quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Kennedy e Lisboa: sutis como Shrek


Desde o início, muitas pessoas subestimaram o golpe.

Achavam que era coisa de uma minoria radicalizada, achavam que “eles” não ousariam ir tão longe, achavam que as instituições não deixariam a coisa prosperar etc.

Um dos efeitos colaterais desta subestimação foi e segue sendo a crença nas análises e promessas feitas por certos advogados.

Uma dessas promessas foi feita na reunião do Diretório Nacional do PT, dia 16 de dezembro de 2017: “Lula estará na urna eletrônica dia 7 de outubro”. No mesmo dia, aliás, foi dito também que havia grandes chances de um resultado positivo no julgamento do TRF4.

A subestimação do golpe e a crença de que as leis são iguais para todos tiveram efeitos paradoxais.

Por um lado, contribuíram para que a mobilização fosse menor e menos radicalizada do que seria necessário diante de tamanha violência; e também menor e menos radicalizada do que talvez fosse possível (não tentamos, portanto não há como saber com certeza).

Por outro lado, a subestimação e a crença também contribuíram para que tivesse ampla maioria, na esquerda brasileira, a tática de esticar a corda.

Afinal, mesmo quem subestimava os golpistas e achava que o “estado de direito” no final prevaleceria, acreditava também que, esticando a corda, obrigaríamos os golpistas a voltar atrás e a cumprir a lei, garantindo a presença de Lula na urna.

Mas, tanto no PT quanto na esquerda, havia também muita gente que nunca subestimou o golpe, que nunca tomou ao pé da letra as promessas dos advogados, que sempre trabalhou com a hipótese de que no final os golpistas impediriam Lula de estar na urna.

Mas este setor sem crença nem subestimação estava dividido sobre o que fazer: de um lado estavam os defensores do “plano B”; de outro lado os defensores de que “eleição sem Lula é fraude”.

Durante vários meses, os defensores do “plano B” foram derrotados, dentro e fora do PT, por uma aliança entre os que defendiam que “eleição sem Lula é fraude”, com aqueles que acreditavam que no final ia dar tudo certo.

Entretanto, a maior parte dos dirigentes da esquerda brasileira nunca considerou a sério a possibilidade de denunciar e boicotar as eleições presidenciais.

Aliás, até mesmo setores que “fizeram carreira” denunciando o “eleitoralismo” e o “institucionalismo” dos outros, estão agora enfiados de cabeça na campanha eleitoral.

Os motivos são vários: análise da correlação de forças e das possibilidades políticas; avaliação de que não devemos contribuir voluntariamente para desacumular forçar; hábitos e crenças arraigadas desde 1989; temor de contribuir, por WO, para um desfecho trágico; e, principalmente, a aposta de que apesar de tudo podemos obter vitórias, totais ou parciais, se participarmos das eleições presidenciais.

A tática de esticar a corda foi um sucesso enquanto durou.

O sucesso foi tão grande, que efetivamente cresceram as chances do PT vencer as eleições presidenciais, mesmo sem ter Lula como candidato.

Muitos defensores do “plano B” reconhecem, agora, que teria sido um erro abrir mão, ali atrás, da candidatura Lula. Alguns até esqueceram que algum dia, no passado distante, defenderam aquela posição.

Mas no dia 11 de setembro, chegou a hora da verdade: não substituir a candidatura ali implicaria em correr o risco de toda a chapa presidencial ser impugnada.

E como a hipótese de denunciar e boicotar as eleições presidenciais nunca foi considerada a sério pela maioria dos dirigentes da esquerda brasileira, pelos motivos já explicados, prevaleceu a decisão de fazer as alterações anunciadas em Curitiba: no lugar de Lula e Haddad, Haddad e Manu.

Nunca é demais reafirmar: esta alteração nos foi imposta pelos golpistas, de fora para dentro. Fomos obrigados a tirar Lula da chapa. E o objetivo dos golpistas é claro: tirando Lula, fraudar o resultado das eleições.

Nossa tarefa agora é fazer de tudo para impedir que a fraude se consume. 

Ou seja, fazer de tudo para eleger a chapa Haddad e Manu.

Isto pode parecer algo relativamente fácil, já que exige “apenas” transferir para Haddad as intenções de voto até agora de Lula. 

Mas não será nada fácil.

Será preciso comunicar ao “eleitorado lulista” que Lula pede que se vote em Haddad; será preciso convencer este eleitorado a fazer isto; será preciso enfrentar o assédio de outras candidaturas, assédio que receberá a contribuição direta e indireta dos meios de comunicação golpistas; e será preciso enfrentar outras operações, promovidas pelos golpistas, para impedir que o povo derrote o golpe nas urnas.

Se tivermos êxito, no fundo terá sido Lula quem venceu as eleições, conforme é explicado no texto abaixo:
http://valterpomar.blogspot.com/2018/09/a-orientacao-de-lula.html

Entre as operações patrocinadas ou estimuladas pelo golpismo, está uma tão sutil quanto Shrek: nos convencer a assumir certos compromissos com os mercados, para tornar supostamente mais palatável nossa candidatura, vitória, posse e governo.

Por exemplo, indicar Marcos Lisboa para ministro da Fazenda. 

É isto que propõe o jornalista Kennedy Alencar, conforme se pode ler no texto abaixo, divulgado no dia 11 de setembro, as 21h50:

O lobby a favor de Lisboa como ministro da Fazenda foi precedido, dias antes, pela entrevista concedida por Guilherme Mello ao jornal Valor, entrevista comentada no texto abaixo:

Nosso problema, tanto para vencer as eleições, quanto para tomar posse e governar, é exatamente o oposto do que nos é proposto grosseiramente por Kennedy e sugerido por Mello.

Não temos que dar garantias aos mercados financeiros.

Temos que dar garantias ao povo e à militância, não apenas de que em nosso governo Lula será livre, mas também de que em nosso governo vamos dar um cavalo de pau na política econômica e social adotada pelos golpistas.

A eleição não está ganha. A fraude continua sendo um risco imenso. Eleição sem Lula é fraude, mas não é impossível derrotar a fraude.

E já que decidimos participar do processo, é preciso ter uma política que nos leve à vitória, não à derrota. 

O primeiro passo é levar Haddad ao segundo turno. Isto só não acontecerá se cometermos erros imensos. Um deles seria esquecer do que ocorreu em 2015.




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