quinta-feira, 28 de abril de 2016

Roteiro para fala na mesa-redonda de 29 de abril



As direitas e o golpe no Brasil
(Roteiro para fala na mesa-redonda de 29 de abril)

Agradeço o convite para participar desta mesa-redonda sobre as direitas e o golpe no Brasil.

Tendo em vista o que foi dito recentemente por Ayres Brito (“pausa democrática”) e por Bolivar Lamounier, começo explicando por qual motivo estamos diante de um golpe.

A legislação brasileira prevê a possibilidade de impeachment apenas em caso de “crime de responsabilidade”. Segundo a acusação aceita pela Câmara dos Deputados, o "crime de responsabilidade" que a presidenta Dilma Rousseff teria cometido consiste em créditos suplementares e pedaladas fiscais.

Tal acusação é uma fraude. O Advogado Geral da União já demonstrou, sem ter sido refutado, que não houve crime de responsabilidade. Lembrou, também, que o vice-presidente, a maioria dos atuais governadores e o ex-presidente FHC cometeram os mesmos atos pelos quais a presidenta é acusada.

Impeachment sem crime de responsabilidade é golpe. No regime político brasileiro, não existe terceiro turno da eleição presidencial. Se o parlamento (usando o impeachment como pretexto) transforma-se em câmara revisora, substituindo quem foi eleito por quem é do gosto da maioria parlamentar, estaremos de volta à República Velha.

A Câmara dos Deputados sabe que a presidenta Dilma Rousseff não cometeu nenhum crime. Tanto é assim, que a maioria dos que votaram a favor do impeachment não se deu ao trabalho de mencionar a existência do crime de responsabilidade.

Quase todos os que votaram a favor do impeachment gastaram seus segundos de "fama" acusando a presidenta Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores de todo tipo de barbaridade. Acusações que seriam cabíveis (verdadeiras ou não) numa campanha eleitoral, mas não são legítimas nem legais como justificativas ou argumentos de um impeachment.

Além disso, há inúmeros indícios de que muitos parlamentares votaram a favor do impeachment na expectativa de interromper as investigações em curso sobre eles no âmbito da Operação Lava Jato e/ou devido a gestões empresariais pouco republicanas.

Há elementos de sobra para o Supremo Tribunal Federal interromper o processo, seja por conta da inépcia da acusação, da condução do processo, da motivação e conteúdo da maioria dos votos. Mas até agora a maioria dos ministros togados preferiu não agir em defesa da Constituição, mostrando que há diversos ramos do Estado envolvidos no atual golpe.

Na ausência de crime de responsabilidade, impeachment é um golpe contra a soberania popular. Um golpe parlamentar, em que a maioria do parlamento usurpa um direito que é da maioria da população: o de escolher quem preside o país e com qual programa.

Vale dizer que os golpistas não estão esperando: tanto no Senado quanto na Câmara dos Deputados, estão sendo aprovados projetos de orientação neoliberal e conservadora, que alteram o regime de partilha, o papel das estatais, a CLT etc.

Por ser um golpe parlamentar, não é um golpe menos perigoso, como pode constatar quem acompanhou as declarações de voto de mais de três centenas de parlamentares.

A votação ocorrida na Câmara dos Deputados, especialmente a justificativa de cada voto, foi uma autópsia ao vivo e em cores do sistema político brasileiro.

Os que votaram contra o impeachment justificaram seu voto com dois argumentos básicos: a defesa da democracia e a defesa da classe trabalhadora. Lançaram mão, portanto, de argumentos de natureza pública.

Já os que votaram a favor do impeachment usaram e abusaram de referências a Deus, a suas famílias, bem como ao desejo de destruir a esquerda.

Lançaram mão, portanto, de argumentos fundamentalistas, patrimonialistas, machistas, homofóbicos, fascistas, apologistas da tortura e da ditadura. O comportamento da maioria dos parlamentares foi simplesmente repulsivo.

Ficou explícito o confronto entre duas visões de mundo, duas concepções de Brasil e duas formas diferentes de conceber a política e a representação popular. Uma de esquerda e outra de direita, no sentido mais amplo e clássico da palavra: a postura frente a igualdade e a liberdade.

Embora o golpismo seja “de direita”, os golpistas são muitos e as direitas são várias, como bem alerta o título da nossa mesa-redonda.

Por isto, é importante fazer uma análise da coalizão golpista que vá além do gangster e do conspirador, vá além das aparências ideológicas e políticas e indique sua base de classe, suas expressões políticas e seus objetivos estratégicos, bem como as implicações que isto tem para a esquerda, tanto do ponto de vista tático quanto estratégico.

Do ponto de vista social, há três setores favoráveis ao golpe parlamentar:

a) setores da classe trabalhadora insatisfeitos com a política recessivas do governo Dilma. Estes setores não estão mobilizados, acompanham à distância e começam a perceber que um governo golpista afetará para pior as condições de vida do povo;

b) setores da classe trabalhadora insatisfeitos com as políticas inclusivas do governo Lula. Estes setores (geralmente denominados de “classe média tradicional”) são a tropa de choque do golpismo;

c) o grande capital, nacional e estrangeiro. Este setor é a cabeça real do movimento golpista, como se pode perceber pela movimentação extraordinária de jatinhos privados no aeroporto de Brasília, na véspera da votação do impeachment na Câmara dos Deputados;

Do ponto de vista político –portanto das “direitas” no sentido estrito da palavra--  o golpe envolve:

d) setores do aparato de Estado, especialmente na Polícia Federal, no Ministério Público e na Justiça Federal, com ramificações em outros setores, como se pode perceber pelo boicote ativo ou passivo às determinações do governo;

e) os partidos institucionais de centro-direita, com destaque para o PMDB e o PSDB;

f) uma direita de tipo fascista, que começa a ganhar cada vez mais peso institucional, como se pode ver nos apoios a facínoras como Jair Bolsonaro;

g) as igrejas conservadoras, que desde 2003 vieram constituindo uma bancada própria no parlamento e uma imensa força política e ideológica;

h) o oligopólio midiático, tendo a Globo como cabeça.

Uma questão importante é saber como se constituiu esta coalizão golpista e como ela converteu-se, mesmo que seja momentaneamente, em majoritária na sociedade brasileira.

O impeachment faz parte de uma contraofensiva conservadora iniciada em 2011, com ramificações internacionais e que já obteve importantes vitórias na América Latina e Caribe, especialmente na Argentina e Venezuela.

É evidente a participação nesta contraofensiva, explícita ou implícita, dos Estados Unidos, inclusive no fornecimento de informações aos condutores da Operação Lava Jato.

No caso do Brasil, esta contraofensiva possui três objetivos:

a) realinhamento com os Estados Unidos, afastando-nos dos Brics e da integração regional;

b) redução do salário e da renda dos setores populares, diminuindo as verbas das políticas sociais, alterando a legislação trabalhista, reduzindo direitos, não reajustando salários e pensões, provocando desemprego e arrocho;

c)diminuição das liberdades democráticas, criminalizando a política, os movimentos sociais e os partidos de esquerda, partidarizando a justiça, ampliando o terrorismo policial-militar especialmente contra os pobres, moradores de periferia e negros, subordinando o Estado laico ao fundamentalismo religioso, agredindo os direitos das mulheres, dos setores populares, dos indígenas.

Desde 2011, estes setores implementaram duas táticas que se combinavam e alimentavam mutuamente.

A primeira delas consistia em derrotar Lula, o PT e o governo Dilma, empurrando este último a abandonar o programa vitorioso nas eleições de 2014, provocando recessão e descontentamento popular, divisão e desgaste na esquerda, conduzindo-nos assim para uma derrota nas eleições de 2016 e 2018.

A outra tática residia em destruir Lula, o PT e o governo Dilma, através da Operação Lava Jato, de uma brutal campanha midiática e de medidas visando antecipar o fim do governo, via processo no Tribunal Superior Eleitoral ou através de impeachment no Parlamento.

Por razões que posso abordar no debate, desde que Lula aceitou o convite para compor o ministério de Dilma, os diferentes setores da oposição de direita unificaram-se em torno desta segunda tática, empurrando o país para uma crise política e institucional similar a que caracterizou o período 1954-1964.

Ainda que setores da direita possam estar apostando no impeachment exclusivamente por oportunismo tático e sem necessariamente tirar daí conclusões estratégicas, o fenômeno de conjunto tem uma dimensão que precisa estar clara para nós: do ponto de vista de amplos setores do grande capital, é preciso superar os parâmetros dentro dos quais o país vem movendo-se desde a Constituição de 1988, desde a CLT e num certo sentido desde o ciclo de industrialização pós-1930.

Como a esquerda não quer e não pode compactuar com isto (apesar dos esforços feitos por figuras como Antonio Palocci e Nelson Barbosa) e como a esquerda venceu quatro eleições presidenciais seguidas, segmentos crescentes da classe dominante e de sua direção política (“as direitas”) chegaram a conclusão de que a esquerda não pode governar, não pode disputar eleições com chance de vitória, não pode sequer existir.

O golpe, portanto, não é um detalhe, uma casualidade, uma artimanha.

Mesmo que tenhamos êxito em derrotar o impeachment no Senado, a luta contra o golpismo terá continuidade, pois o "chip golpista" (ou seja, a ruptura com a institucionalidade democrática) está no DNA das elites: ficou adormecido por algum tempo e agora foi ativado por uma determinada conjuntura internacional e nacional.

A partir de 2011, a confluência entre a crise internacional, a dinâmica da economia nacional e as contradições político-sociais acumuladas em duas gestões presidenciais conduziram a um acirramento da luta de classes no país.

Esse acirramento assumiu diferentes formas, algumas aparentemente confusas (como as oscilações da política econômica do primeiro mandato de Dilma ou as jornadas de junho de 2013), outras cada vez mais nítidas (como o segundo turno de 2014 e as manifestações pró/contra impeachment).

O acirramento da luta de classes é ao mesmo tempo causa e efeito do impasse estratégico em que está metida a sociedade brasileira: o que está em questão é o conjunto da obra, ou seja, a definição do padrão de desenvolvimento que o Brasil vai seguir nos próximos anos e décadas.

Neste contexto, para materializar seus propósitos estratégicos a classe dominante precisa golpear profundamente as forças de esquerda, os setores populares, democráticos e progressistas em geral.

O impeachment é parte deste movimento, que não se limita a ele. Inclui também ações judiciais contra as esquerdas políticas e sociais, condução coercitiva e prisão de lideranças, constrangimento midiático e financeiro, combinado a repressão por parte das forças de segurança e paramilitares.

Por isto, tanto em caso de vitória quando de derrota na luta contra o impeachment, a tendência seguirá sendo de aprofundamento dos conflitos políticos e sociais. Também por isto é importante derrotar o impeachment: para que o governo possa ser, não um instrumento nas mãos da direita, mas um instrumento nas mãos da esquerda.

Parte da esquerda brasileira ainda não se deu conta das implicações estratégicas do golpismo. 

Depois do mais longo período de liberdades democráticas da história do Brasil, uma parte da esquerda esqueceu (ou deixou adormecido) o que sabemos (e já sabíamos) sobre o compromisso das classes dominantes com a democracia.

Hoje, enquanto a direita radicaliza no discurso e na prática antidemocrática, a esquerda reafirma seu compromisso com as liberdades democráticas. Isto é correto, por razões de princípio, estratégicas e táticas.

Incorreto é alimentarmos ilusões no compromisso da classe dominante com a legalidade e a institucionalidade, como aquele acontece com boa parte dos discursos em defesa do “Estado de direito”, da “democracia como valor universal” e dos “objetivos republicanos” da Operação Lava Jato.

Acontece que não basta que a esquerda tenha disposição democrática. O “jogo democrático” exige pelo menos dois participantes. E para que a democracia fosse realmente um “valor universal”, seria necessário que a classe dominante tivesse algo mais do que um compromisso formal, episódico e circunstancial com ela.

A medida que a oposição de direita usa a institucionalidade contra a democracia, a esquerda precisa defender as liberdades democráticas agindo contra as instituições golpistas. O que nos remete para um debate acerca da estratégia adotada pelo PT desde 1995 e aprofundada a partir de 2003, estratégia baseada na conciliação de classes e na superestimação da luta institucional. Mas este tema escapa dos propósitos desta mesa redonda.

Entendo que as direitas estão muito próximo de obter uma vitória estratégica.

A batalha contra o golpe parlamentar (impeachment) tem três etapas, cujas datas aproximadas são: 1) até o dia 11 de maio, quando o Senado deve votar se instala ou não o processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff; 2) o processo propriamente dito, que pode durar entre alguns dias até seis meses, período em que o governo será do conspirador; 3) após o julgamento e até a eleição de 2018.

A oposição possui maioria simples no Senado. Portanto, será preciso um enorme esforço para impedir que eles iniciem o processo contra a presidenta Dilma Rousseff. 

Ajuda nisto as diferenças e problemas existentes entre os golpistas:

a) apesar do refluxo na mobilização de rua, a batalha pela opinião pública e pelas ruas deixou de ser um passeio para a oposição;

b) a capacidade de mobilização da esquerda é maior do que eles pensavam e, mesmo que não seja capaz de deter o impeachment, poderá dificultar a governabilidade dos golpistas;

c) um governo encabeçado por Temer e Cunha tem um DNA corrupto e corruptor, ajudando a desmascarar a hipocrisia do argumento utilizado contra o PT;

d) não haverá como esconder que um governo resultante de um golpe parlamentar significa um retrocesso para um país que há muitos anos elege diretamente seu presidente;

e) para agradar seus financiadores, um governo Temer-Cunha, com maior ou menor celeridade, com ou sem demagogias de início, terá que aprofundar a recessão e avançar sobre os direitos sociais, o que vai gerar resistência popular e impactos eleitorais;

f) não há unidade, nas oposições de direita, acerca da tática e da candidatura presidencial em 2018, ao tempo em que Lula persiste como forte referência do campo democrático, popular e progressista. (Motivo pelo qual a direita está decidida a liquidar esta "ameaça", custe o que custar).

Não devemos minimizar nem superestimar os problemas e contradições existentes na oposição de direita.

Como já foi dito, apesar do crescimento da mobilização popular, a maioria do povo e da classe trabalhadora ainda não está engajada em defesa da democracia, o que ajuda os golpistas.

Por outro lado, o crescimento do desemprego poderá ser utilizado, pelo Capital e por um cada vez mais provável governo Temer, para chantagear a classe trabalhadora, seja no sentido de derrubar os princípios da CLT (colocando o negociado acima do legislado e generalizando a terceirização), seja no sentido de fazer a reforma da previdência.

Além disso, o grande capital em geral e o imperialismo tem tanto interesse em liquidar a esquerda, que não devemos subestimar sua capacidade de manobra.

Portanto, embora os golpistas estejam comprometidos com um pacote de maldades, isto não quer dizer que haverá imediatamente uma reação à altura por parte dos setores populares, seja antes da votação no Senado, seja imediatamente depois.

Aliás, é bom lembrar que um governo golpista poderá tentar imputar suas maldades à suposta herança maldita que teriam recebido dos governos encabeçados pelo PT, contando para reforçar esta "narrativa" com a ajuda da barragem publicitária do oligopólio da mídia.

Entretanto, tudo levado em conta, é preciso lutar “casa-a-casa” contra os golpistas, pois quanto maior for nossa resistência agora, mais fácil será a retomada posterior. As eleições de 2016 são parte desta luta.

Caso o golpe tenha sucesso, caberá avaliar qual deve ser nossa tática durante o processo no Senado e frente ao governo golpista, momento que pode coincidir com as Olimpíadas e a campanha das eleições municipais.

Desde já podemos dizer que faremos de tudo para impedir que o governo golpista cumpra o mandato para o qual ele não foi eleito. Neste contexto, será imperativo defender que se devolva ao povo uma decisão que só ele tem legitimidade para adotar. Há várias formas de fazê-lo, entre as quais a convocação de uma Assembleia Constituinte que faça uma reforma política, a eleição de um novo Congresso Nacional e do presidente da República. Hoje, entretanto, o governo e as forças que o defendem não podem adotar argumentos que enfraqueçam sua legalidade e legitimidade; nem podemos considerar “democráticas” eleições que ocorram num ambiente de efetiva “exceção”.

Um comentário final: a ofensiva da direita transformou em pó as interpretações da “ultraesquerda” e dos “ultramoderados”. Embora pareçam antagônicas, ambas  interpretações são simétricas, pois acreditavam que o capital, o oligopólio da mídia e a direita seriam tolerantes com a presença do PT no governo federal.

Para a ultraesquerda, o PT seria um instrumento da classe dominante. Para os ultramoderados, o PT estaria demonstrando como salvar o capitalismo brasileiro de si mesmo.

Acontece que, apesar de ter conciliado com o grande capital, com a direita e com o oligopólio da mídia, o PT continuou sendo um estranho no ninho. A classe dominante nunca apreciou sua presença no governo, nem as importantes, porém estruturalmente tímidas, políticas que colocamos em prática desde 2003. A classe dominante nos suportou por um breve tempo, enquanto a correlação de forças impunha e enquanto a relação custo-benefício justificava. Ou seja, mais ou menos até o final de 2010.

Agora será possível, além de derrotar a contraofensiva conservadora, criar as condições para uma ofensiva da esquerda? Não há como saber.

Mas sabemos que, em caso de derrota, um preço muito alto será pago pela classe trabalhadora, no Brasil e região. Motivo pelo qual temos o dever de continuar lutando. Sendo importante, para o êxito desta luta, estudar a situação mundial como um todo, em particular a ofensiva das direitas em países da região, como Argentina e Venezuela.

Sobre a região, faço as seguintes observações.

Primeiro, ficou evidente a falsidade, da “teoria” acerca das “duas esquerdas”, uma “carnívora” e a “vegetariana”. Não porque não existam várias esquerdas latino-americanas, mas porque aquela “teoria” ocultava ou minimizava a existência de uma dinâmica comum a todas as esquerdas regionais. Tão comum que o retrocesso atinge as mais variadas expressões do ciclo de governos progressistas e de esquerda na América Latina e Caribe.

Segundo, ficou evidente a inconsistência tanto daqueles que consideravam que os governos “progressistas e de esquerda” faziam parte da arquitetura neoliberal e imperialista, quanto daqueles que consideravam que a “fórmula” econômica e política adotada pelos governos “progressistas e de esquerda” era no fundamental imune a retrocessos e não deveria sofrer alterações.

Terceiro, ficou evidente o equívoco daqueles que inicialmente subestimaram a contraofensiva da direita regional. Esta teve crescente êxito. No âmbito econômico-social, pressionando, sabotando e revertendo processos e conquistas. No terreno ideológico, contendo, desmoralizando e dividindo os oponentes. E no que diz respeito ao desempenho político-eleitoral, parte da direita regional aprendeu as lições das derrotas sofridas a partir de 1998 e, sempre “combinando formas de luta” (inclusive o paramilitarismo), quase ganhou as eleições presidenciais de 2014 no Brasil, ganhou as eleições presidenciais na Argentina, ganhou as eleições legislativas na Venezuela, venceu o plebiscito na Bolívia e está muito perto de conquistar – via golpe parlamentar – a “joia da coroa”.

Acontece que Argentina, junto com Brasil e Venezuela, cumpriam papel decisivo no processo de integração regional, constituindo a retaguarda estratégica de cada uma das esquerdas da região. Portanto, a alteração do quadro político nestes países altera a dinâmica da integração regional.

Independente dos motivos específicos, táticos, conjunturais, episódios e as vezes “pessoais” envolvidos em cada situação nacional, há um processo regional e mundial que devemos levar em consideração.

Em escala mundial, as grandes variáveis são: a defensiva estratégica da classe trabalhadora, desde o fim da URSS; a decorrente hegemonia capitalista, numa intensidade superior a de outras épocas da história; a profundidade da crise capitalista, consequência combinada das outras duas variáveis; o declínio da hegemonia dos Estados Unidos e o esforço brutal que eles estão fazendo para interromper e reverter este declínio; a disputa entre diferentes formas de capitalismos, e não entre capitalismo e socialismo, como sendo o fio condutor das grandes disputas mundiais; a formação de blocos regionais, principalmente como reação defensiva aos processos citados; e, por fim, mas não menos importante, uma tendência a instabilidade, a crises e a conflitos cada vez mais profundos.

Em escala regional, alguns dos elementos a considerar são:

a) o impacto da situação mundial, especialmente da crise, sobre a região;

b) a ação dos Estados Unidos: recuperará sua hegemonia global? Concentrará energias na sua hegemonia regional? Esgotará suas energias no conflito interno ao próprio país?

c) o comportamento do grande capital latinoamericano, em especial dos setores transnacionalizados.

Sabíamos que do “humor” do grande capital dependeria a estabilidade da via eleitoral e a solidez dos governos pluriclassistas.

Ou, invertendo o raciocínio, sua falta de “humor” levaria a uma radicalização das condições da luta de classe na região e em cada país.

O que vem ocorrendo nos últimos anos resolveu grande parte da discussão sobre a conduta deste grande capital frente aos governos progressistas e de esquerda, frente aos processos regionais de integração, assim como sobre a existência de uma burguesia regional disposta a competir com as burguesias metropolitanas, capaz de aspirar um papel protagonista no cenário mundial.

Aliás, a discussão sobre as "direitas" não pode servir de biombo: o que realmente estamos discutindo é a postura do grande capital, não apenas de seus funcionários.

d) além dos três elementos antes tratados, há que se discutir também a capacidade e disposição dos setores hegemônicos da esquerda regional --partidos políticos, movimentos sociais, intelectualidades e governos.

Independente da discussão sobre “narrativas e responsabilidades”, que inclui o debate sobre o programa, a estratégia e a tática das diferentes esquerdas regionais, é preciso reconhecer que está se encerrando um período no qual foi possível utilizar a presença em vários governos nacionais para aprofundar a integração regional, ampliar a soberania nacional, democratizar a política, melhorar o bem-estar social e gerar desenvolvimento econômico, mas sem alterar os padrões estruturais de dependência externa, concentração de propriedade e poder vigentes na região há mais de um século.

Dito de outra forma: está chegando ao fim a tentativa de realizar um ciclo de desenvolvimento capitalista com reformismo social e político sob hegemonia da esquerda. 

Está chegando ao fim por obra e graça de uma reação do grande capital, do imperialismo e de seus aliados. Reação frente a qual a esquerda não conseguiu, ao menos até agora, opor uma resistência exitosa.

Caso efetivamente o processo chegue ao fim, o mais provável é que vivamos um ciclo de restauração regional, que pode ter curta ou média duração, ciclo que poderá assumir diferentes formas e nos quais a esquerda manterá maiores ou menores espaços nacionais e regionais.

Se isto acontecer, para melhor resistir e para preparar a contraofensiva, as esquerdas terão que fazer um balanço do ocorrido. Balanço no qual não se deve repetir o erro cometido por alguns nos anos 1990, quando no balanço do colapso da União Soviética, muitos jogaram fora a criança junto com a água de banho (sem falar na postura dos que saudavam a queda da URSS como manifestação de uma revolução política dos trabalhadores).

As direitas nos atacam por conta de nossas qualidades. Entretanto, seu deriva, em boa medida, de nossos defeitos e insuficiências. Os obstáculos são muitos e o tempo é curto. Mesmo assim, ao menos para nós que ajudamos a construir, que valorizamos e que queremos preservar e dar continuidade à experiência encabeçada pelo Partido dos Trabalhadores desde os anos 1980 e expressa pelo Foro de São Paulo a partir dos anos 1990, não existe alternativa justa e boa a não ser lutar, deter a ofensiva da direita, ganhar um tempo para respirar, reorganizar as forças e voltar a avançar.





segunda-feira, 25 de abril de 2016

Página 13 especial primeiro de maio de 2016

http://www.pagina13.org.br/noticias/saiu-o-pagina-13-especial-do-1o-de-maio/#.Vx30evkrKUm

O texto que ocupa as 8 páginas desta edição especial 1 de maio de 2016 do jornal Página 13 é um resumo da resolução Contra o golpe e pela democracia: a luta continua, aprovada no dia 22 de abril de 2016, pela direção nacional da tendência petista Articulação de Esquerda.
Mais uma vez o jornal Página 13 traz um encarte especial contra o Golpe, desta vez com um matéria em seu verso analisando a conjuntura e trazendo informações e orientações organizativas importantes.
Outras opiniões e informações podem ser lidas na resolução do Diretório Nacional do PT, reunido no último dia 19/04 e resolução da Frente Brasil Popular, reunida no último 20/04. Estas e outras podem ser encontradas nos endereços abaixo:
www.pt.org.br/conheca-a-nova-resolucao-do-diretorio-nacional-do-pt/ www.frentebrasilpopular.org.br/noticias/a-luta-contra-o-golpe-continua-39e7/
www.pagina13.org.br/resolucoes-e-documentos-da-ae/contra-o-golpe-e-pela-democracia-a-luta-continua/#.Vxt5TDArLIU
www.pagina13.org.br/wladimir-pomar/nem-choro-nem-vela-luta/#.Vxt2vjArLIU

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Contra o golpe e pela democracia: a luta continua

A direção nacional da tendência petista Articulação de Esquerda, reunida no dia 22 de abril de 2016, debateu e aprovou a seguinte resolução.

1.No dia 17 de abril de 2016, a Câmara dos Deputados aprovou (por 367 a favor, 137 contra e 7 abstenções) a admissibilidade do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

2.O processo de impeachment segue agora para análise do Senado. Caso os procedimentos e prazos legais sejam respeitados, por volta do dia 11 de maio o Senado decidirá, por maioria simples, instalar ou não o processo contra a presidenta Dilma.

3.Em caso de instalação, a presidenta Dilma Rousseff será afastada do cargo, assumindo em seu lugar o vice-presidente. Terá início o julgamento, que será feito pelo Senado no prazo máximo de 180 dias.

4.Em algum momento, o processo será conduzido pelo presidente do Supremo Tribunal Federal. A condenação prevalecerá caso receba o voto favorável de no mínimo 2/3 do Senado.

5.A legislação brasileira prevê a possibilidade de impeachment apenas em caso de “crime de responsabilidade”. Segundo a acusação aceita pela Câmara dos Deputados, o "crime de responsabilidade" que a presidenta Dilma Rousseff teria cometido consiste em... créditos suplementares e pedaladas fiscais.

6.Tal acusação é uma fraude. O Advogado Geral da União já demonstrou, sem ter sido refutado, que não houve crime de responsabilidade. Lembrou, também, que o vice-presidente, a maioria dos atuais governadores e o ex-presidente FHC cometeram os mesmos atos pelos quais a presidenta é acusada.

7.Portanto, a maioria da atual Câmara dos Deputados inventou um pretexto fraudulento para tentar destituir uma presidenta eleita por 54 milhões de votos. A oposição de direita pretende fazer o mesmo no Senado. Caso tenha êxito, o atual vice-presidente ganhará a presidência e o atual presidente da Câmara dos Deputados transformar-se-á em vice-presidente.

8.Impeachment sem crime de responsabilidade é golpe. No regime político brasileiro, não existe terceiro turno da eleição presidencial. Se o parlamento (usando o impeachment como pretexto) transforma-se em câmara revisora, substituindo quem foi eleito por quem é do gosto da maioria parlamentar, estaremos de volta à República Velha.

9.A Câmara dos Deputados sabe que a presidenta Dilma Rousseff não cometeu nenhum crime. Tanto é assim, que a maioria dos que votaram a favor do impeachment não se deu ao trabalho de mencionar a existência do crime de responsabilidade.

10.Quase todos os que votaram a favor do impeachment gastaram seus segundos de "fama" acusando a presidenta Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores de todo tipo de barbaridade. Acusações que seriam cabíveis (verdadeiras ou não) numa campanha eleitoral, mas não são legítimas nem legais como justificativas ou argumentos de um impeachment.

11.Há inúmeros indícios de que muitos parlamentares votaram a favor do impeachment na expectativa de interromper as investigações em curso sobre eles no âmbito da Operação Lava Jato e/ou devido a gestões empresariais. Há elementos de sobra para o Supremo Tribunal Federal interromper o processo, seja por conta da inépcia da acusação, da condução do processo, da motivação e conteúdo da maioria dos votos. Mas até agora a maioria dos ministros togados preferiu não agir em defesa da Constituição.

12.Na ausência de crime de responsabilidade, impeachment é um golpe contra a soberania popular. Um golpe parlamentar, em que a maioria do parlamento usurpa um direito que é da maioria da população: o de escolher quem preside o país.

13.Por ser um golpe parlamentar, não é um golpe menos perigoso, como pode constatar quem acompanhou as declarações de voto de mais de três centenas de parlamentares.

14.A votação ocorrida na Câmara dos Deputados, especialmente a justificativa de cada voto, foi uma autópsia ao vivo e em cores do sistema político brasileiro.

15.Os que votaram contra o impeachment justificaram seu voto com dois argumentos básicos: a defesa da democracia e a defesa da classe trabalhadora. Lançaram mão, portanto, de argumentos de natureza pública.

16.Já os que votaram a favor do impeachment usaram e abusaram de referências a Deus, a suas famílias, bem como ao desejo de destruir a esquerda. Lançaram mão, portanto, de argumentos fundamentalistas, patrimonialistas, machistas, homofóbicos, fascistas, apologistas da tortura e da ditadura. O comportamento da maioria dos parlamentares foi repulsivo, constrangendo todo aquele que tiver o mínimo sentido de dignidade humana.

17.Ficou explícito o confronto entre duas visões de mundo, duas concepções de Brasil e duas formas diferentes de conceber a política e a representação popular.

18.Uma delas foi vitoriosa nas eleições presidenciais de 2002, 2006, 2010 e 2014. A outra foi vitoriosa no plenário da Câmara dos Deputados, tendo como símbolo o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), alguém que vários parlamentares corajosos, homens e mulheres, não tiveram dúvida em chamar de gangster. Junto de Cunha e Temer estão a Globo e o oligopólio midiático, o PSDB e o grande capital, a direita institucional e a direita fascista, as igrejas conservadoras e fortes interesses internacionais.

19.A decisão majoritária da Câmara dos Deputados é extremamente nociva para as liberdades democráticas, para os direitos sociais da imensa maioria do povo brasileiro, especialmente para a classe trabalhadora. Por isto estamos convocados a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para reverter o resultado na próxima etapa do processo: o Senado.

20.Como fazer isto foi o principal tema debatido, desde o dia 18 de abril, por cada pessoa e organização envolvida na resistência contra o golpe. As análises e resoluções resultantes devem ser estudadas com atenção pela militância, com destaque para os documentos divulgados pela Frente Brasil Popular, pelo Partido dos Trabalhadores, pela CUT, pelo MST, pela Marcha das Mulheres e pela UNE.

A dimensão estratégica da contraofensiva conservadora

21.A votação de 17 de abril e a batalha no Senado fazem parte de uma contraofensiva conservadora iniciada em 2011, com ramificações internacionais e que já obteve importantes vitórias na América Latina e Caribe, especialmente na Argentina e Venezuela. Fica cada vez mais evidente a participação do imperialismo, inclusive no fornecimento de informações aos condutores da Operação Lava Jato.

22.Esta contraofensiva possui três objetivos: 1) realinhamento com os Estados Unidos, afastando-nos dos Brics e da integração regional; 2) redução do salário e da renda dos setores populares, diminuindo as verbas das políticas sociais, alterando a legislação trabalhista, reduzindo direitos, não reajustando salários e pensões, provocando desemprego e arrocho; 3)diminuição das liberdades democráticas, criminalizando a política, os movimentos sociais e os partidos de esquerda, partidarizando a justiça, ampliando o terrorismo policial-militar especialmente contra os pobres, moradores de periferia e negros, subordinando o Estado laico ao fundamentalismo religioso, agredindo os direitos das mulheres, dos setores populares, dos indígenas.

23.Sob comando do grande capital e tendo como tropa de choque os setores médios tradicionais, fazem parte desta operação a direita tradicional e a direita fascista, igrejas conservadoras e interesses internacionais, o oligopólio da mídia e setores do aparato de Estado, especialmente na Justiça Federal, Ministério Público e Polícia Federal.

24.Desde 2011, estes setores implementaram duas táticas que se combinavam e alimentavam mutuamente. A primeira delas consistia em derrotar Lula, o PT e o governo Dilma, empurrando este último a abandonar o programa vitorioso nas eleições de 2014, provocando recessão e descontentamento popular, divisão e desgaste na esquerda, conduzindo-nos assim para uma derrota nas eleições de 2016 e 2018. A outra tática residia em destruir Lula, o PT e o governo Dilma, através da Operação Lava Jato, de uma brutal campanha midiática e de medidas visando antecipar o fim do governo, via processo no Tribunal Superior Eleitoral ou através de impeachment no Parlamento.

25.A votação na Câmara dos Deputados é a prova de que agora os diferentes setores da oposição de direita unificaram-se em torno desta segunda tática, empurrando o país para uma crise política e institucional similar a que caracterizou o período 1954-1964.

26.Ainda que setores da direita posssam ter apostado no golpe do impeachment exclusivamente por oportunismo tático e sem necessariamente tirar daí conclusões estratégicas, o fenômeno de conjunto abala os parâmetros dentro dos quais o país vem movendo-se desde a Constituição de 1988.

27.Derrotados em quatro eleições presidenciais seguidas, segmentos crescentes da direita chegaram a conclusão de que a esquerda não pode governar, não pode disputar eleições com chance de vitória, não pode sequer existir.

28.Vitoriosos em quatro eleições presidenciais seguidas, segmentos crescentes da esquerda reagem à contraofensiva conservadora reafirmando seu compromisso com as liberdades democráticas.

29.Ou seja: enquanto a direita radicaliza no discurso e na prática antidemocrática, a esquerda reafirma seu compromisso com a legalidade e a institucionalidade, com amplos setores afirmando sua defesa do “Estado de direito” e da “democracia como valor universal”, sem falar naqueles que seguem acreditando nos “objetivos republicanos” da Operação Lava Jato.

30.Acontece que não basta que a esquerda tenha disposição democrática. O “jogo democrático” exige pelo menos dois participantes. Aliás, para que a democracia fosse realmente um “valor universal”, seria necessário que a classe dominante tivesse algo mais do que um compromisso formal, episódico e circunstancial com ela.

31.A medida que a oposição de direita usa a institucionalidade contra a democracia, a esquerda precisa defender as liberdades democráticas agindo contra as instituições golpistas. O que torna necessário introduzir imediatamente alterações na estratégia adotada desde 1995 e aprofundada a partir de 2003.

32.Isto não é algo para ser feito depois de derrotarmos o golpismo. Se quisermos enfrentar exitosamente o golpismo de direita e um cada vez mais provável governo golpista, é preciso abandonar a estratégia baseada na conciliação de classes e na superestimação da luta institucional.

33.Esta mudança na estratégia da esquerda brasileira já está em curso. Sinais disso são, desde o início de 2015, a ênfase na mobilização social, a retomada da disputa cultural e a construção de unidade de ação, inclusive com setores da esquerda que não apoiam o governo Dilma Rousseff. Outro sinal de mudança na estratégia ocorreu quando, chantageados por Eduardo Cunha em dezembro de 2015, recusamos a chantagem. Mas há sinais contrários, também. Por exemplo: após as grandes mobilizações de outubro de 2014, dezembro de 2015 e março de 2016, o governo Dilma adotou, insistiu e aprofundou medidas conservadoras, como a Lei Anti-Terrorismo, o ajuste fiscal recessivo e o PLP 257.

34.Mas para enfrentar o golpismo opositor ou governista, para recuperar a iniciativa e retomar o rumo das mudanças, é preciso que esta mudança de estratégia seja feita por completo, de forma organizada e consciente.

35.Não se trata, portanto, de duas tarefas estanques e sucessivas: uma tática adequada para combater o golpismo deve estar combinada com uma estratégia que combine o institucional com a luta social e cultural, à serviço de um programa democrático-popular e socialista.

36.O momento mais adequado para fazer esta alteração na tática e na estratégia teria sido por volta de 2010, quando a correlação de forças era a mais favorável. Mas os êxitos aparentes ou reais obtidos então levaram a maior parte da esquerda a apostar na continuidade de uma estratégia que, como dissemos já naquela época, entrara na fase de retornos decrescentes. Não apenas apostou-se na continuidade da estratégia, como se radicalizou na tática de conciliação, desta vez trazendo para a nossa chapa o vice golpista, implementando assim a mais desastrada das políticas de aliança: aquela que fortalece os inimigos.

37.Hoje somos obrigados a mudar de estratégia num momento em que a correlação de forças é amplamente desfavorável, com a direita empurrando o país para uma profunda crise econômica, social, institucional e política. Por isto, precisaremos saber combinar radicalidade estratégica com muito realismo tático.

A direita está muito próximo de obter uma vitória estratégica

38.A oposição de direita possui maioria simples no Senado. Portanto, será preciso um enorme esforço para impedir que eles iniciem o processo contra a presidenta Dilma Rousseff.

39.Instalado na presidência, o golpista Temer usará todos os meios para condenar a presidenta Dilma Rousseff, interditar o PT e Lula, investigar e constranger todos aqueles que fazem parte do movimento contra o golpe, vencer as eleições 2016, impedir a esquerda de disputar e de vencer as eleições 2018.

40.Não se trata apenas de Dilma, Lula e o PT. Não é apenas a esquerda que está em questão. Corre risco o conjunto das forças democráticas e progressistas, os direitos sociais e trabalhistas expressos na CLT, as liberdades democráticas e civis garantidas pela Constituição de 1988.

41.É preciso que isto fique absolutamente claro: a direita está muito próximo de obter uma vitória estratégica. Só tendo isto claro, cada militante e cada organização dará o máximo de si.

42.A batalha contra o golpe tem três etapas, cujas datas aproximadas são: 1) até o dia 11 de maio, quando o Senado deve votar se instala ou não o processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff; 2) o processo propriamente dito, que pode durar entre alguns dias até seis meses; 3) após o julgamento e até a eleição de 2018.

43.Mesmo que tenhamos êxito em derrotar o impeachment no dia 11 de maio, ou em qualquer dos momentos seguintes, a luta contra o golpismo terá continuidade, pois o "chip golpista" (ou seja, a ruptura com a institucionalidade democrática) está no DNA das elites, tendo sido ativado por uma determinada conjuntura internacional e nacional.

44.A partir de 2011, a confluência entre a crise internacional, a dinâmica da economia nacional e as contradições político-sociais acumuladas em duas gestões presidenciais conduziram a um acirramento da luta de classes no país.

45.Esse acirramento assumiu diferentes formas, algumas aparentemente confusas (como as oscilações da política econômica do primeiro mandato de Dilma ou as jornadas de junho de 2013), outras cada vez mais nítidas (como o segundo turno de 2014 e as manifestações pró/contra impeachment).

46.O acirramento da luta de classes é ao mesmo tempo causa e efeito do impasse estratégico em que está metida a sociedade brasileira: o que está em questão é o conjunto da obra, ou seja, a definição do padrão de desenvolvimento que o Brasil vai seguir nos próximos anos e décadas.

47.Neste contexto, para materializar seus propósitos estratégicos a classe dominante precisa golpear profundamente as forças de esquerda, os setores populares, democráticos e progressistas em geral. O impeachment é parte deste movimento, que não se limita a ele. Inclui também ações judiciais contra as esquerdas políticas e sociais, condução coercitiva e prisão de lideranças, constrangimento midiático e financeiro, combinado a repressão por parte das forças de segurança e paramilitares.

48.Por isto, tanto em caso de vitória quando de derrota na luta contra o impeachment, a tendência seguirá sendo de aprofundamento dos conflitos políticos e sociais. Também por isto é importante derrotar o impeachment: para que o governo possa ser, não um instrumento nas mãos da direita, mas um instrumento nas mãos da esquerda.

49.Como é óbvio, isto supõe que a presidenta Dilma Rousseff compreenda que é preciso desde já mudar de política. O governo precisa tomar medidas imediatas de geração de emprego e recomposição da renda popular, integrar no ministério lideranças combativas, pactuar um programa de curto e médio prazo com a esquerda política e social. 

50.Nosso êxito na luta pela democracia depende em grande medida destas mudanças imediatas na política econômica. Mesmo que algumas não tenham impacto imediato, representam uma sinalização política fundamental que amplia a capacidade de diálogo e mobilização popular.

51.Um elenco das medidas emergenciais está na resolução do Diretório Nacional do PT de 26 de fevereiro de 2016, medidas que vão na mesma linha das propostas que fizemos já no 5º Congresso do Partido dos Trabalhadores, há um ano. E a Frente Brasil Popular encaminhou à presidenta da República uma lista de medidas imediatas.

52.Se a presidenta Dilma Rousseff não compreender a necessidade de mudar de política, será praticamente impossível derrotar o golpe. Mas mesmo que ela altere o ministério e mude a política econômica, será preciso um imenso esforço de conscientização e mobilização popular, imenso não apenas devido ao número de pessoas a serem convencidas, mas também devido ao reduzido tempo que temos pela frente.

53.As frentes e organizações engajadas na luta contra o golpe já definiram um calendário de mobilização, que inclui desde pequenas ações autônomas até grandes iniciativas unitárias, entre as quais destacamos o Primeiro de Maio, atividades contra a Rede Golpe de Televisão, o corpo a corpo com os senadores, lutas e paralisações em Universidades e empresas, especialmente por ocasião da votação no Senado por volta de 11 de maio.

54.A esquerda deve convidar a classe trabalhadora a refletir sobre a declaração de voto de cada um dos deputados e deputadas, bem como a observar quem ficou de cada lado no circo da sessão de 17 de abril, em que se misturou o cheiro de esgoto cavernícola com a falta de senso de ridículo por parte de grande parte dos “representantes do povo”.

55.Mais do que convencer os senadores, está em jogo convencer a maioria de nossos colegas de trabalho, estudo e moradia e através deles criar um movimento de massas que pressione os senadores a votar contra o golpe. Hoje, a maioria do povo e da classe trabalhadora ainda não está mobilizada em favor do governo; mas é visível que cresce a mobilização e a inquietação com o que pode ocorrer em caso de vitória dos golpistas, especialmente por conta da ameaça de perda de direitos. Na discussão sobre as formas de luta, inclusive a greve geral, nossa política deve levar em conta o estado de ânimo da classe trabalhadora organizada, sempre buscando criar as condições para formas de luta cada vez mais massivas e radicalizadas. 

56.Outro bom argumento no corpo-a-corpo com os senadores será o tratamento que concederemos aos deputados e deputadas. Não haverá paz nem respeito para com os parlamentares cúmplices ou patrocinadores do golpe. Cunha e Temer devem receber atenção especial, pela sua condição de cabeças da vilania. Não haverá paz nem respeito frente a uma quadrilha de picaretas, que de público fala contra a corrupção, mas conspira para arquivar todas as investigações contra seus crimes.

57.Um terceiro argumento é a defesa da legalidade. Reafirmamos que não haverá paz nem respeito frente a um governo ilegítimo, resultante de um golpe parlamentar conduzido por um corrupto, encabeçado por um conspirador que pretende sepultar os direitos sociais inscritos na Constituição de 1988. 

58.É com este espírito que criticamos, discordamos e pedimos a retirada de propostas que vão na linha de eleições gerais, referendo revocatório e antecipação das eleições presidenciais. Aliás, propostas deste tipo nunca deveriam ter sido adotadas unilateralmente por senadores, lideranças partidárias e integrantes do governo. Como se vê, continuam existindo entre nós certos hábitos que precisam ser superados.

59.Claro que eleições gerais, referendo revocatório e antecipação das eleições presidenciais são em tese soluções democráticas, diferentes de um impeachment que resulte num governo golpista. Mas neste momento, qualquer destas propostas implica em questionar a legalidade e a legitimidade de uma presidenta eleita por 54 milhões de votos, introduzindo entre nós uma estranha variante de parlamentarismo, em que um governo pode ser derrubado por uma coalizão espúria entre o poder econômico, o oligopólio da mídia, setores da burocracia estatal e uma maioria corrupta no parlamento.

60.Mesmo motivadas pelo desejo de viabilizar uma saída democrática, que proteja a soberania popular, o resultado prático destas propostas hoje seria jogar água no moinho de uma saída antidemocrática. O governo e as forças que o defendem não podem adotar argumentos que no fundo questionam sua legalidade e legitimidade; nem podemos considerar “democráticas” eleições que ocorram num ambiente de efetiva “exceção”. Por tudo isto, não consideramos que estejamos num momento adequado para adotar propostas deste tipo. A situação se altera caso o golpe tenha sucesso, momento em que caberá avaliar qual deve ser nossa tática durante o processo, que pode coincidir com as Olimpíadas e a campanha das eleições municipais. Desde já podemos dizer que faremos de tudo para impedir que o governo golpista cumpra o mandato para o qual ele não foi eleito. Neste contexto, será imperativo defender que se devolva ao povo uma decisão que só ele tem legitimidade para adotar. Há várias formas de fazê-lo, entre as quais a convocação de uma Assembleia Constituinte que faça uma reforma política, a eleição de um novo Congresso Nacional e do presidente da República.

61.Hoje, entretanto, é hora de concentrar energias para lutar contra um golpe que ainda não se consumou. Para isso devemos levar em devida conta as diferenças e problemas existentes entre os golpistas:

a) a batalha pela opinião pública e pelas ruas deixou de ser um passeio para a oposição; 

b) a capacidade de mobilização da esquerda é maior do que eles pensavam e dificultará a governabilidade dos golpistas; 

c) um governo encabeçado por Temer e Cunha tem um DNA corrupto e corruptor, ajudando a desmascarar a hipocrisia do argumento utilizado contra o PT; 

d) não haverá como esconder que um governo resultante de um golpe parlamentar significa um retrocesso para um país que há muitos anos elege diretamente seu presidente; 

e) para agradar seus financiadores, um governo Temer-Cunha terá que, com maior ou menor celeridade, aprofundar a recessão e avançar sobre os direitos sociais, o que vai gerar resistência popular e impactos eleitorais; 

f) não há unidade, nas oposições de direita, acerca da tática e da candidatura presidencial em 2018, ao tempo em que Lula persiste como forte referência do campo democrático, popular e progressista.

62.Não devemos minimizar nem superestimar os problemas e contradições existentes na oposição de direita. Como já foi dito, apesar do crescimento da mobilização popular, a maioria do povo e da classe trabalhadora ainda não está engajada em defesa da democracia, o que ajuda os golpistas. Por outro lado, o crescimento do desemprego poderá ser utilizado, pelo Capital e por um cada vez mais provável governo Temer, para chantagear a classe trabalhadora, seja no sentido de derrubar os princípios da CLT (colocando o negociado acima do legislado e generalizando a terceirização), seja no sentido de fazer a reforma da previdência. Além disso, o imperialismo e o grande capital tem tanto interesse em liquidar a esquerda, que não devemos subestimar sua capacidade de manobra.


63.Portanto, embora os golpistas estejam comprometidos com um pacote de maldades, isto não quer dizer que haverá imediatamente uma reação à altura por parte dos setores populares, até porque um governo golpista poderá tentar imputar suas maldades à suposta herança maldita que teriam recebido dos governos encabeçados pelo PT, contando para reforçar esta "narrativa" com a ajuda da barragem publicitária do oligopólio da mídia.

64.No dia 17 de abril, a luta contra o impeachment sofreu uma grande derrota e a batalha no Senado será muito difícil. Entretanto, por todos os motivos citados, não deve ser tratada por nós como se fosse uma batalha perdida. E mesmo que assim fosse, ainda assim seria preciso lutar “casa-a-casa” contra os golpistas, pois quanto maior for nossa resistência agora, mais fácil será a retomada posterior. 

65.As eleições de 2016 devem ser vistas como parte desta luta, motivo pelo qual é fundamental reafirmar que não faremos alianças com os partidos e lideranças golpistas. Mantida a decisão do STF, as eleições municipais de 2016 serão também um momento importante para o PT realizar uma autocrítica na prática da prolongada promiscuidade de amplos setores da esquerda brasileira com o financiamento empresarial privado. Mas precisamos saber que será necessário muto tempo, muita coragem e muita autocrítica para reconstruir nossa credibilidade junto a amplos setores da classe trabalhadora e da esquerda. Um Partido que por decisão majoritária de sua direção nacional abriu suas portas para figuras como o senador Delcídio do Amaral tem muitas contas a prestar.

A unidade popular pode ser o saldo estratégico deste processo

66.Em todo o país e no mundo inteiro, centenas de milhares de pessoas foram às ruas para lutar contra o golpismo, com destaque para a juventude e para o mundo da cultura, numa mobilização ao mesmo tempo linda, potente e generosa, que está constituindo na prática uma ampla frente popular, democrática e progressista. 

67.A unidade popular é necessária não apenas para lutar contra o retrocesso, mas para criar as condições para voltar a avançar. Portanto, devemos continuar investindo no trabalho unitário e na mobilização de massas. Até porque é da sua existência que depende a viabilidade da nova estratégia que estamos chamados a construir. Neste sentido, reafirmamos o acerto que foi construir a Frente Brasil Popular, o diálogo com a Frente Povo Sem Medo, o esforço para atrair o PSOL e demais setores da oposição de esquerda. Destacamos, também, a atitude do PCdoB, do PDT e do PCO, entre outras organizações envolvidas com afinco na luta contra o golpismo.

68.Na esquerda brasileira continuarão existindo diferentes análises, programas, estratégias e táticas. Mas isto não constitui um obstáculo intransponível, ou seja, não impede nosso êxito em defender e ampliar os direitos sociais, as liberdades democráticas, a soberania nacional e a integração regional. Nem impede a luta pelo socialismo.

69.Nos marcos desta pluralidade, precisamos da máxima unidade que for possível em torno de uma política acertada. Nos momentos em que o vento está a favor, erros de análise e de política são atropelados pelas mobilizações. Mas nos momentos em que o vento sopra contra, uma análise correta pode fazer muita diferença.

70.Como já dissemos, o ajuste em nossa política não pode se limitar a inflexões táticas. É preciso tirar as devidas conclusões do esforço feito pelo PT e por amplos setores da esquerda, forças democrático-populares e progressistas desde 2003. A esquerda deve pensar suas feridas, avaliar o resultado e decidir os próximos passos, que incluem alterações na estratégia e na tática.

71.Tenhamos ou não êxito nas próximas batalhas contra o golpismo, a esquerda como um todo, especialmente o Partido dos Trabalhadores, precisam encarar de outra forma um conjunto de questões estratégicas, programáticas e organizativas. Não cabe aqui retomar a discussão sobre o acerto ou erro da estratégia adotada desde 1995 e aprofundada desde 2003. Nossa posição a respeito é clara e detalhada em inúmeros documentos.

72.Neste terreno das interpretações, há duas que fracassaram: a da “ultraesquerda” e a dos “ultramoderados”. Embora pareçam antagônicas, na verdade são simétricas, pois ambas acreditavam que o capital, o oligopólio da mídia e a direita seriam tolerantes com a presença do PT no governo federal.

73.Para a ultraesquerda, o PT seria um instrumento da classe dominante. Para os ultramoderados, o PT estaria demonstrando como salvar o capitalismo brasileiro de si mesmo. A vida derrotou ambas as posições. Assim como derrotou a posição dos que desvinculavam a luta pela democracia da luta por mudanças na política econômica. Derrotando, igualmente, os que viam traços “republicanos” na usina farsesca de Curitiba. Os setores majoritários da esquerda brasileira estão convocados a realizar uma análise crítica e autocrítica da experiência iniciada em 2003, das concepções que a orientaram e das atitudes que as caracterizaram, como a conciliação de classes, a superestimação da institucionalidade em detrimento da luta social e cultural, a terceirização das instâncias coletivas em favor de lideranças individuais.

74.Apesar de ter conciliado com o grande capital, com a direita e com o oligopólio da mídia, o PT continuou sendo um estranho no ninho. As elites nunca apreciaram sua presença no governo, nem as importantes, porém estruturalmente tímidas, políticas que colocamos em prática desde 2003. As elites suportaram o que somos e fizemos, enquanto a relação custo-benefício justificava. Ou seja, até 2010.

75.Para derrotar a ofensiva da direita e retomar o caminho das mudanças, precisamos combinar os movimentos táticos já descritos, com uma reorientação estratégica que nos ajude a evitar – num futuro próximo, quando superarmos a defensiva– cair na mesma situação em que estamos hoje.

76.Até porque as mudanças ocorridas na conjuntura internacional, na conjuntura nacional e principalmente na postura dos capitalistas, dos setores médios e populares não permitirão apenas repetir, atualmente, o que foi feito no segundo mandato de Lula.

77.Concordando ou não com o que foi feito naquele momento, hoje é preciso mais radicalismo. Ou seja, desvencilhar-se da conciliação com o grande capital, com a direita e com o oligopólio da mídia. 

78.Num certo sentido, trata-se de retomar uma ideia muito simples que constava na resolução do Encontro do PT realizado em 2001, em Recife: não sairemos do modelo neoliberal sem ruptura. Em 2002, esse conceito foi explicitamente retirado das diretrizes partidárias e agora deve ser reintegrado com honras.

79.A ruptura com o neoliberalismo poderia ter sido feita em 2003 e certamente deveria ter sido feita em 2010, quando a correlação de forças foi a mais favorável destes 14 anos de governo federal petista.

80.Hoje, numa situação muito mais difícil, somos convocados a dobrar a aposta na opção que fizemos diante da crise de 2007-2008: mais investimento público, mais desenvolvimento industrial, mais mercado interno, mais integração regional, mais políticas públicas, mais salário e emprego, mais Estado. Mas não basta repetir o que fizemos naquela época, porque a situação mudou.

81.Só haverá retomada sustentável do crescimento, acompanhada de uma ampliação continuada dos direitos da classe trabalhadora, se forem atendidos cinco pressupostos:

a) quebrar os oligopólios que controlam a economia brasileira, com destaque para o financeiro privado;

b) reconstruir a indústria nacional em todas as suas dimensões, com destaque para a Petrobras (a esse respeito, é preciso derrotar os que pretendem a retomada da privatização, o fim das políticas de conteúdo nacional e de partilha), a Vale (que deve ser retomada pelo poder público) e para um plano de obras públicas que, por meio da construção civil, gere um efeito positivo em todo o setor industrial (destaque-se o impacto que obras de habitação e saneamento terão sobre epidemias como as causadas pelo Aedes).

c) ampliar e baratear a oferta dos bens que compõem a cesta básica (alimentos, transporte, moradia, saúde, educação etc.), sem o que teremos um desenvolvimentismo conservador. O nosso caminho é outro: elevar o emprego e a renda dos setores mais vulneráveis da classe trabalhadora.

d) os três pressupostos acima só se materializarão se houver ampliação da intervenção estatal, inclusive realizando a reforma agrária, a reforma urbana e a ampliação das políticas universais (como saúde e educação).

e) também, como é óbvio, se houver uma correlação de forças que sustente as medidas apontadas, o que remete para a democratização da comunicação social, a reforma política e a democratização do Estado (inclusive dos aparatos de justiça e segurança pública).

82.É possível, além de derrotar a contraofensiva conservadora, criar as condições para uma ofensiva da esquerda? Não há como saber. Mas sabemos que, em caso de derrota, um preço muito alto será pago pela classe trabalhadora, no Brasil e região. Motivo pelo qual temos o dever de continuar lutando. Sendo importante, para o êxito desta luta, estudar a situação mundial como um todo, em particular a ofensiva da direita em países da região, como Argentina e Venezuela.

83. A direita nos ataca por conta de nossas qualidades. Mas tem êxito nesta operação devido, em boa medida, a nossos defeitos e insuficiências. Os obstáculos são muitos e o tempo é curto. Mesmo assim, ao menos para nós que ajudamos a construir, que valorizamos e que queremos dar continuidade à experiência encabeçada pelo Partido dos Trabalhadores desde os anos 1980, não existe alternativa justa e boa a não ser lutar, deter a ofensiva da direita, ganhar um tempo para respirar, reorganizar as forças e voltar a avançar.

84.Um momento fundamental desta reorganização de forças, revisão da estratégia e recomposição das direções será a realização ainda em 2016 de um Congresso extraordinário do Partido dos Trabalhadores, composto por delegações eleitas após debate na base partidária. Outro momento decisivo será a realização da segunda Conferência da Frente Brasil Popular. Como afirmamos desde o início de 2015, precisamos de um partido e de uma esquerda para tempos de guerra, com profundas raízes na classe trabalhadora e comprometido com um Brasil democrático-popular e socialista. A isto continuaremos dedicando o melhor das nossas energias. 

Campinas, 22 de abril de 2016


A direção nacional da tendência petista Articulação de Esquerda