Prezado Henrique Fontana
Secretário-geral nacional do PT
Na reunião do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores, ocorrida no dia 18 de julho, solicitei a inclusão na pauta de um ponto relativo à vice-presidência nacional do PT.
A mesma solicitação fora feita, antes, nos dias 2 e 17 de julho, através do grupo de zap do Diretório Nacional do Partido.
No dia 17, minha solicitação foi objeto de uma postagem do vice-presidente do Partido, postagem feita no grupo de zap do DN. Insiro a referida postagem abaixo.
No mesmo dia 17, igualmente no grupo de zap, eu respondi o seguinte:
“Este tipo de mensagem é muito didática. Me lembra alguns colegas que tinha no primeiro grau. E uma certa fixação fálica que deixo ao pessoal da psi comentar. Mas que este tipo de mensagem seja enviada no grupo de zap do DN, confirma que algumas pessoas não tem noção do que seja a urbanidade no debate político. Mas o principal é que isto desvia o foco do central: Quaquá tem defendido bandidos. Não sei se estes bandidos são ou não culpados do assassinato de Marielle. Mas são bandidos. E Quaquá foi arrolado como testemunha de defesa destes bandidos. Não concordo que o Partido deva ser exposto a mais esse constrangimento: um vice-presidente nacional defendendo publicamente bandidos. Este é o ponto”.
A postagem feita pelo vice-presidente no dia 17 de julho não é um fato isolado. Vejam abaixo outros exemplos de postagens feitas por ele no grupo de zap do DN.
Como já disse, todas as mensagens acima foram enviadas no grupo de zap do Diretório Nacional do PT. Há outras, que não printei.
Compreendo que o vice-presidente não goste da minha pessoa, tampouco do que eu escrevo a respeito dele. Mas há maneiras e maneiras de travar o debate político. Há, inclusive, formas de ofender politicamente alguém, sem ultrapassar os limites da urbanidade. Que ele lance mão de certo tipo de ofensa só confirma que – como diria o João Bosco – cada um faz o que gosta. Fossem outras as condições, isso seria um problema pessoal, a ser resolvido entre adultos. Mas, à medida que o vice-presidente vem lançando, recorrentemente, este tipo de mensagem ofensiva no grupo de zap do Diretório Nacional, isto se torna um problema coletivo, uma vez que contribui para naturalizar entre nós um “estilo” de debate que considero incompatível com a nossa tradição como Partido.
Não preciso lembrar você, secretário geral, como a história tratou pessoas e partidos que deixaram este tipo de “estilo” dominar o ambiente.
Não vou pedir que a conduta do vice-presidente seja analisada pela comissão de ética, não porque não mereça, mas sim porque estão pendentes, na “fila”, dois pedidos anteriores de comissão de ética, pedidos que versam sobre casos bem mais graves, pedidos que até agora não foram devidamente encaminhados.
Caso você não lembre, estou me referindo aos que cito a seguir.
Caso 1
No dia 11 de novembro de 2021, o Núcleo Construção, núcleo de base no âmbito da 1ª Zonal do DM na cidade do Rio de Janeiro, promoveu um debate entre o vice-presidente nacional do PT e o secretário estadual de Formação Política do PT-RJ, Olavo Carneiro. O debate foi realizado e gravado pela plataforma zoom reunindo cem pessoas. Neste debate, o vice-presidente descambou da postura enérgica na defesa de opiniões, para a ofensa e o xingamento ao debatedor divergente. Os impropérios dirigidos ao Olavo Carneiro foram os seguintes:
“Seu pivete, safado, vagabundo”.
“Bolsonarista de merda”.
“Vai tomar no cu”.
“Vai se foder”.
Olavo Carneiro solicitou imediata análise do ocorrido, pela comissão de ética. Não temos notícia do que ocorreu com esta solicitação.
Caso 2
No dia 16 de fevereiro de 2023, um conjunto de tendências petistas (Articulação de Esquerda, Avante PT, Democracia Socialista, Diálogo e Ação Petista, Esquerda Popular Socialista, Militância Socialista, Resistência Socialista e Socialismo em Construção) assinou uma representação para que o vice-presidente respondesse, na comissão de ética do Diretório nacional, por extrapolar “todos os limites ao expressar publicamente posições antagônicas às deliberadas democraticamente pelas instâncias do partido”.
Na oportunidade, o vice-presidente havia postado em suas redes sociais uma foto sorridente e abraçado ao bolsonarista, e ex-ministro da Saúde do governo da extrema-direita, Eduardo Pazzuelo, acompanhado de uma mensagem cheia de elogios. Depois, postou outra mensagem em que chamava toda a militância petista que o criticou pela postagem de “jumentos”.
A representação das tendências destacava que o deputado petista insultava “a todo brasileiro e brasileira que votou no presidente Lula contra a extrema direita fascista”. A representação foi apoiada por um abaixo-assinado que, segundo me informaram hoje, chegou a 2 mil signatários.
Segundo o artigo 233 do estatuto do nosso Partido, a “comissão executiva do nível correspondente decidirá sobre a admissibilidade ou remessa da representação à Comissão de Ética e Disciplina para instauração do respectivo processo, no prazo máximo de 30 (trinta dias)”.
Apesar do que diz o nosso estatuto, a representação está pendente até hoje, prazo muito superior ao estipulado pelo estatuto e mais do que suficiente para que o assunto tivesse sido pautado.
Tendo em vista este histórico, prefiro instar o secretário-geral a cumprir o estatuto e submeter os dois pedidos à apreciação das instâncias.
Sou militante do PT há tempo o suficiente para saber que é muito comum que relevem determinadas atitudes, em nome de acordos políticos e coisas do gênero. Sei, igualmente, que o ambiente político externo afeta e degrada nosso ambiente interno, contribuindo para certas pessoas acharem tudo isto motivo de gracejo.
Mas, como disse nossa presidenta nacional no já citado caso da fotografia com Pazuello, tudo tem limite. Naturalizar a violência, mesmo que verbal, produz mais violência. O vice-presidente vem escalando nas ofensas. Até onde ele vai chegar? Até quando aqueles que podem e devem fazer algo, vão agir como se o que está acontecendo fosse algo normal e aceitável?
Sei que todos nós temos coisas mais urgentes para fazer. Foi algo parecido que pensei quando, noutras gestões deste Diretório Nacional, me pediram para lidar com dois casos espinhosos, um no Rio de Janeiro e outro no Mato Grosso do Sul. Eu cumpri minha tarefa. Espero que você, prezado secretário-geral Henrique Fontana, também cumpra a sua, mesmo que todos sempre tenhamos coisas mais importantes que fazer.
Atenciosamente
Valter Pomar
20/7/2024
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