quarta-feira, 1 de agosto de 2018

A "neutralidade socialista", Arraes e Lacerda

Uma parte da direção do PT (inclusive setores da minoria) estão defendendo que o PT abra mão da candidatura de Marília Arraes ao governo de Pernambuco.

Afirmam que se o PT fizesse isso, o PSB ficaria "neutro" na eleição presidencial e retiraria a candidatura de Márcio Lacerda ao governo de Minas Gerais.

O que significaria  esta "neutralidade"? 

Que Márcio França não apoiará ninguém? Que Beto Albuquerque não apoiará ninguém? 

Não! 

"Neutralidade" significaria que cada setor do PSB fará nas eleições de 2018 o que já está fazendo. 

Considerando portanto que os socialistas que já apoiam e os que não apoiam Lula seguirão fazendo isto, vejamos os outros dois aspectos positivos supostamente decorrentes de uma decisão de "buscar a neutralidade através da troca".

Um destes aspectos é que, com a "neutralidade", o horário eleitoral gratuito do PSB não beneficiaria uma candidatura concorrente. 

Sobre a importância relativa deste tema, recomendo ler:

Outro aspecto é: com a "neutralidade" o PSB não apoiaria Ciro Gomes, hipótese com a qual setores do PSB tentam assustar setores do PT.

Tentam e parecem ter conseguido: efetivamente, quem defende "buscar a neutralidade através da troca" dá grande importância para o objetivo de "esvaziar Ciro". 

O estranho é que este objetivo não parece ser essencial para Lula.

Logo, a conclusão lógica é que esta parte da direção do PT que defende a "neutralidade através da troca" está operando -- tenha ou não consciência disso -- uma política de alianças consistente com um plano B.

Aí sim a "neutralidade" parece (parece!) ser de muita importância. E, também neste cenário, as campanhas estaduais tendem mesmo a ganhar maior relevância e autonomia.

Um problema que os defensores da "neutralidade através da troca" não estimam em devida conta é que este hipotético plano B, seja quem for, não seria eleitoralmente tão potente quanto Lula.

Logo, a neutralidade do PSB poderia na prática virar qualquer outra coisa. Inclusive apoio ao mesmo Ciro Gomes que alguns pretendem "esvaziar". Sem falar no Alckmin tão querido por Marcio França.

Além disto, a lógica implícita na opção de "conseguir a neutralidade do PSB através de acordos estaduais" vai tornar a direção nacional do PT impotente frente a estadualização das campanhas do próprio Partido (ou de "abrigados" nele, como é o caso do senhor Camilo).

A impotência decorreria do seguinte: se é "razoável" trocar Arraes por Lacerda, porque não seria "razoável" o  contubérnio com partidos golpistas nas alianças estaduais?? 

Qual é a alternativa a esta tática de "neutralidade através da troca"?

A alternativa é a que está na resolução aprovada há mais tempo pela executiva do Partido: sem apoio nacional do PSB a Lula, não faz sentido discutir "trocas".

Sem acordo nacional, trocar Arraes por Lacerda é abrir mão de parte importante do que está nos mantendo vivos e fortes na luta contra o golpe: uma militância animada por uma política com P maiúsculo.

Sacrificar Marilia em favor de Pimentel & Câmara, sob o pretexto da neutralidade, aponta noutro sentido.

Certamente há quem não concorde nem enxergue as implicações negativas desta troca.

Mas e se for verdade que esta "neutralidade" acrescenta no melhor dos casos pouco e não garante nada?

E se for verdade que os efeitos da troca em Minas (se ocorrer mesmo) podem fortalecer o PSDB?

E se for verdade que sacrificamos a militância do Partido, em nome de cálculos errados?

Se tudo isto for verdade, como vamos fazer para colocar a pasta de volta no tubo???

Um comentário:

  1. Não iremos conseguir...vamos nos lambuzar com a pasta, na aposta errada!

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