sábado, 21 de setembro de 2024

PCO: “o partido de esquerda que mais cresce no Brasil”

 

O Partido da Causa Operária é uma seita. Vive noutro mundo, onde o PCO seria “o partido de esquerda que mais cresce no Brasil.”

A frase acima está no mais recente artigo que o PCO dedica à atacar este que vos escreve. Os artigos anteriores do PCO, bem como meus respectivos agradecimentos, podem ser lidos aqui: Valter Pomar

Mas é preciso registrar uma novidade importante. Antes os artigos do PCO vinham sem assinatura, motivo pelo qual eu os atribuí a “Bibi”. 

Já o mais recente artigo veio assinado por Victor Assis da Silva, motivo pelo qual vou citá-lo como Victor do PCO.

O artigo de Victor do PCO tem cerca de 31 mil caracteres, o que corresponde a umas 6 páginas do jornal Página 13. Mas se tirarmos as agressões pessoais sobra pouca coisa.

Parte do que sobra já foi comentado por mim noutras oportunidades, como é o caso do debate sobre os juros, sobre a Venezuela, sobre as eleições nos EUA, sobre Boulos e sobre o nacionalismo de direita, sobre Sílvio Almeida e sobre o STF, bem como sobre Arthur Lira e sobre a corrupção. 

Portanto, não voltarei a estes temas. A seguir, alguns comentários sobre outros temas.

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Chamo a atenção para o uso de termos como “chilique”, “histérico” e “prostituem”. 

Também chamo a atenção para a seguinte afirmação: “Pomar não gostou de ser desmascarado. Não pega bem no ambiente em que vive, onde ser bajulado significa conseguir um cargo e onde conseguir um cargo significa ganhar mais dinheiro. Para um pequeno-burguês, sua vaidade coincide com o instinto de sobrevivência de seus privilégios sociais”.

Na minha opinião, isto acima só Freud explica.

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Igualmente peço que leiam o trecho a seguir: 

Quando Pomar diz que o PCO se aliou a figuras da extrema direita porque defendeu um determinado princípio político, ele está admitindo que a esquerda não deveria ter princípios, mas sim uma política que se adaptasse às suas conveniências”.

Evidentemente eu não admito isso. O que eu afirmo é: os “princípios” da classe trabalhadora não são iguais aos “princípios” dos capitalistas.

Como exemplo da diferença entre uma coisa e outra, basta ler o seguinte trecho do texto do PCO: 

Se o Supremo Tribunal Federal (STF) cassa os direitos políticos da maior liderança operária do País, o atual presidente Lula, a esquerda, segundo Pomar, deveria se voltar contra o tribunal. No entanto, se o mesmo tribunal cometer o mesmo tipo de arbitrariedade contra um direitista como Jair Bolsonaro (PL), o STF deve ser defendido. E assim deve ser defendida a Suprema Corte por atropelar os direitos democráticos de Trump, e assim deve ser defendido o STF por derrubar uma plataforma como o X, que era utilizada por 20 milhões de brasileiros…”.

Para começo de conversa, o STF não cometeu “o mesmo tipo de arbitrariedade” contra Bolsonaro e contra Lula. Aliás, o STF não está cometendo nenhuma “arbitrariedade” contra Bolsonaro. Pelo contrário, até agora está pegando levíssimo, inclusive criando as condições para o cavernícola – a depender dos resultados da eleição 2024 – conseguir uma decisão congressual que o permita disputar as eleições de 2026.

E a Suprema Corte dos EUA não está atropelando os direitos de Trump; o candidato in pectore do PCO segue em sua campanha eleitoral e tem condições inclusive de vencer.

Quanto ao X, quem dera o STF e o governo brasileiro tivessem disposição de fazer o que deve ser feito. A operação de multinacionais da comunicação, mais a ação do oligopólio nacional da mídia, são ameaças constantes à soberania e à democracia.

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O PCO defende Bolsonaro, Trump e o X por diversos motivos. Um deles é sua crença de que, numa sociedade de classes, existiriam princípios universais aos quais devemos não apenas recorrer quando possível, mas também exaltar e nos submeter a eles.

Por exemplo: eles acham que seria oportunismo dizer que “existe um problema jurídico e existe um problema político” e que, portanto, todas as questões jurídicas são relativas.

Outro exemplo: Victor do PCO defende a liberdade de expressão irrestrita e acusa o autor destas linhas de ser “adepto da tese de que os inimigos de classe dos trabalhadores não deveriam ter direito à expressão”.

Em circunstâncias revolucionárias e/ou de guerra, posso vir a defender exatamente isso ou algo parecido: restringir ao mínimo os direitos de nossos inimigos. 

Mas nas circunstâncias atuais, que não são revolucionárias nem de guerra aberta, o que eu defendo é algo mais modesto: a liberdade de expressão do Musk não pode ser tratada nos mesmos termos que a liberdade de expressão de um trabalhador. 

Um bilionário dono de uma grande empresa de comunicação precisa ter sua liberdade restringida, para que o trabalhador possa ter liberdade de expressão ampliada. 

Noutros termos: não se deve confundir a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa com a liberdade de empresa. 

Que o PCO não concorde com isso apenas demonstra que, por baixo do glacê supostamente marxista, esconde-se um coração liberal.

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Reafirmo que o PCO adota a mentira como método. Vejam o trecho abaixo:  

Ops! Em seu artigo, Pomarzinho diz que ele não comemorou a demissão de Silvio Almeida. É por coisas assim que ele me chama de “Bibi”: “Atenção Bibi: eu concordei com a decisão de Lula. Mas não comemorei. O ocorrido é trágico, o conjunto da situação é trágico, não há o que comemorar.” Se comemorou ou não, não muda absolutamente nada. Se o presidente tomou a decisão que considera acertada, o normal seria comemorar, e não ficar deprimido. Pomar não pode me acusar de mentir por eu não entender a peculiaridade de seu humor, pois, neste caso, entre comemorar e concordar a diferença é mínima.

Ou seja: o Victor do PCO mente, mas diz que não pode ser acusado de mentir porque o normal “seria”... aquilo que Victor do PCO acha normal. 

Seita também é isso: contra argumentos não há fatos.  

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Como dissemos em outro texto, o PCO não está só. Outros setores da esquerda (dentro do PT, fora do PT, fora do Brasil) também organizam sua política, não em torno da luta contra o capitalismo e contra o imperialismo, mas em torno da luta contra o que eles chamam de “identitarismo”. 

Claro, fazem isso com o argumento de que o identitarismo seria “a” política do imperialismo. 

Victor do PCO chega a dizer que tanta Kamala quanto Trump seriam identitários, assim como Milei e outros, sem se dar conta das consequências que derivam deste uso tão elástico do termo.

O identitarismo existe, assim como existem o reformismo, o revisionismo, a socialdemocracia, o liberalismo, o social-liberalismo, o esquerdismo etc. 

Todas essas posições existem no interior da classe trabalhadora e de outros setores da sociedade; todas merecem ser combatidas. 

Mas a depender de como se faz isto, o efeito pode ser desastroso.

O PSTU, por exemplo, foi tão longe no combate à certas posições que atribuía ao PT, que se converteu num aliado da direita. 

De outra forma, é o mesmo que está ocorrendo com o PCO, nos casos já citados de Bolsonaro, Trump e Musk. 

Em nome de combater o que chamam de identitarismo, se aliam na prática e na teoria com setores da direita e da extrema-direita, inclusive com aqueles que Victor do PCO considera também identitários.

Victor do PCO acredita, por exemplo, que defender personagens como Daniel Alves e Robinho contribui para o progresso da humanidade. 

E, segundo entendi, pensa que a condenação pública da misoginia, do racismo e da lgbtfobia seria identitarismo, dividiria a nossa classe, facilitaria o trabalho ideológico da direita etc.

É evidente, como já dissemos, que há posições (identitárias, esquerdistas etc.) que não ajudam a unificar a classe trabalhadora na luta contra o capital e contra o imperialismo. 

Aliás, esse debate não é novo e não vai terminar tão cedo.

Na segunda internacional, por exemplo, havia quem defendesse deixar de lado os interesses das mulheres, em nome de que seria mais fácil conquistar o direito de voto apenas para os homens. 

Tanto na segunda quanto em setores da terceira internacional, houve quem achasse que a defesa dos interesses dos povos colonizados prejudicava o trabalho político junto a classe trabalhadora das nações imperialistas. 

Recentemente, na votação do código da família em Cuba, houve setores minoritários do PC inicialmente contrários à mudança na definição de casamento, porque acreditavam que esta definição se chocaria com os preconceitos de uma parte importante do povo cubano. 

Em resumo, a política do PCO não é novidade, sendo similar a de todos os setores da esquerda que adotam como sendo deles a posição das camadas mais conservadoras da classe trabalhadora e da população em geral. 

Importante destacar: é indispensável levar em consideração a posição do conjunto da classe e de cada um de seus setores. 

Mas “levar em consideração” as posições dos setores mais conservadores não é igual a se submeter a estas posições. 

Uma força de esquerda que pretende transformar a sociedade, precisa também transformar a opinião de amplos setores da classe trabalhadora, setores que estão sob hegemonia da classe dominante.

Noutras palavras: o PCO, a pretexto de combater o identitarismo, está na verdade se submetendo ao senso comum da classe trabalhadora em diversas questões. 

E uma pergunta é: num país onde metade da classe trabalhadora é composta por mulheres, onde mais da metade da classe trabalhadora é negra, é possível deixar de lado as questões que afetam as mulheres trabalhadoras, as negras e os negros trabalhadores?

Mais especificamente: é possível deixar de lado estas questões, no exato momento em que a extrema-direita transforma estas questões em campo de batalha?

Devemos deixar estas questões nas mãos dos chamados identitários ou devemos incorporar estes temas, com a importância que têm, como parte da pauta da classe trabalhadora?

Victor do PCO diz que “O identitarismo é (...) uma tentativa de substituição da luta de classes. A luta do negro contra o branco, da mulher contra o homem, do homossexual contra o heterossexual não é, de forma alguma, a mesma coisa que a luta da classe operária contra o grande capital. E, portanto, não há como abraçar uma política sem abrir mão da outra”.

De fato, se o problema for posto nos termos acima, a alternativa é dicotômica. Mas a equação de Victor do PCO só considera duas possibilidades: o obreirismo mais tacanho e o identitarismo mais liberal. 

Mas há outras alternativas, por exemplo uma política proletária que leve em conta a classe trabalhadora realmente existente no Brasil, com suas diferenças e suas contradições internas.

A opção dicotômica do PCO acaba levando esta organização a aliar-se com a extrema-direita, como faz o BSW alemão no tema dos migrantes. E como faz um determinado personagem do PT, ao passar o pano para o bolsonarismo.

Segundo entendi, o PCO acha que, agindo desta forma, estaria ajudando a unificar a classe no combate ao imperialismo. 

Eu os enxergo fazendo exatamente o contrário do que dizem. 

Por exemplo: a postura frente a Trump. 

Segundo Victor do PCO, Trump seria identitário e Kamala Harris também. Por qual motivo, então, o PCO apoia Trump identitário?

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Termino lembrando que um partido da classe trabalhadora tem no seu interior gente de diferentes tipos, inclusive quem está na política com objetivos pessoais. Esta gente precisa ser combatida. Daí a necessidade de manter estruturas de disciplina e corregedoria interna, vigiar e condenar quem enriquece através da atividade política, combater o tempo todo a corrupção, ter mecanismos de crítica e autocrítica. Que Victor do PCO ache que isto pode "confundir o partido" é muito sintomático acerca do que pode estar ocorrendo nas internas do "partido de esquerda que mais cresce no Brasil".

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Abaixo o texto comentado acima.

Quanto mais Valter Pomar fala, mais se revela pró-imperialista - Diário Causa Operária (causaoperaria.org.br)

Texto de Victor Assis da Silva

Quanto mais Valter Pomar fala, mais se revela pró-imperialista

Sem condições de sustentar suas teses sobre o identitarismo, dirigente da Articulação de Esquerda (AE) recorre ao chilique

Entre as tarefas necessárias para a construção de um partido revolucionário, está a de desmascarar os que prostituem o marxismo para satisfazer os seus interesses mais imediatos. A polêmica, afinal, permite traçar uma linha entre o programa dos trabalhadores para a atual etapa e as bobagens ditas por quem decidiu servir aos nossos inimigos de classe. É com esse objetivo que nossa imprensa tem sido obrigada a discutir as teses do histérico Valter Pomar, dirigente da corrente petista Articulação de Esquerda (AE).

Pomar não gostou de ser desmascarado. Não pega bem no ambiente em que vive, onde ser bajulado significa conseguir um cargo e onde conseguir um cargo significa ganhar mais dinheiro. Para um pequeno-burguês, sua vaidade coincide com o instinto de sobrevivência de seus privilégios sociais.

Transtornado, Pomar acabou reagindo à la José Luís Datena (PSDB). Não sabe o que responder em um debate? Jogue uma cadeira no adversário! Na impossibilidade de dar uma “cadeirada” da tela de seu computador, Pomar recorreu ao que tinha na mão: calúnias, ofensas e mentiras para fugir do debate.

Em seu mais recente artigo sobre o Partido da Causa OperáriaPCO: Bibi ataca novamente, Pomar se recusa a entrar no debate da maioria das questões levantadas por este Diário nos artigos Se dependesse de Valter Pomar, a Globo indicaria todo o ministério de Lula e Valter Pomar: palavra da Febraban vale mais que provas. Para fugir do debate, recorre a um expediente mais infantil que as provocações de Pablo Marçal (PRTB): chamar a pobre alma que teve o trabalho ingrato de criticá-lo nos dois artigos de “Bibi do PCO”.

Prazer, senhor Pomar, aqui está o “Bibi do PCO”. Se era a ausência de uma assinatura o que faltava para que entrasse no debate, agora sinta-se à vontade para apresentar seus argumentos. Enquanto decide se vai debater ou não, deixo aqui minhas considerações sobre seu último chilique.

O debate em tela, do qual Pomar foge como o diabo foge da cruz, é sobre questões que estão no primeiro plano da luta de classes mundial, a saber, o identitarismo, os direitos democráticos e o imperialismo. Abordarei cada um dos temas em breve. Antes, contudo, algumas palavras sobre as malcriações do menino Pomar.

As acusações de Pomar contra o PCO nada têm de novo. Ele procura, uma vez mais, apresentar o PCO como um aliado dos inimigos da esquerda. Ele já acusou o Partido de aliar-se ao bolsonarismo, ao bilionário Elon Musk e ao republicano Donald Trump. Agora, acusa o PCO de “conciliar com o racismo, a misoginia e o nacionalismo de direita”. E ainda me acusa de mentir como o genocida Benjamin Netaniahu! As acusações, no entanto, nada explicam sobre a política do PCO e muito explicam sobre a política de Pomar.

Quando Pomar diz que o PCO se aliou a figuras da extrema direita porque defendeu um determinado princípio político, ele está admitindo que a esquerda não deveria ter princípios, mas sim uma política que se adaptasse às suas conveniências. Se o Supremo Tribunal Federal (STF) cassa os direitos políticos da maior liderança operária do País, o atual presidente Lula, a esquerda, segundo Pomar, deveria se voltar contra o tribunal. No entanto, se o mesmo tribunal cometer o mesmo tipo de arbitrariedade contra um direitista como Jair Bolsonaro (PL), o STF deve ser defendido. E assim deve ser defendida a Suprema Corte por atropelar os direitos democráticos de Trump, e assim deve ser defendido o STF por derrubar uma plataforma como o X, que era utilizada por 20 milhões de brasileiros…

A política de Pomar, como pode ser vista, é a política do pequeno burguês que quer “estar bem na fita”. Pode ser muito útil para puxar o saco de quem possa lhe dar um pirulito e deixar o menino Pomar feliz. Mas, para quem tem como objetivo esclarecer às massas quem são os seus inimigos e quem são os seus aliados, é uma política desastrosa. Uma política que causará uma confusão tremenda.

Em vez de debater se a política do PCO acerca dos direitos democráticos da população é correta, Pomar parte para as acusações infantis porque o partido de qual faz parte é, ele próprio, um partido sem princípios definidos. O Partido dos Trabalhadores (PT), que hoje está no governo, após meses em um embate com o Banco Central “independente”, agora se cala diante do aumento da taxa de juros. O mesmo governo petista, que outrora defendeu o regime chavista das provocações imperialistas, agora colabora com a desestabilização do país caribenho. É esse zigue-zague político que Pomar defende. E quem não defender é trumpista, bolsonarista, muskista, ou seja lá o que. Da mesma forma que o PCO, que denunciou o golpe de Estado contra o PT desde 2012 e organizou vários atos nacionais em defesa de Lula, era acusado pela imprensa burguesa e pela esquerda golpista de “estar no bolso do PT”.

Chamar-me de “Bibi do PCO, por seu turno, revela um nível ainda mais baixo do debate. Se, antes, Pomar estava disposto a caluniar o PCO porque as posições deste contrastavam com os interesses oportunistas seus e de seus amigos, agora ele decidiu me chamar de “Bibi” para tentar defender a si próprio. Afinal, quando um jornal expõe os interesses de um charlatão como Pomar, seu redator é chamado de mentiroso! Ora, faça-me o favor…

Por mais que tente me apresentar como um mentiroso e o PCO como um partido incongruente, uma vez que seria um “aliado objetivo da extrema direita”, Pomar não consegue esconder que o Partido expressa, na verdade, uma força social. Ele mesmo reconhece, no início do artigo supracitado, que “o PCO expressa uma corrente de opinião presente no próprio PT e em outros partidos de esquerda, tanto no Brasil quanto no exterior”. Em outras palavras, o que o PCO defende não é um conjunto de opiniões improvisadas, mas a expressão de um movimento que está em contraste com aquilo que Pomar defende hoje. Que contraste seria esse?

Pomar deixa claro. Para ele, partidos como o BSW alemão (Bündnis Sahra Wagenknecht Vernunft und Gerechtigkeit ou, em português, Aliança Sahra Wagenknecht Razão e Justiça) e o PCO estão “em uma cruzada contra o que chamam de ‘identitarismo’ e, também, por conciliar com o racismo, a misoginia e o nacionalismo de direita, tudo em nome de (supostamente) dialogar com setores da classe trabalhadora que estão sob a hegemonia da direita”.

A tal conciliação com “com o racismo, a misoginia e o nacionalismo de direita” não passa de uma calúnia. Pomar não prova absolutamente nada. No entanto, para que possamos nos defender, apresentamos as “provas” que, de tão ridículas, Pomarzinho não quis apresentar.

Acusam o PCO de “conciliar com o racismo”, por exemplo, porque o Partido é contra a equiparação da injúria racial ao crime de racismo. Conforme explicado exaustivamente, isso nada tem a ver com conciliar com racismo algum. Tem a ver com a defesa de um regime jurídico democrático. A equiparação serve para estabelecer um crime de opinião – o que não apenas é inconstitucional, como também é um atentado a um direito democrático. O mesmo pode ser dito sobre a tal “conciliação com a misoginia”.

Pomarzinho prefere caluniar o PCO porque é incapaz de dizer o que ele verdadeiramente defende. Para ele, a liberdade de expressão não deveria ser irrestrita – portanto, sequer deveria existir. Ele é adepto da tese de que os inimigos de classe dos trabalhadores não deveriam ter direito à expressão. O que ele finge não saber é que, em primeiro lugar, quem aplica a Lei são justamente os inimigos dos trabalhadores, como Sérgio Moro e Alexandre de Moraes. Em segundo lugar, que leis criminosas como a da equiparação do racismo já estão sendo utilizadas para perseguir a esquerda, a exemplo do jornalista Breno Altman, filiado ao mesmo partido que Pomar!

Quanto ao “nacionalismo de direita”, é difícil dizer ao que Valter Pomar se refere. Fato é que o PCO defende todos os interesses nacionais na medida em que eles se chocam com o imperialismo. Neste sentido, defende a estatização de todas as empresas estratégicas e a exploração do petróleo brasileiro por uma empresa pública – coisa que a direita não defende. Da mesma forma, o PCO é contra a atividade das Organizações Não Governamentais (ONGs) teleguiadas por governos estrangeiros, que atuam no sentido de roubar terras da região amazônica e impulsionar movimentos com potencial de contribuir com a desestabilização do regime. Se parte da extrema direita vê seus interesses ameaçados pelas mesmas ONGs e faz campanha contra elas, paciência. Não há porque um partido de esquerda defender tal interferência na política brasileira.

Pomar, no entanto, é um fã das ONGs (pode me chamar de “Bibi” por isso, fique à vontade). Em seu blogue, Pomar escreveu até um poeminha para o candidato oficial das ONGs no Brasil, Guilherme Boulos: “Não há dúvida: eleger Boulos é fundamental. E para isso o engajamento do PT deve seguir total. Inclusive com recursos do Fundo Eleitoral”. Para quem quiser saber mais sobre a relação entre Boulos e as ONGs estrangeiras, basta ler aqui. Também não podemos esquecer que a polêmica recente entre Pomar e este Diário teve início quando o dirigente comemorou a demissão do então ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos, após acusações feitas por uma… ONG estrangeira, a Me Too!

Ops! Em seu artigo, Pomarzinho diz que ele não comemorou a demissão de Silvio Almeida. É por coisas assim que ele me chama de “Bibi”:

“Atenção Bibi: eu concordei com a decisão de Lula. Mas não comemorei. O ocorrido é trágico, o conjunto da situação é trágico, não há o que comemorar.”

Se comemorou ou não, não muda absolutamente nada. Se o presidente tomou a decisão que considera acertada, o normal seria comemorar, e não ficar deprimido. Pomar não pode me acusar de mentir por eu não entender a peculiaridade de seu humor, pois, neste caso, entre comemorar e concordar a diferença é mínima. Mas fica então a pergunta: linchar publicamente alguém porque uma ONG afirmou que ele cometeu algum crime não é coisa que alguém chamado “Bibi” faria? Para saber como uma ONG chamada Zaka criou a história de que combatentes do Hamas teriam estuprado mulheres, que foi reproduzida por Benjamin Netaniahu, leia aqui.

Voltemos agora ao debate sobre o identitarismo. Chamo a atenção para o fato de que Pomar alega que o PCO e outras organizações estão em “uma cruzada contra o que chamam de ‘identitarismo'”, e não propriamente contra o identitarismo. Para Pomar, portanto, ou o identitarismo não existe, seria algo inventado – sabe-se lá por que – por essas organizações; ou seria algo que existe, mas que essas organizações teriam distorcido o seu significado. Uma vez mais, teremos que apelar às suposições, já que Pomar não procura explicar absolutamente nenhuma de suas posições.

Enciclopédia Britânica define a “política identitária” como uma atividade “realizada por ou em nome de um grupo racial, étnico, cultural, religioso, de gênero ou outro, geralmente com o objetivo de corrigir as injustiças sofridas pelos membros do grupo devido a diferenças ou conflitos entre sua identidade particular (ou mal-entendidos sobre essa identidade) e a identidade dominante (ou identidades) de uma sociedade maior”.

Podemos resumir, portanto, que o identitarismo é uma política baseada na oposição de identidades. Perguntamos a Pomarzinho: existe essa política, seja no Brasil, seja no mundo? A menos que o dirigente da AE não tenha lido um único jornal nos últimos 10 anos, ele se lembrará de casos como esses:

1.    A então assessora especial do Ministério da Igualdade Racial Marcele Decothé publicou uma mensagem nas redes sociais em que chamava a torcida do São Paulo Futebol Clube de “torcida branca, que não canta, descendente de europeu safade… Pior de tudo, pauliste”;

2.    Durante comício com o candidato Guilherme Boulos, que contou com a presença do presidente Lula, o hino nacional foi executado com a letra em “linguagem neutra”;

3.    Diante da aposentadoria da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), formou-se um lobby para que Lula indicasse uma “mulher negra” para substituí-la;

4.    A abertura das Olimpíadas de 2024, realizadas na França, contou com apresentações grotescas com drag queens em uma cena que remetia à Santa Ceia;

5.    Jogadores de futebol, como Daniel Alves e Robinho, foram pré-julgados pela “opinião pública” por supostamente terem cometido agressões contra mulheres;

Todos esses casos merecem a mais dura crítica. Quem decide empreender uma “cruzada” contra eles está, no final das contas, contribuindo para o progresso da humanidade.

No primeiro caso, uma pessoa que representa o Estado decidiu ofender uma das maiores torcidas do País e a população do estado mais populoso da América Latina. O objetivo de tal política, seja ela consciente ou não, não é o de promover uma melhora nas condições de vida da população de regiões mais atrasadas do País – até porque essa melhora nunca virá com xingamentos. O objetivo é dividir o País, criar hostilidades que não existem, facilitando a dominação do Brasil pelos poderosos. Antes que encha meu saco dizendo que sou da elite branca paulista, Pomarzinho, saiba que sou negro e nordestino – mas, para mim, isso não tem importância alguma no debate.

No segundo caso, também há o objetivo de estimular hostilidades entre diferentes setores da população. Há uma minoria realmente pequena de pessoas no Brasil que são da comunidade LGBT. Dentro dessa comunidade, nem todos são favoráveis ao uso da “linguagem neutra”. Utilizá-la no hino nacional é, portanto, algo que certamente deixa contente menos de 0,01% da população do País. Por outro lado, ela é vista como ofensiva para uma parcela expressiva da população, que começa a se sentir incomodada com a imposição extremamente autoritária dessa minoria. Além disso, convém destacar que a mudança forçada da língua é um ataque à própria cultura do País. E, portanto, um flanco aberto para uma infiltração estrangeira.

No terceiro caso, tratava-se claramente de uma campanha não para defender os interesses de um setor oprimido de conjunto, mas de uma manobra para impedir que Lula indicasse uma pessoa de sua confiança para o STF. Os ongueiros que promoveram a campanha tinham, inclusive, um nome específico para indicar: Adriana Cruz, que foi assessora do hiper-lavajatista Luís Roberto Barroso durante o auge da Operação Lava Jato.

No quarto caso, um dos governos mais criminosos de toda a história da França não apenas procurou ofender as crenças de milhões de pessoas, despertando críticas até de pessoas afeitas ao identitarismo, como serviu de cobertura para o verdadeiro espetáculo de perseguições que vêm sendo promovidas pelo regime francês. O governo de Emmanuel Macron, na mesma Olimpíada, proibiu as mulheres muçulmanas de usarem véu (hijab). Ao mesmo tempo, continuou apoiando o massacre na Faixa de Gaza.

No quinto e último caso, o resultado foi o retrocesso dos direitos democráticos do povo brasileiro e, ao mesmo tempo, um enfraquecimento do futebol. Se um jogador foi acusado de um crime qualquer, o normal seria que ele continuasse exercendo suas funções e que, discretamente, respondesse ao processo que fosse aberto. Se condenado, cumprisse a pena. Se não, vida que segue. Nada disso tem acontecido: basta que apareça na imprensa uma acusação contra os craques brasileiros que eles imediatamente são considerados criminosos – chegando muitas vezes a serem imediatamente suspensos e perderem contratos. Ao mesmo tempo em que isso enfraquece, no geral, o princípio da presunção de inocência, isso também serve para aumentar a pressão sobre o futebol nacional, expressão da cultura brasileira.

Essa é a mesma posição que Pomarzinho sustenta até hoje e que deu início à polêmica atual. No texto PCO: Bibi ataca novamente, o dirigente da AE repete que “existe um problema jurídico e existe um problema político”. Ou seja, que o “problema jurídico” está condicionado a um dado “problema político”, o que equivale a dizer que todas as questões jurídicas são relativas. É, como voltamos a dizer, o padrão Valter Pomar de oportunismo: se aquilo diz respeito a seus interesses imediatos, ele defende; se não, ele se opõe. Não por acaso, os interesses imediatos de Pomar nunca são, de fato, seus. São os interesses do grande capital, para quem Pomar se rasteja em busca de alguma vantagem besta.

Como ficou demonstrado, o identitarismo existe. E, mais que isso: é um câncer. Se a tese de Pomar é que há coisas que não deveriam ser classificadas como “identitarismo”, quais são elas? Novamente, o silêncio.

A formulação obscura de Pomar não vem por acaso. Ele opta por fazê-lo porque é um identitário envergonhado. Uma vez que é impossível negar a existência do identitarismo, ele procura apresentar uma posição dúbia. A primeira hipótese é a de que o PCO “exagera” na crítica ao identitarismo, classificando como “identitarismo” coisas que não o são. Por isso, ele diz que “até mesmo um branco, gordo, velho, cis e adepto da igreja dos marxistas leninistas dos últimos dias é acusado de ser ‘identitário’”. Se é assim, então isso significaria dizer que o PCO está certo naquilo em que não “exagera”. Mas, como Pomarzinho é incapaz de apresentar, concretamente, qualquer “exagero” do PCO, na prática, significa dizer que o PCO está 100% certo.

A segunda hipótese, no entanto, é a de que o problema da “cruzada contra o identitarismo” é o de que a esquerda não deveria combater o identitarismo. Se é isso o que passa pela cabeça de Pomar, então, como dissemos anteriormente, ele está a serviço da política oficial do imperialismo.

Pomarzinho não gostou quando disse que o identitarismo era a política oficial do imperialismo. Vejamos o que ele nos ensina:

“Bibi acha que ‘o identitarismo é justamente a ideologia oficial do imperialismo. É a ideologia que serve de cobertura para os crimes cometidos pelo imperialismo contra os povos de todo o mundo. Não há como negar, por exemplo, que o identitarismo cumpre um papel importante na candidatura de Kamala Harris – mulher, negra, imigrante, etc. E Kamala Harris, por sua vez, é a candidata do imperialismo para suceder o genocida Joe Biden’.

Pergunto: Trump é identitário? Milei é identitário? O Vox espanhol é identitário? Bolsonaro é identitário?

Imagino que até Bibi vai reconhecer que não.

Pergunto então: durante o mandato de Trump, que antecedeu o de Biden, o imperialismo tirou férias? Se Trump voltar à presidência, os EUA deixarão de ser imperialistas?”

A colocação de Pomar é errada em todos os sentidos. No entanto, antes de chegar a isso, pergunto: por que Valter Datena Pomar foge mais uma vez do debate e não se posiciona em relação à candidatura de Kamala Harris? Ele vai negar que a candidata democrata é a candidata preferencial do establishment norte-americano? Ele vai negar que o imperialismo utiliza o fato de ela ser mulher e negra para pressionar os setores oprimidos a votarem nela?

Não nega porque seria absurdo. Todo mundo sabe disso. E Pomarzinho também sabe que Kamala Harris não é a única jogada identitária do imperialismo. Até a CIA, a sinistra agência de espionagem norte-americana, hoje em dia publica vídeos identitários chamando mulheres e imigrantes para trabalharem na empresa.

Pomarzinho se cala sobre isso por dois motivos. O primeiro é que fica muito feio para ele dizer que apoia abertamente a política do imperialismo. Vai que, ao dizer isso, ele perde dois puxa-sacos seus e põe o próximo passo de sua carreira sob risco. O segundo motivo é que ele apoia Kamala Harris! Conforme admitido em textos anteriores, Valter Pomar considera que o seu adversário, Donald Trump, seria pior para o Brasil. Consequentemente, Harris seria melhor – o que é, sem dúvidas, uma declaração de apoio à democrata em um momento no qual a esquerda deveria estar focada em explicar para os trabalhadores quem são os seus inimigos. É jogar areia nos olhos daqueles que estão vendo a grande lição de “democracia” que Joe Biden e Kamala Harris estão dando na Venezuela, em Bangladexe e na Palestina.

Agora, é nossa vez de responder a Pomarzinho. Durante a presidência de Trump, o imperialismo tirou férias? É óbvio que não. O imperialismo não depende de um determinado governante para existir, ele tem condições de se manter por conta própria e é, inclusive, capaz de constranger o governo a fazer coisas das quais seria contra. Durante a pandemia, por exemplo, o regime norte-americano se infiltrou nas manifestações da população negra para impulsionar a política identitária de derrubada de estátuas, entre outras maluquices, conseguindo, assim, liquidar o movimento contra a violência policial.

Mas não é só aí que Pomar se contradiz. Trump é identitário? Milei é identitário? O Vox espanhol é identitário? Bolsonaro é identitário? Sim, para todas as respostas. Não há nada mais identitário que os movimentos fascistas. Eles defendem justamente a supremacia de um determinado grupo em detrimento de outro. O Vox, por exemplo, defende os “espanhóis” contra os “imigrantes”. Bolsonaro, Trump e Milei, além de defenderem grupos específicos, são todos apoiadores do Estado que é identitário por definição: “Israel”. O sionismo, na medida em que defende os interesses de um grupo social determinado, atua como Marcelle Dechoté, que decidiu comprar briga com um estado inteiro. O fundador do identitarismo moderno é Alain de Benoist, um francês de extrema direita!

Valter Pomar não consegue se opor ao identitarismo porque ignora – ou finge ignorar – o bê-a-bá do marxismo. O identitarismo é um câncer porque é, por definição, uma tentativa de substituição da luta de classes. A luta do negro contra o branco, da mulher contra o homem, do homossexual contra o heterossexual não é, de forma alguma, a mesma coisa que a luta da classe operária contra o grande capital. E, portanto, não há como abraçar uma política sem abrir mão da outra.

É por isso que o imperialismo sempre vai estimular as políticas identitárias. Em que circunstância seria melhor para o imperialismo ver a população de um país unida?

Ao ignorar o caráter contrarrevolucionário do identitarismo – isto é, que se trata de uma política que se opõe à luta revolucionária dos trabalhadores -, Valter Pomar também é incapaz de entender porque esse câncer se espalha pelo mundo. Será que, no momento em que surge a atual guerra monstruosa na Faixa de Gaza, que aumentam as ameaças de um conflito nuclear entre a Rússia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e que a extrema direita cresce em toda a Europa, crescem espontaneamente movimentos “progressistas” sem se chocar com essa tendência à repressão? É óbvio que não. No entanto, uma coisa está diretamente ligada à outra.

O identitarismo se espalha porque há um estímulo para que isso aconteça. O imperialismo, motivado pela crise econômica de 2008, ingressou em uma etapa de turbulência política muito profunda. Nessa etapa, é preciso utilizar cada vez mais força. Os acontecimentos recentes na Ucrânia e no Oriente Médio, que revelaram a debilidade militar do imperialismo, apenas aceleraram esse processo.

Diante de uma tendência geral ao choque entre o imperialismo e as massas, que seria melhor que uma política que negue que o problema fundamental seja a luta contra o imperialismo? O que poderia ser melhor para os poderosos que uma política que estimule a divisão dos oprimidos e não a sua unificação?

É por isso que o identitarismo se espalha, mas não sem crise. Na medida em que aumentam a repressão e as medidas econômicas austeras, aumenta também a resistência à política do imperialismo. Na medida em que aumenta a resistência, aumenta também a pressão popular contra a política identitária.

O BSW é resultado direto desse fenômeno. É um partido que rompeu com o partido Die Link (“A Esquerda”) porque este está tomado pelo identitarismo e está, cada vez mais, se afundando. Porque este é um partido que segue o mesmo caminho dos Verdes, que, de tanto capitularem diante do regime, hoje defende a OTAN. Não por acaso, o BSW é o partido de esquerda que mais cresceu na Alemanha. Da mesma forma, o PCO, o partido mais anti-identitário do Brasil, é também o mais anti-imperialista e, por isso, o partido de esquerda que mais cresce no Brasil.

Conforme explicamos no último artigo, não é por acaso que Pomar está do lado do identitarismo. Não é uma mera divergência ideológica que ele tem conosco. É uma posição de classe que ele assumiu diante do enfrentamento cada vez mais acirrado entre o imperialismo e os oprimidos. Pomar, a cada momento decisivo da luta política, tem se mostrado ao lado do grande capital.

Pomar está ao lado do imperialismo na defesa do identitarismo no caso Silvio Almeida – caso que serviu para arrancar mais um tijolo da presunção de inocência no Brasil e que serviu para colocar uma ministra vinculada às ONGs e ao Banco Itaú no governo. Está ao lado do imperialismo na defesa da “democracia” – isto é, na defesa de um regime no qual o STF tenha superpoderes. Está ao lado do imperialismo nos ataques à liberdade de expressão – isto é, ao lado de um movimento mundial que visa calar a imprensa de países como o Irã, a Rússia e a China. Está, por fim, em campanha para apresentar Kamala Harris como uma amiga do povo brasileiro.

Curiosamente, Pomar diz que o objetivo de nossa oposição implacável ao identitarismo “pode ser nobre, mas o resultado é péssimo, pelo simples motivo de que não se combate a direita aliando-se a ela”. Ache Pomarzinho nobre ou não, o objetivo do PCO é denunciar os inimigos e os falsos amigos dos trabalhadores. Quem se alia à direita, no entanto, é o dirigente da AE, que, ao invés de combater o imperialismo e seus representantes, os apresenta como grandes heróis do povo trabalhador.

Pomar diz que o PCO “mente, agride (!), deturpa, faz tudo aquilo que uma seita de extrema-direita faz”. Basta ler a série de artigos escritos por mim e Pomarzinho para ver quem de fato mente. Se ele acha que escrever um texto é uma “agressão”, paciência, o problema dele já não é conosco, mas com o psicólogo. Dizer, contudo, que ele “deturpe” alguma coisa já seria muita generosidade. Ele faz pior: esconde qual é a sua posição sobre temas da maior importância na luta política.

Em um último esforço para tentar desqualificar nossa crítica ao identitarismo, Pomarzinho aparece com uma pérola:

“Odelírio é tão grande que Bibi chega a afirmar que Arthur Lira estaria ‘utilizando o caminho trilhado pelos identitários para censurar as acusações contra ele’. Cá entre nós, muito antes que se ouvisse falar em identitários, os poderosos já encontravam proteção junto a juízes amigos.”

A colocação dá a entender que Valter Pomar é um verdadeiro retardado. Afinal, a ideia de que os poderosos procuram proteção junto a juízes amigos não exclui a necessidade de que os mesmos poderosos desenvolvam expedientes para isso. Os expedientes são constantemente desmascarados, entram em crise e precisam ser substituídos. O expediente da vez é o identitarismo.

A questão é que não se trata de puro retardo de Pomar. Por trás dessa ideia, há outra, defendida por Pomar e por seus amigos da esquerda: a de que, uma vez que a Justiça sempre privilegia os poderosos, os direitos democráticos seriam uma fraude. Isto é, que, uma vez que os poderosos sempre encontram proteção junto a “juízes amigos”, as violações aos direitos democráticos não deveriam ser denunciadas uma vez que elas já seriam algo previsto.

Defender tal ideia significaria, na prática, não gritar contra a prisão de Lula, não gritar contra a condenação de Breno Altman, não gritar contra a prisão estapafúrdia de Lucas Passos Lima, preso político do Mossad no Brasil, gritar contra os jornalistas que estão sendo processados pelo que falam ou mesmo gritar contra Arthur Lira! Significa que a esquerda deveria abrir mão de um tradicional método de luta, que é a defesa pelas liberdades democráticas, e embarcar na hiper-oportunista defesa dos amigos. Já vimos que tal política é um desastre. É preciso dizer mais: é uma política de covardes, de quem se recusa a denunciar as arbitrariedades do regime político por ter medo de ser alvo dessas mesmas arbitrariedades.

Pomarzinho finge não lembrar, mas quando a burguesia decidiu dar um golpe de Estado contra o governo do PT, ela não prendeu Lula e os dirigentes petistas da noite para o dia. Foram necessários anos de campanha histérica na imprensa “contra a corrupção”, foram necessários espetáculos jurídicos como o julgamento da Ação Penal 470 e até mesmo a aprovação de leis no Congresso para que se criassem as condições para que acontecesse o golpe e a prisão de Lula.

Por falar nisso, Pomarzinho diz que “o Bibi do PCO” faz “afirmações mentirosas sobre minha posição acerca das denúncias de corrupção lançadas contra o PT”. Uma vez mais, o menino Pomar não diz onde está a mentira. Curiosamente, no texto em que apresenta a posição do dirigente da AE sobre o julgamento da Ação Penal 470, eu não “afirmei” nada. Apenas reproduzi o que ele mesmo disse à época. Reproduzo, agora, outro trecho de um texto antigo de Pomar – mas, desta vez, farei alguns comentários para dispensar Pomarzinho da lição de interpretação de texto:

“Havia, também, aqueles que — percebendo os objetivos reais da campanha midiática e judicial — adotaram uma linha segundo a qual os réus do ‘mensalão’ eram todos ‘vítimas’, que deveriam ser tratados como ‘presos políticos’.

(…) Cabe também aprovar a existência de uma Corregedoria permanente. Como qualquer partido, o PT está sujeito a ter nas suas fileiras pessoas que cedem à corrupção. Mas, diferente de certos partidos, o PT se antecipará em identificar e punir quem o faça. Entre outros motivos porque a corrupção é antagônica ao nosso projeto de sociedade.

(…) Hoje é ainda mais imprescindível que o PT forme um juízo político sobre o conjunto da situação, tratando como determina o estatuto partidário aqueles casos individuais em que haja convicção e provas de que houve corrupção.”

Pomarzinho escreveu isso em 2016 – no ano do golpe de Estado! A grande preocupação dele, no momento em que o governo de Dilma Rousseff estava sendo derrubado, era o de promover uma “luta contra a corrupção” dentro do próprio partido! Essa ideia de jerico, por sua vez, não veio do próprio Pomarzinho, mas foi algo que ele ouviu de “gente grande”, enquanto brincava no seu parquinho. As propostas de Pomar nada mais são que um eco da campanha da grande imprensa na época, que clamava para que o PT fizesse uma “autocrítica”.

Queria O Globo que o PT se desfizesse de seus burocratas e passasse a ser dirigido pelos trabalhadores? É por isso que a Família Marinho e Valter Pomar decidiram se unir na mesma empreitada? É óbvio que não. A campanha pela “autocrítica” tinha um sentido muito claro: confundir o partido em meio ao ataque em que estava sofrendo. Fazer com que o partido se dividisse procurando encontrar culpados para a crise em que se encontrava, em vez de dirigir todas as suas forças contra o inimigo em comum: o mesmo imperialismo que hoje Pomarzinho se recusa a combater.

 

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