Desde o
início, muitas pessoas subestimaram o golpe.
Achavam que
era coisa de uma minoria radicalizada, achavam que “eles” não ousariam ir tão
longe, achavam que as instituições não deixariam a coisa prosperar etc.
Um dos
efeitos colaterais desta subestimação foi e segue sendo a crença nas análises e
promessas feitas por certos advogados.
Uma dessas
promessas foi feita na reunião do Diretório Nacional do PT, dia 16 de dezembro
de 2017: “Lula estará na urna eletrônica dia 7 de outubro”. No mesmo dia, aliás,
foi dito também que havia grandes chances de um resultado positivo no
julgamento do TRF4.
A
subestimação do golpe e a crença de que as leis são iguais para todos tiveram
efeitos paradoxais.
Por um lado,
contribuíram para que a mobilização fosse menor e menos radicalizada do que
seria necessário diante de tamanha violência; e também menor e menos radicalizada
do que talvez fosse possível (não tentamos, portanto não há como saber com
certeza).
Por outro
lado, a subestimação e a crença também contribuíram para que tivesse ampla maioria, na
esquerda brasileira, a tática de esticar
a corda.
Afinal, mesmo quem subestimava os golpistas e achava que o “estado de direito” no
final prevaleceria, acreditava também que, esticando a corda, obrigaríamos os golpistas
a voltar atrás e a cumprir a lei, garantindo a presença de Lula na urna.
Mas, tanto
no PT quanto na esquerda, havia também muita gente que nunca subestimou o
golpe, que nunca tomou ao pé da letra as promessas dos advogados, que sempre
trabalhou com a hipótese de que no final os golpistas impediriam Lula de estar
na urna.
Mas este
setor sem crença nem subestimação estava
dividido sobre o que fazer: de um lado estavam os defensores do “plano B”; de
outro lado os defensores de que “eleição sem Lula é fraude”.
Durante
vários meses, os defensores do “plano B” foram derrotados, dentro e fora do PT,
por uma aliança entre os que defendiam que “eleição sem Lula é fraude”, com
aqueles que acreditavam que no final ia dar tudo certo.
Entretanto, a
maior parte dos dirigentes da esquerda brasileira nunca considerou a sério a
possibilidade de denunciar e boicotar as eleições presidenciais.
Aliás, até
mesmo setores que “fizeram carreira” denunciando o “eleitoralismo” e o “institucionalismo”
dos outros, estão agora enfiados de cabeça na campanha eleitoral.
Os motivos
são vários: análise da correlação de forças e das possibilidades políticas;
avaliação de que não devemos contribuir voluntariamente para desacumular forçar;
hábitos e crenças arraigadas desde 1989; temor de contribuir, por WO, para um
desfecho trágico; e, principalmente, a aposta de que apesar de tudo podemos obter
vitórias, totais ou parciais, se participarmos das eleições presidenciais.
A tática de esticar a corda foi um sucesso enquanto
durou.
O sucesso
foi tão grande, que efetivamente cresceram as chances do PT vencer as eleições
presidenciais, mesmo sem ter Lula como candidato.
Muitos
defensores do “plano B” reconhecem, agora, que teria sido um erro abrir mão,
ali atrás, da candidatura Lula. Alguns até esqueceram que algum dia, no passado
distante, defenderam aquela posição.
Mas no dia
11 de setembro, chegou a hora da verdade: não substituir a candidatura ali
implicaria em correr o risco de toda a chapa presidencial ser impugnada.
E como a
hipótese de denunciar e boicotar as eleições presidenciais nunca foi considerada
a sério pela maioria dos dirigentes da esquerda brasileira, pelos motivos já
explicados, prevaleceu a decisão de fazer as alterações anunciadas em Curitiba:
no lugar de Lula e Haddad, Haddad e Manu.
Nunca é
demais reafirmar: esta alteração nos foi imposta pelos golpistas, de fora para
dentro. Fomos obrigados a tirar Lula da chapa. E o objetivo dos golpistas é
claro: tirando Lula, fraudar o resultado das eleições.
Nossa tarefa
agora é fazer de tudo para impedir que a fraude se consume.
Ou seja, fazer de
tudo para eleger a chapa Haddad e Manu.
Isto pode
parecer algo relativamente fácil, já que exige “apenas” transferir para Haddad
as intenções de voto até agora de Lula.
Mas não será nada fácil.
Será preciso
comunicar ao “eleitorado lulista” que Lula pede que se vote em Haddad; será preciso
convencer este eleitorado a fazer isto; será preciso enfrentar o assédio de
outras candidaturas, assédio que receberá a contribuição direta e indireta dos
meios de comunicação golpistas; e será preciso enfrentar outras operações,
promovidas pelos golpistas, para impedir que o povo derrote o golpe nas urnas.
Se tivermos êxito, no fundo terá sido Lula quem venceu as eleições, conforme é explicado no texto abaixo:
http://valterpomar.blogspot.com/2018/09/a-orientacao-de-lula.html
Entre as operações patrocinadas ou estimuladas pelo golpismo, está uma tão sutil quanto
Shrek: nos convencer a assumir certos compromissos com os mercados, para
tornar supostamente mais palatável nossa candidatura, vitória, posse e governo.
Por exemplo,
indicar Marcos Lisboa para ministro da Fazenda.
É isto que propõe o jornalista
Kennedy Alencar, conforme se pode ler no texto abaixo, divulgado no dia 11 de
setembro, as 21h50:
O lobby a
favor de Lisboa como ministro da Fazenda foi precedido, dias antes, pela
entrevista concedida por Guilherme Mello ao jornal Valor, entrevista comentada no texto abaixo:
Nosso
problema, tanto para vencer as eleições, quanto para tomar posse e governar, é
exatamente o oposto do que nos é proposto grosseiramente por Kennedy e sugerido por Mello.
Não temos que dar garantias aos mercados financeiros.
Temos que dar garantias ao povo e à militância, não apenas
de que em nosso governo Lula será livre, mas também de que em nosso governo vamos
dar um cavalo de pau na política econômica e social adotada pelos golpistas.
A eleição
não está ganha. A fraude continua sendo um risco imenso. Eleição sem Lula é fraude, mas não é impossível derrotar a
fraude.
E já que decidimos participar do processo, é preciso ter uma política que nos leve à vitória, não à derrota.
O primeiro passo é levar Haddad ao segundo turno. Isto só não
acontecerá se cometermos erros imensos. Um deles seria esquecer do que ocorreu em 2015.
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