quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Venezuela: as saídas de Lula

O presidente Lula concedeu entrevista à uma rádio, durante a visita que fez ao estado do Paraná, no dia 15 de agosto.

Não ouvi a entrevista.

Mas li uma transcrição parcial, publicada pela Forum.

Quem quiser ler, está aqui: 

https://revistaforum.com.br/global/2024/8/15/lula-diz-que-ainda-no-reconhece-vitoria-de-maduro-na-venezuela-fala-em-novas-eleies-163932.html

Indagado se reconhece que Maduro venceu o pleito e é presidente eleito da Venezuela, Lula teria sido enfático: "ainda não, ainda não".

Até aí, nada de novo: desde o dia 29 de julho, esta tem sido a posição do Itamaraty e do presidente Lula.

Ainda segundo a Forum, Lula teria acrescentado que Maduro "está devendo uma explicação para a sociedade brasileira e para o mundo. Ele sabe disso (...) tem que apresentar os dados".

Também até aí, nada de novo: desde o dia 29 de julho, esta tem sido a posição do Itamaraty e, com nuances, do presidente Lula.

Lula não parou por aí.

Conforme a Forum, ele teria dito que "os dados têm que ser apresentados por algo que seja confiável. O Conselho Nacional Eleitoral, que tem gente da oposição, poderia ser".

Igualmente nada de novo: esta preferência pelo CNE está na segunda nota publicada pelos governos do México, Colômbia e Brasil.

Confesso que até agora não entendi este súbito apreço pelo Conselho Nacional Eleitoral.

Explico: o Conselho Nacional Eleitoral já proclamou o resultado. E, naquela ocasião, Celso Amorim, o Itamaraty e o próprio Lula não acharam a proclamação confiável. 

Assim sendo, o que teria acontecido para tornar o CNE "confiável" aos olhos de quem antes desconfiava dele?

Será por ter gente da oposição na sua composição?

Mas isto o CNE já tinha, quando proclamou que Maduro venceu as eleições.

Enfim, salvo alguma informação reservada, não consigo entender a atual preferência pelo CNE.

Sempre segundo a Forum, Lula teria acrescentado o seguinte: "Mas, ele não mandou para o Conselho, ele mandou para a Justiça, para a Suprema Corte do país".

O "mas" que Lula usou na entrevista - supondo que a transcrição esteja correta - passa a impressão de que na Suprema Corte não há representantes da oposição.

Acontece que, salvo engano, a oposição também está representada na Suprema Corte.

A respeito, ler a insuspeita matéria disponível no endereço abaixo:

https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/suprema-corte-da-venezuela-tem-maioria-de-votos-para-o-partido-de-maduro-diz-especialista-a-cnn/

Claro, a oposição é minoritária na Suprema Corte; mas também é minoritária na CNE.

Logo, por qual motivo a preferência?

Sem falar do principal: não somos nós que temos que preferir.

Explico: quando discordamos de uma decisão do TSE, a gente recorre a quem? Ao STF. As vezes não adianta nada, as vezes adianta, mas é o caminho correto especialmente para quem, como Lula, diz sempre acreditar na Justiça.

Pois bem: foi exatamente isso que Maduro fez: recorreu à Suprema Corte. De seu país, não do nosso, não dos Estados Unidos.

Podemos gostar, podemos não gostar, mas o que foi feito por Maduro está dentro do ordenamento legal da Venezuela. Que, nesse particular, lembra o do Brasil.

Portanto, concordando com Lula quando ele diz que devemos respeitar a "soberania dos países", não entendo por qual motivo deveríamos questionar o ordenamento jurídico da Venezuela.

A Forum informa que Lula teria dito outras coisas na entrevista.

Por exemplo, Lula teria dito que "tem várias saídas. Fazer um governo de coalizão - muita gente que está no meu governo não votou em mim e eu trouxe todo mundo para participar do governo".

Ainda segundo a revista Forum, Lula teria afirmado também que "não posso dizer que a oposição foi vencedora porque não tenho os dados. E não posso dizer que Maduro foi vitorioso porque eu não tenho os dados. Então, não quero me comportar de maneira apavorada e precipitada. Eu quero o resultado. Se a gente tiver um resultado e for factível, nós vamos tratar do seguinte. O Maduro tem seis meses de mandato ainda - o mandato dele só termina em janeiro do ano que vem. Então, ele é o presidente da República, independentemente das eleições. Se ele tiver bom senso, poderia tentar fazer uma conclamação ao povo da Venezuela, quem sabe até convocar novas eleições, estabelecer critério de participação de todos os candidatos, criar um comitê eleitoral suprapartidário e deixar que entre olheiros do mundo inteiro. O que não posso é ser precipitado e tomar uma decisão. Da mesma forma que quero que respeitem a soberania do Brasil, eu respeito a soberania dos países".

Essas sugestões de Lula estão sendo interpretadas das mais diferentes maneiras. Deixo para outro momento dar uma opinião a respeito.

Lembro apenas que, em condições normais de temperatura e pressão, a Suprema Corte da Venezuela vai dar seu veredito antes de terminar o atual mandato de Maduro. Quando sair o veredito, todas as partes envolvidas (dentro e fora da Venezuela) terão que se posicionar. 

Nosso posicionamento precisa tomar, como ponto de partida, o reconhecimento da institucionalidade da Venezuela. "Saídas" fora da Constituição bolivariana não respeitam a soberania da Venezuela e, portanto, não servem a quem defende a soberania do Brasil.






8 comentários:

  1. Tengo la misma impresión... la ambiguedad está cobrando primacía en el discursos oficial del gobierno de Lula... no me sorprendería que ante la "falta de datos" coincidiera con Biden en la convocatoria de nuevas elecciones.

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  2. Tudo muito bizarro nessas declarações. Os dados que temos só apontam para um erro gravíssimo de postura do presidente Lula.

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  3. Não entendo o que Luiz Inácio quer?
    Qual autoridade tem o Brasil para "vigiar" a Venezuela?

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Acho que vigiar é o que ele menos quer e deseja ...as eleições venezuelanas se tornaram problematicas, para o governo brasileiro e principalemente se tornaram combustivel para aumentar os e as fake news ataques ao Lula e ao seu governo, qualquer posionamento dele geraria desgaste, coisa que nessa altura nao precisamos MAIS . Porque sejamos honestos ? se Lula hoje declarace apoio irrestrito a Maduro nem a propria esquerda ficaria ao seu lado, uma grande parcela esquerdista declara abertamente ser contra ao governo de Maduro e o chama de ditador, iriam usar isso para prejudicar a aprovação popular, sim porque a maioria da população acredita no que a midia fascista solta nas redes e na Tv onde pintam uma venezuela explorada por um ''ditador'' comunista , o carimbo de apoiar de ditaduras comunistas iria ser estampado em sua testa pela direita que manipula as informações no Brasil . Lula esta em situação delicada , onde tenta conciliar e ficar em bons termos sem prejudicar a si mesmo. Essa cobrança dos brasileiros sobre um posionamento aberto de Lula sobre esse assunto não é correta , lhe dão uma responsabilidade que ele NÃO tem sobre isso . Acredito SIM na vitoria de Maduro e principalmente na soberania da Venezuela que deve resolver seus proprios problemas , mas nao desejo que Lula arrisque ao Brasil sofrer possiveis sansões por um apoio a Maduro. Lula é presidente do Brasil, e é ao nosso pais que ele deve pensar em primeiro lugar

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  4. Lula que vá cuidar do seu Governo e parar de meter a colher na Venezuela. As coisas no Brasil não estão bem, a chance da extrema direita vencer as eleições de 2026 e já as de 2024 são reais

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  5. Exato. Abrir um precedente de uma nova eleição ou uma saída fora da soberania na Venezuela será o mesmo que decretar uma normalização deste procedimento em outros países latino-americanos. O velho slogan da propaganda de vodca "eu sou você amanhã".

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  6. Lula está agindo como um verdadeiro "menino de recado" da classe dominante estadunidense. Provavelmente a nova ou novo Presidente eleito irá reafirmar que ele continua sendo o "cara" a representar aqui no quintal os interesses imperialistas.

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