Boa noite a todos.
Boa noite a
todas.
Boa noite a
quem aqui na sala zoom.
Boa noite a
quem está nos acompanhando on-line através do youtube.
Cumprimento,
também, a quem venha nos assistir noutro momento.
Meu nome é
Valter Pomar.
Sou professor
de relações internacionais na Universidade Federal do ABC.
E faço parte
da equipe de professores voluntários da Escola Latinoamericana de História e
Política, a ELAHP.
Hoje vamos dar
início ao curso de “Leitura dirigida de O Capital”.
Este curso está
planejado para durar 16 aulas, toda sexta-feira, das 19h as 21h.
As duas
primeiras aulas, hoje 14 de agosto e semana que vem 21 de agosto, são aulas
introdutórias.
Hoje faremos
uma introdução, intitulada “capitalismo, história e teorias: por que estudar O
Capital? A história da elaboração de O Capital”.
Na semana que
vem, 21 de agosto sexta, falaremos da obra Contribuição à
Crítica da Economia Política.
E partir de 28 de agosto e até o dia 27 de novembro, discutiremos volume I de O
Capital, capítulo por capítulo.
O método será sempre
o mesmo: eu farei uma descrição do conteúdo do capítulo. Havendo tempo,
responderei perguntas aqui mesmo. Não havendo tempo, responderei perguntas
feitas poremail.
O que vocês devem
fazer? Ler os capítulos antes, acompanhar as aulas e, se possível, ler os capítulos
depois. Evidentemente, quem perder a aula ao vivo, poderá assistir posteriormente.
Não vou tomar nosso
tempo lendo a programação dia a dia, pois isto vocês têm disponível no site da
Elahp.
De toda forma, nosso
objetivo, portanto, é chegar no dia 27 de novembro tendo lido todo o volume I
de O Capital.
Ano que vem, repetiremos
o curso, mas agora fazendo a leitura do volume II e do volume III. E,
futuramente, abordaremos outras obras vinculadas a O Capital, como as
chamadas Teorias e os Grundrisse.
Isto posto, vamos
então dar início a aula “capitalismo, história
e teorias: por que estudar O Capital? A história da elaboração de
O Capital”.
Esta aula
introdutória é necessária, porque nós vamos estudar uma obra (O Capital)
que veio a luz em 1867 e que o autor retocou algumas vezes, nos anos seguintes.
Evidentemente, desde então muita água passou por debaixo da ponte. Por um lado,
o próprio capitalismo se transformou. Por outro lado, o estudo e a análise
crítica do capitalismo também evoluíram.
Por isso é
importante, em primeiro lugar, situarmos em que momento --da história do capitalismo--
O Capital veio a luz e em que momento da história estamos nós, agora,
ao estudar O Capital.
Em segundo
lugar, é importante situarmos quais as interpretações havia, acerca do capitalismo,
no momento em que O Capital é gestado.
Finalmente, em
terceiro lugar, vamos falar da história da própria obra O capital,
até o momento em que ela veio à luz. A história posterior, ficará para os módulos
seguintes deste curso.
A história do capitalismo
Para citar um
autor: “Se pensarmos na vida há 10 mil anos, veremos que os seres humanos
viviam em comunidades mais ou menos autóctones, do chamado paleolítico
superior. Eles utilizavam instrumentos de pedra (núcleo e lascas) para trabalhar
a madeira e os ossos, e criar instrumentos úteis para a caça, a pesca e a
coleta de frutos. Essas comunidades tinham poucos contatos entre si e, quando
tinham era pela disputa dos campos de caça e das áreas de pesca. Várias dessas
comunidades humanas praticavam o canibalismo como forma de alimentação. Portanto,
as técnicas eram extremamente atrasadas, embora tivessem produzido o que os
historiadores chamam de “culturas”, a exemplo da Abbevilense, Chelense etc.
Restos dessas culturas foram encontradas na África, Índia, China e Europa. As
descrições sobre o Brasil na época do descobrimento marítimo indicam que algumas
comunidades indígenas aqui presentes ainda se encontravam nesse período
histórico, comprovando um desenvolvimento humano extremamente desigual”.
Essa realidade
se alterou profundamente ao longo da história, especialmente nos últimos 200
anos, principalmente depois das guerras mundiais do século XX.
Desde então, a
produtividade deu imensos saltos e cresceu de forma cada vez mais veloz, ao
tempo que se concentrou brutalmente: algumas nações e alguns setores sociais
dominam tecnologia de ponta, outras estão (comparativamente) décadas atrás.
Esse período
de crescimento intenso e veloz da produtividade não por acaso coincide com uma
mudança nas relações sociais: é a época em que se expande pelo mundo e se torna
dominante o capitalismo.
Como é evidente,
não existe um significado consensual para a palavra capitalismo. Diferentes
autores, diferentes correntes teóricas e diferentes setores sociais atribuem a
esta palavra um sentido diferente.
Há três
sentidos especialmente comuns: o que vincula o capitalismo à busca do lucro; o
que vincula o capitalismo ao comércio; e o que vincula o capitalismo à
determinada maneira de produzir riquezas.
Para os
defensores daqueles dois primeiros sentidos, o capitalismo é um fenômeno muito
antigo, em alguns casos, presente desde o início da organização dos seres
humanos em sociedade.
Já para os
defensores do terceiro sentido, o capitalismo é um fenômeno relativamente
recente.
Como nenhum de
nós viverá mais de 100 anos, o que eu vou falar pode parecer estranho. Mas
pensando em escala história, o capitalismo, mesmo se contarmos a partir da
chamada acumulação primitiva, é um modo de produção jovem. O escravismo e o feudalismo
duraram muito mais.
A boa notícia
é que isso não quer dizer que o capitalismo vá durar ainda mais, pois embora
mais jovem, o capitalismo também se transforma, amadurece e envelhece mais
rapidamente. Isto se deve a algo que já explicamos antes: a velocidade com que
se altera o conhecimento, a ciência, a técnica, a tecnologia, as forças produtivas
enfim, que por sua vez repercutem nas relações sociais, criando as condições
para que ocorram revoluções que superem o capitalismo.
Não há
consenso, entre os estudiosos, acerca do passado distante das relações capitalistas
de produção. Mas há uma grande coincidência de opiniões acerca de alguns marcos
de sua história: o século 14 (citando: “que assistiu à expulsão massiva de
camponeses ingleses e sua transformação em massas sem instrumentos de trabalho
e sem trabalho, para dar lugar à criação de ovelhas e à produção de lã para as
manufaturas holandesas de tecidos, e uma forte expansão dos centros comerciais
urbanos e das rotas comerciais terrestres e marítimas”); os séculos 15 e 16 (a expansão colonial, que
paradoxalmente aprofundou as contradições do feudalismo e contribuiu para a
chamada acumulação primitiva das condições
necessárias ao capitalismo); o século 17 (a revolução inglesa); o século 18 (a
revolução industrial, a guerra de independência dos EUA e a revolução francesa);
o século 19 (a consolidação na Europa e a expansão para o mundo), o século 20 (a
primeira grande crise sistêmica e as primeiras tentativas de superação da ordem
capitalista).
Como já temos
aí pelo uns 700 anos de história, é importante fazer uma periodização, que nos
permita ter uma visão de conjunto e, também, situar em que momento Karl Marx redige
o livro que será nosso objeto de estudo.
De saída,
podemos estabelecer dois grandes momentos, um de acumulação primitiva e outro
de acumulação capitalista. Entre estes dois momentos, aconteceram as chamadas
revoluções burguesas clássicas.
Qual a
diferença entre estas duas formas de acumulação? Na primeira delas, se acumulam
as pré-condições para que o capitalismo possa vir a existir. Na segunda delas,
a acumulação se processa de maneira capitalista.
Nos dias de
hoje, o capitalista acumula explorando a força de trabalho assalariada. Mas nos
séculos 14, 15, 16 e 17, o assalariamento era residual; e as riquezas eram acumuladas
principalmente através da exploração de sociedades pré-capitalistas.
Portanto,
naquela época, a acumulação era “primitiva” em duplo sentido: 1/porque
acumulada de forma pré-capitalista e 2/porque dependia no fundamental de mecanismos
extra-econômicos violentos (como as conquistas, os saques, a escravização e a
expulsão dos camponeses).
Este é um
aspecto fundamental: a violência foi um fator decisivo na criação de uma força
de trabalho livre, livre de qualquer propriedade, livre para ser vendida ao
capitalista. Assim como foi decisiva para capturar, transportar e obrigar a
trabalhar milhões de escravos, especialmente africanos, forçados a contribuir
para a acumulação primitiva de capital.
No caso dos
trabalhadores “livres”, a violência se fazia presente tanto na expulsão dos
trabalhadores das terras onde viviam e produziam quanto no obrigar os
trabalhadores a vender sua força de trabalho. Como trabalhar longuíssimas jornadas
em troca de uma paga de fome não era nem usual, nem propriamente um bom negócio
para os produtores, era comum o uso da violência – inclusive de
fábricas-prisões – para obrigar os trabalhadores a produzir nas condições,
jornadas e salários oferecidos.
Na “acumulação
primitiva”, portanto, se constituem as duas condições fundamentais para que o
capitalismo possa existir: certa quantidade de riqueza em busca de aplicação
rentável e certa quantidade de força de trabalho livre para ser contratada.
A etapa de
acumulação primitiva começou exatamente quando? Este é um debate que consome os
especialistas, embora ninguém duvide que nós da América Latina, especialmente
do Brasil, demos forte colaboração para o sucesso da empreitada.
A etapa de
acumulação primitiva terminou quando?
Num certo
sentido, a acumulação primitiva não acabou. Até hoje o capitalismo segue
acumulando riqueza através de mecanismos extra-econômicos violentos (como a corrupção
e o saque de países dominados através de guerras).
Mas a acumulação
através de mecanismos extra-econômicos, embora siga existindo e vá continuar
existindo enquanto houver capitalismo, faz bastante tempo que não é a principal
fonte de acumulação de riqueza por parte dos capitalistas.
A forma
normal, econômica, de acumulação de capital, surge quando o capitalismo cria um
mecanismo próprio para extrair a mais valia dos trabalhadores.
Se olharmos
não apenas para a Inglaterra, mas sim para o conjunto dos países e regiões em
que vinha ocorrendo a acumulação primitiva, podemos dizer que ela se encerra
quando atingem certa maturação dois fenômenos (não necessariamente ao mesmo
tempo nem na ordem indicada a seguir):
a) quando a
classe dos nascentes capitalistas se converte em classe dirigente na sociedade,
afastando de forma revolucionária e/ou fazendo uma composição vantajosa com a antiga
classe dominante de senhores feudais;
b) quando os
capitalistas se convertem em dirigentes na economia, derrotando o controle que
os artesãos ainda tinham sobre a produção, o que foi feito através da criação e
generalização de um processo baseado no uso de máquinas e de força-motriz de
natureza mecânica, convertendo os trabalhadores em operadores de instrumentos
de propriedade dos capitalistas, bem como submetidos a métodos e ritmos
definidos pelos capitalistas.
O Estado
absolutista foi essencial para a acumulação primitiva: sem ele não teriam
havido as navegações, as colônias não teriam se estabelecido e o escravismo não
teria sido imposto como foi.
De forma
similar, as diferentes formas assumidas pelo Estado burguês foram (e seguem
sendo, mesmo em tempos de neoliberalismo) essenciais para garantir as condições
necessárias para a acumulação capitalista propriamente dita.
Sem o Estado,
os luddistas e as revoltas pelo “comércio justo” teriam impedido ou
obstaculizado fortemente os métodos pelos quais ocorre a acumulação de
capitais, depois que se superou a acumulação primitiva e antes que aquela acumulação
capitalista chegasse à maturidade.
E quais são
estes métodos?
Basicamente a
prolongação da jornada de trabalho, a redução dos salários e, especialmente, a
ampliação da produtividade através da introdução de máquinas, leia-se, através
da substituição de trabalho vivo (aquele oferecido diretamente por nós,
trabalhadores) por trabalho morto (cristalizado em máquinas).
Claro que para
muitos estudiosos, a produção não é o epicentro do processo de acumulação de
capitais. E, para muitos outros, a exploração da força de trabalho pode até
existir, mas ela não constituiria a base dos lucros capitalistas.
É fácil
entender o pano de fundo da polêmica: se admitirmos que a acumulação de capital
em geral e os lucros capitalistas em particular têm sua origem na exploração da
força de trabalho, a conclusão é que o capitalismo se baseia no trabalho não
pago, na expropriação dos verdadeiros produtores de riqueza, na apropriação da
chamada mais-valia.
Ou seja: no
limite, os capitalistas são parasitas sociais (ou, melhor dizendo, vão se
convertendo, ao longo da história, enquanto classe, em parasitas sociais).
Hoje, por exemplo, grande parte da classe capitalista não contribui mais para a
produção nem para o progresso social. Seu desaparecimento enquanto classe não
causaria nenhum tipo de transtorno ou carência social.
Constatar e
reconhecer isto tem um efeito desmoralizante sobre boa parte da “narrativa” que
apresenta os capitalistas como “inovadores”, “classes produtoras” e “agentes do
progresso”.
Pode haver
muita polêmica a respeito da existência da mais-valia.
Mas, para boa
parte da classe trabalhadora, a experiência confirma intuitivamente que a
jornada de trabalho pode ser dividida em duas fases. Na primeira fase, o
trabalhador produz uma riqueza equivalente ao seu salário. Na segunda fase, o
trabalhador produz uma riqueza que será apropriada pelo capitalista, sem nenhum
tipo de remuneração.
A revolução
industrial – seja a primeira (século 18), seja as que vieram depois – consiste
exatamente em um conjunto de transformações através das quais o capitalismo
reorganiza a produção de mercadorias. E o aspecto central dessa reorganização
está, exatamente, nas medidas que ampliam a produtividade do trabalho.
Ao ampliar a
produtividade do trabalho, o que o capitalista está buscando é ampliar a
extensão daquela parte não remunerada da jornada de trabalho.
Ampliar a
produtividade faz com que, num mesmo espaço de tempo, um trabalhador produza
uma quantidade de riqueza maior. Mantida a mesma jornada de trabalho e mantido
o mesmo salário, fica maior a riqueza que o trabalhador produz sem receber nada
em troca.
Desse processo
advêm diversas implicações.
No longo
prazo, crescem a produtividade e a desigualdade.
No curto e
médio prazo, acirra o conflito entre os capitalistas (concorrência no mercado) e
acirra conflito dos capitalistas contra os trabalhadores.
Estes lutam
por recompor sua participação na riqueza, seja através de maiores salários,
seja via redução da jornada, e lutam também por reconquistar algum nível de
controle sobre o processo de produção.
No caso dos capitalistas,
aqueles que não conseguem ampliar sua produtividade perdem a competição.
Com isto, o
capital fica mais concentrado (quantidades cada vez maiores de capital) e
também mais centralizado (controlado por menor número de capitalistas). Esta é
a dinâmica que vai desembocar nos monopólios e no capital financeiro.
Quanto maior é
o capital acumulado, mais difícil torna-se manter a mesma taxa de lucro obtida
antes. A tendência à queda na taxa de lucro gera vários desdobramentos, entre
os quais um processo de exportação de capitais: estes saem mundo afora, a busca
de salários e condições mais lucrativas. E não saem sozinhos: os capitais levam
e são levados por seus respectivos Estados para “passear”, dividindo então o
mundo em “áreas de influência” das grandes potências capitalistas.
O
fortalecimento do capital traz consigo o fortalecimento do Estado.
Aliás, não devemos
confundir o discurso do Estado mínimo (feito pelos capitalistas o tempo todo,
sob diferentes formas) com o que de fato ocorreu ao longo da história.
O tamanho, o
poder e o peso econômico do Estado, hoje, é muito maior do que era há 200 anos.
Quando os neoliberais
falam em Estado mínimo, eles estão na verdade propondo “menos políticas
sociais, menos salários indiretos, menos proteção para os trabalhadores”. Não estão
falando de menos Estado para eles, para os capitalistas, para as necessidades
da reprodução do capital.
Por outro lado,
a presença do “capitalismo de Estado” é um sinal da maturidade do capitalismo,
do nível de complexidade e de desenvolvimento que o capitalismo já atingiu. E uma
empresa capitalista que funciona sem um dono (ou vários donos), é como se fora propriedade
coletiva do capital. E a propriedade coletiva do capital pode facilmente
transformar-se em propriedade coletiva do conjunto da sociedade.
Quando aquele
russo chamado Ulianov dizia que o imperialismo era a “etapa superior do
capitalismo”, ele estava exatamente apontando que a exportação de capitais, o
capital financeiro, os monopólios (e também o capitalismo de Estado) eram
indícios claros da maturação do capitalismo.
Maturação e
senilidade, pois fica cada vez mais claro que, sem uma crescente intervenção do
Estado (leia-se, sem o crescente recurso a mecanismos extraeconômicos), o
capitalismo não consegue sobreviver.
A expansão
imperialista resultou na Primeira e na Segunda Guerra, teve prosseguimento
durante a Guerra Fria e chegou ao seu ápice após a dissolução da União
Soviética.
Independentemente
de como avaliemos o tipo de sociedade que existe na China, no Vietnã e em Cuba,
está claro que atualmente estas três sociedades estão profundamente integradas
na economia capitalista. Desde 1991, as relações capitalistas de produção são
mais dominantes do que nunca foram na história.
Aqui chegados,
vejamos agora em que momento desta história o cidadão Karl Marx começou a
elaborar o livro O Capital? E que capitalismo ele tinha diante (e
atrás) dele?
Quando, na
Europa Ocidental (região do mundo onde o capitalismo nasceu), a acumulação
propriamente capitalista tornara-se predominante (1750/1850, sempre lembrando
que estas datas são apenas pontos de referência, e não o ponto preciso em que
os processos começam ou terminam).
E a partir de
então (1850) o capitalismo vive um momento de expansão que vai prosseguir até por
volta dos anos 1890, quando o capitalismo de tipo “concorrencial” enfrenta uma
grande crise, que vai ser o ponto de partida de uma nova fase do capitalismo,
aquilo que chamamos de imperialismo.
A essa altura,
Marx (em 1883) e Engels (em 1895) já estavam se despedindo de nós.
Vale lembrar
que o capitalismo não surgiu ao mesmo tempo, em todos os pontos do mundo. O
capitalismo é um “produto de exportação” da Europa Ocidental para o restante do
planeta.
Nos locais e
nos tempos em que surgiu, a empresa capitalista típica era (para padrões
modernos) de pequeno porte. E a competição capitalista típica era a “livre
concorrência”.
Pouco a pouco,
algumas empresas foram se tornando mais poderosas, até que surgiram as grandes
empresas, e estas se fundiram com os bancos, dando origem ao capital
monopolista e financeiro. E mais adiante, estatal. A livre competição foi
substituída pelos mercados controlados por poucas empresas vendedoras e
compradoras (oligopólios e oligopsônios).
No resto do
mundo, não foi essa a trajetória seguida pelo capitalismo: ali, já na fase
concorrencial, mas principalmente na fase monopolista, o capitalismo chegou
como produto de exportação, trazido a partir de fora.
Primeiro, sob
a forma de mercadorias vendidas mais baratas do que a produção nacional.
Depois, sob a forma de capitais à busca de investimentos mais lucrativos do que
os existentes em seus países de origem. E a condição básica para exportar
capitais é poder repatriar os lucros. O que impõe controlar os mercados e
afastar os concorrentes. O que conduz à retomada e aprofundamento dos impérios
pré-existentes e a constituição de novos, ou seja, a dominação colonial e as
guerras entre Estados por domínios, caminhos e áreas de influência.
Ou seja: a
existência de colônias foi importante na fase da acumulação primitiva de capitais
e voltou a ser importante na fase monopolista. Tão importante que, quando o capitalismo
entrou nessa fase de exportação de capitais, vários estudiosos aceitaram
denominá-la de “imperialismo”.
O nome pode
gerar certa confusão, pois passa a impressão de que a essência do fenômeno está
na existência de um império colonial, quando na verdade a essência está na
exportação de capitais.
Ou seja:
quando o capitalismo se torna maduro, muito forte, muito poderoso, ele produz mais
riquezas do que é capaz de reinvestir lucrativamente. Chegado a esse momento,
ele é forçado a exportar capitais. O imperialismo é uma decorrência disto, não
a causa.
Mas o nome
também expressa uma característica essencial do fenômeno, que é o controle
sobre outras regiões do mundo.
Um exemplo
disso: os Estados Unidos, que liderou a primeira revolução anticolonial vitoriosa
(1776), atingiu suas dimensões atuais através da mistura entre comércio e
conquista de territórios indígenas, mexicanos, franceses e russos. E também
territórios ocupados por habitantes dos próprios Estados Unidos: este foi um
dos sentidos da chamada Guerra de Secessão (1861-1865), violenta guerra civil
que foi essencial para firmar os EUA como nação capitalista. Mais tarde,
tivemos a interferência nas guerras de independência das colônias espanholas do
Caribe (1898) para garantir o predomínio econômico e político dos EUA sobre
elas.
Desde então e
até hoje, os Estados Unidos, que teve ou têm poucas colônias formais
(Filipinas, Guam, Hawai e Porto Rico) e que tantas vezes defendeu o “livre
comércio” para assim disputar melhor os mercados das colônias e das metrópoles,
estes Estados Unidos que são hoje a principal nação capitalista do mundo,
também atua há algum tempo como se fosse um império mundial.
Isto posto e
voltando à periodização, a história do capitalismo pode ser esquematizada assim:
1/acumulação primitiva-acumulação capitalista-revoluções burguesas (1400-1849),
2/capitalismo predominantemente concorrencial (segunda metade do século 19), 3/capitalismo
monopolista-financeiro-imperialista-estatal (1900-2020).
Falemos um
pouco sobre esta última etapa, que Marx não chegou a conhecer.
De 1884
(conferência de Berlim) até 1945, os principais Estados capitalistas lutaram
para dividir e redividir o domínio sobre o mundo. Lutam entre si e lutam contra
Estados menores. Uma lista dos conflitos inclui: a Guerra Hispano-Americana,
considerada a primeira guerra imperialista, a partilha do Egito e da China, a
invasão japonesa da Manchúria, as crises do Marrocos e dos Balcãs, a formação
da Entente entre a Inglaterra e a França para enfrentar a expansão alemã, a
Guerra Russo-Japonesa; a Primeira Guerra Mundial, a intervenção militar
conjunta das potências contra a Revolução Russa, a desagregação do Império
Austro-Húngaro, a guerra franco-inglesa contra o Império Otomano, a Revolução
Turca; os ataques da Itália contra a Líbia e Etiópia, da Itália e da Alemanha contra
a Espanha Republicana, da Alemanha contra a Áustria e a Tchecoslováquia, do
Japão contra a China e o Sudeste Asiático, até desembocar na Segunda Guerra
Mundial.
Um dos
resultados desse longo período de conflitos foi a divisão do mundo em dois
polos: um capitaneado pelos Estados Unidos, outro pela União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas, fundada oficialmente em dezembro de 1922 por iniciativa
do regime nascido da Revolução Russa de 1917.
A existência
da URSS (e o que ela indicava acerca da radicalidade e da maturidade da luta
contra o capitalismo) alterou em alguma medida tanto a dinâmica da luta entre
os Estados quando alterou a dinâmica da luta entre capital e trabalho.
A Revolução
Russa de 1917, a crise de 1929, o protecionismo, a economia de comando surgida
para enfrentar as guerras mundiais, assim como a pressão exercida tanto pela
URSS quanto pelas classes trabalhadoras após o término da Segunda Guerra,
alteraram ritmos e formas da acumulação capitalista.
Pouco a pouco,
o Estado ganhou cada vez maior protagonismo, seja como fator contracíclico,
seja como agente econômico direto. Não se tratava apenas de organizar o
conflito intercapitalista, mas também de “organizar” o conflito entre capital e
trabalho.
Este segundo
aspecto ficou particularmente claro tanto no New Deal quanto na política
econômica do nazismo. Aparecerá, também, nos processos conduzidos pelo mexicano
Lazaro Cardenas e pelo brasileiro Getúlio Vargas. E, claro, em outras circunstâncias
históricas, na União Soviética.
A partir de
1945, ao conflito intercapitalista se agrega o conflito entre dois campos (EUA
e URSS). O papel protagonista do Estado, as conquistas sociais da classe
trabalhadora (ampliando possibilidades de consumo), as independências nacionais
e as políticas desenvolvimentistas da chamada periferia do mundo (ampliando as
possibilidades de investimento), bem como as necessidades e possibilidades da
reconstrução pós-Guerra, fizeram o capitalismo se desenvolver intensamente
entre 1945 e 1970.
Naquele período,
o capitalismo chegou a parecer compatível com a ampliação da democracia, do
bem-estar social, da soberania nacional e também com taxas de crescimento
ascendentes.
É também por
isto que se consolidam fenômenos como a conversão da socialdemocracia ao “estado
de bem-estar social” nos marcos do capitalismo; bem como o surgimento, no
interior do movimento comunista, de propostas de transformação gradual do
capitalismo em socialismo.
Mas, no início
de 1970, ocorre o previsível: o sucesso do capitalismo gerou superlucros, os
superlucros reinvestidos geram queda na rentabilidade, os capitais então
desinvestem, o crescimento para e retrocede, o capitalismo entra em crise.
Estes
fenômenos coincidiram com acontecimentos internacionais (as revoltas estudantis
de 1968, a luta pelas liberdades civis nos EUA, a guerra de libertação do povo
vietnamita, as guerrilhas latino-americanas, a Grande Revolução Cultural
Proletária na China) que pareciam indicar que o movimento socialista estava na
ofensiva.
Claro que
havia sinais indicando o contrário (como a repressão soviética contra a
Primavera de Praga, o massacre na Indonésia, os golpes de Estado, por exemplo,
no Chile).
Mas estes
sinais foram em geral subestimados: o reconhecimento de que o mundo estava em
disputa era acompanhado, na maioria dos casos, pela certeza de que estávamos
vencendo esta disputa.
Entretanto, a
crise do capitalismo nos anos 1970 não poderia ser resolvida da mesma forma
como foi em 1930. Uma nova guerra intercapitalista provavelmente favoreceria o
mundo socialista. Uma guerra contra o mundo socialista desembocaria, na melhor
das hipóteses (para os capitalistas), numa destruição mútua. Na pior das
hipóteses (para os capitalistas), poderia desembocar numa perigosa aliança
entre o socialismo, o pacifismo, o feminismo, o antirracismo e o ambientalismo.
Por estes e outros
motivos, o mundo capitalista foi fazendo um complexo “ajuste”, que incluiu:
1) uma nova
“revolução industrial”, com destaque para inovações na comunicação, eletrônica,
informática e cibernética, que ampliaram a exploração e o controle sobre a força
de trabalho mundial, que alguns anos depois seria ampliada pela inclusão dos
chineses e dos que viviam na URSS e no Leste Europeu;
2) uma nova
rodada de exportações de capitais e de financeirização, favorecida pelo fim do
padrão dólar-ouro adotado em 1944 nos acordos de Bretton Woods (uma moeda
internacional que tem a si mesma como lastro é funcional para a especulação);
3) um
aprofundamento da corrida armamentista, o que, além de dar vazão à parte dos
capitais acumulados, contribuiu para o colapso da URSS;
4) a difusão
da ideologia que hoje chamamos de neoliberalismo, criando um ambiente
crescentemente favorável às privatizações e às alterações nas políticas sociais
(o que também reduz os salários indiretos da classe trabalhadora).
Como todos
estes ajustes coincidiram e, em alguma medida, incluíram a retirada do Vietnã,
ficou para alguns a impressão de que estava ocorrendo uma derrota geral do
imperialismo e do capitalismo, quando na verdade estava em curso uma espécie de
“longa marcha” do lado de lá (Longa Marcha é o nome dado àquela famosa retirada
estratégica, onde os comunistas chineses mudaram de política e, com isso,
criaram as condições para a tomada do poder).
O fato é que entre
1975 e 1991 – como movimento político-social, tipo de sociedade e ideologia – o
socialismo não conseguiu mais avançar, nem conseguiu manter uma situação de
equilíbrio frente a este novo mundo capitalista.
Basta dizer
que a revolução iraniana de 1979, diferente de todas as demais revoluções
ocorridas desde 1917, não chegou nem mesmo a flertar com o socialismo.
Podemos dizer
que as diferentes tradições socialistas tiveram relativo êxito em reformar e/ou
derrotar o capitalismo existente até 1970; mas, frente ao capitalismo surgido a
partir de então, sofreram uma grande derrota, sendo obrigadas a fazer reformas
profundas na sua prática e no seu pensamento.
A tradição
social-democrata europeia, com o passar das décadas, se tornara totalmente
dependente do funcionamento do próprio capitalismo. Eram os impostos cobrados
que financiavam as políticas públicas de bem-estar; quando o crescimento
desabou, as políticas públicas foram crescentemente estranguladas.
A reação
imediata dos social-democratas europeus foi defender e adotar políticas de tipo
keynesiano. Mas esses remédios já não provocavam os efeitos desejados. A crise
continuou. A direita dizia que a culpa pela crise era das políticas
social-democratas de bem-estar social.
Depois da
ascensão dos neoliberais Reagan e Thatcher, os social-democratas europeus ainda
ganharam importantes eleições na Europa. Mas seus novos governos mudaram de
política: o giro social-liberal de Felipe Gonzalez, François Mitterrand e
Papandreau iniciou a conversão de grandes parcelas da social-democracia a um
ideário aparentado com o neoliberalismo. Tony Blair (primeiro ministro inglês
até 2007) e François Hollande (eleito presidente francês em 2012) são espécimes
mais atuais desta socialdemocracia social-liberal.
Já a tradição
comunista, mais exatamente sua versão soviética, tinha conseguido o prodígio de
industrializar um país atrasado, ao mesmo tempo em que ampliou sensivelmente o
nível de vida de sua população (em termos de habitação, educação, saúde,
cultura, transportes e alimentação).
Para atingir
estes objetivos, o socialismo soviético adotara um planejamento estatal extremamente
centralizado, combinado com políticas de pleno emprego e restrições ao
funcionamento do mercado. Além de recorrer a níveis de centralização política
que provocaram, desde então e até hoje, imensas discussões, críticas, repúdio e
horror, causando em alguns setores grandes danos à credibilidade do próprio
socialismo, especialmente quanto à pretensão de constituir um tipo de democracia
superior à existente no capitalismo.
Quando o campo
capitalista ampliou a corrida armamentista, especialmente com o governo Reagan,
a sociedade soviética foi colocada diante de uma enorme pressão. E quando o
capitalismo deu um salto tecnológico, a URSS não quis ou foi incapaz de fazer
as reformas que a República Popular da China decidiu perseguir desde 1978.
O resultado
foi que a URSS entrou num processo de estagnação crescente. Mikail Gorbachev, o
último secretário-geral do PCUS, tentou fazer as reformas (glasnost e perestroika)
a partir de 1986. Mas o ambiente interno e externo já havia deteriorado tanto
que as reformas aceleraram o colapso e, em 1991, advém a dissolução da União
Soviética.
Pouco antes e
logo depois, todos os países socialistas do Leste Europeu mudaram seus governos
e sua orientação econômico-social: é o caso da Alemanha Oriental (anexada em
outubro de 1990 pela Alemanha Ocidental), da Hungria, Romênia, Bulgária,
Tchecoslováquia, Iugoslávia, Polônia e Albânia. Processo similar ocorreria com
Angola, Moçambique e outros países africanos anteriormente alinhados à URSS. Do
antigo mundo socialista, apenas China, Vietnã, Coreia do Norte e Cuba continuam
até hoje governadas por partidos comunistas.
A debacle do
socialismo soviético e a conversão da socialdemocracia ao liberalismo, mais a
crise do desenvolvimentismo latino-americano e do nacionalismo africano,
compõem um quadro inegável de vitória do chamado capitalismo neoliberal.
Nos anos 1990,
os intelectuais vinculados ao capitalismo viviam em estado de júbilo: era segundo
alguns deles o “fim da história”, leia-se, a vitória definitiva do modelo de
política e de economia que eles defendiam. Os Estados Unidos agiam como poder
unilateral, sem pedir licença nem prestar contas a ninguém.
Foi talvez um
dos momentos mais difíceis para os socialistas em todo o mundo, pois não se
tratava apenas de uma vitória militar e política do capitalismo. Havia também
uma vitória ideológica, no sentido de que dezenas de milhões de pessoas que
antes eram socialistas tinham passado a duvidar ou até a abjurar suas
convicções, suas escolhas, sua prática e sua história.
Desde a crise
de 2008, contudo, o capitalismo vem mostrando todas as suas contradições. E o
marxismo voltou à moda. É nesse momento da história que estamos nós, agora, ao
estudar O Capital, obra escrita e sob a influência de outro
momento histórico: a fase final das revoluções burguesas e o esplendor do capitalismo
concorrencial.
A história da obra
E o que fez um
jovem intelectual converter-se, não em um advogado de sucesso, mas sim em perigoso
crítico do capitalismo?
Evidente que
há explicações estritamente individuais, mas é preciso lembrar um fator
coletivo, sem o qual O Capital não existiria.
Refiro-me ao
fato de que, dos momentos finais (1849) das revoluções burguesas até o final do
século XIX, o movimento da classe trabalhadora ganhou progressivamente uma
feição própria.
Uma das causas
disso foi a consolidação da grande indústria, que deu origem a uma classe
trabalhadora livre dos laços paternalistas característicos do artesanato. Com
maior ou menor intensidade, esse fenômeno atingiu especialmente a Inglaterra,
França, Alemanha, Estados Unidos, Japão e Rússia.
Esse período
(1848-1900) foi também de intensa luta política e ideológica, entre as
diferentes correntes políticas e ideológicas que disputavam corações e mentes
da classe trabalhadora, desde as viúvas do feudalismo, passando pelas burguesas,
até as autoproclamadas anticapitalistas.
Marx nasceu numa
cidade (Trier, ou Treveris) que foi um centro importante na época do Império
Romano, uma espécie de última fronteira entre a civilização greco-latina e a floresta
da barbárie teutônica. Depois a cidade perdeu importância relativa, mas na
época das guerras napoleônicas foi ocupada e converteu-se numa espécie de
fronteira entre a nascente civilização capitalista e o velho feudalismo.
Marx nasceu
nesse ambiente e filiou-se ao que havia de mais moderno, com destaque para os
intérpretes mais radicais do pensamento filosófico de Hegel. Posteriormente, já
trabalhando como jornalista da imprensa burguesa, Marx se veria obrigado a
tratar de problemas que o levarão a tomar contato com os economistas políticos
ingleses (como Ricardo e Adam Smith) e, também, com pensadores ainda mais
radicais, vinculados ao proletariado.
Dentre estes, havia
uma profusão de tendências, atendendo às vezes pelo apelido de seus líderes
(blanquistas, lassaleanos, proudhonianos), às vezes por um adjetivo que virou
nome próprio: trabalhistas, cooperativistas, anarquistas, populistas,
social-democratas, utópicos socialistas e comunistas
A maioria
destes diferentes grupos e tradições esteve unida apenas duas vezes: na
Associação Internacional dos Trabalhadores (1864-1874) e nos anos iniciais da
chamada Segunda Internacional (criada em 1889). No restante do tempo, as
diferentes famílias socialistas ora enfrentavam-se, ora uniam-se, de maneira
semelhante a como ocorre, hoje, com os diferentes partidos e tendências da
esquerda brasileira e mundial.
Observando de
agora, com a vantagem de olhar a “obra” já feita e desfeita várias vezes,
podemos apontar quais foram as correntes mais representativas do período que
vai de 1848 até 1917: o 1/sindicalismo, o 2/cooperativismo, o 3/populismo, o
4/anarquismo, o 5/socialdemocracia e o 6/sindicalismo.
O 1/sindicalismo
e o 2/cooperativismo têm uma longa história. Ambos correspondem às preocupações
e necessidades de amplas camadas da classe trabalhadora, que almejam viver
melhor, o que na maior parte do tempo não implica na vontade subjetiva ou na busca
prática por superar o capitalismo.
A intervenção
política e as definições ideológicas do sindicalismo e do cooperativismo
tendem, por isto, a ser mais limitadas, exceto nos momentos em que amplos
segmentos da classe trabalhadora radicalizam suas posições.
Quando isto
ocorre, há mutações como o “sindicalismo revolucionário” francês e o
cooperativismo russo, que em determinado momento converteu-se num instrumento
fundamental para organizar a produção e a distribuição no caos posterior à
tomada do poder pelos Sovietes em 1917.
Falemos agora
do 3/populismo russo: ele teve origem oficial por volta dos anos 1870 e assumiu
variadas formas, entre as quais as principais foram a “ida ao povo” (daí o termo
populismo), movimento que levou milhares de jovens a irem viver nas aldeias
para tentar politizar o campesinato; o terrorismo, ou seja, a tentativa
sistemática de destruir a monarquia russa através do assassinato do Czar e dos
nobres; e o Socialismo Revolucionário, expressão político-partidária dos
interesses de parcela do campesinato russo.
Um escritor
russo chamado Nikolai Tchernichevski escreveu um romance que retrata a
juventude populista russa: Que fazer?
Um desses
jovens populistas, Alexandre Ulyanov, acusado de tentar assassinar o Czar
russo, foi enforcado. Seu irmão, Vladimir Ulyanov, mais conhecido como Lenin,
não era populista. Mas uma de suas obras mais conhecidas chamou-se, exatamente,
Que fazer?
Os populistas
russos acreditavam que seria possível construir o socialismo sem passar pelo
capitalismo, tomando como ponto de apoio as tradições coletivistas do
campesinato russo.
O debate
inaugurado pelos populistas é muito importante, já que todas as revoluções
socialistas do século XX ocorreram em países em que o capitalismo estava pouco
desenvolvido. Portanto, países em que era fundamental 1/esclarecer a diferença
entre comunismo e socialismo, 2/estabelecer quanto de capitalismo poderia/deveria
existir na transição socialista, 3/afugentar a tentação de construir o
socialismo sem passar pelo capitalismo, assim como 4/afastar a ilusão de que o
desenvolvimento do capitalismo em si contribuiria com a luta futura pelo
socialismo.
Sobre alguns
destes assuntos, há uma interessante troca de cartas entre Carlos Marx e uma revolucionária
russa chamada Vera Zasulich (1849-1919).
Os populistas
tiveram muitos pontos de contato com o 4/anarquismo, caracterizado por opor-se
à participação dos trabalhadores nas instituições da democracia burguesa. Daí a
defesa da ação direta, da organização pela base e a visão negativa acerca do
Estado, inclusive de um Estado revolucionário.
A grande
figura do anarquismo foi Bakunin, e o anarquismo foi influente na Rússia até pelo
menos 1921. Depois seguiu sendo uma corrente influente em países de capitalismo
pouco desenvolvido, como a Espanha. O anarquismo não necessariamente é de
orientação socialista, seguindo presente em todo o mundo e apresentando-se de variadas
e divergentes maneiras.
Os anarquistas
fizeram parte da Associação Internacional dos Trabalhadores, onde travaram uma
dura disputa contra a orientação imprimida por Carlos Marx. Anos depois, os
anarquistas integrariam a Segunda Internacional, de onde foram expulsos pela
maioria 5/social-democrata.
O primeiro
partido nomeado social-democrata de que se tem notícia atuou na revolução
francesa de 1848, tendo sido muito criticado por Carlos Marx. Por este motivo,
tanto ele quanto Engels acharam péssima ideia dar o nome de “social-democrata”
ao partido criado em 1875, como resultado da fusão de duas correntes do
movimento operário alemão, uma vinculada ao próprio Marx e outra vinculada a
Lassale, importante liderança da época.
Apesar do
desgosto de Marx e Engels, o nome foi mantido e o Partido Social-Democrata Alemão
(PSDA) tornou-se o mais forte partido socialista da Europa. Até 1914, ser
marxista e ser socialista era praticamente sinônimo de socialdemocrata.
Embora
houvesse polêmicas duríssimas nos partidos socialdemocratas, foi preciso uma
guerra mundial para que as diferentes tendências existentes no interior da
socialdemocracia se cindissem de maneira definitiva.
A partir de
1918, parte minoritária da socialdemocracia rompeu, geralmente para formar
partidos comunistas. Entre eles, o mais famoso foi o Partido Comunista Russo,
nome adotado pelo antigo Partido Operário Social-Democrata Russo (fração
bolchevique), liderado por Vladimir Ilich Ulianov Lenin.
A maior parte
da socialdemocracia, entretanto, recusou o comunismo. Mas só nos anos 1950, o
Partido Social-Democrata Alemão abandonará formalmente o marxismo e o socialismo,
convertendo-se oficialmente em defensor de um capitalismo com estado de
bem-estar social. Nos anos 1990, parte do SPD adere a concepções
social-liberais. Então um setor minoritário rompe e ajuda a criar o Linke
(palavra que designa esquerda em alemão).
O 6/trabalhismo
(Labour), surgido do sindicalismo inglês, de certa forma antecipou em várias
décadas os dilemas e as opções feitas pela socialdemocracia: por um lado,
buscava defender os interesses da classe trabalhadora, por outro lado, assumia
compromissos profundos com o capitalismo.
No caso da
Inglaterra, como não existe nenhum outro partido de esquerda com influência de
massas, até hoje convivem no Labour correntes pró capitalistas (como a liderada
por Tony Blair) e correntes pró socialistas (como a liderada por Jeremy
Corbin). O mesmo ocorre em outros importantes partidos socialdemocratas e
socialistas na Europa.
No Brasil,
existe um Partido Trabalhista e um Partido Social-Democrata, mas apesar dos
nomes, as origens e a história são essencialmente diferentes. Os tucanos nunca
tiveram base na classe trabalhadora e nunca foram de esquerda. Já os
trabalhistas surgiram por iniciativa do governo Vargas em 1945 e, depois da
ditadura militar, foram colonizados pela direita.
O
sindicalismo, o cooperativismo, o populismo russo, o anarquismo, o trabalhismo
e a socialdemocracia foram as principais correntes do movimento socialista até
a Revolução Russa de 1917.
Em 1918, foi
formado o Partido Comunista Russo, em 1919 foi criada a Internacional Comunista
e a partir de então surgem partidos comunistas mundo afora, como na China em
1921 e no Brasil em 1922.
O comunismo desta
época tem três diferenças importantes frente às demais tradições: uma
vinculação com a Revolução Russa e com o Estado Soviético (e, posteriormente,
com outros “Estados socialistas”); uma presença mais expressiva na periferia do
mundo, onde o capitalismo se apresentava principalmente enquanto imperialismo;
e uma preocupação (nem sempre traduzida em prática) muito forte com a teoria,
mais exatamente com a difusão das ideias de Marx e de Lenin (e, posteriormente,
dos que eram considerados ou se pretendiam sucessores, como é o caso de Josef
Stalin e Leon Trotsky).
Os comunistas
participaram de todas as tentativas de transição socialista ocorridas durante o
século XX. Como nenhuma delas chegou ao fim, é preciso constatar que – mesmo
onde os comunistas estavam no governo e no poder – nunca existiu nenhuma
sociedade comunista pós-capitalista.
Por outro
lado, a partir da Revolução Russa de 1917, o socialismo deixou de ser apenas um
movimento político-social com variadas facetas e um conjunto diversificado de
tradições ideológicas. Passaram a existir sociedades que afirmavam estar
construindo o socialismo.
Desde o
início, este foi um tema polêmico. Como explicamos, a tradição populista russa
acreditava ser possível construir o socialismo mesmo onde o capitalismo ainda
não estava desenvolvido, tomando como ponto de apoio as tradições coletivistas
do campesinato.
A tradição
social-democrata russa discordava dos populistas e considerava que na Rússia
deveria ocorrer uma revolução burguesa. Na tradição social-democrata,
entretanto, conviviam duas posições: uma que acreditava que era preciso esperar
a revolução burguesa consolidar-se, para posteriormente lutar pelo socialismo;
e outra que acreditava que era possível “apressar” o processo, radicalizando a
revolução burguesa para que ela rapidamente se concluísse, dando passo à etapa
seguinte.
Esta segunda
posição era a defendida oficialmente pelo POSDR (bolchevique), que, em aliança
com parte dos socialistas revolucionários e parte dos anarquistas, tomou o
poder em outubro de 1917.
Entretanto,
contudo, todavia... os bolcheviques tinham consciência de que a Rússia era um
país muito atrasado, tanto do ponto de vista político quanto econômico. Para
enfrentar esse problema, eles contavam com que a Revolução Russa fosse a
primeira de várias revoluções, que países como a Alemanha se converteriam em
prazo mais ou menos curto em socialistas, e que estes países economicamente
mais avançados viriam em socorro da Rússia revolucionária.
Mas não foi
isso o que ocorreu. A URSS permaneceu isolada durante mais de 25 anos. A
segunda grande revolução ocorreria apenas em 1949, na China. Sem dúvida este isolamento
foi um dos motivos pelos quais o socialismo na Rússia foi realizado em
condições muito difíceis e apresentou várias características que muita gente
considera pouco agradáveis: o isolamento internacional, combinado ao atraso
econômico e político, num país devastado pela Guerra Mundial e por uma guerra
civil que durou de 1918 até 1921.
Agregam-se
outros dois problemas: a classe trabalhadora russa tivera pouca experiência com as liberdades democráticas e os comunistas
russos tinham ideias muito genéricas sobre o que poderia ser, efetivamente, o
socialismo.
Eles tinham
claro tratar-se de uma etapa de transição entre o capitalismo e o comunismo, em
que parcelas importantes dos meios de produção deveriam ser colocadas sob
controle social, em que o Estado teria de ser de novo tipo (não mais representando
a minoria contra a maioria, mas sim convertendo-se em instrumento da maioria
contra a minoria), em que a classe trabalhadora deveria se converter em
dominante.
Certas ou
erradas, essas concepções e outras do gênero foram se demonstrando absolutamente
insuficientes para enfrentar os problemas políticos e econômicos concretos da transição
socialista, fato que Lenin percebeu muito rapidamente, para seu mais absoluto
desespero. Desespero agravado pela carência de quadros políticos e técnicos
capacitados para conduzir o Estado. Na ausência deles, o governo revolucionário
foi sendo obrigado a aceitar a crescente contribuição de quadros do antigo
regime; e foi sendo obrigado a promover recém-chegados, que muito rapidamente reproduziam
e mimetizavam alguns dos piores defeitos da burocracia e da classe dominante
que antes governavam a Rússia.
Após a guerra
civil, o governo soviético se viu na contingência de adotar uma política
econômica – a NEP, Nova Política Econômica – que combinava a ação produtiva de capitalistas
e do mercado com a ação econômica estatal. A NEP sobreviveu até 1928.
Os últimos
meses de vida de Lenin foram gastos tentando achar uma maneira de contornar o
triplo problema do atraso político, do atraso econômico e do isolamento
internacional. Este último foi mais fácil de contornar, ao menos em parte, uma
vez que a Revolução Russa magnetizou amplos setores dos povos do “Oriente”, que
viam no bolchevismo uma espécie de desenvolvimentismo anti-imperialista.
Por outro
lado, desde o início o governo soviético dirigido pelos bolcheviques foi
criticado por outros setores do movimento socialista, dentro e fora da Rússia.
Na Alemanha, por exemplo, as críticas vieram tanto de Rosa Luxemburgo quanto de
Carlos Kautsky e Friedrich Ebert, que encabeçavam – respectivamente – a
“esquerda”, o “centro” e a “direita” do Partido Social-Democrata.
As maiores
críticas provieram das esquerdas dos países capitalistas mais desenvolvidos,
exatamente aquelas que por diversos motivos não conseguiram ou não tentaram ou não
tiveram a oportunidade de tomar o poder em seus próprios países. Já nos países
da periferia do mundo, o socialismo soviético, com todas as suas limitações e
problemas, era visto por amplos setores essencialmente como um aliado e como
uma alternativa.
Como se vê, o
socialismo soviético, sob qualquer uma de suas formas e em todas as suas
etapas, nunca foi unanimidade entre as diferentes correntes socialistas. O mesmo
ocorreu com as tentativas de construção do socialismo resultantes de revoluções
(ou tomadas de poder não revolucionárias) posteriores. E o mesmo ocorre hoje
com as experiências que seguem reivindicando serem socialistas: a China, o
Vietnã, Cuba e Coreia do Norte.
Guardadas as
devidas proporções, tampouco há unanimidade quanto às experiências de
“Bem-Estar Social” impulsionadas sob pressão, influência e/ou direção de
partidos social-democratas. Nem, é bom antecipar, há consenso no que diz
respeito às experiências de socialismo latino-americano deste início do século
XXI.
O que pode ser
dito a respeito destas experiências, de conjunto?
Que a sua
existência, com todos os seus defeitos e limitações, impôs derrotas e/ou
obrigou o capitalismo a fazer concessões no terreno das liberdades democráticas,
nos direitos das mulheres, na opressão colonial, nos direitos civis (por
exemplo, dos negros nos Estados Unidos), nos temas da guerra e da paz e
principalmente nos direitos econômico-sociais da classe trabalhadora.
Seja onde
assumiu formas revolucionárias, seja onde assumiu formas reformistas; seja onde
foi claramente anticapitalista, seja onde enfatizou o anti-imperialismo, o movimento
socialista foi durante todo o século XX um fator fundamental para impor limites
civilizatórios ao capitalismo.
Mesmo hoje, a
existência da República Popular China (criticada e apresentada por muitos
setores da esquerda como sendo, supostamente, um capitalismo brutal sob uma
ditadura de partido único) constitui um contrapeso à influência do
unilateralismo imperial dos Estados Unidos.
Talvez o maior
símbolo do caráter civilizatório do socialismo no século XX tenha sido o papel
da União Soviética na derrota da barbárie nazifascista. E a contraprova mais
conclusiva disto é o crescimento da barbárie (e o revival neofacista) depois
que o socialismo soviético e a socialdemocracia foram atropelados por suas
contradições internas e pela ofensiva neoliberal dos anos 1990.
As vitórias e
as derrotas do socialismo do século XX tanto desmentiram quanto confirmaram as
análises feitas por Carlos & Frederico, desde 1848 até sua morte (Marx em
1883, e Engels em 1895).
Uma pequena
história pode explicar isso melhor. Em 1917, um socialista italiano chamado
Antonio Gramsci não teve dúvida em afirmar que a Revolução Russa era uma
revolução contra O Capital. Com isso ele queria dizer que a
revolução, por um lado, derrotava os capitalistas, por outro lado, desmentia a
previsão de Marx de que as revoluções socialistas vitoriosas ocorreriam naqueles
países onde o capitalismo estivesse mais desenvolvido.
A rigor, Marx
fez várias e contraditórias afirmações a respeito. Mas uma coisa é certa: no “Prefácio”
da Contribuição à crítica da economia política ele disse e nunca
desdisse que “uma organização social nunca desaparece antes que se desenvolvam
todas as forças produtivas que ela é capaz de conter; nunca relações de
produção novas e superiores se lhe substituem antes que as condições materiais
de existência destas relações se produzam no próprio seio da velha sociedade. É
por isso que a humanidade só levanta os problemas que é capaz de resolver e assim,
numa observação atenta, descobrir-se-á que o próprio problema só surgiu quando
as condições materiais para o resolver já existiam ou estavam, pelo menos, em
vias de aparecer”.
Se prestarmos
atenção a este raciocínio, veremos que o colapso do socialismo soviético foi
uma dupla vingança: do Capital enquanto modo de produção e de O Capital,
principal obra de Marx. Por um lado, uma vitória dos capitalistas. Por outro
lado, o reconhecimento de que Marx estava certo ao apontar que a predominância
de “relações de produção novas e superiores” dependeria de “condições materiais
de existência”.
E aqui podemos
começar a concluir, falando da história da própria obra O capital,
até o momento em que ela vez a luz. A história posterior, ficará para os módulos
seguintes deste curso.
Como já disse
antes, Marx começou como um filósofo-jornalista, que foi empurrado a estudar os
economistas políticos burgueses e os pensadores radicais ligados ao proletariado.
Deste período inicial, há quatro textos muito importantes. Três destes textos
foram publicados pelo próprio Marx: Miséria da Filosofia, contra
Proudhon; o Manifesto do Partido Comunista, escrito por ele e Engels;
Trabalho assalariado e capital, a rigor uma palestra feita por
Marx. O quarto texto que citei anteriormente, como muito importante, não foi
publicado em vida de Marx, nem foi feito para publicar: são os chamados Manuscritos
econômico-filosoficos de 1844.
Buenas, aí vem
as revoluções de 1848-49 e digamos que Marx tem mais o que fazer. Depois, ele é
obrigado a se refugiar na Inglaterra e chega a conclusão de que é preciso
estudar a dinâmica econômica, seja para explicar a eclosão e derrota das
revoluções de 1848, seja para entender as condições do reaparecimento e possível
vitória futura de uma nova revolução.
É preciso ter
muito claro este propósito fundamental, político revolucionário, que levou Marx
a estudar. Não era acrescentar itens no currículo Lattes, nem progredir na carreira,
nem ganhar o sucedâneo acadêmico dos títulos nobiliárquicos.
Deste período,
entre 1850 e 1867, é que surge O Capital.
Marx leu e
glosou centenas e centenas de livros, contando para isso com os préstimos do Museu
Britânico e de sua genial biblioteca. E tomou notas, milhares de páginas de
anotações, numa letra considerada ilegível.
Deste laboratório
brotaram vários manuscritos, que só vieram a se tornar conhecidos depois da
morte de Marx e, inclusive, depois da morte de Engels. Alguns desses
manuscritos simplesmente sumiram, outros talvez não tenham existido (Marx era useiro
e vezeiro de dizer que havia concluído um texto, quando na verdade tratava-se
de um roteiro ou inclusive de um esquema mental). O mais importante desses
manuscritos é chamado de Grundrisse.
Os
Grundrisse são hoje considerados, para O Capital, como os
andaimes de um prédio em construção. Estavam entre os papéis de Marx quando ele
morreu, depois ficaram sob a guarda do SPD alemão, depois foram fotografados e
começaram a ser editados pelo Instituto Marx Engels da URSS. Em 1936 os
soviéticos pagaram 20 mil dólares para comprar os, creio, 63 cadernos
manuscritos. Entre novembro de 1939 (o texto) e junho de 1941 (os anexos), os
Grundisse foram publicados pela primeira vez, em edições com pouco mais
de 3 mil exemplares cada uma.
Pois bem: cada
vez que um acadêmico idiota se autoproclama marxista e faz críticas ao papel do
movimento comunista na preservação do legado de Marx, eu penso em um cidadão chamado
Pavel Lazerevic Veller, principal responsável por decifrar a letra de Marx e
por editar os Grundrisse. No mesmo mês de junho de 1941, quando foi
publicado o anexo dos Grundrisse, os nazistas invadiram a URSS. Nesse
momento, Pavel, o principal responsável pela edição dos Grundrisse,
se alistou voluntariamente para combater os invasores e morreu combatendo, em
novembro de 1941.
Fico pensando
quantos marxólogos acadêmicos seriam capazes disso. Mas sigamos.
Os cadernos
manuscritos que hoje conhecemos por Grundrisse foram redigidos
entre 1857 e 1858. Em 1859 Marx publica Contribuição à crítica da
Economia Politica, que comentaremos na próxima aula. Depois produz um
novo manuscrito, que hoje está também à disposição, desta vez com o título de Manuscritos
de 1861-1863. E, finalmente, vai lapidando o volume I de O Capital,
que virá à luz em 1867; e os outros dois volumes, que Marx não concluirá e que
serão editados e publicados sob a responsabilidade de Engels, em 1885 e 1894,
respectivamente.
O plano original,
de 1857, era publicar 6 volumes: um dedicado ao Capital, outro dedicado a
Terra, outro dedicado ao Trabalhado Assalariado, outro dedicado ao Estado, um
quinto volume dedicado ao Comércio Exterior e, finalmente, um sexto volume
dedicado ao Mercado Mundial e as Crises.
Em 1865, o plano
já se alterou para o que conhecemos: Produção, Circulação, Processo Global e
História da Teoria. Destes, repito, o primeiro volume (Produção) foi publicado em
vida de Marx; os outros dois volumes, por Engels; e as Teorias, numa
primeira versão, foi publicada por Kautsky.
Um último comentário
para encerrar nossa aula introdutória: O Capital não é compreensível
sem a Ciência da Lógica de Hegel.
Este detalhe,
a dialética, o método dialético, é essencial para a compreensão do livro ao
qual dedicaremos as próximas aulas.
Termino por
aqui, obrigado pela atenção.
#
PROGRAMAÇÃO
DIA A DIA
28 de agosto sexta
Aula 3 Volume
I – Cap. I – A mercadoria
4 de setembro sexta
Aula 4 – Volume I – Cap. II – Processo de Troca; Cap. III – O Dinheiro ou a
Circulação das Mercadorias
11 de setembro sexta
Aula 5 – Volume I – Cap. IV – Transformação do Dinheiro em Capital; Cap. V –
Processo de Trabalho e Processo de Valorização
18 de setembro sexta
Aula 6 – Volume I – Cap. VI – Capital Constante e Capital Variável; Cap. VII –
A Taxa de Mais Valia
25 de setembro sexta
Aula 7 – Volume I – Volume I – Cap. VIII – A Jornada de Trabalho
2 de outubro sexta
Aula 8 – Volume I – Cap. IX – Taxa e Massa da Mais Valia; Cap. X – Conceito da
Mais Valia Relativa; Cap. XI – Cooperação; Cap. XII – Divisão do Trabalho e
Manufatura
9 de outubro sexta
Aula 9 – Volume I/2 – Seção IV – A Produção da Mais Valia Relativa; Cap. XIII –
Maquinaria e Grande Indústria: item 1 – Desenvolvimento da maquinaria; itens 2,
3, 4, 5 e 6. Repulsão e atração de trabalhadores.
16 de outubro sexta
Aula 10 – Volume I/2 – Cap. XIII, item 8 – O Revolucionamento da manufatura +
item 9 – Legislação fabril + item 10 – Grande indústria e agricultura
23 de outubro sexta
Aula 11 – Volume I/2 – Seção V – A Produção da Mais Valia Absoluta e Relativa
Cap. XIV – Mais Valia Absoluta e Relativa
30 de outubro sexta
Aula 12 – Volume I/2 – Cap. XV – Variação da Grandeza do Preço…- Cap. XVI –
Diferentes Fórmulas para a Taxa da Mais Valia – Seção VI: O Salário – Cap. XVII:
Transformação do Valor
6 de novembro sexta
Aula 13 – Volume I/2 – Cap. XVIII – Salário por Tempo; Cap. XIX – Salário por
peça; Cap. XX – Diversidade Nacional dos Salários
13 de novembro sexta
Aula 14 – Volume I/2 – Seção VII – O Processo de Acumulação do Capital; Cap.
XXI – Reprodução Simples Cap. XXII – Transformação da Mais Valia em Capital
20 de novembro sexta
Aula 15 – Volume I/2 – Cap. XXIII – Lei Geral da Acumulação
27 de novembro sexta
Aula 16 – Volume I/2 – Cap. XXIV – A Teoria Moderna da Colonização
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