quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Comentários ao discurso de Lula

Por razões óbvias, não estive no ato de "refiliação" de Marta Suplicy.

E por razões igualmente óbvias, assisti a posteriori o vídeo disponível nas redes.

Paradoxal mas previsivelmente, grande parte da polêmica posterior ao ato girou em torno das declarações de Lula, não acerca de Marta, mas acerca do PT.

Parte da polêmica mobilizou defensores do Lula, que interpretaram de diferentes maneiras o que ele disse, ou teria querido dizer, no discurso feito no dia 2 de fevereiro.

Tendo em vista as diferentes interpretações, apelei para a transcrição do discurso (ver a íntegra ao final).

Lula começa dizendo estar “um pouco confuso com o ato”, que ainda não era “o lançamento da chapa Marta e Boulos”, mas sim um “ato público que tinha como finalidade filiar a Marta Suplicy ao PT”.

Obviamente, a confusão não é do Lula, mas da situação, que desde o início mistura indevidamente a questão da vice com a questão da filiação.

Em seguida Lula disse que quando foi convidado para inaugurar o primeiro CEU, teve a seguinte intuição “a Marta vai perder as eleições da sua reeleição porque ela fez muita política para os pobres de SP e tem um setor médio da sociedade que não aceita isso”.

E, sempre segundo Lula, “não deu outra, ela perdeu as eleições”.

Na sequência, Lula diz que “se é verdade que eu tive a intuição que ela ia perder por conta da opção dela pelos pobres, eu tive outra intuição agora: é que o Boulos precisava de você [Marta] pra ele [Boulos] ganhar as eleições” (…) “Boulos é um jovem, uma liderança extraordinária que surgiu no movimento social que precisa de alguém que tenha a marca que tem a Marta Suplicy para ganhar as eleições”.

Se entendi direito, a marca de prioridade para os pobres teria provocado nossa derrota em 2004 e, agora, seria fator decisivo para nossa vitória em 2024.

Como trata-se de uma intuição de Lula, demos por verdade e sigamos adiante.

Em seguida Lula lembra que já governamos inúmeras cidades no estado de São Paulo, cidades onde viviam “praticamente 22 milhões de brasileiros”, mas agora “nós perdemos quase todas”.

E pergunta: “O que aconteceu conosco? Aonde é que foi o erro? Em que momento a gente não fez a lição de casa? (…) Por que a gente perdeu? Nós temos que refletir sobre as coisas que a gente não faz corretamente”.

Infelizmente, de todas as “coisas que a gente não faz corretamente”, o discurso de Lula focou apenas em uma: as candidaturas.

Obviamente, não foi apenas por conta das candidaturas, que perdemos as eleições na maior parte das cidades que governamos no estado de São Paulo e em tantos outros lugares do país.

Seja como for, o que Lula disse acerca das candidaturas?

Disse que “a gente não pode ficar discutindo o lançamento de candidatura apenas porque uma pessoa quer ser candidata e se autointitula como candidata e a gente é obrigado a correr atrás. O partido não é massa de manobra de candidato”.

Lula tem razão. Mas vale dizer que desconheço alguém que discorde da afirmação “o partido não é massa de manobra de candidato”.

Tal frase é apoiada e repetida até mesmo por aqueles mandatários (executivos e legislativos) que, na prática, fazem de tudo para submeter o Partido a seus interesses.

Num certo sentido, a própria filiação de Marta Suplicy pode ser vista deste prisma. Pois, se não existissem as circunstâncias eleitorais, nem Marta se refiliaria ao PT, nem haveria um setor importante do PT defendendo a refiliação de Marta.

Lula também disse que “o partido tem que avaliar quem é que tem condições de ganhar as eleições e o partido precisa procurar aliança. Eu preciso trazer gente que não gosta de mim, não conheço, mas eu preciso do voto das pessoas que votam naquele cara”.

Novamente, Lula tem razão: temos que escolher bem as candidaturas e temos que fazer alianças (quais, há que discutir).

Mas logo em seguida o próprio Lula demonstra que, antes de se preocupar em conseguir quem “não gosta” da gente, deveríamos nos preocupar em conseguir o voto de quem gosta da gente, mas não vota na gente.

Diz Lula: “Já pararam pra refletir? Se não pararam, eu peço pra vocês: reflitam. Por que um partido que tem 20% de preferência eleitoral só teve 5% de voto na legenda para vereador. Alguma coisa tá errada, alguma coisa tá muito errada”.

Provavelmente não é uma coisa só, provavelmente são muitas coisas que estão erradas. Mas Lula foca numa única “coisa”, a saber: “o que tá errado é que a gente precisa escolher como candidato a vereador do PT as pessoas que são lideranças reais no movimento social e não aquele que quer ser candidato apenas, não aquele que se auto indica”.

Certamente, este é um problema. E, para tratar deste problema, são úteis as sugestões que Lula dá, por exemplo acerca de como localizar as “reais lideranças”.

Mas, como sabemos, na hora de montar as chapas para vereador (ou de escolher nossas candidaturas a prefeito), há outras variáveis envolvidas, além das problemáticas pessoas que decidem se “auto lançar”.

Temos, por exemplo, cidades onde o PT tem nomes para disputar a prefeitura, mas um setor do Partido decide apoiar nomes de outro Partido; ou decide filiar, para serem candidatas, pessoas que até ontem não eram e nunca foram do Partido.

Assim como temos, na montagem das chapas, a influência deletéria da presença de candidaturas potentes num outro partido da federação, que reduzem ao mínimo as chances eleitorais do PT, desmotivando o lançamento de candidaturas petistas.

Sem falar em outros temas, como a distribuição dos recursos do fundo partidário, a influência eleitoral de parlamentares já eleitos etc.

Enfim, “alguma coisa tá errada”, mas não se trata de uma coisa só, não se trata apenas das candidaturas, de como são escolhidas, de seu perfil.

Ao enfatizar este aspecto, Lula também afirmou o seguinte: “”Eu quero me lançar porque eu quero ser candidato. Eu quero me lançar, porque eu sou branco. Eu quero me lançar porque eu sou mulher. Eu quero me lançar porque eu sou negro. Eu quero me lançar porque eu sou indígena. Tá errado! A pessoa tem que se lançar pelas qualidades dele de disputar as eleições”.

De fato, desde 1982 o PT descobriu que dizer “trabalhador vota em trabalhador” não era suficiente para ganhar uma eleição. Ou seja, a identidade de classe – como outras identidades - não bastava e segue não bastando.

O PT também descobriu, nesses quase 42 anos de participação ininterrupta em eleições, que há “filtros” que selecionam os eleitos.

Estes filtros tem o feito contrário do dito bíblico, “é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha”, do que entrar um trabalhador, uma mulher, um negro e negra, um jovem, um indígena, um LGBT no parlamento.

Das afirmações acima, podem resultar opções diferentes. Uma é votar nos outros, naqueles que têm a cara mais aceitável ao status quo. Outra é criar as condições para que o povo brasileiro possa estar representado, nos órgãos de poder, por quem expressa de verdade o povo brasileiro.

Este segundo caminho não é fácil. Basta pensar no caso do próprio Lula. Quantas eleições ele teve que disputar, até que pudéssemos ter, na presidência, um legítimo filho da classe trabalhadora.

Aliás, preocupa, pensando no futuro, o fato de não temos candidaturas com um perfil de classe & potencial eleitoral similares ao de Lula.
Apesar do segundo caminho apontado não ser fácil, não podemos nem devemos abrir mão de ter, nos parlamentos e nos governos, pessoas que expressem as maiorias da classe trabalhadora.

E, aí que está o ponto, postas as coisas nestes termos, ser mulher, ser negra, ser indígena, ser jovem, ser lgbt,  também são ou podem ser, potencialmente, “qualidades” importantes para “disputar as eleições”.

Lembrando sempre que estamos discutindo sobre candidaturas petistas, não sobre candidaturas em geral.

Jovem, mulher, negra, indígena, lgbt que sai candidata por um partido de direita não tem o essencial, ou seja, não tem o compromisso de classe. Mas dentre os que têm este compromisso de classe, ajuda na qualificação de nossas chapas a presença, por exemplo, de jovens, mulheres, negras, indígenas e lgbt.

Voltando a Lula.

Ele diz assim: “A pessoa tem que se lançar pelas qualidades dele de disputar as eleições. Se a gente não fizer isso, a gente não vai crescer e é preciso ter em conta, quem tem voto nesse país é o PT, não é a cara pessoal de cada um de nós (…) O dia que o PT recuperar a razão, o PT vai obrigar que todos os candidatos do PT ao invés de colocar todo o seu nome, coloque o PT, coloque a legenda do PT, coloque a estrela do PT, pra ver se a gente consegue chegar nas eleições a mesma votação que nós temos na pesquisa”.

Novamente, há um paradoxo no raciocínio de Lula.

Se for como ele diz, se quem tem voto nesse país “é o PT, não é a cara pessoal de cada um de nós”, que importância tem as “qualidades” da pessoa que se lança candidata? Se o que importa é a legenda, que importância tem as “qualidades dele”?

Acontece que, na vida real, sabemos que o sistema político brasileiro não estimula o voto nos partidos; ao contrário, estimula o voto nas pessoas. O próprio Lula é um exemplo disso. Ele faz muito bem em combater esta situação, mas a situação existe e as características pessoais – entre as quais se incluem o gênero, a raça, a idade, a região de nascimento etc. - têm importância sim. Se elas predominarem nas escolhas que fazemos, o PT deixa de ser um partido. Se elas forem deixadas totalmente de lado, o PT deixa de ter votos. Sempre lembrando, contudo, que estes não são os únicos elementos que explicam o fato de termos menos votos na urna do que apoios nas pesquisas.

Lula fez um discurso, não um texto de análise sistemática. Apesar disso,ou por isso mesmo, algumas pessoas usam esta ou aquela afirmação de Lula como muleta para defender o que pensam. E como há apoiadores de Lula de todos os gostos e sabores, há polêmicas as vezes intensas entre os “interpretes” de Lula. Ainda bem que somos um partido, não uma religião ou um grupo de seguidores, pois se não já teríamos concílios e cismas.

Voltando ao discurso, Lula diz que “o partido tem que ter coragem, não é o deputado federal que indica o candidato a vereador porque quer fazer dobradinha com ele depois. É o partido que indica os candidatos desse país!”

Faltou dizer que está em curso a “captura”, dos órgãos dirigentes do Partido, pela “sindicato de parlamentares”.  

Ou seja: formalmente é o Partido que indica, mas muitas vezes a instância do Partido está sob controle do “sindicato”, que impõe ao conjunto do partido os interesses particulares de uma fração.

Não basta, por isso, reafirmar que “a história política desse país nunca teve um partido similar ao PT”. É preciso impedir que este partido se converta numa legenda como as outras.

Aqui, novamente, é paradoxal que Lula tenha feito este elogio ao PT, no mesmo ato em que ele assinava a ficha de filiação de alguém que fez o que fez ao PT e voltou sem dar nenhuma explicação (nem falo de autocrítica).

O que só nos leva a concluir que não é apenas escolhendo boas pessoas para serem candidatas, que a gente vai “voltar a ter mais deputados, mais senadores, ter mais vereadores”. Há outros problemas, mais de fundo, corroendo as nossas estruturas e minando as nossas forças.

Um desses problemas é abordado por Lula, a seguir: a distribuição do fundo eleitoral. Lula diz assim: “o fundo eleitoral foi cooptado pelos deputados que tem mandato e o povo tem pouca participação nesse dinheiro. Este é um dado concreto e objetivo”.

Verdade. Mas o que nós, do PT, temos feito a esse respeito? Temos sabido aplicar da melhor forma o fundo eleitoral do próprio Partido? Há controle realmente democrático na aplicação dos recursos, agora já bilionários?
No discurso, Lula pediu perdão e disse que “quem tiver raiva de mim pode falar, eu já tenho 78 anos, já sou presidente pela terceira vez, eu já fiz mais do que eu imaginei que poderia fazer e agora eu quero salvar esse partido porque é a coisa mais importante que tem nesse país”.

A frase é forte: “salvar esse partido”. E, segundo ele dá a entender, salvar o Partido não exatamente do ataque dos inimigos, mas salvar o Partido dos próprios erros que temos cometido.

E aí vem novamente a pergunta: que erros são esses? Quem os comete? E, sabendo da influência que o próprio Lula tem na direção do Partido, qual é a cota-parte do próprio Lula nesses erros?

Logo depois de dizer que quer “salvar esse partido”, Lula engata a seguinte frase: “E aí, a minha ideia de trazer a Marta Suplicy de volta. Eu tenho orgulho, orgulho…”

E na sequência Lula compara Marta com o Rivelino: “nós corintianos nunca deixamos de ver o Rivelino como corintiano. Você é o nosso Rivelino da política, você continua no PT. Por isso é que foi importante trazer você de volta, você deu muito pra esse partido político, eu sei quantas reuniões nós fizemos na sua casa. Então, o PT cometeu erros, nem todo mundo é obrigado a suportar a quantidade de erros que a gente comete. E você em algum momento ficou zangada, você saiu…”

Lendo esse trecho do discurso de Lula, não tem como não pensar na diferença psicológica que existe entre nós e a classe dominante.

Quem é trabalhador se sente muitas vezes sob pressão, na defensiva, tendo que demonstrar que está fazendo aquilo que é exigido, tudo para poder sobreviver.

Essa atitude se reflete no comportamento de setores da esquerda, que as vezes parecem carregar o peso do mundo nas suas costas: “a direita ganhou porque cometemos erros”, “o golpe aconteceu porque cometemos erros”, “o imperialismo triunfou porque cometemos erros”.  

Culpa, mea maxima culpa.

Já a classe dominante, quanta diferença. Não sente culpa. Não se sente responsável pela pobreza, pela crise, pelas mortes, pelas doenças, por nada que acontece de ruim na face da terra.

Assim, se alguém saiu do PT e apoiou o golpe e votou contra o povo, a culpa não é da pessoa, mas sim da “quantidade de erros que a gente [PT] comete”.

Isto posto, é bom repetir: Marta não apenas “saiu” do PT, Marta saiu atirando. Nos acusando de corruptos. Votou no golpe. Votou nas contrarreformas de Temer. Disputou contra o PT nas eleições até 2020. Isto tudo não é “culpa do PT”.

Lula lembrou que Marta queria que ele, Lula, fosse candidato em 2014. E concluiu assim o raciocínio: “é um direito da Dilma ser candidata à reeleição e a Dilma foi e ganhou. Depois aconteceu o que nós sabemos”. Há várias maneiras de entender este trecho do discurso. Há quem tenha lido assim: aconteceu o que nós sabemos, o golpe, porque Dilma foi eleita. Os golpistas, estes não precisam sentir culpa, quem precisaria sentir culpa somos nós.

Na sequência, Lula conta sua operação diplomática para trazer Marta e, depois, fala do governo federal, concluindo com o seguinte raciocínio: “muitas vezes vocês perdem muito tempo olhando o que o governo tá fazendo, fazendo críticas ao governo, fazendo crítica aquilo que a gente não fez, fazendo um monte de coisa. O nosso papel quando a gente ganha as eleições não é ficar olhando os defeitos do governo, porque os defeitos do governo é o defeito de vocês. O nosso desafio é saber o seguinte: a gente ta indo pra periferias desse país pra conversar com as pessoas que foram enganadas pelo bolsonarismo? A gente tá indo conversar com as pessoas que se deixam levar pelas fake news todo dia? A gente tá indo conversar com a juventude da periferia? A gente tá conversando com aquelas pessoas que são pobres e não vota na gente? A gente tá conversando com aquelas pessoas que são evangélicas e que acredita na mentira deslavada de alguns pastores? Ou a gente tá só se reunindo entre nós do PT pra fazer crítica a nós do PT? Entre nós do PSOL pra fazer crítica ao PSOL? Nós precisamos parar de falar só de nós com nós. Nós precisamos falar com os outros para os outros”.

De fato, muitas vezes a esquerda gasta tempo demais na chamada “luta interna”. Mas cabe perguntar: nossos governos acertam sempre? Nossos governantes não cometem erros? Se nossos governos e governantes erram, como e quando debater esses erros?

A esse respeito, no dia 22 de dezembro de 2022, Lula dizia o seguinte: “Eu sei que vocês vão continuar nos ajudando e cobrando. Isso é importante: não deixem de cobrar. Porque se vocês não cobram, a gente pensa que está acertando. E muitas vezes a gente tá errando e continua errando porque as pessoas não reclamam. Vou dizer em alto e bom som: nós não precisamos de puxa-sacos. Um governo não precisa de tapinha nas costas. Um governo tem que ser cobrado todo santo dia para que a gente consiga aprimorar a nossa capacidade de trabalho. Cobrem, cobrem e cobrem para que a gente faça, faça e faça”.  

Mais de um ano depois, Lula diz que “nosso papel quando a gente ganha as eleições não é ficar olhando os defeitos do governo, porque os defeitos do governo é o defeito de vocês”.

De fato “os defeitos do governo é o defeito de vocês”, ou seja, a militância é responsabilizada pelos erros do governo. Mas os erros do governo não são cometidos pela militância. E se a militância não pode nem ao menos criticar esses erros, então a conclusão é que os erros são de todos e os acertos, de alguns!

Já quase no final do discurso, Lula fala de milagres e de transcendência. E termina enfatizando que “o PT é a diferença política desse país, a gente não pode se acovardar, a gente não pode ficar trabalhando entre nós mesmos. O cara que é do diretório é ligado a um deputado, é ligado a um vereador, e o povo vai ficando fora. Pelo amor de deus, gente, por que nós criamos esse partido? Foi pra dar vez e voz para aqueles que não tinham nem vez e nem voz, foi para dar a prefeitura para o Boulos e a Marta recuperar a decência política na cidade de SP. Se a gente fizer isso, a gente tem essas eleições”.

Moral da história: é totalmente compreensível que haja, entre os que apreciaram muito o discurso de Lula, diferentes interpretações acerca do que ele efetivamente disse.

Quanto aos que não apreciaram o discurso tanto assim, ou simplesmente não apreciam argumentos de autoridade, lembrem que “somos a diferença política” entre outros motivos porque “o PT admite em seu interior a disputa ampla entre diferentes opiniões: somente a mais ampla liberdade de pensamento e o incentivo ao debate político poderá torná-lo genuína fonte de conhecimento e fortalecê-lo como instrumento de ação dos trabalhadores”. Portanto, sigamos em frente que atrás vem gente.

 

Segue a íntegra (não revisada) dos discursos feitos no dia 2 de fevereiro

 Gleisi Hoffmann

Boa tarde, companheiros e companheiras. É uma alegria muito grande ver essa casa cheia, com tanta energia, com tanta emoção. Eu queria cumprimentar cada companheiro, cada companheira que está aqui, nesse ato que é muito importante e histórico para nós. Quero cumprimentar aqui o nosso palco, a começar pelo Laércio, nosso presidente do Diretório Municipal, o Kiko, nosso presidente do Diretório Estadual, ministro Márcio Macedo, cumprimentar aqui o ministro Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, cumprimentar com carinho minha companheira de jornada e caminhada Janja e com muito carinho, também presidente Lula que está nesse ato e especialmente o próximo prefeito de São Paulo Guilherme Boulos e a próxima vice-prefeita de São Paulo Marta Suplicy porque eu não tenho dúvida, gente, da importância histórica desse ato inicia a caminhada vitoriosa para a Prefeitura de São Paulo pela chapa Psol-PT. E é o início dessa vitória que nos dá força e nos dá energia. A disputa na capital de São Paulo é a principal disputa do país nessas eleições, sem demérito de nenhuma outra cidade ou nenhuma outra capital. Mas pelo tamanho de São Paulo, pela sua dimensão econômica, política, pela influência que exerce no Brasil. E também pela síntese, por refletir os grandes problemas brasileiros, as grandes contradições econômicas e sociais, mas também trazer em si o potencial de soluções. Portanto, ganhar São Paulo é também ganhar no Brasil. E hoje nós estamos aqui para falar de futuro, da luta presente, mas da perspectiva do futuro e da construção que nós temos que fazer. Nós temos que reencontrar a capital de São Paulo com uma gestão progressista, uma gestão popular. Por três vezes governamos essa cidade. Governamos São Paulo com Luiza Erundina, hoje companheira que está no PSOL, governamos São Paulo com Marta Suplicy e governamos São Paulo com Fernando Haddad. Precisamos fazer com que São Paulo volte a cuidar do seu povo, das pessoas, olhar para a periferia como nós olhamos nas nossas gestões. Precisamos de uma São Paulo solidária, democrática, participativa. É esse o futuro que está desenhado pela chapa Boulos e Marta. É a união da luta, da combatividade e da experiência. E hoje, esse partido, o Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras, recebe a sua ex-prefeita de novo, de volta, recebe Marta Suplicy. Seja bem-vinda, Marta Suplicy, ao PT, ao seu partido. Você pode ter saído do PT por um tempo, mas eu quero dizer que o PT não saiu da sua imagem. As pessoas te veem e ainda falam, Dona Marta do PT. E o governo que você fez em São Paulo, Marta, as marcas que você deixou são dos programas do PT, elas evidenciam o compromisso que você teve. A sua gestão foi uma das que mais fez pela periferia, pelo povo pobre, pelos trabalhadores. São marcas de seu governo, são as políticas do nosso partido. Você, Marta, foi a prefeita do bilhete único, foi a prefeita dos corredores de ônibus, da integração do transporte, foi a prefeita dos CEUS, das escolas infantis, do vai e volta no transporte escolar, dos uniformes e materiais escolares gratuitos, da municipalização da saúde, da renda mínima, do bolsa-trabalho, das moradias populares, do crédito solidário e de muitos e muitos outros programas. A lista é longa e foi exatamente por isso que você mora no coração dos paulistanos. Você tem o carinho e o respeito desse povo. Você volta num momento muito importante para resgatar junto com Boulos o nosso projeto, mas sobretudo também para vencer e disputar o projeto de retrocesso que a extrema-direita tem, não só para São Paulo, mas sempre o Brasil. Esse campo político que está aqui tem o dever, tem a obrigação de fazer esse enfrentamento. Muitas vezes diz que nós polarizamos a sociedade e culpam o PT por isso. Nós não temos nenhuma governabilidade sobre essa polarização. Ela está dada porque a extrema-direita se organizou, se popularizou e disputa um projeto conosco. Não queiram outros que a gente não assuma a frente e enfrente esse processo, porque se nós não enfrentarmos, eles vencerão. Cabe a esse campo, junto com forças progressistas, não deixar a extrema-direita voltar. Esse é um compromisso histórico nosso, porque nós sabemos como a direita, a extrema-direita, governa. Aliás, nós sabemos o que foi o 8 de janeiro, o que foi o aparelhamento da ABIN, só para citar dois exemplos, essa gente não pode voltar. Então é esse o compromisso histórico que nós temos em São Paulo e no Brasil. E nessa luta com a extrema-direita, gente, não existe caminho do meio, nem em São Paulo e nem no Brasil. O caminho é esse, de enfrentar e de vencer para a gente fazer um projeto progressista e popular. E você, Boulos e Marta, já estiveram nessa trincheira em 22, quando nós lutamos com todas as nossas forças e enfrentamos momentos difíceis, e vocês estavam junto com o presidente Lula, e nós vencemos as eleições. Mas vencer as eleições não significa derrotar a extrema-direita.
Por isso a caminhada é longa e por isso nós estamos aqui, de pé, de cabeça erguida, prontos para a luta, prontos para esse enfrentamento. E é nosso dever travar essa luta. E quero saudar aqui os partidos políticos que estão conosco, PT, PSOL, Rede, PDT, PV, PCdoB. Saudar as lideranças políticas, todas as nossas lideranças que estão aqui, nossos deputados, parlamentares. Queria fazer isso em nome do José Guimarães, nosso líder do governo na Câmara, que está aqui lá do Ceará, e dizer a importância da construção dessa aliança e de fazer essa fronteira. Parabenizar o Diretório Municipal, em seu nome, Laerte, o Diretório Estadual, em seu nome, Kiko, e todas as nossas lideranças por ter ajudado o presidente Lula a construir essa frente e a construir essa chapa. Parabéns. E estaremos juntos com nossa militância, com nosso presidente Lula, com nossa chapa de vereadores e vereadoras, com os movimentos sociais, com o movimento sindical, com nosso ex-prefeito Fernando Haddad e com a nossa militância, que é a coisa mais preciosa que esse partido tem. Estaremos juntos para enfrentar e para ganhar as eleições no município de São Paulo. E por último, queria fazer aqui um registro pessoal, mas que eu acho de grande importância. A Marta, além dessa prefeita brilhante que foi, tem história e tem um compromisso com a luta das mulheres. Foi uma das precursoras na organização do movimento feminista. E, Marta, eu queria te dizer, eu conheci o movimento feminista e entrei pelas mãos Marta Suplicy. Foi você que me apresentou Rosemarie Muraro e você que me falou da importância da luta das mulheres. Tivemos juntas muitas vezes. O seu livro de Mariazinha Maria ficou na minha cabeceira há muito tempo. Então essa representatividade da luta das mulheres, da luta feminista no nosso país país e nessa cidade vai estar representada na chapa que você vai compor com Guilherme Boulos.
Seja muito bem-vinda, Marta Suplicy. Com Boulos e Marta, até a vitória. Viva São Paulo! Viva o Brasil! Viva o PT!

Guilherme Boulos

Boa noite, companheiros e companheiras. Que prazer que é estar com vocês aqui hoje nessa noite alegre, nessa noite de conquista e de início de uma caminhada vitoriosa. Eu quero saudar aqui em primeiro lugar toda a militância do Partido dos Trabalhadores e do movimento social que encheu a casa de Portugal hoje. Saudar os nossos parlamentares e as nossas parlamentares, lideranças políticas, da coligação que nós estamos construindo, do PSOL, do PT, do PCdoB, do PV, da Rede, do PDT, tô vendo ali nosso companheiro Antônio Neto. Quero saudar os ministros que estão aqui presentes. Nosso companheiro Luiz Marinho, nosso companheiro Alexandre Padilha, nosso companheiro Fernando Haddad, ex-prefeito da cidade de São Paulo, nosso companheiro Márcio Macedo. E quero saudar com carinho especial a direção do PT, em nome do Laércio, do Kiko e da Gleisi, que têm nos ajudado a conduzir essa pré-campanha com muito companheirismo e com muita parceria. Claro, saudar a nossa primeira-dama Janja da Silva e o nosso presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o melhor presidente da história desse país.
Marta, minha companheira, hoje a gente te dá boas vindas ao PT, quero te dar as boas vindas à chapa vitoriosa que vai mudar a cidade de São Paulo. Quando a Marta decidiu caminhar com a gente, com o nosso projeto, ela fez isso e nós conversamos muito pela consciência de uma missão. A missão que nós temos em outubro desse ano, todos nós, é derrotar o bolsonarismo na maior cidade do país. E a Marta veio para construir essa frente, porque o desafio é grande e o que tá em jogo é muita coisa. Nós temos do lado de lá os extremistas que tentaram dar o golpe no 8 de janeiro, nós temos do lado de lá os intolerantes que não aceitam a diversidade, que fizeram da política uma forma de expressar mentiras, fake news. Nós temos do lado de lá aqueles que hoje em São Paulo tão querendo abrir uma CPI contra o Padre Júlio Lancellotti. Olha, eu quero dizer pra vocês e parabenizar o presidente Lula pela coragem do posicionamento que teve nesse caso. Que, de fato, presidente, SP precisa de uma CPI, mas a CPI que SP precisa não é contra o Padre Júlio e contra quem ajuda o sem-teto, a CPI que SP precisa é pra investigar porque a cidade mais rica da América Latina tem 53 mil pessoas vivendo nas ruas diante do completo descaso do poder público. Essa CPI a gente quer e vai ser importante pra cidade. Eles estão construindo a frente do autoritarismo lá. Do lado de cá, estamos todos nós que defendemos a democracia no Brasil e na cidade de São Paulo. Aqueles que sempre aceitaram o resultado das urnas. Presidente Lula antes de se tornar presidente pela primeira vez, perdeu três eleições presidenciais. Nunca pediu recontagem, nunca reclamou do sistema eleitoral, porque é um democrata. Há quatro anos, nós perdemos uma eleição aqui em SP. Não saímos querendo dar golpe e xingando a justiça eleitoral. A primeira coisa que eu fiz quando perdi foi ligar pro Bruno Covas para parabenizar ele. E é importante dizer inclusive que naquela eleição o Bruno Covas não foi com o Bolsonaro e foi atacado pelo bolsonarismo. O Ricardo Nunes hoje abraçou o bolsonarismo traindo inclusive o legado daquele de quem ele foi vice. Por isso, o nosso desafio hoje em São Paulo é construir uma frente ampla pela democracia e pelo resgate da nossa cidade e vou dizer pra vocês: pelo que eu vi hoje lá em Santos, se bobear o Lula traz até o Tarcísio daqui a pouco pra essa frente. Nós temos é que trazer essa frente ampla democrática pra derrotar os extremistas, pra derrotar os autoritários. Mas nós queremos ganhar essa eleição em São Paulo não apenas por isso. Nós queremos ganhar essa eleição, Marta, porque a gente precisa devolver a cidade de SP pra o nosso povo. A gente precisa de um governo que volte a olhar pras periferias e pra o povo mais pobre dessa cidade. A gente precisa de um governo com coragem pra enfrentar o abandono, a insegurança, a crise que a cidade de SP vive hoje. E é isso que nós queremos e que nós vamos construir. SP é uma cidade progressista. Se dependesse apenas da cidade de SP, Fernando Haddad seria o governador desse estado hoje, porque aqui você ganhou, Haddad. A cidade de SP, como a Gleisi lembrou, já elegeu três prefeitos do campo popular e foram sem sombra de dúvida os três melhores prefeitos da história dessa cidade, porque deixaram legado. A Erundina fez os mutirões de moradia, a Erundina fez um processo de participação popular e botou o orçamento nas periferias. A Marta fez os CEUs, fez o bilhete único, fez o vai e volta, fez os corredores que tão na memória do povo de SP. O Haddad fez uma gestão urbana inovadora que foi premiada em todos os cantos do mundo, recuperou os espaços de convivência pública, fez a Paulista Aberta que hoje é um patrimônio da cidade de SP aos domingos, recuperou a capacidade de investimento dessa cidade, reduzindo a dívida com a União de 72bi para 27bi. Deixou a cidade com dinheiro, e aí a gente olha hoje: 35bi em caixa, dinheiro tem de monte e é triste de ver a situação de abandono da nossa cidade, porque a gente tem sentado naquela cadeira o pior prefeito que já governou SP. Sabe qual é o legado dessa gestão? O legado dessa gestão, Presidente Lula, foi dobrar a população em situação de rua, foi expandir a Cracolândia pra cidade inteira com uma política de violência, foi aumentar em 50% a fila de espera pra fazer exame no SUS municipal. Esse é o legado deles: deixar a cidade numa crise de segurança como nunca vista. Por isso, o nosso desafio é ganhar essa eleição, e nós vamos precisar pra mudar SP montar uma frente, ampliar, dialogar com a cidade inteira, conversar com todos os setores da cidade de SP, não apenas pregar para os nossos convertidos, fazer uma campanha que fale com todos. Mas, ao mesmo tempo, sem abrir mão dos nossos princípios, sem abrir mão do legado dos governos populares. Nós queremos e nós vamos ganhar essa eleição em SP defendendo que esse dinheiro seja investido nas periferias, com corredores de ônibus, com novas UBS, com UPAs, com urbanização e com regularização fundiária, defendendo que imóvel abandonado na região central tem que ser desapropriado pra fazer moradia popular, como a União já tá fazendo com imóveis do INSS a partir da SPU, trazendo os programas do Governo Lula aqui pra cidade de SP. A gente quer ver o Minha Casa, Minha Vida acontecendo de verdade em SP, a gente quer ver o Mais Médicos, Padilha, acontecendo de verdade na cidade de SP. A gente quer ver todos esses programas e já vai ter coisa, já começou a ter esse investimento federal aqui, apesar de uma prefeitura que não dialoga com o governo federal. Já tá se viabilizando a Universidade Federal lá em Itaquera na Zona Leste, os institutos federais, o hospital da Unifesp em Santo Amaro. O Presidente Lula esteve com a gente pra inaugurar as obras da Copa do povo, lá na zona leste. E aí eu vejo, Laércio, pra quem gosta de falar mal do movimento social, hoje o maior projeto de habitação da cidade de SP é uma parceria do movimento social com o governo do presidente Lula. É essa realização que nós queremos construir na nossa cidade e, presidente, eu quero terminar te dizendo o seguinte: conta comigo, não só como um companheiro e um amigo de primeira hora, mas porque eu to com muita vontade de rodar os quatro cantos dessa cidade, de amassar barro junto com a Marta, junto com essa militância aguerrida pra gente ganhar essa eleição aqui na cidade de SP. E teve gente que achou que a minha dobradinha com a Marta ia criar problema, teve gente que falou que ia ter intriga, que um falou mal de outro, que outro falou mal de um. Um pensa diferente do outro, mas o que a gente quer é justamente unidade. E unidade não se faz entre iguais, unidade se faz entre diferentes e é essa unidade que vai ser vitoriosa em SP, Marta, e para aqueles que acharam que a gente não ia se entrosar, nós vamos fazer a dupla dinâmica pra mudar a cidade de SP. Vai ser a aliança dos CEUs com a moradia popular, vai ser a aliança do bilhete único com as cozinhas solidárias, vai ser a aliança da experiência administrativa com a coragem de lutar pelo nosso povo. E é essa aliança que vai ser vitoriosa em outubro e SP vai ajudar o Brasil a derrotar o autoritarismo e o ódio. A democracia vai vencer, a esperança vai vencer. Seja bem-vinda, Marta, que nós vamos ganhar essa.

Marta Suplicy

Boa noite. Eu tô muito emocionada, gente. Essa nossa eu só pensava nisso, que emoção que seria essa volta e realmente tá sendo muito forte. Voltar ao ninho, sentir que eu sou PT raiz, que nunca saiu de dentro de mim. Me emociona muito e ver o carinho de todos é alguma coisa também muito forte. Caro Lula, Cara Janja, Presidenta Gleisi, Boulos, Haddad, todos amigos, presidente Laércio, Kiko, vocês parlamentares, dirigentes partidários do PT, do Psol, do PCdoB, do PV, do PDT que já integram a nossa família, que já integram essa frente democrática e popular. Lideranças de movimentos sindicais, entidades da sociedade civil, movimentos sociais, ministros e ministras aos quais eu cumprimento através do ministro e ex-prefeito de SP Fernando Haddad. Meus companheiros, deputados Rui Falcão, Eduardo Suplicy em nome dos quais eu saúdo todos os deputados federais e estaduais do PT. Aguerrida bancada de vereadores do PT, contem comigo ao lado de vocês, agora mais do que nunca trabalharemos juntos. Mas eu quero fazer uma saudação mais que especial pro companheiro Guilherme Boulos, o próximo prefeito da cidade de SP. Meu amigos e minhas amigas, eu quero expressar a minha profunda gratidão pelo carinho, pelo entusiasmo, que vocês e a nossa militância tão aguerrida me acolhem nessa noite para mim memorável. Aqui, eu tô de volta ao meu aconchego, é a minha raiz, estampado, né? Minha profunda gratidão por esse entusiasmo, por essa militância que me acolhe. Nunca saiu de dentro de mim o PT. Eu participei e assisti o PT nascer, o PT crescer nas ruas do Brasil e dentro da minha casa, ao lado do presidente Lula, de saudosos companheiros, companheiras, lideranças políticas, populares, sindicais, empresariais, artistas, intelectuais. Nós travamos incontáveis batalhas, obtivemos tantas conquistas e cada vitória, uma mais expressiva e suada que a outra. Bom, eu construí o meu legado através de uma carreira profissional e dos mandatos de deputada federal, senadora e o que mais me orgulha: prefeita da minha cidade de SP. Mas sempre foi, sempre foi, sempre foi como apoio de vocês pelo PT. Eu também fui ministra do turismo, ministra da cultura. E agora eu volto com toda a coragem, com toda a ousadia que marcaram a minha vida e marcaram a minha história. Eu retorno para juntos mantermos vivo nosso sentimento de liberdade e respeito. Minhas amigas, meus amigos, no dia da democracia, 8 de janeiro, eu recebi um honroso convite do presidente Lula e eu me emocionei muito, eu tomei como uma convocação à missão de contribuir com um projeto importante e decisivo pra SP e pro Brasil. Eu estou de volta pra caminharmos juntos, manter nosso espírito de luta na defesa da democracia, como instrumento da composição das diferenças, da pluralidade e do respeito às liberdades democráticas hoje tão ameaçada pelo crescimento da direita autoritária em nosso país. Também para fazermos de nossa cidade o refúgio da lucidez, o marco zero do respeito, a reserva da dignidade. SP precisa de um governo que pense a cidade com a sua diversidade econômica, social, mas sempre com o olhar atento pros mais excluídos. Assim como eu, todos nós estamos convocados pro desafio de fazer da cidade de SP um bastião de resistência democrática. União, reconstrução, transformação: esse é o desafio, gente, que se impõe a todos nós, a todo mundo aqui, pra fortalecer a nossa democracia, a favor do progresso, do desenvolvimento sustentável, respeito à diversidade na luta permanente e incansável contra a desigualdade. Também, e a gente precisa muito, pela preservação do meio ambiente, pela ampliação de todos os avanços e direitos da nossa população e pelo incentivo à cultura, pela educação, pela liberdade de manifestação. Bem, amigos e amigas, eu retorno ao PT mais madura, mais experiente e entendo que unir e somar vai ser o nosso grande desafio, porque é a hora de promovermos a união dos mais amplos e diferentes setores democráticos e populares na nossa cidade e em todo o Brasil. Eu creio na necessidade de nós encararmos as dificuldades e demandas do nosso povo, tem que ser com grandeza, tem que ser com desprendimento, tem que ser com farol alto, pra cima de forma altiva, generosa, na dimensão e tamanho da nossa cidade e tamanho do Brasil. A missão vai exigir empenho coletivo, compromisso, responsabilidade e ninguém melhor que você, companheiro Boulos, reúne as condições necessárias para nos liderar nessa caminhada, uma reconquista da prefeitura de SP. Juntos com Lula nós vamos vencer, vamos vencer Bolsonaro em  (?), novamente juntos vamos derrotar o bolsonarismo e seus representantes aqui na capital de novo, de novo. Contem comigo como parceira solidária, parceira militante, sempre pronta ao lado de vocês, pronta pro que der e vier. É assim, companheiro Boulos, quero dizer que gostaria de chamá-lo aqui ao meu lado neste momento e quero também chamar o presidente Lula, incansável batalhador pela democracia, pela diminuição da desigualdade, pelo fim da miséria nesse país.

Lula

Eu quero confessar a vocês… Deixa eu primeiro cumprimentar os nossos deputados e vereadores que estão aqui, depois cumprimentar as outras autoridades, depois eu quero dizer pra vocês que eu tô um pouco confuso com esse ato e vou explicar pra vocês por que eu estou confuso. [faz os cumprimentos] Eu agora vou dizer por que eu to confuso. Eu vim para um ato que ainda não era o lançamento da chapa Marta e Boulos. Eu vim para um ato público que tinha como finalidade filiar a Marta Suplicy ao PT. Então, é o seguinte, eu só posso falar da candidatura depois que ela assinar a ficha, porque senão ela não pode nem ser candidata. Eu quero saber cadê a ficha? Aqui não tem nada de internet, aqui é preto no branco. [assinam a ficha de filiação] Agora, eu posso falar que a gente pode construir a chapa Boulos e Marta, porque a Marta tem um partido político agora que ela está filiada e este é o PT. Eu vou falar pouco hoje, porque eu já falei muito em Santos e em São Bernardo. Eu só queria contar alguns casos pra vocês. Eu fui convidado pela companheira Marta Suplicy pra inaugurar o primeiro CEU que ela fez em Guaianases e eu fiquei deslumbrado com o que eu vi para a educação das crianças de SP. E naquele dia me veio uma intuição: a Marta vai perder as eleições da sua reeleição porque ela fez muita política para os pobres de SP e tem um setor médio da sociedade que não aceita isso. E quando eu vi o CEU que ela fez para as crianças mais pobres de uma região pobre, eu falei: ela vai perder as eleições e não deu outra, ela perdeu as eleições. Mesmo sendo a prefeita mais reconhecida aqui na cidade de SP pelo trabalho prestado. Nunca na história de SP, nunca, e falo isso na frente de Haddad, na frente da Luiza Erundina, nunca na história de SP ninguém fez para o povo pobre de SP o que fez a Marta Suplicy na prefeitura de SP. Se é verdade que eu tive a intuição que ela ia perder por conta da opção dela pelos pobres, eu tive outra intuição agora: é que o Boulos precisava de você pra ele ganhar as eleições. Eu tinha a certeza disso e fiz questão de numa reunião onde tava a Gleisi e alguns dirigentes do PT, alguns até que não queria que a Marta voltasse, porque diziam que a Marta tinha feito crítica ao PT, eu disse às dez horas da noite para um grupo de companheiros onde tava a nossa presidenta, eu disse a todo mundo: eu vou dizer pela última vez e depois eu prometo não falar mais nada. O PT faça o que quiser, mas eu vou dizer o que eu penso. E eu disse: se a gente quiser ganhar as eleições de SP, a gente vai ter que trazer a Marta de volta para o PT para ela ser vice do companheiro Boulos para ganhar a cidade de SP. E é isto que vai acontecer, porque o Boulos é um jovem, uma liderança extraordinária que surgiu no movimento social que precisa de alguém que tenha a marca que tem a Marta Suplicy para ganhar as eleições. Por tudo o que se falou aqui da Marta, por tudo o que se falou das governanças do PT, o Boulos tem tudo para ganhar essas eleições. Não é fácil mas é plenamente possível a gente ganhar SP. Nós temos que trabalhar lembrando que a gente já governou SP, já governou Osasco, já governou Guarulhos, já governou São Bernardo, Santo André, Diadema, Ribeirão Pires e Mauá tudo de uma só vez. A gente governava praticamente 22 milhões de brasileiros aqui com a capital e nós perdemos quase todas. Hoje nós temos Mauá e Diadema. O que aconteceu conosco? Aonde é que foi o erro? Em que momento a gente não fez a lição de casa? Por que a gente perdeu essa cidade importante depois de administrações maravilhosas? O Marinho foi um extraordinário prefeito de São Bernardo, Santo André, a presença de Celso Daniel marcou a nossa administração não em Santo André, no Brasil inteiro porque o Celso era exemplo e era modelo gestor. O que a gente fez em Guarulhos, o que gente fez em Osasco… Por que a gente perdeu? Nós temos que refletir sobre as coisas que a gente não faz corretamente. A gente não pode ficar discutindo o lançamento de candidatura apenas porque uma pessoa quer ser candidata e se autointitula como candidata e a gente é obrigado a correr atrás. O partido não é massa de manobra de candidato. O partido tem que avaliar quem é que tem condições de ganhar as eleições e o partido precisa procurar aliança. Eu preciso trazer gente que não gosta de mim, não conheço, mas eu preciso do voto das pessoas que votam naquele cara. O Pt já parou pra pensar por que que nas eleições de 2020, o PT que é um partido que tem acima de 20% de preferência partidária… Boulos, qualquer pesquisa que se fizer, em qualquer cidade desse país, das grandes, em qualquer estado, quando você pergunta: qual é o partido da sua preferência? O PT sempre tem acima de 20, 23, 25%. O segundo colocado tem 1% ou 0. A pergunta que eu faço: por que um partido que tem 20% de preferência eleitoral, na última eleição de 2020 só teve 5% de voto para vereadores? Já pararam pra refletir? Se não pararam, eu peço pra vocês: reflitam. Por que um partido que tem 20% de preferência eleitoral só teve 5% de voto na legenda para vereador. Alguma coisa tá errada, alguma coisa tá muito errada. E o que tá errado é que a gente precisa escolher como candidato a vereador do PT as pessoas que são lideranças reais no movimento social e não aquele que quer ser candidato apenas, não aquele que se auto indica. Nós precisamos voltar a fazer uma avaliação do movimento social, qual é a liderança daquele bairro? Qual é a liderança daquela vida? Qual é a liderança daquele sindicato? E a gente motivar essas pessoas a se candidatarem a alguma coisa. A gente não pode aceitar a política de fato consumado. Eu quero me lançar, eu vou me lançar. Eu quero me lançar porque eu quero ser candidato. Eu quero me lançar, porque eu sou branco. Eu quero me lançar porque eu sou mulher. Eu quero me lançar porque eu sou negro. Eu quero me lançar porque eu sou indígena. Tá errado! A pessoa tem que se lançar pelas qualidades dele de disputar as eleições. Se a gente não fizer isso, a gente não vai crescer e é preciso ter em conta, quem tem voto nesse país é o PT, não é a cara pessoal de cada um de nós. Mas o cara acha que tem que colocar a cara dele na televisão 2 segundos. Eu sou fulano de tal, eu sou… Não dá. O dia que o PT recuperar a razão, o PT vai obrigar que todos os candidatos do PT ao invés de colocar todo o seu nome, coloque o PT, coloque a legenda do PT, coloque a estrela do PT, pra ver se a gente consegue chegar nas eleições a mesma votação que nós temos na pesquisa. Mas o cara quer se lançar, aí o cara se lança candidato, aí tem 20 votos, tem 30 votos, tem 200 votos, aí não fala pra ninguém porque ficou com vergonha. E o partido tem que ter coragem, não é o deputado federal que indica o candidato a vereador porque quer fazer dobradinha com ele depois. É o partido que indica os candidatos desse país! Pelo amor de deus! A história política desse país nunca teve um partido similar ao PT. É como diria a Maria da Conceição Tavares: “Ah, o PT tem defeito, o PT não-sei-das-quantas, o PT isso, o PT tem defeito, mas é o meu partido, é o nosso partido!”. Pensem, direção do partido, candidato do partido, autoridade do partido como a gente vai dar a volta por cima pra gente voltar a ter mais deputados, mais senadores, ter mais vereadores. Pensem! Vamos discutir, vamos lançar as pessoas que querem ser. Na última eleição, aqui em SP, Marta, tinha candidato a vereador, meninas candidatas a vereador, não tinha um desgraçado de um panfleto, porque também o fundo eleitoral foi cooptado pelos deputados que tem mandato e o povo tem pouca participação nesse dinheiro. Este é um dado concreto e objetivo. Que me perdoem, quem tiver raiva de mim pode falar, eu já tenho 78 anos, já sou presidente pela terceira vez, eu já fiz mais do que eu imaginei que poderia fazer e agora eu quero salvar esse partido porque é a coisa mais importante que tem nesse país. E aí, a minha ideia de trazer a Marta Suplicy de volta. Eu tenho orgulho, orgulho… Você não sabe como eu fiquei triste o dia que o Corinthians perdeu do Palmeira de 1 a 0 em 1974 e o Rivelino foi obrigado a sair do Corinthians porque a torcida culpou ele pela derrota. E o Corinthians perdeu o seu maior ídolo que foi jogado no Fluminense e nunca deixou de ser corintiano, até hoje, velhinho, ele continua fazendo propaganda, ele continua corintiano. E nós corintianos nunca deixamos de ver o Rivelino como corintiano. Você é o nosso Rivelino da política, você continua no PT. Por isso é que foi importante trazer você de volta, você deu muito pra esse partido político, eu sei quantas reuniões nós fizemos na sua casa. Então, o PT cometeu erros, nem todo mundo é obrigado a suportar a quantidade de erros que a gente comete. E você em algum momento ficou zangada, você saiu… A Marta, ela ficou puta comigo porque ela queria que eu fosse candidato a presidente em 2014. Ela falava assim: “se você não for, a gente vai perder”. Eu falava: Marta, eu não posso ser, porque a Dilma tem o direito de ser candidata à reeleição. Eu fui na casa dela, num jantar, tinha 300 pessoas, ela queria anunciar meu nome. Eu falei: se você anunciar, eu vou embora, porque é um direito da Dilma ser candidata à reeleição e a Dilma foi e ganhou. Depois aconteceu o que nós sabemos. Então quando eu resolvi pedir pra Marta voltar pro PT, primeiro eu conversei com um companheiro que eu tenho muita confiança e que você tem que é o Rui Falcão. Eu falei: Rui, eu tô pensando em trazer a Marta de volta, o que que você acha? Ele falou: “você tem que conversar com ela”, eu falei: “não, você vai conversar com ela, você vai ser o meu representante, você vai marcar um jantar na casa dela, ela e o Márcio, e você vai dizer o que eu to pensando. Se ela der sinal de que tem interesse, aí sim eu vou conversar com ela”. E ela demonstrou muito interesse, e aí eu não tive dúvida, convidei ela pra ir em Brasília para dizer: Marta, eu quero você no PT, porque o PT precisa de você para consolidar a aliança com o Boulos e a gente ganhar as eleições. Por isso, companheiras e companheiros, eu quero que vocês saibam que quando eu digo para vocês que eu tenho 78 anos de idade, energia de 30 e tesão de 20, não duvidem, não! Primeiro, porque eu sou um homem cada vez mais apaixonado por essa mulher aqui. Todo dia eu acordo, eu percebo que to mais apaixonado. E um homem apaixonado, um homem que tem motivação de vida, não vai ficar velho. E eu falo pra deus todo dia: “eu não quero ir pro céu, eu quero ficar aqui na terra. Eu tenho um compromisso com o povo brasileiro, leve qualquer outro, mas pelo amor de deus me deixa aqui que eu tenho uma função a cumprir nesse país, que é fazer esse país recuperar a decência, esse país melhorar a vida do povo, esse povo voltar a consumir o que ele quiser, a estudar, trabalhar, a ter festa, lazer, a ir pro carnaval, a ir pra samba cantar. Eu quero que o povo seja feliz. Esse povo não pode viver no amargor de ter um prefeito que não entende SP. Eu queria que vocês um dia desses visitem a Cracolândia. Visite, que vocês vão ver o que é o ser humano virar o zumbi. Vocês vão ver as pessoas que não têm mais rumo na vida, as pessoas que não têm mais perspectiva da vida. E esse homem tentou consertar, tentou fazer e depois que ele saiu ninguém mais nada. Eu vou terminar porque eu não sou candidato a prefeito e nem a vice e eu já tô falando demais. Eu vou terminar dizendo uma coisa pra vocês, presta atenção: primeiro, nós vamos fazer a melhor presidência que esse país já teve. Eu quero conversar com vocês quando terminar o mandato. Eu falo pro Haddad todo santo dia: no nosso governo não existe pessimismo. Se a gente perceber que a coisa tá ficando ruim, além de lamentar a gente tem que se virar pra coisa ficar boa. Esta semana, não sei se vocês perceberam, nós anunciamos poupança para os estudantes do ensino médio. Por que nós fizemos isso? Ano passado, houve uma evasão de quase 500 mil jovens que não fizeram o ensino médio. São jovens que muitas vezes não querem estudar porque tem que ajudar a mãe, porque tem que ajudar o pai, muitas vezes são pessoas que têm problema na família e não tem motivação pra estudar. São muitas vezes pessoas que estão numa escola e a escola não motiva ele ir pra escola, e ele fala “pra que estudar?”. E eu lembro que a gente anunciou uma coisa revolucionária, nem Fidel Castro fez isso em Cuba, nem o Lênin fez isso na Rússia. Nós estamos fazendo aqui, na democracia, com o povo gritando contra e a favor. Nós estamos dando, Marta, uma bolsa, uma poupança pra cada aluno do ensino médio. Ele vai receber por mês R$200 e no final do ano vai ter R$1000 depositado na conta dele. Ele não pode sacar esse dinheiro, ele pode tirar um pouquinho por mês pra gastar, mas ele só vai receber se ele tiver 80% de comparecimento na escola e se ele passar de ano, senão não recebe. No segundo ano ele vai receber outra vez R$200 por mês e mais R$1000 no final do ano, e no terceiro ano ele vai receber mais R$200 por mês e mais R$100 no final do ano. Ou seja, se ele economizar, se Haddad convencer ele a poupar direitinho, ele vai terminar o ensino médio com R$9000 na conta dele. Aí, ao terminar de lançar esse programa, uma pessoa me pergunta: “Ô Lula, você não acha que tá gastando dinheiro demais?” e eu falei: “não, a gente vai gastar o dia que a gente deixar de cuidar da educação e tiver que cuidar desse jovem no crack, na cocaína, na bandidagem, no crime organizado. Fica mais barato investir pra ele estudar do que investir depois pra fazer cadeia para colocar esse jovem que não teve chance. É esse país que a gente quer fazer e é esse país que nós vamos fazer. Um país em que as pessoas vivam decentemente, sejam respeitadas, não é um país em que só vai ter chance quem nasce em berço de ouro. Não, nós queremos dar oportunidade pra todo mundo. Por isso, Marta, eu falei pro Camilo, eu quero fazer Instituto Federal no Jardim Ângela. Eu quero fazer porque sempre foi um lugar muito pobre aqui em SP. Nós queremos fazer na zona leste e na cidade Tiradentes, e nós vamos fazer em mais lugares. Nós vamos fazer 100, nós vamos fazer mais 100. E a gente quer fazer os IF não pra pessoa fazer doutorado, a gente quer que as pessoas aprendam uma boa profissão, sobretudo nessa questão de software que é uma coisa importante pra formar gente pro mercado de trabalho. Aí depois que a gente terminar eu vou contar uma coisa pra vocês. Boulos, nós anunciamos uma faculdade de matemática no RJ. Por que uma faculdade de matemática? Porque o Brasil não tinha olimpíada de matemática pra estudante da escola pública. Você tinha olimpíada de matemática pra aluno de escola privada e o Ceará era o estado que tinha mais aluno. Em 2005, eu resolvi fazer a olimpíada da escola pública. Disseram pra mim e pro Haddad “não, vocês vão fazer e as crianças da escola pública não querem participar”. No primeiro ano, se inscreveram 10 milhões de crianças, no segundo ano 14 milhões de crianças, no terceiro ano 18 milhões de crianças. Hoje, o Brasil é o país que tem a maior olimpíada de matemática do mundo, ninguém tem mais do que o Brasil. E o que nós resolvemos fazer? Nós resolvemos premiar os premiados. Os alunos e as alunas que ganharam medalha de ouro nas olimpíadas, nós vamos fazer uma seleção deles e nós vamos fazer um vestibular entre os medalhados. Os 100 melhores vão fazer a universidade de matemática. O primeiro ano vai ser 100, o segundo ano mais 100, o terceiro ano mais 100 e o quarto ano mais 100. Serão 400 alunos que serão considerados os nossos gênios pra estudar matemática. E a gente não quer que eles vão pro exterior, a gente quer formar gênio aqui e num convênio com a prefeitura do RJ. A prefeitura já comprou 100 apartamentos pra esses meninos morarem no apartamento encostado na universidade. aí, eu to dizendo pra vocês, nós estamos fazendo a revolução. Vocês sabem que o ITA é uma das melhores escolas de referência de engenharia desse país. Nós estamos levando o ITA pra Fortaleza, pra que a gente possa premiar, porque 40% das pessoas que fazem vestibular e passa pro ITA acontece no estado do Ceará. É por isso que o companheiro Camilo é ministro da educação é porque ele tem o melhor exemplo de educação básica nesse país. É por isso que eu trouxe ele. É por isso que nós queremos formar e qualificar o nosso jovem porque, senão, quem vai qualificá-lo é o crime organizado, quem vai qualificá-lo é o desespero, é a falta de esperança. E eu quero, quando chegar dia 31 de dezembro de 2026, entregar pra esse povo um país decente, um país digno, um país respeitado, um país em que as pessoas possam comer carne sem precisar entrar na fila do osso, um país em que as pessoas possam andar bonito, bem vestido, frequentar restaurante, comer comida de qualidade. Nós não nascemos pra comer coisa de segunda qualidade, eu não quero ir pra feira meio-dia pra pegar as coisas já amassadas de tanto apertar. Eu quero ir em primeiro lugar pra comprar as melhores frutas, as melhores hortaliças. É esse país que nós vamos construir. Não é o Lula, não é o Haddad, são vocês, acreditem. E vou terminar dizendo uma coisa pra vocês, prestem atenção: quando a gente chega na idade que eu to e já passou pelo que eu passei, eu tenho direito de falar coisas que muitas outras pessoas não podem falar porque vocês ficaram nervosas, mas eu vou falar. Ficar nervoso comigo não tem problema, meu coração é grande demais, eu sou filho de uma mulher que quando chegava domingo e não tinha feijão pra colocar no fogão, não tinha nem água quente pra esquentar, minha mãe nunca reclamava, minha mãe falava: “Amanhã vai ter”. Então, vou dizer pra vocês, companheiros militantes de esquerda, muitas vezes vocês perdem muito tempo olhando o que o governo tá fazendo, fazendo críticas ao governo, fazendo crítica aquilo que a gente não fez, fazendo um monte de coisa. O nosso papel quando a gente ganha as eleições não é ficar olhando os defeitos do governo, porque os defeitos do governo é o defeito de vocês. O nosso desafio é saber o seguinte: a gente ta indo pra periferias desse país pra conversar com as pessoas que foram enganadas pelo bolsonarismo? A gente tá indo conversar com as pessoas que se deixam levar pelas fake news todo dia? A gente tá indo conversar com a juventude da periferia? A gente tá conversando com aquelas pessoas que são pobres e não vota na gente? A gente tá conversando com aquelas pessoas que são evangélicas e que acredita na mentira deslavada de alguns pastores? Ou a gente tá só se reunindo entre nós do PT pra fazer crítica a nós do PT? Entre nós do PSOL pra fazer crítica ao PSOL? Nós precisamos parar de falar só de nós com nós. Nós precisamos falar com os outros para os outros. E cada petista, cada militante tem a obrigação de levantar na sua vila e mapear quem é que não vota no PT, quem é que não gosta do PT, quem é? eu vou conversar com essas pessoas. Eu não vou conversar com quem já gosta, porque se eu conversar com a Janja todo dia ela já gosta do PT e gosta de mim, então eu não vou ganhar nada. Eu tenho que ganhar com quem ainda não participa conosco dessa luta, pelo amor de deus, vamos multiplicar os pães (kkkkk), vamos multiplicar a consciência política, vamos mexer com a inteligência desse povo pra ele não acreditar em mentira. Se a gente fizer isso, se eu pudesse reunir 100 de vocês e todo dia perguntar o que você fez hoje, com quem que você conversou, “ah eu conversei com a minha mulher”, “conversei com o meu amigo”, assim não adianta. Você conversou com alguém que é contra nós? Você tentou convencer ele de alguma coisa? Você tentou desmistificar as mentiras que ele conta? Porque se a gente não fizer isso, a gente não tá dando a contribuição que a gente precisa dar pra salvar esse país. Ô gente, acreditem, eu sou resultado de um milagre da natureza. Não é possível eu ter nascido onde eu nasci, não é possível eu só ter comido pão depois dos 7 anos de idade e ser eleito três vezes presidente da república deste país. Alguma coisa transcende a minha competência. Vocês são parte disso. Eu sei o que vocês fizeram quando eu fui pra polícia federal, mas nós precisamos fazer mais. Ninguém tem o direito de discutir política mais do que nós. Eu vou terminar contando um caso. Eu tinha 6 meses de governo em 2003, eu fui convidado pela primeira vez de uma reunião do G7. Do G7 participa os 7 país mais ricos do mundo, liderado pelos EUA, pelo Japão, pela Alemanha, pela França, pela Itália. Eu fui convidado, eu cheguei na cidade francesa de Evian, era a primeira vez que o Brasil era convidado e eu, um peão de fábrica, um torneiro mecânico, sabe, sem dedo, e com vocabulário muito pequeno porque eu acho que meu vocabulário não deve ter 3 mil palavras. Eu tô lá e eu olho pelo vidro, tá o Bush, tá o Chirac, tá Angela Merkel, tá o rei da Arábia Saudita, tá não sei quem e eu falei “po, o que que eu vou fazer aí, eu não falo inglês, eu não falo espanhol, eu mal falo português” e não podia entrar intérprete. Eu falei: “o que que eu vou entrar lá dentro?”, aí eu fiquei pensando, olhei a cara do Tony Blair, todo bonitão falando, eu fiquei pensando, qual desses cara já passou fome? Qual desses cara já ficou desempregado? Qual desses cara já teve a casa cheia d’água, 1,5m de água dentro de casa? Qual desses cara já ficou um ano e meio desempregado? Qual desses cara sabe o que é comer a marmita a semana inteira só com um ovo branco, um ovo gelado? Ninguém. Quem é deles que já foi pro chão de fábrica? Ninguém. Eu falei: eu fui. Então, eu não quero falar o que eles falam. Eu quero falar o que eu acho que eles têm que aprender porque eu era a diferença política. Acreditem, pelo amor de deus, o PT é a diferença política desse país, a gente não pode se acovardar, a gente não pode ficar trabalhando entre nós mesmos. O cara que é do diretório é ligado a um deputado, é ligado a um vereador, e o povo vai ficando fora. Pelo amor de deus, gente, por que nós criamos esse partido? Foi pra dar vez e voz para aqueles que não tinham nem vez e nem voz, foi para dar a prefeitura para o Boulos e a Marta recuperar a decência política na cidade de SP. Se a gente fizer isso, a gente tem essas eleições. Um abraço.


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