terça-feira, 1 de novembro de 2022

O terceiro turno começou

Acabou a eleição, mas os grupos de zap continuam a todo vapor.

O assunto da hora é o conjunto de manifestações dos "setores radicais, porém sinceros" do bolsonarismo.

Num destes grupos, acabo de ler o seguinte: "Lula tem que transferir a sede do governo para Salvador e governar de lá até que a situação se normalize. Quero ver fazerem graça lá".

Este singelo comentário é absolutamente genial, por três motivos.

Primeiro motivo: "até que" a situação se "normalize".

Convenhamos: os bloqueios e a balbúrdia bolsonarista podem até refluir, mas enquanto o bolsonarismo tiver a influência que tem, não haverá "normalização".

Aliás, não foram poucas as vezes que foi avisado: o problema não acabaria dia 30 de outubro.

O "normal", para o caso de alguém ter esquecido, era mais ou menos assim: a esquerda mobilizava e, ultrapassados certos limites, parte do aparato estatal reprimia a esquerda.

O que estamos assistindo: a direita mobilizando com uma retórica aparentemente insurrecional e parte do aparato estatal estimulando e manifestando solidariedade à balburdia da direita.

O protagonismo neste momento está com a PRF. Mas a rodoviária não está só.

Enquanto não houver mudança de comando e depuração nestes aparatos de segurança colonizados pelo bolsonarismo, não haverá "normalização" (lembrando que o "normal" não tem nada de ideal, como se pode constatar pelos padrões de atuação policial até mesmo em estados governados pela esquerda. E lembrando também da imensa quantidade de armas estocadas por gente de extrema-direita).

Segundo motivo: Lula não pode "transferir a sede do governo para Salvador", entre outras razões pelo simples fato de que ainda não existe governo Lula.

Lula será empossado no dia 1 de janeiro. Até lá o presidente é o cavernícola.

A menção extemporânea a transferir a sede do governo tem relação com um aspecto meio bizarro da atual situação.

Explico: já se viu mobilização de caminhoneiros (mais exato é dizer: locaute de empresários) servir como preparação para ataques duros, inclusive golpes de Estado, contra governos de esquerda no exercício de suas funções.

Mas não me lembro de uma mobilização deste tipo servir como pretexto para impedir a posse de um presidente eleito. Óbvio: como a classe dominante é muito criativa, não se pode nunca descartar nenhuma possibilidade.

Mas o fato é: o presidente eleito ainda não tem os meios para lidar administrativamente com a situação.

Quem tem estes meios administrativos é o cavernícola e as demais autoridades empossadas, inclusive governadores e prefeitos.

Terceiro motivo: fazerem "graça".

Embora às vezes possa até nos fazer rir, mesmo que de nervoso, neste caso o que a extrema-direita está operando é o tal terceiro turno.

O terceiro turno pode demorar dias ou anos, e isto dependerá em parte das decisões da cúpula da extrema-direita, a começar pelo cavernícola.

E o cavernícola até este momento está em silêncio. O que ele quer? Novas eleições? Impedir a posse de Lula? Criar um caos que justifique uma operação de GLO? Negociar um indulto preventivo? Uma saída honrosa junto aos setores "radicais, porém sinceros", de suas bases? Mandar um recado para lembrar como será a oposição ao futuro governo? Simplesmente criar um pouco de balbúrdia, pois é da sua natureza? 

Especulações a parte, sabemos o seguinte: se o objetivo for mesmo tentar impedir a posse de Lula e convocar novas eleições, será preciso muito mais do que os atuais bloqueios de estrada

Será preciso, entre outras coisas, uma mobilização de massas do próprio bolsonarismo, que na sua imensa maioria está assistindo de longe os acontecimentos. Os bloqueios e outras medidas visam, entre outros objetivos, chamar a atenção para a necessidade desta mobilização, embora possam ter o efeito contrário, devido aos prejuízos que causam inclusive aos eleitores do cavernícola. 

Portanto, embora isso angustie as pessoas acostumadas com o imediatismo das redes sociais, o melhor no dia de hoje segue sendo aguardar, exigir que os atuais governantes atuem como devido e evitar confrontos que contribuam para escalar a situação. 

Lembrando existirem confrontos que ajudam a aliviar a situação, como no caso em que trabalhadores criam as condições para desobstruir pacificamente e por conta própria certas estradas e como no caso em que unidades policiais sob comando mais ou menos civilizado agem no mesmo sentido.

E amanhã? O que faremos? Isto depende da evolução dos acontecimentos. Pois, como dissemos antes, não vivemos em tempos de "normalidade", em que a evolução dos fatos segue um roteiro mais ou menos previsível.

As urnas falaram dia 30 de outubro. Derrotada, a extrema-direita desencadeou o terceiro turno, mobilizando as redes, parte das milícias e das casernas, e tentando mobilizar as ruas. Até agora não tiveram êxito. Mas se a mobilização da extrema-direita sinalizar que pode ganhar caráter de massa, aí será preciso reagir de outra forma. 

Sempre lembrando que, enquanto não houver mudança de comando e depuração nos aparatos de segurança colonizados pelo bolsonarismo, continuaremos em estado de sobressalto.

























Um comentário:

  1. A Agro não quer prejuízo, esse bloqueio não se sustenta. Partiu da motivação insana de se opor às urnas, ainda q o excrementíssimo esteja proibido de se manifestar sobre o assunto. O sobressalto virá após a mudança do comando, quando então irão responsabilizar a esquerda pela falência da atuação da direita. Os golpistas estão barrigudos, fartos, satisfeitos, extasiados com os lucros abusivos, agora voltam p o estado de repouso parasita. A direita n percebeu mas estão por conta, faltam-lhes apoio.

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