Celso Amorim, em um passado muito recente, disse que o acordo Mercosul-União Europeia seria um “pacto neocolonial”.
Deixou de ser?
Passemos a palavra ao companheiro Lula, em declaração dada neste dezembro de 2025: "O acordo é mais favorável para eles do que para nós”.
Pelo visto, segundo o presidente, o acordo continua sendo neocolonial. Afinal, “é mais favorável” para as antigas metrópoles colonizadoras.
Claro, a versão atual do acordo é melhor do que a negociada pelo governo cavernícola.
Isso é um dos motivos pelos quais a Europa está esticando a corda: para que o acordo seja ainda mais favorável para eles.
Mais detalhes aqui: Acordo Mercosul/UE: já era ruim e ficou pior, por Paulo Nogueira Batista Jr. e Manoel Casado
Por quais motivos, apesar disso, Lula insiste em assinar?
Um dos motivos é a influência deletéria do agronegócio em nosso governo.
De maneira similar, é a influência do capital financeiro que explica termos um bezerro de ouro na presidência do Banco Central; é o que explica, ainda, que o governo insista numa meta de inflação que serve de pretexto à alta taxa de juros.
Mas tem outro motivo: a política externa do nosso governo Lula 3 vem adotando alguns pressupostos equivocados, parcialmente contraditórios com a política externa dos governos Lula 1 e 2 e, também, contraditórios com a política internacional do PT.
Não que os governos Lula 1 e 2 fossem alheios a equívocos: por exemplo, lembrai-vos do Haiti e, também, de algumas posições adotadas nas negociações da Organização Mundial do Comércio.
Mas, no governo Lula 3, os equívocos estão nos levando a becos sem saída.
Vide Venezuela: ao não reconhecer o governo Maduro e ao não aceitar a incorporação da Venezuela aos BRICS, criamos uma situação que torna mais difícil fazermos, agora, a coisa certa. E – como é óbvio – se a guerra dos EUA contra a Venezuela escalar, será uma imensa derrota para a paz, para a América do Sul, para o Brasil e para nossa política externa.
O acordo Mercosul-União Europeia é outro equívoco imenso. Nesse caso, o pressuposto equivocado foi e segue sendo, na minha opinião, apostar na Europa, como uma espécie de “sinal” de que no conflito EUA versus China, o Brasil seguiria uma “terceira via”. Em termos genéricos, seria uma aposta na sobrevivência do “multilateralismo”.
Acontece que o compromisso da Europa com o multilateralismo tem a mesma profundidade que o compromisso do governo alemão com a paz.
A essa altura do campeonato, se o acordo ainda sair, será em condições tão favoráveis para a Europa – leia-se, para as elites capitalistas europeias – que a razão estará com o Celso Amorim. Aquele Celso que falava em pacto neocolonial.
Assim sendo, o melhor resultado para o presente imbróglio não é um acordo, mas sim um desacordo.
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