segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Em nome de Jesus?

Já ouviram falar de Jhonatan de Jesus?

Não?

Então leiam aqui: https://www.camara.leg.br/deputados/160531/biografia

JdeJesus é candidato ao TCU.

Tem o apoio de Lira.

JdeJesus tem relação com a atual situação dos Yanomami.

Nem que seja por precaução, a esquerda não pode votar neste senhor.

Nem para síndico de prédio.

Muito menos para uma sinecura vitalícia.

E como este povo preza a família, vai aqui uma pitada muito esclarecedora.





terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Precisa desenhar?

Noutro milênio, estudei no SENAI.

Sou técnico industrial em artes gráficas, formado pelo SENAI Theobaldo de Nigris e Felício Lanzara, especializado em produção visual.

Talvez por isso tenha ficado profundamente "comovido" ao ver a estrela do PT em uso no site do Partido.




Primeiro lembrei do Bob Esponja.

(Segue abaixo a imagem enviada pelo companheiro Bruno Elias, a quem agradeço!)




Depois lembrei de um livro que ajudei a editar, sobre brinquedotecas.

Afinal, é uma estrela com pontas arredondadas, que não arranham nem machucam.

Felizmente o uso não é obrigatório, pois afinal para tempos bicudos, bem melhor estrelas pontudas.













sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Confundindo focinho de porco com tomada

Tava demorando, mas aconteceu: segundo artigo cujo link disponibilizo ao final, a horda bolsonarista teria aplicado táticas leninistas. Pobre Lenin. Claro, devemos dar um desconto. Como se sabe, fake news são fáceis de espalhar e difíceis de desmentir. E faz tempo que se afirma que Lenin compreendia a luta pelo poder como um “assalto ao palácio de inverno”. Já se provou e comprovou que isto não procede. Ademais, é preciso muita criatividade para comparar o 8 de janeiro de 2023 com o 6 de novembro de 1917. No caso, porém, não se trata apenas de uma batalha conceitual. Afinal, nos últimos anos têm sido frequente ouvir que existiria um parentesco entre extrema-direita e esquerda. Lembram de Ciro chamando os petistas de fascistas? Lembram da estultice segundo a qual o nazismo seria de esquerda? Pois bem: o artigo reproduzido abaixo se encaixa nesta vibe. Como teoria não é sério. Mas como política, é um perigo. https://www.agendadopoder.com.br/opiniao/uma-extrema-direita-marxista-leninista-em-acao/

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Tiro no pé não mata

Ouvi de várias pessoas diferentes a opinião segundo a qual eles deram um tiro no pé.

Pode ser. Não temos este monopólio.

Mas nem tudo aponta nesse sentido.

Por exemplo, a tal pesquisa Atlas divulgada hoje.

Segundo essa pesquisa, 75,8% discordam do que ocorreu domingo e 69% apoiam a intervenção federal decretada por Lula.

Mas 38% consideram que a ação de domingo foi "completamente justificada" ou "justificada em parte"; e 42% dizem que o cavernícola não é responsável pelo ocorrido.

Para piorar, 39,7% acreditam que Lula teve menos votos do que Bolsonaro.

Evidente que a pesquisa tem uma metodologia e um perfil que explicam, em parte, os resultados.

Outras pesquisas virão e podem apontar resultados diferentes.

Mas, para além das pesquisas, tem a vida real, com as declarações de Moro, Hamilton Mourão, atentados contra torres de alta tensão e convocação de novas manifestações de golpistas.

A "teoria do tiro no pé", além de ser prematura, acaba contribuindo para minimizar o ocorrido e, por decorrência, nos leva a baixar a guarda.

O que houve não foi uma invasão de prédio público, com danos ao patrimônio.

O que houve foi uma tentativa fracassada de golpe de Estado.

Especialmente nisto - ser ou não uma tentativa de golpe de Estado - discordo totalmente do texto reproduzido ao final, de autoria de Stedile e Pagotto.

O fato de ter sido como foi e o fato de ter dado errado não mudam a natureza golpista do fato.

Aliás, noutros países (no Brasil, inclusive) é comum vermos um golpe de Estado ser precedido por um ensaio canhestro.

O tancazo no Chile, por exemplo, foi um ensaio do 11 de setembro.

Detalhe: depois do tancazo, o general Prats propôs a Allende trocar vários generais.

Allende não quis.

E a troca ocorrida foi: sai Prats, entra Pinochet.

Lembrei disto ao ler, no texto abaixo reproduzido, a notícia de que "no máximo, apenas os militares devem se (sic) escapar". 

Apenas?

Apenas??

Enquanto as forças armadas estiverem comandadas por golpistas, enquanto o ministro da Defesa for quem é, corremos alto risco.

Por tudo isso, nem que seja por cautela, vamos lembrar que tiro no pé (geralmente) não mata.

Especialmente no caso de quadrúpedes, vacas fardadas inclusive.










SEGUE O TEXTO COMENTADO

Os fascistas deram um tiro no pé
10/01/2023


Por MIGUEL ENRIQUE STEDILE & RONALDO TAMBERLINI PAGOTTO*

Análise dos fatos no calor da hora

Jair Bolsonaro só chegou ao poder, porque a burguesia, desesperada com a crise capitalista, com a falta de alternativas em suas fileiras e a possibilidade da vitória da esquerda com Fernando Haddad, apostou suas fichas no capitão. Apesar de saber da ideologia fascista do capetão, precisava jogar todo peso da crise na classe trabalhadora, com a retirada de direitos trabalhistas e previdenciários, impor limites aos gastos sociais e assaltar os cofres públicos.

O bolsonarismo que se gerou representava uma coalizão de forças identificadas com a direita e a extrema direita, aproveitando uma janela de oportunidade histórica. Faziam parte desta unidade o lavajatismo, o mercado financeiro, os evangélicos, o agronegócio, varejistas e o baixo clero no Congresso com políticos tradicionais que tinham a antiga ARENA como referência (PP). No decorrer do governo, alguns destes setores ou representantes se distanciaram, outros foram definitivamente incorporados ao bolsonarismo. E o seu núcleo central dirigente eram os militares (como Villas Boas, Braga Netto e Augusto Heleno, e outros de menor rango, etc) aliados aos milicianos (família Bolsonaro), que por sua vez tinham ligações com a nova extrema direita mundial (Trump, Steve Bannon) através do Eduardo Bolsonaro e Olavo de Carvalho.

Com a pandemia, depois com as eleições e, finalmente, com a vitória de Lula, o bolsonarismo foi se fragmentando. Algumas frações dos setores foram buscar a sobrevivência no governo Lula (Centrão, alguns políticos da bancada evangélica, veículos de comunicação, capital financeiro). Outros tentam ocupar o espaço vazio da direita, deixado pela diminuição do PSDB (Lava Jato, Moro, PL, PSD, União Brasil) e, portanto, o núcleo central fascista, também está corrigindo a sua rota e tentando encontrar o caminho para a sua sobrevivência.

Porém, se gerou uma contradição. Parte do grupo central são militares, mesmo reformados, e portanto estão vinculados às instituições do Estado. As táticas deste setor é deixar tudo como está: indicaram o ministro da Defesa, não sofrerem represálias pelos erros e pela política dirigida na pandemia (especialmente a acusação de genocídio contra povos originários, política dirigida por Eduardo Pazuello e pelas Forças Armadas), querem que o novo governo não mexa na previdência militar e nem no ensino nas escolas militares. E muito menos correr risco de punições, pelos descalabros cometidos, por alguns dos 6.400 militares que haviam migrado para o executivo disputando privilégios e boquinhas.

Outra parte do comando é a família Bolsonaro que precisa sobreviver politicamente. Seguindo a estratégia e conselhos de Banon/Trump, Bolsonaro precisaria permanecer como grande líder da direita, para lhe dar condições de não ser preso e disputar as eleições em 2026. A base social “puro sangue” bolsonarista é formada especialmente por militares (incluindo policiais militares) e seus familiares, pessoas mais velhas, combinando temas morais e econômicos ultraconservadores. Sociologicamente são uma minoria de classe media branquela e racista. Esta base precisa ser constantemente mobilizada, principalmente de forma polarizada. Por isso, durante todo o governo, como não tinha ações práticas, Jair Bolsonaro tensionava permanentemente para manter sua base coesa e alerta. Por isso usa e abusa das fake news sobre cada acontecimento, para criar um estado de prontidão.

Assim, os acampamentos em frente aos quartéis tinham dupla função: pressionar pelas reivindicações políticas de seus valores conservadores e as demandas corporativas das Forças Armadas para manter seus privilégios. E sobreviver ao governo Lula e mantendo a base bolsonarista mobilizada para permanecer como força política. Em muitas cidades, os acampamentos eram formados por familiares de militares, especialmente mulheres. Mas, em Brasília, era um acampamento nacional, financiado pelo agronegócio e pelas as empresas de mineração, incluindo o lumpesinato do garimpo ilegal.

Como forma organizativa, o bolsonarismo se estruturou dentro do modelo da guerra híbrida ucraniana ou do terrorismo da Al Qaeda, com círculos de diferentes níveis de participação e direção, mas reproduzindo e buscado um objetivo central, ainda que permitindo autonomia relativa nestes círculos. O bolsonarismo não conseguiu se constituir como um partido formal, não só no sentido institucional, mas também como força política organizada. Essa é outra contradição que Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, está enfrentando, porque o bolsonarismo não pode ser enquadrado dentro das “quatro linhas” de uma ação institucional tradicional. De maneiras que há uma mensagem central (desgastar o novo governo/mostrar força) e ter muitos satélites que atuam com táticas diferentes e certa autonomia.

Até as “emas” no Palácio da Alvorada sabiam que a ação deste domingo aconteceria: (a) A sequência de “fatos novos” que mantinha a base bolsonarista mobilizada se esgotou com a posse e diante do esvaziamento dos acampamentos e dos grupos em redes sociais após o primeiro de janeiro, era preciso reagrupar e mobilizar as tropas com um fato novo; (b) As relações do novo governo com as Forças Armadas permanece truncada, como se vê pela ausência de oficiais nas trocas de comando da Marinha e a ingerência de José Múcio Monteiro sobre essas forças; (c) Havia fidelidade e cumplicidade das diferentes forças policiais em Brasília, especialmente a PM/DF, como se viu na noite da diplomação (12 de dezembro 22); (d) Havia fidelidade e cumplicidade no governo do DF, demarcado pela nomeação de Anderson Torres, ex-ministro e fiel aliado de Jair Bolsonaro, justamente para controlar a segurança e as forças policiais.

A ação não foi e não tinha a intenção de ser um golpe de Estado, seus objetivos eram: (i) Fragilizar o novo governo e criar uma situação de ingovernabilidade com apenas oito dias de mandato; (ii) Poderia dar caldo para uma crise institucional e de legitimidade. Por exemplo, se o governo tivesse decretado Garantia de Lei e Ordem (GLO) e o Exército se recusasse a cumprir ou retirasse pacificamente os terroristas. Desmoralizaria o governo perante a sociedade e o exterior. Deixaria claro que não comanda as forças armadas e não poderia mexer no aparato militar; (iii) Destruir equipamentos e materiais do Gabinete de Segurança Institucional, onde estavam armas e HDs; (iv) d) Testar a fidelidade e depurar internamente a militância no bolsonarismo, deixando claro quem são os seguidores fiéis; (v) Demonstrar força e capacidade de mobilização, que seriam ativos maiores que os votos que Jair Bolsonaro teve e portanto, em qualquer condição, um líder da extrema direita que precisa ser consultado ou envolvido nas decisões políticas nacionais mesmo sem estar no poder (como a extrema-direita na França, por exemplo); (vi) Em caso de repressão, ter imagens de violência e talvez de morte, que realimentassem a militância nos próximos dias pela indignação, pelo discurso de autoritarismo ou da injustiça.

Esses objetivos e táticas, certamente foram acordados com as orientações da turma de SteveBanon/ Donld Trump, que já as havia aplicado nos Estados Unidos.

O elemento central da tática é que contassem com a cumplicidade do Exército. Tanto assim que os manifestantes voltaram tranquilamente para o acampamento, não dispersaram, pois sabiam que ali estavam protegidos.

Porém: (1) O governo agiu com rapidez, dureza e sem meias palavras: nomeou os culpados (Bolsonaro, Ibaneis, Anderson Torres e o agronegócio) e tomou medidas duras, constitucionais e respaldadas pela opinião pública; (2) Foi inteligente em não usar a GLO e não envolver mais as forças armadas. A única intervenção que restou ao Exército foi proteger na madrugada os acampados do despejo. E depois submeter-se às determinações do interventor federal no DF e acabou contribuindo para terminar como acampamento em Brasília e a prisão de mais de 1500 militantes fascistas.

Como saldo dos atos, foi um tiro no pé dos fascistas e gerou: (a) O novo governo conseguiu arregimentar a solidariedade internacional e nacional, institucional e midiática. Agora sim, se tornou um governo de união nacional; (b) O bolsonarismo se isolou como um bolsão de extrema direita, deve realmente depurar e se restringir a 10% da população. Porém, é um ativo que não interessa às forças políticas institucionais, incluindo o PL; (c) O bolsonarismo vai ter que enfrentar várias frentes de ataque, não apenas o discurso de herança maldita do governo, mas uma frente parlamentar (possibilidade de CPI), uma frente policial jurídica (STF e PF). Não terá forças para enfrentar todas ao mesmo tempo sem o aparelho do Estado (conivência de Aras). No máximo, apenas os militares devem se escapar. E a inelegibilidade e a prisão de Jair Bolsonaro não são mais apenas palavras de ordem; (d) Com a prisão dos “peixes pequenos”, abandonados, devem começar a surgir nomes dos verdadeiros financiadores e líderes. A cadeia de comando intermediária do bolsonarismo deve ser desmontada; (e) A cumplicidade das forças militares – e seus serviços de inteligência – ficou evidente e reduz a capacidade de negociação dos militares e moral diante da sociedade e no novo governo.

É possível que agora, diante da estupidez bolsonarista, a burguesia, a direita clássica busquem construir outros líderes, mais inteligentes e úteis.

Agora é preciso aproveitar esta vitoria política com a sociedade, para concluir o que não conseguimos fazer nas urnas: derrotar historicamente a extrema-direita como força política!.

É preciso mobilizar os movimentos em atos de massas; ter poucas bandeiras e diretas (prisão para terroristas, cpi, etc); apoiar as ações do governo com mobilizações; não foi uma tentativa de golpe de Estado, mas devemos chamar assim como denúncia; denunciar os financiadores, como os lojistas, clubes de tiro, e sobretudo a pequena burguesia do agronegócio, em especial do centro-oeste do país; manter-se alertas para as artimanhas nas redes sociais e em atos desesperados que a turba de fascistas ainda podem provocar.

*Miguel Enrique Stedile é doutor em história pela UFRGS e integrante do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social.

*Ronaldo Tamberlini Pagotto, advogado, é ativista do Movimento Brasil Popular.


domingo, 8 de janeiro de 2023

PRISÃO PARA OS GOLPISTAS

A direção nacional da tendência petista Articulação de Esquerda, reunida emergencialmente na noite deste domingo 8 de janeiro, aprovou a seguinte resolução acerca das medidas que devemos tomar contra a ofensiva golpista. 

1.O ataque da extrema-direita aos prédios do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, ataque ocorrido neste domingo 8 de janeiro, não foi um ato espontâneo, nem inesperado.

2.No dia 12 de dezembro de 2022, após a diplomação de Lula, a extrema direita já havia promovido um quebra-quebra na cidade de Brasília, contando com a cumplicidade do ainda presidente da República, do governo do Distrito Federal, de setores das forças armadas e das polícias. Além desse precedente, nos últimos dias as redes (anti)sociais da extrema-direita foram tomadas por mensagens arregimentando pessoas para vir a Brasília. Nos dois casos, assistimos a uma operação de guerra, financiada por empresários, coordenada por uma aliança cívico-militar e perpetrado por alguns milhares de neofascistas, que vêm usando o acampamento defronte ao Quartel General do Exército como base de operações.

3.Frente aos acontecimentos, o presidente Lula decretou intervenção federal na segurança pública do governo do DF. Manifestamos nosso total apoio a esta medida, bem como a promessa de que os responsáveis serão punidos, o que inclui o governador e o secretário de segurança do Distrito Federal.

4.Ademais, é preciso processar, julgar e punir quem financia as caravanas e os acampamentos; quem, por ação ou omissão, facilitou o acesso da extrema direita à Esplanada; quem invadiu e depredou os três palácios. Aliás, registre-se: de depredação, o bolsonarismo entende, como se viu no caso do Palácio da Alvorada.

5.Propomos, também, uma revisão completa dos protocolos de segurança e inteligência do governo federal, pois é óbvio que não passaram no teste.  

6.Se todo mundo sabia das intenções golpistas, por que nada foi feito preventivamente? Se eleitores foram barrados no segundo turno, pela PRF bolsonarista, por que ônibus cheios de golpistas puderam passar? Por que os golpistas conseguiram penetrar nos palácios com tanta facilidade? Por quais motivos a Polícia do Exército (presente no Palácio do Planalto) e as demais forças policiais demoraram tanto para agir? Por que a Força de Segurança Nacional não estava de prontidão, conforme prometido? Se todo mundo sabia que os acampamentos eram a base de operações dos golpistas, por que não foram desmontados?

7.Propomos a imediata demissão do ministro José Múcio Monteiro e do comandante do Exército, que vêm acobertando a existência de acampamentos de extrema direita defronte a quarteis do exército por todo o país. O ministro da Defesa chegou a dizer que os acampamento eram manifestações democráticas, que iriam se esvaziar naturalmente. O acampamento golpista em Brasília deve ser imediatamente dissolvido, assim como devem ser dissolvidos os acampamentos existentes em outras cidades do país.

8.Não há como deixar de referir-se à diferença de comportamento que certas forças policiais exibem, quando se trata de lidar com manifestações da extrema-direita, totalmente diferente do modus operandi adotado frente aos movimentos de esquerda e às comunidades pobres, pretas e periféricas. Os policiais que faltaram com seu dever devem ser tratados com o rigor da lei. 

9.Embora seja necessário reprimir duramente a extrema-direita e embora seja indispensável julgar, condenar e punir os criminosos, nada disto é politicamente suficiente.

10.O ato da extrema-direita tem natureza política e precisa ser politicamente respondido. Aliás, é preciso reconhecer que, ao menos de momento, a extrema-direita atingiu seu objetivo.  Neste sentido, defendemos que a Comissão Executiva Nacional do PT endosse a proposta de realizar, em Brasília, uma manifestação nacional em defesa da democracia. Atos com o mesmo objetivo começarão a ser realizados já a partir desta segunda-feira, 9 de janeiro, em todas as cidades e estados. 

11.É o povo nas ruas e nas praças que é capaz de defender as liberdades democráticas e defender o próprio povo. E a mobilização popular precisará ser intensa e permanente. Até porque a extrema-direita já está realizando e convocando novos atos, inclusive com cortes de estradas e avenidas.

12.Por fim, os acontecimentos de 8 de janeiro são mais uma prova de que o caminho da pacificação do país passa pelo julgamento e prisão dos criminosos, a começar por Jair Bolsonaro e todos os civis e militares que foram cúmplices de seu governo genocida. 



quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Apoiar e disputar o governo

A direção nacional da tendência petista Articulação de Esquerda, reunida no dia 3 de janeiro de 2023, aprovou a seguinte resolução política.

1/Ouvimos durante toda a campanha que “nossa bandeira nunca será vermelha”. Mas vermelha é a esperança da maior parte de nosso povo, que ocupou Brasília no dia primeiro de janeiro de 2023, para garantir que a posse do companheiro Lula na presidência fosse, muito mais do que uma formalidade institucional, uma grande festa popular, marcada por importantes compromissos políticos e atos simbólicos. Aliás, esta é a postura correta: não baixar a guarda, tomar as devidas medidas de proteção, mas não se amedrontar e fazer o que precisa ser feito!

2/Entre os compromissos e atos com os quais teve início o terceiro mandato de Lula, destacamos alguns: a mudança no ritual da passagem da faixa presidencial, a aclamação recebida pela presidente Dilma Rousseff, a decisão de suspender os sigilos arbitrários e de garantir a transparência nas ações do governo, o empenho em descobrir e punir quem mandou matar Marielle Franco, a afirmação de que o teto de gastos é uma estupidez, o revogaço e a decisão de frear as privatizações, o compromisso com os direitos humanos, com a defesa do meio ambiente, com os povos originários, a decisão de gerar empregos e ampliar a renda dos que vivem do trabalho, a ênfase no controle social, na participação e no protagonismo popular.

3/Nada disto teria acontecido não fosse o esforço de cada movimento social, de cada partido de esquerda, de cada cidadã e cidadão, de cada militante que resistiu e lutou, desde o golpe de 2016 até o segundo turno de 2022, de cada eleitor e eleitora que no dia 30 de outubro do ano passado compareceu às urnas para votar 13. Foram estas pessoas, na sua maioria integrantes dos setores mais pobres da nossa classe, negros e negras, mulheres, LGBTQI+, povos originários e comunidades tradicionais, moradores da periferia, jovens de coração vermelho, trabalhadores e trabalhadoras com consciência de classe, da cidade e do campo, residentes em todos os cantos de nosso país, mas especialmente nordestinos de moradia e de espírito, que nos permitiram conquistar esta vitória.

4/Empossado o presidente e seu ministério, cabe implementar o programa de reconstrução e transformação vitorioso nas urnas. E para termos êxito nesta tarefa, é importante compreender o tamanho dos desafios e das oportunidades que o povo brasileiro tem pela frente.

5/É preciso começar reconhecendo que o terceiro mandato do companheiro Lula tem início em meio a uma situação mundial de imensa complexidade, marcada pelos desdobramentos da crise de 2008, pela pandemia da Covid 19, pelo agravamento da situação ambiental, pela ascensão da República Popular da China, pela guerra da Rússia contra a aliança Ucrânia/OTAN e, destacadamente, pela tentativa que os Estados Unidos fazem de reverter seu declínio enquanto potência hegemônica. 

6/Na América Latina e Caribe, os Estados Unidos já demonstraram sua disposição de fazer de tudo - sabotagem, golpes, guerras, mas também cooptação– para manter sua influência.

7/Deste ponto de vista, o governo Lula, com sua manifesta disposição de construir outra ordem mundial e de retomar a integração regional - através, por exemplo, da CELAC, da Unasul, dos BRICS - constitui mais uma ameaça aos interesses estratégicos estadounidenses. Motivo pelo qual é mais atual do que nunca a compreensão de que os EUA não são uma nação como outras, mas sim uma potência imperialista.

8/É preciso destacar, também, a herança maldita deixada pelo ciclo golpista iniciado em 2016. Para ter uma dimensão desta "herança", recomendamos enfaticamente a leitura atenta do Relatório da Transição, bem como a leitura dos discursos feitos pelo companheiro presidente Lula no dia da posse. 

9/Para além dos crimes, da destruição e dos retrocessos descritos no Relatório e nos discursos, a herança maldita do golpismo inclui, também, os espaços que seguem ocupados pelos neofascistas, seus nomeados e seus aliados na administração federal (a começar pelo Banco Central), em importantes governos estaduais (como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro) e governos municipais, no Congresso Nacional, nas forças armadas e polícias, nos meios de comunicação, nas escolas e na cultura nacional, sem esquecer dos grupos paramilitares e de diferentes setores do empresariado, com destaque para o agronegócio e o capital financeiro.  

10/A extrema-direita, o bolsonarismo e as milícias possuem tentáculos espalhados pelos mais diversos partidos e organizações, não por "malandragem", mas como política deliberada, que deve por nós ser repudiada e combatida de forma aguerrida e permanente.  

11/Embora tenha sido derrotada na disputa presidencial e, em decorrência, tenha se aberto uma disputa entre os diferentes líderes da extrema-direita, não se deve minimizar nem subestimar a ameaça do neofascismo, cuja retaguarda e alma mater está nas forças armadas. Os crimes do golpismo, em particular os de Bolsonaro, não podem ser esquecidos nem anistiados. Não há democratas nas manifestações que se abrigam defronte aos quartéis.

12/Para derrotar a extrema direita legal e ilegal, presente tanto nas ruas quanto nas instituições, será necessário muito mais do que um governo: será necessário um movimento político e social liderado pela esquerda, dirigido pelo PT e ancorado na classe trabalhadora com consciência de classe. Desta perspectiva, é fundamental ampliar a unidade da esquerda política e social brasileira, como no caso das frentes populares.

13/Esta unidade é mais do que nunca necessária, porque os desafios postos para a esquerda partidária e social brasileira, bem como para o governo Lula, são muito mais complexos do que aqueles enfrentados de 2003 a 2014.

14/Naquela ocasião, enfrentávamos o neoliberalismo tucano. Hoje enfrentamos dois tipos de oposição: a direita tradicional e a extrema direita. Estas duas direitas estão presentes tanto fora quanto dentro do governo, não apenas através de figuras como o presidente do Banco Central e tantos outros, mas também através de alguns ministros recém-nomeados, que participaram do golpe de 2016, comemoraram a prisão de Lula e foram base da gestão cavernícola.

15/A presença deste tipo de personagem em nosso ministério gerou, em alguns, perplexidade e apreensão; mas não cabe falar em surpresa. Afinal, dada a tática eleitoral e a política de alianças adotada, mais o fato de o presidente ter sido eleito em segundo turno, tendo que conviver com um Congresso majoritariamente de direita, estava precificado que o ministério realmente existente não seria o de nossos sonhos, incluindo gente oriunda de partidos que não apoiaram Lula no primeiro turno e nem mesmo no segundo turno.

16/Curiosamente, muitos dos que mantiveram silêncio obsequioso, ou inclusive apoiaram com entusiasmo as mais amplas alianças, só agora parecem estar se dando conta dos efeitos colaterais de algumas das decisões tomadas no primeiro semestre de 2022.

17/Entretanto, ter a presença de ministros de direita não significa ter a presença de qualquer um, em qualquer lugar. Neste sentido, mesmo nos marcos da política adotada e das circunstâncias, outras soluções eram possíveis. Se por outro motivo não fosse, para evitar constrangimentos desnecessários.

18/Um dos casos mais graves de concessão indevida à direita é o ocorrido no Ministério das Comunicações, cuja titularidade foi entregue a um deputado federal que votou pelo impeachment de Dilma, comemorou a prisão de Lula e fez parte da base de Bolsonaro.

19/Ademais das Comunicações, outro grave erro estratégico foi cometido na Defesa, tendo sido escolhido um ministro ao agrado dos militares, sem falar de comandantes selecionados pelo critério da antiguidade. Ambas concessões não  impediram os referidos comandantes de tomar posse antes da posse do presidente Lula e do ministro da Defesa, numa simbólica demonstração de lealdade política ao derrotado nas urnas.

20/É preciso registrar que o ocorrido na Defesa contou com a colaboração passiva de grande parte da direção nacional do PT. Nosso Partido, ao debater o programa de reconstrução e transformação, escolheu omitir sua opinião sobre o tema Forças Armadas. Não houve debate nem formulação sobre Defesa no PT, não houve no âmbito da Federação, não houve no âmbito da coligação, não houve na transição. Um dos efeitos colaterais disto tudo é este ministro da Defesa e os três comandantes militares.

21/Mas a bem da verdade é preciso reconhecer que, para superar a inconstitucional tutela militar, será preciso um trabalho de longo prazo, que estabeleça outra cultura, outro padrão de funcionamento e outra composição às forças armadas (e suas forças auxiliares: as polícias) que há décadas foram colonizadas pela direita e pelo imperialismo. Mas, inclusive por ser um trabalho de longo prazo, é preciso começar já, enfrentando temas como o da tutela militar, a militarização das polícias e das escolas, o encarceramento em massa.

22/Apesar das concessões à direita e apesar de outros problemas –desequilíbrios de gênero, étnicos e regionais, bem como desequilíbrios na expressão da diversidade petista – o ministério que tomou posse na primeira semana de janeiro de 2022, com grande número de titulares petistas e de outros setores da esquerda, pode e deve contribuir no enfrentamento da extrema-direita, da tutela militar, do “centrão”, do neoliberalismo e do imperialismo.

23/Termos êxito no enfrentamento de nossos inimigos depende, em boa medida, de circunstâncias que transcendem as pessoas indicadas para encabeçar os ministérios, importantes bancos e empresas, bem como indicadas para pilotar a interação do governo com o Congresso Nacional. 

24/Muito do nosso êxito dependerá da composição do conjunto de cada ministério, inclusive nos estados; das políticas que cada ministério vai implementar e da ação do governo como um todo; do curso geral da luta entre classes no país, para a qual o governo contribui, mas para a qual a esquerda partidária e social tem muito o que dizer e fazer; muito dependerá do curso geral da luta entre Estados no mundo, luta na qual os governos de Venezuela e Cuba são nossos aliados e, portanto, merecedores de mais respeito do que aquele que alguns de nossos diplomatas geralmente devotam aos EUA.

25/Como síntese do que foi dito até agora: estamos diante de um governo que deve ser apoiado e que deve ser disputado. 

26/Esta definição - “governo em disputa” - foi utilizada por alguns setores do Partido já em 2003, há vinte anos portanto. Naquela época, entretanto, o grupo majoritário na direção do PT e, também, boa parte da esquerda do PT e da esquerda antipetista recusavam o termo "governo em disputa". Alguns por entender que nosso governo seria, de conjunto, o máximo e o melhor possível, não cabendo disputar, apenas apoiar; já outros entendiam que nosso governo seria, de conjunto, impossível de disputar. Hoje, vinte anos depois, a maioria dos partidos de esquerda que apoiaram Lula nas eleições 2022 admite, explicita ou implicitamente, que estamos diante de um governo em disputa, que deve ser apoiado e que deve ser disputado. 

27/Mas não basta constatar: é preciso traduzir esta consigna em orientações práticas. A primeira delas é a seguinte: a melhor forma de fazer o governo Lula dar certo é não sair das ruas, estar junto do povo na defesa das suas legítimas reivindicações e necessidades. 

28/Cabe à esquerda partidária e social ter uma postura ativa na disputa de rumos do governo, apoiando e defendendo as medidas avançadas que sejam tomadas, criticando e mobilizando para derrotar os neofascistas e os neoliberais, inclusive os que estejam eventualmente incrustados dentro do governo.

29/Nesse sentido, a equipe ministerial que tomou posse na primeira semana de janeiro é o ponto de partida, mas não pode nem deve ser o ponto de chegada. Outras pessoas são possíveis e necessárias, especialmente - mas não só - nas Comunicações e na Defesa. Até porque os ministérios que estão nas mãos de “neoaliados” de direita são, ao menos potencialmente, instrumentos para a direita disputar os rumos do governo. Não deixa de ser didático, neste sentido, ver uma ministra que, ao tomar posse, já demarca sua divergência com a política econômica do governo.

30/Assim sendo as coisas, mais do que uma obrigação, é uma necessidade que o PT e outros setores da esquerda, mesmo sem ter a titularidade dos ministérios, façam a disputa pública acerca do rumo das respectivas políticas públicas de cada ministério e do conjunto do governo. Lembrando que o fato de um ministério ter como titular alguém de esquerda não significa, por si só, a garantia de que o programa de reconstrução e transformação será executado.

31/Assim, cabe não apenas apoiar o governo, mas também, como orientou o presidente Lula, fiscalizar e apontar erros, criticar publicamente sempre que necessário, cobrar a execução do plano de governo. 

32/Vale lembrar que o tempo não é nosso aliado: no plano da institucionalidade, seremos testados já nas eleições municipais de 2024, para a qual precisamos nos preparar desde agora. Mas no plano da vida cotidiana do povo e no terreno da guerra cultural, a batalha será permanente e, de fato, já começou. Aliás, nunca cessou.

33/O sucesso estratégico da esquerda dependerá de vários fatores, dentre os quais se destaca a reindustrialização do país. Precisamos deixar de ser uma subpotência agro-minério-exportadora e devemos passar a ser potência industrial de novo tipo. Mas não basta qualquer desenvolvimento: é preciso outro padrão de desenvolvimento, ambientalmente orientado, a serviço da redução da desigualdade e da ampliação do bem-estar. Este é o pano de fundo da disputa, já em curso, acerca da política fiscal e tributária do governo Lula. Não basta crescer, não basta desenvolver, é preciso fazer isso transformando profundamente nossa sociedade. E para isto não bastam discursos politicamente corretos em posses ministeriais, muito menos juras de lealdade: é preciso combater os monopólios, os oligopólios, a ditadura do capital financeiro e do agronegócio, a concentração de riqueza e poder.

34/Por todos os motivos citados anteriormente, será muito importante a forma como o presidente Lula vai organizar a coordenação política do seu terceiro mandato. Mas até para que esta coordenação seja a melhor e mais à esquerda possível, é imprescindível que nosso partido dê um salto de qualidade na condução da sua própria atuação política.

35/Não se trata apenas de um problema de orientação política, de programa, estratégia e tática. Nem tampouco se trata apenas da composição das instâncias. Trata-se, também, de mudar os métodos que têm prevalecido no dia a dia do Partido, métodos que quando muito dão resposta para as disputas eleitorais e para a ação institucional, mas que não conseguem dar conta de outras dimensões indispensáveis da luta pela transformação do Brasil: a auto-organização da classe trabalhadora, a mobilização social, a batalha de ideias.

36/Nos últimos anos e meses, o PT demonstrou mais uma vez dispor de uma força colossal e de grande capacidade eleitoral. Agora, um de nossos maiores desafios consiste em organizar e transformar esta força e capacidade em instrumento para a disputa política cotidiana, nos locais de trabalho, de moradia, de estudo e de lazer. 

37/Desse ponto de vista, a experiência dos comitês populares de luta é um dos pontos de apoio para o que é necessário ser feito. É preciso, também, levar em devida conta as múltiplas formas de organização e luta de nosso povo, contribuindo para sua formação, organização, coordenação e mobilização. E para que isto aconteça, a ação estritamente governamental é não apenas insuficiente, mas também pode conduzir a desvios, como demonstraram várias experiências - dentro e fora da América Latina - que buscaram organizar o povo a partir do Estado. Devemos continuar insistindo na auto-organização do povo. E para que isso seja possível, é preciso que a condução do Partido adote métodos distintos daqueles adotados na condução dos mandatos parlamentares.  

38/Em 2023 vamos comemorar os 40 anos de fundação da Central Única dos Trabalhadores e, logo mais, também o aniversário de criação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Que estes aniversários nos façam recordar que a vocação do PT não se limita a disputar eleições de dois em dois anos, conduzir mandatos e governos. 

39/O PT foi criado para contribuir na organização da luta da classe trabalhadora, na construção do poder necessário para transformar o Brasil. Nossa presença no governo e no parlamento, em todos os níveis, é uma parte - parte importante, mas sempre uma parte - deste esforço para termos um Brasil com bem-estar social, soberania nacional, liberdades democráticas, industrialização e desenvolvimento de novo tipo. Um país socialista.