No dia 17 de novembro, realizamos uma plenária nacional virtual da tendência petista Articulação de Esquerda.
No
pico da reunião, estiveram presentes 96 dirigentes estaduais, municipais e
setoriais, debatendo balanço e perspectivas.
Anteriormente, a direção nacional da AE, reunida logo após o
segundo turno, aprovou um balanço preliminar das eleições e uma resolução sobre
conjuntura e tarefas.
Os dois textos estão disponíveis no www.pagina13.org,br
No
dia 27 de novembro, a direção nacional vai concluir o balanço e buscará incorporar
várias sugestões e opiniões apresentadas na reunião de 17 de novembro (olhar para a metade cheia do copo, vencemos
talvez a eleição mais disputada da história da república, os acertos que
tivemos, a tática no segundo turno, da retórica passadista para a ênfase redobrada
na pauta do povo + futuro, mantivemos camisa vermelha, não saiu nova carta aos
brasileiros, a mal denominada “divisão do país”).
Também serão incorporadas algumas das conclusões aprovadas no dia 9/11,
quando fizemos uma plenária nacional virtual para socializar as informações sobre
o processo de transição, sobre a composição de governo e suas medidas imediatas.
Ao final da reunião de 9 de novembro, da qual participaram mais de
52 pessoas, foi divulgada uma ajuda memória onde se pode ler o seguinte:
-nosso principal objetivo é garantir que a
transição/composição/medidas imediatas respeitem o sentido do voto popular que
elegeu Lula presidente;
-trata-se de: a) seguir derrotando a extrema-direita; b) impedir
que os aliados neoliberais tomem conta; c) garantir o protagonismo do PT e
aliados de esquerda;
-é preciso manter sob vigilância, denunciar e reprimir as
manifestações golpistas da extrema direita; manter as medidas de preservação da
vida pessoal e coletiva, inclusive com mais formação e treinamento específicos;
mobilizar fortemente para a posse do dia 1 de janeiro;
-em relação aos neoliberais, é preciso: a) questionar os
desequilíbrios existentes na chamada comissão de transição; b) evitar as
armadilhas que tendem a nos colocar sob tutela do Centrão e de outras
instituições controladas pela direita gourmet;
-em relação ao protagonismo da esquerda, é preciso: a) manter a
pressão, para que o governo inicie cumprindo o programa, especialmente aquele
voltado aos setores mais populares; b) ampliar a representação dos setores
democrático populares no processo de transição; c) orientar os movimentos
sociais e sindicais a fazerem pressão direta sobre a chamada comissão de
transição;
-especificamente em relação ao PT, é preciso que as instâncias
partidárias (diretórios municipais e estaduais, setoriais e núcleos em todos os
níveis, bancadas e governantes municipais/estaduais) se reúnam e aprovem
resoluções sobre o tema transição/composição/medidas imediatas, resoluções que
devem ser encaminhadas ao Diretório Nacional e divulgadas para o conjunto do
Partido.
-a militância e as instâncias municipais, estaduais e nacional da
tendência petista Articulação de Esquerda devem contribuir para este processo
de “ressureição” das instâncias partidárias e canalizar, através das
instâncias, nossas propostas e nossas indicações;
-em processos anteriores, a composição de governo envolveu
convites individuais; indicações de instâncias partidárias, de movimentos e
organizações; e consultas mais ou menos formalizadas às tendências. Mas o
processo atual possui várias diferenças em relação ao ocorrido em 2002, 2006,
2010 e 2014. Portanto, neste momento o essencial é lutar para garantir o
protagonismo do PT nas definições sobre transição/medidas imediatas/composição;
-não existe ainda um canal partidário para acompanhar a comissão de transição, assim como
não está criado um canal institucional através do qual possam ser apresentadas
propostas e indicações;
-o procedimento adotado deu ao vice-presidente eleito e a
representantes dos neoaliados espaço superior à sua contribuição efetiva na
vitória. Embora haja comissões com representação mais equilibrada, a representação
regional, étnica, de gênero e de classe não corresponde ao resultado ds urnas;
-nosso
procedimento, enquanto tendência, é estimular o Partido e os movimentos a buscar
mais espaço e influência.
O tema “comissão
de transição” será abordado de maneira mais detalhada no programa Antivírus do
dia 21 de novembro.
O processo
de transição, composição do novo governo e definição das medidas iniciais ocorre
num cenário a quente, que inclui a) a situação mundial e regional; b) as
pressões da extrema direita; c) as pressões da direita neoliberal; d) as
diferentes visões existentes dentro do PT e da esquerda em geral.
A extrema
direita perdeu as eleições, mas segue operando. Sua conduta na oposição será um
pé na institucionalidade, um pé nas ruas e o rabo na ilegalidade.
Os
trancamentos de estradas e as manifestações da extrema-direita defronte aos
quarteis são matéria-prima perfeita para memes, mas não devem ser subestimadas,
nem tanto pelas manifestações em si, mas principalmente pelo que revelam, a
começar pelo beneplácito que recebem da parte dos comandantes das três forças,
assim como pelo generoso financiamento que tem recebido de empresários. Claro
que existe loucura nessa operação da extrema direita, mas o essencial é que
nesta loucura há método, apoio institucional e empresarial.
Para além
disso, as eleições de 2022 nos deixaram como herança uma forte presença reacionária
no Congresso Nacional, nas Assembleias Legislativas e em grande número de
governos estaduais. A isso se soma o presidente do Banco Central e diversas
outras autoridades nomeadas pelo cavernícola, desde os tribunais superiores até
o guarda da esquina.
Ademais, é
preciso lembrar dos brothers in arms: centenas de milhares de pessoas
armadas, com fardas ou sem fardas, espalhadas por todo o território nacional:
cerca de 100 mil policiais civis, 350 mil nas três armas, 420 mil policiais militares,
950 mil inscritos em clubes de tiros e 2,8 milhão de armas cadastradas, sem
esquecer é claro o que está em mãos de milícias, crime organizado etc.
Temos que
levar em conta, também, o imenso rebanho a cargo de dezenas de milhares de padres
e pastores conservadores, assim como as redes formais e informais do
empresariado, especialmente do agro.
Sem
esquecer, nunca, dos canais através dos quais circulam as fake news, as narrativas
e as palavras de ordem. Tudo isto conectado com redes internacionais da extrema
direita, que aliás atuaram ativamente na eleição de 2018 e 2022.
Há quem
considere que o descrito anteriormente é um exército derrotado, que irá se desmobilizando
pouco a pouco, devido ao cansaço, às divisões internas, a crise de direção, a falta
de apoio internacional e, acima de tudo, ao desestímulo do grande capital, que supostamente
estaria optando, ao menos majoritariamente, por conviver com o governo Lula,
mais ou menos como teria ocorrido entre 2007 e 2010.
Mas é
preciso levar em conta que a extrema-direita e o cavernícola não caíram do céu.
Foram produto de diversas variáveis, a principal das quais o longo processo de reconversão
da nossa economia, de quase potência industrial a potência agrícola-mineral.
Essa reconversão mudou a composição da classe dominante, mudou a composição das
classes trabalhadoras, mudou a dinâmica política e mudou o ambiente cultural
nacional.
Este foi o
pano de fundo das oito eleições presidenciais ocorridas entre 1989 e 2010. As
três primeiras foram vencidas pelos tucanos, as três seguintes pelo PT. Aí veio
2014: a quarta derrota tucana e a quarta vitória petista levaram parte da
classe dominante a concluir que – ao menos pelos métodos “normais” - seria
impossível derrotar eleitoralmente o PT.
Este foi o
ponto de partida do golpe de 2016, das ilegalidades da Operação Lava Jato, da condenação
e prisão de Lula, da interdição fraudulenta da candidatura Lula em 2018 e, finalmente,
do apoio concedido pela maior parte da classe dominante e pela esmagadora
maioria da direita gourmet, em favor de Bolsonaro.
Quatro anos
depois, a classe dominante e a direita gourmet se dividiram em três partes: os
defensores da terceira via, os defensores de um acordo com o PT e os defensores
da reeleição de Bolsonaro.
A votação confirma
que a maior parte da classe dominante escolheu Bolsonaro. Lula conseguiu
maioria entre os trabalhadores mais pobres, que por sinal são maioria relativa
do eleitorado.
Contraditando
os fatos, há quem atribua a vitória não aos trabalhadores pobres - na sua
maioria mulheres, pretos e nordestinos – mas sim às alianças com setores da
direita gourmet. Não admira que estes setores estejam super representados na
comissão de transição, enquanto os vencedores da eleição, os verdadeiros defensores
da democracia, estão subestimados.
A derrota
eleitoral da extrema direita precisa ser completada com sua eliminação das
instituições e da vida política e cultural do país. Guerra cultural contra os
promotores da “guerra cultural”.
Entre as
muitas medidas imprescindíveis para atingir este objetivo, devemos destacar a reindustrialização
do país. Uma reindustrialização de novo tipo, articulada com ampliação de
direitos, com reforma agrária, com políticas ambientalmente sustentáveis etc.
A
reindustrialização é necessária para mudar as bases materiais da atual composição
e correlação de forças entre as classes sociais existentes no Brasil.
A reindustrialização
é um processo de médio prazo, exige investimentos iniciais vultosos, implica em
choques com diversos interesses internacionais e nacionais, supõe capacidade de
planejamento, gerenciamento e vontade política.
Agora, se mexer
no teto de gastos, para assim elevar as políticas sociais, gera tanta
resistência, maior resistência ainda haverá contra a ampliação significativa do
investimento público, indispensável à um ciclo de industrialização de novo
tipo.
Aliás, alguns
de nossos aliados contra a extrema-direita, são nossos inimigos no tocante à
reindustrialização nacional.
A direita
gourmet neoliberal faz a defesa das “instituições”, mas exige como contrapartida
a preservação do legado tucano, inclusive de suas variante temer-guediana.
Há quem
pretenda resolver o problema apostando no tempo: quatro anos ou oito anos,
segundo os mais otimistas. Supostamente, se tivermos tempo, poderemos ir pouco
a pouco administrando os conflitos e solucionando os problemas.
O problema é
que o tempo em política é uma variável flexível e que pode se mover em
diferentes direções.
A experiência
que tivemos entre 2003 e 2016 demonstra, entre outras coisas, que o tempo serve
tanto para acumular quanto para desacumular. E se levarmos em conta o que
mudou, no mundo e no Brasil, é evidente que os riscos de desacumulação são maiores
agora, do que eram há vinte anos. Vivemos tempos de guerra, de crise, de continuidade
da pandemia da Covid 19.
Nesse
sentido, não é prudente esperar o médio prazo. É necessário agir desde já, cumprir
o programa vitorioso nas urnas, melhorar a vida do povão, ao mesmo tempo que atraímos
para nosso lado parcelas – especialmente da classe trabalhadora – que apoiaram
Bolsonaro.
Mas também
não é prudente esperar que políticas públicas por si só esvaziem a força da
extrema direita.
É preciso
tomar todas as medidas possíveis contra a extrema-direita. Denunciar, desmoralizar,
demitir, processar, julgar, condenar, multar, prender. Fazer um levantamento
permanente dos crimes cometidos, tomar medidas para impedir qualquer tipo de
anistia ou esquecimento. Desarmar os ricos e a extrema-direita. Fazer muita
disputa político-cultural (vide aniversário do AI5).
Ao mesmo
tempo, é preciso todas as medidas possíveis para fortalecer o campo
democrático-popular. Agrupar, filiar, estruturar, formar, comunicar, mobilizar.
Preparar
desde já as eleições 2024, mas ao mesmo tempo saber que os tempos da política não
aguardarão as eleições bianuais. Vamos lembrar do ocorrido no primeiro mandato
de Lula e no segundo mandato de Dilma.
Lembrando
que não temos um inimigo, temos dois inimigos, o neofascismo e o neoliberalismo,
que já está se movimentando para preservar seu espaço (saída de Guido Mantega,
grita em defesa da “responsabilidade fiscal sem responsabilidade social” etc.).
As batalhas em torno do agro, do setor financeiro, do teto de gastos, são expressões
da luta de classes, em que enfrentamos as diferentes alas da classe dominante.
Onde está
nossa principal debilidade? No mesmo lugar onde reside nossa principal força.
Foi a mobilização militante que elegeu Lula. E a coluna dorsal desta mobilização
foi o petismo.
O petismo é
uma grande força, mas possui baixa organização. A imensa maioria das instâncias
partidárias simplesmente não funciona. Decisões fundamentais são tomadas fora
das instâncias partidárias, seja pelo grupo atualmente majoritário, seja por
setores de nossas bancadas, seja por governantes.
A mãe de
todas as batalhas, que vai decidir o sucesso ou o insucesso estratégico do governo
Lula, é a organização da classe trabalhadora (sindicatos, movimentos,
partidos). E a organização da classe trabalhadora depende, em boa parte, da
organização do petismo.
Nesse
sentido, a disputa pelos rumos do PT, assim como a reconstrução do funcionamento
e do protagonismo do Partido, são tarefas de significado estratégico.
É nesse
esforço que devemos concentrar grande parte das nossas energias, lembrando
sempre que a disputa de um partido de massas exige movimentos de fora para
dentro e de baixo para cima. Em outras palavras: só organizando e mobilizando a
classe trabalhadora, teremos êxito na disputa de rumos do PT. A disputa inclui
o PED, mas não se limita a ele.
Nesse
sentido: atenção para o 20 de novembro (a questão racial foi decisiva na
eleição), atenção para a diplomação de Lula, atenção para a posse de Lula,
vamos nos manter em mobilização permanente, manter e ampliar os comitês
populares de luta, ocupar as ruas como fizemos no segundo turno. Não podemos
institucionalizar nossa ação, inclusive porque isso deixaria a extrema direita
livre para tentar ocupar as ruas.
Em 2022 ganhamos
a eleição. A derrota definitiva do neofascismo e a superação do neoliberalismo
ainda estão por fim.
E para isso
é preciso melhorar a vida do povo, imediatamente, rapidamente, profundamente,
inclusive para derreter a base popular da extrema direita. E embora implementar
políticas públicas seja uma tarefa de governo, defender e sustentar estas políticas
exige ação de movimentos e partidos, seja na batalha político-ideológica geral,
seja na mobilização em torno de pautas concretas. Não vamos cometer de novo o
erro de esperar que o governo dê conta de tarefas que não são dele. Até porque,
num governo em disputa, cabe ao PT ser sua ala esquerda.
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20/11
entrega textos p13 de novembro
21/11 reunião
do conselho editorial da revista Esquerda Petista
27/11
reunião Dnae
6/12 reunião
coordenação sindical nacional da AE
7/12 reunião
virtual de comunicadores da AE.
11/12
entrega textos p13 de dezembro
19/12
reunião da Dnae
1/1/2023
distribuição do p13 capa cartaz
3/1/2023
reunião da Dnae a confirmar
8/1/2023
entrega textos revista Esquerda Petista
21-22/1/2023
reunião da Dnae a confirmar
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É isso. A luta está longe de terminar.
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