segunda-feira, 10 de junho de 2024

Lula e a greve nas universidades

Lula reuniu, neste dia 10 de junho de 2024, com os reitores de Universidades e Institutos Federais.

Lula foi o último a falar e suas últimas frases foram considerações acerca da greve.

Mas antes de falar disso, recomendo que todos assistam à integra da cerimônia.

Um dos endereços que dá acesso à integra é este aqui: Ao vivo: Lula se reúne com reitores de universidades e institutos federais (poder360.com.br)

A cerimônia começou com o ministro Camilo Santana, falando de tudo o que o governo já fez e pretende fazer.

Depois falou a ministra Luciana Santos, na mesma linha.

Em seguida falou a Márcia Abrahão Moura, reitora da UnB e presidente da Andifes. 

A reitora fez os elogios devidos ao governo, mas também disse que "o valor ainda é insuficiente" e que a reinvindicação da Andifes é de um orçamento de 8,5 bi (e não de 6,38 bi). De maneira delicada, a reitora lembrou que não vale comparar orçamentos nominais, é preciso fazer contas "considerando a inflação".

Entre outras coisas importantes que também foram ditas pela reitora, cito mais uma: seu reconhecimento de que os trabalhadores e trabalhadoras que estão em greve são "essenciais", que em alguns casos a remuneração está muito defasada, lembrou de outras categorias que tiveram tratamento diferenciado, agregando que é preciso uma solução negociada, "pacificando a situação".

Destaco esta palavra: "pacificando".

O quarto a falar foi Elias de Pádua Monteiro, presidente do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif) e reitor do Instituto Federal Goiano (IF Goiano).

Elias de Pádua falou da "escassez de recursos", da "fome" sentida por alguns estudantes, da "ausência de transporte escolar" e disse que o atual orçamento é equivalente a 2015, quando havia 60% do número de instituições atualmente existentes.

O reitor disse ainda que "suplicamos" que "avancemos nas negociações", ressaltando que a demanda é legítima e justa, agregando que "necessitamos que retornemos à normalidade" e lembrando a frase de Lula: "educação é investimento, não gasto".

Falou ainda a reitora de Pelotas, Isabela Fernandes Andrade, que destacou a situação do Rio Grande do Sul.

Na sequência voltou a falar o ministro Camilo. Pediu uma salva de palmas para professores e técnicos. E agregou, entre outras coisas, a seguinte opinião: ele não via "necessidade" de uma greve, destacando que o governo deu 9% de reposição em 2023. 

Camilo não fez nenhuma referência ao fato do governo ter dado zero reposição em 2024. Tampouco reconheceu que exista uma relação entre os anúncios positivos do governo e a existência da greve.

O ministro tentou, ainda, responder ao questionamento feito pelos reitores, acerca da diferença entre valores nominais e valores reajustados. Recomendo verem no endereço supracitado a tentativa.

Finalmente, foi o momento de Lula falar.

Lula falou de diversos temas, entre os quais destacar que "nunca antes" na história do nosso país tivemos um governo tão empenhado na educação. Ademais, afirmou que vivemos um momento extraordinário (geração de empregos, crescimento da massa salarial, PAC etc.). Destacou a importâncias das universidades particularmente neste momento. Fez uma referência, neste contexto, ao tema da Inteligência Artificial. Reconheceu ficar chateado e ser melancólico ouvir, pela imprensa, a situação de algumas universidades (citou a UFRJ) e pediu ajuda, uma vez que a elite não teria interesse na educação.

Lula falou de outros assuntos (demora na execução dos compromissos do governo, Olimpíada de matemática, chatice das aulas etc.), terminando com sua opinião sobre a greve. 

Disse (cito de memória) que greve tem hora para começar e hora para terminar; que é muito ruim as greves terminarem por inanição e com as pessoas desmoralizadas; que é preciso ter coragem para terminar com a greve; que é errado adotar a linha do "tudo ou nada"; que o conjunto da obra é positiva; que foi dirigente sindical e sabe como funciona; que é um montante não recusável; e que se a greve continua quem perde é o Brasil.

Neste momento sindical de sua fala, Lula não comentou a coincidência de ter sido publicado, no Diário Oficial, um presente dado ao sindicato que assinou o acordo do governo, furando uma fila imensa. Mais detalhes aqui:  Valter Pomar: Proifes: é dando que se recebe

Feito este relato, qual o resumo das posições de governo?

Primeiro, o governo acha que está fazendo tudo certo.

Segundo, o esforço feito pelo governo resultou numa suplementação bem menor do que as necessidades apontadas pelos reitores. 

Terceiro, o governo decidiu não fazer nenhum movimento novo em relação aos professores.

Quarto, o governo insinua que fará um movimento novo em relação aos técnicos administrativos.

Quinto, o governo considera que, ou o movimento grevista recua, ou o movimento será derrotado ("inanição", "desmoralização").

Sexto, que o governo segue repetindo informações incorretas acerca da greve (por exemplo, insinuar que a greve seria por "tudo ou nada"), num tom cujo efeito prático é provocação, não a pacificação indicada pela presidenta da Andifes.

Isto posto, duas questões 

Primeiro, governante não é assessor sindical. Que tanto o ministro quanto o presidente tenham tentado assumir este "lugar de fala" é muito revelador acerca da situação real, a saber, existe uma greve forte.

Segundo: quem será "desmoralizado", se a greve for derrotada desta forma que o governo indica? O governo parece achar que serão os sindicatos que estão conduzindo a greve. Pode ser que seja isto, sempre pode ser. 

Mas há vários indícios de que a desmoralização será de outro tipo e atingirá outros atores. Entre estes indícios, informo existir uma grande tristeza e decepção entre professores e professoras que lutaram contra o golpe, contra a prisão de Lula, contra o governo cavernícola e pela eleição de Lula. A tristeza e a decepção inclui, também, muitos professores e professoras petistas. O governo está subestimando os efeitos deste sentimento, especialmente nessa conjuntura. Talvez o governo saiba algo que não sabemos. Mas, infelizmente, acho que está é cometendo um imenso erro. 


7 comentários:

  1. Boa análise! Não estou triste, estou revoltado com esses sequestradores de pautas sociais que fazem campanha com as pautas das esquerdas e que governam para atender aos lobbys das direitas!!! VERGONHA!!!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Agora do lado do capital, Luiz Inácio se mostra um duro negociador com trabalhadores.
    Ou antes, com certas categorias. Lembremos que os policiais da PF, da PRF e da Polícia Penal nem careceram de greve para conseguir reajustes.
    O que aprendeu com os patrões, Lula está pondo em prática.
    (Jucemir Rodrigues da Silva)

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    1. Lula foi sempre assim. Não gratuitamente, desde 2006 a candidatura petista presidencial não ganha no DF. Em 2003 foi a contrareforma da previdência; em 2004, 0,1% de reajuste!; em 2004 cria o proifes. Em todas as greves de trabalhadores do serviço público federal foi assim; mas especialmente com os docentes a realidade foi pior, pela existência da entidade patronal de suporte.

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  4. É triste mas, a verdade está aí para assistirmos o Partido dos Trabalhadores deixando de ser aquele partido que tinha como lema Terra, Trabalho e Liberdade. Não passa atualmente de um partido eleitoreiro como qualquer outro partido, não articula as massas para lutar pelos seus direitos, não atende às reivindicações dos trabalhadores e trabalhadoras, não dá a importância aos Sindicatos, enfim precisamos reconstruir esse PT para atender aos interesses da classe trabalhadora e não apenas favorecer aos patrões. Infelizmente Lula aprendeu governar com a direita. Lamentável.

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  5. Como ex dirigente sindical das Carreiras de Ciências e Tecnologia, que exerci por novembro anos, preocupo-me com os rumos desta campanha salarial. É preciso acalmar os ânimos. Lembro que nenhum governo em primeiro mandato tem concedido reajuste salarial. Vivemos isto em várias negociações. É claro que os sindicatos têm que lutar independente disso.
    O contexto requer tato e cuidado. Este governo não aumentou a nossa defasagem salarial, (na C&T mais de 50 %); pelo contrário, diminuiu. Não é momento de desguarnecer a luta contra o fascismo , a extrema direita.

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