quarta-feira, 8 de setembro de 2021

As mobilizações de Bolsonaro e a direita gourmet

Sobre as manifestações bolsonaristas, recomendo a leitura da seguinte análise:

https://www.facebook.com/100006280202434/posts/3043921265827184/

Recebi análises similares acerca dos atos bolsonaristas ocorridos em Brasília e em Belo Horizonte.

Vale ler, também, a análise dos Jornalistas Livres:

https://jornalistaslivres.org/bolsonaro-esta-como-gosta-como-hitler-ou-mussolini/

O que estas análises informam, entre tantas outras coisas?

Primeiro, que as manifestações foram numericamente expressivas, especialmente se considerarmos que não contaram com a participação de outros setores da direita.

Segundo, que a base social do bolsonarismo é socialmente diversificada, incluindo de grandes empresários até setores populares.

Terceiro, que esta extrema direita possui uma "interpretação"  acerca do que ocorre no mundo e no país. 

Pode ser uma interpretação vintage-guerra-fria, pode ser uma interpretação neofascista, pode ser tudo de ruim... mas nada disso impede que tais ideias contribuam para mobilizar e motivar pessoas em favor de ações que causam muito dano à maioria do povo brasileiro.

Por tudo isso, chamar os bolsonaristas de “gado”, ou seja, tratá-los como se fossem animais irracionais que são tangidos de um lado para outro, é um escapismo que não contribui para compreendermos o fenômeno, tampouco contribui para sua derrota política.

Uma questão em aberto – sobre a qual há intenso debate – é saber se as manifestações de ontem atingiram ou não os objetivos pretendidos pelo bolsonarismo.

Flopou ou não flopou?

Eles achavam que iam por milhões e fracassaram no intento?

Tinham a expectativa de que ontem seria o "Dia D" e saíram frustrados?

Um exemplo deste viés de análise está aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=t5gmSvm8RRU

Minha opinião: Bolsonaro não chamou as manifestações de 7 de setembro porque queria dar um “golpe” ao estilo 31 de março de 1964.

Aquele tipo de golpe se dá contra quem está no governo.

Bolsonaro já está lá.

E quer continuar na presidência da República por muitos anos, inclusive para não terminar esta história preso.

E o que ameaça este objetivo de Bolsonaro?

A pandemia? A crise social? A crise econômica? O governo Biden?

Não.

A maior ameaça é a descrença – por parte de um pedaço da classe cada vez mais expressivo da classe dominante – de que Bolsonaro será capaz de derrotar Lula na próxima eleição presidencial.

É por este motivo que um pedaço crescente da elite está se convencendo da necessidade de antecipar a saída de Bolsonaro.

Como diria Antonio Carlos de Andrada: "façamos a revolução antes que o povo a faça".

Este pedaço da elite não está preocupada em defender as “instituições” e muito menos em preservar as “liberdades democráticas”.

O que move esta turma é, muito resumidamente, tirar Bolsonaro para abrir espaço para uma candidatura da direita gourmet que seja capaz de derrotar Lula.

Como Bolsonaro já demonstrou ter - a preços do aluguel de anteontem - apoio parlamentar para bloquear um eventual pedido de impeachment, a direita gourmet vem lançando mão de dois instrumentos principais: a Globo na batalha de ideias e o Supremo nas operações práticas.

É por isto que o alvo imediato de Bolsonaro é o STF, mais precisamente o ministro Alexandre de Moraes.

Neste sentido, a mobilização de ontem tinha um objetivo principal: demonstrar à direita gourmet que – “isolado” ou não – Bolsonaro tem bala na agulha e disposição para cair atirando.

Neste sentido, é um erro minimizar a demonstração de força do bolsonarismo.

Aliás, chega a ser engraçado: ontem havia gente recomendando que não devíamos sair de casa, hoje tem gente falando que o cavernícola é um tigre de papel.

Bolsonaro não pode nem deve ser subestimado, nem como político tradicional, nem como adversário eleitoral, nem como golpista.

Quem cometeu este erro em 2018 não deveria reincidir nele agora, por exemplo subestimando a importância de lutar pelo seu impeachment imediato. 

Seja como for, a grande questão é: frente a operação bolsonarista, o que fará a direita gourmet?

Voltaremos a isso na sequência deste texto.




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