quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Sabino e a "comparação"

Por razões, digamos, "de ofício", acompanho algumas rádios, sites e jornalista de extrema-direita.

Pelo menos um deles trabalhou, noutra encarnação, na revista Teoria e Debate, editada pelo PT.

Hoje, escreve artigos meio hidrófobos contra o Partido e contra Lula.

Um dos mais recentes está aqui: https://www.metropoles.com/colunas/mario-sabino/agora-lula-diz-que-nao-disse-o-que-disse-sobre-israel-e-o-holocausto

O artigo chegaria a ser engraçado, se o tema não fosse trágico. 

Afinal, Sabino admite que Lula não usou a palavra “holocausto”. 

Inclusive, reproduz a fala de Lula a respeito: “Primeiro que não disse a palavra Holocausto. Holocausto foi interpretação do primeiro-ministro de Israel. Não foi minha. A segunda coisa é a seguinte, morte é morte.”

Mas, mesmo assim, Sabino insiste que “não ter dito a palavra não apaga a comparação”.

Ou seja: Lula não disse a palavra, logo não fez a comparação, mas ainda assim a comparação existiria, porque embora Lula não tenha dito a palavra, é como se o tivesse feito!

Não haveria problema nesta insistência, se Sabino admitisse estar fazendo uma interpretação. Mas, como já mostramos, Sabino imputa a Lula ter feito uma comparação.

Acontece que Lula foi bem didático.

Em Adis Abeba Lula afirmou: "O que está acontecendo na Faixa de Gaza, com o povo palestino, não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando o Hitler resolveu matar os judeus".

A comparação, portanto, é com Hitler “quando resolveu matar os judeus”, não com o Holocausto.

Sabino entende que “o nome que se dá ao assassinato de milhões de judeus por Hitler é Holocausto”. 

Acontece que quando Hitler “resolveu matar os judeus” ainda não havia acontecido o Holocausto. 

O holocausto é a resultante final do processo, o ponto de partida é a ideologia racista e o intervalo entre os dois pontos é uma escalada de violência.

Portanto, Lula está certo, histórica e politicamente, ao fazer a comparação com Hitler e ao não utilizar a palavra holocausto.

Evidente que uma coisa desembocou na outra.

Evidente, também, que se Israel prosseguir na matança, a mediação feita por Lula perderá sentido.

O incrível é que a insistência do sionismo, em “acusar” Lula de ter usado uma palavra que ele não usou, está produzindo o efeito contrário ao pretendido.

Cresce o número de pessoas que – críticos de Israel e contrários ao sionismo – acham que o que está em curso em Gaza é mesmo um “holocausto”.

E argumentam, ademais, que a palavra “holocausto” pode e deve ser aplicada a várias outras situações históricas.

Por razões históricas e políticas, por enquanto não considero adequado usar a palavra "holocausto" para denominar o que está em curso na Faixa de Gaza.

O que está em curso é um genocídio, um morticínio, uma limpeza étnica, um assassinato em massa, um crime contra a humanidade, um ato similar a muitos cometidos por Hitler e pelo nazismo.

De toda forma, ficam cada vez mais evidentes as afinidades entre sionismo e nazismo.

Vejamos, por exemplo, o texto do próprio Sabino. 

Ele diz que a “comparação” seria “inaceitável”, entre outros motivos porque seria “despida de sentido, visto que Israel não está praticando genocídio em Gaza”.

Como designar a ideologia de alguém como Sabino, que afirma que matar 30 mil pessoas, na sua esmagadora maioria crianças, mulheres e civis, não seria praticar genocídio?

Sabino afirma, ainda, que a tal comparação “é uma desonestidade antissemita que iguala as vítimas, os judeus, a seus carrascos, os nazistas”.

A frase acima é genial, porque revela a lógica mental de alguns defensores de Israel.

Eles sabem o que estão fazendo. Por isso alegam que Israel estaria exercendo o “direito de se defender”. 

Acontece que desde 1948 Israel ocupa território palestino e violenta os direitos da população palestina.

Logo, perante o direito internacional e o bom senso, o “direito de se defender” é antes de mais nada dos palestinos. 

Além disso, ao exercer seu suposto “direito”, Israel pratica sempre a mais absoluta desproporcionalidade, ou seja, mata sempre muito mais palestinos e muito mais civis. 

Feitas as contas, noves fora, só resta, para tentar justificar a violência desproporcional do ocupante sionista, afirmar que sua violência estaria sendo praticada pelas vítimas do Holocausto, contra seus carrascos nazistas.

Noutras palavras: o governo de Israel usa “o pior crime já cometido contra a humanidade” como pretexto para cometer novos crimes contra a humanidade.

Felizmente, muita gente - entre os quais muitos judeus e muitos cidadãos de Israel - vem desmascarando esta empulhação. 

Felizmente, também, mais cedo ou mais tarde a ocupação será derrotada, a Palestina será livre e os criminosos de guerra - inclusive colaboracionistas - serão julgados e condenados.  













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