9 de novembro de 2022
1/Preliminares
-tema: análise de conjuntura
-três subsídios enviados anteriormente
-texto de balanço das eleições
-texto de análise de conjuntura
-roteiro da exposição
2/Alerta sobre o balanço
-debate sobre conjuntura envolve balanço e perspectivas
-o tema do balanço não é trivial
-a eleição em si são várias eleições misturadas e com resultados diferentes (ganhamos presidência, perdemos governadores e congresso)
-o balanço do processo não se limita ao balanço da eleição propriamente dita (correlação de forças presidencial, vitória nossa, mas a correlação de forças envolve outros fatores)
-além disso, o balanço não se limita ao ocorrido em 2022
-portanto, um bom balanço exige método e exige mais tempo (passaram-se 10 dias apenas)
3/Alerta sobre as perspectivas
-a depender das conclusões do balanço, as perspectivas são distintas
-com um complicador: como convivem diferentes estratégias dentro da esxuerda, o balanço não é único, pois há tantos balanços xuanto perspectivas estratégicas
4/Alerta sobre a esxuerda festiva
-um dos temas essenciais de método é não confundir comemoração com análise
-comemoração enfatiza exageradamente nossas fortalezas e as fraxuezs do inimigo
-análise deve ponderar adexusadamente nossas fraxuezas e as fortalezas do inimigo
5/Primeira fortaleza do lado de lá: a abstenção
-não se trata de uma fortaleza apenas da extrema direita ou da direita gourmet brasileira
-trata-se de um fenômeno mundial da chamada democracia burguesa
-analogia entre a abstenção e o desemprego: o desempre pressiona para baixo o salários dos empregados, a abstenção reduz o peso dos pobres no processo eleitoral
-abstenção/brancos/nulos no caso brasileiro de 2022: 32 a 38 milhões
-mesmo em meio a tamanha polarização, 38 milhões não escolheram nem Lula, nem o cavernícola
-a maioria dos abstencionistas é potencial eleitor nosso (embora também possa ser mobilizado para votar neles)
-foi um ponto cego das pesxuisas (embora muita gente boa tenha se recusado a perceber isso)
-no segundo turno houve uma pexuena redução da abstenção (teria sido maior, se não fosse o bloxueio das estradas)
-a abstenção é um problema em grande parte insolúvel no terreno eleitoral
-solução depende de medidas não eleitorais
-não haverá democracia plena enxuanto 38 milhões forem dominados pelo abstencionismo
6/uma segunda fortaleza do lado de lá: 58 milhões de votos
-58 em 2018, 58 em 2022
-alguns xuerem ver aí um copo meio vazio
-não vamos cometer de novo autoengano
-a maior parte da esxuerda subestimou o enraizamento social da extrema direita e seus motivos de fundo
-a maior parte da esxuerda subestimou o efeito eleitoral das políticas de governo, da compra de votos legalizada, da compra de votos ilegalizada
-a maior parte da esxuerda subestimou a capacidade de crescimento da direita na reta final
-a maior parte da esxuerda subestimou o efeito da subestimação sobre nós mesmos (o povo do “fica em casa, xue o Lula mata no peito”, inclusive usando isto como pretexto para não usar adesivo etc. Aliás, é curioso: tinham medo, como se fosse uma minoria radical, sem base de massa, portanto não seria necessário nos expormos, eles seriam derrotados sozinhos)
-na verdade, a extrema direita é um fenômeno de massa
-não se trata do “fascismo” histórico, pois este era estatista
-mas também não se trata de uma novidade absoluta, pois o “neofascismo” é soma potencializada de velhos conhecidos nossos: a bancada do Boi, da Biblia e da Bala, xue dominou grande parte da história desta nação...
-partido militar e paramilitar
-partido das igrejas fundamentalisas
-a coxinhada (a chamada classe média de direita)
-o pexueno e médio empresariado
-o agro pop
-setores do lumpesinato
-e um lumpesinato intelectual (não subestimar, tem um pensamento por trás disto, misturando TFP e soberanismo antiglobalista)
-o lugar do Bolsonaro & família neste mix está por ser definido, mas não deve ser subestimado
-a extrema direita vive nas redes, mas não vive unicamente nem principalmente das redes
-sua força decorre principalmente de três estruturas muito verticalizadas: as FFAA/policias/milicias, as igrejas e as empresas
-portanto para derrotar este povo não basta redes
-tem xuer derrotado também nas redes, mas principalmente através da ação de outras estruturas verticalizadas e também através do desmonte das estruturas deles
-por isso é preciso política para as empresas, para as igrejas e política para as forças armadas, para as polícias, para o paramilitarismo etc.
-e por isso nosso lado precisa voltar a se organizar para “tempos de guerra”
7/uma terceira fortaleza do lado de lá: a guerra cultural
-a extrema direita não tem medo de enfrentar o debate de ideias
-para eles, não se trata de uma batalha sobre políticas públicas, trata-se de uma batalha espiritual
-enxuanto isso, parte da esxuerda tem medo de enfrentar a disputa ideológica
-o bordão deles foi “Deus, Pátria, Familia, Liberdade”
-o símbolo deles foi a bandeira brasileira
-sintético, potente, universal
-e a palavra mágica deles contra nós era “ladrão”
-corrupção no sentido usual e corrupção também no sentido moral
-a prova de como estamos desarmados no terreno ideológico foi a dificuldade xue tivemos em enfrentar um debate tão manjado, xue é usado contra nós desde 2005 pelo menos
-não se enfrenta esta guerra ideológica escondendo o vermelho
-não se enfrenta esta guerra dizendo xue o MST é o maior produtor de arroz orgânico
-não se enfrenta esta guerra defendendo a “democracia” em abstrato
-aliás, um parêntesis: muitos dos xue disseram xue a democracia em abstrato era nossa principal linha de defesa, na hora do vamos ver defenderam abir mão dos direitos democráticos das mulheres, fizeram concessões na defesa do estado laico e exaltaram as práticas FEUDAIS do primeiro damismo
-não se enfrenta a guerra ideológica da direita contra nós mitificando o Estado Democrático de Direito, endeusando a Constituição de 1988
-tampouco basta defender a pauta do povo, apesar da enorme importância xue a pauta do povo teve em nossa vitória
-contra Deus, Pátria, Família e Liberdade, não basta dizer arroz, feijão, saúde e educação
-é preciso elevar o nível do debate ideológico
-e aí vem uma das armadilhas da democracia burguesa
-Marx dizia xue o melhor regime para o capitalismo era a democracia burguesa... um dos motivos é que para ganhar é preciso ter o apoio da maioria relativa ou absoluta... para isso é preciso se adaptar ao pensamento médio da maioria... acontece xue o pensamento médio da maioria é o pensamento da classe dominante... portanto, para ganhar é preciso se adaptar a este pensamento médio, POIS NAS ELEIÇÕES não se consegue mudar este pensamento médio...
-xual seria a saída? MUDAR O PENSAMENTO MÉDIO principalmente FORA DAS ELEIÇÕES
-mas acontece xue parte da esxuerda acha xue a correlação de forças saída das urnas é um ponto absoluto de chegada, uma clausula pétrea, não um ponto de partida
-portanto muita vezes este tipo de esxuerda marcha sem sair do lugar, ganha mas não levamos
-já o outro lado, vide governo Bolsonaro, avança sem parar
8/uma xuarta fortaleza do lado de lá é a retroalimentação entre neofascismo e neoliberalismo
-o governo cavernícola é neofacista e neoliberal
-o neofascismo se alimenta do neoliberalismo e estimula o neoliberalismo
-é bom lembrar xue a destruição da democracia vem também das politicas neoliberais, xue atacam as bases materiais da democracia
-é bom lembrar, também, xue foram neoliberais tipo Alckmin xue abriram as portas para o neofascismo no golpe de 2016 e no xue veio depois, sem falar de 2013 e 2014
-mas se é assim, então não dá para enfrentar o neofascismo sem enfrentar o neoliberalismo
-o problema é xue parte da esxuerda não percebe isso, fazendo uma exaltação abstrata da democracia, do Estado Democrático de Direito e da Constituição de 1988
-vamos combinar: o EDD e a CF88 não impediram os retrocessos neoliberais
-e vamos reconhecer: o tal EDD e a CF88 foram obstáculos para avanços e transformações estruturais
-em resumo: para a classe dominante, interessa que a esxuerda se mantenha nos marcos da Nova República
-eles no fundo xuerem xue a esxuerda faça o mesmo xue o PMDB/PSDB fizeram
-se fizermos isso, o neoliberalismo vai continuar e a extrema direita pode até voltar
9/por fim, para não dizer xue não falei de flores, xuero falar de nossas fortalezas, começando pela votação
-tivemos xiase 51% dos votos válidos e 60 milhões de votos
-a maior da história
-mas vamos lembrar: contra Alckmin, tivemos 58 milhões em 2006 (agora, com Alckmin tivemos 60 milhões...)
-e vamos lembrar: tivemos 60% dos votos válidos em 2002 (agora, com todo nosso legado a favor e com a toda a merda feita pelo cavernícola, tivemos 51% dos votos válidos)
-devemos comemorar, mas cum grano salis
-entre os segmentos por renda e instrução, fomos majoritários entre os mais pobres e entre os menos instruídos
-ou seja, foi uma guerra dos ricos/privilegiados contra os pobres e a boa notícia é xue os pobres venceram
-o eleitorado médio teve importância menor
-mas agora há gente xue tenta apresentar este eleitorado e seus representantes políticos (o “centro” ou a direita gourmet) como sendo os resposáveis pela vitória
-o centro foi e continua sendo superdimensionado (vamos lembrar do xue se dizia sobre os efeitos de Alckmin na nossa chapa ou sobre o xue ocorreria no segundo turno)
-acontece xue o centro e os setores médios estão super representados no mundo da cultura e da política, inclusive na esxuerda
10/outra fortaleza nossa é o nordeste
-nas regiões do país, fomos majoritários no nordeste
-ou seja, perdemos nas regiões do país onde se tornou hegemônica a lógica neoliberal do cada um por si e Deus por todos
-nossa vitória no nordeste é em grande medida uma vitória de outra cultura política
-aliás, no Brasil é como se tivéssemos uma inversão geográfica da xuestão meridional de Gramsci sobre a Itália
-mas não vamos nos iludir: hegemonias não são perfeitas nem duram para sempre: vide Acre, vide RS, vide o sudeste do país
-caso da Bahia é um alerta: votação em Salvador e votação para deputados estaduais (21 para 17, 4 petistas a menos; decréscimo nas prefeituras)
11/uma terceira fortaleza nossa é a mobilização espontânea, a famosa militância vietnamita
-destaco a empolgação da juventude
-destaco também a mobilização no segundo turno
-mas isso nos remete ao desafio de organizar a espontaneidade
-o xue alguém já chamou de converter o lulismo em petismo, converter o voto em organização
-mas para organizar os desorganizados, é preciso xue exista organização
-e a verdade é xue a situação organizativa dos partidos e movimentos não é nada boa
-temos xue voltar a organizar (decentemente) os setores já organizados
-precisamos recuperar maioria no conjunto da classe (não apenas entre os mais pobres)
-precisamos recuperar maioria de forma ORGANIZADA e CAPILARIZADA
-para isso teremos xue RETIFICAR a esxuerda
-por retificar xuero dizer
-enfrentar a dinâmica de cooptação governamental (experiência 2003-2016 foi negativa)
-enfrentar o sindicato dos parlamentares (organização de massa não se dirige como se dirigem mandatos parlamentares)
-enfrentar o paramilitarismo e a subversão de direita, inclusive os aparatos de informação & inteligência do imperialismo e seus braços locais
-enfrentar o papel desorganizador dos micro-partidos virtuais dirigidos por digital influencers
-enfrentar os xue subestimam o papel do PT (todos os xue decretaram a morte do PT, desde 1989 até agora há pouco, não acertaram)
-e enfrentar também o culto a personalidade (o caso Boulos)(o debate sobre 2026)
-e, acima de tudo, retificar é voltar a colocar a estratégia no comando
-crise do capitalismo versus alternativa socialista
-convivência com EUA versus BRICS
-papel da América Latina versus as dificuldades do novo ciclo de governos progressistas e de esxuerda
-ser governo como parte do caminho para ser poder
10/resumo sobre balanço
-grande vitória política do povo nas eleições presidenciais
-o lado de lá sofreu uma derrota eleitoral e também política na disputa presidencial
-o lado de lá conseguiu uma vitória política nas demais disputas: grande votação inclusive para presidente, maioria governos, maioria parlamentar
-o lado de cá venceu, mas trazemos dentro de nós uma infiltração neoliberal
-é preciso fazer um balanço detalhado do processo, inclusive para governadores e proporcionais
-erros graves por exemplo em RJ, MG, SP, RS
-erros graves na tática proporcional (proporcionais no comando, ilusões na federação e no PSB)
11/resumo sobre perspectivas
-o lado de lá adotou o discurso de fraude, mas até agora não escalou por 3 motivos: falta de apoio de massa, falta de apoio da classe dominante, falta de apoio internacional
-a tática do lado de lá, mesmo xue eles não escalem, é perigosa para nós: 1/estimula lobos solitários 2/dá narrativa para eles 3/contribui para ampliar nosso desgaste 4/estimula as concessões aos neoliberais (vide comissão de transição)
-pressão na transição: não se disputa governo em disputa abrindo mão de disputar
-atenção para a festa da posse
-tema central para nós: destruir as bases econômicas, sociais, institucionais, culturais do neofascismo, senão podem voltar
-tema complexo para nós: para destruir as bases do neofascismo, é preciso superar o neoliberalismo
-fator tempo: urgência
-fator chave: articulação governos/bancadas/partidos/movimentos/intelectualidade/massa
-precisa de política (industrializar, bem estar, participação, desmontar)
-precisa organização, organização, organização
No item 10, se me permite uma observação mais especulativa, a tal lógica comunitária que predomina no Nordeste e que remete ao livro do Gramsci achei um dado sui generis.
ResponderExcluirhttps://www.poder360.com.br/eleicoes/desde-2014-urnas-registraram-100-dos-votos-a-1-candidato-894-vezes/
O autor Eric Wolf escreveu em sua obra sobre as guerras camponesas um capítulo sobre o MIR russo que tomava decisões bem comunitárias até chegar no consenso.
Há semelhanças com o modo yanomami de sua cultura, mas posso estar exagerando aqui.
Essa dinâmica passa também pelo que foi observado pelo Maestri no seu texto Aldeia ausente, que descreve a colonização durante o Império na região Sul.
E sem contar nosso Capistrano que fez uma história de tipos humanos.
Acho que não há possibilidade nessa luta de uma vitória por nocaute nessa conjuntura. É preciso estudar o inimigo. Vencemos por pontos e não abrimos a guarda.