sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Razões do humor


O texto abaixo, de Murilo Aragão, é interessante.

Concordo com sua tese fundamental: está péssimo o humor do andar de cima.

Agora, o autor comete um erro ao buscar no lugar errado as bases objetivas para este humor.

Segundo o autor: Para os perdedores das classes A e B, a amargura e o horror em relação ao governo é explicável. Afinal, não são eles que estão tendo acesso ao crédito e ao consumo. Não são eles que estão conseguindo melhorar de vida e ganhar mais. Não são eles que estão se beneficiando diretamente da estabilidade da economia. Esquecem que, para quem está subindo na escala social, o Brasil está muito melhor.

Está errado este raciocínio de Murilo Aragão.

Não há "perdedores" nas "classes A e B".

Como disse o próprio Lula, nunca os ricos ganharam tanto.

E não vejo sinais de que outros setores de alta renda tenham sofrido perdas materiais.

O  principal problema das "classes A e B" me parece ser de outro tipo: perda de status, de privilégio, prejuízos simbólicos, como queiram denominar. 

O prejuízo está, por exemplo, em ter de conviver com o povo dentro de aeroportos e shoppings. E o medo pânico de que estas perdas se convertam, em algum momento do futuro, em perda real.

Esta me parece ser a principal base objetiva do péssimo humor deles.

O que ajuda a explicar, também, a minha irritação com nossa timidez em impor perdas objetivas, materiais, concretas, para os ricos deste país. 

Pois sofremos o ônus (somos acusados de), mas não temos o bônus (por exemplo, um bom imposto sobre as grandes fortunas para financiar o SUS).





Daltonismo político

Uma velhíssima piada de Juca Chaves contava que dois irmãos gêmeos – um pessimista e outro otimista – ganharam presentes de aniversário.
O otimista ganhou uma lata de esterco e, todo contente, perguntou onde estava o seu cavalo. O pessimista ganhou uma bicicleta e começou a chorar – disse que ia cair, que ia se machucar e que seria roubado pela turma da Zona Norte.
Quando escrevemos sobre o Brasil recolhemos tanto uma carga de otimismo quanto poços de amargura. Diferentemente da piada, algumas vezes ambos cheiram a esterco.
O otimismo róseo nos tira a real dimensão dos desafios que temos pela frente para construir uma nação justa. O pessimismo crônico também tira o foco do que realmente está acontecendo.
Pior é a amargura de muitos com o país. Sobre meu comentário da semana passada, por exemplo, um irritado leitor disse que o meu “otimismo” era desmentido pelas manchetes diárias. Outro lembrou o lixo que é o Enem.
Vamos lá. O Brasil de hoje tem uma das menores taxas de desemprego entre as maiores economias do mundo. Nossas reservas colocam o país como candidato a ajudar a Europa (!!??). O consumo de calorias aumentou substancialmente entre a população e temos um movimento relevante de ascensão social da classe E para a classe C . A oferta de crédito pulou do patamar dos 20% para próximo dos 50% do PIB.
Diminuiu o número de brasileiros com renda menor do que um salario mínimo: de 71% para 58% entre 2004 e 2009. A desigualdade, como um todo, caiu 5,6% em 5 anos.
O investimento estrangeiro é o maior em nossa história. Nosso mercado interno é uma imensa riqueza com potencial de mover a economia por muitos anos.
Não quero nem falar do pré-sal. Para irritar ainda mais os pessimistas, o mundo inteiro olha para esse fenômeno com atenção.
Para os perdedores das classes A e B, a amargura e o horror em relação ao governo é explicável. Afinal, não são eles que estão tendo acesso ao crédito e ao consumo. Não são eles que estão conseguindo melhorar de vida e ganhar mais. Não são eles que estão se beneficiando diretamente da estabilidade da economia. Esquecem que, para quem está subindo na escala social, o Brasil está muito melhor.
Por outro lado, é evidente que o Brasil vai mal em muitas coisas, pois continua a conviver com: corrupção, sistema político falido, baixa qualidade de ensino, baixa qualidade do serviço público, clientelismo e corporativismo, entre outras mazelas.
Temos taxa de juros elevadas. Corremos o risco do retorno da inflação. Existem sérios problemas de segurança pública, entre muitas outras mazelas.
Manchetes ruins são muitas. Porém, existem muitas manchetes boas. Tudo compõe um mosaico único que é o Brasil. Não podemos perder de perspectiva que o quadro que se apresenta tem aspectos ruins e bons. Mas a tendência é de que o país continue a melhorar.
Por fim, não é adequado nem produtivo focar no negativo de sempre e deixar de lado o que de bom está acontecendo. Quem não consegue enxergar as nuances entre o que é bom e o que é ruim no Brasil de hoje sofre de daltonismo político e jamais perceberá as imensas oportunidades e desafios que se apresentam para o Brasil e para os brasileiros.

Murillo de Aragão é cientista político

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