Lula deu uma longa entrevista para Kennedy Alencar.
A íntegra da
entrevista está aqui: É
Notícia: Entrevista com o presidente Lula (27/02/24) | Completo (youtube.com)
A entrevista
de Lula gerou ampla repercussão.
Na direita,
o que mais causou polêmica foi Lula reafirmar a condenação do genocídio que
Israel está praticando na Palestina.
Mais
detalhes, aqui: Valter
Pomar: Sabino e a "comparação"
Na esquerda,
o que parece ter causado mais polêmica foi uma declaração de Lula sobre os 60
anos do golpe militar de 1964.
A declaração
em síntese-muito-sintética foi a seguinte: “o que eu não posso é não tocar a
história pra frente, ficar remoendo sempre, remoendo sempre”.
Vamos combinar: ninguém gosta de ficar “remoendo sempre”.
Remoer & sempre
é coisa de quem não tem alternativa melhor.
Não é o
nosso caso, não é o caso de Lula.
Temos os meios,
podemos e devemos fazer muita coisa acerca da chamada questão militar.
Por exemplo:
*demonstrando na prática que, através do mais amplo exercício das
liberdades democráticas, o povo pode conquistar uma vida melhor.
Sobre isso, Lula
fala na entrevista, concordemos ou não com as medidas citadas.
*combatendo os golpistas aqui e agora, por exemplo tirando eles dos postos de
comando, submetendo a julgamento, condenando e prendendo.
Sobre isso,
Lula também fala na entrevista, na linha de que em “nenhum momento da história
desse país os militares foram punidos como estão sendo agora” e “todos que
foram provados e todos que provarem que participaram serão julgados, serão
punidos”.
*pondo as forças armadas no seu devido lugar, ou seja, a defesa da soberania
nacional contra inimigos externos.
Sobre isso, Lula
fala na entrevista, na linha de que “estamos tentando reconstruir a civilidade
nas forças armadas” e de que “Múcio tem feito um trabalho, sabe… adequado”.
*desligando o programa de lavagem cerebral, instalado desde o golpe de1964 em todas as escolas de formação de oficiais.
Sobre isso acima, Lula não fala absolutamente nada na entrevista.
De pouco adianta não comemorar o primeiro de abril nas cerimônias, mas continuar ensinando aos soldados que o golpe e a ditadura teriam salvo o país do comunismo.
Daí ser me engana que eu não gosto dizer que “os generais que estão hoje no poder eram criança naquele tempo, (...) alguns acho que não tinham nem nascido ainda naquele tempo”.
Se queremos
que esta história não se repita, não podemos mesmo ficar “remoendo” o assunto. Muito menos deixar que mister Múcio seja régua do que seria “adequado” no trato com as forças armadas.
Precisamos tomar
mais e melhores medidas, desde alterações no artigo 142 até mudanças no currículo
das escolas militares, passando por nomear um ministro da Defesa que não seja nem
cúmplice dos golpistas, tampouco representante dos militares junto ao governo. Sem esquecer das indispensáveis medidas de memória, verdade e justiça!
Ou é isso,
ou ali na frente vamos ver de novo as forças armadas agindo como braço forte e mão amiga dos que bloqueiam as
mudanças estruturais indispensáveis para fazer do Brasil um país desenvolvido, com soberania,
bem-estar e liberdades.
Por isso, nada de "remoer". Tem que agir.
Abaixo a íntegra
dos trechos da entrevista citada
Kennedy Alencar
perguntou:
Presidente,
eu quero falar de economia com o senhor, política industrial, as perspectivas
por ano, mas nessa questão da democracia o senhor mesmo disse que o senhor é um
filho da democracia. “A Hora da Verdade”, a operação da polícia federal, ela
mostrou um envolvimento muito grande de militares na tentativa de golpe e a
gente viu voltar a circular na praça a tese de que o golpe não aconteceu porque
havia legalistas no alto comando. Esses legalistas no dia 30 de outubro de 2022
viram no resultado da eleição a vitória do senhor. Toleraram e protegeram o
acampamento golpista até 8 de janeiro, estavam esperando o que, né? O Múcio,
ministro da Defesa José Múcio, aplica uma estratégia de acomodação com os
militares. Pergunto pro senhor: essa estratégia não tá errada? Esses militares
não têm que ser punidos? Que legalistas são esses que toleravam o acampamento
golpista até 8 de janeiro, presidente?
Lula
respondeu:
Primeiro,
vamos ser franco: nenhum momento da história desse país os militares foram
punidos como estão sendo agora. Nenhum! Lembre algum momento em que general foi
chamado pela polícia federal pra prestar depoimento? Coronel, todos que foram
provados e todos que provarem que participaram serão julgados, serão punidos.
Não fique preocupado com isso. O que você não pode é o seguinte: é que nós
fomos procurar nas Forças Armadas as pessoas para exercer o comando, as pessoas
que não estavam comprometido com isso, tá? Eu tinha assistido o discurso do
general Tomás uns dias antes, que eu achei extraordinário o discurso dele sobre
a questão da política, por isso que ele veio a assumir o comando do exército,
sabe? E assim vale pro Múcio, assim vale pro Damasceno. São pessoas que não
estavam envolvidas com o bolsonarismo, que estavam com independência, sabe?
Subordinado aos comandantes da época. Todos foram afastados e nós agora estamos
tentando reconstruir a civilidade nas forças armadas. Eu fico imaginando… Eu
fiquei sabendo de uma notícia ontem que um cidadão coronel, que mora em
Campinas num apartamento tinha uma quantidade de munição, uma quantidade de
arma que explodiu dentro da casa dele, ou seja, colocando em risco o prédio
todo. A minha pergunta é a seguinte: que grau de responsabilidade tem uma
pessoa que tem a patente de coronel do exército brasileiro para colecionar a
quantidade de arma dentro de casa. O que ele queria com armas e munição? A
serviço de quem que ele tava? A quem que ele queria fazer bem? Não pode. Então,
deixa eu lhe falar: eu estou convencido que nós estamos no caminho certo. Estou
convencido que o Múcio tem feito um trabalho, sabe… Adequado. Ou seja, nós
precisamos aproximar… A sociedade brasileira e as forças armadas não pode se tratar
a vida inteira como se fossem inimigas. As forças armadas têm um papel, o papel
deles é constitucional, eu valorizo isso quando eu fui presidente da outra vez
e valorizo isso agora. Eles têm que cumprir a constituição deles, eles têm que
garantir a soberania nacional, eles têm que garantir a soberania do espaço
aéreo, a nossa soberania da nossa riqueza mineral, a soberania da nossa
floresta, nosso rio e cuidar do nosso povo. É isso que é o papel das forças
armadas e é isso que eles vão fazer, e é isso que o Zé Múcio está cuidando de
fazer com que aconteça no Brasil.
Kennedy Alencar
perguntou:
Quero uma
palavra do senhor sobre os 60 anos do golpe de 64. O general Tomás Paiva falou
para não ter celebração nos quartéis. Muita gente fala “que beleza, um avanço”.
Ora, deveria haver um mea culpa, porque eles acabaram com a democracia durante
21 anos. Pergunto: o seu governo, o senhor fez um ato em 8 de janeiro de
memória sobre o ato de 2023 para que nunca mais se repita. 60 anos de golpe
militar, como que o senhor vai tratar essa questão?
Lula
respondeu:
Eu
sinceramente vou tratar da forma mais tranquila possível. Eu to mais preocupado
com o golpe de janeiro de 2023 do que com 64. Eu tinha 17 anos de idade, tava
dentro da metalúrgica Independência quando aconteceu o golpe de 64. Isso já faz
parte da história, já causou sofrimento que causou, o povo já conquistou o
direito de democratizar esse país, sabe? Os generais que estão hoje no poder
eram criança naquele tempo, sabe? Alguns acho que não tinham nem nascido ainda
naquele tempo. Então o que eu não posso é não tocar a história pra frente,
ficar remoendo sempre, remoendo sempre. Ou seja, é uma parte da história do
Brasil que a gente ainda não tem todas as informações porque tem gente
desaparecida ainda, porque tem gente que isso pode se apurar, mas eu sinceramente
eu não vou ficar me remoendo e eu vou tentar tocar esse país pra frente. Eu
tenho um compromisso de voltar a fazer esse país crescer
Lula perdeu uma grande oportunidade de elencar TODAS as medidas que seu Governo deveria estar tomando para quebrar a linha do tempo, que descreve Valter Pomar, para evitar novos Golpes. Golpes que não aguentamos mais, pelo menos eu e os de minha geração que cresceram durante a Ditadura civil-militar iniciada em 01 de abril de 1964, na qual perdemos muito mais que a Liberdade, perdemos país, irmãos, amigos e a muito deles, nem pudemos prestar as últimas homenagens, nem cumprir o Luto, porque até hoje não sabemos o que lhes aconteceu. Então Lula, se você não pode ou não quer fazer isso, deveria ter ficado calado.
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