terça-feira, 31 de agosto de 2021

Maringoni, Bolsonaro e o 7 de setembro

O blog Outras Palavras publicou um debate entre Gilberto Maringoni e Valério Arcary, sobre ir ou não às ruas no dia 7 de setembro.

O debate está disponível aqui: https://outraspalavras.net/crise-brasileira/7-de-setembro-o-campo-popular-deve-sair-as-ruas/

Tanto Maringoni quanto Arcary são dirigentes do PSOL. O primeiro foi candidato a governador de São Paulo.

O artigo de Arcary é previsível, no bom sentido da palavra. Já o de Maringoni é, digamos, divertido.

Maringoni começa afirmando que “Bolsonaro está criando um clima de terror para o 7 de setembro”.

Isto é verdade? Sim. Mas qual seria o objetivo de Bolsonaro?

Segundo Maringoni, “diante do isolamento crescente e – tudo indica – irreversível, Bolsonaro busca dar a volta por cima tentando embaralhar novamente a agenda nacional”.

Verdade? Não exatamente, pelos motivos que explico a seguir.

Quem acha que Bolsonaro está “isolado”, toma como parâmetro: a) as pesquisas de opinião, especialmente aquelas que dizem respeito às eleições presidenciais de outubro de 2022; b) declarações, notas e manifestações públicas de diferentes setores da direita, centro e esquerda.

Se a política brasileira estivesse no "modo normal", isto que citei antes seria suficiente para confirmar que Bolsonaro estaria “diante do isolamento crescente”.

Mas a política brasileira não está no "modo normal".

Tanto não está que o voto impresso obteve maioria de votos na Câmara dos Deputados; as forças armadas e as polícias militares estão hiperagitadas; o presidente da República fala em golpe 3x ao dia e nada acontece com ele etc.

Maringoni no fundo sabe disto, tanto é que não considera que o isolamento “crescente” de Bolsonaro seja “irreversível”.

E como Bolsonaro pretende “reverter”? Simples: combinando formas de luta.

Por um lado segue operando na política institucional tradicional, mobilizando as instituições que lhe são favoráveis (parlamentares, governadores, prefeitos, militares, algumas igrejas, setores do empresariado, o próprio governo federal e seus aliados); por outro, mobilizando sua base social, inclusive para demonstrar que tem força, que não está isolado.

Isto seria “embaralhar a agenda nacional”, só do ponto de vista de quem segue acreditando que a “agenda nacional” é um conjunto de "temas" que se disputa pacíficamente, prioritariamente nas próximas eleições presidenciais.

Faz muito tempo que a “agenda” não é essa.

Faz muito tempo que a extrema direita vem operando exitosamente a tal “disputa de agenda”, arrastando o debate “para um terreno favorável a uma das partes”.

E como a esquerda age diante disso?

De diferentes formas.

Uma destas formas pode ser resumida assim: “vamos deixar ele falando sozinho”.

Orientados por "lógica" parecida com essa, parte da esquerda decidiu no final de 2019, início de 2020, que não deveríamos cair na suposta "armadilha" de defender o Fora Bolsonaro, por achar que isso seria "fazer o jogo" do cavernícola, que a “agenda do país” seria a pandemia.

Um cidadão muito conhecido e que segue muito importante chegou a dizer que o país “não suportaria 100 mil mortos”. O que ocorreu todos sabemos.

Agora, Maringoni diz que “diante da hecatombe social e econômica e da derrota quase certa ano que vem”, Bolsonaro “literalmente muda de assunto. Ao fazer isso, busca definir as prioridades do país”.

Um ponto importante do raciocínio de Maringoni é o da “derrota quase certa”. 

Já o raciocíno de Bolsonaro visa “evitar a derrota”, através não de uma “mudança de agenda” (termo importado que nos conduz a pensar em elegantes debates), mas sim através do movimento de tropas (no caso de Bolsonaro, isto não é uma imagem).

E a nossa questão é: vamos deixar o inimigo se movimentar livremente pelo terreno, sem oposição?

Maringoni apresenta assim a questão: “a falta de voto impresso, a CPI do genocídio e a suprema corte. Esse é o tabuleiro de disputa que busca impor. Entrar nessa vibe pode ser fatal aos setores progressistas e democráticos”.

Penso que a questão pode ser colocada de outra forma: desde 2013 a direita vem disputando as ruas com a esquerda.

Obviamente a pauta que leva a direita às ruas é a pauta... da direita. 

Podemos achar a pauta ridícula, mas o que tem relevância política é quantos se mobilizam em favor desta pauta.

E, por outro lado, quantos se mobilizam a favor da nossa pauta. 

A não ser, é claro, que consideremos que só tem relevância o processo eleitoral do final do ano de 2022, processo que alguns pensam que será decidido a partir de movimentações e articulações fundamentalmente eleitorais, sem que a mobilização de rua tenha qualquer influência significativa no resultado.

A respeito do dia 7 de setembro, Maringoni apresenta os fatos de maneira assaz curiosa, quase como se a esquerda estivesse querendo comparecer a uma festa para a qual não foi convidada, só para causar confusão.

Os fatos são outros. 

Vamos lembrar que há desde 1995 acontece o Grito dos Excluídos, do qual participam todas as forças de esquerda que querem contribuir, levando suas bandeiras.

Portanto, a questão real é saber se - frente as ameaças e proibições – vamos deixar de fazer o Grito dos Excluídos e se vamos abrir mão de defender o Fora Bolsonaro neste dia.

Maringoni acha que mobilizar no dia 7 seria “se render” à agenda de Bolsonaro, “aceitar seus termos e o seu terreno de combate". E agrega que "subordinar-se à lógica do inimigo, qualquer manual bélico ensina, coloca de saída o oponente em desvantagem”.

A questão é: se aceitarmos a premissa de que a ameaça de violência é motivo para sairmos das ruas no dia 7 de setembro, o que impedirá Bolsonaro de voltar a usar este expediente se e quando isto lhe for útil? 

A esse respeito, aliás, chamo a atenção para o seguinte: se a direita conseguir nos expulsar das ruas no dia 7 de setembro, estará dada a fórmula para eles limitarem nossa atuação na campanha eleitoral. 

E as eleições de 2020 já demonstram a falta que faz, para a esquerda, o contato direto com o eleitorado.

Maringoni não sabe se Bolsonaro lotará ruas e praças de São Paulo e Brasília. Diz que “pode dar certo, como pode dar chabú”. Ou seja: ele não sabe o que vai acontecer, só sabe que haverá “ele montará ali sua provocação armada, sequioso de sangue e caos. Ou seja, o cenário ideal para embaralhar o jogo democrático”.

O jogo democrático já está embaralhado faz tempos, embora tenha gente que insiste em não perceber isto.

Ademais, é certo que outros atos de provocação (como a sugerida invasão ao STF, ou agressões contra militantes da esquerda etc.) podem ou não ocorrer, mas a rigor a “provocação” é o ato em si mesmo, a começar por sua convocação.

A rigor, se tivéssemos força, o ato de Bolsonaro deveria ser impedido, pois trata-se de assumida incitação ao golpe. 

Mas como não temos, o que nos resta é a disjuntiva: ou cancelar os atos (dando a vitória por WO a Bolsonaro) ou mobilizar (com todas as precauções organizativas).

Precauções que valem para o dia 7 e que valerão daqui para frente cada vez mais, inclusive na campanha eleitoral, que não será normal.

Maringoni é favor de cancelar os atos. Segundo entendi, cancelar em Brasília, cancelar em São Paulo. O que obviamente geraria um efeito dominó em todo o país.

Alguns aspectos da posição de Maringoni me lembram a que foi defendida, em passado recente, por Luiz Eduardo Soares, comentada por mim aqui:

https://www.pagina13.org.br/a-caldeira/

O que dizia Luiz Eduardo Soares? Que só “faz sentido ir para o confronto se a correlação de forças permitir, ou poderemos sofrer uma derrota histórica, um banho de sangue e um golpe”.

Já Maringoni diz: “A decisão de recuar no dia 7 deve ser uma operação casada com o planejamento de fortes mobilizações logo em seguida”.

Qual o problema: Bolsonaro está escolhendo um caminho que não se limita ao dia 7. Portanto, se quisermos fazer “fortes mobilizações logo em seguida”, precisamos nos adaptar desde já às novas condições que estão postas pela “agenda” do inimigo.

Maringoni termina seu texto afirmando que “Bolsonaro é um mau militar. Não conhece tática e estratégia. Assim agem também os desocupados fantasiados de generais que compõem sua pandilha. Não avança, provoca. Não conquista terreno, grita e faz espalhafato para ocultar o beco em que se meteu”.

De todo o artigo de Maringoni, este parágrafo acima é – na minha opinião – o pior de todos. 

Bolsonaro é um cavernícola, mas o fato é que ele tem criado as condições para fazer a boiada passar. E na base do grito, tem conseguido impor o medo em parte importante da sociedade brasileira, esquerda inclusa. 

Graças a isto, aliás, vem conseguindo obter vitórias sem desembainhar toda a espada. Como acontecerá neste 7 de setembro, se a opinião de Maringoni prevalecer em amplos setores da esquerda.

Vale muito a pena ir às ruas em 7 de setembro!


sábado, 14 de agosto de 2021

Luís Felipe Miguel, os centímetros e os milímetros.

Luís Felipe Miguel voltou ao tema Baleia x Lira.

Fez isso aqui: https://m.facebook.com/luisfelipemiguel.unb/posts/10220182533094448

Reproduzo na íntegra:

“Quando houve a eleição para a presidência da Câmara, a polêmica na esquerda era se devia apoiar Baleia Rossi, o candidato de Rodrigo Maia, ou lançar uma candidatura própria, para marcar posição.

Havia argumentos razoáveis de lado a lado. Um deles era que Rossi e Lira seriam a mesma coisa. Nenhum deles levaria adiante o impeachment e ambos se alinhavam às reformas destrutivas de Guedes.

Hoje está claro que não é assim. Talvez Rossi não colocasse mesmo em pauta o impeachment. Mas é provável que Bolsonaro estivesse um pouco menos descomedido: foi a vitória de seu candidato Lira que assinalou que ele podia subir ainda mais o tom, sem qualquer preocupação.

E a velocidade da destruição do Estado brasileiro e dos direitos afirmados no pacto constitucional de 1988, sob Lira, não tem precedentes.

Enquanto comemoramos vitórias sobre factoides como voto impresso e distritão, a boiada está passando. A reforma regimental de Lira reduziu a possibilidade de expressão da oposição e garante que os retrocessos sejam aprovados a toque de caixa, sem qualquer interlocução com a sociedade.

A cada semana, a lista de medidas a serem desfeitas por um eventual governo democrático aumenta.

Não creio que a posição da esquerda, que acabou chegando dividida à votação, tenho sido decisiva para a derrota de Rossi. Mas vale aprender a lição. Marcar posição numa eleição interna da Câmara não fez a luta popular avançar um centímetro. Já evitar a vitória do mal maior teria feito bastante diferença”.

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Comecemos pelo fundamental: a “boiada está passando” e a “lista de medidas a serem desfeitas por um eventual governo democrático aumenta”.

Nisto estou totalmente de acordo com o professor Luís Felipe.

Mas é preciso lembrar que a boiada está passando porque em certas questões não existem divergências relevantes entre o centrão, a direita gourmet e a extrema direita.

Por isso, na minha opinião é ilusão achar que – se o presidente da Câmara fosse outro – a boiada “da destruição do Estado brasileiro e dos direitos afirmados no pacto constitucional de 1988” não estaria passando.

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Sigamos para um segundo assunto: o professor Luís Felipe considera que “voto impresso” e “distritão” seriam “factoides”.

Não estou de acordo com essa definição.

Não é pouca coisa que o voto impresso tenha recebido apoio da maioria dos deputados presentes à votação. E o “factóide” do distritão serviu para ser reintroduzida a coligação proporcional. E tudo junto e misturado jogou água no moinho do “semipresidencialismo”.

Ademais, a eleição de 2018 já mostrou do que os “factóides” são capazes.

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Vamos agora a outro ponto.

Segundo o professor Luís Felipe, “quando houve a eleição para a presidência da Câmara, a polêmica na esquerda era se devia apoiar Baleia Rossi, o candidato de Rodrigo Maia, ou lançar uma candidatura própria, para marcar posição”.

Na verdade, a polêmica incluía uma terceira posição: a de apoiar Lira.

Esta posição foi defendida por alguns dirigentes e parlamentares vinculados ao PT (e até onde eu sei estava presente em outros partidos da esquerda).

Um dos argumentos utilizados para defender Lira era o de que a direita gourmet seria a representante dos EUA, do setor financeiro, do grande capital, do neoliberalismo doutrinário.

Já Lira, como parte do centrão, teria um apego menor às posições neoliberais.

Curiosamente, Luís Felipe omite da equação esta terceira posição.

Embora tenha sido desmentida pelos fatos, ela fez parte da polêmica e contribuiu para que certas decisões fossem tomadas.

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Luís Felipe diz que: “Havia argumentos razoáveis de lado a lado. Um deles era que Rossi e Lira seriam a mesma coisa. Nenhum deles levaria adiante o impeachment e ambos se alinhavam às reformas destrutivas de Guedes”.

Segundo o professor Luís Felipe, “hoje está claro que não é assim. Talvez Rossi não colocasse mesmo em pauta o impeachment. Mas é provável que Bolsonaro estivesse um pouco menos descomedido: foi a vitória de seu candidato Lira que assinalou que ele podia subir ainda mais o tom, sem qualquer preocupação”.

Penso que algo que está “claro” é que tanto Lira quando Rossi são alinhados com as reformas destrutivas de Guedes.

Sobre como Baleia Rossi se comportaria caso tivesse vencido, não temos como ter certeza mas suspeitamos que manteria a coerência.

A esse respeito, pode-se ler aqui: https://www.cartacapital.com.br/politica/pacheco-x-simone-lira-x-baleia-o-que-esperar-dos-principais-candidatos-as-presidencias-do-congresso/

Coerência que se verificou, por exemplo, em recente votação da MP que cria o Regime Especial de Trabalho Incentivado, Qualificação e Inclusão Produtiva. Baleia Rossi foi um dos 304 votos a favor.

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O professor Luís Felipe reconhece que “talvez Rossi não colocasse mesmo em pauta o impeachment”.

Mas considera ser “provável que Bolsonaro estivesse um pouco menos descomedido: foi a vitória de seu candidato Lira que assinalou que ele podia subir ainda mais o tom, sem qualquer preocupação”.

De acordo.

Mas acontece que Bolsonaro “sobe o tom” sempre, quando ganha e quando perde.

O que desconcerta setores da esquerda, que fazem exatamente o contrário: “baixam o tom” quando ganham e quando perdem.

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Luís Felipe está correto, também, quando diz que “a reforma regimental de Lira reduziu a possibilidade de expressão da oposição e garante que os retrocessos sejam aprovados a toque de caixa, sem qualquer interlocução com a sociedade”.

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Disto tudo, o professor Luís Felipe diz o seguinte: “Não creio que a posição da esquerda, que acabou chegando dividida à votação, tenho sido decisiva para a derrota de Rossi. Mas vale aprender a lição. Marcar posição numa eleição interna da Câmara não fez a luta popular avançar um centímetro. Já evitar a vitória do mal maior teria feito bastante diferença”.

Não se trata de “crer” ou não.

A esquerda chegou dividida à votação, mas a esmagadora maioria votou em Baleia Rossi.

Arthur Lira teve 302 votos. Baleia Rossi teve 145 votos. Fábio Ramalho (MDB-MG) 21 votos; Luiza Erundina (Psol-SP) 16 votos; Marcel van Hattem (Novo-RS) 13 votos; André Janones (Avante-MG) 3 votos; Kim Kataguiri (DEM-SP) 2 votos; General Peternelli (PSL-SP) 1 voto. Além disso houve 2 votos em branco. (Fonte: Agência Câmara de Notícias).

Portanto, mesmo com o apoio da maioria esmagadora da esquerda, Rossi perdeu e Lira ganhou no primeiro turno.

Portanto, a vida demonstrou que não era possível “a vitória do mal menor”.

Hoje podemos ter certeza de que o dilema real era como perder.

Perder apoiando um neoliberal golpista?

Ou perder marcando posição com uma candidatura da esquerda?

Não vejo como apoiar o neoliberal golpista tenha servido para fazer "a luta popular avançar" um milímetro.

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Para quem estiver interessado, seguem abaixo alguns textos escritos na época acerca da tática da bancada petista na eleição da presidência da Câmara:

23 de dezembro de 2020

http://valterpomar.blogspot.com/2020/12/luis-felipe-miguel-aldo-fornazieri-e.html

5 de janeiro de 2021

http://valterpomar.blogspot.com/2021/01/luis-felipe-miguel-o-baleia-e-o.html

6 de janeiro de 2021

https://www.pagina13.org.br/luis-felipe-e-a-boa-fe/

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sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Duarte Pereira

No dia 12 de agosto de 2021, faleceu Duarte Pereira.

Ou melhor: Duarte Brasil do Lago Pacheco Pereira.

Ou ainda: Estevão da Ação Popular.

Na nota abaixo, o PCdoB registra o fato e destaca que partiu de Duarte a proposta de fusão da AP com o PCdoB.

https://pcdob.org.br/noticias/morre-o-jornalista-duarte-pereira/

Curiosamente, o próprio Duarte não ingressou no PCdoB.

Muita coisa a respeito pode ser lida aqui:

https://marxismo21.org/duarte-brasil-pacheco-pereira/

Para quem faz parte da tradição comunista, ou pelo menos considera sua importância para o presente e futuro da esquerda brasileira, a trajetória de Duarte permite compreender melhor muitos de nossos pontos fortes e fracos.

Duarte Pereira, presente!


quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Golpe em prestações

Para quem gosta, os últimos dias foram inesquecíveis. 

Primeiro, a votação da PEC do “voto impresso”: 229 votos favoráveis, 218 contrários e uma abstenção. 

Ou seja: a maioria da Câmara apoia a tese, inclusive parlamentares do PSB e do PDT. 

Apesar de majoritária, a PEC não alcançou maioria qualificada (308 votos) e foi arquivada.

Impedimos mais um retrocesso, o que é motivo de comemoração. 

Mas o "sangue lusitano" que corre em algumas veias estimula o lirismo e teve gente comemorando a “vitória da democracia”. 

O entusiasmo rapidamente virou pânico, quando o presidente da Câmara – que deveria levar o título de imperador alterno – colocou para votar o “distritão”.

Na operação, Arthur Lira recebeu a ajuda preciosa – a que preço? - de gente da esquerda, que votou a favor da proposta na comissão encarregada, que aprovou um relatório em que havia de tudo: distritão, volta das coligações proporcionais e até eleição múltipla para presidente da República.

O entusiasmo da antevéspera se tornou o pânico da noite: afinal, a aprovação do “distritão” alteraria estruturalmente o sistema político eleitoral brasileiro. 

Por "alteração estrutural" entenda-se: o que já é muito ruim – um congresso dominado por homens brancos ricos – se tornaria ainda pior, uma vez que o distritão reduziria drasticamente a representação proporcional das “minorias” (nome inadequado que muitas vezes serve para designar maiorias que não conseguem representação adequada por causa das "regras do jogo").

Há controvérsias sobre o que aconteceu na noite de 11 de agosto. 

Mas fomos dormir com o desfecho que alguns já previam: para evitar o “pior” (o distritão), votou-se um “acordo” que resultará na volta das coligações proporcionais. 

Um retrocesso, em nome de evitar um desastre.

Na opinião de alguns, este era o resultado pretendido desde o início: voto em papel, desfile militar, distritão teriam sido apenas “cortina de fumaça”. 

Na opinião de outros, o risco era real. 

Vai saber qual a verdade...

Mas tem algo que é certamente mentira: o que aconteceu não foi de forma alguma algo que possa ser apresentado como uma vitória da “democracia” ou do “Estado de direito” (o Santo Graal da esquerda liberal). 

O que aconteceu foi, isto sim, uma vitória do “estado da direita”, que desde 2016 está nos fazendo andar para trás, do ponto de vista econômico, social, cultural e político.

Dourar a pílula não adianta nada. 

A dinâmica da luta de classes nos últimos anos tem sido esta: a direita ataca com tudo, em favor de seu programa máximo. 

A esquerda, para evitar o que parece ser uma derrota total, recua. 

O ataque da direita é detido. 

A esquerda comemora, pois “podia ser pior”. 

E podia mesmo.

Mas a questão é: o copo está meio vazio ou meio cheio? Foi uma vitória parcial ou uma derrota parcial?

Quando olhamos o processo de conjunto, percebe-se que está em curso um “golpe em prestações”. 

Claro que as prestações não são suaves para todo mundo: alguns reduzem a compra do mês, outros passam fome, alguns perdem parte do salário, outros perdem os empregos, alguns perdem os direitos, outros perdem a vida.

Podia ser pior? Podia. 

Mas não há porque cantar vitória. 

Pois nesse ritmo, o porvir será muito atrás da linha de partida, já que estamos indo em direção ao passado. 

O que ajuda a entender por quais motivos parte da esquerda confunde 2022 com 2002, sem perceber que essa "estrada do tempo" desemboca no quartel: no primeiro quartel do século 20.

E o pior é que tem gente da esquerda que comemora.

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Da arte de andar para trás

Eles tentam tirar tudo.

Para evitar a gente dá uns passos para trás.

E comemora! 

Afinal, podia ser pior.

E podia mesmo.

Ainda que nesta toada as vezes pareça que o porvir está por detrás da linha de partida.

E há gente que comemora.

Pois podia ser pior!

E podia mesmo.

Afinal vivemos num país onde o golpe vem em prestações.

Que, claro, não são suaves para todo mundo.

Afinal, nem tudo é perfeito.

Mas podia ser pior.

E assim vamos exercitando a arte de andar para trás.

E cantando vitória no caminho.

Pois sempre podia ser pior.

 








terça-feira, 10 de agosto de 2021

O PCO, Marx e os bandeirantes

Recomendo enfaticamente a leitura de um artigo publicado no dia 9 de agosto, na página eletrônica do jornal Causa Operária.

O artigo chama-se “Tamanho não é documento?” e tem como subtítulo “Os bandeirantes, o progresso e a luta contra o imperialismo”.

Assinado por Eduardo Vasco, a íntegra do artigo pode ser lida aqui:

https://www.causaoperaria.org.br/rede/dco/opiniao/colunistas/os-bandeirantes-o-progresso-e-a-luta-contra-o-imperialismo/

Para facilitar a vida, copiei e colei ao final.

Comprovando algumas semelhanças já apontadas entre o MR8 e o PCO, o título do artigo confirma a adesão do autor ao machismo leninismo. 

Mas este aspecto do digamos “problema” deixo para quem é especialista neste tipo de gente que acha que “tamanho” é “documento”.

Deixarei de lado, também, o debate sobre se defumar Borba Gato foi correto ou não, do ponto de vista da luta contra Bolsonaro. 

Como já expliquei em outras oportunidades, constatar que alguém é um cavernícola genocida não implica em nenhuma tática específica para combater o referido. 

Várias táticas são possíveis e acumulam mais ou menos para o êxito da luta.

Vou me dedicar aqui apenas a um dos temas trazidos pelo texto de Eduardo Vasco: a bizarra tese de que defumar a estátua de Borba Gato seria um ato em defesa do imperialismo, contra “a própria nação brasileira".

Outros aspectos da polêmica, abordarei noutro momento.

Comecemos pelo começo: qual teria sido o papel “dos bandeirantes na história nacional”?

Em resumo, a tese de Vasco é que os bandeirantes teriam contribuído para expandir nossas fronteiras, o que teria resultado num país grande, o que por sua vez é muito importante na luta contra o imperialismo. 

Logo os bandeirantes e sua obra deveriam ser defendidos por quem luta contra o imperialismo.

Esta lógica – como me observou um companheiro a quem preservo o nome, para ele não ser achincalhado como “pequeno burguês” e outros epítetos que o adorável Vasco despeja sobre minha cabeça – deveria conduzir o PCO a defender a construção de estátuas para Medici, que assinou decreto alargando nosso “mar territorial” para 200 milhas marítimas.

Não vou reproduzir aqui frase-a-frase o que diz Vasco em seu texto. 

Como estudei em um grupo escolar público exatamente no início dos anos 1970, quando a ditadura adotava uma retórica aparentemente nacionalista para encobrir sua submissão ao imperialismo, consigo reconhecer as digitais intelectuais presentes em frases e raciocínios que nos levam a aplaudir a colonização portuguesa e seus métodos, em nome dos resultados alcançados.

Entretanto, Vasco acha que sua posição é marxista. 

E para “provar” isto, cita as posições de Marx e Engels acerca da expansão territorial dos Estados Unidos e conclui que caso a Califórnia “tivesse se mantido sob o poder do México, ela não seria muito diferente do resto do país latino, pobre e atrasado”.

Nem eu, nem Vasco nem ninguém saberia dizer o que teria acontecido se a história tivesse sido diferente. 

O que sei é que aceitar o “argumento” de Vasco nos conduz inevitavelmente a defender o “papel civilizatório” do imperialismo e do colonialismo.

Não vou cansar os leitores deste texto com um debate sobre como evoluíram as posições de Marx e Engels acerca deste assunto. 

Limito-me a informar que na Segunda Internacional houve confrontos imensos entre defensores e opositores do “colonialismo socialista”. 

Os primeiros baseavam-se na “lógica” de Vasco. E terminaram como se sabe.

Lógica que um conhecido camarada russo chamava de “objetivismo”: começava-se reconhecendo o papel progressista do capitalismo e terminava-se fazendo a apologia do capitalismo.

Para explicar a tal “apologia”, vejamos o seguinte trecho do texto de Vasco: “Para a esquerda pequeno-burguesa, como Valter Pomar, assim como para os identitários impulsionados pelo imperialismo, a história do homem não é uma história de progresso, de desenvolvimento das forças produtivas e de constante luta de classes”.

Segundo este raciocínio, o capitalismo é um progresso em relação ao feudalismo. 

Isto é verdade? 

Sim, é. 

Mas daí não decorre que devamos defender, aplaudir, tomar partido de tudo aquilo que os capitalistas fizeram para destruir o feudalismo. 

Pois se o fizermos estaremos nos comportando como... capitalistas.

Ao invés de fazer a apologia do passado, é preciso fazer a crítica. 

No caso, significa levar a sério a tese segundo a qual a história é “constante luta de classes”, luta entre explorados e exploradores, entre opressores e oprimidos, entre o colonialismo e colonizados etc.

Vasco repete a frase citada acima, mas não a toma a sério, como se vê no seguinte trecho: “Logo, um ataque à cultura e à história do Brasil ─ independentemente se essa história é “boa” ou “má”, afinal, ela é o que é, não o que gostaríamos que fosse ─ é um ataque ao povo brasileiro”.

Ou seja: segundo Vasco, atacar Borba Gato seria “um ataque à cultura e à história do Brasil”. 

Por qual motivo? Porque, segundo Vasco, não importaria se essa história é “boa” ou “má”. 

De fato, não importa se é "boa" ou se é "má", termos que aliás não fazem nenhum sentido: o que importa é de que lado estamos, se dos exploradores e opressores, ou se dos explorados e oprimidos.

Por exemplo: na Roma Antiga, Vasco estaria do lado das legiões romanas, não de Spartacus?

Na "Alemanha" medieval, Vasco estaria do lado dos que massacraram a revolução camponesa?

Nos EUA, Vasco estaria do lado de Custer ou dos "Sioux"?

Quero crer que Vasco responderá de maneira “politicamente correta” estas três questões.

Então por qual motivo aqui na América Latina e no Brasil ele fica do lado dos bandeirantes?

Voltaremos ao assunto, na sequência deste texto.


 

SEGUE O TEXTO CRITICADO 

Tamanho não é documento?

Os bandeirantes, o progresso e a luta contra o imperialismo

 

O alvo não é Borba Gato, mas a própria nação brasileira e sua luta pela emancipação – Foto: Gabriel Schlickmann

Por: Eduardo Vasco

       Publicado em: 09/08/21 - 00:00

       Edição nº 6461 – segunda-feira – 09/08/2021

Oincêndio da estátua de Borba Gato alimentou a discussão a respeito do papel dos bandeirantes na história nacional. A esquerda pequeno-burguesa e seus pseudoativistas e pseudointelectuais louvaram a ação pseudorradical.

Como enfatizado diversas vezes por este diário e pelos órgão de imprensa do PCO, contudo, tal ação, como todas as ações dos grupos identitários, serve não para impulsionar, mas sim para sabotar a verdadeira luta dos oprimidos.

E parte essencial dessa luta é a luta contra o imperialismo. A luta de classes na época dos grandes monopólios que dominam o mundo se resume à luta entre a classe operária e esses monopólios, que formam o imperialismo. Ganha destaque a luta da classe operária dos países de capitalismo atrasado ou semicoloniais, impedidos de se desenvolverem devido justamente à dominação imperialista.

O imperialismo utiliza os grupos identitários ─ forjados nas universidades norte-americanas e europeias ─ para contribuírem com essa dominação. Os ataques contra estátuas e outros símbolos nacionais nos países atrasados, dizem os identitários, são um ataque contra a opressão. Mas esses mesmos grupos são, via de regra, financiados justamente pelos opressores imperialistas! Ao invés de lutarem contra a opressão atual ─ à qual, na verdade, eles servem ─, inventam uma falsa luta contra os alegados opressores do passado. E, para isso, usam e abusam de um discurso anacrônico.

Segundo eles, os bandeirantes seriam os piores demônios que já pisaram em solo brasileiro. Portanto, é preciso remover seus vestígios da história do Brasil, como suas estátuas. É preciso apagar a história, uma vez que ela é uma história “má”. Mas a quem serve apagar a história, seja ela “boa” ou “má”, de um país oprimido pelo imperialismo, cujo conhecimento de sua própria história é ferramenta importante para a sua libertação? Serve exatamente aos interesses de dominação imperialistas.

Se dependesse da vontade do imperialismo, não apenas a história do Brasil seria apagada (como ele tenta fazer através dos grupos identitários), mas inclusive parte de seu território deveria ser apagada do mapa. É o que o imperialismo sempre tentou fazer com a Amazônia ─ daí a ampla campanha política, diplomática e propagandística supostamente a favor do meio ambiente no Brasil.

Agora, por que os movimentos populares, a esquerda e os oprimidos historicamente sempre defenderam que a Amazônia brasileira é brasileira? Por chauvinismo? Não. Porque ela é fonte de grandes recursos naturais para o desenvolvimento do Brasil, um país pobre e atrasado. E porque, se for retirada do Brasil, irá para as mãos do imperialismo, golpeando ainda mais qualquer possibilidade de desenvolvimento e de soberania de um país oprimido.

Nesse sentido, soa um tanto ingênuo o posicionamento de um desses pseudointelectuais da esquerda pequeno-burguesa, que ignoram a luta de um país oprimido contra o imperialismo, como é o caso de Valter Pomar.

Em artigo recente, tentando refutar o posicionamento do PCO, expresso pelo presidente nacional do Partido, Rui Costa Pimenta, o dirigente da Articulação de Esquerda (corrente oportunista dentro do PT), questiona a noção de progresso e desenvolvimento econômico ─ embora se autointitule marxista!

A tese central de Pomar é que os bandeirantes foram grandes opressores (aqui não se difere dos identitários) e que (agora algo novo!) o seu trabalho para a expansão territorial do Brasil seria algo irrelevante, ou, pior ainda, condenável. Afinal, se foram monstros que não deveriam sequer ter existido, a expansão do Brasil para além do Tratado de Tordesilhas conduzida por eles também seria algo abominável.

Nosso marxista de gabinete busca ridicularizar a ideia de que, para o imperialismo, seria melhor que o Brasil fosse um país pequeno, pois mais fácil de ser dominado. Esse é o pensamento de Pomar que fica implícito quando diz que a “elite de São Paulo” ensina os “lugares comuns” de que os bandeirantes foram instrumentos de progresso e que o progresso consiste em ser grande. Pomar não concorda.

Perguntemos a ele: se o Brasil se resumisse ao Nordeste, Sudeste e metade de Goiás, ele teria o mesmo nível de desenvolvimento que tem atualmente? Por acaso o desenvolvimento não interessa aos oprimidos, mas apenas aos opressores?

Voltemos ao caso da Amazônia. Se ainda vigorasse o Tratado de Tordesilhas ─ acordado entre as coroas portuguesa e espanhola e violado pelos bandeirantes ─, Amazônia, Pantanal e o Aquífero Guarani, por exemplo, não pertenceriam ao Brasil. Talvez nem mesmo os índios brasileiros ─ tão falsamente adorados pelos identitários ─ tivessem sobrevivido, pois teriam ficado a mercê dos espanhóis, que devastaram os impérios Inca, Asteca e Maia ─ muito mais evoluídos do que os brasileiros.

Para a esquerda pequeno-burguesa, como Valter Pomar, assim como para os identitários impulsionados pelo imperialismo, a história do homem não é uma história de progresso, de desenvolvimento das forças produtivas e de constante luta de classes. Ao contrário do que pode pensar o dirigente petista, o posicionamento que apresenta em sua crítica a nossas posições não tem nada a ver com marxismo. Pelo contrário, é antimarxista.

Em artigo publicado em fevereiro de 1850 na Nova Gazeta Renana, Marx e Engels demonstram que viam como um progresso a descoberta de ouro na Califórnia e sua anexação pelos Estados Unidos ─ concretizada sete meses depois.

“Agora, após somente dezoito meses, podemos prever que essa descoberta terá muito maiores consequências do que o descobrimento da própria América. Por trezentos e trinta anos todo o comércio da Europa para o Oceano Pacífico foi conduzido por uma comovente e resignada paciência ao redor do Cabo da Boa Esperança ou do Cabo Horn. Todas as propostas de atravessar o canal do Panamá foram um desastre por causa do ciúme tacanho das nações comerciais. As minas de ouro da Califórnia foram descobertas apenas dezoito meses atrás e os americanos já construíram uma ferrovia, uma grande rota terrestre e um canal a partir do Golfo do México, navios a vapor já estão navegando regularmente de Nova Iorque ao Chagres, do Panamá a São Francisco, o comércio do Pacífico já está se concentrando no Panamá e a jornada pelo Cabo Horn já se tornou obsoleta. Um litoral que se estende por trinta graus de latitude, um dos mais bonitos e férteis do mundo e até agora pouco povoado está visivelmente se transformando em uma terra rica, civilizada e densamente povoada por homens de todas as raças, dos ianques aos chineses, dos negros aos indianos e malaios, dos criolos e mestiços aos europeus. O ouro da Califórnia está derramando em torrentes sobre a América e a costa asiática do Pacífico e está arrastando os relutantes povos bárbaros para o comércio mundial, para o mundo civilizado. Pela segunda vez o comércio mundial encontra uma nova direção. O que Tiro, Cartago e Alexandria foram na antiguidade, o que Gênova e Veneza foram na Idade Média, o que Londres e Liverpool têm sido até agora, o empório do comércio mundial ─ isso é o que Nova Iorque, São Francisco, San Juan del Norte, León, Chagres e o Panamá vão se tornar a partir de agora. O ponto focal do tráfico internacional ─ na Idade Média, a Itália; nos tempos modernos, a Inglaterra ─ é agora o sul da península norte-americana: a indústria e a riqueza de outros, que demandaram e ainda demandam uma distribuição de propriedade diferente ─ na verdade, a total abolição da propriedade privada.”

Sim, para o horror da esquerda pequeno-burguesa pseudomarxista, Marx e Engels concluíram que era uma etapa fundamental do desenvolvimento da sociedade a expansão territorial dos Estados Unidos, abocanhando parcela significativa do atrasado e miserável México. Estava-se levando o capitalismo, em sua época progressista, para além das antigas fronteiras norte-americanas. E, hoje, mesmo os identitários mais histéricos não podem negar que foi um progresso: a Califórnia é o estado mais industrializado dos EUA e se fosse um país ela teria o 5° PIB do mundo todo. Caso, no entanto, tivesse se mantido sob o poder do México, ela não seria muito diferente do resto do país latino, pobre e atrasado.

Os Estados Unidos só são a maior potência que o mundo já viu devido à sua expansão territorial. A Inglaterra só alcançou esse status por causa do império ultramarino que construiu durante séculos. O mesmo vale para os mais desenvolvidos dos países atrasados, como o próprio Brasil, a Rússia, a China ou a Índia ─ todos países territorialmente grandes e muito populosos.

A Revolução Russa abalou o mundo não apenas porque foi a primeira revolução proletária da história, mas também porque ocorreu no maior país do planeta. Graças ao seu tamanho, a Rússia (e depois a URSS) se transformou em uma ameaça para o imperialismo, influenciando diretamente as lutas operárias na Europa e na Ásia (com quem faz fronteira) e indiretamente os povos do mundo todo. Algo semelhante aconteceu com a China ─ qual a revolução mais importante, a chinesa ou a vietnamita?

Se Cuba, uma ilha de 11 milhões de habitantes, pobre e isolada, conseguiu influenciar com sua revolução os movimentos populares de todos os países oprimidos e mesmo dos países ricos, então o que poderíamos dizer caso o Brasil tivesse uma revolução parecida? O continente viria abaixo e a dominação imperialista, a nível continental e mundial, viria-se fatalmente abalada. É famosa a posição preocupada do governo dos EUA sobre a possibilidade de o Brasil se transformar “em uma nova Cuba”, o que levou o imperialismo a executar o golpe de 1964. Os EUA nunca esconderam que o País é o mais importante do continente para os próprios interesses norte-americanos. Não é o Uruguai, não é o Paraguai, não é São Cristóvão e Neves. É o gigantesco Brasil, maior e mais populoso país da América Latina.

Por outro lado, não há como ignorar os esforços do imperialismo para desmembrar os grandes países, como as já citadas Rússia e China. A desintegração da União Soviética em 15 países, da Iugoslávia em seis países, a divisão da Checoslováquia ─ bem como da Alemanha, ao final da II Guerra Mundial ─ foi uma política do imperialismo. Mesmo sem a URSS, a Rússia continua sendo um entrave para a dominação imperialista, por isso a política açougueira continua (tentativas de separar a Chechênia já levaram a guerras). A Sérvia, como coração da ex-Iugoslávia, perdeu ainda Montenegro e o Cossovo. Até 20 anos atrás, a China esteve separada de Hong Kong e Macau e ainda hoje não recuperou Taiwan.

Os imperialistas dividiram o Vietnã em dois e a luta pela reunificação foi uma das forças propulsoras da luta pela independência e pela revolução naquele país. Caso semelhante é o da Coreia, que ainda hoje permanece dividida devido à intervenção imperialista. A Guerra da Coreia foi travada pela Coreia do Norte com o objetivo de livrar o sul da invasão norte-americana e reunificar o país e até os dias atuais o estado operário norte-coreano tem como uma de suas principais bandeiras a reunificação.

Para o imperialismo, é muito mais fácil dominar um país pequeno do que um país grande. É a velha política de dividir para conquistar.

Por sua vez, os países imperialistas impedem de todas as maneiras a divisão de seus territórios. Catalunha, País Basco e Galícia na Espanha; Irlanda do Norte, País de Gales e Escócia na Grã-Bretanha ou Córsega na França e Flandres na Bélgica são conhecidos exemplos de movimentos independentistas que até hoje nunca conseguiram grandes resultados, porque esses países, todos imperialistas, não largam o osso. Sabem que a unidade territorial é peça chave para a sobrevivência da sua condição de potência imperialista. Sua desintegração territorial poderia inclusive agilizar a decomposição de todo o sistema imperialista mundial.

Mas Pomar ignora a importância da luta pela unidade nacional como parte da luta geral da classe operária nos países atrasados por sua emancipação do imperialismo e pela revolução socialista. E no caso dos países oprimidos a unidade nacional não tem o mesmo significado da “unidade nacional” apregoada por essa mesma esquerda ─ isto é, a união com a direita, com a burguesia, deixando a classe trabalhadora a reboque de seus opressores. Para os povos oprimidos, a verdadeira unidade nacional é produto da luta histórica das classes exploradas e do desenvolvimento das forças produtivas ─ em determinados períodos, produzido pelas classes exploradoras e seus representantes. A unidade nacional, aqui, é a unidade territorial do Brasil, a unidade da população que aqui vive em um território único. É uma das mais fundamentais maneiras de se resistir ao assédio incessante das potências e dos monopólios imperialistas.

Em uma época de total desintegração do regime imperialista, na qual as contradições se acentuam de maneira acelerada, fica cada vez mais aguda a polarização política entre as duas classes antagônicas: o proletariado e a burguesia. Nos países oprimidos essa polarização se torna evidente quando percebemos que essa luta é expressa pelos trabalhadores de um lado ─ que carregam atrás de si os interesses da nação, seja da pequena burguesia ou mesmo de setores da burguesia ─ e pelo imperialismo de outro lado.

Portanto, os trabalhadores, ou seja, a classe revolucionária da época imperialista, são os que tomam para si os interesses da nação oprimida, são os únicos que podem levar às últimas consequências a luta pela independência e a libertação nacional dos países atrasados. A nação brasileira, assim, pertence cada vez mais ao povo brasileiro, aos trabalhadores e demais setores oprimidos. Da mesma forma lhes pertence a cultura e a história nacionais. Logo, um ataque à cultura e à história do Brasil ─ independentemente se essa história é “boa” ou “má”, afinal, ela é o que é, não o que gostaríamos que fosse ─ é um ataque ao povo brasileiro. E, novamente, um ataque ao povo brasileiro, como um povo oprimido, um ataque ao Brasil como um país oprimido, serve única e exclusivamente aos interesses de dominação, submissão e espoliação imperialistas.

 

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Galo livre!

SEM REVISÃO 

No dia 24 de julho a estátua de Borba Gato foi defumada, numa ação que lembrou algumas cenas da série espanhola “Casa de Papel”.

Imediatamente começou um debate na esquerda, em torno de duas questões fundamentais.

A primeira questão era saber se a ação foi adequada, do ponto de vista político.

Algumas pessoas argumentaram, por exemplo, que fazer a defumação naquele momento:

1/desviava a atenção da manifestação de 24 de julho;

2/favorecia o discurso de Bolsonaro, que vinculava as manifestações com atos violentos. 

Já dissemos e vamos repetir de novo que este debate precisa mesmo ser feito.

Claro que ao fazer este debate a gente deve evitar fazer caricaturas, do tipo da cometida pelo Gilberto Maringoni, que disse que a defumação “tinha toda a pinta” de ser um ato cometido por policiais infiltrados. 

O próprio Maringoni - que foi ativo militante do MR8, organização que chegou a praticar agressões físicas violentas contra a oposição sindical metalúrgica de SP - sabe muito bem que para fazer merda não é preciso infiltração policial.

Caricaturas à parte, o debate político sobre a adequação tática da defumação é necessário.

Mas o debate não se limitou a isso.

Travou-se também um debate sobre uma segunda questão: seria ou não estrategicamente adequado defumar Borba Gato?

Sobre isso, apareceram entre outras as seguintes posições:

1/Borba Gato não merecia ser defumado, pois o personagem histórico não seria tão ruim assim;

2/Borba Gato era bandeirante e os bandeirantes seriam fator de progresso civilizatório e símbolos do povo de São Paulo;

3/queimar estátuas seria um atentado contra a história, similar aos atentados cometidos pelos Talebans, pelos fascistas da Ucrania e pelos negacionistas bolsonaristas;

4/ações diretas deste tipo seriam sempre equivocadas, entre outros motivos porque causam consequências que a esquerda brasileira não consegue enfrentar;

E mais recentemente o Leonardo Avritzer, professor de ciência política da UFMG, questionou por princípio a violência enquanto "categoria da politica".

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Sobre Borba Gato e os bandeirantes, não consigo ver como "passar o pano" nesta gente. 

Óbvio que tudo deve ser visto em perspectiva histórica, que não podemos esperar de alguém dos séculos 17 e 18 comportamentos do século 22 (sic) etc.

Óbvio, ainda, que no peito de um bandeirante, assim como no peito de um fascista, de um torturador, de um assassino, também bate um coração. 

A esse respeito, vale ouvir Fado Tropical, do Chico Buarque, que numa passagem diz assim:

“Sabe, no fundo eu sou um sentimental

Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo...(além da sífilis, é claro)

Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar

Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."

Mas o que está em jogo neste episódio da defumação – ao menos principalmente – não é a interpretação do passado.

O que está em jogo é o presente.

Borba Gato não é apenas passado.

Aliás, estátua é que nem jabuti.

Jabuti não sobe em árvore.

Estátua não cai do céu.

Alguém colocou lá.

E quem cultua os bandeirantes do passado são as elites “bandeirantes” de hoje, que seguem caçando, torturando, matando, violentando e explorando barbaramente indígenas, negros e negras, pobres periféricos.

Que haja gente de esquerda – ou que foi de esquerda – que não perceba isso e "passe o pano" nos bandeirantes é apenas uma demonstração de que a ideologia dominante em uma parte da esquerda é a ideologia da classe dominante.

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O argumento que compara a ação de defumação com os atentados cometidos pelos Talebans, os fascistas da Ucrania e os negacionistas bolsonaristas é da mesma família do conhecido argumento sobre os “dois demônios”.

Lembra aqueles filmes sobre a guerra do Vietnã, que colocam de um lado os soldados gringos, de outro lado os guerrilheiros vietcongs e no meio o povo sofrido.

Ou seja: equipara-se a violência do opressor com a violência do oprimido.

No fundo é o mesmo argumento segundo o qual Cuba teria "dois problemas, o bloqueio e a ditadura".

Aliás, sobre isso vale contar uma história nada edificante.

No final de 2008, início de 2009, o governo de Israel atacou Gaza.

O PT soltou uma nota, assinada por Ricardo Berzoni e por mim, criticando o “terrorismo de Estado do Governo de Israel contra o povo palestino", e qualificando o ataque a Gaza como uma "prática nazista".

Obviamente os sionistas não gostaram.

Mas o surpreendente foi a reação de 38 importantes quadros do Partido, que divulgaram uma réplica pública dizendo que a nossa nota "banaliza e distorce o fenômeno histórico do nazismo" e "não registra a necessária condenação ao terrorismo".

Os fatos (cf Fiori): "o ataque de Israel contra Gaza durou 21 dias e matou 1.400 palestinos e 15 israelenses, no início de 2009. Em 2014 teve outro, que durou 51 dias e deixou 2.205 palestinos e 71 israelenses mortos. Em maio de 2021 o ataque durou 11 dias e matou 232 palestinos e 27 israelenses".

Os números ajudam a perceber como é um erro tratar como equivalentes fenômenos profundamente diferentes.

Seja por sua dimensão: 1400 palestinos x 15 israelenses.

Seja por seu conteúdo: Israel é uma força ocupante, Palestina é uma nação ocupada e que tem o direito de lutar.

Ninguém precisa concordar com o Hamas, assim como ninguém precisa concordar com o grupo revolução periférica.

Mas não se pode confundir alhos com bugalhos.

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Quanto ao argumento de princípio contra “ações diretas”, ele esbarra num problema lógico.

A consciência política de massas não cai do céu, pronta e acabada.

E a consciência e organização militante também não são entregues por delivery.

É preciso construção, exercício e inclusive erro.

Ocupar terras era uma “ação direta” que também incomodava certa esquerda, há um tempo atrás.

Assim, uma condenação em tese é um exagero.

Pode ser certo ou pode ser errado fazer, isso depende das circunstâncias políticas.

Por exemplo: a luta armada contra a ditadura mostrou os limites do vanguardismo.

E as chamadas "ações diretas" podem incorrer no mesmo problema.

Entretanto, considerar que toda e qualquer ação direta é condenável por princípio, nos levará - no limite - ao que conclui Leonardo Avritzer, professor de ciência política da UFMG, que questiona por princípio qualquer tipo de violência.

Avritzer escreveu um artigo polemizando com o Vladimir Safatle em torno da defumação.

O artigo de Safatle foi publicado no dia 26 de julho e pode ser lido aqui: 

https://brasil.elpais.com/opiniao/2021-07-26/do-direito-inalienavel-de-derrubar-estatuas.html

O artigo de Avritzer foi publicado no dia 30 de julho de 2021 e pode ser lido aqui: 

https://www.brasil247.com/blog/bastilha-e-borba-gato

A réplica de Safatle pode ser lida aqui:

https://www.brasil247.com/blog/da-arte-de-nao-enxergar-o-fogo

Não sei se Avritzer escreveu novamente sobre o tema.

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No artigo supracitado, Avritzer lembra que “a destruição ou remoção de estátuas de personagens violadores de direitos ou símbolos das desigualdades” é um ato similar ao que tem sido praticado em outros lugares do mundo. 

Lembra também que os bandeirantes eram “bárbaros que detinham exércitos privados e escravizavam indígenas” e que são “parte central da narrativa paulista”.

Concorda, portanto, que “a estátua [de Borba Gato] materializa o discurso oficial (...) que procurou ignorar os crimes dos bandeirantes”.

Até aí, 100% de acordo.

Nesse ponto, entretanto, Avritzer afirma o seguinte: "Não há dúvidas que cabe um questionamento a Borba Gato e aos bandeirantes. A pergunta é: qual a linguagem desse questionamento e se a utilização da violência como método é a linguagem correta da disputa histórica”.

(Só mesmo no lúdico ambiente acadêmico seria possível discutir a “violência como método” nestes termos: “linguagem correta da disputa histórica”).

Segundo Avritzer “a violência não é uma categoria da política e quanto mais a política a utiliza, mas problemas ela terá na construção de uma ordem democrática posterior”. 

Talvez no mundo tal-como-deveria-ser de Avritzer a violência não seja uma categoria da política; mas no mundo da política tal-como-ela-é a violência é sim parte integrante da política, como bem resumiu um cidadão “acima de qualquer suspeita” como Weber, para quem a essência do Estado é o monopólio da violência.

Portanto, a primeira parte da frase de Avritzer só teria algum sentido se fosse reescrita como um desejo, algo mais ou menos assim: “a violência não deveria ser uma categoria da política”.

E realmente seria muito mais saudável fazer política num mundo onde só existisse a força dos argumentos, onde o argumento da força estivesse totalmente proscrito. 

Bom motivo, por sinal, para lutar por uma sociedade “sem Estado, sem classes, sem opressão, dominação nem exploração de nenhum tipo”.

Mas como a violência é uma “categoria” da política realmente existente em toda sociedade onde existe a luta de classes e o imperialismo, é necessário discutir o que fazer a respeito.

A resposta de Avritzer é: “quanto mais a esquerda a utiliza [utiliza a violência], mais problemas ela terá na construção de uma ordem democrática posterior”. 

Tal como está escrita, a frase descreve unilateralmente a realidade.

Afinal, há abundantes provas de que atos violentos tanto podem ajudar a limitar quanto podem ajudar a ampliar as condições de exercício da democracia.

Os golpes militares, a chamada Guerra do Paraguai, a guerra contra o terror, a violência policial na periferia e os feminicídios são alguns exemplos do primeiro tipo: limitadores.

A guerra de independência e a guerra civil nos EUA, a violência popular em 1789, as revoluções socialistas na Rússia, na China e em Cuba, e o Black Lives Matter são alguns exemplos do segundo tipo: ampliadores.

Talvez Avritzer seja unilateral na abordagem da questão, porque ele pressupõe axiomaticamente algo que simplesmente não existe: uma “ordem democrática” (portanto, um Estado) em que a “violência” não é uma “categoria” da “política”.

Na vida real, enquanto houver Estado, a política incluirá algum nível de violência. 

Portanto, se queremos intervir no mundo real, trata-se de discutir momento, forma, intensidade e – principalmente – conteúdo de classe (de quem é a violência, contra quem e a favor do quê).

A alternativa – abrir mão desta discussão, achar que a violência não é uma categoria da política – é aceitar que uma parte da sociedade tem o direito (divino?) de exercer a violência, cabendo a outra parte uma recusa por princípio. 

A única “vantagem” que esta atitude nos traria é que - derrotados por W.O. - não vamos precisar enfrentar os “problemas” sobre os quais Avritzer alerta, problemas que são reais, que aparecem não apenas na “construção de uma ordem democrática posterior”, mas também na luta aqui e agora por soberania, liberdades e direitos. 

Isto posto, é curioso que este debate sobre o papel da violência na história  - aliás, recomendo aos interessados ler o que Engels escreveu a respeito – tenha como gatilho disparador a defumação de Borba Gato.

Todo mundo sabe que parte da população de nosso país vive sob um clima de violência permanente, e isso não é de agora. Este ambiente de violência crônica se agravou depois do golpe de 2016 e da eleição de Bolsonaro. 

Parte da extrema-direita fala e uma parte dela acredita sinceramente que está se preparando um golpe da esquerda. “Argumento” parecido ao adotado em 1964. 

Neste contexto é muito sintomático que o debate sobre a violência tenha como disparador uma "ação direta" que – vamos combinar – não passou daquilo que Avritzer resume como um “acerto de contas com injustiças presentes e passadas”.

É sintomático mas é compreensível: num país em que a classe dominante não faz nenhuma concessão, em que a ditadura volta sem nunca ter ido completamente embora, qualquer ato que pareça revolucionário – e não precisa parecer ser bolchevique, basta parecer ser jacobino – causa imensa preocupação, digamos assim.

Preocupação na direita e preocupação em uma parte da esquerda.

Afinal, se o povo brasileiro resolvesse retribuir a violência de que é vítima cotidiana, a defumação vai parecer brincadeira de criança.

A esse respeito, Avritzer diz o seguinte: “Trata-se sim de rever o passado e as injustiças do passado. Porém, revê-las deve necessariamente passar por categorias que não utilizam a violência porque o objetivo dessa revisão é a construção de uma ordem democrática e igualitária. Portanto, o ato de revisão e o ato de construção devem ser compatíveis e a violência não é compatível com a política democrática”.

Já observei que Avritzer está historicamente equivocado: a violência é “compatível” e uma parte inseparável da política democrática. 

Mas deixemos a história de lado e nos concentremos na política. 

Pergunto: se a esquerda agir como Avritzer sugere, a direita fará o mesmo? Se formos moderados, eles também se moderarão?  

Não concordo com parte da abordagem que Safatle dá ao problema. O esquerdismo – especialmente o estético - não resolverá nossos problemas. Mas a abordagem de Avritzer tampouco contribui para enfrentar os problemas concretos da luta contra um governo como o de Bolsonaro, nem da luta contra um capitalismo como o brasileiro. 

Não resolve porque, sem trocadilhos, nos desarma no tratamento de temas candentes como a tutela militar, a violência policial e paramilitar.

Mas não resolve, também, porque o problema de Avritzer não é com a “violência”, é com as revoluções. 

Avritzer repudia as revoluções “baseadas na violência”, que seriam incapazes de “construírem formas democráticas depois do fim dos antigos regimes”.

Confesso que é assustador ler isto, em parte porque toda a nossa tradição democrática está assentada nas grandes revoluções dos séculos 17, 18, 19 e 20, revoluções que como é óbvio envolveram alguma dose de violência, na imensa maioria dos casos tendo como gatilho disparador a violência das classes dominantes, dos contrarrevolucionários ou de potências estrangeiras.

As "formas democráticas" modernas têm origem nas revoluções "baseadas na violência".

Me assusto, principalmente, porque não vejo a menor possibilidade de o Brasil superar as estruturas que nos oprimem – que inclui a dependência externa, a subalternidade, a desindustrialização, a política oligárquica, a destruição ambiental, a herança da escravidão, a desigualdade abissal - sem uma revolução socialista. Revolução que será profundamente democrática, mesmo que a classe dominante nos empurre para a violência.

Como se vê, Gato e a turma da revolução periférica provocaram um debate que vai muito além da defumação.

Galo livre! Brasil livre!