quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Venezuela: o impressionante informe do Centro Carter

Até hoje, só ouvi elogios acerca do Centro Carter.

Inclusive de venezuelanos. 

Entre outros motivos, porque o Centro Carter deu declarações muito positivas acerca do sistema eleitoral venezuelano.

Sendo assim, suspeito que para os apoiadores de Maduro, a "declaração" do Centro Carter sobre a eleição na Venezuela deve ter caído como um banho de água fria.

Fui ler a dita cuja e fiquei impressionado.

A declaração tem 9 parágrafos.

Um deles é apenas um expediente, informando o que é e o que faz o Centro Carter.

Seis parágrafos desancam as eleições de 2024 na Venezuela. 

Nenhuma, absolutamente nenhuma observação sobre algum comportamento inadequado da oposição. E muitas, inúmeras críticas ao comportamento do governo e da justiça. Impressionante.

Dada a importância que tudo que vem dos EUA têm, na formação da opinião pública mundial, inclusive de gente de esquerda, a Declaração reforça as denúncias e reclamações da oposição venezuelana, bem como as dúvidas e suspeitas de quem as têm.

Mas na Declaração há dois parágrafos (o penúltimo e o antepenúltimo) que me deixaram com uma pulga atrás da orelha (não, não é uma referência oculta ao Trump).

Explico. Mas, antes, uma preliminar.

Não sei quais são os "estándares internacionales de elecciones democráticas", com base nos quais o Centro Carter analisou o processo venezuelano, concluindo que "la elección presidencial de Venezuela de 2024 no se adecuó a parámetros y estándares internacionales de integridad electoral y no puede ser considerada como democrática".

Segundo os meus "estándares" pessoais, é mesmo muito difícil achar - neste mundo em que vivemos, especialmente em 2024 - processos que possam ser considerados idealmente "democráticos". De toda forma, repito, não sei quais são os "estandáres" adotados pelo Centro Carter. Assim, não tenho como fazer comparações. Mas é com base nesses padrões que eles fazem uma série de críticas ao que teria ocorrido na Venezuela.

E a pulga?

A pulga deve-se a três trechos que estão no final da declaração. A saber:

"(...) Pese a este contexto, la ciudadanía venezolana se movilizó masiva y pacíficamente el 28 de julio para expresar sus preferencias. La jornada de votación transcurrió de una manera cívica, pese a restricciones (...)"

"(...) En el número limitado de recintos visitados, los equipos de observadores del Centro Carter comprobaron la voluntad de la ciudadanía venezolana por participar en un proceso electoral democrático y demostrando su compromiso cívico como integrantes de mesa, testigos de partidos y observadores. Estos esfuerzos fueron desmerecidos por la ausencia de transparencia del CNE en la difusión de los resultados (...)". 

"(...) El Centro Carter desplegó 17 expertos y observadores a partir del 29 de junio, con equipos en Caracas, Barinas, Maracaibo y Valencia. La misión se reunió con una amplia gama de actores, incluyendo el CNE, candidatos, partidos políticos, organizaciones de la sociedad civil, grupos de observación ciudadana, representantes de los medios de comunicación, funcionarios gubernamentales, las fuerzas armadas y expertos electorales. Dada la cantidad de integrantes, las observaciones directas del Centro Carter fueron limitadas, especialmente el día de las elecciones (...)".

Se entendi direito, o Centro Carter deixou para o final de sua impactante declaração a informação de que suas opiniões sobre o ocorrido decorrem, não tanto da observação direta, mas principalmente de entrevistas com X pessoas. Impressionante.

Agregam ainda que, nos limitados momentos em que houve observação direta, as coisas transcorreram de forma "cívica" e "pacificamente". Mas que, no desfecho, houve "ausencia de transparencia del CNE en la difusión de los resultados". 

Esta conclusão acima transcrita encerra a parte principal da Declaração.

A pulga me faz perguntar: que peso teve esta "ausencia de transparência" na conclusão final do Centro Carter, segundo a qual "la elección presidencial de Venezuela de 2024 no (...) puede ser considerada como democrática"?

Ou seja, em que medida a crítica ao processo deriva do processo e em que medida a crítica deriva resultado do resultado anunciado?

E em que medida as conclusões derivam de quem foi entrevistado ou deixou de ser, do que disse ou deixou de dizer?

Para saber isto, mas também para saber todo o restante, prefiro aguardar a publicação das atas. 

Não a publicação das atas da eleição - pois segundo se diz, a justiça venezuelana seria toda bolivariana e, portanto, inconfiável.

Prefiro aguardar a publicação das "atas" do próprio Centro Carter. 

Afinal, como eles mesmos informam ao final de sua "Declaração", o Centro Carter "publicará un informe final de su misión de observación en Venezuela, detallando todos los hallazgos en este comunicado".

Seguramente será um informe tão impressionante quanto a declaração preliminar.

Mas sem este detalhamento, fico em situação similar ao que o Centro Carter ficou frente ao anúncio do resultado pelo CNE: não tenho como conferir a veracidade das afirmações.

Assim, como pau que bate em Chico bate em Francisco, sigo no aguardo das atas do Centro Carter.

 








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