem de guerra aberta, o que eu defendo é algo mais modesto: a liberdade de expressão do Musk não pode ser tratada nos mesmos termos que a liberdade de expressão de um trabalhador.
Um bilionário dono de uma grande empresa de comunicação precisa ter sua liberdade restringida, para que o trabalhador possa ter liberdade de expressão ampliada.
Noutros termos: não se deve confundir a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa com a liberdade de empresa.
Que o PCO não concorde com isso apenas demonstra que, por baixo do glacê supostamente marxista, esconde-se um coração liberal.
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Reafirmo que
o PCO adota a mentira como método. Vejam o trecho abaixo:
Ops! Em seu artigo, Pomarzinho diz que ele não comemorou a
demissão de Silvio Almeida. É por coisas assim que ele me chama de “Bibi”: “Atenção
Bibi: eu concordei com a decisão de Lula. Mas não comemorei. O ocorrido é
trágico, o conjunto da situação é trágico, não há o que comemorar.” Se
comemorou ou não, não muda absolutamente nada. Se o presidente tomou a decisão
que considera acertada, o normal seria comemorar, e não ficar deprimido. Pomar
não pode me acusar de mentir por eu não entender a peculiaridade de seu humor,
pois, neste caso, entre comemorar e concordar a diferença é mínima.
Ou seja: o Victor do PCO mente, mas diz que não pode ser acusado de mentir porque o normal “seria”... aquilo que Victor do PCO acha normal.
Seita também é isso: contra argumentos
não há fatos.
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Como dissemos em outro texto, o PCO não está só. Outros setores da esquerda (dentro do PT, fora do PT, fora do Brasil) também organizam sua política, não em torno da luta contra o capitalismo e contra o imperialismo, mas em torno da luta contra o que eles chamam de “identitarismo”.
Claro, fazem isso com o argumento de que o identitarismo seria “a” política do imperialismo.
Victor do PCO chega a dizer
que tanta Kamala quanto Trump seriam identitários, assim como Milei e outros, sem se dar conta das consequências
que derivam deste uso tão elástico do termo.
O identitarismo existe, assim como existem o reformismo, o revisionismo, a socialdemocracia, o liberalismo, o social-liberalismo, o esquerdismo etc.
Todas essas posições existem no interior da classe trabalhadora e de outros setores da sociedade; todas merecem ser combatidas.
Mas a depender de como se faz isto, o efeito pode ser
desastroso.
O PSTU, por exemplo, foi tão longe no combate à certas posições que atribuía ao PT, que se converteu num aliado da direita.
De outra forma, é o mesmo que está ocorrendo com o PCO, nos casos já citados de Bolsonaro, Trump e Musk.
Em nome de combater o
que chamam de identitarismo, se aliam na prática e na teoria com setores da direita
e da extrema-direita, inclusive com aqueles que Victor do PCO considera também identitários.
Victor do PCO acredita, por exemplo, que defender personagens como Daniel Alves e Robinho contribui para o progresso da humanidade.
E, segundo entendi, pensa que a condenação pública da misoginia, do racismo e da lgbtfobia seria identitarismo,
dividiria a nossa classe, facilitaria o trabalho ideológico da direita etc.
É evidente, como já dissemos, que há posições (identitárias, esquerdistas etc.) que não ajudam a unificar a classe trabalhadora na luta contra o capital e contra o imperialismo.
Aliás, esse debate não é novo e não vai terminar tão cedo.
Na segunda internacional, por exemplo, havia quem defendesse deixar de lado os interesses das mulheres, em nome de que seria mais fácil conquistar o direito de voto apenas para os homens.
Tanto na segunda quanto em setores da terceira internacional, houve quem achasse que a defesa dos interesses dos povos colonizados prejudicava o trabalho político junto a classe trabalhadora das nações imperialistas.
Recentemente, na votação do código da família em Cuba, houve setores minoritários do PC inicialmente contrários à mudança na definição de casamento, porque acreditavam que esta definição se chocaria com os preconceitos de uma parte importante do povo cubano.
Em resumo, a política do PCO não é novidade, sendo similar a de todos os setores da esquerda que adotam como sendo deles a posição das camadas mais conservadoras da classe trabalhadora e da população em geral.
Importante destacar: é indispensável levar em consideração a posição do conjunto da classe e de cada um de seus setores.
Mas “levar em consideração” as posições dos setores mais conservadores não é igual a se submeter a estas posições.
Uma força de esquerda que pretende transformar a sociedade, precisa
também transformar a opinião de amplos setores da classe trabalhadora, setores que
estão sob hegemonia da classe dominante.
Noutras palavras: o PCO, a pretexto de combater o identitarismo, está na verdade se submetendo ao senso comum da classe trabalhadora em diversas questões.
E uma pergunta é: num país onde metade da classe
trabalhadora é composta por mulheres, onde mais da metade da classe
trabalhadora é negra, é possível deixar de lado as questões que afetam as
mulheres trabalhadoras, as negras e os negros trabalhadores?
Mais especificamente: é possível deixar de lado estas questões, no exato momento em que a extrema-direita transforma estas questões em campo de batalha?
Devemos deixar estas questões nas mãos dos chamados identitários ou
devemos incorporar estes temas, com a importância que têm, como parte da pauta
da classe trabalhadora?
Victor do
PCO diz que “O identitarismo é (...) uma tentativa de substituição da luta de
classes. A luta do negro contra o branco, da mulher contra o homem, do
homossexual contra o heterossexual não é, de forma alguma, a mesma coisa que a
luta da classe operária contra o grande capital. E, portanto, não há como
abraçar uma política sem abrir mão da outra”.
De fato, se o problema for posto nos termos acima, a alternativa é dicotômica. Mas a equação de Victor do PCO só considera duas possibilidades: o obreirismo mais tacanho e o identitarismo mais liberal.
Mas há outras alternativas, por exemplo uma
política proletária que leve em conta a classe trabalhadora realmente existente
no Brasil, com suas diferenças e suas contradições internas.
A opção dicotômica do PCO acaba levando esta organização a aliar-se com
a extrema-direita, como faz o BSW alemão no tema dos migrantes. E como faz um determinado
personagem do PT, ao passar o pano para o bolsonarismo.
Segundo entendi, o PCO acha que, agindo desta forma, estaria ajudando a unificar a classe no combate ao imperialismo.
Eu os enxergo fazendo exatamente o contrário do que dizem.
Por exemplo: a postura frente a Trump.
Segundo Victor
do PCO, Trump seria identitário e Kamala Harris também. Por qual motivo, então,
o PCO apoia Trump identitário?
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Termino lembrando que um partido da classe trabalhadora tem no seu interior gente de diferentes tipos, inclusive quem está na política com objetivos pessoais. Esta gente precisa ser combatida. Daí a necessidade de manter estruturas de disciplina e corregedoria interna, vigiar e condenar quem enriquece através da atividade política, combater o tempo todo a corrupção, ter mecanismos de crítica e autocrítica. Que Victor do PCO ache que isto pode "confundir o partido" é muito sintomático acerca do que pode estar ocorrendo nas internas do "partido de esquerda que mais cresce no Brasil".
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Abaixo o texto comentado acima.
Texto de Victor Assis da Silva
Quanto mais
Valter Pomar fala, mais se revela pró-imperialista
Sem
condições de sustentar suas teses sobre o identitarismo, dirigente da
Articulação de Esquerda (AE) recorre ao chilique
Entre as
tarefas necessárias para a construção de um partido revolucionário, está a de
desmascarar os que prostituem o marxismo para satisfazer os seus interesses
mais imediatos. A polêmica, afinal, permite traçar uma linha entre o programa
dos trabalhadores para a atual etapa e as bobagens ditas por quem decidiu
servir aos nossos inimigos de classe. É com esse objetivo que nossa imprensa
tem sido obrigada a discutir as teses do histérico Valter Pomar, dirigente da
corrente petista Articulação de Esquerda (AE).
Pomar não
gostou de ser desmascarado. Não pega bem no ambiente em que vive, onde ser
bajulado significa conseguir um cargo e onde conseguir um cargo significa
ganhar mais dinheiro. Para um pequeno-burguês, sua vaidade coincide com o
instinto de sobrevivência de seus privilégios sociais.
Transtornado,
Pomar acabou reagindo à la José Luís Datena (PSDB). Não sabe o
que responder em um debate? Jogue uma cadeira no adversário! Na impossibilidade
de dar uma “cadeirada” da tela de seu computador, Pomar recorreu ao que tinha
na mão: calúnias, ofensas e mentiras para fugir do debate.
Em seu mais
recente artigo sobre o Partido da Causa Operária, PCO: Bibi
ataca novamente, Pomar se recusa a entrar no debate da maioria das questões
levantadas por este Diário nos artigos Se
dependesse de Valter Pomar, a Globo indicaria todo o ministério de Lula e Valter
Pomar: palavra da Febraban vale mais que provas. Para fugir do debate,
recorre a um expediente mais infantil que as provocações de Pablo Marçal
(PRTB): chamar a pobre alma que teve o trabalho ingrato de criticá-lo nos dois
artigos de “Bibi do PCO”.
Prazer,
senhor Pomar, aqui está o “Bibi do PCO”. Se era a ausência de uma
assinatura o que faltava para que entrasse no debate, agora sinta-se à vontade
para apresentar seus argumentos. Enquanto decide se vai debater ou não, deixo
aqui minhas considerações sobre seu último chilique.
O debate em
tela, do qual Pomar foge como o diabo foge da cruz, é sobre questões que estão
no primeiro plano da luta de classes mundial, a saber, o identitarismo, os
direitos democráticos e o imperialismo. Abordarei cada um dos temas em breve.
Antes, contudo, algumas palavras sobre as malcriações do menino Pomar.
As acusações
de Pomar contra o PCO nada têm de novo. Ele procura, uma vez
mais, apresentar o PCO como um aliado dos inimigos da
esquerda. Ele já acusou o Partido de aliar-se ao bolsonarismo, ao bilionário
Elon Musk e ao republicano Donald Trump. Agora, acusa o PCO de “conciliar
com o racismo, a misoginia e o nacionalismo de direita”. E ainda me acusa
de mentir como o genocida Benjamin Netaniahu! As acusações, no entanto, nada
explicam sobre a política do PCO e muito explicam sobre a
política de Pomar.
Quando Pomar
diz que o PCO se aliou a figuras da extrema direita porque
defendeu um determinado princípio político, ele está admitindo que a esquerda
não deveria ter princípios, mas sim uma política que se adaptasse às suas
conveniências. Se o Supremo Tribunal Federal (STF) cassa os direitos políticos
da maior liderança operária do País, o atual presidente Lula, a esquerda,
segundo Pomar, deveria se voltar contra o tribunal. No entanto, se o mesmo
tribunal cometer o mesmo tipo de arbitrariedade contra um direitista como Jair
Bolsonaro (PL), o STF deve ser defendido. E assim deve ser defendida a Suprema
Corte por atropelar os direitos democráticos de Trump, e assim deve ser
defendido o STF por derrubar uma plataforma como o X, que era utilizada por 20
milhões de brasileiros…
A política
de Pomar, como pode ser vista, é a política do pequeno burguês que quer “estar
bem na fita”. Pode ser muito útil para puxar o saco de quem possa lhe dar
um pirulito e deixar o menino Pomar feliz. Mas, para quem tem como objetivo
esclarecer às massas quem são os seus inimigos e quem são os seus aliados, é
uma política desastrosa. Uma política que causará uma confusão tremenda.
Em vez de
debater se a política do PCO acerca dos direitos democráticos
da população é correta, Pomar parte para as acusações infantis porque o partido
de qual faz parte é, ele próprio, um partido sem princípios definidos. O
Partido dos Trabalhadores (PT), que hoje está no governo, após meses em um
embate com o Banco Central “independente”, agora se cala diante do aumento da
taxa de juros. O mesmo governo petista, que outrora defendeu o regime chavista
das provocações imperialistas, agora colabora com a desestabilização do país
caribenho. É esse zigue-zague político que Pomar defende. E quem não defender é
trumpista, bolsonarista, muskista, ou seja lá o que. Da mesma forma que o PCO,
que denunciou o golpe de Estado contra o PT desde 2012 e organizou vários atos
nacionais em defesa de Lula, era acusado pela imprensa burguesa e pela esquerda
golpista de “estar no bolso do PT”.
Chamar-me
de “Bibi do PCO“, por seu turno, revela um nível ainda
mais baixo do debate. Se, antes, Pomar estava disposto a caluniar o PCO porque
as posições deste contrastavam com os interesses oportunistas seus e de seus
amigos, agora ele decidiu me chamar de “Bibi” para tentar defender a si
próprio. Afinal, quando um jornal expõe os interesses de um charlatão como
Pomar, seu redator é chamado de mentiroso! Ora, faça-me o favor…
Por mais que
tente me apresentar como um mentiroso e o PCO como um partido
incongruente, uma vez que seria um “aliado objetivo da extrema direita”,
Pomar não consegue esconder que o Partido expressa, na verdade, uma força
social. Ele mesmo reconhece, no início do artigo supracitado, que “o
PCO expressa uma corrente de opinião presente no próprio PT e em outros
partidos de esquerda, tanto no Brasil quanto no exterior”. Em outras
palavras, o que o PCO defende não é um conjunto de opiniões improvisadas, mas a
expressão de um movimento que está em contraste com aquilo que Pomar defende
hoje. Que contraste seria esse?
Pomar deixa
claro. Para ele, partidos como o BSW alemão (Bündnis Sahra Wagenknecht
Vernunft und Gerechtigkeit ou, em português, Aliança Sahra Wagenknecht
Razão e Justiça) e o PCO estão “em uma cruzada contra
o que chamam de ‘identitarismo’ e, também, por conciliar com o racismo, a
misoginia e o nacionalismo de direita, tudo em nome de (supostamente) dialogar
com setores da classe trabalhadora que estão sob a hegemonia da direita”.
A tal
conciliação com “com o racismo, a misoginia e o nacionalismo de
direita” não passa de uma calúnia. Pomar não prova absolutamente nada.
No entanto, para que possamos nos defender, apresentamos as “provas” que, de
tão ridículas, Pomarzinho não quis apresentar.
Acusam
o PCO de “conciliar com o racismo”, por exemplo,
porque o Partido é contra a equiparação da injúria racial ao crime de racismo.
Conforme explicado exaustivamente, isso nada tem a ver com conciliar com
racismo algum. Tem a ver com a defesa de um regime jurídico democrático. A
equiparação serve para estabelecer um crime de opinião – o que não apenas é
inconstitucional, como também é um atentado a um direito democrático. O mesmo
pode ser dito sobre a tal “conciliação com a misoginia”.
Pomarzinho
prefere caluniar o PCO porque é incapaz de dizer o que ele
verdadeiramente defende. Para ele, a liberdade de expressão não deveria ser
irrestrita – portanto, sequer deveria existir. Ele é adepto da tese de que os
inimigos de classe dos trabalhadores não deveriam ter direito à expressão. O
que ele finge não saber é que, em primeiro lugar, quem aplica a Lei são
justamente os inimigos dos trabalhadores, como Sérgio Moro e Alexandre de
Moraes. Em segundo lugar, que leis criminosas como a da equiparação do racismo
já estão sendo utilizadas para perseguir a esquerda, a exemplo do jornalista
Breno Altman, filiado ao mesmo partido que Pomar!
Quanto ao “nacionalismo
de direita”, é difícil dizer ao que Valter Pomar se refere. Fato é que
o PCO defende todos os interesses nacionais na medida em que
eles se chocam com o imperialismo. Neste sentido, defende a estatização de
todas as empresas estratégicas e a exploração do petróleo brasileiro por uma
empresa pública – coisa que a direita não defende. Da mesma forma, o PCO é
contra a atividade das Organizações Não Governamentais (ONGs) teleguiadas por
governos estrangeiros, que atuam no sentido de roubar terras da região
amazônica e impulsionar movimentos com potencial de contribuir com a
desestabilização do regime. Se parte da extrema direita vê seus interesses
ameaçados pelas mesmas ONGs e faz campanha contra elas, paciência. Não há
porque um partido de esquerda defender tal interferência na política
brasileira.
Pomar, no
entanto, é um fã das ONGs (pode me chamar de “Bibi” por isso, fique à vontade).
Em seu blogue, Pomar escreveu até um poeminha para o candidato oficial das ONGs
no Brasil, Guilherme Boulos: “Não há dúvida: eleger Boulos é
fundamental. E para isso o engajamento do PT deve seguir total. Inclusive com
recursos do Fundo Eleitoral”. Para quem quiser saber mais sobre a relação
entre Boulos e as ONGs estrangeiras, basta ler aqui.
Também não podemos esquecer que a polêmica recente entre Pomar e este Diário teve
início quando o dirigente comemorou a demissão do então ministro Silvio
Almeida, dos Direitos Humanos, após acusações feitas por uma… ONG estrangeira,
a Me Too!
Ops! Em seu
artigo, Pomarzinho diz que ele não comemorou a demissão de Silvio Almeida. É
por coisas assim que ele me chama de “Bibi”:
“Atenção
Bibi: eu concordei com a decisão de Lula. Mas não comemorei. O ocorrido é
trágico, o conjunto da situação é trágico, não há o que comemorar.”
Se comemorou
ou não, não muda absolutamente nada. Se o presidente tomou a decisão que
considera acertada, o normal seria comemorar, e não ficar deprimido. Pomar não
pode me acusar de mentir por eu não entender a peculiaridade de seu humor,
pois, neste caso, entre comemorar e concordar a diferença é mínima. Mas fica
então a pergunta: linchar publicamente alguém porque uma ONG afirmou que ele
cometeu algum crime não é coisa que alguém chamado “Bibi” faria? Para saber
como uma ONG chamada Zaka criou a história de que combatentes do Hamas teriam
estuprado mulheres, que foi reproduzida por Benjamin Netaniahu, leia aqui.
Voltemos
agora ao debate sobre o identitarismo. Chamo a atenção para o fato de que Pomar
alega que o PCO e outras organizações estão em “uma
cruzada contra o que chamam de ‘identitarismo'”, e não propriamente contra
o identitarismo. Para Pomar, portanto, ou o identitarismo não existe, seria
algo inventado – sabe-se lá por que – por essas organizações; ou seria algo que
existe, mas que essas organizações teriam distorcido o seu significado. Uma vez
mais, teremos que apelar às suposições, já que Pomar não procura explicar
absolutamente nenhuma de suas posições.
A Enciclopédia
Britânica define a “política identitária” como uma
atividade “realizada por ou em nome de um grupo racial,
étnico, cultural, religioso, de gênero ou outro, geralmente com o objetivo de
corrigir as injustiças sofridas pelos membros do grupo devido a diferenças
ou conflitos entre sua identidade particular (ou mal-entendidos sobre
essa identidade) e a identidade dominante (ou identidades) de
uma sociedade maior”.
Podemos
resumir, portanto, que o identitarismo é uma política baseada na oposição
de identidades. Perguntamos a Pomarzinho: existe essa política, seja no
Brasil, seja no mundo? A menos que o dirigente da AE não tenha lido um único
jornal nos últimos 10 anos, ele se lembrará de casos como esses:
1. A então assessora especial do
Ministério da Igualdade Racial Marcele Decothé publicou uma mensagem nas redes
sociais em que chamava a torcida do São Paulo Futebol Clube de “torcida
branca, que não canta, descendente de europeu safade… Pior de tudo, pauliste”;
2. Durante comício com o candidato
Guilherme Boulos, que contou com a presença do presidente Lula, o hino nacional
foi executado com a letra em “linguagem neutra”;
3. Diante da aposentadoria da ministra
Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), formou-se um lobby para
que Lula indicasse uma “mulher negra” para substituí-la;
4. A abertura das Olimpíadas de 2024,
realizadas na França, contou com apresentações grotescas com drag
queens em uma cena que remetia à Santa Ceia;
5. Jogadores de futebol, como Daniel
Alves e Robinho, foram pré-julgados pela “opinião pública” por supostamente
terem cometido agressões contra mulheres;
Todos esses
casos merecem a mais dura crítica. Quem decide empreender uma “cruzada” contra
eles está, no final das contas, contribuindo para o progresso da humanidade.
No primeiro
caso, uma pessoa que representa o Estado decidiu ofender uma das maiores
torcidas do País e a população do estado mais populoso da América Latina. O
objetivo de tal política, seja ela consciente ou não, não é o de promover uma
melhora nas condições de vida da população de regiões mais atrasadas do País –
até porque essa melhora nunca virá com xingamentos. O objetivo é dividir o
País, criar hostilidades que não existem, facilitando a dominação do Brasil
pelos poderosos. Antes que encha meu saco dizendo que sou da elite branca
paulista, Pomarzinho, saiba que sou negro e nordestino – mas, para mim, isso
não tem importância alguma no debate.
No segundo
caso, também há o objetivo de estimular hostilidades entre diferentes setores
da população. Há uma minoria realmente pequena de pessoas no Brasil que são da
comunidade LGBT. Dentro dessa comunidade, nem todos são favoráveis ao uso da
“linguagem neutra”. Utilizá-la no hino nacional é, portanto, algo que
certamente deixa contente menos de 0,01% da população do País. Por outro lado,
ela é vista como ofensiva para uma parcela expressiva da população, que começa
a se sentir incomodada com a imposição extremamente autoritária dessa minoria.
Além disso, convém destacar que a mudança forçada da língua é um ataque à
própria cultura do País. E, portanto, um flanco aberto para uma infiltração
estrangeira.
No terceiro
caso, tratava-se claramente de uma campanha não para defender os interesses de
um setor oprimido de conjunto, mas de uma manobra para impedir que Lula
indicasse uma pessoa de sua confiança para o STF. Os ongueiros que promoveram a
campanha tinham, inclusive, um nome específico para indicar: Adriana Cruz, que
foi assessora do hiper-lavajatista Luís Roberto Barroso durante o auge da
Operação Lava Jato.
No quarto
caso, um dos governos mais criminosos de toda a história da França não apenas
procurou ofender as crenças de milhões de pessoas, despertando críticas até de
pessoas afeitas ao identitarismo, como serviu de cobertura para o verdadeiro
espetáculo de perseguições que vêm sendo promovidas pelo regime francês. O
governo de Emmanuel Macron, na mesma Olimpíada, proibiu as mulheres muçulmanas
de usarem véu (hijab). Ao mesmo tempo, continuou apoiando o massacre na
Faixa de Gaza.
No quinto e
último caso, o resultado foi o retrocesso dos direitos democráticos do povo
brasileiro e, ao mesmo tempo, um enfraquecimento do futebol. Se um jogador foi
acusado de um crime qualquer, o normal seria que ele continuasse exercendo suas
funções e que, discretamente, respondesse ao processo que fosse aberto. Se
condenado, cumprisse a pena. Se não, vida que segue. Nada disso tem acontecido:
basta que apareça na imprensa uma acusação contra os craques brasileiros que
eles imediatamente são considerados criminosos – chegando muitas vezes a serem
imediatamente suspensos e perderem contratos. Ao mesmo tempo em que isso
enfraquece, no geral, o princípio da presunção de inocência, isso também serve
para aumentar a pressão sobre o futebol nacional, expressão da cultura
brasileira.
Essa é a
mesma posição que Pomarzinho sustenta até hoje e que deu início à polêmica
atual. No texto PCO: Bibi ataca novamente, o dirigente da AE repete
que “existe um problema jurídico e existe um problema político”. Ou
seja, que o “problema jurídico” está condicionado a um dado “problema
político”, o que equivale a dizer que todas as questões jurídicas são
relativas. É, como voltamos a dizer, o padrão Valter Pomar de oportunismo: se
aquilo diz respeito a seus interesses imediatos, ele defende; se não, ele se
opõe. Não por acaso, os interesses imediatos de Pomar nunca são, de fato, seus.
São os interesses do grande capital, para quem Pomar se rasteja em busca de
alguma vantagem besta.
Como ficou
demonstrado, o identitarismo existe. E, mais que isso: é um câncer. Se a tese
de Pomar é que há coisas que não deveriam ser classificadas como
“identitarismo”, quais são elas? Novamente, o silêncio.
A formulação
obscura de Pomar não vem por acaso. Ele opta por fazê-lo porque é um identitário
envergonhado. Uma vez que é impossível negar a existência do identitarismo,
ele procura apresentar uma posição dúbia. A primeira hipótese é a de que
o PCO “exagera” na crítica ao identitarismo, classificando
como “identitarismo” coisas que não o são. Por isso, ele diz que “até
mesmo um branco, gordo, velho, cis e adepto da igreja dos marxistas leninistas
dos últimos dias é acusado de ser ‘identitário’”. Se é assim, então isso
significaria dizer que o PCO está certo naquilo em que não
“exagera”. Mas, como Pomarzinho é incapaz de apresentar, concretamente,
qualquer “exagero” do PCO, na prática, significa dizer que o PCO está
100% certo.
A segunda
hipótese, no entanto, é a de que o problema da “cruzada contra o identitarismo”
é o de que a esquerda não deveria combater o identitarismo. Se é isso o que
passa pela cabeça de Pomar, então, como dissemos anteriormente, ele está a
serviço da política oficial do imperialismo.
Pomarzinho
não gostou quando disse que o identitarismo era a política oficial do
imperialismo. Vejamos o que ele nos ensina:
“Bibi
acha que ‘o identitarismo é justamente a ideologia oficial do imperialismo. É a
ideologia que serve de cobertura para os crimes cometidos pelo imperialismo
contra os povos de todo o mundo. Não há como negar, por exemplo, que o
identitarismo cumpre um papel importante na candidatura de Kamala Harris –
mulher, negra, imigrante, etc. E Kamala Harris, por sua vez, é a candidata do
imperialismo para suceder o genocida Joe Biden’.
Pergunto:
Trump é identitário? Milei é identitário? O Vox espanhol é identitário?
Bolsonaro é identitário?
Imagino
que até Bibi vai reconhecer que não.
Pergunto
então: durante o mandato de Trump, que antecedeu o de Biden, o imperialismo
tirou férias? Se Trump voltar à presidência, os EUA deixarão de ser
imperialistas?”
A colocação
de Pomar é errada em todos os sentidos. No entanto, antes de chegar a isso,
pergunto: por que Valter Datena Pomar foge mais uma vez do debate e não se
posiciona em relação à candidatura de Kamala Harris? Ele vai negar que a
candidata democrata é a candidata preferencial do establishment norte-americano?
Ele vai negar que o imperialismo utiliza o fato de ela ser mulher e negra para
pressionar os setores oprimidos a votarem nela?
Não nega
porque seria absurdo. Todo mundo sabe disso. E Pomarzinho também sabe que
Kamala Harris não é a única jogada identitária do imperialismo. Até a CIA, a
sinistra agência de espionagem norte-americana, hoje em dia publica vídeos
identitários chamando mulheres e imigrantes para trabalharem na empresa.
Pomarzinho
se cala sobre isso por dois motivos. O primeiro é que fica muito feio para ele
dizer que apoia abertamente a política do imperialismo. Vai que, ao dizer isso,
ele perde dois puxa-sacos seus e põe o próximo passo de sua carreira sob risco.
O segundo motivo é que ele apoia Kamala Harris! Conforme admitido em textos
anteriores, Valter Pomar considera que o seu adversário, Donald Trump, seria
pior para o Brasil. Consequentemente, Harris seria melhor – o que é, sem
dúvidas, uma declaração de apoio à democrata em um momento no qual a esquerda
deveria estar focada em explicar para os trabalhadores quem são os seus
inimigos. É jogar areia nos olhos daqueles que estão vendo a grande lição de
“democracia” que Joe Biden e Kamala Harris estão dando na Venezuela, em
Bangladexe e na Palestina.
Agora, é
nossa vez de responder a Pomarzinho. Durante a presidência de Trump, o
imperialismo tirou férias? É óbvio que não. O imperialismo não depende de um
determinado governante para existir, ele tem condições de se manter por conta
própria e é, inclusive, capaz de constranger o governo a fazer coisas das quais
seria contra. Durante a pandemia, por exemplo, o regime norte-americano se
infiltrou nas manifestações da população negra para impulsionar a política
identitária de derrubada de estátuas, entre outras maluquices, conseguindo,
assim, liquidar o movimento contra a violência policial.
Mas não é só
aí que Pomar se contradiz. Trump é identitário? Milei é identitário? O Vox
espanhol é identitário? Bolsonaro é identitário? Sim, para todas as respostas.
Não há nada mais identitário que os movimentos fascistas. Eles defendem
justamente a supremacia de um determinado grupo em detrimento de outro. O Vox,
por exemplo, defende os “espanhóis” contra os “imigrantes”. Bolsonaro, Trump e
Milei, além de defenderem grupos específicos, são todos apoiadores do Estado
que é identitário por definição: “Israel”. O sionismo, na medida em que defende
os interesses de um grupo social determinado, atua como Marcelle Dechoté, que
decidiu comprar briga com um estado inteiro. O fundador do identitarismo
moderno é Alain de Benoist, um francês de extrema direita!
Valter Pomar
não consegue se opor ao identitarismo porque ignora – ou finge ignorar – o
bê-a-bá do marxismo. O identitarismo é um câncer porque é, por definição, uma
tentativa de substituição da luta de classes. A luta do negro contra o branco,
da mulher contra o homem, do homossexual contra o heterossexual não é, de forma
alguma, a mesma coisa que a luta da classe operária contra o grande capital. E,
portanto, não há como abraçar uma política sem abrir mão da outra.
É por isso
que o imperialismo sempre vai estimular as políticas identitárias. Em que
circunstância seria melhor para o imperialismo ver a população de um país
unida?
Ao ignorar o
caráter contrarrevolucionário do identitarismo – isto é, que se trata de uma
política que se opõe à luta revolucionária dos trabalhadores -, Valter Pomar
também é incapaz de entender porque esse câncer se espalha pelo mundo. Será
que, no momento em que surge a atual guerra monstruosa na Faixa de Gaza, que
aumentam as ameaças de um conflito nuclear entre a Rússia e a Organização do
Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e que a extrema direita cresce em toda a
Europa, crescem espontaneamente movimentos “progressistas” sem se chocar com
essa tendência à repressão? É óbvio que não. No entanto, uma coisa está
diretamente ligada à outra.
O
identitarismo se espalha porque há um estímulo para que isso aconteça. O
imperialismo, motivado pela crise econômica de 2008, ingressou em uma etapa de
turbulência política muito profunda. Nessa etapa, é preciso utilizar cada vez
mais força. Os acontecimentos recentes na Ucrânia e no Oriente Médio, que
revelaram a debilidade militar do imperialismo, apenas aceleraram esse
processo.
Diante de
uma tendência geral ao choque entre o imperialismo e as massas, que seria
melhor que uma política que negue que o problema fundamental seja a luta contra
o imperialismo? O que poderia ser melhor para os poderosos que uma política que
estimule a divisão dos oprimidos e não a sua unificação?
É por isso
que o identitarismo se espalha, mas não sem crise. Na medida em que aumentam a
repressão e as medidas econômicas austeras, aumenta também a resistência à
política do imperialismo. Na medida em que aumenta a resistência, aumenta
também a pressão popular contra a política identitária.
O BSW é
resultado direto desse fenômeno. É um partido que rompeu com o partido Die
Link (“A Esquerda”) porque este está tomado pelo identitarismo e está,
cada vez mais, se afundando. Porque este é um partido que segue o mesmo caminho
dos Verdes, que, de tanto capitularem diante do regime, hoje defende a OTAN.
Não por acaso, o BSW é o partido de esquerda que mais cresceu na Alemanha. Da
mesma forma, o PCO, o partido mais anti-identitário do Brasil, é
também o mais anti-imperialista e, por isso, o partido de esquerda que mais
cresce no Brasil.
Conforme
explicamos no último artigo, não é por acaso que Pomar está do lado do
identitarismo. Não é uma mera divergência ideológica que ele tem conosco. É uma
posição de classe que ele assumiu diante do enfrentamento cada vez mais
acirrado entre o imperialismo e os oprimidos. Pomar, a cada momento decisivo da
luta política, tem se mostrado ao lado do grande capital.
Pomar está
ao lado do imperialismo na defesa do identitarismo no caso Silvio Almeida –
caso que serviu para arrancar mais um tijolo da presunção de inocência no
Brasil e que serviu para colocar uma ministra vinculada às ONGs e ao Banco Itaú
no governo. Está ao lado do imperialismo na defesa da “democracia” – isto é, na
defesa de um regime no qual o STF tenha superpoderes. Está ao lado do
imperialismo nos ataques à liberdade de expressão – isto é, ao lado de um
movimento mundial que visa calar a imprensa de países como o Irã, a Rússia e a
China. Está, por fim, em campanha para apresentar Kamala Harris como uma amiga
do povo brasileiro.
Curiosamente,
Pomar diz que o objetivo de nossa oposição implacável ao identitarismo “pode
ser nobre, mas o resultado é péssimo, pelo simples motivo de que não se combate
a direita aliando-se a ela”. Ache Pomarzinho nobre ou não, o objetivo
do PCO é denunciar os inimigos e os falsos amigos dos
trabalhadores. Quem se alia à direita, no entanto, é o dirigente da AE, que, ao
invés de combater o imperialismo e seus representantes, os apresenta como
grandes heróis do povo trabalhador.
Pomar diz
que o PCO “mente, agride (!), deturpa, faz tudo aquilo que
uma seita de extrema-direita faz”. Basta ler a série de artigos escritos
por mim e Pomarzinho para ver quem de fato mente. Se ele acha que escrever um
texto é uma “agressão”, paciência, o problema dele já não é conosco, mas com o
psicólogo. Dizer, contudo, que ele “deturpe” alguma coisa já seria muita
generosidade. Ele faz pior: esconde qual é a sua posição sobre temas da maior
importância na luta política.
Em um último
esforço para tentar desqualificar nossa crítica ao identitarismo, Pomarzinho
aparece com uma pérola:
“Odelírio
é tão grande que Bibi chega a afirmar que Arthur Lira estaria ‘utilizando o
caminho trilhado pelos identitários para censurar as acusações contra ele’. Cá
entre nós, muito antes que se ouvisse falar em identitários, os poderosos já
encontravam proteção junto a juízes amigos.”
A colocação
dá a entender que Valter Pomar é um verdadeiro retardado. Afinal, a ideia de
que os poderosos procuram proteção junto a juízes amigos não exclui a
necessidade de que os mesmos poderosos desenvolvam expedientes para isso. Os
expedientes são constantemente desmascarados, entram em crise e precisam ser
substituídos. O expediente da vez é o identitarismo.
A questão é
que não se trata de puro retardo de Pomar. Por trás dessa ideia, há outra,
defendida por Pomar e por seus amigos da esquerda: a de que, uma vez que a
Justiça sempre privilegia os poderosos, os direitos democráticos seriam uma
fraude. Isto é, que, uma vez que os poderosos sempre encontram proteção junto a
“juízes amigos”, as violações aos direitos democráticos não deveriam ser
denunciadas uma vez que elas já seriam algo previsto.
Defender tal
ideia significaria, na prática, não gritar contra a prisão de Lula, não gritar
contra a condenação de Breno Altman, não gritar contra a prisão estapafúrdia de
Lucas Passos Lima, preso político do Mossad no Brasil, gritar contra os
jornalistas que estão sendo processados pelo que falam ou mesmo gritar contra
Arthur Lira! Significa que a esquerda deveria abrir mão de um tradicional
método de luta, que é a defesa pelas liberdades democráticas, e embarcar na
hiper-oportunista defesa dos amigos. Já vimos que tal política é um desastre. É
preciso dizer mais: é uma política de covardes, de quem se recusa a denunciar
as arbitrariedades do regime político por ter medo de ser alvo dessas mesmas
arbitrariedades.
Pomarzinho
finge não lembrar, mas quando a burguesia decidiu dar um golpe de Estado contra
o governo do PT, ela não prendeu Lula e os dirigentes petistas da noite para o
dia. Foram necessários anos de campanha histérica na imprensa “contra a
corrupção”, foram necessários espetáculos jurídicos como o julgamento da Ação
Penal 470 e até mesmo a aprovação de leis no Congresso para que se criassem as
condições para que acontecesse o golpe e a prisão de Lula.
Por falar
nisso, Pomarzinho diz que “o Bibi do PCO” faz “afirmações
mentirosas sobre minha posição acerca das denúncias de corrupção lançadas
contra o PT”. Uma vez mais, o menino Pomar não diz onde está a mentira.
Curiosamente, no texto em que apresenta a posição do dirigente da AE sobre o
julgamento da Ação Penal 470, eu não “afirmei” nada. Apenas reproduzi o que ele
mesmo disse à época. Reproduzo, agora, outro trecho de um texto antigo de Pomar
– mas, desta vez, farei alguns comentários para dispensar Pomarzinho da lição
de interpretação de texto:
“Havia,
também, aqueles que — percebendo os objetivos reais da campanha midiática e
judicial — adotaram uma linha segundo a qual os réus do ‘mensalão’ eram todos
‘vítimas’, que deveriam ser tratados como ‘presos políticos’.
(…) Cabe
também aprovar a existência de uma Corregedoria permanente. Como qualquer
partido, o PT está sujeito a ter nas suas fileiras pessoas que cedem à
corrupção. Mas, diferente de certos partidos, o PT se antecipará em identificar
e punir quem o faça. Entre outros motivos porque a corrupção é antagônica ao
nosso projeto de sociedade.
(…) Hoje
é ainda mais imprescindível que o PT forme um juízo político sobre o conjunto
da situação, tratando como determina o estatuto partidário aqueles casos
individuais em que haja convicção e provas de que houve corrupção.”
Pomarzinho
escreveu isso em 2016 – no ano do golpe de Estado! A grande preocupação dele,
no momento em que o governo de Dilma Rousseff estava sendo derrubado, era o de
promover uma “luta contra a corrupção” dentro do próprio
partido! Essa ideia de jerico, por sua vez, não veio do próprio Pomarzinho, mas
foi algo que ele ouviu de “gente grande”, enquanto brincava no seu parquinho.
As propostas de Pomar nada mais são que um eco da campanha da grande imprensa
na época, que clamava para que o PT fizesse uma “autocrítica”.
Queria O
Globo que o PT se desfizesse de seus burocratas e passasse a ser
dirigido pelos trabalhadores? É por isso que a Família Marinho e Valter Pomar
decidiram se unir na mesma empreitada? É óbvio que não. A campanha pela
“autocrítica” tinha um sentido muito claro: confundir o partido em meio ao
ataque em que estava sofrendo. Fazer com que o partido se dividisse procurando
encontrar culpados para a crise em que se encontrava, em vez de dirigir todas
as suas forças contra o inimigo em comum: o mesmo imperialismo que hoje
Pomarzinho se recusa a combater.
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