No dia 15 de agosto, em Brasilia, uma multidão participou do ato simbólico de inscrição da candidatura Lula.
Candidato, Lula poderá disputar as eleições presidenciais de 2018.
E, a julgar por todas as pesquisas divulgadas até agora, será eleito presidente, no primeiro ou no segundo turno.
Os golpistas pretendem impedir que isto aconteça. Por isso, condenaram, prenderam e agora querem impugnar a candidatura de Lula.
Contraditando a legislação e a jurisprudência, querem não apenas impugnar, mas também impugnar rapidamente, para impedir que a candidatura Lula participe do horário eleitoral gratuito e esteja na urna eletrônica.
A aposta dos golpistas é que, sem Lula na disputa, eles venceriam as eleições presidenciais de 2018. E, com um novo presidente "aprovado pelas urnas", poderiam seguir adiante com seu programa antinacional, antipopular e antidemocrático.
Qual o nome disto?
Como se deve caracterizar uma operação que visa alterar o resultado da vontade popular?
Eleição sem Lula é o quê?
É fraude!!!
Foi desta constatação que surgiu a palavra-de-ordem eleição sem Lula é fraude, repetida várias vezes pelos manifestantes que inscreveram a candidatura do presidente no dia 15 de agosto.
Entretanto, há setores da esquerda brasileira que preferem não utilizar esta palavra-de-ordem.
É óbvio que tais setores reconhecem que impugnar Lula seria um ato fraudulento da (in)justiça, com o objetivo de forjar artificialmente o resultado das eleições.
Mas aqueles setores acham que adotar aquela palavra-de-ordem poderia ampliar o abstencionismo, o voto nulo e branco, prejudicando as candidaturas de esquerda e beneficiando as candidaturas alinhadas com o golpe.
Alertam, além disso, que adotar a palavra-de-ordem eleição sem Lula é fraude poderia afetar não apenas a eleição presidencial, mas também o desempenho da esquerda nas eleições para governos estaduais, Senado, Câmara dos Deputados e Assembleias Legislativas.
Os defensores da palavra-de-ordem eleição sem Lula é fraude respondem que uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Consideram que a eleição que os golpistas trabalham para fraudar por antecipação é a presidencial.
Afirmam que é necessário chamar as coisas pelo seu nome: democracia é democracia, golpe é golpe, fraude é fraude.
Lembram que há várias maneiras de lidar com um governo golpista. A única maneira inaceitável seria aquela que esconde, disfarça, mascara sua natureza.
Entendem que há várias maneiras de lidar com uma fraude eleitoral, desde o boicote total até a participação. A única maneira inaceitável seria aquela que dê a aparência de que estaríamos diante de um processo normal, com a mesma legalidade e legitimidade de eleições anteriores.
Propõem, finalmente, que os críticos da palavra-de-ordem eleição sem Lula é fraude considerem duas questões adicionais.
A primeira delas é: os golpistas precisam pagar muito caro, caso ocorra a impugnação. E chamar as coisas pelo nome aumenta o preço a pagar.
Não é por outro motivo que eles preferem falar de impeachment e nós preferimos falar de golpe. Já está provado que a indignação com a injustiça é um dos motivos pelos quais cresce o apoio popular ao Lula. Deixar claro que estamos diante de uma fraude amplia a indignação. Pelo contrário, evitar falar de fraude arrefece a indignação.
A segunda delas é: caso impugnem Lula, ao decidir o que fazer, a esquerda teria que considerar todos os riscos envolvidos no processo eleitoral.
Substituir Lula por outra candidatura poderia resultar numa vitória eleitoral da esquerda e forças progressistas, à condição de que consigamos transferir, para esta outra candidatura, a maior parte da atual intenção de voto lulista.
Isto não seria fácil de fazer. Até porque, neste cenário, os golpistas que tiverem impugnado a candidatura Lula não parariam por aí. Caso efetivem a impugnação de Lula e mesmo assim não se livrem da ameaça de uma derrota, os golpistas apelarão para outras artimanhas.
A fraude, como o golpe, não é um ato, é um processo. E só estaremos preparados para novas fraudes, se tivermos clareza acerca do que estamos enfrentando.
E se nossa postura for participar da eleição, e caso ao final sejamos derrotados, neste cenário a esquerda teria sido triplamente derrotada: impugnaram Lula, derrotaram seu substituto e elegeram um presidente que não poderíamos chamar de fraudulento e ilegítimo. Afinal ao participar, em alguma medida teríamos legitimado o processo.
Legitimar o resultado de uma fraude antecipada é um risco que deve ser levado em devida conta.
Em resumo, podemos até decidir participar, mas esta decisão precisa levar em conta todos os riscos envolvidos. Atitude esta --considerar todos os cenários, inclusive os piores-- que muitas vezes não tomamos, na luta contra o golpe.
A decisão sobre o que fazer, caso a impugnação ocorra, é uma questão tática, não uma questão de princípio. Há prós e contras. Mas é preciso colocar sobre a mesa todas as alternativas. Não apenas aquela que defende participar, qualquer que seja o cenário.
Por fim, há um argumento adicional em defesa da palavra de ordem eleição sem Lula é fraude.
Este argumento é o seguinte: suponhamos que a esquerda decida participar, consiga vencer e consiga tomar posse.
O novo presidente agirá como? Exercerá normalmente seu mandato, apesar de ter feito campanha apresentando-se como substituto, apesar de ter sido eleito graças ao apoio de Lula e dos eleitores lulistas, que queriam votar em Lula e foram impedidos de fazer isso pelos golpistas?
Ou, sabendo da fraude cometida no processo, fraude que mesmo driblada continuaria tendo que ser reparada, o novo presidente tomará imediata e prontamente todas as medidas necessárias para que possam ocorrer novas eleições, em que Lula possa disputar livremente?
Esperamos que a discussão acima resumida não seja necessária. E que Lula possa disputar e vencer ele mesmo as eleições. Mas, considerando a disposição dos golpistas, é melhor estar preparado para tudo.
Foi combinando resiliência, reconhecimento ao que fizeram os nossos governos, repúdio ao que fazem os golpistas, base de massas, radicalismo e criatividade que chegamos até aqui, contrariando não apenas o que a direita desejava, mas também contrariando os que na esquerda propunham o "Plano B e suas variantes".
Frente a nova situação criada pelo golpe, nossa vitória passa por não repetir velhas fórmulas.
Foi combinando resiliência, reconhecimento ao que fizeram os nossos governos, repúdio ao que fazem os golpistas, base de massas, radicalismo e criatividade que chegamos até aqui, contrariando não apenas o que a direita desejava, mas também contrariando os que na esquerda propunham o "Plano B e suas variantes".
Frente a nova situação criada pelo golpe, nossa vitória passa por não repetir velhas fórmulas.
Os meios são mais importantes que os fins.
ResponderExcluirPoder pelo poder e nós igualamos aos golpistas.
Participar com o compromisso de chamar novas eleições legítimas pode ser um tiro no pé. Seria uma perspectiva de campanha muito longa e cansativa e isso pode ser usado como um voluntarismo de Lula. Temos que ver qual o potencial de transferência de votos do Lula para o Haddad. De qualquer forma, acho que se resolvermos participar, durante todo o processo eleitoral, na campanha, temos que deixar claro que a campanha do Haddad é uma forma de restabelecer a democracia e ter Lula livre governando ao lado de Haddad.
ResponderExcluirConcordo!
ExcluirNossa única, primeira e última arma é o voto. E o voto é a única coisa que nossos inimigos políticos não conseguem controlar por mais meios que disponham.
ResponderExcluirAs eleições são a única possibilidade de começar a combater e vencer as forças que o Golpe pôs em movimento. Precisamos tornar essas eleições um plebiscito: de um lado quem está com o golpe, do outro quem está contra. Está mais que claro que os Golpistas não vão permitir nem a candidatura e nem mesmo a participação de Lula no processo eleitoral. Eles não têm nenhuma dúvida que Lula sairia vitorioso das urna, o que torna seu impedimento uma necessidade e portanto uma realidade bastante provável. Os golpistas duvidam que conseguimos vencer sem Lula candidato, essa é umas das razões de porque não as cancelaram ou as adiaram a outra é pelo altíssimo custo que seria fazê-lo. O plano B não é uma alternativa, é, portanto, também uma realidade. Temos que vencer as eleições e ponto. Não evitamos o impeachment de Dilma, tampoco a prisão de Lula, tentemos portanto o único campo em que temos obtidos vitórias políticas: as eleições. Cidadãos, às urnas portanto.
ass. Policarpo
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