terça-feira, 25 de agosto de 2020

Roteiro da aula 2 do curso de leitura dirigida de O Capital

 

Boa noite a todos.

Boa noite a todas.

Boa noite a quem aqui na sala zoom.

Boa noite a quem está nos acompanhando on-line através do youtube.

Cumprimento, também, a quem venha nos assistir noutro momento.

Meu nome é Valter Pomar.

Sou professor de relações internacionais na Universidade Federal do ABC.

E faço parte da equipe de professores voluntários da Escola Latinoamericana de História e Política, a ELAHP.

Hoje vamos dar continuidade ao curso de “Leitura dirigida de O Capital”.

Este curso está planejado para durar 16 aulas, toda sexta-feira, das 19h as 21h.

As duas primeiras aulas, a da sexta-feira passada, 14 de agosto e a de hoje, 21 de agosto, são aulas introdutórias.

No dia 14 falamos do “capitalismo, história e teorias: por que estudar O Capital? A história da elaboração de O Capital”.

Hoje, dia 21 de agosto, falaremos da obra “Contribuição à Crítica da Economia Política”. E voltaremos a falar um pouco da história da elaboração de O Capital.

A partir de 28 de agosto e até o dia 27 de novembro, discutiremos o volume I de O Capital, capítulo por capítulo.

Repito aqui o que já disse na aula passada sobre o método: eu farei uma descrição do conteúdo do capítulo. Havendo tempo, responderei perguntas aqui mesmo. Não havendo tempo, responderei perguntas feitas por email. Recomendo perguntas por escrito.

Como eu sou o único professor alocado neste curso, caso eu tenha alguma dificuldade, há duas possibilidades: ou eu gravar a aula (nesse caso não seria online) ou eu pedir a alguém que me substitua extraordinariamente.

O que vocês devem fazer? Ler os capítulos antes, acompanhar as aulas e, se possível, ler os capítulos depois, novamente.

Evidentemente, quem perder a aula ao vivo, poderá assistir posteriormente. E se houver necessidade de fazer alguma aula extraordinária, o faremos.

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Na aula passada, já comentamos que a gestação do livro O CAPITAL ocorre entre 1850 e 1867.

Ao longo desses 17 anos, Marx leu e glosou centenas e centenas de livros.

E tomou notas, milhares de páginas de anotações.

E escreveu e reescreveu várias versões, que ele chamava de monografias.

Algumas dessas versões simplesmente sumiram, outras talvez não tenham existido.

O mais importante dos manuscritos desse  período é conhecido pelo nome Grundrisse.

O nome vem de um trecho escrito pelo próprio Marx, numa carta a Engels, datada de 8/12/1857: “trabalho como um louco as noites inteiras coordenando meus estudos econômicos, para esclarecer ao menos os elementos fundamentais antes do dilúvio”.

GRUNDRISSE DER KRITIK DER POLISTICHEN OKONOMIE (ROHENTWURF).

ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DA CRITICA DA ECONOMIA POLITICA (BORRADOR).

Os cadernos manuscritos que hoje conhecemos por Grundrisse foram redigidos entre 1857 e 1858.

Em 1859 Marx publicou um livro chamado Contribuição à crítica da Economia Politica.

Depois produz um novo manuscrito, que hoje está também à disposição, desta vez com o título de Manuscritos de 1861-1863.

E, finalmente, vai lapidando o volume I de O Capital, que virá à luz em 1867.

Portanto, a Contribuição à critica da Economia Política é o livro que antecede O Capital, EMBORA ENTRE UM E OUTRO EXISTA MUITO TRABALHO INTERMEDIÁRIO.

Para os especialistas em Marx, é um prato cheio.

Para nós, é mais uma lembrança de que nada caiu do céu, tudo é produto do trabalho duro.

O conteúdo do livro Contribuição foi reaproveitado em O Capital.

O capítulo sobre mercadoria da Contribuição aparecerá basicamente no capítulo sobre mercadoria do Capital, naturalmente reelaborado.

E o capítulo sobre dinheiro da Contribuição aparecerá no capítulo sobre dinheiro de O Capital, e também em  outras passagens.

Naturalmente, há novidades: a principal delas, segundo os marxólogos, é a distinção clara entre valor e valor de troca.

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O índice da Contribuição é o seguinte:

ÍNDICE

Prólogo ...

Libro primero. ACERCA DEL CAPITAL

Sección primera. EL CAPITAL EN GENERAL.

Capítulo primero. LA MERCANCÍA . . .

A. CONSIDERACIONES HISTÓRICAS SOBRE EL ANÁLISIS DE LA MERCANCÍA

Capítulo segundo. EL DINERO O LA CIRCULACIÓN SIMPLE

1. Medida de los valores

B. TEORÍAS DE LA UNIDAD DE MEDIDA DEL DINERO

2. Medio de circulación

a) Metamorfosis de las mercancías

b) La circulación del dinero

c) El numerario. Signo de valor

3. El dinero

a) Atesoramiento

b) Medio de pago

c) Dinero mundial

4. Los metales preciosos

TEORÍAS DE LOS MEDIOS DE CIRCULACIÓN Y DEL DINERO

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Notem que, hipoteticamente, a Contribuição era para ser o capitulo 1 e 2 da primeira seção do primeiro livro.

Em alguns momentos, Marx e Engels chegam a referir-se a Contribuição como um fascículo.

Aliás, naquela época isso era muito comum, publicar obras em fascículos.

Mas não houve segunda seção, não houve primeiro livro.

Houve outro livro, a saber: O Capital.

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Como nosso objetivo neste curso é estudar O Capital, não vou aqui tratar destes capítulos da Contribuição que são reaproveitados em O Capital e, portanto, estudaremos os assuntos tratados neles, com base no que Marx escreverá posteriormente em O Capital.

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Na aula de hoje, portanto, vou me dedicar ao que foi abordado no Prólogo (ou prefácio) à Contribuição, que foi publicado junto com o livro de mesmo nome.

Noutro momento do curso, abordarei o que é dito em dois outros textos, que remetem à Contribuição:

- uma resenha escrita por Engels, em 1859

-a chamada Introdução, que foi um texto escrito em 1857, que Marx não incluiu na Contribuição, que ficou em formato manuscrito, que foi descoberto depois e publicado por Kautsky em 1903.

(A maioria das edições modernas da Contribuição publicam a tal Introdução como anexo, gerando algo divertido: um Prefácio no início e uma Introdução no final... )

Comecemos, então, com o Prólogo ou Prefácio. Citarei trechos e, em seguida, farei breves comentários.

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“Examino el sistema de la economía burguesa en el orden siguiente: capital, propiedad agraria, trabajo asalariado, Estado, comercio exterior, mercado mundial.”

“Bajo las tres primeras rúbricas estudio las condiciones económicas de vida de las tres grandes clases en que se divide la sociedad burguesa moderna; la interconexión de las tres restantes salta a la vista”.

 

-estes seis temas citados (capital, propiedad agraria, trabajo asalariado, Estado, comercio exterior, mercado mundial) faziam parte do plano original de O Capital.

-o plano foi modificado posteriormente e o que conhecemos hoje é o livro 1 sobre a produção, o livro 2 sobre a circulação e o livro 3 sobre o processo visto em seu conjunto.

-sobre as alterações no plano da obra, recomendo a leitura do Roman Rosdolski, Gênese e estrutura de O Capital de Marx (estudos sobre os Grundisse).

-notem, por outro lado, a importância da propriedade agrária no roteiro original. A terra, a questão agrária etc. não é e nunca foi um tema secundário para Marx, como podem pensar alguns.

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“La primera sección del libro primero, que trata del capital, se compone de los capítulos siguientes: 1) la mercancía; 2) el dinero o la circulación simple; 3) el capital en general. Los dos primeros capítulos forman el contenido del presente fascículo”.

 

-ou seja, reiterando o que já foi dito antes, o livro Contribuição à crítica da economia política (QUE ELE CHAMA DE “PRESENTE FASCICULO”) CONTEM DOIS CAPITULOS DOS TRES CAPITULOS QUE FARIAM PARTE DA PRIMEIRA SEÇÃO DO PRIMEIRO LIVRO, AQUELE SOBRE O CAPITAL.

-como sabemos, ao invés de publicar outros fascículos, ele fica entre 1859 e 1867 burilando e acaba publicando o primeiro tomo de O Capital, deixando outros dois volumes pré-prontos.

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Ainda na Contribuição, ele dirá o seguinte:

“Tengo ante mis ojos todos los materiales en forma de monografías escritas con largos intervalos para mi propio esclarecimiento y no para su publicación; la elaboración sistemática de las mismas conforme al plan indicado dependerá de circunstancias externas”.

 

-como sabemos, reiterando, não foi isso o que aconteceu. Entre 1859 e 1867 Marx:

-MUDA O PLANO

-REDIGE E PUBLICA EM 1867 O VOLUME 1

-DEIXA OS OUTROS SEMI PRONTOS

-E MORRE em 1883

-para nossa sorte, existia o Engels

 

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“Prescindo de una introducción general que había esbozado, porque, bien pensada la cosa, me parece que el anticipar los resultados que todavía han de demostrarse podría ser un estorbo, y el lector que quiera realmente seguirme deberá estar dispuesto a remontarse de lo singular a lo general”.

 

-ESTA “INTRODUÇÃO GERAL”, ONDE ELE SUPOSTAMENTE ANTECIPARIA OS RESULTADOS, E POR ISSO DECIDIU NÃO INCLUIR NO CONTRIBUIÇÃO A CRITICA DA ECONOMIA POLITICA, É a tal introdução sobre a qual já falamos.

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“Sin embargo, me parece oportuno dar aquí algunas indicaciones sobre la trayectoria de mis propios estudios de Economía política.”

“Aunque el objeto de mis estudios especializados fue la jurisprudencia, la consideraba sólo como una disciplina subordinada al lado de la filosofía y la historia. En 1842-1843, siendo director de la Rheinische Zeitungme vi por primera vez en la embarazosa obligación de pronunciarme sobre lo que se llama intereses materiales. Las deliberaciones del Landtag renano sobre la tala furtiva y el fraccionamiento de la propiedad agraria, la polémica oficial sostenida entre el señor von Schaper, entonces gobernador de la provincia renana, y la Rheinische Zeitung acerca de la situación de los campesinos de la Mosela, y, finalmente, los debates sobre el librecambio y las tarifas proteccionistas me dieron los primeros impulsos para ocuparme de cuestiones económicas.

-OU SEJA, ELE RECONHECE QUE NÃO ENTENDIA MUITO DO ASSUNTO...

“Por otra parte, en esa época, cuando las buenas intenciones de "adelantarse" superaban con mucho el conocimiento de la materia, la Rheinische Zeitung dejaba traslucir un eco, ligeramente teñido de filosofía, del socialismo y el comunismo franceses. Me pronuncié contra ese diletantismo, pero al propio tiempo confesé francamente, en una controversia con la Allgemeine Augsbürger Zeitung, que mis estudios hasta entonces no me permitían arriesgarme a expresar juicio alguno sobre el tenor mismo de las tendencias francesas”.

...OU SEJA,  NOVAMENTE ELE RECONHECE QUE NÃO ENTENDIA DO ASSUNTO

 “Aproveché con apresuramiento la ilusión de los dirigentes de la Rheinische Zeitung, quienes esperaban que suavizando la posición del periódico iban a conseguir la anulación de la sentencia de muerte pronunciada contra él, para abandonar el escenario público y retirarme a mi cuarto de estúdio”.

“El primer trabajo que emprendí para resolver las dudas que me asaltaban fue una revisión crítica de la filosofía hegeliana del Derecho, trabajo cuya introducción apareció en 1844 en los Deutsch-Französische Jahrbücher, publicados en París”.

 

-ESSE ACIMA -- Crítica da filosofia do direito de Hegel -- É O PRIMEIRO TEXTO ESPECÍFICO QUE ELE CITA, ALÉM DOS IMPLICITOS TEXTOS JORNALISTICOS.

-VEJAMOS A SEGUIR O QUE ELE DESTACA COMO CONCLUSÃO OU TESE FUNDAMENTAL:

“Mis indagaciones me hicieron concluir que tanto las relaciones jurídicas como las formas de Estado no pueden ser comprendidas por sí mismas ni por la pretendida evolución general del espíritu humano, sino que, al contrario, tienen sus raíces en las condiciones materiales de vida, cuyo conjunto Hegel, siguiendo el ejemplo de los ingleses y franceses del siglo XVIII, abarca con el nombre de "sociedad civil", y que la anatomía de la sociedad civil debe buscarse en la Economía política”.

-OU SEJA, AS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO SÃO CENTRAIS;

-RELAÇÕES DE PRODUÇÃO SÃO AS RELAÇÕES QUE OS SERES HUMANOS ESTABALECEM ENTRE SI PARA PRODUZIR E REPRODUZIR AS SUAS CONDIÇÕES DE VIDA, A SUA VIDA EM SOCIEDADE, PORTANTO A SOCIEDADE COMO UM TODO;

-A MESMA IDEIA É DESENVOLVIDA EM A IDEOLOGIA ALEMÃ.

 

 “Comencé el estudio de esta última en París y lo proseguí en Bruselas, adonde me trasladé en virtud de una orden de expulsión dictada por el señor Guizot. El resultado general a que llegué y que, una vez obtenido, sirvió de guía a mis estudios puede formularse brevemente como sigue:”

 

VEJAMOS ITEM A ITEM O QUE ELE DIZ E CHAMEMOS A ATENÇÃO PARA ALGUMAS CATEGORIAS E ENFASES:

 

“En la producción social de su vida, los hombres entran en determinadas relaciones necesarias e independientes de su voluntad, relaciones de producción, que corresponden a un determinado grado de desarrollo de sus fuerzas productivas materiales”.

 

...RELAÇÕES DE PRODUÇÃO...

...CORRESPONDEM...

...A UM DETERMINADO GRAU DE DESENVOLVIMENTO DAS FORÇAS PRODUTIVAS MATERIAIS...

-QUE RELAÇÕES?

-QUE GRAU DE DESENVOLVIMENTO?

-COMO SE CORRESPONDEM?

-ISTO TUDO DEVE SER ESTUDADO E RESPONDIDO CONCRETAMENTE

 

“Estas relaciones de producción en su conjunto constituyen la estructura económica de la sociedad, la base real sobre la cual se erige la superestructura jurídica y política y a la que corresponden determinadas formas de conciencia social”.

 

-NOTEM QUE O TERMO RELAÇÕES DE PRODUÇÃO PODE SER COMPREENDIDO EM DOIS SENTIDOS DIFERENTES

-COMO RELAÇÕES DE PRODUÇÃO AMPLO SENSO, NESTE CASO UMA CATEGORIA QUE INCLUI NO SEU INTERIOR AS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO ESTRITO SENSO E AS FORÇAS PRODUTIVAS, PORTANTO NESTE CASO RELAÇÕES DE PRODUÇÃO É UMA UNIDADE DIALÉTICA

-COMO RELAÇÕES DE PRODUÇÃO ESTRITO SENSO

-NO SENTIDO AMPLO, ELE DIZ QUE “AS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO EM SEU CONJUNTO CONSTITUEM A ESTRUTURA ECONOMICA DA SOCIEDADE”, OU SEJA, TUDO AQUILO QUE DIZ RESPEITO A PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA VIDA EM SOCIEDADE, SEM O QUE NÃO HAVERÁ SOCIEDADE

-MARX DIZ QUE É “A PARTIR DESTA BASE” QUE SE ERIGE A “SUPERESTRUTURA JURIDICA E POLITICA” E A QUAL “CORRESPONDEM DETERMINADAS FORMAS DE CONSCIENCIA SOCIAL”

-MUITO SE ESCREVEU SOBRE BASE E SUPERESTRUTURA, E EM GERAL A POLEMICA A RESPEITO DESTES TERMOS DIZ RESPEITO A RELAÇÃO ENTRE UMA E OUTRA, AS INTERAÇÕES MUTUAS, AS DETERMINAÇÕES RECIPROCAS

-HÁ OS QUE ACHAM QUE EXISTIRIA UMA DETERMINAÇÃO UNILATERAL (A BASE DETERMINA A SUPERESTRUTURA)

-HÁ OS QUE ACHAM QUE EXISTIRIA UMA RELAÇÃO BILATERAL (BASE E SUPERESTRUTURA SE DETERMINARIAM MUTUAMENTE)

-HÁ OS QUE ACHAM QUE É BILATERAL MAS QUE  EXISTIRIA UMA DETERMINAÇÃO EM ULTIMA INSTANCIA

-E ASSIM POR DIANTE

NOTEM QUE PARA MARX ESTES CONCEITOS FLUEM NATURALMENTE, NÃO TEM O SIGNIFICADO estático, doutrinário, religioso, QUE ALGUNS VÃO DAR POSTERIORMENTE

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“El modo de producción de la vida material condiciona el proceso de vida social, político y espiritual en general”.

 

-A CATEGORIA MODO DE PRODUÇÃO assume, na frase acima, o mesmo sentido das RELAÇÃO DE PRODUÇÃO NO SENTIDO AMPLO DA PALAVRA, PORTANTO UNIDADE ENTRE RELAÇÕES DE PRODUÇÃO ESTRITO SENSO E FORÇAS PRODUTIVAS;

-e é o modo de produção da vida material que CONDICIONA a vida social como  um todo, inclusive a vida política e espiritual;

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“No es la conciencia de los hombres la que determina su ser, sino, por el contrario, el ser social es lo que determina su conciencia”.

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Neste ponto, Marx introduz o que é o núcleo duro de sua concepção de transformação, de revolução, de desenvolvimento histórico, de progresso:

“En cierta fase de su desarrollo, las fuerzas productivas materiales de la sociedad entran en contradicción con las relaciones de producción existentes, o bien, lo que no es más que la expresión jurídica de esto, con las relaciones de propiedad en el seno de las cuales se han desenvuelto hasta entonces”.

 

A SEGUNDA PARTE DO RACIOCINIO ACIMA É AUTOEVIDENTE: “las relaciones de producción existentes, o bien, lo que no es más que la expresión jurídica de esto, con las relaciones de propiedad en el seno de las cuales se han desenvuelto hasta entonces”.

 

ASSIM, VAMOS NOS CONCENTRAR NA PRIMEIRA PARTE DO RACIOCINIO: “En cierta fase de su desarrollo, las fuerzas productivas materiales de la sociedad entran en contradicción con las relaciones de producción existentes”

 

-HÁ MUITAS POLEMICAS A RESPEITO DO ACIMA, E PARTE DAS POLEMICAS SE RELACIONA A MANEIRAS DIFERENTES DE ENTENDER AS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO E AS FORÇAS PRODUTIVAS

-PRIMEIRO, QUERO LEMBRAR QUE RELAÇÕES DE PRODUÇÃO E FORÇAS PRODUTIVAS SÃO CATEGORIAS QUE DIZEM RESPEITO A SERES HUMANOS, CLASSES SOCIAIS, A SUA RELAÇÃO (ENTRE SI), SUA RELAÇÃO INCLUSIVE COM OS PRODUTOS DO TRABALHO HUMANO, SUA RELAÇÃO COM A NATUREZA, OU SEJA, COM TUDO QUE NÃO É HUMANO E QUE NÃO É PRODUTO DO TRABALHO HUMANO;

-SEGUNDO, QUERO LEMBRAR QUE ESTAS CATEGORIAS SÃO HISTORICAMENTE DETERMINADAS;

-NÃO EXISTE SOCIEDADE HUMANA SEM TRABALHO HUMANO AGINDO SOBRE A NATUREZA, MAS QUANDO UM ESCRAVO ESTÁ CARREGANDO ALGO, QUANDO UM SERVO ESTÁ CAREGANDO ALGO, QUANDO UM PEQUENO PROPRIETÁRIO LIVRE ESTÁ CARREGANDO, QUANDO UM ASSALARIADO ESTÁ CARREGANDO ALGO, POR MAIS QUE AS OPERAÇÕES FÍSICAS POSSAM “SER” AS “MESMAS”, AS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO SÃO DISTINTAS;

-TERCEIRO, É PRECISO LEMBRAR QUE RELAÇÕES DE PRODUÇÃO E FORÇAS PRODUTIVAS SÃO DIFERENTES MANIFESTAÇÕES DA MESMA, DIGAMOS, MATÉRIA PRIMA: SERES HUMANOS EM PROCESSO...

-AS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO SÃO AS RELAÇÕES QUE OS SERES HUMANOS MANTÉM ENTRE SI, NA PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DE SUA VIDA MATERIAL, PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO QUE dependem no limite do METABOLISMO MANTIDO COM A NATUREZA;

-ESTE METABOLISMO OCORRE DE MANEIRAS DIFERENTES, A DEPENDER DO “grado de desarrollo de sus fuerzas productivas materiales”;

-PORTANTO, QUANDO Marx FALA DA CONTRADIÇÃO ENTRE RELAÇÕES DE PRODUÇÃO E FORÇAS PRODUTIVAS, ELE ESTÁ SE REFERINDO A UMA CONTRADIÇÃO DIALÉTICA QUE OCORRE DENTRO DE UMA TOTALIDADE ORGANICA;

-a saber: a contradição entre as relações entre os seres humanos (hxh) e a relação da humanidade (H) com a natureza (N)(HxN) (ou meio circundante) ou mais precisamente a contradição entre as relações de produção e a produtividade/forças produtivas.

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“En cierta fase de su desarrollo, las fuerzas productivas materiales de la sociedad entran en contradicción con las relaciones de producción existentes”...

 

-INICIALMENTE OS SERES HUMANOS SÃO PARTE DA NATUREZA “COMO QUALQUER” OUTRA ESPECIE;

-POUCO A POUCO SUA AÇÃO COLETIVA (ação coletiva = relações de produção e forças produtivas AO MESMO TEMPO) SOBRE A NATUREZA FAZ COM QUE ESTA ESPECIE HUMANA VÁ AUMENTANDO SUA CAPACIDADE DE ALTERAR A PROPRIA NATUREZA;

-ESTE AUMENTO da produtividade DECORRE DE TRANSFORMAÇÕES QUE VÃO ocorrendo tanto NAS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO E NAS FORÇAS PRODUTIVAS (aliás, é no curso deste processo que SURGEM as relações de produção e as forças produtivas, enquanto unidade dialética e enquanto variáveis particulares);

-Algumas destas transformações:

1/a criação de ferramentas (extensão da mão, considerar a famosa “transformação do macaco em homem pelo trabalho”);

2/o desenvolvimento da capacidade de projetar cerebralmente os processos;

3/a capacidade de usar força-motriz não humana;

4/o desenvolvimento de máquinas;

5/o desenvolvimento de uma divisão técnica do trabalho e de  uma divisão social do trabalho, que vão assumindo diferentes formas ao longo de milhares de anos...

...por exemplo, transformação do TRABALHO VOLUNTÁRIO presente no COMUNISMO PRIMITIVO, em TRABALHO  SUBORDINADO, explorado e oprimido, como ocorre no que chamamos de ESCRAVIDÃO E SERVIDÃO...

...TRANSFORMAÇÃO DO TRABALHO SUBORDINADO NA FORMA DE ESCRAVIDÃO OU SERVIDÃO em TRABALHO assalariado e APARENTEMENTE LIVRE...

...(E, QUEM SABE, SE TUDO DER CERTO, A FUTURA transformação do trabalho assalariado em trabalho completamente livre, isto quando a sociedade atingir alto nível de desenvolvimento tecnológico e de produtividade, podendo atender a todas as necessidade sociais e contar com o trabalho voluntário de seus membros nas áreas de desenvolvimento cientifico, tecnológico e cultural);

-ESTE PROCESSO histórico, com séculos e milênios de duração, VAI CRIANDO UMA DUPLA DISTINÇÃO:

-NA SOCIEDADE, ENTRE CLASSES, UMA UNIDADE CONTRADITÓRIA;

-E TAMBÉM A DISTINÇÃO ENTRE HUMANIDADE E NATUREZA, OUTRA UNIDADE CONTRATIDÓRIA.

-ESTA UNIDADE CONTRADITÓRIA é portanto permanentemente antagônica, MAS ISSO NÃO IMPEDE O FUNCIONAMENTO, melhor dizendo, a reprodução da sociedade, através da relação entre os homens e destes em relação com a natureza;

-a equação: [(hxh)xN]

-MAS EM DETERMINADO MOMENTO O ANTAGONISMO SE TORNA TAL QUE O CONJUNTO ENTRA EM CRISE, a reprodução enfrenta dificuldades crescentes.

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“De formas de desarrollo de las fuerzas productivas, estas relaciones se convierten en trabas suyas. Y se abre así una época de revolución social.”

 

-a relação entre relações de produção e forças produtivas é claramente, nesta formulação, a de uma “unidade de contrários”

-A IMAGEM DA CRISALIDA

-AS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO CAPITALISTAS (ENTRE PROPRIETÁRIOS DE CAPITAL E ASSALARIADOS) ENTRAM EM CONTRADIÇÃO COM AS FORÇAS PRODUTIVAS CAPITALISTAS (PROCESSO DE  PRODUÇÃO COLETIVA REALIZADO COM CADA VEZ MAIS TRABALHO MORTO E CADA VEZ MENOS  TRABALHO VIVO).

-ONDE ESTÁ A CONTRADIÇÃO?

-O PROCESSO DE ACUMULAÇÃO DE CAPITAL ALIMENTA-SE DO TRABALHO VIVO E DO TRABALHO MORTO, TRANSFORMADOS EM MERCADORIAS A SEREM CONSUMIDAS PELO CONJUNTO DA SOCIEDADE PARA PERMITIR SUA REPRODUÇÃO AMPLIADA (a reprodução da sociedade e a reprodução do capital);

-o PROCESSO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA REDUZ CADA VEZ MAIS O TRABALHO VIVO, INCIDINDO NEGATIVAMENTE SOBRE SOBRE A CAPACIDADE DE CONSUMO DA SOCIEDADE, sobre A PRODUÇÃO DO VALOR A MAIS, SOBRE A TAXA DE LUCRO, E, PORTANTO, SOBRE A REPRODUÇÃO AMPLIADA DO CAPITAL (a dinâmica de reprodução da sociedade vai num sentido, a dinâmica de reprodução do capital vai noutro sentido);

-os aspectos produtivos-técnicos deste processo não constituiriam um problema em uma sociedade organizada de outra forma (reduzir o tempo de trabalho necessário, ampliar o trabalho livre, ao mesmo tempo em que amplia a abundância social não seria um problema para uma sociedade organizada em torno da produção de valores de uso);

-mas em uma sociedade organizada em torno da reprodução ampliada do Capital, isso que resumimos acima vira um problema.

SIGAMOS COM A LEITURA

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“Al cambiar la base económica, se transforma más o menos rápidamente toda la superestructura inmensa”.

-A FRASE ACIMA PODE SER ENTENDIDA EM DOIS SENTIDOS:

-COMO FENOMENO GERAL e mais ou menos permanente;

-COMO FENOMENO ESPECIFICO DAS EPOCAS DE REVOLUÇÃO SOCIAL;

-NESTE SEGUNDO CASO, nos parece que MARX PROJETA PARA TODA A HISTÓRIA O FENOMENO QUE SE VERIFICOU DE FORMA TIPICA NA TRANSIÇÃO DO FEUDALISMO PARA O CAPITALISMO;

-projeta para trás e projeta para frente (o que faz sentido, se lembrarmos que ele considera que a partir da anatomia do ser humano é que se pode compreender melhor a anatomia do macaco);

-nesta fórmula sintética, parece pressuposto que VÁ OCORRER O MESMO OU ALGO SIMILAR, na transição do capitalismo em direção ao comunismo, que havia ocorrido na transição do feudalismo ao capitalismo;

-fica anotado que esta, digamos, simetria é em certo sentido um problema. Muitos anos mais tarde, na correspondência com Vera Zassulich, Marx deixará claro que suas reflexões em O Capital não se aplicam a quaisquer processos históricos;

-mas a maneira de expor o problema em 1859 e, antes disso, também em 1847 (Manifesto do Partido Comunista) pode gerar uma interpretação “universalista” que, aceita sem certos cuidados, pode gerar muitos problemas teóricos e práticos.

SIGAMOS A LEITURA

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“Cuando se examinan tales transformaciones, es preciso siempre distinguir entre la transformación material —que se puede hacer constar con la exactitud propia de las ciencias naturales de las condiciones de producción económicas y las formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas o filosóficas, en breve, las formas ideológicas bajo las cuales los hombres toman conciencia de este conflicto y luchan por resolverlo”.

 

-AQUI FICA CLARO QUE MARX COMPREENDE PERFEITAMENTE A DIFERENÇA QUE EXISTE ENTRE AS CHAMADAS CIENCIAS NATURAIS E AS CHAMADAS CIENCIAS SOCIAIS

-INFELIZMENTE, MUITOS “cientistas naturais” não percebem isso, assim como muitos CIENTISTAS SOCIAIS NÃO PERCEBEM A RELAÇÃO QUE EXISTE ENTRE NATUREZA E SOCIEDDE E, POR ISSO, NÃO PERCEBEM QUE ESTA RELAÇÃO TEM TAMBÉM SUA CORRESPONDENCIA NO PLANO DAS IDEIAS E QUE PORTANTO deve existir UMA RELAÇÃO entre o método nas CIENCIAS SOCIAIS E nas CIENCIAS NATURAIS;

SIGAMOS A LEITURA

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“Del mismo modo que no se puede juzgar a un individuo por lo que piensa de sí mismo, tampoco se puede juzgar a semejante época de transformación por su conciencia; es preciso, al contrario, explicar esta conciencia por las contradicciones de la vida material, por el conflicto existente entre las fuerzas productivas sociales y las relaciones de producción”.

-TRES EXEMPLOS INTERESSANTES, da relação entre a consciência e as ÉPOCAS HISTÓRICAS

-O RACISMO “CIENTÍFICO”, que VAI EMERGIR com muita força EXATAMENTE QUANTO A ESCRAVIDÃO ESTÁ SENDO SUPERADA;

-O FEMINISMO: AS MULHERES SEMPRE FORAM MAIS OU MENOS METADE DA HUMANIDADE, mas é relativamente recente que ESTA METADE GANHE VISIBILIDADE no plano das ideias;

-O SOCIALISMO: quem ler Utopia ficará envergonhado, pois fica claro que a “utopia” de 1516 e o socialismo moderno são MUITO diferentes.

SIGAMOS A LEITURA

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“Una formación social no desaparece nunca antes de que se desarrollen todas las fuerzas productivas que caben dentro de ella...”

 

-notem que o termo FORMAÇÃO SOCIAL as vezes é utilizado no mesmo sentido que “modo de produção”, as vezes assume outro significado;

-a noção do “desaparecimento” de uma formação --neste caso, modo de produção – precisa ser compreendida NÃO como desaparecimento completo de determinadas relações, mas de desaparecimento enquanto modo de produção e reprodução da vida social como um todo: não há mais nenhuma sociedade escravista ou sociedade feudal no mundo, mas continua existindo trabalho escravo e trabalho servil, nos porões da sociedade capitalista, assim como o próprio capitalismo tende a submeter os trabalhadores a condições pré-capitalistas de exploração;

-mas atenção: quando uma formação social desaparece, dando lugar a outra formação social, isto ocorre NO CURSO DE UMA TRANSIÇÃO;

-quando pensamos na possibilidade do capitalismo “desaparecer” e, no seu lugar, surgir uma sociedade comunista, há duas possibilidades lógicas (segundo o raciocínio acima de Marx): 1/que “se desarrollen todas las fuerzas productivas que caben dentro” do capitalismo e DEPOIS comece uma transição socialista e/ou a construção do comunismo; 2/que se “desarrollen todas las fuerzas productivas que caben dentro” do capitalismo, já nos marcos de uma transição socialista ao comunista;

-esta segunda hipótese é a adotada, hoje, pelos comunistas chineses, que acreditam em concluir o desenvolvimento das forças produtivas capitalistas, nos marcos de uma transição socialista em direção ao comunismo;

-uma questão que se coloca, também, é saber qual o nível de ou quantas forças produtivas de determinado tipo “CABEM” dentro de uma formação social?

-dito de outra forma, há LIMITES? Quantas forças produtivas podem ser desenvolvidas ANTES que o capitalismo chegue na condição de desaparecimento?

-Marx, noutro momento, falará que o limite do Capital é o próprio Capital;

-a resposta, neste caso, é dada pela capacidade de reprodução desta determinada formação social;

-vejamos o caso da escravidão antiga: se o número de escravos for muito grande, os custos sociais implícitos na reprodução da escravidão (alimentar os escravos + alimentar quem controla os escravos + mais alimentar a classe dominante) pode superar a capacidade produtiva da própria escravidão, criando debilidades que provocam a crise na escravidão;

 

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SIGAMOS O TEXTO...

 

... “y jamás aparecen relaciones de producción nuevas y superiores antes de que hayan madurado, en el seno de la propia sociedad antigua, las condiciones materiales para su existência”.

 

-notem que este é o “lado B” da discussão anterior. Lembrando: quando pensamos na possibilidade do capitalismo “desaparecer” e, no seu lugar, surgir uma sociedade comunista, há duas possibilidades lógicas:

1/que “se desarrollen todas las fuerzas productivas que caben dentro” do capitalismo e DEPOIS comece uma transição socialista e/ou a construção do comunismo;

2/que se “desarrollen todas las fuerzas productivas que caben dentro” do capitalismo, já nos marcos de uma transição socialista ao comunista;

-para que uma formação social desapareça e dê lugar a outra, é preciso que ocorram dois fenômenos: o desaparecimento de uma e o surgimento de outra;

-se nosso foco for a Europa (e não o que ocorrerá no processo de colonização que hoje chamamos de América), fica claro o que se quer dizer: as novas relações de produção amadureceram “en el seno de la propia sociedad antigua”, dependendo para isto de determinadas “condiciones materiales”;

-todo este raciocínio deve ser levado em conta, frente aos que falam de sociedades “comunistas” ou “socialistas” que prescindam do desenvolvimento do capitalismo, ou que de maneira mais geral prescindam do desenvolvimento das forças produtivas materiais;

 

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“Por eso la humanidad se plantea siempre únicamente los problemas que puede resolver, pues un examen más detenido muestra siempre que el propio problema no surge sino cuando las condiciones materiales para resolverlo ya existen o, por lo menos, están en vías de formación”.

 

-a frase ESTAN EM VIAS DE FORMAÇÃO salva o raciocínio como um todo, pois hoje podemos ter a certeza de que em 1859 (ano em que foi escrito o Prefácio que estamos analisando) não estavam dadas as condições para a superação do capitalismo, pelo contrário ele estava apenas começando a se expandir mundo afora.

 

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“A grandes rasgos, el modo de producción asiático, el antiguo, el feudal y el burgués moderno pueden designarse como épocas de progreso en la formación social económica”.

 

-O QUE ELE CHAMA DE “ANTIGO” É O ESCRAVISTA;

-ELE INTRODUZ ENTRE OS “MODOS DE PRODUÇÃO” O  “ASIÁTICO”;

-HÁ TODO UM DEBATE A RESPEITO, HAVENDO QUEM DIGA QUE O FEUDALISMO EUROPEU OCIDENTAL É, NA VERDADE, UMA VARIANTE DO MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO, UM “ASIATICO DEBIL”;

-HÁ, TAMBÉM, QUEM ENTENDA “EPOCAS DE PROGRESSO” COMO A UMA SUCESSÃO LINEAR;

-A ESSE RESPEITO RECOMENDAMOS A LEITURA DE: 1/MAURICE GODELIER 2/ FORMEN E O COMENTÁRIO A RESPEITO DO ERIC HOBSBAWN;

-NO PARÁGRAFO CITADO ACIMA, E NA ANALISE FEITA POR HOBSBAWN ACERCA DO TEXTO CITADO, FICA CLARA A CENTRALIDADE DA NOÇÃO DE PROGRESSO E O SIGNIFICADO MAIS PROFUNDO DISTO PARA MARX: PROGRESSO COMO A FORMAÇÃO HISTÓRICA DA HUMANIDADE, ENQUANTO ALGO AO MESMO TEMPO DISTINTO E INTEGRADO A NATUREZA.

 

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“Las relaciones de producción burguesas son la última forma antagónica del proceso social de producción, antagónica, no en el sentido de un antagonismo individual, sino de un antagonismo que emana de las condiciones sociales de vida de los indivíduos”.

 

-neste parágrafo está expresso o profundo otimismo de Marx (os críticos diriam: o profundo mileranismo);

-por qual motivo o capitalismo seria a “ULTIMA FORMA ANTAGONICA” do processo social de produção?

-voltemos a equação fundamental: [(hxh)xN]

-durante muito tempo hxh foram relações ANTAGONICAS, RELAÇÕES DE CLASSE, DE EXPLORAÇÃO E OPRESSÃO

-MAIS DO QUE ISSO, durante muito tempo hxh foram RELAÇÕES QUE EVOLUIRAM PERIODICAMENTE PARA SITUAÇÕES DE CRISE E REVOLUÇÃO (ou destruição das classes em luta);

-mas, por outro lado, durante muito tempo as relações hxh, mesmo antagônicas, foram OBJETIVAMENTE um fator de progresso da humanidade, no sentido acima explicado;

-mas o desenvolvimento das relações de produção e das forças produtivas no capitalismo estão produzindo uma situação limite, uma vez que vão eliminando cada vez mais trabalho vivo (barbárie) e vão impondo um custo ambiental cada vez mais alto;

-qual a solução?

 

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“Pero las fuerzas productivas que se desarrollan en el seno de la sociedad burguesa brindan, al mismo tiempo, las condiciones materiales para resolver dicho antagonismo”.

 

-notem que Marx fala que as forças produtivas criam as condições MATERIAIS para resolver o “antagonismo que emana de las condiciones sociales de vida de los indivíduos”;

-forças produtivas pode e deve ser entendido, aqui, como desenvolvimento científico, tecnológico, ferramentas, máquinas, processos produtivos...

-mas também deve ser entendido no sentido de produtivade global da humanidade, que se corporifica numa massa de pessoas que, agindo coletivamente, tem a capacidade de produzir e reproduzir a sociedade humana;

-neste sentido, as forças produtivas não são apenas o “trabalho morto”, mas também o “trabalho vivo”, o proletariado global,  a classe trabalhadora como um todo;

-por isso, aliás, falamos do conflito entre relações de produção e forças produtivas, do conflito entre Capital e Trabalho,  do conflito entre trabalho morto e trabalho vivo, como diferentes formas de expressar o mesmo fenômeno de fundo;

-mas por qual motivo, precisamente, as FORÇAS PRODUTIVAS CRIAM AS CONDIÇÕES MATERIAIS PARA RESOLVER O ANTAGONISMO?

-PRIMEIRO, PORQUE AS FORÇAS PRODUTIVAS EXIGEM CADA VEZ MENOS TEMPO PARA PRODUZIR CADA VEZ MAIS RIQUEZA, COM cada vez menor PARTICIPAÇÃO da força de trabalho NO PROCESSO PRODUTIVO E, AO MESMO TEMPO, CRIANDO AS CONDIÇÕES PARA ATENDER A TODAS AS NECESSIDADES SOCIAIS;

-OU SEJA, O CAPITALISMO, AO DESENVOLVER CIENTÍFICA E TECNOLOGICAMENTE AS FORÇAS PRODUTIVAS E CRIAR AS CONDIÇÕES DE ATENDER A TODAS AS NECESSIDADES SOCIAIS, TORNA cada vez menos necessária a presença do TRABALHO HUMANO NO PROCESSO PRODUTIVO, mas ao fazer isso torna cada vez mais anacrônica a EXPLORAÇÃO DESSE TRABALHO;

-o capitalismo, de um fator de desenvolvimento das forças produtivas, torna-se um crescente peso, um crescente obstáculo (pensar no custo social das guerras, da segurança pública para defender a propriedade, dos desastre ambientais, da miséria social etc.;

-chegando neste ponto, há uma disjuntiva:

1/ou se mantém e se aprofunda a constituição da humanidade, eliminando a propriedade privada dos meios de produção, do controle sobre as forças produtivas, reconhecendo que A EXPLORAÇÃO tornou-se historicamente ANACRONICA;

2/ou se coloca em crescente risco a sobrevivência da sociedade humana, mantendo a propriedade privada das forças produtivas e empurrando a sociedade para a barbária e para a crise permanente.

 

VEJAMO ISTO NO DETALHE:

 

1/EXPLORAR SIGNIFICA SE APROPRIAR DO VALOR A MAIS DO PRODUTO CRIADO PELOS PRODUTORES DIRETOS;

 

2/ESSA APROPRIAÇÃO DE PARTE DO VALOR CRIADO NA PRODUÇAO TEM UM CUSTO QUE OS EXPROPRIADORES PRECISAM COBRIR, SEJA SOB A FORMA DE CUSTOS NECESSÁRIOS PARA REPRODUZIR A FORÇA PRODUTIVA, SEJA SOB A FORMA DE CUSTOS NECESSÁRIOS PARA MANTER ESTA FORÇA PRODUTIVA SOB CONTROLE, SEJA OS CUSTOS IMPOSTOS PELOS EFEITOS COLATERAIS DO PROCESSO;

3/ALÉM DISSO, HÁ UM PROBLEMA CRESCENTE DE REALIZAÇÃO, UMA CONTRADIÇÃO ENTRE A CAPACIDADE DE PRODUÇÃO E CAPACIDADE DE ABSORÇÃO (que, como explicamos, não existiria numa sociedade produtora de valores de uso, planificada, mas existe no capitalismo);

 

4/O QUE FAZ O CAPITALISMO?

-PRODUÇÃO CADA VEZ MAIS COLETIVA

-PRODUTIVIDADE CADA VEZ MAIOR PARA ELEVAR A MAIS VALIA RELATIVA E REDUZIR PREÇOS, PARA DISPUTAR COM VANTAGEM O MERCADO EM QUE A DISTRIBUIÇÃO DOS LUCROS SE REALIZA

 

5/ A CONTRADIÇÃO ENTRE A ELEVAÇÃO DA CAPACIDADE PRODUTIVA E A CRESCENTE REDUÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO CRIA UMA SITUAÇÃO DE crescente crise HUMANITÁRIA;

 

6/VISTA DE CONJUNTO, A SITUAÇÃO PODE SER RESOLVIDA RESOLVENDO O ANTAGONISMO (hxh) ATRAVÉS DA PROPRIEDADE COLETIVA DOS MEIOS DE PRODUÇÃO, CUJO PRESSUPOSTO MATERIAL FOI CRIADO PELO PRÓPRIO CAPITALISMO, A SABER, A PRODUÇÃO COLETIVA;

 

7/SE ISTO OCORER, ESTARIAM RESOLVIDOS OS CONFLITOS QUE MARCARAM A PRÉHISTORIA DA HUMANIDADE...

 

“Con esta formación social se cierra, pues, la prehistoria de la sociedad humana”.

 

Evidente que isto é uma das possibilidades. Outra, por exemplo, é a “destruição das classes em luta”.


Evidente, também, que o fim da pré-história da humanidade NÃO é o surgimento de uma sociedade sem antagonismos de nenhum tipo. Que antagonismos surgirão? Assunto para as gerações futuras.

 

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VEJAMOS A SEGUIR O QUE MARX FALA DE ENGELS NO “PREFÁCIO” DA CONTRIBUIÇÃO:

 

“Federico Engels, con quien mantuve un constante intercambio escrito de ideas desde la publicación de su genial esbozo sobre la crítica de las categorías económicas (en los Deutsch-Französische Jahrbücher), había llegado por una vía distinta (cf. su libro La situación de la clase obrera en Inglaterra) al mismo resultado que yo, y cuando, en la primavera de 1845, se instaló asimismo en Bruselas, acordamos formular nuestra concepción como antítesis de la concepción ideológica de la filosofía alemana, en realidad saldar las cuentas con nuestra conciencia filosófica anterior. Este propósito se realizó bajo la forma de una crítica de la filosofía posthegeliana”.

 

Marx está se referindo, como é óbvio, ao livro A IDEOLOGIA ALEMÃ, que será publicado pelos soviéticos, nos anos 1930.

 

“El manuscrito, dos gruesos volúmenes en octavo, se encontraba hacía ya mucho tiempo en manos del editor en Westfalia, cuando nos enteramos de que algunas circunstancias nuevas impedían su publicación. Abandonamos el manuscrito a la crítica roedora de los ratones con tanto mayor gusto por cuanto habíamos alcanzado nuestra meta principal: dilucidar nuestras propias ideas”.

 

OUTROS 4 TEXTOS QUE ELE CITA A SEGUIR E QUE DEVEM SER LIDOS:

 

“De los trabajos sueltos en que presentamos por aquel entonces al público uno u otro aspecto de nuestros puntos de vista, mencionaré solamente el Manifiesto del Partido Comunista,  que Engels y yo escribimos en común, y el  Discurso sobre el librecambio, publicado por mí. Los puntos decisivos de nuestra concepción fueron delineados por primera vez científicamente, si bien bajo una forma polémica, en mi trabajo Miseria de la filosofía, publicado en 1847 y dirigido contra Proudhon. La revolución de febrero y, como consecuencia, mi traslado forzoso de Bélgica interrumpieron la publicación de un ensayo sobre el  Trabajo asalariado, en el que recogía las conferencias que había dado sobre este particular en la Asociación Obrera Alemana de Bruselas”.

 

Vale repisar que ele retoma os estudos em 1850, em primeiro lugar, devido a circunstâncias políticas: a derrota da revolução e o exílio

Os estudos constituam, neste contexto, uma tentativa de compreender as causas de fundo da derrota; e uma tentativa de compreender quando e como se produziriam novas revoluções.

A expectativa é que isso ocorreria logo. Esta expectativa – que se demonstraria demasiado otimista, para dizer o mínimo - ajuda a entender a intensidade com que ele se jogou ao trabalho, contra quase tudo e contra quase todos, contando com pouca ajuda (Engels, principalmente) e sofrendo todo tipo de restrições materiais (pobreza, morte de filhos etc.).

Por outro lado, a medida que o tempo passa, ocorre um duplo processo que retarda a conclusão do trabalho teórico:

-por um lado, quanto mais se estuda, mais se descobre quão pouco se conhece. Para uma mente como a de Marx, isso levava a estudar cada vez  mais e a ser cada vez mais criterioso na publicação de suas descobertas. Exemplo: cerca de 9 anos se passaram entre 1850 e a publicação da Contribuição; depois cerca de oito anos, entre a Contribuição e a publicação de O Capital; e depois cerca de 16 anos entre a publicação do volume I de O Capital e o  falecimento de Marx, sem que nesse intervalo fossem concluídos os demais tomos...

-por outro lado, o passar do tempo foi desfazendo o otimismo acerca da eclosão breve de uma nova revolução, o que reduziu o acicate, a pressão no sentido de concluir rapidamente as pesquisas teóricas;

-aos fatores acima, agregue-se o desgaste físico e emocional.

 

SIGAMOS A LEITURA:

 

“La publicación de la Neue Rheinische ZeitunG, (1848-1849) y los sucesos posteriores interrumpieron mis estudios económicos, que sólo pude reanudar en 1850 en Londres. La prodigiosa documentación sobre la historia de la Economía política acumulada en el Museo Británico, el puesto tan cómodo que Londres ofrece para la observación de la sociedad burguesa y, por último, la nueva fase de desarrollo en que parecía entrar ésta con el descubrimiento del oro de California y Australia, me indujeron a volver a empezar desde el principio, estudiando a fondo, con un espíritu crítico, los nuevos materiales”.

 

-sobre o trecho acima, vale refletir sobre o impacto que teve na obra de Marx, o fato de tomar a Grã Bretanha como ponto de observação (e não os Estados Unidos). Especificamente vale a pena refletir sobre a questão da terra e sua relação com o desenvolvimento do capitalismo, em ambos países;

-por outro lado, lembremos que O Capital não é uma obra histórica no sentido VULGAR da palavra (a esse respeito, ler a resenha escrita por Engels, acerca da Contribuição)

 

SIGAMOS A LEITURA:

“Esos estudios me condujeron, en parte por sí mismos, a cuestiones aparentemente alejadas de mi tema y en las que debí detenerme durante un tiempo más o menos prolongado. Pero lo que sobre todo mermaba el tiempo de que disponía era la imperiosa necesidad de ganar mi sustento.”

“Mi colaboración desde hace ya ocho años en el primer periódico angloamericano, el New York Daily Tribune,  implicó una fragmentación extraordinaria de mis estudios, ya que me dedico a escribir para la prensa correspondencias propiamente dichas sólo a título de excepción. Sin embargo, los artículos sobre los acontecimientos económicos descollantes en Inglaterra y el continente formaban una parte tan considerable de mi colaboración que me veía constreñido a familiarizarme con detalles prácticos no pertenecientes al dominio de la propia ciencia de la Economía política”.

“Este bosquejo sobre el curso de mis estudios en el terreno de la Economía política sólo tiende a mostrar que mis puntos de vista, júzguese de ellos como se juzgue y por poco que sean conformes a los prejuicios interesados de las clases dominantes, son el fruto de largos años y de concienzuda investigación. Y en el umbral de la ciencia, como en la entrada del infierno, debiera exponerse esta consigna:

"Qui si convien lasciare ogni sospetto;

Ogni viltá convien che qui sia morta".

Carlos Marx

Londres, enero de 1859  

 

Comentários finais:

 

1/pretensão científica, no ótimo sentido desta palavra;

2/as obras do Marx, O Capital em particular, é uma obra culta de uma pessoa culta, que fazia questão de escrever de forma “literária” e repleta de referências;

3/uma obra escrita em outra época histórica, diferente da nossa em vários aspectos, motivo pelo qual é preciso o tempo todo evitar o anacronismo;

4/uma obra escrita em alemão e que vamos estudar em português, portanto há que saber que existe a “traição da tradução”.

Na próxima aula, começamos com o capitulo 1, sobre a mercadoria.

 

 

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