sexta-feira, 29 de novembro de 2024

A cara de paisagem do Banco Central

É um clássico.

O governo decide o que acha por bem decidir.

E o mercado age como sempre: alguns batem muito, outros assopram, mas todos (eles) ganham.

E o Banco Central faz cara de paisagem.

Nas palavras do líder do PT na Câmara dos Deputados: "É inaceitável a omissão do Banco Central frente à onda especulativa contra o real nos últimos dias. É um crime contra o povo brasileiro e a economia nacional a inércia de Campos Neto, cuja postura é uma mistura de omissão e ação de sabotagem contra o Brasil. É sua obrigação intervir no mercado, pois há diferentes instrumentos à disposição do BC. No governo passado, o presidente do BC usou US$ 65,8 bilhões a fim de manter o câmbio sob controle. Só na véspera das eleições de 2022, Campos Neto vendeu US$ 20,85 bilhões. O BC interveio 122 vezes no mercado de câmbio no governo anterior; no atual, só duas vezes. Com o governo Lula, fica inerte, com papel decisivo na espiral especulativa. Um absurdo!"

Nota de rodapé: de que adiantou tentar pacificar a relação com o Banco Central? A pacificação, como se percebe, é de mão única. Aliás, de que adiantou termos indicado parte da diretoria do Banco Central? 

A onda especulativa denunciada pelo líder do PT é um sinal de que o plano apresentado pelo ministro da Fazenda estaria "do lado certo da força"?

Esta é a opinião de muitos dirigentes do PT, para quem a onda especulativa seria a prova definitiva do acerto das medidas.

A experiência demonstra algo, digamos assim, um pouquinho diferente. O motivo da especulação é ganhar dinheiro. E como o BC faz cara de paisagem, todo ocasião vira motivo.

Entretanto, é verdade que o chamado "mercado" queria mais, muito mais. As posições inicialmente defendidas pela Fazenda e pelo Planejamento iam muito além do que foi anunciado. Como é óbvio e público, o presidente Lula deu uma segurada nos cabeças de planilha.

Nota de rodapé: por onde anda a ministra Tebet?

Isto posto, as medidas realmente adotadas:

-não tocam na variável taxa de juros;

-não tocam nos gastos tributários (gastos estimados, por economista amigo, "em 6% do PIB, R$ 600 bilhões, dos quais R$ 100 bilhões ou 1% do PIB são concedidos diretamente às empresas");

-incluem medidas positivas (IR, militares, emendas), algumas das quais dependem do Congresso Nacional;

-mas incluem, também, medidas negativas, que se forem implementadas vão recair sobre a base eleitoral e social do governo. 

Dos 71,9 bilhões estimados de "economia" no biênio 2025-2026, a maior fatia - 26,6 bilhões de reais - sairá do abono salarial, do salário mínimo, do bolsa família e do BPC.

Do jeito que está escrito, a "economia" não recairá apenas nem principalmente no lombo de eventuais "malandros" que recebem benefícios que não merecem. Recairá sobre gente pobre e trabalhadora.

Aliás, vamos combinar: os grandes malandros deste país são os que vivem da especulação e dos benefícios tributários. Estes não foram alvos das medidas da Fazenda.

O mais grave, entretanto, não é isso.

O mais grave é que o pacote opera nos marcos definidos pelos nossos inimigos. A pauta deles é o corte de gastos. E boa parte de nosso debate é sobre que tipo de corte é aceitável ou não.

Nossa pauta precisa ser desenvolvimento, reindustrialização, ampliação do bem-estar social. Qualquer que seja nossa avaliação sobre as medidas da Fazenda, precisamos mudar de pauta.

Ou fazemos isso, ou seguiremos na defensiva neste debate sobre a economia nacional. Com as consequências que já conhecemos.



3 comentários:

  1. É como estar em um grupo de reféns sequestrados para trabalhar em regime análogo à escravidão que se organiza e escolhe, entre si, líderes para se aproximarem dos sequestradores até que consigam transformar a situação de exploração e opressão.

    Ocorre que esse grupo de líderes que se infiltra no ambiente dos sequestradores, vai se sentindo próximo e satisfeito com o relativo respeito recebido pelos sequestradores e então decide aceitar a condição como fato consumado e só negocia melhorias mínimas pros sequestrados.

    As vítimas, muito confiantes em seus líderes seguem no cárcere medianamente melhorado para alguns e "não reagem" ao algoz, pois vão sendo orientadas por seus líderes sobre serem os sequestradores bons, pois dão a chance de trabalho para todos e, que se todos trabalharem muito para que a posição econômica dos sequestradores seguir aumentando, eles garantirão três rações diarias de comida.

    Não há plano de transformação dessa relação de supremacia dos sequestradores contra os TRABALHADORES, ao contrário , seus líderes os doutrinam para aceitarem e terem esperanças mesmo os sequestradores sendo os definidores dos destinos de todos.

    O sequestrador é a classe dominante e o grupo sequestrado é a classe trabalhadora que segue sem perceber que, de fato, não tem mais ninguém ao seu lado para combater e transformar essa situação de subserviência aos sequestradores!😳🧐

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