quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Tarso, Xandão e a reconciliação

Alguém já disse que nossa memória é curta.

Pensei nisso ao reler os textos escritos pelo Reinaldo Azevedo, na Veja, atacando o PT.

Penso nisso, também, quando vejo muita gente boa vibrando com os ministros do Supremo, especialmente com Xandão, em particular depois da multa aplicada ao PL.

Até aí, compreensível.

Difícil mesmo é quando passam da vibração para a "teorização".

Foi o que, assim me parece, tentou fazer o companheiro Tarso Genro, em artigo publicado recentemente no Sul 21.

O texto citado está aqui: Xandão é o ‘Filho do Século’ do Estado de Direito (por Tarso Genro) - Sul 21

Nele Tarso afirma que “muitas pessoas de dentro das instituições do Estado – aqui quero me referir a estas sem compará-las com aquelas que na sociedade civil e nos partidos lutaram heroicamente para sustar o avanço do fascismo – merecerão serem lembradas ao longo da nossa história por não desistirem da democracia, num momento de avanço do fascismo em nosso país”.

Realmente, é melhor não comparar, pois se compararmos será inevitável lembrar que “muitas pessoas de dentro das instituições” merecerão ser lembradas por terem traído as liberdades democráticas e terem contribuído para o avanço do fascismo.

Inclusive vários ministros do STF.

Tarso também afirma que Bolsonaro se apressou em montar estruturas paralelas junto ao crime organizado e armar civis para disputar o monopólio da força e das armas com as próprias instituições militares. No episódio atual, portanto, Bolsonaro – o “mito” – tentou formar o “partido militar” depois da eleição, buscando cooptar centenas de militares para cargos de Governo, mas sem conseguir dominar a caserna”.

Não foram centenas, mas milhares de nomeados para cargos.

Não houve disputa do monopólio da violência, porque as forças armadas apoiaram o armamento em massa dos setores ricos.

E a caserna não foi dominada, pelo simples motivo de que é a caserna (ou melhor, o alto comando da caserna) quem domina. Bolsonaro é "apenas" uma das muitas expressões do partido militar.

Tarso diz que Bolsonaro é um “um político medíocre” que pretendia fazer “uma corrosão do sistema “por dentro” das instituições. E ele o faz com o apoio majoritário do Congresso e ergue o fascismo – sem o apoio expresso ou o estímulo das instituições militares – à condição de uma alternativa política concreta, quase consagrada num processo eleitoral de reeleição, no qual ele lutou até o fim para fraudar”.

Sem o apoio expresso dos militares?

Sem o estímulo dos militares?

A verdade é outra: a cúpula das forças armadas foi um dos principais agentes do golpe de 2016 e do que veio depois.

E foi nas forças armadas que se constituiu o núcleo duro das concepções bolsonaristas (ou seja, do atual “fascismo” à brasileira).

Por quais motivos Tarso subestima o papel dos militares na ascensão do bolsonarismo?

Um dos motivos é óbvio: fingindo que eles são menos perigosos do que são, fica mais fácil convencer as pessoas de que devemos (re)conciliar com eles.

Por exemplo, nomeando um ministro da Defesa “escolhido” pelos milicos.

É esta lógica – fazer de Bolsonaro um paraquedista e poupando a responsabilidade das instituições – que leva Tarso a afirmar que o ascenso de Mussolini teria sido o “ascenso da vontade contra a força das instituições”.

A verdade é outra, como demonstra o mesmo Tarso Genro nas linhas seguintes de seu texto, ao falar dos “namoros dos velhos políticos liberais italianos com o autoritarismo” e da “cínica postura dos monárquicos”.

Na Itália fascista, na Alemanha nazista e no Brasil do cavernícola, as “instituições” se dividiram, mas predominou a conciliação com a extrema-direita.

Mais adiante, Tarso afirma o seguinte:

O filho do século, no protofascismo brasileiro, todavia, não estava próximo às estruturas do Estado, nos lugares onde se reproduzia o golpismo bolsonárico (Congresso e Executivo), nem na sociedade civil, que as lideranças fascistas tentavam se organizar com dinheiro e com as promessas utópicas da volta ao passado medieval. Nem era um partido de oposição, nem um mito, nem um grupo; nem era um político de vulto e de responsabilidade como Lula. O filho do século não estava fascinado em observar diretamente o “fascismo societal” em curso, pois era “por dentro do Estado”, submetendo Executivo e as representações do Parlamento que o golpe poderia prosperar. Não tremeu de medo nem vacilou: usou e usa capa preta e não tem vínculos ideológicos com a esquerda. “Xandão”, sem se impressionar com os blefes golpistas e suas ameaças de morte, é o nosso Filho do Século nas instituições do Estado, de modo inverso ao de Mussolini, descrito por Scuratti: sua arma foi e é a Constituição e sua vontade corajosa dentro do STF, foi a maior de todas, desde que a Constituição de 88 foi proclamada por Ulysses Guimarães, que tinha ”nojo da ditadura” e de todos os ditadores”.

A construção dos raciocínios e os elogios a Xandão chegam a ser engraçados, de tão tortuosos e exagerados. Por exemplo: sua arma “foi e é a Constituição”, omitindo que o procedimento de Xandão foi e é "customizado".

Mas o mais interessante é o duplo sentido da afirmação segundo a qual Xandão seria “o nosso Filho do Século nas instituições do Estado, de modo inverso ao de Mussolini”.

Nesta passagem de seu texto, se é que entendi o que ele quis dizer, Tarso atirou no que viu e acertou no que não viu. Ou no que esqueceu de ter visto, pois ontem mesmo Moro e antes dele Barbosa já haviam feito testes para o personagem que – segundo Tarso – Xandão estaria interpretando: o do bonapartista judicial.

Tarso encerra dizendo que provisoriamente, a democracia venceu, mas agora temos que vencer o ódio que os fascistas disseminaram como uma peste medieval, cuja vacina – desdobrada no tempo – deve ser mais democracia, mais comida na mesa, mais educação, liberdade e reconciliação com um futuro de segurança e paz: sem armas e sem gangues de assassinos daqueles “filhos do século” que cultuam a morte e a violência infinita”.

Neste palavrório, o termo chave é “reconciliação”. 

E, ao contrário do que diz Tarso, a verdade é a seguinte: se a "reconciliação" vencer, se a conciliação vencer novamente, se a ilusão nas "instituições" seguir predominante em certas cabeças, o "fascismo" também terá vencido, pouco importando que artista encarnará o "filho do século".

 

 


segunda-feira, 28 de novembro de 2022

GARANTIR A POSSE E INICIAR IMEDIATAMENTE AS TRANSFORMAÇÕES

 Texto debatido na reunião da Dnae realizada dia 27 de novembro.

1.Como dissemos na resolução “SOBRE A TRANSIÇÃO, A POSSE, O NOVO GOVERNO E SUAS MEDIDAS”, a coalizão que venceu as eleições presidenciais, assim como parte importante de nossa base militante e eleitoral, está com suas atenções voltadas para os trabalhos da comissão de transição instalada no CCBB, assim como para a discussão sobre a posse e o futuro governo. Não se dando a devida atenção para o ambiente internacional; para a ação dos neofascistas; para a chantagem dos neoliberais; e para o pano de fundo do processo, a saber, a desindustrialização do país e todos os seus efeitos.

2.Cabe a direção nacional do PT reunir-se imediatamente, definir uma política para a transição, definir suas prioridades para a composição e primeiras medidas do futuro governo. Ao mesmo tempo, devemos dedicar parte de nossa atenção para: i/concluir o balanço do conjunto do processo eleitoral; ii/definir o conjunto de nossa política nacional e internacional para o período aberto com a vitória eleitoral; iii/adotar as medidas organizativas decorrentes, no plano do Partido, das frentes e dos movimentos.

3.O balanço das eleições não é algo trivial. Trata-se de analisar o resultado da eleição presidencial, mas também das eleições para governos estaduais e das eleições parlamentares. Com esta finalidade, além de estimular que o Partido faça tal balanço, começaremos nós mesmos em dezembro um ciclo de seminários sobre o tema.

4.A definição de nossa política nacional e internacional para o período aberto com a vitória eleitoral vai muito além da discussão sobre a transição, a posse e o futuro governo. E exige, como ponto de partida, entender que 2023 não é 2003.

5.A situação internacional segue tempestuosa. A guerra entre Ucrânia e Rússia é parte integrante da guerra estratégica entre Estados Unidos e China. Esta guerra possui dimensões militares, políticas, sociais, econômicas, ambientais e ideológicas. E repercute de diferentes maneiras em cada região do planeta. O governo brasileiro que toma posse no dia 1 de janeiro de 2023 precisará de uma política nacional e internacional que nos permita, no contexto desta guerra global, converter nossa região num dos polos do mundo. E para isso não basta prestígio diplomático, nem tampouco basta ser um grande exportador de primários; para ser um dos polos do mundo, é necessário poder real, o que inclui capacidade científica, tecnológica, industrial. O que nos remete para a transição. Não para aquela transição sediada no CCBB, mas para a outra, a “grande transição” que começou em 1980 e não terminou até hoje.

6.Em 1980 o Brasil estava a caminho para converter-se numa grande potência industrial. Então tivemos a crise da dívida externa, a transição conservadora e os governos dos dois fernandos neoliberais. Como resultado, o país foi se desindustrializando fortemente. Aí vieram os governos Lula e Dilma, que tentaram colocar um freio e até reverter o processo de desindustrialização. Tivemos então o golpe de 2016, os governos “temer” e cavernícola. E de quase potência industrial viramos potência agroexportadora e minérioexportadora, além de paraíso do capital financeiro, o país do "agro é pop, deus, tudo".

7.Essa “grande transição” afetou tudo: mudou a composição da classe dominante, mudou a composição e as condições de vida da classe trabalhadora, mudou o ambiente político e cultural no Brasil. Foi nesse ambiente que os neoliberais vieram e seguem atuando e chantageando. Foi em reação a esse ambiente que a esquerda encabeçada pelo PT ganhou quatro eleições presidenciais entre 2002 e 2014 e agora ganhou novamente. Foi também nesse ambiente que os neofascistas vieram e ainda não foram embora.

8.Na eleição de 2022 impusemos uma derrota eleitoral aos neofascistas. Mas falta muito por fazer. Os neofascistas, seus nomeados e seus aliados continuam ocupando espaços importantes na administração federal (como é o caso da presidência do BC); governam estados importantes (como é o caso de RJ, MG e SP); controlam parte importante do Congresso nacional, sem falar de prefeituras pelo país afora. Por isso, não basta a vitória eleitoral de 2022: se faz necessário impor uma derrota política completa aos neofascistas, o que supõe vencermos as batalhas eleitorais de 2024 e de 2026.

9.Não apenas derrotar politicamente, também é necessário impor uma derrota militar ao neofascismo: trata-se, por exemplo, de desarmar os grupos paramilitares e trata-se, também, de estabelecer outros comandantes, outra cultura e outro padrão de funcionamento às forças armadas e às polícias que foram colonizadas pelo neofascismo.

10.Não apenas derrotar política e militarmente, também é necessário impor uma derrota cultural ao neofascismo: trata-se de construir, na maioria da nossa população, uma cultura democrática, popular, socialista, ao mesmo tempo nacionalista e internacionalista, antiimperialista e latinoamericanista.

11.Não apenas derrotar política, militar e culturalmente, mas também estrutural e institucionalmente: a maneira como funciona o Estado brasileiro e seus marcos constitucionais foram incapazes de impedir o surgimento do neofascismo; mais do que isso, chegaram a estimular a onda neofascista, na exata medida em que estimularam o neoliberalismo. Ou alteramos a atual institucionalidade e o conjunto da sociedade, ou a ameaça neofascista continuará presente, como aliás o golpismo militarista esteve presente em toda a história republicana brasileira.

12.Neste sentido, não cabe enxergar no bonapartismo judicial uma alternativa idônea contra o neofascismo. Não haverá superação do neofascismo, enquanto não houver superação do neoliberalismo, uma nova institucionalidade, uma nova sociedade. E nada disso será produzido pelo caminho da judicialização da política.

13.Por tudo isso e muito mais, uma grande questão é saber se o governo que tomará posse no dia 1 de janeiro de 2023 será capaz de servir de ponto de partida para uma nova “grande transição”, desta vez de subpotência agro-minério-exportadora para uma verdade potência industrial de novo tipo.

14.Para que isso ocorra, há muitas batalhas a serem vencidas e muitas decisões a serem tomadas, entre elas a já citada definição de uma política internacional que aposte na integração regional e nos BRICS; a definição de uma política adequada para enfrentar a hegemonia ora neoliberal, ora neofascista, nas chamadas instituições (STF, BC, Congresso, grande mídia, forças armadas, grande empresariado); medidas práticas e imediatas que nos permitam consolidar e ampliar apoios nos setores populares; e, de imediato, a batalha da posse.

15.Sobre isso, seguem em curso as manifestações da extrema direita, até agora sob o olhar cúmplice dos comandantes de boa parte das forças de segurança e defesa. Não há, por enquanto, sinais de que as manifestações possam converter-se em efetivo golpe.  Mas mesmo não havendo golpe, se nada for feito, a posse não será um passeio; e a ameaça golpista continuará assombrando a política nacional, servindo como instrumento para a chantagem tanto das forças armadas, quanto dos neoliberais, todos interessados em manter a impunidade e o usufruto das benesses e lucros acumulados desde pelo menos 2016.

16.Todas as questões políticas tratadas anteriormente dependem, no limite, de ampliar os níveis de consciência, organização, mobilização e disposição de luta da classe trabalhadora. Noutras palavras, a política depende da organização e vice-versa. Cabe, portanto, debater um conjunto de medidas organizativas no plano do Partido, das frentes e dos movimentos.

17.Teremos pela frente uma longa disputa contra o neofascismo e contra o neoliberalismo. Seguiremos enfrentando imensos desafios de natureza orgânica, que dizem respeito a maneira como nos vinculamos com a classe trabalhadora e que, correlatamente, dizem respeito a maneira como nos organizamos.

18.Afinal, se por um lado o PT mais uma vez reafirmou sua condição de partido de massas, sem o qual não haveria vitória contra o neofascismo; por outro lado também é verdade que em nosso Partido, mas também em todas as organizações de esquerda, há sintomas de degeneração, fadiga de material e desorientação política e ideológica, que se expressam numa contaminação neoliberal e num relaxamento socialdemocrata. Contra isso, é preciso adotar um conjunto de medidas, inclusive organizativas.

19.A primeira dessas medidas: estimular a criação de núcleos presenciais do Partido nos locais de trabalho, nos locais de estudo, nos locais de moradia, nos espaços de cultura e lazer. Não basta ter presença nas redes, é preciso ter presença física na vida cotidiana da classe trabalhadora, participar de suas lutas, de suas entidades. Todo militante deve estar ligado a algum organismo de massa e a algum organismo do Partido. É preciso elaborar, implementar e avaliar de forma contínua um plano cotidiano de trabalho junto as nossas bases sociais e eleitorais. Este é um dos caminhos para que tenhamos um partido de militantes, não um partido de filiados ou de eleitores.

20.Como parte da reconstrução de um partido militante, é preciso lutar para que o PT retome a contribuição financeira militante. E é preciso, para além desta medida essencialmente política, tenhamos iniciativas que nos permitam dispor de mais recursos, tornando possível ter centros culturais e outras iniciativas de massa em cada cidade

21.É preciso que as direções funcionem, em âmbito nacional, em todos os estados, municípios e setores de atuação: reuniões periódicas, análise da situação, divisão de tarefas, balanço do realizado. Este método por si só não garante nada. Mas sem ele, nenhum dos problemas será efetivamente resolvido.

22.É preciso impulsionar nossas atividades de formação e comunicação, de forma a atingir o conjunto da base partidária, social e eleitoral. Se quisermos ampliar a influência do PT, é preciso ter presença institucional, é preciso ter presença nos movimentos sociais, é preciso ter funcionamento adequado da máquina partidária, mas é preciso também e até principalmente ter presença na batalha de ideias. E, como base para isto tudo, é preciso que tenhamos mais capacidade coletiva de formulação acerca dos grandes problemas do mundo, do continente e do Brasil.

23.Finalmente, é preciso enfrentar caso a caso, com paciência e método, os problemas políticos e organizativos que impedem nosso crescimento e/ou que reduzem nossa influência em vários estados e cidades.

24.Nosso partido atua, no mais das vezes, em um ambiente que geralmente é hostil para as posturas militantes e socialistas. Anos de vida eleitoral e institucionalização partidária, as dificuldades dos movimentos sociais, a influência de concepções neoliberais e desenvolvimentistas-conservadoras, a perda da memória e da prática da vida coletiva, agravada pela profissionalização de atividades que antes eram realizadas de forma militante, tudo isso junto e misturado só será superado se houver um trabalho de “retificação” do funcionamento do nosso Partido e, no que couber, das demais organizações da esquerda partidária e social, com quem devemos buscar um trabalho cada vez mais frentista.

25.A experiência prática confirmou todos os problemas existentes na chamada “federação”. O resultado colhido pelo PSB, pelo PDT, pelo PSOL, pelo PCdoB, por organizações como a UP, o PCB e o PSTU, assim como a tática adotada pelo MST e a cisão na chamada Consulta Popular, reafirmaram o papel do Partido dos Trabalhadores como principal referência partidária dos trabalhadores com consciência de classe. Mas é preciso transformar referência em organização, o que inclui convidar para ingressar no PT tanto militantes recém-chegados, quando militantes que se deram conta dos limites dos projetos em que estão atualmente engajados. Neste espírito, damos início agora a uma campanha nacional de filiação ao Partido dos Trabalhadores.

26.Nossa campanha presidencial de 2022 foi vitoriosa porque recebemos o apoio dos trabalhadores pobres, das mulheres trabalhadoras, dos negros e negras com consciência de raça e classe, da intelectualidade democrática, dos que lutam contra o fundamentalismo e contra todo tipo de preconceito, dos povos indígenas e dos quilombolas, da juventude que ocupou um maravilhoso espaço em todas as nossas manifestações, do “nordeste político-cultural” que existe não apenas na região geográfica que chamamos de nordeste, mas no “nordeste” que existe em cada região, estado e cidade de nosso país.

27.Nosso Partido precisa transformar essa base social e eleitoral, que se mobilizou para conquistarmos o governo, em base militante não apenas para defender o governo, mas também para conquistar o poder.

28.Defendemos que o Partido debata a fundo cada uma destas questões e tantas outras que não citamos aqui. No que nos diz respeito, enquanto tendência petista, dedicaremos a estas questões o nosso 8º Congresso Nacional. E, acima de tudo, conclamamos os setores populares a sair às ruas, não apenas na posse, mas principalmente na luta permanente por nossas reivindicações imediatas e históricas.

SOBRE A TRANSIÇÃO, A POSSE, O NOVO GOVERNO E SUAS MEDIDAS

Texto debatido na reunião da Dnae realizada no dia 28 de novembro.

1.Acerca do tema da transição, posse e futuro governo, a direção nacional da tendência petista Articulação de Esquerda realizou duas reuniões nacionais, a primeira no dia 9 de novembro e a segunda no dia 17 novembro de 2022. Também dedicamos aos temas transição, posse e futuro governo a edição do programa Antivírus que foi ao ar no dia 21 de novembro. Os temas também foram tratados na reunião que a direção nacional fez, no dia 23 de novembro, com nossa bancada federal e assessores. Integrantes da Dnae também realizaram reuniões com outros setores do partido, inclusive com as maiores chapas que compõem a executiva nacional do PT. Além disso, nossos militantes, assim como militantes de outros setores do Partido estão se mobilizando e debatendo a transição, a posse e o futuro governo federal, nas bancadas, nos governos estaduais e municipais, nos estados, nos setoriais e nos movimentos sociais. A resolução a seguir busca sistematizar nossa opinião preliminar a respeito.

2.Os integrantes da coalizão que venceu as eleições presidenciais, assim como parte importante de nossa base militante e eleitoral, acompanha com atenção os trabalhos da comissão de transição instalada no CCBB, assim como vem discutindo a posse e o futuro governo.

3.Entretanto, nem sempre se está dando a devida atenção para o ambiente internacional; para a ação dos neofascistas; para a chantagem dos neoliberais; e para o pano de fundo do processo, a saber, a desindustrialização do país e todos os seus efeitos. Tratamos destes temas na resolução de conjuntura debatida, no dia 27 de novembro, pela direção nacional da tendência petista Articulação de Esquerda. Nesta resolução nos focamos na transição, na posse e na composição do futuro governo.

4.Sobre a transição estrito senso, lembramos que ela se fundamenta na Lei 10.609/2002. A primeira transição foi de FHC para Lula. Não há transição em caso de reeleição, motivo pelo qual ela só voltou a ocorrer em 2010, de Lula para Dilma. Por motivos óbvios, não houve transição depois do golpe de 2016. Voltou a haver transição em 2018, de “temer” para o cavernícola. A atual transição começou oficialmente depois do pronunciamento do cavernícola, admitindo (ainda que sem admitir) a derrota, quando o ministro Ciro Nogueira falou que se faria a transição na forma da lei.

5.A transição em curso tem Geraldo Alckmin como coordenador, uma escolha equivocada, que decorre e potencializa o erro decorrente de sua indicação para vice. Registre-se que o presidente Lula disse explicitamente que Alckmin é o coordenador, mas que não será ministro, uma vez que ele é vice-presidente. Apesar disso ou por causa disso, o vice-presidente se sentiu à vontade para dizer recentemente, em palestra num evento denominado “fórum esfera”, que “não tem reformas a serem desfeitas. A reforma trabalhista é importante. Não vai voltar imposto sindical nem legislado sobre acordado”.  

6.A coordenação da transição é composta, além do vice Alckmin, por mais quatro pessoas: Gleisi Hoffmann, que é a coordenadora de relações institucionais (também chamada de “articulação política”); Aloizio Mercadante, coordenador dos grupos temáticos; Rosângela Lula da Silva, mais conhecida como Janja, coordenadora da posse presidencial; e Floriano Pesaro, coordenador executivo. Pesaro, atualmente no PSB, foi vereador em SP e foi deputado federal pelo PSDB, tendo um forte histórico de antipetismo.

7.Vale lembrar que o presidente Lula tem dito, reiteradamente, que estar na transição é uma coisa, estar no governo e ser indicado como ministro é outra. Ou seja, não necessariamente quem está na transição estará no governo. Mas, seja para colaborar na transição, seja para disputar espaço no futuro governo, houve e segue havendo uma forte pressão – vinda de todos os lados, cores e sabores – para participar da transição e/ou para ter contato com quem está na transição.

8.Até o momento, para compor os 31 grupos técnicos que foram criados, foram oficialmente indicados mais de 300 nomes. A maioria desses nomes é de pessoas que foram indicadas para trabalho voluntário.

9.A lei prevê que a equipe oficial, que é nomeada para cargos comissionados remunerados, pode ter até 50 nomes. Os 31 grupos temáticos são os seguintes: 1-Agricultura, pecuária e abastecimento; 2-Cidades; 3-Ciência e tecnologia; 4-Comunicação; 5-Comunicação social; 6-Cultura; 7-Desenvolvimento agrário; 8-Desenvolvimento social; 9-Desenvolvimento regional; 10-Direitos humanos; 11-Economia; 12-Educação; 13-Esporte; 14-Igualdade racial; 15-Indústria e comércio; 16-Infraestrutura; 17-Infância; 18-Justiça e segurança pública; 19-Juventude; 20-Meio ambiente; 21-Minas e energia; 22-Mulheres; 23-Pesca; 24-Planejamento, orçamento e gestão; 25-Povos originários; 26-Previdência social; 27-Relações exteriores; 28-Saúde; 29-Trabalho; 30-Transparência, integridade e controle; 31-Turismo.

10.Em alguns dos grupos temáticos, a composição expressa mais ou menos corretamente o sentido programático do voto dado pela maioria do eleitorado, nos dois turnos da eleição presidencial. Noutros grupos temáticos, há uma representação desproporcional de setores empresariais, neoliberais, conservadores e neoaliados. Além disso, no conjunto da obra há baixa presença de negros e negras, de quadros políticos oriundos do Nordeste e de representações das organizações populares de uma forma geral. Portanto, nesses casos estão subrepresentadas visões importantes, de concepções, de perspectivas de mérito que devem ser levadas em conta na montagem de um governo popular e de esquerda. A baixa participação desses setores na transição, além de passar um sinal ruim, prejudica o mérito do trabalho que irá subsidiar o início do nosso futuro governo.

11.Registramos que não existe um grupo temático sobre Defesa e Forças Armadas. Repete-se, portanto, o gravíssimo erro já cometido desde o debate do Plano de Reconstrução e Transformação, que não diz absolutamente nada sobre o tema; pelo contrário, se decidiu não reafirmar as posições históricas do Partido. Este erro se torna ainda mais grave neste momento, em que os atuais comandantes da Marinha, da Aeronáutica e do Exército soltaram uma nota afirmando que as manifestações pedindo, direta ou indiretamente, "intervenção militar" constituiriam, na opinião deles, algo protegido pela Constituição. Que os atuais comandantes não entendam que forças armadas existem para defender a soberania nacional, não para interferir na política nacional, é mais uma prova de que a caserna está em estado de sedição. A inexistência de um grupo temático expressa a ausência de política para as forças armadas ou a opção por uma política que não pode ser explicada ou defendida de público.

12.Para além do trabalho de transição propriamente dito – parte do qual já está consubstanciado em um detalhado relatório do TCU – a comissão instalada no CCBB está servindo para diálogos sobre o futuro governo, suas políticas e integrantes.

13.Um dos temas mais importantes, no curto prazo, é a questão do orçamento, resumido na chamada PEC da transição. Nesta batalha já estão visíveis alguns dos problemas de fundo que nosso governo enfrentará, desde as diferenças internas sobre o mérito e procedimentos, até as dificuldades oriundas de um Congresso conservador. Aliás, já fica a questão: o que faremos na eleição das mesas da Câmara e do Senado? Em nossa opinião, a política acertada é não se submeter, nem se comprometer, com o Centrão.

14.Outro problema de fundo, mais estratégico, é qual o protagonismo do PT no futuro governo. Na comissão de transição, segundo levantamento feito pela Folha, há 1/3 de petistas. A conta não inclui o próprio Lula; mas o presidente eleito já disse que “o governo não será petista”. Obviamente isso é verdade. Mas também é verdade que o PT precisa definir qual relação terá com o governo que toma posse dia 1 de janeiro de 2023.

15.No período 2003-2016, os partidos de esquerda, o sindicalismo, os movimentos populares e a intelectualidade democrática se dividiram entre os que faziam oposição (supostamente de esquerda) aos nossos governos, os que apoiavam de maneira acrítica e os que apoiavam ao mesmo tempo que disputavam os rumos. A postura que predominou em amplos setores do PT, durante a maior parte do tempo, foi a de apoiar de maneira acrítica. Um dos exemplos disso foi o ocorrido em 2015, quando 55% dos delegados e delegadas ao congresso partidário realizado em Salvador (BA) avalizaram a política econômica do governo, política econômica cujos efeitos contribuíram objetivamente para o sucesso do golpe de 2016.

16.Hoje, precisamos ter claro o seguinte: se o governo é de coalizão, cabe ao presidente da República arbitrar e cabe ao PT apoiar o governo e ao mesmo tempo liderar a esquerda partidária e social na disputa pelos rumos do governo. Fazer isso (apoiar e disputar) exige capacidade de elaboração, exige debate, exige divisão de trabalho, exige política fina. E nada disso vai existir se pelo menos a direção nacional do Partido não se reunir.

17.Dentro dos limites estreitos do que cabe a uma tendência petista, nós da AE temos feito isso. Nosso principal objetivo é garantir que a transição, a composição e as medidas imediatas do novo governo correspondam ao sentido do voto popular que elegeu Lula presidente. Na prática, trata-se de: a) seguir derrotando a extrema-direita; b) bloquear a chantagem dos setores neoliberais; c) garantir o protagonismo do PT, partidos e movimentos sociais da esquerda democrática, popular e socialista.

18.Em relação a extrema-direita, é preciso manter sob vigilância, denunciar e reprimir as manifestações golpistas; manter as medidas de preservação da vida pessoal e coletiva; e, ao mesmo tempo que devemos estimular o comparecimento popular à festa do dia 1 de janeiro, em Brasília, cabe tomar medidas efetivas de proteção ao deslocamento das caravanas e também a manifestação da posse.

19.Como sempre dissemos, frente a extrema-direita não devemos subestimar, nem devemos ter medo. Para derrotar o neofascismo, é preciso ampliar a mobilização e ampliar a organização. Embora as manifestações da extrema direita sejam repletas de matéria-prima para memes cômicos, é um erro naturalizar (mesmo que através do humor) o que está ocorrendo. Não é coincidência, por exemplo, que o atirador assassino que matou várias pessoas no Espírito Santo, fosse um bolsonarista e estivesse usando a suástica. Assim como não é coincidência que, para ilustrar a matéria que falava deste crime cometido por um jovem branco, o jornal O Estado de São Paulo tenha colocado a foto de uma mão negra segurando uma arma.

20.Episódios de violência política seguem ocorrendo em todo o país, assim como seguem os episódios de racismo, os feminicídios, as violências baseadas no fundamentalismo e no preconceito, as ações criminosas de policiais contra as populações pobres, pretas e periféricas. A tendência é que isto prossiga e inclusive se acentue, não apenas antes e durante a posse, mas inclusive depois, pois está evidente que a extrema direita fará oposição da seguinte forma: uma pata na institucionalidade, outra pata nas ruas e o rabo no crime. E é como criminosos que devem ser tratados, desde ontem, os que ameaçam a posse do dia 1 de janeiro, seja com ameaças de atentados, seja com bloqueios promovidos por empresários de transporte.

21.Em relação aos neoliberais, é preciso: a) denunciar e pressionar pela correção dos desequilíbrios existentes na chamada comissão de transição; b) evitar as armadilhas que tendem a nos colocar sob tutela do Centrão. Por incrível que possa parecer, só agora amplos setores de nossa militância, de nossa base social e eleitoral estão se apercebendo das decorrências das alianças feitas no primeiro turno, com destaque para o papel concedido para um cidadão que – a vida demonstrou – teve seu peso eleitoral superestimado. Nos cabe fazer o maior esforço possível para impedir que esta superestimação se traduza em espaço governamental e em políticas públicas.

22.Em relação ao protagonismo da esquerda, é preciso: a) manter a pressão, para que o governo inicie cumprindo o programa, especialmente aquele voltado aos setores mais populares; b) ampliar a representação dos setores democrático populares no processo de transição; c) orientar os movimentos sociais e sindicais a fazerem pressão direta sobre a chamada comissão de transição.

23.Especificamente em relação ao PT, é preciso que as instâncias partidárias (diretórios municipais e estaduais, setoriais e núcleos em todos os níveis, bancadas e governantes municipais/estaduais) se reúnam e aprovem resoluções sobre o tema transição/composição/medidas imediatas, resoluções que devem ser encaminhadas ao Diretório Nacional e ao conjunto do Partido.

24.A militância e as instâncias municipais, estaduais e nacional da tendência petista Articulação de Esquerda devem contribuir para este processo de “ressureição” das instâncias partidárias e canalizar, através das instâncias, nossas propostas e nossas indicações.

25.Lembramos que em processos anteriores, a composição de governo envolveu convites individuais; indicações de instâncias partidárias, de movimentos e organizações; e consultas mais ou menos formalizadas às tendências. Mas o processo atual possui várias diferenças em relação ao ocorrido em 2002, 2006, 2010 e 2014. Uma destas diferenças é a seguinte: o espaço do conjunto do PT não está garantido. Inclusive por isso, é mais produtivo – para cada setor do PT – que se busque agir coletivamente, enquanto Partido. Portanto, especialmente neste momento, o essencial é lutar para garantir o protagonismo do PT nas definições sobre transição/medidas imediatas/composição.

26.Devemos seguir pressionando para que se realizem imediatamente as reuniões presenciais da Executiva Nacional e do Diretório Nacional do PT; e também para que se constitua oficialmente uma comissão partidária para acompanhar a comissão de transição, comissão partidária que também possa servir de canal através do qual possam ser apresentadas propostas e indicações do PT.

27.Nos espaços partidários, defendemos que pelo menos os seguintes ministérios e áreas sejam dirigidos por militantes de esquerda, de preferência por petistas: Fazenda, Desenvolvimento Agrário, Defesa, Relações exteriores, Trabalho, Saúde, Educação, Cultura, Combate ao racismo, Mulheres, Juventude, Direitos Humanos, Indígenas. Consideramos fundamental, também, que desde a transição até o exercício do governo, a esquerda invista nos mecanismos de participação popular, como os conselhos, conferências e a questão do Orçamento Participativo.

28.Também nos espaços partidários, apoiamos as indicações dos companheiros Edegar Pretto e Célio Moura para compor o governo; assim como apoiaremos as demais indicações que nos sejam apresentadas pelas direções estaduais e setoriais da tendência que se reunirem e formularem propostas, que devem ser encaminhadas para as respectivas direções estaduais e setoriais do PT, com cópia para a Dnae. Também buscaremos apoiar as indicações apresentadas pelas tendências que integram nossa chapa, bem como por movimentos sociais com os quais mantemos forte relação, como o MNLM, a UNE, o MST e a CUT.

29.Finalmente, reiteramos ao conjunto da tendência que a dinâmica predominante na comissão de transição, na composição de governo e na definição das primeiras medidas ainda não é a que gostaríamos. Nos preocupa, em particular, a inexistência de métodos e procedimentos claros, o que acaba estimulando um “reunionismo” improdutivo. Neste sentido, reiteramos que nosso esforço principal segue sendo o de buscar o pleno funcionamento das instâncias e métodos transparentes. E reafirmamos que o Diretório Nacional do PT deve se reunir imediatamente.

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Sobre a transição, a outra

Grande parte da coalizão que venceu as eleições presidenciais está atenta à composição e aos trabalhos da comissão de transição instalada no CCBB. 

Entretanto, é preciso atenção também para outras dinâmicas que seguem em curso, por exemplo: o ambiente internacional; a ação dos neofascistas; a chantagem dos neoliberais; e o pano de fundo do processo, a saber, a desindustrialização do país e todos os seus efeitos. 

A definição de nossa política nacional e internacional para o período aberto com a vitória eleitoral exige, como ponto de partida, entender que 2023 não é 2003. 

A situação internacional segue tempestuosa. A guerra entre Ucrânia e Rússia é parte integrante da guerra estratégica entre Estados Unidos e China. Esta guerra possui dimensões militares, políticas, sociais, econômicas, ambientais e ideológicas. E repercute de diferentes maneiras em cada região do planeta. O governo brasileiro que toma posse no dia 1 de janeiro de 2023 precisará de uma política nacional e internacional que nos permita, no contexto desta guerra global, converter nossa região num dos polos do mundo. E para isso não basta prestígio diplomático, nem tampouco basta ser um grande exportador de primários; para ser um dos polos do mundo, é necessário poder real, o que inclui capacidade científica, tecnológica, industrial.

O que nos remete para a transição. Não aquela sediada no CCBB, mas a outra, a “grande transição” que começou em 1980 e não terminou até hoje. 

Em 1980 o Brasil estava a caminho de converter-se numa grande potência industrial. 

Então tivemos a crise da dívida externa, a transição conservadora e o fernandismo neoliberal. 

Como resultado, o país foi se desindustrializando fortemente. 

Aí vieram os governos Lula e Dilma, que tentaram colocar um freio e até reverter este processo de desindustrialização. 

Então tivemos o golpe de 2016, os governos “temer” e cavernícola. 

E de quase potência industrial viramos subpotência agroexportadora e minério exportadora, além de paraíso do capital financeiro, o país do "agro é pop, deus, tudo".

Essa “grande transição” afetou tudo: mudou a classe dominante, mudou a classe trabalhadora, mudou o ambiente político e cultural no Brasil. 

Foi nesse ambiente que os neoliberais vieram e ainda não foram embora. Foi em reação a esse ambiente que nós ganhamos quatro eleições presidenciais entre 2002 e 2014 e agora novamente. Foi também nesse ambiente que os neofascistas vieram e também ainda não foram embora.

Na eleição de 2022 impusemos uma derrota eleitoral aos neofascistas. Mas é preciso concluir o processo. 

Os neofascistas, seus nomeados e seus aliados continuam ocupando espaços importantes na administração federal (como é o caso da presidência do BC); governam estados importantes (como é o caso de RJ, MG e SP); controlam parte importante do Congresso nacional, sem falar de prefeituras por todo lado.

Por isso, não basta a vitória eleitoral de 2022: se faz necessário impor uma derrota política completa aos neofascistas. 

Não apenas derrota política, mas também militar: trata-se de desarmar os grupos paramilitares e trata-se de estabelecer outros comandantes, outra cultura e outro padrão de funcionamento às forças armadas e às polícias que foram colonizadas pelo neofacismo. 

Não apenas derrota política e militar, mas também derrota cultural: trata-se de construir na maioria da nossa população uma cultura democrática, popular e socialista, ao mesmo tempo nacionalista, antiimperialista e latinoamericanista. 

Não apenas derrota política, militar e cultural, mas também institucional: a maneira como atualmente funciona o Estado brasileiro e seus marcos constitucionais não apenas foram incapazes de impedir o surgimento do neofascismo, como também acabaram estimulando a onda neofascista, na exata medida em que promoveram o neoliberalismo. 

Neste sentido, não cabe confiar no bonapartismo judicial como alternativa idônea contra o neofascismo. Não haverá superação do neofascismo, enquanto não houver superação do neoliberalismo e, também, uma nova institucionalidade.

Portanto, a grande questão é saber se o governo que tomará posse no dia 1 de janeiro de 2023 será capaz de servir de ponto de partida para uma nova “grande transição”, desta vez de subpotência agro-minério-exportadora para uma verdadeira potência industrial de novo tipo. 

Para que isso ocorra, há muitas batalhas a serem vencidas e muitas decisões a serem tomadas, entre elas a já citada definição de uma política internacional que dobre a aposta na integração regional e nos BRICS; a definição de uma política adequada para enfrentar a hegemonia ora neoliberal, ora neofascista, nas chamadas instituições (STF, BC, Congresso, grande mídia, forças armadas, polícias, organizações do grande empresariado, além das empresas-sem-fé); medidas práticas e imediatas que nos permitam consolidar e ampliar apoios nos setores populares; e a batalha da posse.

Sobre isso, seguem em curso as manifestações da extrema direita, até agora sob o olhar cúmplice dos comandantes de boa parte das forças de segurança e defesa. Não há até agora sinais de que as manifestações possam converter-se em golpe. Mas mesmo não havendo golpe, se nada for feito, a posse não será um passeio. 

Neste sentido, ao mesmo tempo que devemos estimular o comparecimento popular à festa do dia 1 de janeiro em Brasília, cabe tomar medidas efetivas de proteção ao deslocamento das caravanas e também à manifestação da posse.

Todas as questões políticas tratadas anteriormente dependem, no limite, de ampliarmos muito os níveis de consciência, organização, mobilização e disposição de luta da classe trabalhadora. 

Noutras palavras, a boa política depende da organização e vice-versa. 

Cabe, portanto, debater um conjunto de medidas organizativas no plano do Partido dos Trabalhadores, das frentes de esquerda e dos movimentos.

Teremos pela frente uma longa disputa contra o neofascismo e contra o neoliberalismo. E seguiremos enfrentando imensos desafios de natureza orgânica, que dizem respeito a maneira como nos vinculamos com a classe trabalhadora e que, correlatamente, dizem respeito a maneira como nos organizamos.

Afinal, se por um lado o PT mais uma vez reafirmou sua condição de partido de massas, sem o qual não haveria vitória contra o neofascismo; por outro lado também é verdade que em nosso Partido, mas também em todas as organizações de esquerda, há sintomas de degeneração, fadiga de material e desorientação política e ideológica, que se expressam numa contaminação neoliberal e num relaxamento socialdemocrata. 

Contra isso, é preciso adotar um conjunto de medidas, inclusive organizativas. 

A primeira dessas medidas: estimular a criação de núcleos presenciais do Partido nos locais de trabalho, nos locais de estudo, nos locais de moradia, nos espaços de cultura e lazer. Não basta ter presença nas redes, é preciso ter presença física na vida cotidiana da classe trabalhadora, participar organizada e coletivamente de suas lutas, de suas entidades. Todo militante deve estar ligado a algum organismo de massa e a algum organismo do Partido. É preciso elaborar, implementar e avaliar de forma contínua um plano cotidiano de trabalho junto as nossas bases sociais e eleitorais. Este é um dos caminhos para que tenhamos um partido também de militantes, não apenas um partido de filiados ou de eleitores. 

É preciso que as direções funcionem, em âmbito nacional, em todos os estados, municípios e setores de atuação: reuniões periódicas, análise da situação, divisão de tarefas, balanço do realizado. Este método por si só não garante nada. Mas sem ele, nenhum dos problemas será efetivamente resolvido. 

É preciso impulsionar exponencialmente nossas atividades de formação e comunicação, de forma a atingir o conjunto da base partidária, social e eleitoral. Se quisermos ampliar a influência do PT, é preciso ter presença institucional, é preciso ter presença nos movimentos sociais, é preciso ter funcionamento adequado da máquina partidária, mas é preciso também e até principalmente ter presença na batalha de ideias. E, como base para isto tudo, é preciso que tenhamos mais capacidade coletiva de formulação acerca dos grandes problemas do mundo, do continente e do Brasil.

Acrescentamos outra medida: é preciso lutar para que o PT retome a contribuição financeira militante. E é preciso, para além desta medida essencialmente política, termos iniciativas que nos permitam dispor de mais recursos, tornando possível ter sedes & centros culturais e outras iniciativas de massa em cada cidade.

Finalmente, é preciso enfrentar caso a caso, com paciência e método, os problemas políticos e organizativos que impedem nosso crescimento e/ou que reduzem nossa influência em vários estados e cidades. 

Nosso partido atua num ambiente que geralmente é hostil para as posturas militantes e socialistas; anos de vida eleitoral e institucionalização partidária, as dificuldades dos movimentos sociais, a influência de concepções neoliberais e desenvolvimentistas-conservadoras, a perda da memória e da prática da vida coletiva, agravada pela profissionalização de atividades que antes eram realizadas de forma militante, tudo isso junto e misturado só será superado se houver um trabalho de “retificação” do funcionamento do nosso Partido e, no que couber, das demais organizações da esquerda partidária e social com quem devemos buscar um trabalho cada vez mais frentista.

Nossa campanha presidencial de 2022 foi vitoriosa essencialmente porque recebemos o apoio dos trabalhadores e trabalhadoras pobres, destacadamente as mulheres trabalhadoras, negros e negras com consciência de raça e classe, da intelectualidade democrática, dos que lutam contra o fundamentalismo e contra todo tipo de preconceito, dos povos indígenas e dos quilombolas, da juventude que ocupou um maravilhoso espaço em todas as nossas manifestações, do “nordeste político-cultural” que existe não apenas na região geográfica que chamamos de nordeste, mas no “nordeste” que existe em cada região, estado e cidade de nosso país. 

Nosso Partido precisa transformar essa base social e eleitoral que se mobilizou para conquistarmos o governo, em base militante para conquistar o poder. Aí, quem sabe, a outra transição saia do papel.


sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Ajuda memória reunião de 17 de novembro

No dia 17 de novembro, realizamos uma plenária nacional virtual da tendência petista Articulação de Esquerda.

No pico da reunião, estiveram presentes 96 dirigentes estaduais, municipais e setoriais, debatendo balanço e perspectivas.

Anteriormente, a direção nacional da AE, reunida logo após o segundo turno, aprovou um balanço preliminar das eleições e uma resolução sobre conjuntura e tarefas.

Os dois textos estão disponíveis no www.pagina13.org,br

No dia 27 de novembro, a direção nacional vai concluir o balanço e buscará incorporar várias sugestões e opiniões apresentadas na reunião de 17 de novembro (olhar para a metade cheia do copo, vencemos talvez a eleição mais disputada da história da república, os acertos que tivemos, a tática no segundo turno, da retórica passadista para a ênfase redobrada na pauta do povo + futuro, mantivemos camisa vermelha, não saiu nova carta aos brasileiros, a mal denominada “divisão do país”).

Também serão incorporadas algumas das conclusões aprovadas no dia 9/11, quando fizemos uma plenária nacional virtual para socializar as informações sobre o processo de transição, sobre a composição de governo e suas medidas imediatas.

Ao final da reunião de 9 de novembro, da qual participaram mais de 52 pessoas, foi divulgada uma ajuda memória onde se pode ler o seguinte:

-nosso principal objetivo é garantir que a transição/composição/medidas imediatas respeitem o sentido do voto popular que elegeu Lula presidente;

-trata-se de: a) seguir derrotando a extrema-direita; b) impedir que os aliados neoliberais tomem conta; c) garantir o protagonismo do PT e aliados de esquerda;

-é preciso manter sob vigilância, denunciar e reprimir as manifestações golpistas da extrema direita; manter as medidas de preservação da vida pessoal e coletiva, inclusive com mais formação e treinamento específicos; mobilizar fortemente para a posse do dia 1 de janeiro;

-em relação aos neoliberais, é preciso: a) questionar os desequilíbrios existentes na chamada comissão de transição; b) evitar as armadilhas que tendem a nos colocar sob tutela do Centrão e de outras instituições controladas pela direita gourmet;

-em relação ao protagonismo da esquerda, é preciso: a) manter a pressão, para que o governo inicie cumprindo o programa, especialmente aquele voltado aos setores mais populares; b) ampliar a representação dos setores democrático populares no processo de transição; c) orientar os movimentos sociais e sindicais a fazerem pressão direta sobre a chamada comissão de transição;

-especificamente em relação ao PT, é preciso que as instâncias partidárias (diretórios municipais e estaduais, setoriais e núcleos em todos os níveis, bancadas e governantes municipais/estaduais) se reúnam e aprovem resoluções sobre o tema transição/composição/medidas imediatas, resoluções que devem ser encaminhadas ao Diretório Nacional e divulgadas para o conjunto do Partido.

-a militância e as instâncias municipais, estaduais e nacional da tendência petista Articulação de Esquerda devem contribuir para este processo de “ressureição” das instâncias partidárias e canalizar, através das instâncias, nossas propostas e nossas indicações;

-em processos anteriores, a composição de governo envolveu convites individuais; indicações de instâncias partidárias, de movimentos e organizações; e consultas mais ou menos formalizadas às tendências. Mas o processo atual possui várias diferenças em relação ao ocorrido em 2002, 2006, 2010 e 2014. Portanto, neste momento o essencial é lutar para garantir o protagonismo do PT nas definições sobre transição/medidas imediatas/composição;

-não existe ainda um canal partidário para  acompanhar a comissão de transição, assim como não está criado um canal institucional através do qual possam ser apresentadas propostas e indicações;

-o procedimento adotado deu ao vice-presidente eleito e a representantes dos neoaliados espaço superior à sua contribuição efetiva na vitória. Embora haja comissões com representação mais equilibrada, a representação regional, étnica, de gênero e de classe não corresponde ao resultado ds urnas;

-nosso procedimento, enquanto tendência, é estimular o Partido e os movimentos a buscar mais espaço e influência.

O tema “comissão de transição” será abordado de maneira mais detalhada no programa Antivírus do dia 21 de novembro.

O processo de transição, composição do novo governo e definição das medidas iniciais ocorre num cenário a quente, que inclui a) a situação mundial e regional; b) as pressões da extrema direita; c) as pressões da direita neoliberal; d) as diferentes visões existentes dentro do PT e da esquerda em geral.

A extrema direita perdeu as eleições, mas segue operando. Sua conduta na oposição será um pé na institucionalidade, um pé nas ruas e o rabo na ilegalidade.

Os trancamentos de estradas e as manifestações da extrema-direita defronte aos quarteis são matéria-prima perfeita para memes, mas não devem ser subestimadas, nem tanto pelas manifestações em si, mas principalmente pelo que revelam, a começar pelo beneplácito que recebem da parte dos comandantes das três forças, assim como pelo generoso financiamento que tem recebido de empresários. Claro que existe loucura nessa operação da extrema direita, mas o essencial é que nesta loucura há método, apoio institucional e empresarial.

Para além disso, as eleições de 2022 nos deixaram como herança uma forte presença reacionária no Congresso Nacional, nas Assembleias Legislativas e em grande número de governos estaduais. A isso se soma o presidente do Banco Central e diversas outras autoridades nomeadas pelo cavernícola, desde os tribunais superiores até o guarda da esquina.

Ademais, é preciso lembrar dos brothers in arms: centenas de milhares de pessoas armadas, com fardas ou sem fardas, espalhadas por todo o território nacional: cerca de 100 mil policiais civis, 350 mil nas três armas, 420 mil policiais militares, 950 mil inscritos em clubes de tiros e 2,8 milhão de armas cadastradas, sem esquecer é claro o que está em mãos de milícias, crime organizado etc.

Temos que levar em conta, também, o imenso rebanho a cargo de dezenas de milhares de padres e pastores conservadores, assim como as redes formais e informais do empresariado, especialmente do agro.

Sem esquecer, nunca, dos canais através dos quais circulam as fake news, as narrativas e as palavras de ordem. Tudo isto conectado com redes internacionais da extrema direita, que aliás atuaram ativamente na eleição de 2018 e 2022.

Há quem considere que o descrito anteriormente é um exército derrotado, que irá se desmobilizando pouco a pouco, devido ao cansaço, às divisões internas, a crise de direção, a falta de apoio internacional e, acima de tudo, ao desestímulo do grande capital, que supostamente estaria optando, ao menos majoritariamente, por conviver com o governo Lula, mais ou menos como teria ocorrido entre 2007 e 2010.

Mas é preciso levar em conta que a extrema-direita e o cavernícola não caíram do céu. Foram produto de diversas variáveis, a principal das quais o longo processo de reconversão da nossa economia, de quase potência industrial a potência agrícola-mineral. Essa reconversão mudou a composição da classe dominante, mudou a composição das classes trabalhadoras, mudou a dinâmica política e mudou o ambiente cultural nacional.

Este foi o pano de fundo das oito eleições presidenciais ocorridas entre 1989 e 2010. As três primeiras foram vencidas pelos tucanos, as três seguintes pelo PT. Aí veio 2014: a quarta derrota tucana e a quarta vitória petista levaram parte da classe dominante a concluir que – ao menos pelos métodos “normais” - seria impossível derrotar eleitoralmente o PT.

Este foi o ponto de partida do golpe de 2016, das ilegalidades da Operação Lava Jato, da condenação e prisão de Lula, da interdição fraudulenta da candidatura Lula em 2018 e, finalmente, do apoio concedido pela maior parte da classe dominante e pela esmagadora maioria da direita gourmet, em favor de Bolsonaro.

Quatro anos depois, a classe dominante e a direita gourmet se dividiram em três partes: os defensores da terceira via, os defensores de um acordo com o PT e os defensores da reeleição de Bolsonaro.

A votação confirma que a maior parte da classe dominante escolheu Bolsonaro. Lula conseguiu maioria entre os trabalhadores mais pobres, que por sinal são maioria relativa do eleitorado.

Contraditando os fatos, há quem atribua a vitória não aos trabalhadores pobres - na sua maioria mulheres, pretos e nordestinos – mas sim às alianças com setores da direita gourmet. Não admira que estes setores estejam super representados na comissão de transição, enquanto os vencedores da eleição, os verdadeiros defensores da democracia, estão subestimados.

A derrota eleitoral da extrema direita precisa ser completada com sua eliminação das instituições e da vida política e cultural do país. Guerra cultural contra os promotores da “guerra cultural”.

Entre as muitas medidas imprescindíveis para atingir este objetivo, devemos destacar a reindustrialização do país. Uma reindustrialização de novo tipo, articulada com ampliação de direitos, com reforma agrária, com políticas ambientalmente sustentáveis etc.

A reindustrialização é necessária para mudar as bases materiais da atual composição e correlação de forças entre as classes sociais existentes no Brasil.

A reindustrialização é um processo de médio prazo, exige investimentos iniciais vultosos, implica em choques com diversos interesses internacionais e nacionais, supõe capacidade de planejamento, gerenciamento e vontade política.

Agora, se mexer no teto de gastos, para assim elevar as políticas sociais, gera tanta resistência, maior resistência ainda haverá contra a ampliação significativa do investimento público, indispensável à um ciclo de industrialização de novo tipo.

Aliás, alguns de nossos aliados contra a extrema-direita, são nossos inimigos no tocante à reindustrialização nacional.

A direita gourmet neoliberal faz a defesa das “instituições”, mas exige como contrapartida a preservação do legado tucano, inclusive de suas variante temer-guediana.

Há quem pretenda resolver o problema apostando no tempo: quatro anos ou oito anos, segundo os mais otimistas. Supostamente, se tivermos tempo, poderemos ir pouco a pouco administrando os conflitos e solucionando os problemas.

O problema é que o tempo em política é uma variável flexível e que pode se mover em diferentes direções.

A experiência que tivemos entre 2003 e 2016 demonstra, entre outras coisas, que o tempo serve tanto para acumular quanto para desacumular. E se levarmos em conta o que mudou, no mundo e no Brasil, é evidente que os riscos de desacumulação são maiores agora, do que eram há vinte anos. Vivemos tempos de guerra, de crise, de continuidade da pandemia da Covid 19.

Nesse sentido, não é prudente esperar o médio prazo. É necessário agir desde já, cumprir o programa vitorioso nas urnas, melhorar a vida do povão, ao mesmo tempo que atraímos para nosso lado parcelas – especialmente da classe trabalhadora – que apoiaram Bolsonaro.

Mas também não é prudente esperar que políticas públicas por si só esvaziem a força da extrema direita.

É preciso tomar todas as medidas possíveis contra a extrema-direita. Denunciar, desmoralizar, demitir, processar, julgar, condenar, multar, prender. Fazer um levantamento permanente dos crimes cometidos, tomar medidas para impedir qualquer tipo de anistia ou esquecimento. Desarmar os ricos e a extrema-direita. Fazer muita disputa político-cultural (vide aniversário do AI5).

Ao mesmo tempo, é preciso todas as medidas possíveis para fortalecer o campo democrático-popular. Agrupar, filiar, estruturar, formar, comunicar, mobilizar.

Preparar desde já as eleições 2024, mas ao mesmo tempo saber que os tempos da política não aguardarão as eleições bianuais. Vamos lembrar do ocorrido no primeiro mandato de Lula e no segundo mandato de Dilma.

Lembrando que não temos um inimigo, temos dois inimigos, o neofascismo e o neoliberalismo, que já está se movimentando para preservar seu espaço (saída de Guido Mantega, grita em defesa da “responsabilidade fiscal sem responsabilidade social” etc.). As batalhas em torno do agro, do setor financeiro, do teto de gastos, são expressões da luta de classes, em que enfrentamos as diferentes alas da classe dominante.

Onde está nossa principal debilidade? No mesmo lugar onde reside nossa principal força. Foi a mobilização militante que elegeu Lula. E a coluna dorsal desta mobilização foi o petismo.

O petismo é uma grande força, mas possui baixa organização. A imensa maioria das instâncias partidárias simplesmente não funciona. Decisões fundamentais são tomadas fora das instâncias partidárias, seja pelo grupo atualmente majoritário, seja por setores de nossas bancadas, seja por governantes.

A mãe de todas as batalhas, que vai decidir o sucesso ou o insucesso estratégico do governo Lula, é a organização da classe trabalhadora (sindicatos, movimentos, partidos). E a organização da classe trabalhadora depende, em boa parte, da organização do petismo.

Nesse sentido, a disputa pelos rumos do PT, assim como a reconstrução do funcionamento e do protagonismo do Partido, são tarefas de significado estratégico.

É nesse esforço que devemos concentrar grande parte das nossas energias, lembrando sempre que a disputa de um partido de massas exige movimentos de fora para dentro e de baixo para cima. Em outras palavras: só organizando e mobilizando a classe trabalhadora, teremos êxito na disputa de rumos do PT. A disputa inclui o PED, mas não se limita a ele.

Nesse sentido: atenção para o 20 de novembro (a questão racial foi decisiva na eleição), atenção para a diplomação de Lula, atenção para a posse de Lula, vamos nos manter em mobilização permanente, manter e ampliar os comitês populares de luta, ocupar as ruas como fizemos no segundo turno. Não podemos institucionalizar nossa ação, inclusive porque isso deixaria a extrema direita livre para tentar ocupar as ruas.

Em 2022 ganhamos a eleição. A derrota definitiva do neofascismo e a superação do neoliberalismo ainda estão por fim.

E para isso é preciso melhorar a vida do povo, imediatamente, rapidamente, profundamente, inclusive para derreter a base popular da extrema direita. E embora implementar políticas públicas seja uma tarefa de governo, defender e sustentar estas políticas exige ação de movimentos e partidos, seja na batalha político-ideológica geral, seja na mobilização em torno de pautas concretas. Não vamos cometer de novo o erro de esperar que o governo dê conta de tarefas que não são dele. Até porque, num governo em disputa, cabe ao PT ser sua ala esquerda.

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20/11 entrega textos p13 de novembro

21/11 reunião do conselho editorial da revista Esquerda Petista

27/11 reunião Dnae

6/12 reunião coordenação sindical nacional da AE

7/12 reunião virtual de comunicadores da AE.

11/12 entrega textos p13 de dezembro

19/12 reunião da Dnae

1/1/2023 distribuição do p13 capa cartaz

3/1/2023 reunião da Dnae a confirmar

8/1/2023 entrega textos revista Esquerda Petista

21-22/1/2023 reunião da Dnae a confirmar

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sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Milico bom é milico calado

Participei recentemente de um debate na direção nacional do MST.

Neste debate, uma companheira disse: não vamos confundir o ministério da Defesa com as forças armadas.

Pelo visto, eles escutaram o comentário.

E para não deixar dúvidas, soltaram uma nota pública assinada pelos três comandantes.

A simples existência da nota é um absurdo.

Não compete às forças armadas como instituição, nem aos comandantes das forças como indivíduos, se posicionar sobre temas da política nacional.

Quando se junta o direito de portar armas com a participação política ativa da corporação, o resultado prático é um constante rumor de botas, a tutelar ou ameaçar as liberdades democráticas.

Erram, portanto, os que acham que o problema acabou com a derrota do cavernícola; ou que acham que o problema são os extremistas acampados em frente aos quarteis; o problema está dentro dos quarteis, nas salas de comando.

Quanto ao mérito, a nota é um acinte.

O que está dito ali é o seguinte: os comandantes consideram que as manifestações pedindo, direta ou indiretamente, "intervenção militar" constituem algo protegido pela Constituição.

Nota bene: é direito líquido e certo, de qualquer cidadão ou cidadã, considerar que as eleições 2022 foram uma fraude.

Eu acho exatamente isto das eleições de 2018. Com a diferença sutil de que, em 2022, ninguém impediu (ilegalmente) ninguém de concorrer.

Também é direito líquido e certo lutar para que a fraude seja derrotada.

Mas isso não inclui conclamar um golpe militar. Pois as forças armadas, como a bandeira nacional, não podem ser utilizadas como fiel da balança em conflitos que envolvem diferentes setores do povo brasileiro.

Forças armadas existem para defender a soberania nacional.

Não para interferir na política nacional.

Que os atuais comandantes não entendam esta diferença, é mais uma prova de que precisam ser mandados para casa e substituídos por quem entenda que militar da ativa bom é militar politicamente calado.

Por fim, não nos enganemos: a caserna está em estado de sedição. Por enquanto, apenas retórica. Por enquanto.

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Confira abaixo a nota na íntegra.

Acerca das manifestações populares que vêm ocorrendo em inúmeros locais do País, a Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira reafirmam seu compromisso irrestrito e inabalável com o Povo Brasileiro, com a democracia e com a harmonia política e social do Brasil, ratificado pelos valores e pelas tradições das Forças Armadas, sempre presentes e moderadoras nos mais importantes momentos de nossa história.

A Constituição Federal estabelece os deveres e os direitos a serem observados por todos os brasileiros e que devem ser assegurados pelas Instituições, especialmente no que tange à livre manifestação do pensamento; à liberdade de reunião, pacificamente; e à liberdade de locomoção no território nacional.

Nesse aspecto, ao regulamentar disposições do texto constitucional, por meio da Lei nº 14.197, de 1º de setembro de 2021, o Parlamento Brasileiro foi bastante claro ao estabelecer que: “Não constitui crime [...] a manifestação crítica aos poderes constitucionais nem a atividade jornalística ou a reivindicação de direitos e garantias constitucionais, por meio de passeatas, de reuniões, de greves, de aglomerações ou de qualquer outra forma de manifestação política com propósitos sociais”.

Assim, são condenáveis tanto eventuais restrições a direitos, por parte de agentes públicos, quanto eventuais excessos cometidos em manifestações que possam restringir os direitos individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública; bem como quaisquer ações, de indivíduos ou de entidades, públicas ou privadas, que alimentem a desarmonia na sociedade.

A solução a possíveis controvérsias no seio da sociedade deve valer-se dos instrumentos legais do estado democrático de direito. Como forma essencial para o restabelecimento e a manutenção da paz social, cabe às autoridades da República, instituídas pelo Povo, o exercício do poder que “Dele” emana, a imediata atenção a todas as demandas legais e legítimas da população, bem como a estrita observância das atribuições e dos limites de suas competências, nos termos da Constituição Federal e da legislação.

Da mesma forma, reiteramos a crença na importância da independência dos Poderes, em particular do Legislativo, Casa do Povo, destinatário natural dos anseios e pleitos da população, em nome da qual legisla e atua, sempre na busca de corrigir possíveis arbitrariedades ou descaminhos autocráticos que possam colocar em risco o bem maior de nossa sociedade, qual seja, a sua Liberdade.

A construção da verdadeira Democracia pressupõe o culto à tolerância, à ordem e à paz social. As Forças Armadas permanecem vigilantes, atentas e focadas em seu papel constitucional na garantia de nossa Soberania, da Ordem e do Progresso, sempre em defesa de nosso Povo.

Assim, temos primado pela Legalidade, Legitimidade e Estabilidade, transmitindo a nossos subordinados serenidade, confiança na cadeia de comando, coesão e patriotismo. O foco continuará a ser mantido no incansável cumprimento das nobres missões de Soldados Brasileiros, tendo como pilares de nossas convicções a Fé no Brasil e em seu pacífico e admirável Povo.

Brasília/DF, 11 de novembro de 2022.

Almirante de Esquadra ALMIR GARNIER SANTOS

Comandante da Marinha

General de Exército MARCO ANTÔNIO FREIRE GOMES

Comandante do Exército

Tenente-Brigadeiro do Ar CARLOS DE ALMEIDA BAPTISTA JUNIOR

Comandante da Aeronáutica

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Roteiro exposição reunião DN MST

9 de novembro de 2022


1/Preliminares


-tema: análise de conjuntura

-três subsídios enviados anteriormente

-texto de balanço das eleições

-texto de análise de conjuntura

-roteiro da exposição


2/Alerta sobre o balanço


-debate sobre conjuntura envolve balanço e perspectivas

-o tema do balanço não é trivial

-a eleição em si são várias eleições misturadas e com resultados diferentes (ganhamos presidência, perdemos governadores e congresso)

-o balanço do processo não se limita ao balanço da eleição propriamente dita (correlação de forças presidencial, vitória nossa, mas a correlação de forças envolve outros fatores)

-além disso, o balanço não se limita ao ocorrido em 2022

-portanto, um bom balanço exige método e exige mais tempo (passaram-se 10 dias apenas)


3/Alerta sobre as perspectivas

-a depender das conclusões do balanço, as perspectivas são distintas

-com um complicador: como convivem diferentes estratégias dentro da esxuerda, o balanço não é único, pois há tantos balanços xuanto perspectivas estratégicas


4/Alerta sobre a esxuerda festiva

-um dos temas essenciais de método é não confundir comemoração com análise

-comemoração enfatiza exageradamente nossas fortalezas e as fraxuezs do  inimigo

-análise deve ponderar adexusadamente nossas fraxuezas e as fortalezas do inimigo


5/Primeira fortaleza do lado de lá: a abstenção

-não se trata de uma fortaleza apenas da extrema direita ou da direita gourmet brasileira

-trata-se de um fenômeno mundial da chamada democracia burguesa 

-analogia entre a abstenção e o desemprego: o desempre pressiona para baixo o salários dos empregados, a abstenção reduz o peso dos pobres no processo eleitoral

-abstenção/brancos/nulos no caso brasileiro de 2022: 32 a 38 milhões

-mesmo em meio a tamanha polarização, 38 milhões não escolheram nem Lula, nem o cavernícola

-a maioria dos abstencionistas é potencial eleitor nosso (embora também possa ser mobilizado para votar neles)

-foi um ponto cego das pesxuisas (embora muita gente boa tenha se recusado a perceber isso)

-no segundo turno houve uma pexuena redução da abstenção (teria sido maior, se não fosse o bloxueio das estradas)

-a abstenção é um problema em grande parte insolúvel no terreno eleitoral

-solução depende de medidas não eleitorais

-não haverá democracia plena enxuanto 38 milhões forem dominados pelo abstencionismo


6/uma segunda fortaleza do lado de lá: 58 milhões de votos

-58 em 2018, 58 em 2022

-alguns xuerem ver aí um copo meio vazio

-não vamos cometer de novo autoengano

-a maior parte da esxuerda subestimou o enraizamento social da extrema direita e seus motivos de fundo

-a maior parte da esxuerda subestimou o efeito eleitoral das políticas de governo, da compra de votos legalizada, da compra de votos ilegalizada

-a maior parte da esxuerda subestimou a capacidade de crescimento da direita na reta final

-a maior parte da esxuerda subestimou o efeito da subestimação sobre nós mesmos (o povo do “fica em casa, xue o Lula mata no peito”, inclusive usando isto como pretexto para não usar adesivo etc. Aliás, é curioso: tinham medo, como se fosse uma minoria radical, sem base de massa, portanto não seria necessário nos expormos, eles seriam derrotados sozinhos)

-na verdade, a extrema direita é um fenômeno de massa

-não se trata do “fascismo” histórico, pois este era estatista

-mas também não se trata de uma novidade absoluta, pois o “neofascismo” é soma potencializada de velhos conhecidos nossos: a bancada do Boi, da Biblia e da Bala, xue dominou grande parte da história desta nação...

-partido militar e paramilitar

-partido das igrejas fundamentalisas

-a coxinhada (a chamada classe média de direita)

-o pexueno e médio empresariado

-o agro pop

-setores do lumpesinato 

-e um lumpesinato intelectual (não subestimar, tem um pensamento por trás disto, misturando TFP e soberanismo antiglobalista)

-o lugar do Bolsonaro & família neste mix está por ser definido, mas não deve ser subestimado

-a extrema direita vive nas redes, mas não vive unicamente nem principalmente das redes

-sua força decorre principalmente de três estruturas muito verticalizadas: as FFAA/policias/milicias, as igrejas e as empresas

-portanto para derrotar este povo não basta redes

-tem xuer derrotado também nas redes, mas principalmente através da ação de outras estruturas verticalizadas e também através do desmonte das estruturas deles

-por isso é preciso política para as empresas, para as igrejas e política para as forças armadas, para as polícias, para o paramilitarismo etc.

-e por isso nosso lado precisa voltar a se organizar para “tempos de guerra”


7/uma terceira fortaleza do lado de lá: a guerra cultural

-a extrema direita não tem medo de enfrentar o debate de ideias

-para eles, não se trata de uma batalha sobre políticas públicas, trata-se de uma batalha espiritual

-enxuanto isso, parte da esxuerda tem medo de enfrentar a disputa ideológica

-o bordão deles foi “Deus, Pátria, Familia, Liberdade”

-o símbolo deles foi a bandeira brasileira

-sintético, potente, universal

-e a palavra mágica deles contra nós era “ladrão”

-corrupção no sentido usual e corrupção também no sentido moral

-a prova de como estamos desarmados no terreno ideológico foi a dificuldade xue tivemos em enfrentar um debate tão manjado, xue é usado contra nós desde 2005 pelo menos

-não se enfrenta esta guerra ideológica escondendo o vermelho

-não se enfrenta esta guerra dizendo xue o MST é o maior produtor de arroz orgânico

-não se enfrenta esta guerra defendendo a “democracia” em abstrato

-aliás, um parêntesis: muitos dos xue disseram xue a democracia em abstrato era nossa principal linha de defesa, na hora do vamos ver defenderam abir mão dos direitos democráticos das mulheres, fizeram concessões na defesa do estado laico e exaltaram as práticas FEUDAIS do primeiro damismo

-não se enfrenta a guerra ideológica da direita contra nós mitificando o Estado Democrático de Direito, endeusando a Constituição de 1988

-tampouco basta defender a pauta do povo, apesar da enorme importância xue a pauta do povo teve em nossa vitória

-contra Deus, Pátria, Família e Liberdade, não basta dizer arroz, feijão, saúde e educação

-é preciso elevar o nível do debate ideológico

-e aí vem uma das armadilhas da democracia burguesa

-Marx dizia xue o melhor regime para o capitalismo era a democracia burguesa... um dos motivos é que para ganhar é preciso ter o apoio da maioria relativa ou absoluta... para isso é preciso se adaptar ao pensamento médio da maioria... acontece xue o pensamento médio da maioria é o pensamento da classe dominante... portanto, para ganhar é preciso se adaptar a este pensamento médio, POIS NAS ELEIÇÕES não se consegue mudar este pensamento médio... 

-xual seria a saída? MUDAR O PENSAMENTO MÉDIO principalmente FORA DAS ELEIÇÕES

-mas acontece xue parte da esxuerda acha xue a correlação de forças saída das urnas é um ponto absoluto de chegada, uma clausula pétrea, não um ponto de partida

-portanto muita vezes este tipo de esxuerda marcha sem sair do lugar, ganha mas não levamos

-já o outro lado, vide governo Bolsonaro, avança sem parar


8/uma xuarta fortaleza do lado de lá é a retroalimentação entre neofascismo e neoliberalismo

-o governo cavernícola é neofacista e neoliberal

-o neofascismo se alimenta do neoliberalismo e estimula o neoliberalismo

-é bom lembrar xue a destruição da democracia vem também das politicas neoliberais, xue atacam as bases materiais da democracia

-é bom lembrar, também, xue foram neoliberais tipo Alckmin xue abriram as portas para o neofascismo no golpe de 2016 e no xue veio depois, sem falar de 2013 e 2014

-mas se é assim, então não dá para enfrentar o neofascismo sem enfrentar o neoliberalismo

-o problema é xue parte da esxuerda não percebe isso, fazendo uma exaltação abstrata da democracia, do Estado Democrático de Direito e da Constituição de 1988

-vamos combinar: o EDD e a CF88 não impediram os retrocessos neoliberais

-e vamos reconhecer: o tal EDD e a CF88 foram obstáculos para avanços e transformações estruturais

-em resumo: para a classe dominante, interessa que a esxuerda se mantenha nos marcos da Nova República

-eles no fundo xuerem xue a esxuerda faça o mesmo xue o PMDB/PSDB fizeram

-se fizermos isso, o neoliberalismo vai continuar e a extrema direita pode até voltar


9/por fim, para não dizer xue não falei de flores, xuero falar de nossas fortalezas, começando pela votação


-tivemos xiase 51% dos votos válidos e 60 milhões de votos

-a maior da história

-mas vamos lembrar: contra Alckmin, tivemos 58 milhões em 2006 (agora, com Alckmin tivemos 60 milhões...)

-e vamos lembrar: tivemos 60% dos votos válidos em 2002 (agora, com todo nosso legado a favor e com a toda a merda feita pelo cavernícola, tivemos 51% dos votos válidos)

-devemos comemorar, mas cum grano salis

-entre os segmentos por renda e instrução, fomos majoritários entre os mais pobres e entre os menos instruídos

-ou seja, foi uma guerra dos ricos/privilegiados contra os pobres e a boa notícia é xue os pobres venceram

-o eleitorado médio teve importância menor

-mas agora há gente xue tenta apresentar este eleitorado e seus representantes políticos (o “centro” ou a direita gourmet) como sendo os resposáveis pela vitória

-o centro foi e continua sendo superdimensionado (vamos lembrar do xue se dizia sobre os efeitos de Alckmin na nossa chapa ou sobre o xue ocorreria no segundo turno)

-acontece xue o centro e os setores médios estão super representados no mundo da cultura e da política, inclusive na esxuerda


10/outra fortaleza nossa é o nordeste

-nas regiões do país, fomos majoritários no nordeste

-ou seja, perdemos nas regiões do país onde se tornou hegemônica a lógica neoliberal do cada um por si e Deus por todos

-nossa vitória no nordeste é em grande medida uma vitória de outra cultura política

-aliás, no Brasil é como se tivéssemos uma inversão geográfica da xuestão meridional de Gramsci sobre a Itália

-mas não vamos nos iludir: hegemonias não são  perfeitas nem duram  para sempre: vide Acre, vide RS, vide o sudeste do país

-caso da Bahia é um alerta: votação em Salvador e votação para deputados estaduais (21 para 17, 4 petistas a menos; decréscimo nas prefeituras)


11/uma terceira fortaleza nossa é a mobilização espontânea, a famosa militância vietnamita


-destaco a empolgação da juventude

-destaco também a mobilização no segundo turno

-mas isso nos remete ao desafio de organizar a espontaneidade

-o xue alguém já chamou de converter o lulismo em petismo, converter o voto em organização

-mas para organizar os desorganizados, é preciso xue exista organização

-e a verdade é xue a situação organizativa dos partidos e movimentos não é nada boa

-temos xue voltar a organizar (decentemente) os setores já organizados

-precisamos recuperar maioria no conjunto da classe (não apenas entre os mais pobres)

-precisamos recuperar maioria de forma ORGANIZADA e CAPILARIZADA

-para isso teremos xue RETIFICAR a esxuerda

-por retificar xuero dizer

-enfrentar a dinâmica de cooptação governamental (experiência 2003-2016 foi negativa)

-enfrentar o sindicato dos parlamentares (organização de massa não se dirige como se dirigem mandatos parlamentares)

-enfrentar o paramilitarismo e a subversão de direita, inclusive os aparatos de informação & inteligência do imperialismo e seus braços locais

-enfrentar o papel desorganizador dos micro-partidos virtuais dirigidos por digital influencers

-enfrentar os xue subestimam o papel do PT (todos os xue decretaram a morte do PT, desde 1989 até agora há pouco, não acertaram)

-e enfrentar também o culto a personalidade (o caso Boulos)(o debate sobre 2026)

-e, acima de tudo, retificar é voltar a colocar a estratégia no comando

-crise do capitalismo versus alternativa socialista

-convivência com EUA versus BRICS

-papel da América Latina versus as dificuldades do novo ciclo de governos progressistas e de esxuerda

-ser governo como parte do caminho para ser poder

10/resumo sobre balanço

-grande vitória política do povo nas eleições presidenciais

-o lado de lá sofreu uma derrota eleitoral e também política na disputa presidencial

-o lado de lá conseguiu uma vitória política nas demais disputas: grande votação inclusive para presidente, maioria governos, maioria parlamentar

-o lado de cá venceu, mas trazemos dentro de nós uma infiltração neoliberal 

-é preciso fazer um balanço detalhado do processo, inclusive para governadores e proporcionais

-erros graves por exemplo em RJ, MG, SP, RS

-erros graves na tática proporcional (proporcionais no comando, ilusões na federação e no PSB)


11/resumo sobre perspectivas

-o lado de lá adotou o discurso de fraude, mas até agora não escalou por 3 motivos: falta de apoio de massa, falta de apoio da classe dominante, falta de apoio internacional

-a tática do lado de lá, mesmo xue eles não escalem, é perigosa para nós: 1/estimula lobos solitários 2/dá narrativa para eles 3/contribui para ampliar nosso desgaste 4/estimula as concessões aos neoliberais (vide comissão de transição)

-pressão na transição: não se disputa governo em disputa abrindo mão de disputar

-atenção para a festa da posse

-tema central para nós: destruir as bases econômicas, sociais, institucionais, culturais do neofascismo, senão podem voltar

-tema complexo para nós: para destruir as bases do neofascismo, é preciso superar o neoliberalismo

-fator tempo: urgência

-fator chave: articulação governos/bancadas/partidos/movimentos/intelectualidade/massa

-precisa de política (industrializar, bem estar, participação, desmontar)

-precisa organização, organização, organização