Alguém já disse que nossa memória é curta.
Pensei nisso ao reler os textos escritos pelo
Reinaldo Azevedo, na Veja, atacando o PT.
Penso nisso, também, quando vejo muita gente boa vibrando com os ministros do Supremo, especialmente com Xandão, em particular depois da multa aplicada ao PL.
Até aí, compreensível.
Difícil mesmo é quando passam da vibração para a "teorização".
Foi o que, assim me parece, tentou fazer o companheiro Tarso Genro, em artigo publicado recentemente
no Sul 21.
O texto citado está aqui: Xandão é o ‘Filho do Século’ do Estado de Direito (por Tarso Genro) - Sul 21
Nele Tarso afirma que “muitas pessoas de dentro das instituições do Estado
– aqui quero me referir a estas sem compará-las com aquelas que na sociedade
civil e nos partidos lutaram heroicamente para sustar o avanço do fascismo –
merecerão serem lembradas ao longo da nossa história por não desistirem da
democracia, num momento de avanço do fascismo em nosso país”.
Realmente, é melhor não comparar, pois se compararmos
será inevitável lembrar que “muitas pessoas de dentro das instituições” merecerão
ser lembradas por terem traído as liberdades democráticas e terem contribuído
para o avanço do fascismo.
Inclusive vários ministros do STF.
Tarso também afirma que Bolsonaro “se apressou em montar
estruturas paralelas junto ao crime organizado e armar civis para disputar o
monopólio da força e das armas com as próprias instituições militares. No
episódio atual, portanto, Bolsonaro – o “mito” – tentou formar o “partido militar”
depois da eleição, buscando cooptar centenas de militares para cargos de
Governo, mas sem conseguir dominar a caserna”.
Não foram centenas, mas milhares de nomeados para
cargos.
Não houve disputa do monopólio da violência, porque
as forças armadas apoiaram o armamento em massa dos setores ricos.
E a caserna não foi dominada, pelo simples motivo
de que é a caserna (ou melhor, o alto comando da caserna) quem domina. Bolsonaro
é "apenas" uma das muitas expressões do partido militar.
Tarso diz que Bolsonaro é um “um político medíocre” que pretendia fazer “uma
corrosão do sistema “por dentro” das instituições. E ele o faz com o apoio
majoritário do Congresso e ergue o fascismo – sem
o apoio expresso ou o estímulo das instituições militares – à condição de uma
alternativa política concreta, quase consagrada num processo eleitoral de
reeleição, no qual ele lutou até o fim para fraudar”.
Sem o apoio expresso dos militares?
Sem o estímulo dos militares?
A verdade é outra: a cúpula das forças armadas foi um dos principais
agentes do golpe de 2016 e do que veio depois.
E foi nas forças armadas que se constituiu o núcleo duro das concepções
bolsonaristas (ou seja, do atual “fascismo” à brasileira).
Por quais motivos Tarso subestima o papel dos militares na ascensão do bolsonarismo?
Um dos motivos é óbvio: fingindo que eles são menos perigosos do que são, fica mais fácil convencer as pessoas de que devemos (re)conciliar com eles.
Por exemplo, nomeando um ministro da Defesa “escolhido” pelos milicos.
É esta lógica – fazer de Bolsonaro um paraquedista e poupando a
responsabilidade das instituições – que leva Tarso a afirmar que o ascenso de Mussolini
teria sido o “ascenso da vontade contra a força das instituições”.
A verdade é outra, como demonstra o mesmo Tarso Genro nas linhas
seguintes de seu texto, ao falar dos “namoros dos velhos políticos liberais italianos com o
autoritarismo” e da “cínica postura dos monárquicos”.
Na Itália fascista, na Alemanha nazista e no Brasil do cavernícola, as “instituições” se dividiram, mas predominou a conciliação
com a extrema-direita.
Mais adiante, Tarso afirma o seguinte:
“O filho do século, no protofascismo brasileiro, todavia, não
estava próximo às estruturas do Estado, nos lugares onde se reproduzia o
golpismo bolsonárico (Congresso e Executivo), nem na sociedade civil, que as
lideranças fascistas tentavam se organizar com dinheiro e com as promessas
utópicas da volta ao passado medieval. Nem era um partido de oposição, nem um
mito, nem um grupo; nem era um político de vulto e de responsabilidade como
Lula. O filho do século não estava fascinado em observar diretamente o
“fascismo societal” em curso, pois era “por dentro do Estado”, submetendo
Executivo e as representações do Parlamento que o golpe poderia prosperar. Não
tremeu de medo nem vacilou: usou e usa capa preta e não tem vínculos
ideológicos com a esquerda. “Xandão”, sem se impressionar com os blefes golpistas
e suas ameaças de morte, é o nosso Filho do Século nas instituições
do Estado, de modo inverso ao de Mussolini, descrito por Scuratti: sua arma foi e
é a Constituição e sua vontade corajosa dentro do STF, foi a maior de todas,
desde que a Constituição de 88 foi proclamada por Ulysses Guimarães, que tinha
”nojo da ditadura” e de todos os ditadores”.
A construção dos raciocínios e os elogios a Xandão chegam a ser engraçados, de tão tortuosos e exagerados. Por exemplo: sua arma
“foi e é a Constituição”, omitindo que o procedimento
de Xandão foi e é "customizado".
Mas o mais interessante é o duplo sentido da afirmação segundo a qual Xandão
seria “o nosso Filho do Século nas instituições
do Estado, de modo inverso ao de Mussolini”.
Nesta passagem de seu texto, se é que entendi o que ele quis dizer, Tarso
atirou no que viu e acertou no que não viu. Ou no que esqueceu de ter visto, pois
ontem mesmo Moro e antes dele Barbosa já haviam feito testes para o personagem
que – segundo Tarso – Xandão estaria interpretando: o do bonapartista judicial.
Tarso encerra dizendo que
Neste palavrório, o termo chave é “reconciliação”.
E, ao contrário do que diz Tarso, a verdade é a seguinte: se a "reconciliação" vencer, se a conciliação vencer novamente, se a ilusão nas "instituições" seguir predominante em certas cabeças, o "fascismo" também terá vencido, pouco importando que artista encarnará o "filho do século".
Pelo andar da carruagem o país não será novamente passado a limpo. Prepara-se uma enorme conciliação, que pode culminar em mais uma vez em uma anistia equivocada
ResponderExcluirQualquer petista deve ter o apoio inicial e incondicional para assumir o Ministério da Defesa de Lula.
ResponderExcluirO que é inaceitável é promover um Fiasco na questão militar.
O PT não pode terceirizar o centro desse tabuleiro. Tarso Genro é petista, Quaquá também. Tem enfrentar essa batalha com ... firmeza, mas sem perder a ternura jamais.
Xandão é corajoso sim. Pena que não é do nosso lado, mas vale indagar se o que o STF pretende não é a mesma Transição que precisamos, ou seja reindustrializar nosso país.
O contrário disso sabemos, é virar uma fazenda com senzala....
Genro ainda é um notável intelectual que escreve bem pacas. Lula deveria considerar essa opção para a Defesa