quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Uma estátua para Marta Suplicy

Um velho amigo me enviou, hoje, uma entrevista onde Adriano Diogo - grande militante, dos que combateram contra a ditadura e seguiram pela esquerda desde então - propõe construir uma estátua para Marta Suplicy.


Na minha opinião, a entrevista de Adriano chega a ser sóbria, quando comparada a um vídeo onde Marta é apresentada ao som da clássica De volta para o aconchego.

Sem dúvida, a gestão da então petista Marta como prefeita de São Paulo tem enormes méritos. E quem a defende como vice de Boulos, a começar pelo próprio, tem a expectativa de que estes méritos passados movam moinho. Da minha parte, espero que tenham razão.

Mas, como já disse noutras oportunidades, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Uma coisa é aceitar a Marta como vice, outra coisa é recebê-la de volta no PT, como se fossemos uma legenda eleitoral, não um Partido. 

Adriano Diogo, óbvio, sabe a diferença entre legenda e Partido. Talvez por isso mesmo ele opte por contar uma história um pouco diferente daquela que realmente aconteceu.

Para não cansar ninguém, me limito ao seguinte trecho: segundo Adriano Diogo, Marta "foi uma das molas propulsoras da eleição da Dilma Rousseff. Depois, lá no governo, houve um desentendimento em que ela errou naquele simbolismo de levar flores para Janaina Paschoal perto daquela senadora do Rio Grande do Sul. Ela errou. Mas a gente precisa ver na política os antecedentes. É uma maravilhosa notícia que a Marta volte ao PT".

Anotem aí: sair do PT fazendo pesadas acusações, votar no impeachment da Dilma, votar a favor de medidas contra a classe trabalhadora, fazer campanha para candidaturas de direita e integrar até há pouco um governo resultante de uma destas campanhas... tudo isto não passa de desentendimento e simbolismo.

Por tamanha capacidade de síntese, quem realmente merece uma estátua é Adriano Diogo.

Dia 2 Marta se filiará ao PT. Dia 3 reapresentarei o pedido de impugnação. 

Para pegar emprestado as palavras de Adriano, será meu "desentendimento simbólico" contra mais este passo que vai convertendo o PT em uma legenda eleitoral.











terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Scioli, o traidor do dia

Scioli entrou no governo Milei!

Detalhes aqui:

https://www.pagina12.com.ar/708541-daniel-scioli-se-suma-al-gabinete-de-javier-milei-como-secre

Scioli foi vice-presidente de Nestor Kirchner, foi governador da província de Buenos Aires, foi candidato à presidente em 2015 e foi nomeado por Alberto Fernández como embaixador de los hermanos no Brasil.

Seguiu no posto depois da eleição de Milei e, agora, atravessou o alambrado para o pasto vizinho.

Dado seu currículo, mais do que uma traição, é uma aquisição muito útil para o governo de extrema-direita e ultra-liberal de Javier Milei.

Claro que o mundo dá muitas voltas, vide casos recentes no Brasil que aqui não vou recitar. Portanto, melhor não fazer prognósticos sobre o não muito longo prazo.

Mas, para além de seus efeitos políticos imediatos e mediatos, a traição de Scioli confirma algo que ocorreu também nas experiências clássicas do fascismo: sob os mais variados pretextos e, as vezes, por motivos totalmente vis e impublicáveis, o neofascismo tem poder de atração.

Por este e por outros motivos, só será derrotado se houver, na outra extremidade, forças poderosas dispostas também a polarizar. A classe trabalhadora argentina mostrou, na greve recente, esta disposição. Resta saber se terá fôlego e disposição à altura do desafio. A nós cabe ajudar no que estiver ao nosso alcance.

Isto posto, concluo com todos os palavrões possíveis e inimagináveis.


 





segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

40 anos do MST

No sábado, dia 27 de janeiro de 2024, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, mais conhecido como MST, realizou um ato celebrativo dos seus 40 anos de luta.

Pouco antes do ato começar, a companheira Lucinha, da executiva nacional do PT, disse que talvez eu fosse chamado a falar em nome da direção nacional do PT, o que de fato ocorreu.

Como a orientação dos organizadores era a de que fizéssemos falas curtas, e como eu fora chamado para falar em nome do Partido, optei pela síntese e pelo mínimo denominador comum, como pode ser constatado no vídeo disponível no endereço abaixo, por volta da 1h26.

ATO POLÍTICO DE COMEMORAÇÃO AOS 40 ANOS DO MST (youtube.com)

Neste texto, quero desenvolver duas ideias.

A primeira delas diz respeito ao objetivo central do MST: a reforma agrária.

Na esquerda, o apoio ao MST é maior do que o apoio efetivo à reforma agrária, entre outros motivos porque fazer a reforma agrária implica em conflito com o latifúndio tradicional e moderno, com o agronegócio, com a mineração e, inclusive, com o latifúndio urbano.

No fundo, o desejo de alguns setores da esquerda parece ser o de que o MST se converta num movimento dos que produzem, mas sem ocupar e resistir. Por óbvio, sem luta muito intensa, não haverá reforma agrária. Mas, salvo em caso de uma revolução, fazer reforma agrária exige ação de governo. E se o governo não implementa a reforma agrária, desejar "vida longa ao MST" - como fez o companheiro ministro Paulo Teixeira - pode soar como uma frase com duplo sentido.

Assim sendo, esperamos que em 2024 o abril seja particularmente vermelho.

Uma segunda questão diz respeito a organização.

O PT, a CUT, o MST, outras organizações da esquerda brasileira têm muitos motivos para se orgulhar, pois o que fizemos não é pouco. Mas não podemos nos conformar em ter um "grande passado pela frente". Vivemos tempos de guerra no mundo, de enfrentamento com o neoliberalismo e com a extrema-direita no Brasil. Sendo este o contexto, precisamos dar um salto de qualidade. 

Afinal, o padrão de organização predominante - especialmente nos partidos de esquerda e no movimento sindical - já se demonstrou à altura de vencer eleições, mas ainda não se demonstrou capaz de sustentar transformações estruturais, enfrentar golpes como se deve e reverter a influência da extrema-direita junto aos setores populares. Se não mudarmos nosso padrão organizativo, nem aproveitaremos a janela aberta pela conjuntura mundial e nacional, nem conseguiremos impedir futuros retrocessos.

Precisamos, entre outras tantas coisas, de mais organicidade militante, mais formação político-ideológica, mais renovação geracional, mais importância para a cultura, mais combinação entre lutas específicas e lutas políticas gerais, mais internacionalismo, mais defesa do socialismo. Características que são compartilhadas - em maior ou menor medida - por muitas organizações, mas que são muito fortes e presentes no MST.

Há quem ache que só organizações camponesas podem atingir o padrão alcançado pelo MST. Mas há também quem considere ser possível construir - nas organizações da classe trabalhadora assalariada, na sua imensa maioria urbana - um padrão similar ou pelo menos bastante superior ao atual. Se isto é possível ou não, só a prática dirá. Mas sem uma mudança na estratégia política, não haverá mudança organizativa a altura dos desafios. Pois, como dizia o camarada russo que nos deixou há 100 anos, organização é política concentrada. 

Feitas as contas, o maior presente que podemos dar ao MST nos seus 40 anos é tomar medidas que ampliem o nível de consciência, organização e mobilização de outros setores da classe trabalhadora e do povo brasileiro. E, no caso do governo federal, tomar medidas efetivas em favor da reforma agrária.


#pormaismenas!

No domingo, dia 28 de janeiro de 2024, centenas de pessoas compareceram ao velório da Mena, registrada como Maria Filomena Gouveia Vilela.

Das presentes, a grande maioria é militante do SUS. Gente que, por profissão, sabe como a vida é frágil.

Ainda assim, ou por isso mesmo, era geral a inconformidade com a partida súbita de alguém tão querida, conhecida por seu alto astral, sorriso maroto, alegria, inteligência, seriedade temperada com bom humor, sempre do lado certo do rio.

Não sei se é pela média de idade, se é por estes tempos bicudos em que vivemos, ou se é por tudo junto e misturado, das que estiveram no velório, não foram poucas as que se encontraram recentemente em outras despedidas, de familiares, de amigos, de conhecidos, de colegas de trabalho, de camaradas de luta.

Cada uma destas partidas gera sentimentos diferentes, que são pessoais, intransferíveis e também cumulativos, a ponto de alguns não saberem se choram o singular ou o plural.

Seja como for, ao menos num caso específico, de uma pessoa crente na humanidade - em nada além, nem acima, nem abaixo disso - a perda de Mena causou imensa tristeza. 

Quais os motivos de tamanho desalento? Não é a falta de um "ser superior" a quem apelar. Não é por lembrar que somos todos poeira ao vento. Provavelmente é porque a crença na humanidade tem, entre suas muitas causas, a existência de pessoas que são a prova de que as coisas podem ser muito diferentes do que são. 

A falta de pessoas deste naipe faz muito mais falta. 

Por isso, total apoio à ideia do Quitério, da Vigilância Sanitária de Santos: vamos lançar a hashtag pormaismenas!!!



 

 

  






Samuel Pinheiro Guimarães

O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães (1939-2024) foi um dos principais responsáveis - junto com Marco Aurélio Garcia, Celso Amorim, Dilma e Lula - pela política externa dos governos petistas.

Pensador profundamente comprometido com os interesses do nosso país, daqueles que não utilizava maneirismos diplomáticos quando se referia ao papel deletério do imperialismo estadounidense, Samuel tinha a maravilhosa qualidade de ser mordaz com os inimigos do povo brasileiro.  

Militante do Partido dos Trabalhadores, ativo em tantas outras frentes, fará enorme falta aos seus familiares, aos seus amigos, colegas de trabalho e de militância. 

Informado de sua partida, um amigo comum lembrou em uma reunião as palavras com que Samuel encerrou uma palestra na Argentina: a luta continua!

Samuel presente, agora e sempre. A luta continua!!

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

“Quero ser amigo do Quaquá”

O deputado federal e vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá, tem seus momentos de fúria, especialmente contra quem ele chama de “esquerda de Ipanema” e, até mesmo, com bolsonaristas que atrapalham suas lives.

Mas não deixam de surgir provas consistentes de que, na verdade, Quaquá é acima de tudo um bom amigo para pessoas de bem que atravessam horas difíceis.

Três provas disto.

Primeiro, sua foto com o general Pazuello.

Deputado petista que postou foto com Pazuello diz que quer votos do ex-ministro para propostas do governo | Política | G1 (globo.com)

Segundo, seu voto na comissão de ética da Câmara dos Deputados.

Conselho de Ética arquiva cassação de Nikolas e Zambelli com ajuda de Quaquá | Revista Fórum (revistaforum.com.br)

Terceiro, seu artigo em defesa de Brazão.

Cuidado para não assassinarem Marielle novamente! - Washington Quaquá - Brasil 247

Neste último artigo, Quaquá escreveu o seguinte: “Conheço o Domingos Brazão de longa data, inclusive de campanhas eleitorais nacionais onde ele esteve do nosso lado. Sinceramente, não creio que ele tenha cometido tal brutalidade. Espero que as acusações que estão lhe fazendo não sejam validadas com base apenas na delação de um assassino ligado ao bolsonarismo. É imprescindível que se apresentem provas concretas que possam confirmar a delação”.

De fato, delação não é prova.

De fato, todo mundo é inocente até prova em contrário.

Mas, vamos combinar, é preciso ser muito amigo, para vir à público defender um cidadão cuja ficha corrida lembra pau de galinheiro.

Claro que há quem diga que, por detrás de tamanha demonstração de amizade, existiria apenas cálculo. Qual, não me disseram. 

Da minha parte, como quase tudo na vida, acho que pode ser, sempre pode ser. Mas meu temor é que seja amizade mesmo. 

Motivo pelo qual estou pensando em produzir, não um brazão, mas um botton com a inscrição “Quero ser amigo do Quaquá”.

Será meu reconhecimento ao fato de que apenas o realismo fantástico é capaz de explicar a tolerância que o PT - ou, para ser mais preciso, o grupo majoritário na sua direção nacional - segue exibindo com este cidadão.



quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Eloi Pietá e o eleitoralismo

O assunto “desfiliação de Elói  Pietá” segue rendendo. Até porque, como não podia deixar de ser,  a grande mídia está aproveitando para tirar várias “casquinhas” do Partido.

Da minha parte, sigo compreendendo a atitude do Elói, mas discordando profunda e absolutamente da atitude adotada por ele.

Depois de ler minha crítica, algumas pessoas me escreveram, entre elas Eloi, neste caso para dizer, entre outras coisas, que sua  “atitude não é eleitoreira”. 

Para Elói, seria “a continuidade de uma luta a que me dedico há 63 anos quando participei de barricadas em frente ao palácio do governo do Rio Grande do Sul contra o golpe que impedia a posse do Jango. E depois à resistência contra a ditadura. E depois no movimento popular e sindical. E depois na construção do PT e de 26 anos em cargos para os quais o povo me elegeu. Como estou chegando aos 80 anos ainda com muita saúde, tomei a decisão para ser mais útil ao que sempre fiz desde os 17 anos de idade”.

De fato, Eloi tem uma linda história de luta. E segue merecedor de minha estima. Isto posto, meu argumento para chamar de eleitoreira a sua (dele) decisão é muito simples: uma candidatura a prefeito não justifica sair de um Partido (da mesma forma, aliás, que uma candidatura a vice não justifica entrar em um Partido, mas isso são outros quinhentos).

E o fato desta candidatura ter sido barrada por métodos antidemocráticos tampouco justifica sair do Partido. Ou esta foi a primeira vez que se adotam, em nosso partido. métodos antidemocráticos? Ou esta teria sido uma vez mais grave que todas as outras?

O fato de esta ter sido considerada, por Elói, uma situação limite revela, na minha opinião, que ele adotou um critério eleitoreiro para decidir acerca de ficar ou sair do Partido.

Eloi me encaminhou, também, uma mensagem que - palavras dele - ele ia colocar no grupo de zap do DN. A mensagem diz o seguinte:

“Em Guarulhos, petistas e simpatizantes do PT estarão juntos no segundo turno das eleições municipais. Desfiliei-me do PT, como única forma possível de liderar uma frente ampla na cidade que afaste do poder local o governo que se alinha com o bolsonarismo. 
Não mudei o que penso e o que sempre fui nos 43 anos de PT, que ajudei a construir na cidade e depois no país. Pretendo me filiar a um partido que apoia o governo Lula, e ganhar as eleições para, de uma forma mais eficiente, fazer o que diz a primeira frase do manifesto do PT: “intervir na vida social e política do país para transformá-la”.
Só inscrevi minha pré-candidatura para as prévias do PT em Guarulhos, porque liderava todas as pesquisas na cidade. Se estivesse em quarto ou quinto lugar, como o indicado Diretório Municipal, não teria me inscrito. 
Lamento que o Diretório Nacional tenha alterado o Estatuto abrindo brecha para manipulações de minúsculos colégios eleitorais, como aconteceu na minha cidade, onde de 35 membros do Diretório local decidiram por 25 mil filiados ou filiadas que tiveram cancelado seu direito de escolha.
Mas, não me desfiliei por protesto. No PT já fui maioria e soube ser minoria. Saí para melhor ajudar a acontecer o que sempre defendemos: uma sociedade igualitária e que respeite a natureza. Obrigado pela sua atenção. Abraço Elói”

O que Eloi diz na mensagem acima, em resumo, é o seguinte: “não me desfiliei por protesto”, “desfiliei-me do PT como única forma de liderar uma frente ampla” e seguem-se nobres motivos e objetivos.

Isto, na minha opinião, é um critério eleitoreiro, por mais que venha acompanhada das mais nobres intenções.

Quanto ao novo partido de Eloi, o Solidariedade, prefiro não comentar.

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Elói Pietá saiu do PT

 


O companheiro Eloi Pietá formalizou, no dia 23/1/2024, sua desfiliação do PT.

O motivo declarado por ele, em conversa comigo, conversa mantida na reunião que o DN do PT fez em 8 de dezembro de 2023, foi a decisão do DN sobre a candidatura do PT à prefeitura de Guarulhos.

Para quem não está informado: o estatuto do PT estabelece que as candidaturas majoritárias são decididas, quando não há consenso, ou via prévias ou via encontro municipal.

Apesar de ser uma regra estatutária, o Diretório Nacional alterou esta regra, tornando possível que um Diretório Municipal decida por maioria qualificada.

Um detalhe importante: os atuais Diretórios Municipais foram eleitos em 2019. A eleição prevista para 2023 foi prorrogada para 2025. E, no lugar da eleição de novos diretórios, foi feita uma recomposição que nem de longe garante que os atuais diretórios expressem o pensamento médio da base do Partido.

A nova regra - a meu juízo, antiestatutária e antidemocrática- parece ter sido feita sob encomenda para garantir que o candidato a prefeito em Guarulhos não fosse Eloi, que já foi prefeito da cidade e que lidera algumas pesquisas de opinião.

Eloi disse que aceitaria uma derrota e apoiaria outro candidato petista, se esta derrota fosse produto de uma votação democrática. Mas não aceitava uma derrota “no tapetão”. 

Acrescentou, se a memória não me trai, que a situação política de Guarulhos é terrível, que ele tem chances de ganhar as eleições, que ele deve isso ao povo da sua (dele) cidade, acrescentando algo do tipo ser esta a “última chance” dele poder contribuir desta maneira.

Eloi disse, ainda, que - vitorioso - poderá contribuir, futuramente, para a renovação do Partido. Renovação que ele acredita bloqueada pelo “controle burocrático” que alguns mantém sobre as direções partidárias.

O que respondi a Eloi foi, muito resumidamente, que embora concorde que foi cometida uma violência, não concordo com entrar na justiça (o que Eloi fez) e também não concordo em sair do Partido.

Não concordo, entre muitos outros motivos, porque este tipo de reação - justiça e desfiliação, com promessa de regresso posterior - trata o Partido como uma legenda eleitoral, como muitas outras que existem no país. Legenda na qual se entra e da qual se sai por motivos eleitorais.

Ou seja: contra os que - em nossa opinião - tratam o PT como uma legenda, se adota um suposto “remédio” que também trata o PT como uma legenda.

O resultado final deste tipo de operação não é “acumular forças fora, para ajudar a mudar o PT”, como parece acreditar Elói. O resultado é reforçar o eleitoralismo.

Vale lembrar que a “crença no retorno” se alimenta do fato de que outros fizeram este percurso de sair-e-voltar: Coutinho, Cartaxo, Freixo etc. 

E além dos que já fizeram, há outras pessoas que pretendem fazer o mesmo, como é o caso de Marta, com o agravante de que os danos causados por ela foram infinitamente maiores.

Devido aos casos acima citados, não duvido de que - em caso de vitória - os mesmos que atropelaram o estatuto em 2024 e não concordaram com a candidatura de Eloi, amanhã o recebam de braços abertos. Mas, mesmo que isto viesse a acontecer, seria uma vitória do eleitoralismo e uma desmoralização do Partido, como se fosse verdade que “o crime compensa”.

Sem falar no seguinte: pelo menos até hoje, todo mundo que saiu do PT, alegando as mais elevadas razões e motivos supostamente de esquerda, na prática apenas contribuiu para reforçar o status quo interno.

Por isto tudo, qualquer que seja o efeito eleitoral da decisão de Elói, o efeito partidário já é e continuará sendo negativo. Assim sendo, embora pessoalmente o siga estimando, não lhe desejo nenhuma sorte nesta empreitada em que se meteu.

domingo, 21 de janeiro de 2024

Lênin 1870-1924


Em março de 1917, o que era para ser uma grande manifestação em homenagem ao Dia Internacional da Mulher converteu-se numa greve geral que, após alguns dias, provocou a renúncia do Czar Nicolau e o fim da monarquia na Rússia.

Poucos meses depois, em novembro de 1917, o governo provisório republicano é derrubado. No seu lugar, instala-se o Conselho de Comissários do Povo, organismo eleito pelo Soviete de Deputados Operários, Soldados e Camponeses.

O principal dirigente do novo governo chama-se Vladimir Ilich Ulianov, conhecido como Lênin, principal dirigente da facção “bolchevique” do Partido Operário Social-Democrata Russo.

De 1917 até 1921, o novo governo luta por sua sobrevivência, ameaçada pelos exércitos alemães, pelos exércitos “brancos” (financiados pelos latifundiários e capitalistas) e pela desorganização da economia, após anos de conflito militar.

Neste período, prevalece o chamado “comunismo de guerra”, cuja expressão mais simples é a requisição forçada da produção dos camponeses, para alimentar as cidades e o Exército Vermelho.

Como resultado, o campesinato, que constituía a imensa maioria da população russa, reduz a produção e coloca-se paulatinamente contra o governo soviético.

Para manter a aliança operário-camponesa e garantir o funcionamento da economia, o Partido Comunista Russo (denominação assumida, em 1918, pelos bolcheviques) adota a NEP (Nova Política Econômica).

Segundo esta Nova Política Econômica, os camponeses passam a ter o direito de vender o excedente de sua produção, devendo apenas pagar impostos ao governo. Acabam as requisições forçadas. Os camponeses voltam a abastecer as cidades.

De 1921 até 1927, os comunistas russos debatem os caminhos para a construção do socialismo naquele país.

Contra as expectativas alimentadas pela liderança bolchevique quando da tomada do poder, em nenhum outro país a revolução havia vencido. O isolamento internacional era agravado pelas características da sociedade russa, economicamente atrasada e tida como um país em que poderia ser mais fácil começar a revolução, mas onde seria muito mais difícil construir o socialismo.

Entre as várias polêmicas daquele período, uma das mais importantes dizia respeito a como ampliar a industrialização do país, cuja economia era majoritariamente composta pela pequena produção familiar camponesa.

Grosso modo, dois caminhos foram propostos.

O primeiro deles prevê um longo período de estímulo à pequena produção camponesa, cujo crescimento econômico geraria as bases para uma ampliação da indústria.

O segundo deles prevê reduzir o número de pequenas propriedades camponesas (que seriam reunidas em cooperativas ou fazendas coletivas), gerando assim o mercado (tanto de mão-de-obra, quanto de consumo) necessário para uma industrialização rápida.

No final dos anos 20, o Partido Comunista Russo opta pelo caminho da coletivização e industrialização forçadas. O campesinato é forçado a adotar formas coletivas de produção. Os operários são convocados a um brutal esforço produtivo. A expressão política e ideológica desse processo é um dos aspectos do que se convencionou chamar, posteriormente, de estalinismo.

Dez anos depois, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas transforma-se numa potência industrial, que se demonstrará capaz de derrotar a máquina nazista, na Segunda Guerra Mundial.

A opção pela coletivização e pela industrialização rápida foi, do ponto de vista econômico-social, uma nova revolução. A principal transformação foi que milhões de pessoas deixaram de ser pequenos proprietários e transformaram-se em operários (industriais ou agrícolas).

A nova classe operária, surgida deste processo, não tinha a experiência política prévia, adquirida ao longo de muitos anos, pelo proletariado que protagonizou a revolução de 1917.

Os novos operários, bem como a maioria dos novos integrantes do Partido Comunista, eram recém-saídos das fileiras do campesinato. Sua principal escola havia sido a guerra, seu principal traço psicológico era a crença de que a vontade política era capaz de superar qualquer desafio.

Nesse contexto social, o Partido Comunista também sofre grandes mudanças. Em 1917, quando a revolução começa, os bolcheviques eram menos de 15 mil. Em 1921, são mais de trezentos mil. No final dos anos 1920, o PC russo e as organizações de massa que ele dirige reúnem milhões de pessoas.

Em decorrência, o trabalho de educação política ganha uma nova dimensão. As escolas, o cinema, a rádio, as artes gráficas, a literatura são colocadas a serviço da formação destes milhões de “homens novos” do socialismo soviético.

Trata-se de incutir, em dezenas de milhões de pessoas, os valores da nova ordem. A fusão entre as “artes” e as necessidades educacionais e políticas do regime soviético dá origem, assim, ao chamado “realismo socialista”.

A decisiva contribuição dada na derrota dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial transforma a URSS em um dos polos do poder mundial, contrapondo-se durante a “guerra fria” aos Estados Unidos.

Embora tenha sido capaz de derrotar o capitalismo existente até a Segunda Guerra, o socialismo de tipo soviético não foi capaz de derrotar o capitalismo surgido posteriormente.

As tentativas de reforma política e econômica não tiveram êxito e a última delas, realizada na segunda metade dos anos 1980 sob a liderança de Mikail Gorbachev, resultou no desmanche da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em 26 de dezembro de 1991.

Quase trinta anos depois, a revolução russa virou centenária e a URSS não existe mais. Entretanto, segue necessário que a classe trabalhadora conheça, estude e extraia, tanto da revolução quanto da trajetória do Estado por ela criado, ensinamentos úteis para a luta pelo socialismo no século XXI.

Resumo biográfico

Vladimir Ilitch Uliánov nasceu em Simbirsk (cujo nome foi alterado posteriormente para Ulianovsk), em abril de 1870.

Seu pai era inspetor de escolas primárias; morreu quando Vladimir tinha 16 anos. Sua mãe e irmãs foram companhias constantes, inclusive no exílio interno e externo.

Aos 17 anos, Vladimir perdeu seu irmão mais velho: Alexandre Ulianov foi executado em maio de 1887 por ter participado de uma conspiração contra a vida do czar Alexandre III.

Em julho do mesmo ano, Vladimir concluiu seus estudos secundários. E, em agosto, ingressou na Faculdade de Direito de Kazan, de onde foi expulso em dezembro, devido ao envolvimento no movimento estudantil.

Passou então alguns anos sob "liberdade vigiada", quando aproveitou para estudar sistematicamente o marxismo. Nesse período, travou contato com representantes das diferentes correntes revolucionárias existentes na Rússia de então, a principal das quais era o "populismo".

A tradição principal do "populismo" acreditava ser possível construir o socialismo na Rússia, sem passar pelo capitalismo, tomando como ponto de partida a comunidade camponesa russa.

O "populismo" assumiu várias formas, como a "ida ao povo", quando milhares de estudantes, intelectuais, jovens, dirigiram-se às aldeias camponesas; e o "terrorismo", para quem matar o Czar desestruturaria o absolutismo russo.

Parte da tradição populista desembocou posteriormente no Partido Socialista-Revolucionário (SR), de fortes raízes no campesinato. A ala esquerda dos SR participará da revolução de outubro de 1917, aliada aos bolcheviques.

Em 1892, Vladimir recebeu o diploma de advogado, após ter prestado exames como "aluno avulso".

O “disfarce” de advogado foi útil quando, na São Petersburgo de 1893 a 1895, Lenin passou a frequentar círculos de debate, a tomar contato com o movimento operário e a escrever seus primeiros textos, em que combatia as idéias do populismo e do chamado marxismo legal.

O "marxismo legal" adotava os pontos de vista do marxismo, mas na prática fazia a apologia do desenvolvimento capitalista.

Uma obra representativa deste período é o livro Quem são os "Amigos do povo" e como lutam contra os social-democratas.

Em 1895, Vladimir (que chamaremos a partir de agora pelo “nome de guerra” com que se tornaria mundialmente conhecido: Lenin) viajou ao exterior e contatou o grupo Emancipação do Trabalho, dirigido por George Plekhanov, decano do marxismo russo.

Quando regressou do exterior, Lenin ajuda na fundação da União de Luta pela Emancipação da Classe Operária.

Em 9 de dezembro de 1895, foi preso.

Será "libertado" em fevereiro de 1897 e mandado para o exílio interno (Sibéria), onde permaneceu durante três anos. Neste período, casou-se com Krupskaya, que será sua companheira até a morte.

Desta época de prisão e exílio interno datam algumas obras importantes, como As tarefas da social-democracia russa (1897) e O desenvolvimento do capitalismo na Rússia (1899).

É também durante o exílio interno que Lenin tomará contato e criticará duramente as posições do chamado economicismo.

O "economicismo" supervalorizava a importância da luta econômica, subestimava a importância da luta política, da teoria revolucionária e dos intelectuais.

Em 1900, Lenin regressou do exílio interno e, em comum acordo com outros social-democratas, dedicou-se a organizar um jornal, a quem atribuia o papel de "organizador coletivo" da social-democracia russa.

Para concretizar tal projeto, Lenin parte para o exterior, onde em acordo com o grupo de Plekhanov lança um jornal chamado  Iskra ("da fagulha brotará a chama") e uma revista teórica chamada Zaria.

Os próximos anos da vida de Lenin serão passados no exterior, em cidades como Londres, Munique, Genebra, Paris e Varsóvia.

A primeira edição da Iskra, datada de dezembro de 1900, traz o editorial de Lenin, intitulado: "Tarefas urgentes de nosso movimento".

As idéias difundidas pela Iskra tornam-se majoritárias na social-democracia russa, mas também geram duras críticas provenientes dos economicistas e de outros grupos.

Lenin respondeu a estas críticas num conhecido livro, intitulado Que fazer?, que veio a público em 1902.

 O II Congresso do Partido Operário Social-democrata Russo (POSDR), realizado em 1903 no exterior, constitui uma grande vitória do grupo que editava Iskra.

Mas no curso do congresso, o grupo de Iskra sofre uma cisão. O motivo foi uma polêmica de natureza aparentemente organizativa: o artigo primeiro do estatuto partidário, que definia quem podia ser considerado membro do partido.

Lenin era favorável a uma posição mais restrita: militante do partido era aquele que participava de um organismo partidário. Não bastava "simpatizar".

Os delegados ligados a Lenin perdem esta votação. Do outro lado estão Martov (amigo e da mesma geração de Lenin) e grupos contrários a Iskra.

Mas alguns delegados que haviam apoiado Martov na polêmica do estatuto acabam retirando-se do Congresso. Com isto, no momento de compor a direção do POSDR, o grupo de Lenin encontrava-se em maioria.

Deste episódio surgem os "bolcheviques" (majoritários) e os "mencheviques" (minoritários), que posteriormente se transformarão em "frações" do POSDR e, depois, em partidos autônomos.

Lenin escreveu um balanço detalhado do II Congresso do POSDR no livro Um passo adiante, dois passos atrás, publicado em 1904.

Pouco depois do II Congresso, estoura a revolução russa de 1904-1905.

O balanço que Lenin faz desta revolução esclarece o fundo político das diferenças entre bolcheviques e mencheviques. Tal balanço está no livro Duas táticas da social-democracia na revolução democrática (1905).

Derrotada a revolução, inicia-se um período de reação em todos os terrenos, inclusive teórico-ideológico.

Dentre os bolcheviques, a influência de Lenin é contestada por vários outros, entre eles Bogdanov.

Contra as idéias que Bogdanov ajudava a difundir, Lenin escreveu a obra Materialismo e empirocriticismo, publicada em 1909.

Quanto estoura a guerra (1914-1918), a maioria dos partidos socialistas é tomada pelo nacionalismo e vota a favor dos "créditos de guerra".

Lenin faz parte da minoria internacionalista. Em 1915, escreve A bancarrota da II Internacional. Em 1916, conclui O imperialismo, etapa superior do capitalismo, onde desenvolve a tese de que a Rússia seria o "elo mais fraco" da cadeia imperialista.

Em 1917, logo depois da revolução de fevereiro, Lenin surpreende seus antigos camaradas com a defesa -- que alguns consideram contraditória com o que havia exposto no livro Duas táticas -- da consigna "todo poder aos sovietes", defesa feita, por exemplo, nas conhecidas Teses de Abril.

Também no ano da revolução Lenin escreveu, entre agosto e setembro, o livro O Estado e a revolução, onde desenvolve "a doutrina marxista do Estado e as tarefas do proletariado na Revolução".

Lenin cumpriu um papel decisivo ao longo de 1917 e até 1924, na tomada do poder, na guerra civil, na organização da Internacional Comunista e na construção das bases do Estado soviético.

Uma das obras escritas neste período é Esquerdismo, doença infantil do comunismo (1920).

Lenin sofreu pelo menos dois atentados a bala, o segundo dos quais (em 30 de agosto de 1918) teve êxito. A bala foi disparada por uma socialista-revolucionária. A saúde de Lenin, que já era relativamente precária, piora depois do atentado.

Em 21 de janeiro de 1924, Lenin morreu. A autópsia revelou uma arteriosclerose generalizada.

Lenin deixou um "testamento", em que fazia duras críticas aos principais dirigentes do Partido. Entre as críticas, um pedido direto: que Stálin fosse substituído na secretaria-geral do partido por alguém mais respeitoso com os camaradas.

O Comitê Central do PCR(b) decide, por 30 votos a 10, que o testamento não seria lido no plenário do XII Congresso do Partido. Mas o testamento é lido numa reunião de velhos bolcheviques. Stálin oferece seu pedido de demissão. A maioria dos presentes à reunião pede que ele continue no cargo.

Anos depois, Stálin proferirá algumas palestras acerca do pensamento de Lenin na Universidade Sverdlov. Estas palestras são reunidas num livro denominado Fundamentos do leninismo. Também nos anos 1920, um comunista brasileiro chamada Otávio Brandão utiliza – ao que parece pela primeira vez -- o termo marxismo-leninismo.

As obras completas de Lenin

Lenin foi chefe de Estado e dirigente partidário, mas sua principal atividade foi escrever.

Suas Obras Completas – que não incluem todos os seus textos – constituem uma coleção de 50 volumes de (em média) 500 páginas cada, no formato 14x21.

As Obras Completas de Lenin estão disponíveis em várias línguas, entre as quais o russo, o inglês e o espanhol. Desde os anos 1990, não conhecemos reedições. Mas as obras mais conhecidas continuam sendo publicadas, em várias línguas.

Nas Obras Completas há:

a) rascunhos (as vezes em várias versões) de outros textos;

b) cartas, não apenas para militantes, mas também para familiares e pessoas com quem Lenin mantinha relacionamento político ou profissional (por exemplo, editores);

c) material jornalístico, para as muitas publicações com as quais Lênin contribuiu entre 1894 e 1924;

d) livros completos;

e) resenhas e notas taquigráficas de palestras e discursos feitos por Lênin.

Os principais temas abordados por Lênin foram:

a) a questão agrária e sua relação com o desenvolvimento capitalista na Rússia;

b) o papel da classe operária russa, seu papel de vanguarda na evolução da Rússia;

d) o papel do partido e da intelectualidade revolucionária;

d) a estratégia e tática na luta pela revolução burguesa e pela revolução socialista na Rússia;

e) a luta pelo poder e a transição socialista;

f) as relações internacionais e o desenvolvimento do capitalismo em escala mundial;

g) filosofia, economia política, marxismo.

É importante dizer os textos de Lênin são em sua imensa maioria polêmicos, ou seja, geralmente ele desenvolve seus argumentos em polêmica com alguém (outro intelectual, outra corrente teórica, outro partido, outra classe social).

Uma compreensão completa da obra de Lenin supõe conhecer:

a) a história da Rússia e da revolução russa de 1917;

b) a biografia de Lenin;

c) a literatura russa;

d) a literatura marxista;

e) a língua russa.

É preciso considerar, ainda, a fortuna das obras.

Parte dos textos de Lênin só foi publicada após a sua morte e parte do que foi publicado em vida, teve escassa circulação, devido à condições de clandestinidade e miséria em que atuava o movimento operário socialdemocrata russo.

A edição das Obras Completas foi realizada após a morte de Lênin e, óbvio, a seleção dos textos, as notas editoriais, os materiais complementares e as traduções foram contaminados pela disputa política.

A seguir resumimos o conteúdo das Obras Completas (tomando como base 32 volumes publicados pela Editorial Cartago de Buenos Aires e 18 publicados pela editora política La Habana).

Tomo I. 1893-1894. Editorial Cartago. Buenos Aires, 1958. 554 páginas.

Tomo II. 1895-1897. Editorial Cartago. Buenos Aires, 1958 554 páginas.

Tomo III. O desenvolvimento do capitalismo na Rússia. Editorial Cartago. Buenos Aires, 1957. 647 páginas.

Tomo IV. 1898-1901. Editorial Cartago. Buenos Aires, 1958 457 páginas.

Tomo V. Maio de 1901 a fevereiro de 1902. Editoral Cartago. Buenos Aires. 1959, 567 páginas.

Tomo VI. Janeiro de 1902 a agosto de 1903. Editoral Cartago. Buenos Aires. 1959, 555 páginas.

Tomo VII. Setembro de 1903 a dezembro de 1904. Editoral Cartago. Buenos Aires. 1959, 576 páginas.

Tomo VIII. Janeiro a julho de 1905. Editoral Cartago. Buenos Aires. 1959, 607 páginas.

Tomo IX. Junho a novembro de 1905. Editoral Cartago. Buenos Aires. 1959, 480 páginas.

Tomo X. Novembro de 1905 a junho de 1906. Editoral Cartago. Buenos Aires. 1960, 551 páginas.

Tomo XI.Junho de 1906 a janeiro de 1907. Editoral Cartago. Buenos Aires. 1960, 516 páginas.

Tomo XII. Janeiro a junho de 1907. Editorial Cartago. Buenos Aires, 1960. 516 páginas.

Tomo XIII. Junho de 1907 a abril de 1908. Editoral Política. Havana, 1963, 538 páginas.

Tomo XIV. 1908-1909, Editoral Cartago. Buenos Aires. 1960, 377 páginas.

Tomo XV. Março de 1908 a agosto de 1909. Editoral Cartago. Buenos Aires. 1960, 491 páginas.

Tomo XVI. Setembro de 1909 a dezembro de 1910. Editoral Cartago. Buenos Aires. 1960, 474 páginas.

Tomo XVII. Dezembro de 1910 a abril de 1912. Editoral Cartago. Buenos Aires. 1960, 599 páginas.

(Tomo XVII. Dezembro de 1910 a março de 1912 (edição corregida e aumentada. Editoral Cartago, Buenos Aires, 1970, 559 páginas.)

Tomo XVIII. Abril de 1912 a março de 1913. Editoral Cartago, Buenos Aires, 1960, 636 páginas.

Tomo XIX. Março a Dezembro de 1913. Editoral Cartago. Buenos Aires, 1960, 604 páginas.

Tomo XX. Dezembro de 1913 a agosto de 1914. Editoral Política. Havana, 1963, 597 páginas.

Tomo XXI. Agosto de 1914 a dezembro de 1915. Editoral Política. Havana, 1963, 498 páginas.

Tomo XXII. Dezembro de 1915 a Julho de 1916. Editoral Política. Havana, 1963, 401 páginas.

Tomo XXIII. Agosto de 1916 a março de 1917. Editoral Política. Havana, 1963, 410 páginas.

Tomo XXIV. Abril a junho de 1917. Editoral Política. Havana, 1963, 605 páginas.

Tomo XXV. Junho a setembro de 1917. Editoral Política. Havana, 1963, 522 páginas.

Tomo XXVI. Setembro de 1917 a fevereiro de 1918. Editoral Política. Havana, 1963, 554 páginas.

Tomo XXVII. Fevereiro a julho de 1918. Editoral Política. Havana, 1963, 602 páginas.

Tomo XXVIII. Julho de 1918 a março de 1919. Editoral Política. Havana, 1964, 527 páginas.

Tomo XXIX. Março a agosto de 1919. Editoral Política. Havana, 1963, 602 páginas.

Tomo XXX. Setembro de 1919 a abril de 1920. Editoral Política. Havana, 1963, 562 páginas.

Tomo XXXI. Abril a Dezembro de 1920. Editoral Política. Havana, 1963, 555 páginas.

Tomo XXXII. 30 de dezembro de 1920 a 14 de agosto de 1921. Editoral Política. Havana, 1964, 553 páginas.

Tomo XXXIII. Agosto de 1921 a março de 1923. Editoral Política. Havana, 1964, 505 páginas.

Tomo XXXIV. CARTAS. Novembro de 1895 a novembro de 1911. Editoral Política. Havana, 1964, 503 páginas.

Tomo XXXV. CARTAS. Fevereiro de 1912 a dezembro de 1922. Editoral Política. Havana, 1964, 611 páginas.

Tomo XXXVI. CARTAS. 1900 A 1923. Editoral Política. Havana, 1964, 716 páginas.

Tomo XXXVII. CARTAS. Novembro de 1897 a julho de 1904. Editoral Cartago. Buenos Aires. 1971, 413 páginas.

Tomo XXXVIII. ANOTAÇÕES FILOSÓFICAS. Editoral Política. Havana, 1964, 604 páginas.

Tomo XXXIX. CARTAS. Novembro de 1912 a dezembro de 1916. Editoral Cartago. Buenos Aires. 1971, 428 páginas.

Tomo XL. CARTAS. Janeiro de 1917 a novembro de 1922. Editoral Cartago. Buenos Aires. 1972, 463 páginas.

Tomo XLI. CARTAS AOS FAMILIARES. 1893-1922. Editoral Cartago. Buenos Aires. 1972, 596 páginas.

Tomo XLII. INDICE DE NOMES E BIBLIOGRAFIA. Editorial Política. Havana. 1963. 334 páginas.

(ao que tudo indica, o volume seguinte na coleção de Havana é o volume anterior da coleção de Buenos Aires)

TOMO XLIV. Cadernos sobre o imperialismo. Editorial Cartago, Buenos Aires. 1972. 429 páginas.

TOMO XLV. Índice Temático volume 1. Editorial Cartago, Buenos Aires. 1973. 386 páginas.

TOMO XLVI. Índice Temático volume 2. Editorial Cartago, Buenos Aires. 1972. 363 páginas.

Tomo complementario 1. INDICE ONOMÁSTICO. Editorial Cartago. Buenos Aires, 1969, 309 páginas.

Tomo complementario 2.INDICE ONOMÁSTICO. Editorial Cartago. Buenos Aires, 1970. 340 páginas.

Tomo complementario 3. INDICE ONOMÁSTICO.Editorial Cartago. Buenos Aires, 1971. 317 páginas.

Tomo complementario 4. INDICE ONOMÁSTICO.Editorial Cartago. Buenos Aires, 1971. 269 páginas.

Lista de equivalencias para ubicar en la 1. edición de las Obras Completas, los trabajos de V.I.Lenin publicados en la 2.edicion. Editorial Cartago. Buenos Aires, 1973. 209 páginas.

Lista de equivalencias para ubicar en la 2. edición de las Obras Completas, los trabajos de V.I.Lenin publicados en la 2.edicion. Editorial Cartago. Buenos Aires, 1973. 206 páginas..

Nos endereços abaixo, estão resumos de parte dos volumes que compõem as Obras Completas:

http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/02/fichamento-1.html

http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/02/fichamento-2.html

http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/02/fichamento-3.html

http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/02/fichamento-4-parte-a.html

http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/02/fichamento-4-parte-b.html

http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/02/fichamento-4-parte-c.html

http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/02/fichamento-5.html

http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/05/vil-fichamento-8.html

http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/05/vil-fichamento-9.html

http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/05/vil-fichamento-10.html

http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/06/vil-fichamento-11.html

http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/06/vil-fichamento-12.html

http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/06/vil-fichamento-13.html

http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/06/vil-fichamento-14.html

É possível acessar as Obras Completas no seguinte endereço:

http://www.marx2mao.com/Lenin/Index.html

Na Library Genesis há pelo menos 252 livros relacionados ao nome “Lenin":

http://www.libgen.io/search.php?req=Lenin&open=0&res=100&view=detailed&phrase=1&column=title


A contribuição de Lênin ao pensamento socialista

Há uma imensa bibliografia acerca do "leninismo". Parte dela apresenta Lenin como um profeta. Outra parte o apresenta como um demônio. São dois pontos de vista aparentemente antagônicos, mas metodologicamente semelhantes.

Evidentemente adotamos outro ponto de vista, que enxerga de maneira positiva: 1) a contribuição de Lênin à luta pelo socialismo em sua época; 2) o método de análise adotado por Lênin para enfrentar os problemas de sua época.

A contribuição de Lênin à luta pelo socialismo em sua época foi imensa: ele foi entre 1917 e 1924 o principal dirigente da primeira revolução socialista vitoriosa da história da humanidade.

Em decorrência, todas as questões enfrentadas pelo movimento socialista entre 1917 e 1991 dialogam com aquilo que Lênin pensou e fez.

E na medida em que há similitudes entre estas questões e a luta pelo socialismo no século XXI, novamente o pensamento e a obra de Lênin tem lugar garantido.

Lenin foi entre 1917 e 1924 o principal dirigente da primeira revolução socialista vitoriosa da história da humanidade, por ter sido entre 1902 e 1924 o principal dirigente do partido que hegemonizou a revolução russa de 1917: o Partido Operário Social-Democrata Russo (Bolchevique).

Lenin foi o principal dirigente do POSDR(b) porque desde 1893 ele construiu, tanto prática quanto teoricamente, uma interpretação do processo de desenvolvimento do capitalismo na Rússia, interpretação que está na base do programa, da estratégia, das táticas e da concepção de partido defendidas por Lenin e adotadas, com maiores ou menores resistências, pelo conjunto do Partido Bolchevique.

A interpretação de Lênin acerca do desenvolvimento do capitalismo na Rússia foi construída inicialmente no combate contra o populismo e contra o marxismo legal.

O “populismo” era uma corrente teórica que defendia um caminho para o socialismo que não passaria pelo capitalismo.

O “marxismo legal” era uma corrente teórica que defendia que o papel dos socialistas seria ajudar a desenvolver o capitalismo.

Lenin identificava o populismo com os interesses de parcelas do campesinato russo e identificava o marxismo legal com os interesses de parcelas da burguesia russa.

Lenin identificava sua própria posição com a do proletariado, ou seja, com a classe dos trabalhadores assalariados, mais especificamente com o operariado.

A interpretação construída por Lênin foi produto de um trabalho intenso: muita leitura, muito estudo, muita análise de dados estatísticos brutos.

Nas palavras de Lenin, análise concreta da situação concreta.

Análise que era acompanhada da decisão de produzir uma teoria que servisse de guia para a ação.

Ler o conjunto dos textos reunidos nas Obras Completas, especialmente as cartas pessoais, permite vislumbrar esta faceta de Lenin: uma imensa capacidade de trabalho, uma dedicação integral à causa e uma capacidade (similar a de Engels) de descrever de forma acessível os temas mais complexos.

A partir da interpretação que fazia acerca do desenvolvimento do capitalismo na Rússia, Lênin desenvolveu seus pontos de vista acerca de cada um dos aspectos do programa, da estratégia, das táticas e da concepção de partido.

Destacamos sua contribuição acerca:

a) da questão agrária e sua relação com o desenvolvimento capitalista na Rússia;

b) do papel da classe operária russa, seu papel de vanguarda na evolução da Rússia;

d) do papel do partido e da intelectualidade revolucionária;

d) da estratégia e tática na luta pela revolução burguesa e pela revolução socialista na Rússia.

Quais são as fontes do ponto de vista adotado por Lênin?

Para além de suas experiências pessoais, há a influência da cultura russa e europeia de sua época, com destaque para as tradições revolucionárias, especialmente Chernichevsky, Marx, Engels, Kautsky e Plekhanov.

Lenin conhecia profundamente a obra de Marx e Engels. É dela que ele extrai seu ponto de vista sobre a luta pelo poder, sobre a transição socialista, sobre as relações internacionais e sobre o desenvolvimento do capitalismo em escala mundial.

Qual é a essência do método de análise adotado por Lênin para enfrentar os problemas de sua época? A resposta é: a análise da luta de classes.

Portanto, os que desejam fazer como Lênin deveriam começar por isto: tomar as classes e a luta entre as classes como ponto de partida.


Este texto, com pequenas correções, foi postado, neste blog, em 2018. Originalmente, foi escrito como subsídio à aula sobre Lênin ministrada na ENFF, em 23 de junho de 2018.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Impugnação da filiação de Marta Suplicy

 No dia 17 de janeiro escrevi uma correspondência para um dirigente do Partido. 

Como não obtive resposta, no dia 18 de janeiro, escrevi outra correspondência, desta vez enviada pelo grupo de zap do Diretório Nacional do PT.

A referida correspondência foi postada no grupo de zap do DN as 7h40 da manhã.

As 15h31, recebo uma mensagem via zap de uma jornalista, perguntando: "Você entrou hoje com pedido de impugnação da filiação da Marta Suplicy?" E logo em seguida, a mesma jornalista pedia: "Pode me mandar o texto?"

As 16h28, recebo outra mensagem, também via zap, de outro jornalista, trabalhador de outro jornal, dizendo assim: "Por gentileza, o sr. poderia compartilhar comigo cópia da carta que foi endereçada a Henrique Fontana a respeito da filiação de Marta?"

Evidentemente, não enviei o texto solicitado. 

Entretanto, no final da tarde, descubro que a CNN já havia noticiado a existência da tal correspondência e citado trechos. 

Não está claro o horário em que a CNN teve acesso ao texto, se antes das 12h10 ou se antes das 17h46.

Seja em que horário for, o texto publicado no site da CNN diz o seguinte: "Em carta, divulgada internamente nesta quarta-feira (17) (...) O documento, ao qual a CNN teve acesso, foi enviado ao secretário geral do partido, Henrique Fontana. (....) A CNN apurou que o documento foi compartilhado nesta quarta-feira (17) em grupos de Whatsapp que reúnem diretores nacionais do PT". 

Traduzindo em bom português: algum integrante do DN passou o texto para a imprensa. Correndo o risco de ter sido alguém que vai votar em favor da filiação de Marta Suplicy, mas quer criar dificuldades para vender facilidades.

Isto posto, o fato é que a CNN teve acesso a correspondência. Sendo assim, publico abaixo a tal impugnação.

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Prezado Henrique Fontana

Secretário-geral nacional

Encaminhei, ao companheiro, uma mensagem privada, para a qual ainda não obtive resposta nem confirmação de recebimento.

Assim, reencaminho agora mensagem com o mesmo teor, mas através do grupo de zap do Diretório Nacional do PT.

Faço isto, para evitar qualquer “perda de prazo”.

O caso é o seguinte: a imprensa noticiou que a direção municipal do PT de São Paulo capital teria feito uma reunião e "aceito" a filiação de Marta Suplicy ao Partido.

Embora a imprensa dê a entender que se trata de um “aceite prévio”, tipo “podes vir que serás bem-vinda”, e não de um ato de filiação formal, por via das dúvidas formalizo desde já que estou impugnando este pedido de filiação.

Caso, mais adiante, se faça um pedido formal de  filiação, e caso este pedido seja acompanhado de uma exposição de motivos – pois é possível que, frente aos questionamentos, a Marta Suplicy resolva explicar o que fez desde 2015 –, neste caso poderei agregar novos elementos ao pedido de impugnação.

Entretanto, minha impugnação à filiação da Marta Suplicy ao PT baseia-se:

1/ na decisão de sair do PT, em 2015, decisão acompanhada de uma carta em que Marta acusa nosso Partido de diversas coisas, principalmente reforçando a campanha que a direita fazia contra o PT e faz até hoje, acerca da corrupção;

2/ nos votos que Marta proferiu, no Senado, em favor de políticas antipopulares, causando danos imensos à classe trabalhadora, em nada se diferenciando dos parlamentares da direita golpista;

3/ no voto que Marta deu em favor do impeachment golpista contra a presidenta Dilma Rousseff, traindo o eleitorado que a havia colocado no Senado, traindo o partido do qual fizera parte até há pouco e que a elegera inúmeras vezes. O voto a favor do golpe ajudou a abrir caminho para um período de retrocesso em todos os terrenos;

4/ na posição que Marta adotou depois de sair do PT, tanto em alguns processos eleitorais, quanto com sua participação no atual governo de São Paulo capital, sendo objetivamente cúmplice das políticas antipopulares implementadas pela atual prefeitura;

5/ no fato de que, para apoiar Boulos nas eleições municipais de 2024, Marta não precisa estar filiada ao PT, podendo se filiar a outro dos partidos que apoia a candidatura;

6/ na conclusão de que, dado este histórico, eventualmente filiada ao PT, Marta não representará o PT, nem na campanha, nem no eventual governo, mas a si mesma e às pessoas em que ela confia.

Obviamente, é positivo que, depois de anos contribuindo com a direita – época em que chegou a confraternizar inclusive com figuras ridículas e nefastas da extrema-direita-, Marta volte agora a contribuir com a esquerda e, inclusive, apoie a candidatura Boulos em São Paulo.

Mas não é necessário, não é indispensável e não é positivo que Marta o faça a partir do PT, pois é evidente que – da forma como a “operação regresso” foi articulada – a refiliação não constitui uma saudável “autocrítica”, mas sim uma demonstração de falta de respeito do Partido para consigo mesmo.

A moral da história é: qualquer um pode fazer qualquer coisa e, apesar disso, em nome de uma possível vantagem eleitoral, estamos sempre dispostos a “virar a página”. O resultado prático é desmoralizar os que se mantiveram firmes nos momentos mais difíceis e, ao mesmo tempo, estimular futuras traições.

Esta atitude de falta de respeito do PT para consigo mesmo é, ademais, imprudente, pois quem cometeu tamanha violência no passado, poderá – a partir da posição de poder generosamente concedida pelos que foram vítimas da violência – voltar a cometer novas violências.

Esses acima são os meus motivos para impugnar a filiação de Marta Suplicy ao PT. Reitero, pela enésima vez, meu desagrado com o fato de se ter misturado a discussão sobre a vice com a discussão sobre a refiliação. Essa mistura não interessa à campanha, interessa apenas a quem quis aproveitar a situação para regressar ao Partido, sem muitos questionamentos.

Companheiro Fontana

Encaminhei ao companheiro Kiko, presidente do diretório estadual do PT de São Paulo, a mesma mensagem que te encaminhei anteriormente e que, até agora pelo menos, você ainda não pode responder. Entretanto, o companheiro Kiko respondeu e manifestou acordo com a opinião de que a impugnação deve ser tratada nacionalmente.

A saber: peço que a impugnação seja debatida e votada diretamente no Diretório Nacional do PT, seja por economia processual, seja pela articulação da filiação ter sido feita nacionalmente, seja devido ao caráter nacional da disputa em São Paulo capital, seja devido à dimensão nacional da pessoa a quem se pretende filiar, seja devido ao fato de o estatuto assim permite.

Atenciosamente,

Valter Pomar, 18 de janeiro de 2024


terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Dirceu, Haddad, Gleisi e a "covardia"

O Globo publicou um texto dizendo que José Dirceu criticou Gleisi Hoffmann e defendeu Fernando Haddad.

O texto de O Globo está aqui: 

José Dirceu diz que direita 'está ganhando disputa' e critica postura de Gleisi com Haddad: 'Quase uma covardia' (globo.com)

Como não acredito no Globo, fui à fonte, que está aqui:

(296) POD13 — PT BAHIA #3 | Com o ex-ministro da Casa Civil JOSÉ DIRCEU - YouTube

São 56 minutos de entrevista, em que Dirceu fala de tudo um pouco, inclusive defende a política econômica do governo.

O ponto de partida é uma "provocação", feita pelo presidente do PT da Bahia, que foi o entrevistador do podcast. 

A pergunta, como é óbvio, tinha como pano de fundo a recente polêmica entre Haddad e Gleisi Hoffmann, acerca do déficit zero.

Ao responder, Dirceu lembrou o óbvio: que a política econômica é do governo, não de Haddad.

Isto é verdade, mas também é verdade que Lula pode mudar a política econômica. E os que defendem mudança na política, têm o direito e  o dever de criticar, até para que Lula possa ponderar outros pontos de vista.

Dirceu diz que o direito de criticar deve ser exercido dentro do Partido, do governo e da bancada. Realmente é o ideal, em se tratando de um partido político atuando sob fogo inimigo: a crítica interna, a defesa pública.

Mas é bom lembrar que nosso partido não é clandestino, não é secreto, não é uma seita onde se possam fazer debates escondidos. Basta ver a repercussão da fala de Dirceu em recente encontro da tendência Avante. 

Talvez para resolver este tipo de problema, no passado algumas organizações só permitiam debate em época de congresso; e, passado o debate, quem perdia tinha que fazer autocrítica do seu erro - ter defendido a posição perdedora - e tinha que passar a defender a posição vencedora, tanto interna quanto externamente.

Digressões históricas a parte, no caso da política econômica o debate partidário foi feito com base num fato consumado. E os defensores do "arcabouço fiscal" não demostraram disposição de levar em consideração as críticas. Isto contribuiu para que os parlamentares que apresentaram divergências, votassem a favor, mas fazendo uma declaração de voto.

Quem não leu a referida declaração, pode ler aqui: Em declaração de voto, deputados petistas expõem críticas ao arcabouço fiscal | Página 13 (pagina13.org.br)

Outras pessoas fizeram críticas, votaram a favor, não assinaram a declaração de voto e só retomaram o debate recentemente, quando - na opinião delas - ficara claro que a política de déficit zero resultaria em contingenciamentos e cortes extremamente prejudiciais. É o caso, penso eu, da companheira Gleisi Hoffmann.

Interna ou externamente, o mais importante é que Dirceu defende a política econômica como "realista e pragmática", "feita a partir da correlação de forças", um "acordo realista com as forças do mercado".

Pessoalmente, prefiro ler este tipo de argumento, do que ouvir dizer que o arcabouço fiscal é a melhor política do mundo. 

Mas é bom lembrar que era mais ou menos com esse tipo de argumento que Dirceu se referia à política de superávit primário de Antonio Palocci, no início de 2003: uma política conservadora, mas no limite do possível. 

Dirceu estava errado naquela ocasião e está errado novamente agora; existia naquela época e existe hoje margem de manobra para fazer uma política mais ousada. 

É verdade que naquela época havia mais margem de manobra do que hoje, tendo em vista a "independência" do Banco Central. 

Portanto, tanto antes quanto principalmente agora, para fazer algo mais ousado é preciso arriscar, esticar a corda, fazer luta política, mobilizar apoios.

Acontece que, segundo entendi, Dirceu acha que nos marcos da atual política é possível fazer crescer os investimentos públicos. Em tese, seria mesmo possível sob certas condições. Mas como as tais condições não estão se dando, na prática já estejamos vendo contingenciamento, reajustes minimalistas etc.   

Mas mesmo que haja investimentos, é preciso saber se estes investimentos públicos realmente possíveis, nos marcos do "arcabouço fiscal", alcançarão o volume necessário e se materializarão no tempo político hábil.

Dirceu não trata disto na entrevista, talvez porque ele esteja vendo tudo na "perspectiva de 12 anos", de "três governos". 

Este raciocínio tem vários problemas. Um deles é esquecer que já tivemos, no passado recente, um ciclo não de 12, mas de quase 14 anos de governo. E o desfecho foi o que sabemos. Portanto, não basta pensar em termos de médio prazo, é preciso responder aos desafios imediatos. E os desafios imediatos exigem muito mais investimentos públicos.

Quem acha que, fazendo o que estamos fazendo, conseguiremos doze anos pela frente, realmente pode contemporizar. 

Mas quem acha que as coisas estão muito difíceis e o tempo corre contra nós, não tem como contemporizar. 

Quem acha que o tempo corre contra nós, não tem como achar que o déficit zero é um "mal menor".

Um, digamos, "deslize" de Dirceu foi ter falado que "no caso do Haddad é quase uma covardia nós não dar apoio total a ele para aprovar todas as medidas que ele queria, pois todas as medidas que ele queria transformam o déficit zero num mal menor, sem essas medidas dele o déficit zero vira contingenciamento e corte".

Digo deslize, porque não há "covardia" alguma em propor uma alteração na meta, exatamente para evitar contingenciamentos e cortes. O uso do termo "covardia" não cabe e dá pretexto para a imprensa monopolista fazer o que mais gosta: juntaram a palavra covardia com as críticas de Gleisi ao déficit zero e, pronto, a intriga estava feita.

Dirceu deve ter percebido o deslize, pois logo em seguida emendou com elogios ("o PT melhorou muito na gestão da Gleisi"), mas aí já era tarde.

Isto posto, nada do que Dirceu disse na entrevista ao podcast do PT Bahia surpreende quem acompanha suas posições e seu modo de pensar. Até porque, embora ele fale que a situação atual não tem nada a ver com 2003, seu raciocínio estratégico segue o mesmo de então. 

Dirceu termina a entrevista ressaltando a importância do PT fazer um congresso. Nisso estamos totalmente de acordo. Mas é bom lembrar que não pode haver tema proibido no congresso, nem ninguém pode ser acusado de covardia por discordar desta ou daquela política.


A "autocrítica na prática" de Marta Suplicy

O Trabalho divulgou recentemente sua posição acerca do retorno de Marta ao PT.

A referida posição está aqui: Sobre o retorno de Marta ao PT - O Trabalho

Entre várias críticas acertadas, aparece o seguinte: "Não somos adeptos do “pecado mortal”. Todo mundo pode errar e reconhecer seus erros. Mas a refiliação de Marta Suplicy, sem qualquer balanço de seu passado pregresso, é um elemento de desmoralização não dela, mas do partido. Nesse quadro, perguntamos: não cabe ao Partido discutir esse “retorno”? Não cabe discutir se um dirigente, depois de se passar com armas e bagagens para o lado dos patrões, não teria que discutir aberta e publicamente como pretende rever suas posições e erros?".

Falando em tese, estou totalmente de acordo, embora tema que as reflexões de O Trabalho contribuam para que alguém encomende no Mercado Livre um "balanço do passado pregresso", não no correto espírito de fazer uma revisão de "posições e erros", mas apenas como homenagem do vício à virtude (lembrando: Santorini é uma ilha, Hipocrisia não é uma ilha).

Mas, provando que o buraco é mais embaixo, um importante dirigente do Partido reagiu ao texto de O Trabalho dizendo concordar "no mérito e na forma", mas acrescentando o seguinte: "A volta [de Marta] é na prática uma autocrítica!"

Então pronto: a pessoa sai do Partido quando estamos na baixa, estando do lado de fora contribui para aprofundar a desgraça (nossa e do povo), passando anos e anos aliada com o inimigo. 

Quando, depois de muito esforço, conseguimos superar o pior e saímos da baixa, a pessoa volta, sendo recebida com pompa, circunstância e um lugar na janelinha.

O nome disto não é "autocrítica na prática", é oportunismo.

Infelizmente, quanto mais "argumentos" são tirados da cartola, mais fica claro que misturar a discussão sobre "Marta vice" com a discussão sobre "Marta de volta no PT" é criar corvos

Para quem não recorda: "Cría cuervos e te sacarán los ojos!"




quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Vamos pensar “daqui para frente”

Depois de ler, na imprensa, uma declaração do companheiro Rui Falcão, acerca dos motivos que o levam a considerar positivo, não apenas que Marta apoie Boulos, o que sem dúvida é positivo; mas também que seria positivo ela regressar ao PT, resolvi seguir seu conselho e me pus a pensar “daqui para frente”.

Sendo assim, pulei 2024 – sobre o qual há quem considere tudo decidido - e me pus a pensar em 2026.

E, de fato, assim pensando, “daqui para frente”, logo me tranquilizei.

Otimismo exagerado? Não, apenas ciência das probabilidades.

Afinal, desde 1980, quando o PT foi fundado, aconteceram 9 eleições presidenciais (não coloco na conta a de Tancredo, feita num colégio eleitoral, boicotado pelo PT, com base numa resolução que aliás o Rui Falcão ajudou a redigir).

E o fato tranquilizador é que candidaturas petistas venceram 5 daquelas 9 eleições, a saber: Lula em 2002 e 2006, Dilma em 2010 e 2014, novamente Lula em 2022.

Portanto, são muito altas as chances de uma nova vitória em 2026. E, vencendo em 2026, temos tudo para ganhar novamente em 2030 e 2032, como ganhamos em 2010 e 2014.

Além do atual mandato, teríamos mais três mandatos em seguida. O que talvez torne possível, quem sabe, além da “união e reconstrução”, também alguma “transformação”.

Como se comprova, é ótimo pensar “daqui para frente”.

Mas... sabe como é, historiador é meio viciado em pensar no passado... acabei recordando que depois de 2014 teve 2016 e 2018-2022, dois anos e pouco com um golpista, depois quatro anos governados por um cavernícola.

E lembrei, também, que como resultado daquilo, o Brasil que Lula recebeu para governar em 2022 estava bem pior do que no ano de 2002, quando Lula recebeu pela primeira vez a faixa presidencial.

Pior para os que vivem do seu próprio trabalho, vale ressaltar. Os ricos, estes sempre passam muito bem, obrigado.

Ou seja, fizemos vários governos cheios de boas medidas, mas os caras fizeram o país andar para trás, anulando boa parte do que fizemos.

Como se vê, o negócio é mesmo pensar “daqui para frente”. Pois, se pensarmos “daqui para trás”, a gente acaba assediado por alguns pensamentos negativos, por exemplo acerca dos que contribuíram para a vitória do golpe de 2016 e toda a desgraça que veio depois.

Portanto, basta! Vamos pensar “daqui para frente”!! Mas não apenas em eleições, pois já vimos que não basta ganhar eleições.

Nós sabemos ganhar eleições, embora com dificuldades crescentes, tanto nos municípios e estados, quanto em legislativos. Também sabemos governar e implementar boas políticas públicas. O que nós ainda não demonstramos saber é como evitar que, no futuro, siga prevalecendo a vontade da classe dominante, mesmo que o governo federal esteja ocupado pelo PT.

Como superar a inércia do passado, o peso da correlação de forças, as limitações legais do próprio governo, as determinações estruturais de um país primário exportador e dominado pelo capital financeiro?

Como evitar que façamos ou deixemos de fazer determinadas escolhas, que acabam nos prejudicando?

Como enfrentar as diferenças estruturais entre “nós” e “eles”, por exemplo, a de ser mais fácil destruir do que construir, mais fácil manter o status quo do que fazer mudanças estruturais, mais fácil governar quando se é parte da classe dominante e exploradora, do que quando se é parte da classe dominada e explorada?

É fundamental pensar nas eleições. Mas também é fundamental pensar no conjunto da obra. 

Acontece que o Partido tem perdido progressivamente sua, nossa, capacidade de pensar sobre alguns temas. Sobre eleições, seguimos pensando. Sobre outras questões, pensamos cada vez menos ou até mesmo deixamos de pensar. 

O que, obviamente, vai atrofiando nossa ação e, por tabela, vai atrofiando também nosso pensamento, num círculo vicioso.

Nosso Partido, é bom lembrar, é composto por dezenas de milhões de pessoas, filiadas e não filiadas. A maior parte dessas pessoas não acompanha nossos debates internos. São simpatizantes e eleitoras. Outra parte constrói diariamente o Partido: é a militância. E uma parte dessa militância ocupa posições de direção, o que inclui do Lula até os dirigentes municipais e setoriais.

Nos últimos anos, tenho escutado muitos desses dirigentes fazendo discursos em que afirmam mais ou menos o seguinte: “não podemos esquecer por qual motivo fundamos este partido”. Alguns destes discursos são comoventes e profundamente sinceros, outros perdem no quesito sinceridade, mas o importante é perceber que tem algo acontecendo e gerando esta preocupação. 

Talvez o que esteja acontecendo, entre muitas outras coisas, é que, junto dos discursos esquálidos e comoventes sobre a importância do Partido, aparecem muitos sinais em sentido contrário, levando parte da nossa militância a ter algumas dúvidas existenciais.

Por exemplo: se uma pessoa é eleita pelo Partido, não uma, mas inúmeras vezes; se esta mesma pessoa trai seu eleitorado e seu Partido, não apenas uma, mas também inúmeras vezes; se essa pessoa, com esta traição, contribuiu direta ou indiretamente, para desgraçar a vida de grande número de brasileiros; e se, mesmo assim, esta pessoa pode ser aceita de volta no seu Partido, com pompa e circunstância; se as coisas são assim, o que mais pode acontecer "daqui para frente”? 

A eleição de São Paulo capital é muito importante. Mas certamente há outros partidos em que Marta pode se filiar, para poder cumprir a honrosa tarefa. 

Ademais, entendo os motivos que Marta têm para querer voltar ao PT. E, também, entendo os motivos pelos quais Rui Falcão afirma que o PT é o "leito natural" de Marta. Mas, seguindo o conselho de Rui e pensando "daqui para frente", prefiro não compartilhar o "leito" partidário com quem cometeu tamanha violência contra o Partido.