quinta-feira, 10 de julho de 2025

O Estadão e os mafiosos


O jornal O Estado de S. Paulo publicou um editorial intitulado "Coisa de mafiosos", desancando tanto Trump quanto Bolsonaro. Chega a dizer, inclusive, que frente ao ataque trumpista a reação inicial de Lula foi "correta". Sobra até para Tarcísio, que leva uma paulada: "deplorável".

A íntegra do editorial do Estadão está ao final desta postagem.

O editorial repercutiu muito nas fileiras da esquerda, especialmente aquela que busca reconstruir a frente ampla abalada pela gula da bancada de direita no Congresso nacional e pela insaciável postura da turma da bufunfa financeira.

Sem dúvida, o Editorial comprova que - nas questões que envolvem a soberania nacional - é possível e necessário construir frentes amplas. A grande questão, como sempre, é que não basta definir "contra quem", é preciso também dizer "a favor do quê".

E é nesse ponto que a porca torce o rabo. 

Para começo de conversa, diferente do que diz explicitamente o editorial, não estamos diante de uma operação que atende aos "interesses particulares de Trump". Claro que o estilo da besta é inconfundível, mas neste caso existe muito método por detrás da aparente loucura. Afinal, aos Estados Unidos só há um caminho: virar o mundo de ponta cabeça. Pois no mundo que ele forjaram depois de 1945 e depois de 1971, eles estão perdendo o jogo. 

Logo, não se trata de uma guerra comercial onde perco um comprador e, então, vou à busca de outro. Trata-se de uma maratona contra quem não vai respeitar absolutamente nenhuma regra, sendo capaz de fazer muito estrago no meio do caminho. Assim sendo, as medidas necessárias para realmente proteger o Brasil deste tipo de violência vão muito além do que a vã filosofia fenícia do nosso grande empresariado é capaz de suportar.

Precisamos de soberania produtiva, o que implica numa industrialização 50 anos em 5. De soberania energética, o que implica recuperar a Petrobrás e a Eletrobrás para o controle 100% público. De soberania alimentar, o que implica em mais reforma agrária e menos agronegócio. De soberania digital, o que significa entre outros coisas Lei de Meios e construir nossas big techs nacionais e preferencialmente públicas. De soberania militar, o que implica mudar o ministro da Defesa, a orientação do oficialato e a doutrina atualmente aceita, de "defesa hemisférica". 

Ou seja, precisamos de tudo ao contrário do que é defendido pelo empresariado e pelo Estadão, como se pode constatar pelas posições adotadas no passado recente, em 2018, quando frente ao segundo turno entre Haddad e o agora denominado "mafioso", o Estadão disse tratar-se de uma "escolha difícil". Para quem não lembra, está aqui: Uma escolha muito difícil - Estadão

Um trecho para recordar memória: "De um lado, o direitista Jair Bolsonaro (PSL), o truculento apologista da ditadura militar; de outro, o esquerdista Fernando Haddad (PT), o preposto de um presidiário. Não será nada fácil para o eleitor decidir-se entre um e outro."

Assim, ótimo que agora o Estadão ataque os mafiosos. Mas ninguém se iluda com a disposição de luta exibida no aniversário do 9 de julho. Como diziam amigos antigos, no dia seguinte certos jornais servem apenas para embrulhar peixe.


SEGUE O EDITORIAL DO ESTADÃO

Coisa de mafiosos

Que o Brasil não se vergue diante dos arreganhos de Trump. E que aqueles que são verdadeiramente brasileiros não se permitam ser sabujos de um presidente americano que envergonha a democracia

O presidente americano, Donald Trump, enviou carta ao presidente Lula da Silva para informar que pretende impor tarifa de 50% para todos os produtos brasileiros exportados para os EUA. Da confusão de exclamações, frases desconexas e argumentos esquizofrênicos na mensagem, depreende-se que Trump decidiu castigar o Brasil em razão dos processos movidos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro pela tentativa de golpe de Estado e também por causa de ações do Supremo Tribunal Federal (STF) contra empresas americanas que administram redes sociais tidas pelo STF como abrigos de golpistas. Trump, ademais, alega que o Brasil tem superávit comercial com os EUA e, portanto, prejudica os interesses americanos.

Não há outra conclusão a se tirar dessa mixórdia: trata-se de coisa de mafiosos. Trump usa a ameaça de impor tarifas comerciais ao Brasil para obrigar o País a se render a suas absurdas exigências.

Antes de mais nada, os EUA têm um robusto superávit comercial com o Brasil. Ou seja, Trump mentiu descaradamente na carta para justificar a medida drástica. Ademais, Trump pretende interferir diretamente nas decisões do Judiciário brasileiro, sobre o qual o governo federal, destinatário das ameaças, não tem nenhum poder. Talvez o presidente dos EUA, que está sendo bem-sucedido no desmonte dos freios e contrapesos da república americana, imagine que no Brasil o presidente também possa fazer o que bem entende em relação a processos judiciais.

Ao exigir que o governo brasileiro atue para interromper as ações contra Jair Bolsonaro, usando para isso a ameaça de retaliações comerciais gravíssimas, Trump imiscui-se de forma ultrajante em assuntos internos do Brasil. É verdade que Trump não tem o menor respeito pelas liturgias e rituais das relações entre Estados, mas mesmo para seus padrões a carta endereçada ao governo brasileiro passou de todos os limites.

A reação inicial de Lula foi correta. Em postagem nas redes sociais, o presidente lembrou que o Brasil é um país soberano, que os Poderes são independentes e que os processos contra os golpistas são de inteira responsabilidade do Judiciário. E, também corretamente, informou que qualquer elevação de tarifa por parte dos EUA será seguida de elevação de tarifa brasileira, conforme o princípio da reciprocidade.

Esse espantoso episódio serve para demonstrar, como se ainda houvesse alguma dúvida, o caráter absolutamente daninho do trumpismo e, por tabela, do bolsonarismo. Para esses movimentos, os interesses dos EUA e do Brasil são confundidos com os interesses particulares de Trump e de Bolsonaro. Não se trata de “América em primeiro lugar” nem de “Brasil acima de tudo”, e sim dos caprichos e das ambições pessoais desses irresponsáveis.

Diante disso, é absolutamente deplorável que ainda haja no Brasil quem defenda Trump, como recentemente fez o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que vestiu o boné do movimento de Trump, o Maga (Make America Great Again), e cumprimentou o presidente americano depois que este fez suas primeiras ameaças ao Brasil por causa do julgamento de Bolsonaro.

Vestir o boné de Trump, hoje, significa alinhar-se a um troglodita que pode causar imensos danos à economia brasileira. Caso Trump leve adiante sua ameaça, Tarcísio e outros políticos embevecidos com o presidente americano terão dificuldade para se explicar com os setores produtivos afetados.

Eis aí o mal que faz ao Brasil um irresponsável como Bolsonaro, com a ajuda de todos os que lhe dão sustentação política com vista a herdar seu patrimônio eleitoral. Pode até ser que Trump não leve adiante suas ameaças, como tem feito com outros países, e que tudo não passe de encenação, como lhe é característico, mas o caso serve para confirmar a natureza destrutiva desses dejetos da democracia.

Que o Brasil não se vergue diante dos arreganhos de Trump, de Bolsonaro e de seus associados liberticidas. E que aqueles que são verdadeiramente brasileiros, seja qual for o partido em que militam, não se permitam ser sabujos de um presidente americano que envergonha os ideais da democracia.

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Sobre a carta de Trump



A carta (ver ao final) que Trump enviou ao presidente Lula é um ultraje sem nenhum rigor.

Quem quer que defenda os termos desta carta, direta ou indiretamente, deve ser tratado como traidor da pátria.

O governo precisa responder a esta "declaração de guerra" em cadeia nacional de rádio e tv.

E as manifestações convocadas para o dia 10 de julho e as que virão precisam incluir este tema na sua pauta.

Isto posto, estava na cara que isto ia acontecer.

Basta citar um fato: o governador de São Paulo disse que era "perigoso" para o Brasil aliar-se ao Sul Global.

Certamente já sabia do que ia ocorrer. 

O caso é simples: se Obama e Biden intervieram no Brasil para derrubar Dilma, com base no que se deveria acreditar que Trump não tentaria fazer o mesmo contra Lula?

Isto posto, vale a pena analisar alguns trechos da carta de Trump, para ver com que tipo de animal estamos lidando.

Vamos lá.

A carta começa defendendo em toda linha o cavernícola: "A forma como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro (...) é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar acontecendo. É uma caça às bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!"

Trata-se, como é se pode ver pelo imperativo em maiúsculas, de um autocrata que se acha imperador do mundo, com direito a dar ordens nas instituições de outros países.

A carta segue falando dos "ataques insidiosos do Brasil às eleições livres". 

Quais ataques? Contra quais eleições? No exterior, o único senão que lembro ter sido feito pelo governo brasileiro foi contra a eleição na Venezuela, mas certamente não é disso que Trump está falando. Já no Brasil, o único "ataque insidioso" contra as "eleições livres" partiu exatamente da gangue liderada pelo cavernícola, a quem Trump defende.

Depois a carta fala novamente de ataques contra "os direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos (como ilustrado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS às plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com multas de milhões de dólares e expulsão do mercado brasileiro)".

Ou seja: exigir que empresas dos Estados Unidos obedeçam a legislação brasileira é um desrespeito à "liberdade de expressão dos americanos". Que esta liberdade esteja sendo exercida na casa dos outros é um detalhe que escapa totalmente a quem se julga imperador do mundo.

"Em parte" devido a estes "ataques", Trump anuncia que "a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todos e quaisquer produtos brasileiros enviados aos Estados Unidos". Confirmando o que já dissemos outras vezes, não está em curso uma guerra comercial, mas sim uma guerra comercial; não estamos diante de uma questão de política tarifária, mas sim de politica tarifária.

Trump diz que o relacionamento dos EUA com o Brasil é uma "longa e muito injusta relação comercial engendrada pelas tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil". Contra isso, de nada adiante argumentar que não faz sentido cobrar tarifas mais altas de um país com quem os Estados Unidos mantém superávit. 

Para o governo Trump, não se trata de economia, mas de economia política. O objetivo é apertar o cerco contra o Brasil, fazer o país romper com o "Sul Global", alinhar o país aos EUA e se possível ganhar uns trocos a mais.

Tanto é assim que Trump chega a dizer que "a tarifa de 50% está muito aquém do necessário para garantir um campo de jogo nivelado entre nossos países". E se alguém não tiver conseguido entender, Trump complementa com a seguinte oferta: "não haverá tarifa se o Brasil, ou empresas dentro do seu país, decidirem construir ou fabricar produtos dentro dos Estados Unidos". Ou seja: para ele o preço justo é aquele que incentiva a produção nos Estados Unidos.

Caso resistamos, eles vão dobrar a aposta: "se por qualquer motivo vocês decidirem aumentar suas tarifas, então, qualquer que seja o número que escolherem para aumentá-las, será somado aos 50% que cobraremos". 

Pouco importa se Trump sabe que está mentindo. O fato relevante é que ele agem cheio de razão, como se fosse mesmo verdade que existam "déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos". Os números são o oposto: o Brasil é que tem déficit. Por conta disto, sempre tem alguém que acredita ser possível resolver a parada comprando da China e não mais dos Estados Unidos. Se fosse apenas uma guerra comercial, esta seria a solução lógica. Mas como se trata de uma guerra comercial, é preciso saber que a coisa não vai parar por aí.

Aliás, basta ler a frase seguinte da carta de Trump: "Esse déficit é uma grande ameaça à nossa economia e, de fato, à nossa segurança nacional!"

Segurança nacional: é disto que se trata. E caso alguém tenha dúvida, a penúltima frase da carta diz assim: "Vocês nunca ficarão decepcionados com os Estados Unidos da América". 

Isto tudo posto, recomenda-se que nossa resposta também leve em conta que estamos diante de uma ameaça à nossa segurança nacional. Ou tomamos medidas imediatas e extraordinárias para construir nossa soberania alimentar, energética, comunicacional, produtiva e militar; ou estaremos correndo algo risco.

Afinal, já sabemos o que acontece com os países que "decepcionam" o império e não têm musculatura para defender-se.

SEGUE A ÍNTEGRA DA CARTA DE TRUMP, TRADUZIDA PARA O PORTUGUÊS

“Conheci e me relacionei com o ex-presidente Jair Bolsonaro e o respeitei profundamente, assim como a maioria dos outros líderes mundiais. A forma como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato — inclusive pelos Estados Unidos — é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar acontecendo. É uma caça às bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!

Em parte devido aos ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos (como ilustrado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS às plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com multas de milhões de dólares e expulsão do mercado brasileiro), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todos e quaisquer produtos brasileiros enviados aos Estados Unidos, separadamente de todas as tarifas setoriais. Produtos transbordados para evitar essa tarifa de 50% estarão sujeitos à tarifa mais alta.

Além disso, tivemos anos para discutir nosso relacionamento comercial com o Brasil e concluímos que devemos nos afastar da longa e muito injusta relação comercial engendrada pelas tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil. Nosso relacionamento tem sido, infelizmente, longe de ser recíproco.

Por favor, compreenda que a tarifa de 50% está muito aquém do necessário para garantir um campo de jogo nivelado entre nossos países. E é necessário ter isso para corrigir as graves injustiças do regime atual. Como você sabe, não haverá tarifa se o Brasil, ou empresas dentro do seu país, decidirem construir ou fabricar produtos dentro dos Estados Unidos e, de fato, faremos tudo o que for possível para obter aprovações rapidamente, profissionalmente e rotineiramente — ou seja, em questão de semanas.

Se por qualquer motivo vocês decidirem aumentar suas tarifas, então, qualquer que seja o número que escolherem para aumentá-las, será somado aos 50% que cobraremos. Compreenda que essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de políticas tarifárias e não tarifárias e barreiras comerciais do Brasil, que causam esses déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos. Esse déficit é uma grande ameaça à nossa economia e, de fato, à nossa segurança nacional! Além disso, devido aos contínuos ataques do Brasil às atividades de comércio digital de empresas americanas, bem como a outras práticas comerciais injustas, estou instruindo o Representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer, a iniciar imediatamente uma investigação da Seção 301 sobre o Brasil.

Se desejarem abrir seus até então fechados mercados comerciais aos Estados Unidos e eliminar suas tarifas e políticas tarifárias e não tarifárias e barreiras comerciais, poderemos, talvez, considerar um ajuste nesta carta. Essas tarifas podem ser modificadas, para cima ou para baixo, dependendo do nosso relacionamento com seu país. Vocês nunca ficarão decepcionados com os Estados Unidos da América.

Obrigado por sua atenção a este assunto!





Resolução da AE sobre o PED

À militância petista

À militância que apoiou a chapa “Em tempos de guerra, a esperança é vermelha” e a candidatura de Valter Pomar à presidência nacional do PT

À militância que apoiou nossas chapas e candidaturas nos estados e cidades do Brasil

A direção nacional da tendência petista Articulação de Esquerda (Dnae), reunida no dia 9 de julho de 2025, saúda quem vai neste dia 10 de julho às ruas, exigir que os ricos paguem impostos e defender a vida além do trabalho. Que as manifestações marcadas para 10 de julho continuem acontecendo: só a luta transforma a vida! E que se convoquem manifestações também em defesa da soberania nacional, contra a ingerência aberta e descarada praticada pelo governo Trump, em conluio criminoso com a extrema direita cavernícola e vende pátria!!

A direção nacional da Articulação de Esquerda saúda, também, as centenas de milhares de petistas que participaram, nos últimos meses, do processo de eleição direta (PED) das direções do PT. A militância é a grande riqueza do PT!

O PED ainda não terminou. A totalização prossegue, assim como a conferência dos dados. Há recursos para serem votados, alguns deles abordando irregularidades gravíssimas, que mostram como nossa vida interna está sendo contaminada pelos piores hábitos da política tradicional. E, além disso, no dia 13 de julho, domingo próximo, vai acontecer o PED em Minas Gerais.

Orientamos a militância a seguir atenta: destes últimos passos depende o tamanho da nossa presença nos diretórios partidários e, em especial, nossa presença na comissão executiva nacional do Partido. Cada voto conta!

Como o processo ainda não concluiu, não emitimos ainda nenhuma manifestação oficial sobre o resultado nacional, inclusive sobre a eleição para presidente nacional do Partido. Não se trata de uma formalidade: infelizmente, tanto na entrada quanto na saída, o atual presidente nacional do PT segue operando como representante de uma chapa, não como árbitro de um processo democrático. Não se divulga o resultado de um processo que ainda não foi concluído!

Tão logo o processo se conclua, a direção nacional da AE divulgará uma nota. Nesta nota faremos menção aos resultados, mas também às condições em que se deu o processo. Nosso foco principal, contudo, será nas consequências políticas, que desde já resumimos da seguinte forma: teremos na presidência do Partido alguém que agirá como “braço direito” do governo.

Concluído o processo, teremos pela frente algumas tarefas imediatas, que resumimos a seguir:

1/indicar nossa delegação ao encontro nacional de 1 e 2 de agosto. A direção nacional aprovará a nominata no dia 15/7, levando em consideração os seguintes critérios: paridade, cotas, representação política, representação regional e tarefas no encontro;

2/indicar nossos representantes na direção nacional do Partido. A direção nacional aprovará a nominata em reunião dia 16/7, levando em consideração os seguintes critérios: paridade, cotas, representação política, representação regional e tarefas no próximo período;

3/realizar o balanço do PED. Pedimos a cada direção municipal que nos envie, para publicação no jornal Página 13, o balanço completo do processo em sua respectiva cidade. Também pedimos a cada direção estadual que nos envie, para publicação no jornal Página 13, o balanço completo do processo em seu respectivo estado. Com base nesses balanços, a direção nacional vai debater e aprovar um balanço nacional, que será igualmente publicado no Página 13;

4/preparar uma edição impressa do jornal Página 13, para distribuir no encontro nacional do PT, dias 1 e 2 de agosto. Para tal, os artigos devem ser enviados no máximo até o dia 17 de julho;

5/realizar uma plenária nacional da AE, na véspera do encontro nacional de 1 e 2 de agosto, reunindo a Dnae, a delegação nacional e toda a militância que possa participar. Nessa plenária debateremos as propostas que apresentaremos ao Encontro Nacional do PT;

6/realizar, nos dias 28, 29 e 30 de novembro, na cidade de São Paulo (SP), o 10º Congresso nacional da AE. Neste Congresso, além das resoluções políticas e organizativas, elegeremos a nova direção nacional da tendência. O regulamento deste congresso será divulgado posteriormente, bem como o projeto de resolução.

De antemão, a direção nacional destaca que travamos o bom combate, em defesa das coisas justas e belas. E conseguimos vitórias importantes, nos estados e municípios, que devem ser valorizadas, inclusive realizando atividades nos próximos meses, com a presença da direção nacional da tendência.

Valorizamos e agradecemos também as centenas de pessoas que apoiaram financeiramente nossa campanha, numa demonstração de que é possível ter finanças militantes.

No que diz respeito ao processo nacional, segundo a última totalização (que não é definitiva) teriam votado 450.818 pessoas em todo o Brasil, de um eleitorado total apto a votar composto por 2.949.507 filiados e filiadas.

Ou seja, um comparecimento de 15%. A depender de quantas pessoas votem em Minas Gerais, o total de participantes no PED 2025 girará ao redor de 500 mil pessoas.

Em comparação a outros partidos políticos existentes no Brasil, é um grande feito. Em comparação ao desempenho do próprio PT, nem tanto. Afinal, em 2001 votaram 221 mil pessoas; em 2005 votaram 314 mil pessoas; em 2007 votaram 326 mil pessoas; em 2009 votaram 518 mil pessoas; em 2013 votaram 421 mil pessoas; em 2017 não dispomos do número; em 2019 votaram 351 mil pessoas.

O número alcançado até agora (450 mil) está dentro das estimativas, que oscilavam entre 400 e 600 mil participantes. Entretanto, é preciso registrar que em fevereiro de 2025 foram registradas 340 mil novas filiações. Quando comparamos o comparecimento (450 mil) com o número de novas filiações (340 mil), fica evidente que tinham razão os que diziam ser necessário fazer um recadastramento, pois tratava-se de um “número excessivo” e fortemente artificial.

Depois que secretaria nacional de organização divulgar o resultado por estados e cidades, será necessário estudar a distribuição regional e municipal desses votos, o que certamente revelará outras interessantes novidades.

Segundo a mesma totalização, Edinho Silva teria conseguido 311.348 votos ou 73% do total de votos válidos, que seriam 424.944.

O significado destes números fica evidente quando comparamos com o resultado de outros PED, nos quais o comparecimento foi proporcionalmente maior, apesar do número total de filiados ser muito menor: Dirceu em 2001 teve 113 mil votos (55,6%); Berzoini em 2005 teve no primeiro turno123 mil votos (42%) e 115 mil votos no segundo turno (51,6%); o mesmo Ricardo Berzoini em 2007 teve no primeiro turno131 mil votos (43%) e 69 mil votos (62%) no segundo turno; José Eduardo Dutra teve em 2009 274 mil votos (58%); Rui Falcão em 2013 teve 268 mil votos (69,5%).

Nos dois processos posteriores, a eleição não foi direta. Nos respectivos congressos nacionais do Partido, entre as delegações Gleisi Hoffmann teve 62% dos votos em 2017 e 71,5% dos votos em 2019.

Portanto, em números proporcionais o resultado obtido por Edinho Silva é similar ao obtido por Rui Falcão e Gleisi Hoffman, confirmando o seguinte: quando se alia a outras tendências partidárias, a candidatura apoiada pela “Construindo um Novo Brasil” conquista cerca de ¾ dos votos válidos.

Isso, assim como o resultado obtido nas chapas, sobre o qual falaremos a seguir, é produto de um combo de fatores: em primeiro lugar, a força política acumulada há décadas; e também as filiações em massa, o uso das máquinas (governo federal, governos da Bahia, Piauí e Ceará, dezenas de prefeituras, dezenas de mandatos parlamentares), o abuso de poder econômico, o apoio da mídia comercial, a parcialidade de inúmeras direções partidárias e, inclusive, a interferência aberta de políticos de partidos de direita.

Tudo o que sempre dissemos sobre o PED, se confirma: na forma como é realizado hoje, traz para dentro do Partido os piores hábitos da política tradicional, o que significa desde transporte empresarial de eleitores até compra aberta de votos.

Sendo este o contexto, o desempenho das três outras candidaturas presidenciais precisa ser analisado com detalhe.

Segundo a mesma totalização divulgada pela secretaria nacional de organização, Rui Falcão teria recebido 49.572 votos ou 11,67% dos votos válidos; Romênio Pereira teria recebido 44.167 votos ou 10,39% dos votos válidos; e Valter Pomar teria recebido 19.857 votos ou 4,67% dos votos válidos. Estes números devem se alterar, depois que forem incluídos os votos de Minas Gerais.

Cabe lembrar que a candidatura de Rui Falcão foi apoiada por um combo de tendências, que ele próprio fazia questão de enumerar em cada um dos debates de que participou: setores do Novo Rumo, Avante, Democracia Socialista, Diálogo e Ação Petista, Militância Socialista e outros segmentos.

Já as candidaturas de Romênio Pereira e de Valter Pomar foram “solteiras”, ou seja, lançadas por suas respectivas tendências, a saber: Movimento PT e Articulação de Esquerda.

Cabe lembrar, ainda, que havia uma desproporção total no que diz respeito aos apoios recebidos por cada uma destas candidaturas, no que diz respeito a deputados federais, deputados estaduais, vereadores e presidentes de diretórios partidários, entre outros. Como um voto vale um voto, nada disto altera os resultados em si, mas deve ser levado em conta, mostrando a força relativa da militância da AE e da difusão de nossas posições, o que ficará mais explícito quando dispusermos dos resultados detalhados por estados e por cidades.

No que diz respeito às chapas, o resultado foi o seguinte: a chapa da CNB teve 51,62% dos votos; a chapa do Movimento PT recebeu 12,21% dos votos; a chapa da Resistência Socialista recebeu 11,22% dos votos; o “Campo Popular”, um combo de tendências (EPS, Novo Rumo, Avante, Socialismo em Construção, Movimento Brasil Popular) recebeu 10,74% dos votos; a chapa Muda PT, um casamento entre as tendências Democracia Socialista e Militância Socialista, alcançou 7,34% dos votos; a chapa Esperança Vermelha recebeu 3,88% dos votos; a chapa da “Tribo” recebeu 1,81%; a chapa do Diálogo e Ação Petista recebeu 1,18%.

Estes resultados todos devem sofrer alterações, em alguns casos significativas, depois que forem incorporados os votos de Minas Gerais. Só então, bem como depois da votação dos recursos, é que será conhecida a composição do Diretório Nacional e da Comissão Executiva Nacional.

No caso da CNB, além do número de cadeiras conquistadas no Diretório, é preciso conhecer quem serão as pessoas indicadas. Afinal, como é público, a tendência Construindo um Novo Brasil segue com divergências internas profundas, o que se traduziu inclusive em várias chapas e candidaturas concorrentes em vários estados e em várias cidades do país. Paradoxalmente, esta disputa, que em alguns casos se transformou em batalha campal, engordou a votação nacional da chapa da CNB.

No caso das chapas-combo (Campo Popular, Muda PT), é preciso conhecer como ficará a distribuição entre as forças internas, o que permitirá conhecer o tamanho aproximado de cada tendência. Na mesma linha, é preciso considerar o resultado obtido nas disputas pelas direções estaduais e municipais. Numa análise preliminar, entendemos que a AE se saiu relativamente bem com outras forças integrantes da mal denominada “esquerda petista”. Mas, repetimos, do ponto de vista político muito depende do resultado de Minas Gerais e de seu impacto sobre a composição da executiva nacional do PT.

Sobre o que não pode haver dúvida, entretanto, é que a tendência CNB ampliou sua maioria no Diretório Nacional, completando trinta anos de hegemonia ininterrupta, mesmo com altos e baixos. A dúvida é saber quais os efeitos disto sobre a atuação do PT, na atual conjuntura mundial e nacional, em particular levando em consideração as políticas e as atitudes defendidas, durante o PED, pelo candidato à presidência nacional lançado pela CNB.

Evidente que, depois que tiver concluída a batalha e conhecidos os resultados, nos cabe medir muito bem as palavras e evitar o pessimismo e a negatividade. Mas os fatos recentes confirmam o que dissemos na campanha: precisamos de uma direção disposta a implementar uma tática de polarização política contra as duas direitas, contra a extrema-direita e, também, contra a direita tradicional neoliberal que comanda o Congresso e o Banco Central. E precisamos de uma estratégia que nos permita lidar com os tempos de guerra em que vivemos. Acontece que os discursos e as propostas apresentadas por Edinho Silva e pelos representantes da CNB apontam noutro sentido.

Finalmente, sobre a Articulação de Esquerda, nos cabe fazer um balanço de conjunto do processo e também de nosso desempenho.

Do ponto de vista estritamente político, travamos o bom combate e apresentamos com lealdade e nitidez nossas posições ao conjunto do Partido. Do ponto de vista eleitoral, tivemos um resultado absoluto melhor, mas proporcionalmente inferior ao de 2019. Como já foi dito, nossa participação no Diretório Nacional e na Comissão Executiva Nacional depende da conclusão da totalização, dos recursos e dos resultados em Minas Gerais. O que confirma que era necessário cumprir, em todos os estados, a política aprovada por nosso congresso nacional, a saber: lançar candidaturas presidenciais nos estados ou pelo menos nas capitais, uma vez que isso potencializaria o desempenho das chapas (o que em alguns casos significaria reduzir danos ou pelo menos manter os espaços já existentes, noutros casos poderia resultar numa ampliação da votação).

Seja como for, no contexto em que ocorreu o PED, com destaque para as filiações em massa e as fraudes, algumas efetuadas diretamente no cadastro oficial do Partido, devemos apontar que o resultado obtido por nossa chapa nacional foi na verdade impressionante. Afinal, das 8 chapas nacionais, há algumas que se beneficiaram das disputas regionais e municipais e há outras que perderam com isso. Há chapas que são coalizões de grupos e outras que são impulsionadas por uma única tendência. Há chapas que têm apoio de imensas estruturas e há outras cujo desempenho dependeu quase que unicamente do convencimento político e do engajamento militante. Em todos estes quesitos, nós fazemos parte do segundo grupo.

Levando tudo isto em conta, nossa votação, embora numericamente pequena, é muito valiosa, porque expressou a combinação entre adesão a nossa orientação política e presença militante e organizada na base.

Isto confirma a importância de uma tendência como a Articulação de Esquerda, militante, orientada pela política, disposta a combater a degeneração mesmo quando isso implique em cortar na própria carne. Infelizmente, alguns de nossos aliados mais próximos só se deram conta disto tardiamente, perdendo de vista que era necessário sair do PED acumulando mais organicidade. Neste espírito, devemos voltar a todas as cidades onde recebemos votos e transformar nossa votação em organicidade.

Mas repetimos: é indispensável manter nossa representação na comissão executiva nacional do PT. E todos devem contribuir nisso, até as 17 horas do dia 13 de julho.

Seja como for, travamos o bom combate. Diferente de outras tendências, que não apresentaram o que pensam, que se ocultaram em composições, a nossa apresentou com nitidez uma visão programática, estratégica, tática e organizativa. Este é o ponto de partida para, no próximo período, seguirmos em nossa luta por um Brasil democrático, popular e socialista.

Viva o PT!

Viva a militância!

Viva quem tem a esperança vermelha batendo do lado esquerdo do peito!

Palestina Livre!

 

9 de julho: a renúncia de Genoino


Acabo de falar por telefone com José Genoino.

Nada de excepcional, conversamos desta forma duas ou mais vezes por semana.

Ele me pediu notícias do PED.

E comentamos sobre o cerco da direita contra o governo.

No final da ligação, critiquei o feriado de 9 de julho, dedicado à contrarrevolução bandeirante.

Genoino lembrou então do 9 de julho de 2005, quando ele renunciou à presidência nacional do PT. 

Há quase exatos 20 anos, na noite de 8 para 9 de julho de 2005, Múcio Magalhães, Iriny Lopes, Sônia Hypolito e este que vos escreve estivemos na casa de Genoino, para conversar sobre a situação.

Genoino morava na mesma casa há muitos anos, sendo esse um dos muitos motivos que me levavam a recusar até mesmo qualquer insinuação que fosse feita contra ele. 

No dia 9 de julho fomos chamados pelo “campo majoritário”, que comunicou ter escolhido Tarso Genro para substituir Genoino na presidência, com chances inclusive de Tarso vir a ser o candidato (da então “maioria”) à presidência nacional do PT no PED que ocorreria em 2005.

Nos opusemos fortemente ao nome de Tarso Genro. Os acontecimentos futuros confirmaram quem tinha razão nesta questão. 

A reunião do Diretório Nacional, naquele 9 de julho de 2005, foi acima de tudo dolorosa. Como um dos vice-presidentes, tive que estar na mesa que dirigiu os trabalhos. 

Algum dia, depois de ser cremado, talvez escreva tudo o que sei e penso que sei sobre aquela época, inclusive sobre quem acho que realmente pode ser chamado de guerreiro do povo brasileiro.

Pano rápido.

Vinte anos depois, Genoino segue sendo camarada, como era desde quando o vi pela primeira vez, numa reunião no Grupo Educacional Equipe, acho que em 1978.

Na ocasião perguntaram como ele podia opinar sobre a política adotada na Guerrilha do Araguaia, se fora preso logo no início. Lembro dele responder que todo mundo ali tinha opiniões sobre a Revolução Russa de 1917, porque ele não poderia ter sobre uma Guerrilha ocorrida há tão pouco tempo??

Nestes quase 50 anos divergimos muito, como se pode inferir da leitura do texto disponível no endereço abaixo, escrito pouco antes da queda:

https://teoriaedebate.org.br/2005/04/20/debate-25-anos-de-pt-com-a-palavra-a-maioria/

Mas também convergimos muito, como se pode ver num dos adesivos que Genoino carrega no peito, na foto que ilustra esta postagem. Apesar de táticas diferentes, operamos neste PED de 2025  com um mesmo propósito. Fomos derrotados. Mas pelo menos foi em boa companhia. 

Abaixo, só para ilustrar, uma foto de quando visitamos a China, em 2004.








Inadimplente não pode ser dirigente

Olá militância do Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras de Minas Gerais.

Como vocês sabem, um inaceitável recurso ao Judiciário obrigou o PT a fazer uma escolha: OU realizar o PED sob intervenção judicial OU adiar o PED em MG.

Decidimos adiar.

Mas agora que a justiça foi restabelecida, no próximo dia 13 os petistas de Minas vão poder escolher suas direções municipais, sua direção estadual e também vão poder votar para a direção nacional do Partido.

A quem já decidiu que vai votar na chapa nacional 220, peço que consiga mais votos.

A votação que nossa chapa receberá em MG será decisiva para saber se continuaremos ou não representados na executiva nacional do PT.

E a quem ainda não decidiu em quem vai votar, peço que considere com carinho votar em nós.

Por um PT militante, presente nos territórios, atuante nos anos ímpares e não apenas em anos eleitorais.

Por um PT engajado nas lutas sociais, pelo fim da escala 6x1, pela redução da jornada de trabalho, pela tributação dos ricos, por uma Palestina livre.

Por um PT que enfrente tanto a extrema direita quanto a direita tradicional, porque ambas são neoliberais

Por um PT que luta pela reeleição de Lula em 2026, mas que começa essa luta agora, em 2025, enfrentando esta maioria de direita do Congresso nacional que tenta implantar um parlamentarismo ilegal.

Por um PT que entenda que não basta reeleger Lula, é preciso reeleger em condições dele fazer um governo melhor.

Por um PT comprometido com a transformação do Brasil.

Um Brasil soberano, com democracia popular, bem estar social, desenvolvimento e industrialização.

Um Brasil integrado na América Latina e Caribe, comprometido com a construção do outro mundo possivel.

Um Brasil socialista.

Por estes e por outros motivos, quero pedir um voto de confiança na chapa nacional Em tempos de guerra a esperança é vermelha, de número 220

E quero agregar um motivo a mais.

A nossa chapa não se omitiu.

Dissemos explicitamente que só pode dirigir o PT quem contribui financeiramente com o PT.

Inadimplente não pode ser dirigente.

Também dissemos que é inaceitável recorrer ao Judiciário contra uma posição aprovada pelo Diretório Nacional do Partido.

O Judiciário não pode virar a última instância deliberativa do PT

Nós apoiamos a Leninha como nossa candidata à presidenta estadual do PT e queremos pedir teu voto para a nossa chapa nacional.

Como já dissemos, o voto dos petistas de MG vai decidir se nossa chapa estará ou não representada na próxima executiva nacional do PT. 

Esperamos contar com a sua confiança, seu apoio e seu voto.

No dia 13, todo mundo ligado no 220!

Viva o PT!


terça-feira, 8 de julho de 2025

Minas Gerais vai decidir

A eleição das direções do PT aconteceu no domingo dia 6 de julho.

Menos em Minas Gerais.

Motivo: a deputada Dandara entrou no Judiciário contra o Diretório Nacional do PT.

Antes disso ela já havia recorrido a comissão organizadora eleitoral nacional, à câmara de recursos, à comissão executiva nacional e ao Diretório Nacional.

Perdeu em todas estas instâncias.

E aí cruzou a "linha verde-oliva": recorreu ao Judiciário.

Ganhou uma liminar. E deixou o PT diante de uma "dilema de Sofia": fazer o PED sob intervenção judicial ou adiar.

A executiva nacional  do PT decidiu trucar e adiou o PED em Minas, apostando que conseguiria derrubar a liminar.

Foi o que ocorreu. Perdeu.

Segundo informaram, perdeu no Tribunal de Justiça do DF, perdeu um recurso junto a um desembargador e perdeu, também, na justiça de primeira instância em Belo Horizonte.

Com um agravante: em pelo menos um dos despachos judiciais, é dito expressamente que ela "não pagou suas contribuições no prazo" & que ela "acusou o banco e não provou". 

Felizmente, não prosperou a tentativa de transformar o judiciário em última instância do PT.

Isto posto, vai acontecer PED em MG no dia 13 de julho.

Acontece que no país inteiro o resultado já foi totalizado. Portanto, já se sabe a votação obtida pelas chapas nacionais. 

Na prática, a depender do comparecimento e da votação obtida por algumas chapas, outras poderão ficar de fora do Diretório Nacional e/ou da Comissão Executiva Nacional.

Este é o caso da chapa "Em tempos de guerra, a esperança é vermelha".

Hoje esta chapa possui uma representante na Executiva Nacional do PT. Mas, a depender do resultado do PED em Minas Gerais, pode ficar sem esta representante.

Assim sendo, apelamos a todo mundo que apoiou nossa chapa e/ou que considera relevante, para o PT, que mantenhamos representação na Comissão Executiva Nacional, que fale com seus contatos petistas em Minas Gerais e peça voto na chapa nacional 220.

Como diz o ditado, "o não já temos". Mas como tudo vale a pena, quando a calma (sic) não é pequena, vamos lutar para conseguir o sim.

 

PED: estado da arte

Hoje no início da madrugada a secretaria nacional de organização divulgou os resultados da totalização nacional.

Segundo foi explicado, nesta totalização faltariam alguns votos de várias cidades em vários estados. Não foi dito, mas é preciso lembrar que há recursos que ainda não foram apreciados e que podem, em tese, alterar os resultados. Finalmente, há a situação de Minas Gerais, que pode alterar significativamente o resultado, principalmente em benefício das chapas que têm maior presença naquele estado.

Segundo a totalização, teriam votado 450.818 pessoas em todo o Brasil, de um eleitorado total apto a votar composto por 2.949.507 filiados e filiadas. Ou seja, um comparecimento de 15%. 

O número deve crescer, especialmente depois que forem somados os resultados de Minas Gerais, onde há 259 mil filiados. Mas se Minas Gerais mantiver a média nacional, ela agregará cerca de 40 mil novos votantes. Neste caso, o total de participantes no PED 2025 girará ao redor de 500 mil pessoas.

Em comparação a outros partidos políticos existentes no Brasil, é um grande feito. Em comparação ao desempenho do próprio PT, nem tanto. Afinal, em 2001 votaram 221 mil pessoas; em 2005 votaram 314 mil pessoas; em 2007 votaram 326 mil pessoas; em 2009 votaram 518 mil pessoas; em 2013 votaram 421 mil pessoas; em 2017 não dispomos do número; em 2019 votaram 351 mil pessoas. 

O número alcançado até agora (450 mil) está dentro das estimativas, que oscilavam entre 400 e 600 mil participantes. Entretanto, é preciso registrar que em fevereiro de 2025 foram registradas 340 mil novas filiações. Quando comparamos o comparecimento (450 mil) com o número de novas filiações (340 mil), fica evidente que tinham razão os que diziam ser necessário fazer um recadastramento, pois tratava-se de um “número excessivo” e fortemente artificial.

Depois que secretaria nacional de organização divulgar o resultado por estados e cidades, será necessário estudar a distribuição regional e municipal desses votos, o que certamente revelará outras interessantes novidades.

Segundo a mesma totalização, Edinho Silva teria conseguido 311.348 votos ou 73% do total de votos válidos, que seriam 424.944. 

Comparando com o resultado de outros PED, nos quais o comparecimento foi maior, apesar do número total de filiados ser muito menor: Dirceu em 2001 teve 113 mil votos (55,6%); Berzoini em 2005 teve no primeiro turno123 mil votos (42%) e 115 mil votos no segundo turno (51,6%); o mesmo Ricardo Berzoini em 2007 teve no primeiro turno131 mil votos (43%) e 69 mil votos (62%) no segundo turno; José Eduardo Dutra teve em 2009 274 mil votos (58%); Rui Falcão em 2013 teve 268 mil votos (69,5%).

Nos dois processos posteriores, a eleição não foi direta. Na eleição feita entre os delegados aos respectivos congressos nacionais do Partido, Gleisi Hoffmann teve 62% dos votos em 2017 e 71,5% dos votos em 2019.

Portanto, embora possa ter sido inferior em números absolutos, em números proporcionais o resultado obtido por Edinho Silva é similar ao obtido por Rui Falcão e Gleisi Hoffman, confirmando o seguinte: quando se alia a outras tendências partidárias, a candidatura apoiada pela “Construindo um Novo Brasil” conquista cerca de ¾ dos votos válidos.

Isso, assim como o resultado obtido nas chapas, sobre o qual falaremos a seguir, é produto de um combo de fatores: em primeiro lugar, a força política acumulada há décadas; e também as filiações em massa, o uso das máquinas (governo federal, governos da Bahia, Piauí e Ceará, dezenas de prefeituras, dezenas de mandatos parlamentares), o abuso de poder econômico, o apoio da mídia comercial e a parcialidade de inúmeras direções partidárias.

O desempenho das três outras candidaturas também precisa ser analisado com detalhe. Segundo a mesma totalização divulgada pela secretaria nacional de organização, Rui Falcão teria recebido 49.572 votos ou 11,67% dos votos válidos; Romênio Pereira teria recebido 44.167 votos ou 10,39% dos votos válidos; e Valter Pomar teria recebido 19.857 votos ou 4,67% dos votos válidos. Estes números devem se alterar, depois que forem incluídos os votos de Minas Gerais.

Cabe lembrar que a candidatura de Rui Falcão foi apoiada por um combo de tendências, que ele próprio fez questão de enumerar em cada um dos debates de que participou: setores do Novo Rumo, Avante, Democracia Socialista, Diálogo e Ação Petista, Militância Socialista e outros segmentos. Já as candidaturas de Romênio Pereira e de Valter Pomar foram “solteiras”, ou seja, apoiadas apenas por suas respectivas tendências, a saber: Movimento PT e Articulação de Esquerda.

Cabe lembrar, ainda, que havia uma desproporção total no que diz respeito aos apoios recebidos, em termos do apoio recebido por cada uma destas candidaturas, no que diz respeito a deputados federais, deputados estaduais, vereadores e presidentes de diretórios partidários, entre outros. Como um voto vale um voto, nada disto altera os resultados em si, mas deve ser levado em conta na análise que se poderá fazer quando forem distribuídos os dados detalhados por estados e por cidades.

No que diz respeito às chapas, o resultado foi o seguinte: a chapa da CNB teve 51,62% dos votos; a chapa do Movimento PT recebeu 12,21% dos votos; a chapa da Resistência Socialista recebeu 11,22% dos votos; o Campo Popular, um combo de tendências (EPS, Novo Rumo, Avante, Movimento Brasil Popular) recebeu 10,74% dos votos; a chapa Muda PT, um casamento entre as tendências Democracia Socialista e Militância Socialista, alcançou 7,34% dos votos; a chapa Esperança Vermelha recebeu 3,88% dos votos; a chapa da Tribo recebeu 1,81%; a chapa do Diálogo e Ação Petista recebeu 1,18%. 

Estes resultados todos devem sofrer alterações, em alguns casos significativas, depois que forem incorporados os votos de Minas Gerais. Só então, bem como depois da votação dos recursos, é que será conhecida a composição do Diretório Nacional e da Comissão Executiva Nacional.

No caso da CNB, além do número de cadeiras conquistadas no Diretório, é preciso conhecer quem serão as pessoas indicadas. Afinal, como é público, a tendência Construindo um Novo Brasil segue com divergências internas profundas, o que se traduziu inclusive em várias chapas e candidaturas concorrentes em vários estados e em várias cidades do país.

No caso das chapas-combo, é preciso conhecer como ficará a distribuição entre as forças internas, o que permitirá conhecer o tamanho aproximado de cada tendência. Na mesma linha, é preciso considerar o resultado obtido nas disputas pelas direções estaduais e municipais.

Sobre o que não pode haver dúvida, entretanto, é que a tendência CNB ampliou sua maioria no Diretório Nacional, completando trinta anos de hegemonia ininterrupta, mesmo com altos e baixos. A dúvida é saber quais os efeitos disto na atual conjuntura mundial e nacional, em particular levando em consideração as políticas e as atitudes defendidas, durante o PED, pelo candidato à presidência nacional lançado pela CNB.

Evidente que, travada a batalha e conhecidos os resultados, cabe medir muito bem as palavras e evitar o pessimismo e a negatividade. Mas, por outro lado, os fatos recentes confirmam o que dissemos na campanha: precisamos de uma direção disposta a implementar uma tática de polarização política contra as duas direitas, contra a extrema-direita e também contra a direita tradicional neoliberal que comanda o Congresso e o Banco Central. E precisamos de uma estratégia que nos permita lidar com os tempos de guerra que vivemos. Acontece que os discursos e as propostas apresentadas por Edinho Silva e pelos representantes da CNB apontam noutro sentido.

Finalmente, sobre a Articulação de Esquerda, nos cabe fazer um balanço do conjunto do processo e também de nosso desempenho. Do ponto de vista estritamente político, travamos o bom combate e apresentamos com lealdade e nitidez nossas posições ao conjunto do Partido. Do ponto de vista eleitoral, tivemos um resultado numérico similar, mas inferior ao de 2019. Nossa participação no Diretório Nacional e na Comissão Executiva Nacional depende da conclusão da totalização, dos recursos e dos resultados em Minas Gerais.

Claro que se pode argumentar que nosso resultado é na verdade impressionante. Afinal, das 8 chapas nacionais, há algumas que se beneficiaram das disputas regionais e municipais e há outras que perderam com isso. Há chapas que são coalizões de grupos e outras que são impulsionadas por uma única tendência. Há chapas que tem apoio de imensas estruturas e há outras cujo desempenho dependeu quase que unicamente do convencimento político e do engajamento militante. Em todos estes quesitos, nós fazemos parte do segundo grupo. Levando tudo isto em conta, nossa votação embora numericamente pequena é muito valiosa. Mas para preservar os espaços que ocupamos atualmente o Diretório (5 vagas) e na Executiva (1 vaga), não basta ter valor, é preciso superar as barreiras da proporcionalidade.

É nisso que seguimos focados: apurando, totalizando, fiscalizando, recorrendo e disputando os votos do PED que vai ocorrer em Minas Gerais no próximo domingo.

Especificamente sobre Minas: lá haverá PED municipal, PED estadual e PED nacional. Portanto, haverá votação para presidente e para chapas nacionais. A disputa nacional será extremamente influenciada pela disputa estadual. Neste ponto, destacamos a verdade: nossa chapa e candidatura nacional assumiram publicamente a defesa do estatuto partidário e denunciamos o atropelo judiciário. Sendo assim, pedimos à militância petista de Minas que vote na chapa 220. 

Por fim: estas e outras questões serão debatidas em uma plenária nacional virtual que a chapa realizará no dia 10 de julho, das 20h às 22h00. Se você quiser participar, peça o endereço da sala zoom. Lembre de checar se consegue acessar a reunião via celular, para que você possa participar das manifestações convocadas para o dia 10 de julho, pelo fim da escala 6x1, pela redução da jornada e pela tributação dos super-ricos. 

domingo, 6 de julho de 2025

A Folha de SP prefere Edinho

O Estadão já havia declarado apoio ao Edinho.

Agora foi a vez da Folha de SP, do jeito indireto que lhe é característico, declarar sua preferência.

Veja como nas duas imagens disponíveis nesta postagem.

Como se pode constatar, “eles” sabem o que querem.









Dandara e o "silêncio" de Edinho


Hoje tem PED.. 

Menos em Minas Gerais.

Motivo: um efeito colateral da ação que Dandara impetrou, no Judiciário, contra o Diretório Nacional do PT.

Mais detalhes sobre isso aqui: Valter Pomar: Dandara recorreu ao Judiciário contra o PT

Quais os efeitos desta situação no primeiro turno do PED nacional? 

Quando será o PED em Minas? 

Como ficará a representação dos petistas de Minas no Diretório Nacional do PT? 

Estas e outras questões devem ser tratadas na reunião extraordinária que o Diretório Nacional do PT realizará no dia 8 de julho.

Qual a opinião dos candidatos a presidente nacional do PT acerca da situação? E acerca do que fazer?

Conheço a opinião preliminar de Romênio Pereira, a de Rui Falcão e a minha.

Mas não conheço a opinião de Edinho. Se alguém conhecer, por favor publicize.

O que sei é que antes da reunião do Diretório Nacional que impugnou a candidatura dela, Edinho prestou solidariedade pública antecipada à Dandara, na atividade cujo card ilustra esta postagem.

E agora que Dandara entrou no Judiciário contra o Partido, qual a opinião de Edinho?

Ele acha correto o que Dandara fez?

Ou acha inadmissível entrar no Judiciário contra uma decisão do DN?

Acha o quê?

Ou será que vai adotar, frente a esta questão, a mesma atitude que adotou frente a várias outras durante os debates do PED?

Mais um motivo para garantir segundo turno na eleição do presidente nacional do PT.

Dandara recorreu ao Judiciário contra o PT


A deputada federal Dandara (PT MG) queria ser candidata à presidência do PT de Minas Gerais.

Para ser candidata, ela precisaria estar em dia com suas contribuições financeiras para com o PT.

Na data limite prevista pelo regulamento, Dandara não estava em dia. 

Ela pagou o que devia ao Partido (pouco mais de 130 mil reais), mas pagou depois do prazo.

Dandara diz que o atraso de alguns dias foi de responsabilidade do Banco do Brasil.

O assunto foi submetido a debate e votação no Diretório Nacional do PT.

A maioria do Diretório Nacional entendeu que Dandara não estava em dia no prazo regulamentar e, portanto, não poderia ser candidata.

Dandara decidiu então recorrer ao Judiciário.

Fez isso na véspera do PED e, como é óbvio, obteve uma liminar.

Isso criou o seguinte dilema para o PT: ou descumprir a liminar ou fazer uma eleição sob intervenção judicial.

Buscando escapar do dilema, a executiva nacional do PT decidiu, no sábado 5 de julho, adiar o PED em Minas Gerais (a esse respeito, ver o documento que ilustra esta postagem).

Desta forma a executiva não desrespeitaria a liminar, mas também buscaria dar ao Diretório Nacional o prazo necessário para tentar derrubar, no Judiciário, a liminar.

E evitaria fazer uma eleição sob intervenção judicial.

Qualquer que seja o desfecho, ao recorrer ao Judiciário Dandara criou uma situação péssima para o Partido.

Se a liminar for derrubada, a ação de Dandara terá como efeito colateral tumultuar o processo, não apenas em Minas Gerais, mas com repercussão nacional.

E se a liminar não for derrubada ou se ganhar no mérito, Dandara terá conseguido transformar o judiciário em última instância do Partido.

Viveremos a era da judicialização das disputas internas.

Além disto, a situação contém duas bizarrices.

A primeira é a seguinte: no fundo, no fundo, Dandara recorreu ao Judiciário para tentar evitar as repercussões negativas de uma inadimplência prolongada. 

Afinal, na origem da alegada dificuldade que a teria impedido de pagar no prazo, está o vultoso valor devido (mais de 130 mil reais), valor que revela que ela não pagava regularmente o Partido há muito tempo.

A segunda bizarrice é a seguinte: Dandara e a maioria dos que consideram que ela teria o direito de ser candidata apoiam Edinho Silva; e a maioria dos que defendem sua impugnação também apoiam Edinho Silva.

Embora a própria Dandara seja de outra tendência (a chamada Resistência Socialista), a batalha em torno de sua candidatura é, na verdade, mais um capítulo da "guerra civil" em curso na tendência chamada Construindo um Novo Brasil.

Um motivo a mais para que o PED de 6 de julho constitua outra maioria para o Partido. Pois a atual não consegue mais lidar com suas contradições internas nem com as do Partido, para não falar de coisa ainda mais importante.


quinta-feira, 3 de julho de 2025

Segue entrevista concedida ao Blog Debate na Mesa.

Segue abaixo a entrevista concedida ao Blog Debate na Mesa

Por: Matheus Kennedy 

Disponível no seguinte endereço: https://debate-na-mesa.webnode.page/

Candidato à presidência nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Valter Pomar comenta, nesta entrevista, sobre as dificuldades do governo Lula 3 com o Congresso e as perspectivas eleitorais de Lula e do PT em 2026. Confira a entrevista. 

1. O governo Lula 3 foi eleito em 2022 com uma frente ampla e heterogênea de partidos. Entretanto, tem enfrentado inúmeras dificuldades e derrotas, como na questão do IOF, mais recentemente, inclusive com a maioria de votos advinda de partidos considerados da base. Como você entende a relação do governo com o Congresso nesta segunda metade do governo?

Lula foi eleito em 2022 por uma razão fundamental: o apoio dos trabalhadores pobres, periféricos, especialmente mulheres, negros e negras, moradores do nordeste. A contribuição de outros setores teve menor importância. Depois da eleição, o governo incorporou setores da direita que não apoiaram Lula, nem no primeiro, nem no segundo turno. Todos estes setores de direita tem um ponto em comum: são neoliberais. Portanto, suas políticas prejudicam o povo e favorecem os ricos. Agora, no episódio do IOF, isso ficou escancarado. Também ficou escancarado que estes setores da direita estão em campanha aberta para travar o governo em 2025 e derrotar o PT e Lula em 2026.

Sendo assim, a relação do governo com estes setores – que são majoritários no atual Congresso – deve ser a de denúncia e enfrentamento. Inclusive demitindo os ministros vinculados a eles. Importante dizer: isto não é uma opção do governo. Isto foi uma opção deles. O governo tem que reagir a algo que eles fizeram e eles escolheram.

2. Frente a essa situação de dificuldades com o Congresso, o governo tem adotado o discurso da justiça tributária, sendo acusado de incitar os pobres contra os ricos. Esse discurso, apesar de válido, não pode contribuir para o fortalecimento da polarização?

Dizem que a prática é mais importante que o discurso. A prática da direita qual é? A de favorecer os ricos. Portanto, embora não fale em polarizar, o Congresso estimula a polarização social. Qual deve ser a nossa reação? Derrotar o Congresso, para garantir recursos que permitam implementar políticas públicas que, ao fim e ao cabo, vão reduzir a polarização social. Mas para derrotar o congresso, é preciso explicar para o povo o que está ocorrendo e é preciso, também, mobilizar o povo. Essa explicação e essa mobilização são a chamada polarização política. Mas nesse caso trata-se de uma reação contra a polarização social que a direita e os ricos promovem, mas sem falar que estão promovendo. Portanto, a polarização já existe e ela é de responsabilidade das elites: por isso, aliás, o Brasil é o país mais desigual do mundo. A atitude do governo e do PT é reativa. Não estamos criando a polarização. Estamos evitando que a polarização seja feita num só sentido, deles contra nós. Portanto, nesse sentido, é necessário e positivo contribuir para o fortalecimento da polarização.

3. Apesar das dificuldades no governo e da queda nos níveis de aprovação, Lula deve se candidatar à reeleição em 2026. O que você defende para que o petista conquiste seu quarto mandato?

Defendo que neste ano de 2025 se retome o programa apresentado em 2022, a saber: reconstrução e transformação. A palavra "transformação" estava no título do programa que Lula inscreveu no Tribunal Superior Eleitoral. Mas depois desapareceu. Hoje, é preciso retomar aquela ideia e tirar consequências práticas. A principal consequência prática é: ampliar todas as políticas voltadas a defender os pobres, os trabalhadores, as mulheres, os negros e negras, a juventude, as regiões menos favorecidas do país. Destaco os temas da reforma agrária, da redução da jornada de trabalho, do fim da escala 6x1, da tributação dos ricos, da ampliação do valor das aposentadorias e de um salário que permita viver uma vida digna.

4- Você é um dos candidatos à presidência nacional do PT. Como você enxerga a postura do partido e a perspectiva de um futuro no pós-Lula?

Não estou preocupado com o pós-Lula, estou preocupado em eleger novamente Lula presidente em 2026. Sobre o futuro distante, tudo dependerá do Partido continuar sendo dos Trabalhadores e das Trabalhadoras. Se continuarmos conectados com nossa classe, implantados no território, controlados pela base militante, teremos um grande futuro pela frente.

Um militante pode entrar na justiça contra o Partido?

Nos últimos dias, alguns filiados demandaram ao Judiciário que determine que eles possam disputar o PED 2025.

É o caso de Nina Rosa Ferreira Germano, candidata à presidenta do PT de Itabuna (BA).

É o caso, também, de Adriano Raimundo Cerqueira Costa, candidato à presidente do PT de Feira de Santana (BA).

Quando soube disto, manifestei junto ao Diretório Nacional do PT a seguinte opinião: 

[13:59, 01/07/2025] Valter Pomar: Oi pessoal, boa tarde. Logo mais vamos reunir o Diretório Nacional do PT. Um dos pontos de pauta diz respeito ao direito de concorrer à presidência do Partido. Como o Diretório é a instância máxima, abaixo apenas do Encontro/Congresso, entendo que sua decisão - seja lá qual for - é terminativa. Entretanto, fui informado agora há pouco que duas candidaturas a presidência municipal do Partido, impugnadas por suposta falta de contribuição financeira, entraram na justiça para garantir seu direito a concorrer. Considero que fazer isto é atravessar uma linha vermelha. Entendo que o DN precisa tomar uma medida a respeito. Até porque não faz sentido gastarmos horas de nossa vida debatendo e votando, para depois o assunto ser levado para a justiça.

Posteriormente, agreguei o que segue:

[16:42, 01/07/2025] Valter Pomar: Pessoal, acima um dos processos citados. Como se pode constatar, a filiada entrou na justiça contra o Partido. Na minha opinião, o DN deveria encaminhar imediatamente esta pessoa para a comissão de ética.

[16:42, 01/07/2025] Valter Pomar: Não é aceitável entrar na justiça contra o Partido.

Para minha mais absoluta surpresa, essa opinião foi questionada da seguinte forma por uma pessoa que também integra o Diretório Nacional do Partido: "Discordo. Nenhuma regra interna do PT pode ser contra o q está garantido pela Constituição Federal. E a constituição garante o direito de petição para garantia de direitos fundamentais se a pessoa achar q está sendo lesada".

Respondi que "aceitar esta tese é decretar a falência do Partido. Pois nossas divergências passarão a ser resolvidas pela justiça".

Em resposta, me foi dito que "1- Não é a primeira vez q acontece; 2- de novo, reitero q  o direito de petição para quem se julga prejudicado nos seus direitos fundamentais é garantido pela constituição 3- a falência do partido , se se está sendo decretada , não é devido a isso, vc sabe".

Uma outra pessoa agregou que "contra injustiça só resta a justiça!"

Eu respondi que "eu não sei se sei o que você diz que eu sei. O que eu sei é que a justiça não é o local adequado para dirimir as nossas divergências políticas".

A pessoa respondeu que "também acho q é melhor resolver internamente. No entanto, é um direito fundamental garantido pelas normas  democráticas brasileiras  para quem se acha lesado".

Repliquei que "aceitar esta premissa dá à justiça o direito de dirimir nossas divergências. E como a justiça não é neutra, na prática estaremos transferindo para um órgão não petista as decisões sobre o PT".

E complementei que "se a justiça estatal fosse justa, o Brasil seria muito diferente do que é. Aceitar que um tribunal possa decidir nossas questões internas é abrir mão da soberania sobre o Partido".

Falei também que "o DN é a instância máxima. Nos dois casos que eu trouxe à baila, não houve julgamento no DN e as pessoas foram para a justiça. Na boa, isso é o fim da picada".

Depois desse diálogo, soube de mais dois casos de filiados que tem o objetivo de estar na cédula de votação no PED, apesar de decisões internas em contrário. Num desses casos a pessoa já entrou no judiciário. No outro, dizem que entrará a qualquer momento.

Dos quatro casos citados, só conheço os detalhes de um, exatamente aquele que ainda não foi consumado. 

Sou de opinião que provavelmente nenhum destes casos estaria ocorrendo, se a tesouraria nacional desse publicidade periódica aos valores devidos por cada um dos mandatários, cargos comissionados e dirigentes partidários.

Assim o Partido saberia com regularidade e transparência quem paga e quem não paga.

E os devedores também não poderiam alegar desconhecer o que devem e poderiam, inclusive, contestar eventuais divergências em tempo hábil.

Sou de opinião, também, que provavelmente nenhum desses casos estaria ocorrendo se as pessoas pagassem regularmente ao Partido.  

Pois, como é óbvio, quem deixa acumular dívidas e tenta pagar na última hora enfrenta mesmo dificuldades.

Opino, ainda, que pagar o Partido não é um detalhe. E deixar de pagar não é, ao menos em parte dos casos, especialmente naqueles casos de salários mais altos, uma fatalidade, mas sim uma opção de priorizar alguns gastos frente a outros. 

Isto posto, admito que algumas pessoas podem estar sendo vítimas de cobrança indevida ou de qualquer outro tipo de injustiça (por exemplo, alguns serem cobrados e outros não).

Mesmo assim, considero que o preço pago por entrar na justiça contra o Partido é infinitamente maior do que o prejuízo causado por uma injustiça que uma instância possa ter praticado.

Isto deveria ser óbvio nos casos em que o DN não foi acionado. Afinal, havendo uma instância partidária a que recorrer, que sentido tem um filiado recorrer à justiça? 

Mas o mesmo também deveria ser óbvio naqueles casos em que já existe uma decisão do Diretório Nacional. Afinal, o que se está fazendo, quando se recorre ao Judiciário, é dizer que o Partido não é mais o espaço idôneo para dirimir nossas divergências internas.

Ou seja: quem entra no judiciário contra o Partido está afirmando que o poder judiciário tem legitimidade para deliberar sobre nossas questões internas. 

Do ponto de vista legal, claro que qualquer filiado pode fazer uso dos direitos previstos na Constituição.

Mas, como sabemos, na maior parte dos casos as decisões judiciais são políticas, não são técnicas.

Portanto, o que um filiado está dizendo, ao recorrer ao judiciário contra o Partido (ou parte dele), é que este filiado prefere a interpretação do judiciário.

Judiciário que já vimos, na AP 470, na Lava Jato e em inúmeros outros casos, como pode ser comportar.

Dito de outra forma, recorrer ao judiciário é dizer que a instância máxima de deliberação do Partido está fora do Partido. Passa a ser uma instância do Estado. Estado que, como sabemos, não é neutro.

Por último, me chama a atenção que a maioria absoluta das pessoas que entrou ou estaria para entrar no judiciário contra o Partido apoie um determinado candidato à presidente nacional do PT. O mesmo acontece com as duas pessoas que citei neste texto, sem dar o nome delas. 

O que acontece é inexorável: quando uma tendência se comporta como partido dentro do Partido, mais cedo ou mais tarde surgirá em setores desta tendência uma doença que os Antigos chamavam de liquidacionismo.

Para evitar que isto prospere, é preciso que no dia 6 de julho a militância vote por uma mudança na direção.







Você também quer acabar com a Federação?

Na segunda-feira, dia 30 de junho de 2025, assisti ao debate entre as quatro pessoas que disputam a presidência do PT no estado de São Paulo.

Um dos momentos do debate consistiu em respostas à perguntas feitas pelo público. 

Fiz uma pergunta e, incrível, fui sorteado.

A pergunta era simples: você defende manter, ampliar ou acabar com a Federação?

Um candidato disse que tem críticas, mas que a solução é ampliar.

Dois outros candidatos disseram que têm críticas, mas que não tem posição definida sobre o que fazer.

Apenas a candidata Jandyra Uehara mandou papo reto: é preciso acabar imediatamente com a Federação.

Citou, entre os motivos, o fato da Federação ter prejudicado eleitoralmente o PT, ter favoreceu um partido que em muitos municípios virou barriga de aluguel da direita, além de dizer que a Federação não tem nenhuma serventia estratégica.

Essa é, também, a nossa opinião e posição.

Portanto, é o seguinte: quem concorda que o PT deve se desvencilhar desta geringonça chamada Federação, vote nas chapas "Em tempos de guerra, a esperança é vermelha" (nacional 220, estadual 420, municipal 620) e nas candidaturas presidenciais de número 120 nacional, 320 nos estados e 520 nos municípios.

Digite final 20 para acabar com a Federação.




Yoda falou e disse: chegando o dia está!



Como diria Mestre Yoda: a língua queimou, um morno PED quem queria.

Verdade: a eleição direta das direções do PT está acontecendo em meio a uma conjuntura muito aquecida.

Até mesmo os defensores da "frente ampla contra o fascismo" já perceberam que o problema está muito mais embaixo.

Claro que é preciso enfrentar e derrotar a extrema-direita.

Mas é preciso, também, enfrentar e derrotar a direita neoliberal tradicional.

Esta que dirige o Congresso e que tenta roubar do presidente Lula o direito de presidir o Brasil.

Esta que segue controlando o Banco Central e que mantém uma das taxas de juros mais altas do mundo.

Os fatos estão berrando: é preciso mudar a linha política do Partido.

Aliás, foi essa a posição que venceu os debates entre os candidatos à presidência nacional do PT.

O "cavalo do comissário" ficou isolado na defesa do status quo.

O caso é o seguinte: tudo que está acontecendo nas últimas semanas e meses vem confirmando as teses de quem defende mudar a linha política do Partido e do governo.

Lula já percebeu isso, como demonstra - entre outras falas e atitudes - a foto que ilustra esta postagem. 

Mas outras lideranças estão batendo cabeça.

Tem gente contemporizando com Hugo Motta: Gleisi defende Motta de ataques 'pessoais e desqualificados' | O TEMPO

Tem gente resistindo a entrar com ação no STF: IOF: vice do PT diz que governo Lula erra ao recorrer ao STF | Metrópoles

Tem gente buscando um “acordo” com Supremo e com tudo: IOF: Veja como o governo ‘morde e assopra’ em busca de negociação com o Congresso em ação no STF

Tem até mesmo gente roçando o alambrado do parlamentarismo: Líder do governo Lula defende retomada de discussão sobre plebiscito para parlamentarismo

A verdade é que parte da liderança do governo e parte da liderança do Partido não sabem direito o que fazer.

E por conta disso ziguezagueiam: sinalizam para a esquerda, depois ameaçam dar um cavalo de pau para a direita e podem terminar (nos) capotando.

Mas outra parte da liderança partidária e governamental já começou a fazer aquilo que nós da esquerda petista sempre dissemos que precisava ser feito. 

Portanto, se o PED for decidido pela política "pura", a esquerda vencerá dia 6 de julho.

Mas nem só de "pureza" se faz a política. 

Entre outras coisas, cabe lembrar que o grupo que atualmente dirige o PT tem muita força acumulada e construída ao longo de anos, tem máquinas, tem meios e está usando tudo isto, sem freios e contrapesos.

Portanto, pode acontecer de tudo, inclusive nada. 

Pode até mesmo acontecer deles conseguirem aumentar artificialmente a sua atual maioria relativa e, também, conseguirem eleger no primeiro turno um candidato que não empolga nem mesmo sua entourage (aliás, quem paga os assessores que viajam com ele?).

Mas também pode acontecer deles serem derrotados, perderem a maioria relativa que hoje possuem no Diretório Nacional e, além disso, a escolha do presidente nacional pode ir para o segundo turno. 

Esta possibilidade de derrota talvez explique que, por incrível que pareça, termos sido gentilmente consultados acerca da realização de uma “coletiva à imprensa” no dia 7 de julho, segunda-feira, na sede do PT em Brasília, com o presidente Humberto e os 4 candidatos, para...

...para o quê mesmo???

Convenhamos: dia 6 domingo é a votação, que promete momentos emocionantes em vários locais. As atas podem chegar até o dia 7 segunda na hora do almoço. A totalização, portanto, vai estar começando dia 7 segunda de tarde. E é provável que haja muitos recursos.

Logo, não há que fazer "coletiva" dia 7 de tarde, a não ser que alguém esteja cogitando anunciar o resultado antes da apuração. 

Aliás, vejam que coincidência, na GloboNews de 2 de julho foi dito que "Edinho toma posse segunda-feira."

Seria engraçado, se não fosse trágico, ver algumas pessoas tentando transformar a direção do Partido em comitê eleitoral de uma chapa e de uma candidatura.

Mais um motivo para, no domingo 6 de julho, eleger uma nova maioria partidária e mandar para o segundo turno a disputa presidencial.

Dia 6, chapa 220, porque “em tempos de guerra, a esperança é vermelha!”.

domingo, 29 de junho de 2025

Jaques Wagner, o sionismo e a arte do cortesão

Um tema foi abordado em todos os debates de presidentes e de chapas que disputam a direção nacional do PT: a Palestina.

Na esmagadora maioria das vezes e das vozes, houve manifestações de solidariedade.

Em dois casos houve polêmica. 

A primeira foi sobre a ruptura de relações entre o Brasil e o Estado Terrorista de Israel. Esta polêmica foi (aparentemente) encerrada quando, em Porto Alegre, os quatro candidatos assinaram um documento apoiando a ruptura.

A segunda foi sobre o Dia da Amizade Brasil Israel, mais exatamente sobre a posição da bancada de senadores petistas, mais especificamente sobre o papel de Jaques Wagner. 

Foi uma polêmica intensa, mas que provavelmente teria ficado restrita aos participantes e assistentes ao debate realizado em Belo Horizonte dia 28 de junho, não fosse pelo fato do companheiro Murilo Brito ter resolvido divulgar amplamente o fato (ver imagem abaixo).


É direito dele fazer isso. Mas como nesse vídeo Murilo incluiu apenas um trecho da minha fala, decidi transcrever a íntegra da polêmica.

Alerto que outros debatedores falaram acerca da Palestina, com destaque para o companheiro Sokol. 

Quem quiser conferir o conjunto do debate, pode assistir aqui: 28/06 | 🔴Debate entre as chapas para o PED 2025, direto de Belo Horizonte

Na transcrição abaixo vou me limitar a polêmica que me envolve diretamente.

O primeiro a falar da Palestina foi o próprio companheiro Murilo, representante da chapa Campo Popular, que disse o seguinte: (...) Então, até recentemente a gente tinha organismos internacionais que tinham como meta regular as disputas entre nações internacionais. E isso agora cada vez mais vai sendo deixado de lado. Cada vez mais esses organismos multilaterais vão perdendo força, e ganha espaço uma política expansionista nitidamente expansionista. O capítulo mais recente que a gente acompanhou, agora com Israel e os Estados Unidos bombardeando o Irã, como um produto, entre outras coisas, daquela disputa que está acontecendo ali de limpeza étnica na Faixa de Gaza. Inclusive aqui, abre um parêntese para dizer que o governo brasileiro precisa se posicionar de uma forma muito dura em relação a isso, rompendo relações com Israel. Não dá pra gente assistir um genocídio daquela magnitude que está acontecendo naquela região do mundo passivamente. É preciso, além do discurso, ter ações práticas. Mas ali, por exemplo, é um nítido movimento de expansionismo do território de Israel, inclusive incluindo genocídio, limpeza étnica, sem que as instituições internacionais multilaterais possam responder à altura aquilo ali (...)

Eu falei depois e disse o seguinte: "(...) quero terminar minha fala fazendo referência a um aspecto da situação internacional que condensa todos os temas que a gente vem discutindo, que é a situação na Palestina. Houve esse ataque de Israel contra o Irã. Depois, houve um ataque dos Estados Unidos contra o Irã. E, de certa forma, saiu de cena o genocídio que segue em marcha. Depois de terem assassinado mais de 60 mil pessoas à base da bomba e da bala, se entrou numa etapa de negar comida, de negar água, de negar remédios e de atirar nas pessoas que estão indo buscar suprimentos junto de uma organização sediada nos Estados Unidos, que é controlada, na verdade, pelo Estado de Israel. É uma barbárie. Uma coisa terrível, absolutamente terrível. E isso vai sendo naturalizado, porque a gente começa a ver isso na televisão todo dia e começa a fazer parte da paisagem. E no nosso governo há uma resistência a tomar medidas mais duras. Os quatro candidatos à presidência nacional do PT assinaram um documento pedindo a ruptura do Brasil das relações diplomáticas com o Estado terrorista de Israel. E, ao invés de encaminhar isso, nós tivemos um episódio constrangedor no Senado em que a nossa bancada votou a favor do "Dia da Amizade Brasil e Israel". E o líder explicando que os povos e a amizade dos povos estão acima da conjuntura. Alguém aqui acharia normal se, em 1941, 42, quando foi encaminhada a "solução final", se propusesse esse tipo de amizade entre os povos do Brasil e da Alemanha? Pessoal, é um escárnio. E é um escárnio porque dentro do nosso partido e dentro da nossa bancada tem gente que segue a linha do sionismo. Vamos falar as coisas como são, claras. E, como eu tô um pouco cansado dos debates que mandam recado, tô me referindo ao senador Jacques Wagner, um defensor das causas de Israel dentro do PT. Ele e outros. E isso tem que ser enfrentado. Porque é inaceitável que o nosso partido e o nosso governo, nessa conjuntura internacional, não deem uma resposta dura a esse crime contra a humanidade que tá sendo cometido. Palestina livre, do rio ao mar (....).

Vou repetir aqui o trecho que parece ter detonado a polêmica: "E é um escárnio porque dentro do nosso partido e dentro da nossa bancada tem gente que segue a linha do sionismo. Vamos falar as coisas como são, claras. E, como eu tô um pouco cansado dos debates que mandam recado, tô me referindo ao senador Jacques Wagner, um defensor das causas de Israel dentro do PT. Ele e outros."

Depois falou o companheiro Virgílio Guimarães, que ensaiou uma defesa radical de Jaques Wagner, mas frente a meu alerta suavizou.

Depois falou o companheiro Sokol, que fez uma bela fala que pode ser conferida aqui: 28/06 | 🔴Debate entre as chapas para o PED 2025, direto de Belo Horizonte

Na rodada seguinte, em resposta ao Virgílio, eu disse o seguinte: "(...) Eu queria usar o restante do meu tempo, já que eu respondi a pergunta, para também comentar uma outra coisa que o Virgílio disse na sua fala inicial. Ele insinuou uma crítica que ele depois não completou acerca da minha crítica ao Jacques Wagner. Eu quero aqui ler para vocês, pessoal, um trechinho. No dia 25 de junho, no mesmo dia que os caras nos deram aquele golpe lá do IOF, o Alcolumbre promulgou o tal dia da amizade Brasil e Israel. E óbvio, a direita criticou o presidente Lula porque o presidente Lula, ao invés de assinar, encaminhou pro Senado. O Senado é que promulgou. O presidente Lula, na minha opinião, devia ter feito o que fez a Dilma em 2015: ter vetado, ter vetado. Mas ele escolheu essa solução salomônica. Não adiantou nada. Foi espancado pela direita, acusado de antissemita, antiestado de Israel etc. E neste contexto, o companheiro Jacques Wagner fez um discurso. Eu vou ler só um trecho: abre aspas — "Eu, que sou judeu, também concordo que Israel exagerou nas respostas nesta guerra, atingindo inocentes e crianças." — Fecha aspas. Pessoal, isso foi dito dia 25 de junho, agora, semana passada. "Exagerou"? “Atingindo”? O Estado terrorista de Israel cometeu um genocídio. Está cometendo. Matou pelo menos 60.000 pessoas. Não é que atingiu inocentes e crianças. Assassinou civis. Civis, não combatentes. Os caras são capazes de mandar um drone que entra noutro país e mata com foguete um general iraniano dentro do apartamento dele. Eles têm capacidade tecnológica. Eles escolheram assassinar deliberadamente a população palestina. E o nosso companheiro Jacques Wagner diz que isso é um "exagero que atinge". É disso que eu tô falando. Repito: tem um setor do nosso partido, tem um setor da nossa bancada, e em especial o Jacques Wagner, que passam o pano no estado de Israel, defendem e querem separar. Querem separar o que é o governo de Bibi Netanyahu do que seria o mítico Estado de Israel. Só que o mítico Estado de Israel, desde o dia que começou a funcionar — desde o dia que começou a funcionar — agiu para inviabilizar o Estado Palestino e agiu para assassinar, ou expulsar, ou, na prática, escravizar a população palestina. Então não dá para passar o pano. E não dá para ficar fazendo diferença onde as diferenças não existem. Então eu repito aqui, e lembro — concluo com isso — aquilo que o companheiro Sokol falou: quem fica dizendo que qualquer crítica ao Estado de Israel é antissemitismo são os sionistas. Porque grande parte dos judeus mundo afora condenam o que tá acontecendo".

Destaco o seguinte trecho: "tem um setor do nosso partido, tem um setor da nossa bancada, e em especial o Jacques Wagner, que passam o pano no estado de Israel, defendem e querem separar. Querem separar o que é o governo de Bibi Netanyahu do que seria o mítico Estado de Israel. Só que o mítico Estado de Israel, desde o dia que começou a funcionar — desde o dia que começou a funcionar — agiu para inviabilizar o Estado Palestino e agiu para assassinar, ou expulsar, ou, na prática, escravizar a população palestina. Então não dá para passar o pano. E não dá para ficar fazendo diferença onde as diferenças não existem"

Na sequência, o companheiro Murilo afirmou o que segue: "(....) Como Valter começou lendo, eu também quero começar lendo. 'Bom, o povo judeu não pode comungar com assassinato de civis sob qualquer desculpa que seja, até por termos sofrido — não só nós, porque foram testemunhas de Jeová, foram ciganos, foram homossexuais, foram deficientes que morreram na máquina da morte'. Essa fala é do companheiro Jacques Wagner na tribuna do Senado. A fala do companheiro Valter Pomar com as críticas ao companheiro Jacques Wagner são graves, infelizes e injustas. Jacques Wagner não é da minha tendência, Jacques Wagner não é da minha chapa, mas a gente precisa colocar as coisas como elas são. O companheiro Jacques Wagner sempre defendeu a solução de dois estados. O companheiro Jacques Wagner sempre se alinhou com judeus que estão apanhando no estado de Israel porque são contra o governo de Netanyahu, e colocar o companheiro Jacques Wagner como alguém que passa pano para o governo de Netanyahu é um desserviço ao Partido dos Trabalhadores. E tô dizendo isso porque ele tem uma contribuição inestimável para esse partido. A gente precisa lembrar que foi sobre a arquitetura dele que o Partido dos Trabalhadores derrotou o dinheiro na mão e o chicote na outra lá na Bahia, quando derrotou o Antônio Carlos Magalhães e derrotou o príncipe agora. Derrotou o príncipe com professor filho de vaqueiro, que lá no estado, em terras devolutas, já titulou mais de 30 comunidades quilombolas, todas com organização de movimento popular na base, que tirou 1200 hectares da mão da Veracel para dar a agricultores familiares e fazer o primeiro assentamento estadual da história da Bahia. Não ajuda o Partido dos Trabalhadores a gente trazer o debate a essa mesa nessa perspectiva. Posso discordar do momento em que foi proposto, que foi proposto no Senado. Posso achar que ele foi pouco incisivo, posso achar que ele não tem uma posição como a minha, mas daí a dizer que ele é alinhado com sionismo é um equívoco político brutal para o Partido dos Trabalhadores que eu não posso deixar passar aqui. É preciso dizer essas coisas, porque muito do que é feito na Bahia nos cinco mandatos do Partido dos Trabalhadores é o que nós gostaríamos de ver reproduzido no Brasil — e feito não só por Jacques Wagner, pelo conjunto do Partido dos Trabalhadores no Estado da Bahia, incluindo a minha tendência. Isso não significa que a minha tendência ou eu nunca tive divergência com o companheiro Jacques Wagner — muito pelo contrário. Muitas levadas até o fim. E ele, melhor do que qualquer pessoa nessa mesa, sabe disso, porque em algumas ele esteve presente. Mas a gente não pode conduzir o debate nesses termos, porque não nos ajuda. Não nos ajuda porque lá na Bahia, por exemplo, em todas as eleições de governador, desde que o companheiro Jacques Wagner foi candidato, a gente faz o programa de governo participativo envolvendo trabalhadores da saúde, professores, trabalhadores da educação, movimentos do meio rural, movimentos urbanos, para fazer o programa de governo do Partido dos Trabalhadores. Isso ajuda a gente a ter a votação que nós tivemos pro companheiro Lula lá na última eleição — em todas antes dessa — porque lá existe um nível de compreensão da população baiana do que significa o projeto dos trabalhadores. Porque lá chegou água no sertão para quem tinha sede e nunca tinha tido água em casa para beber. O programa Água para Todos, que foi uma iniciativa, em primeiro lugar, do governo do Estado da Bahia sob o governo do companheiro Jacques Wagner. Então, eu queria pedir desculpa por não estar falando sobre o tema que foi a pergunta, mas eu não podia deixar passar isso porque eu acho um equívoco muito grande conduzir as críticas nos termos em que foram conduzidas. (...)"

Como se pode constatar lendo o trecho acima transcrito, o companheiro Murilo fala muito de Jaques governador, como se os êxitos do governo servissem como cheque em branco para todo o resto.

Quanto a polêmica propriamente dita, repito a seguir o que Murilo disse: "(....) Como Valter começou lendo, eu também quero começar lendo. 'Bom, o povo judeu não pode comungar com assassinato de civis sob qualquer desculpa que seja, até por termos sofrido — não só nós, porque foram testemunhas de Jeová, foram ciganos, foram homossexuais, foram deficientes que morreram na máquina da morte'. Essa fala é do companheiro Jacques Wagner na tribuna do Senado. A fala do companheiro Valter Pomar com as críticas ao companheiro Jacques Wagner são graves, infelizes e injustas. Jacques Wagner não é da minha tendência, Jacques Wagner não é da minha chapa, mas a gente precisa colocar as coisas como elas são. O companheiro Jacques Wagner sempre defendeu a solução de dois estados. O companheiro Jacques Wagner sempre se alinhou com judeus que estão apanhando no estado de Israel porque são contra o governo de Netanyahu, e colocar o companheiro Jacques Wagner como alguém que passa pano para o governo de Netanyahu é um desserviço ao Partido dos Trabalhadores"

Acontece que Murilo me acusa de algo que eu não disse. Eu não disse que Wagner passa pano para Bibi. O que eu disse, como pode ser constatado na transcrição ou diretamente no vídeo, foi que Wagner passa pano para o Estado de Israel

A minha frase foi esta aqui: "tem um setor do nosso partido, tem um setor da nossa bancada, e em especial o Jacques Wagner, que passam o pano no estado de Israel, defendem e querem separar. Querem separar o que é o governo de Bibi Netanyahu do que seria o mítico Estado de Israel". 

Pode ser que Murilo tenha ouvido mal? Pode. Mas acho mais provável que ele não conheça algo chamado "sionismo de esquerda".

Indício deste desconhecimento é o seguinte trecho da fala de Murilo: "Posso discordar do momento em que foi proposto, que foi proposto no Senado. Posso achar que ele foi pouco incisivo, posso achar que ele não tem uma posição como a minha, mas daí a dizer que ele é alinhado com sionismo é um equívoco político brutal para o Partido dos Trabalhadores que eu não posso deixar passar aqui"

Ser "pouco incisivo" frente a um genocídio já é algo em si mesmo notável. Mas esta é, exatamente, uma das condutas do sionismo de esquerda. 

Foi o que comentei na minha fala final no debate. Eu disse o seguinte: "Queria começar comentando a defesa veemente que o companheiro Murilo fez do Jacques Wagner. Ele disse, abre aspas: “Muito do que é feito na Bahia é o que gostaríamos de ver no Brasil", fecha aspas. Nós estamos no quinto mandato do PT no governo estadual da Bahia, e, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, a Bahia é o segundo estado no ranking de letalidade policial militar. Amapá é o primeiro, Bahia é o segundo. Um em cada quatro casos de violência policial militar no Brasil acontecem na Bahia. Então, pessoal, menos. A gente fez muita coisa boa, mas nem tudo é legal. Quando eu critico o Edinho, eu não tô dizendo que o governo dele em Araraquara foi ruim. Quando eu critico o Quaquá, eu não tô dizendo que o governo dele em Maricá foi uma porcaria. Quando eu critico Jacques, eu não tô me referindo a tudo que foi feito no governo. A crítica que eu fiz foi bem concreta: frente à tramitação do tal Dia da Amizade Brasil e Israel, neste contexto, ele deu uma declaração horrorosa que eu li aqui. E veja, disse também a respeito do Jacques que ele tenta exatamente diferenciar o governo Bibi, que ele critica, do Estado de Israel, que ele defende. Foi isso que eu falei. E para ficar claro, ele disse também o seguinte num outro momento: 'A crítica legítima ao atual governo de Israel e a sua política externa não pode arrefecer nossa luta contra o ódio aos judeus.' Óbvio que nós temos que lutar contra o ódio aos judeus. Óbvio que nós temos que combater o antissemitismo. O golpe tá no seguinte: qualquer crítica ao Estado de Israel é tratada como se fosse antissemitismo e se esconde o fato de que o nazismo e o sionismo têm ambos um fundo racista. Esse é o ponto, essa é a crítica. E o próprio Jacques, quando o Lula disse que o que estava acontecendo era genocídio e comparou ao Holocausto e comparou o Bibi a Hitler, o próprio Jacques disse: "A comparação não é pertinente." Então, assim, reitero tudo o que eu falei — não aquilo que tenha sido entendido (...).

Na sua fala final, posterior a minha, Murilo disse o seguinte acerca da polêmica: (...) Antes de entrar nas minhas considerações finais, eu queria dialogar com o companheiro Valter. Fico feliz que você não tenha dito na sua última fala que o companheiro Jacques Wagner é sionista. Ao contrário, você disse que ele tenta afastar o governo de Netanyahu do que são judeus. É isso mesmo. Por quê? E o Estado de Israel. Porque o PT e ele defendem a solução de dois estados. Isso é nítido. E aqui eu não tô dizendo que não cabe crítica à postura dele. Não, eu não tô dizendo isso. Eu tô dizendo que a crítica não é real. Jacques Wagner é um democrata reconhecido no PT. Dizer que ele apoia o governo de Bibi Netanyahu é um equívoco. Ponto. Ponto. E gostaria que respeitasse minha fala como respeitei a de todos. E ainda mais, pega 30 segundos de uma fala sobre segurança pública na Bahia como se isso resolvesse o debate. Talvez a gente precisasse fazer, companheiro, outro debate com a mesma duração que esse pra gente debater o problema da segurança pública no Brasil e na Bahia. Quais foram os erros do governo do PT, quais foram os acertos, aonde faltou iniciativa, aonde foi equivocado. Mas não são 30 segundos que resolve. E você falou dos 30 segundos sem reconhecer nenhum avanço que lá teve, talvez porque não conheça, inclusive".

Começo pelo final: realmente eu não conheço a Bahia como Murilo conhece. Mas isso não me impede de criticar a conduta da Polícia Militar da Bahia. Aliás, fiz isso diretamente ao Rui Costa, numa reunião do Diretório Nacional do PT. De toda forma, minha referência ao tema PM da Bahia foi apenas para demonstrar o óbvio: nem tudo são flores. Frente a este fato, Murilo resolveu dar carteirada. Mas, infelizmente, isto não muda os fatos: depois de quase duas décadas de governo, a PM da Bahia nos envergonha.

Seja como for, os espinhos e as flores dos governos petistas na Bahia não podem nos impedir de debater a postura do senador Wagner diante de Israel.

Como já disse, um problema é que Murilo parece achar que todo sionista é apoiador de Bibi. Mas não é assim. Existem sionistas que se opõem ao governo de Bibi. Existem sionistas que criticam os "excessos" (sic, argh) do atual governo, inclusive porque estes excessos estão causando danos ao principal, a saber, a legitimidade do projeto sionista do Estado de Israel. 

Nem todo sionista é de direita. Existem sionistas que são, pelos padrões brasileiros, "democratas", "de esquerda", radicalmente contra Bolsonaro, assim como são contra Bibi. Assim como existem sionistas que defendem sinceramente a solução dos "dois Estados", mas que na prática defendem o Estado de Israel de tal maneira, que contribuem para que o Estado da Palestina nunca saia do papel. 

Jaques Wagner é um destes que defende os interesses do Estado de Israel. Murilo, se entendi direito, acha que defender o Estado de Israel seria uma decorrência da posição defendida pelo PT, a saber, a defesa dos dois Estados. 

É um ponto interessante, que realmente merece debate. Mas do ponto de vista político, alguém tem dúvida de que, na situação atual, a postura de Wagner tem sido a de moderar a reação do governo Lula frente ao genocídio? E alguém tem dúvida a quem isto serve??

Neste sentido, é paradoxal: Murilo, que começou sua fala defendendo "medidas duras", terminou reforçando a posição dos que defendem medidas bem moles. 

Ligando o modo empatia, entendo os motivos pelos quais Murilo fez uma defesa tão enfática de Wagner, mesmo que isso na prática anule sua demanda por medidas duras do governo brasileiro. 

Mas os motivos de Murilo, todo o PT da Bahia sabe. Recomendaria, entretanto, não exagerar na dose. Na prática, ao divulgar sua performance defendendo Wagner, Murilo só deu mais publicidade ao assunto. Como ensinou faz tempo o Castiglione, um bom cortesão deve saber dissimular seu entusiasmo. Senão, produz o efeito oposto ao pretendido.