quinta-feira, 16 de maio de 2013

Entrevista ao Brasil de Fato em 14/5


Como você analisa esse modelo de desenvolvimento que vem sendo adotado pelo governo federal, baseado em grandes projetos de infraestrutura? Na tua opinião, essa escolha é acertada? Por quê?

O modelo de desenvolvimento adotado pelo governo tem diversas facetas. O principal deles é a ampliação dos empregos e dos salários, contra os desejos do grande empresariado e na contramão das políticas de austeridade hegemônicos na Europa e noutras regiões do mundo. Para manter e ampliar os níveis de emprego e salário, há duas possibilidades: ou investimento privado ou investimento público. Como o setor privado está com o freio de mão puxado, o investimento público é essencial. E o investimento público pode ser feito em diferentes áreas, entre as quais as obras de infraestrutura. O problema não está, na minha opinião, nesta escolha. O problema, digamos, está na timidez. Precisamos de mais investimento público, precisamos de mais ação direta do Estado, precisamos reduzir mais fortemente a taxa de juros, escapar da armadilha do superátiv primário e fazer menos concessões ao grande capital privado.
 

Os movimentos sociais têm feito diversas críticas a esse modelo de desenvolvimento, que estariam causando impactos ambientais e sociais na região. O caso mais emblemático é o da hidrelétrica de Belo Monte. Como o Partido vem lidando com essas críticas?

O Partido é sensível as críticas, afinal o Brasil tem uma história de desenvolvimentismo conservador, que concentra poder e riqueza, ampliando a desigualdade e a dependência. Os indígenas foram vítimas, ao longo da história, deste tipo de modelo. Claro que há setores do Partido que não consideram isto, assim como há setores dos movimentos sociais que têm uma visão equivocada, tratando qualquer política de desenvolvimento como conservadora.

Alguns teóricos classificam o atual modelo do governo federal como “neodesenvolvimentismo”. Você concorda com esse termo?

Acho o termo simpático, mas acho que corresponde mais aos nossos desejos do que aos fatos. Precisamos sim de uma política de desenvolvimento. E precisamos de uma política de desenvolvimento que reduza a desigualdade e a dependência, que amplie a democracia e promova reformas estruturais. Neste sentido, precisamos de um "neodesenvolvimentismo" ou de um "desenvolvimentismo democrático-popular". Demos passos neste sentido. Mas ainda estamos longe disto. Basta ver quanto desperdiçamos com o setor financeiro, versus o que investimentos em políticas sociais ou em infraestrutura. 

Outro ponto que vem gerando bastante polêmica é a concessão das usinas hidrelétricas e dos portos. Essa questão das concessões está em disputa dentro do PT? Quais as diferentes posições em relação a esse tema?

Falando em geral, há setores que consideram que estas concessões constituem um erro, por desnecessárias, por extemporâneas e por serem um tipo de privatização, ainda que sem transferência patrimonial. E, de outro lado, há os que as consideram algo totalmente diferente das privatizações, além de acreditarem que o governo não tinha outra alternativa. 

Você, particularmente, concorda com essa política de concessões? Por quê?

Eu me alinho com os setores críticos. Novamente falando em geral, existe espaço para reduzir os ganhos do setor financeiro e, com isso, ampliar a ação direta do Estado, evitando os riscos de uma política de concessões.
 

Na sua opinião, quais os principais desafios do governo e do Partido daqui para frente no que se refere a uma política de desenvolvimento nacional?
O problema central, na minha opinião, é perceber que precisamos entrar em um novo patamar, o das reformas estruturais. E para tornar isto politicamente possível, precisamos derrotar o oligopólio da comunicação e fazer uma refoma política que viabilize maioria institucional para bancar as reformas. Num resumo, entramos numa fase que exigirá mais conflito e menos conciliação. 

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