Parte 3 do roteiro da aula 3 de leitura de O Capital.
Inicialmente, a mercadoria apareceu-nos
como um duplo [Zwieschlächtiges] de valor de uso e valor de troca. Mais tarde,
mostrou-se que também o trabalho, na medida em que se
expressa no valor, já não possui os mesmos traços que lhe cabem como produtor
de valores de uso. Essa natureza dupla do
trabalho contido na mercadoria foi criticamente demonstrada pela primeira vez
por mim. Como esse ponto é o centro em torno do qual gira o entendimento da economia
política, ele deve ser examinado mais de perto.
-OU SEJA, MERCADORIA, VALOR DE
USO (utilidade e valor de uso para outrem) E VALOR (VALOR E VALOR DE TROCA),
TRABALHO útil-CONCRETO E TRABALHO ABSTRATO
-“Essa natureza dupla do
trabalho contido na mercadoria foi criticamente demonstrada pela primeira vez
por mim”.
-ESSA NATUREZA DUPLA DO TRABALHO
CONTIDO NA MERCADOria é o centro de tudo: no limite, O CAPITAL poder-se-ia
chamar a relação entre trabalho morto e trabalho vivo...
Tomemos duas mercadorias, por exemplo,
um casaco e 10 braças de linho. Consideremos que a primeira tenha o dobro do valor
da segunda, de modo que se 10 braças de linho = V, o casaco = 2V.
O casaco é um valor de uso que
satisfaz uma necessidade específica. Para produzi-lo, é necessário um tipo
determinado de atividade produtiva, a qual é determinada por seu escopo, modo de
operar, objeto, meios e resultado. O trabalho, cuja
utilidade se representa, assim, no valor de uso de seu produto, ou no fato de
que seu produto é um valor de uso, chamaremos aqui, resumidamente, de trabalho
útil. Sob esse ponto de vista, ele será sempre considerado em relação a
seu efeito útil.
-TRABALHO UTIL GERA UTILIDADES,
VALORES DE USO
Assim como o casaco e o linho
são valores de uso qualitativamente distintos, também o são os trabalhos que os
produzem – alfaiataria e tecelagem. Se essas coisas não fossem valores de uso
qualitativamente distintos e, por isso, produtos de trabalhos úteis qualitativamente
distintos, elas não poderiam de modo algum se confrontar como mercadorias. O
casaco não é trocado por casaco, um valor de uso não se troca pelo mesmo valor
de uso. No conjunto dos diferentes valores de uso ou corpos de mercadorias
[Warenkörper] aparece um conjunto igualmente diversificado, dividido segundo o
gênero, a espécie, a família e a subespécie, de diferentes trabalhos úteis – uma divisão social do trabalho.
-NOTEM QUE A DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO
DE QUE ELE FALA AQUI É em certo sentido UMA DIVISÃO “TÉCNICA”, QUE PERMITE QUE
O CONJUNTO DA SOCIEDADE PRODUZA DE TUDO QUE ELA PRECISA e também é uma divisão
social na medida em que a tarefa de produzir o necessário é distribuída entre diferentes
“classes” da sociedade referida
Tal divisão é
condição de existência da produção de mercadorias, embora esta última não seja,
inversamente, a condição de existência da divisão social do trabalho.
-A DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO É
UMA NECESSIDADE EM QUALQUER TIPO DE SOCIEDADE
-E É A BASE, A CONDIÇÃO DE
EXISTENCIA DA PRODUÇÃO DE MERCADORIAS
-MAS A PRODUÇÃO DE MERCADORIAS É
UMA DAS POSSIBLIDADES decorrentes DA DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO
-PODE EXISTIR divisão social do
trabalho SEM que isto implique em PRODUÇÃO DE MERCADORIAS
Na antiga comunidade indiana, o trabalho era socialmente dividido sem que os produtos se tornassem mercadorias. Ou, para citar um exemplo
mais próximo, em cada fábrica o trabalho é sistematicamente dividido, mas essa
divisão não implica que os trabalhadores troquem entre si seus produtos individuais.
Apenas produtos de trabalhos privados, separados e
mutuamente independentes uns dos outros confrontam-se como mercadorias.
-OU SEJA, UMA SOCIEDADE QUE PRODUZ
VALORES DE TROCA, PRODUZ VALORES PARA SEREM TROCADOS, NÃO PARA ATENDER AS NECESSIDADES
SOCIAIS (que, entretanto, existem, mesmo que não sejam o móvel da produção de
mercadorias)
-O ATENDIMENTO DAS NECESSIDADES É
DIGAMOS UM PRETEXTO para o capitalismo [wp: embora
sem tal necessidade também não haveria tal pretexto]
-donde se explica porque
algumas “”””necessidades”””” são criadas e outras NECESSIDADES são desprezadas
Viu-se, portanto, que no valor
de uso de toda mercadoria reside uma determinada atividade produtiva adequada a
um fim, ou trabalho útil. Valores de uso não podem se confrontar
como mercadorias se neles não residem trabalhos úteis qualitativamente
diferentes. Numa sociedade cujos produtos assumem genericamente a forma da
mercadoria, isto é, numa sociedade de produtores de mercadorias, essa diferença
qualitativa dos trabalhos úteis, executados separadamente uns dos outros como
negócios privados de produtores independentes, desenvolve-se como um sistema
complexo, uma divisão social do trabalho.
-AQUI, O TERMO DIVISÃO
SOCIAL DO TRABALHO ACIMA ASSUME UM SIGNIFICADO UM POUCO DIFERENTE DO QUE
ASSUMIU ANTES, melhor dizendo o que “vem primeiro” é a divisão social em si, a dimensão
técnica da divisão social fica em segundo plano
Para o casaco, é indiferente se
ele é usado pelo alfaiate ou pelo freguês do alfaiate, uma vez que, em ambos os
casos, ele funciona como valor de uso. Tampouco a relação entre o casaco e o trabalho
que o produziu é alterada pelo fato de a alfaiataria se tornar uma profissão
específica, um elo independente no interior da divisão social do trabalho. Onde
a necessidade de vestir-se o obrigou, o homem costurou por milênios, e desde
muito antes que houvesse qualquer alfaiate. Mas a existência do casaco, do
linho e de cada elemento da riqueza material não fornecido pela natureza teve
sempre de ser mediada por uma atividade produtiva especial, direcionada a um
fim, que adapta matérias naturais específicas a necessidades humanas específicas.
Como criador de valores de uso, como trabalho útil, o
trabalho é, assim, uma condição de existência do homem, independente de todas
as formas sociais, eterna necessidade natural de mediação do metabolismo entre
homem e natureza e, portanto, da vida humana.
-o trabalho é uma condição de existência da
humanidade
-melhor dizendo, a humanidade vai se
diferenciando do restante da natureza ATRAVÉS do trabalho
-é um tipo de “mediação do metabolismo
entre humanidade e natureza” qualitativamente DIFERENTE de outras mediações,
feitas por outras espécies vivas
Os valores de uso casaco, linho
etc., em suma, os corpos das mercadorias, são nexos de dois elementos: matéria
natural e trabalho. Subtraindo-se a soma total de todos os diferentes trabalhos
úteis contidos no casaco, linho etc., o que resta é um substrato material que
existe na natureza sem a interferência da atividade humana. Ao produzir, o homem pode apenas proceder como a própria
natureza, isto é, pode apenas alterar a forma das matérias. Mais ainda: nesse próprio trabalho de formação ele é
constantemente amparado pelas forças da natureza. Portanto, o trabalho não é a
única fonte dos valores de uso que ele produz, a única fonte da riqueza
material. O trabalho é o pai da riqueza material, como diz William Petty, e a
terra é a mãe.
Passemos, então, da mercadoria, como objeto de uso, para o valor-mercadoria.
De acordo com nossa suposição,
o casaco tem o dobro do valor do linho. Essa é, porém, apenas uma diferença
quantitativa, que por ora ainda não nos interessa. Recordemos, por isso, que se
o valor de um casaco é o dobro de 10 braças de linho, então 20 braças de linho
têm a mesma grandeza de valor de um casaco. Como valores, o casaco e o linho
são coisas de igual substância, expressões objetivas do mesmo tipo de trabalho.
Mas alfaiataria e tecelagem são trabalhos qualitativamente distintos. Há, no
entanto, circunstâncias sociais em que a mesma pessoa costura e tece
alternadamente, de modo que esses dois tipos distintos
de trabalho são apenas modificações do trabalho do mesmo indivíduo e ainda não
constituem funções fixas, específicas de indivíduos diferentes, assim
como o casaco que nosso alfaiate faz hoje e as calças que ele faz amanhã
pressupõem somente variações do mesmo trabalho
individual.
-o exemplo acima é uma das maneiras pelas
quais a divisão técnica do trabalho vai se convertendo/se fixando em uma
divisão social do trabalho
A evidência nos ensina, além
disso, que em nossa sociedade capitalista, a depender da direção cambiante
assumida pela procura de trabalho, uma dada porção de trabalho humano será
alternadamente oferecida sob a forma da alfaiataria e da tecelagem. Essa variação
de forma do trabalho, mesmo que não possa se dar sem atritos, tem necessariamente
de ocorrer. Abstraindo-se da determinidade da atividade
produtiva e, portanto, do caráter útil do trabalho, resta o fato de que ela é
um dispêndio de força humana de trabalho. Alfaiataria e tecelagem, embora
atividades produtivas qualitativamente distintas, são ambas dispêndio produtivo
de cérebro, músculos, nervos, mãos etc. humanos e, nesse sentido, ambas são
trabalho humano. Elas não são mais do que duas formas diferentes de se despender
força humana de trabalho. No entanto, a própria
força humana de trabalho tem de estar mais ou menos desenvolvida para poder ser
despendida desse ou daquele modo.
-a divisão técnica e a divisão social do
trabalho são historicamente produzidas, portanto, em níveis muito baixos de
produtividade ela não se verifica, por outro lado a divisão técnica e social do
trabalho é em si mesma um fator de aumento da produtividade (uma vez iniciada,
é um moto contínuo)
Mas o valor
da mercadoria representa unicamente trabalho humano, dispêndio de trabalho
humano. Ora, assim como na sociedade burguesa um general ou um banqueiro
desempenham um grande papel, ao passo que o homem comum desempenha, ao
contrário, um papel muito miserável, o mesmo ocorre aqui com o trabalho humano.
Ele é dispêndio da força de trabalho simples que, em média, toda pessoa comum,
sem qualquer desenvolvimento especial, possui em seu organismo corpóreo. O
próprio trabalho simples médio varia, decerto, seu caráter em diferentes países
e épocas culturais, porém é sempre dado numa sociedade existente. O trabalho
mais complexo vale apenas como trabalho simples potenciado ou, antes,
multiplicado, de modo que uma quantidade menor de trabalho complexo é igual a
uma quantidade maior de trabalho simples. Que essa redução ocorre constantemente
é algo mostrado pela experiência. Mesmo que uma mercadoria seja o produto do
trabalho mais complexo, seu valor a equipara ao produto do trabalho mais
simples e, desse modo, representa ele próprio uma quantidade determinada de
trabalho simples.
-embora
o raciocínio seja auto-explicável, ele é de tamanha importância, que vale a
pena explorar mais
-vamos
repetir o que foi dito antes (ver roteiro 3-2): Cada uma dessas forças de trabalho
individuais é a mesma força de trabalho humana que a outra, na medida em que
possui o caráter de uma força de trabalho social média e atua como tal força de
trabalho social média; portanto, na medida em que, para a produção de uma
mercadoria, ela só precisa do tempo de trabalho em média necessário ou tempo de
trabalho socialmente necessário.
-notem que a
existência de uma “força de trabalho social média” é uma equalização dos
diferentes trabalhos simples e complexos existentes em uma sociedade, dos
diferentes níveis de produtividade existentes numa sociedade
-logo, estamos
diante do tema que constitui o núcleo da formulação de Marx, da teoria do valor
e do mais valor
-qual é o problema?
O problema está em COMO isto ocorre
-dissemos
antes que é como se todas as forças individuais
fizessem uma conversão em uma força de trabalho humana geral
-a questão
é: isto é uma fórmula para explicar algo
que não se consegue explicar de outro jeito ou é um fenômeno real, que a
abstração detecta??
-consideramos
que é um fenômeno real, mas como todo fenômeno real, é historicamente
produzido, ou seja, parte-se de forças de trabalho individuais até que se
produza uma efetiva força de trabalho humana geral
-a questão
é: como isso ocorre?
-no
roteiro 3-2 explicamos que ocorre primeiro uma equalização no âmbito da troca E
uma equalização no âmbito da produção material
-a
equalização no âmbito da troca: NUM MESMO INTERVALO DE TEMPO, forças de trabalho
mais produtivas produzem maior número de produtos que conterão cada um menos
tempo de trabalho individual, forças de trabalho menos produtivas produzem menor
número de produtos que conterão cada um mais tempo de trabalho individual, mas
no processo de troca umas e outras serão empurradas no sentido de um ponto
médio (que pode ser produzido de diferentes maneiras, inclusive se um nada
trocar, pois nesse caso é como se a força de trabalho social total sofresse uma
diminuição, o que por sua vez terá o mesmo efeito da equalização)
-qual o
efeito desta equalização realizada no âmbito da troca, sobre o processo de
produção? uma equalização do tempo de produção real (destruição dos menos produtivos,
cópia dos métodos mais produtivos pelos menos produtivos etc.)
-ou seja,
o tempo de trabalho socialmente necessário, de que Marx vai falar a seguir, ele
se produz historicamente, partido de diferenças iniciais, passando por uma média
no mercado, concluindo com um rebote no processo produtivo real, e assim
sucessiva e “interminavelmente”
-o mesmo raciocínio vale na relação entre trabalho
simples e trabalho complexo
-com uma novidade interessante: a
existência de trabalho complexo supõe não mais APENAS diferentes produtores
fazendo o mesmo em velocidades diferentes, nem supõe APENAS diferentes produtores fazendo coisas tecnicamente
diferentes, supõe também diferentes produtores fazendo “coisas” SOCIALMENTE
diferentes
-e, neste sentido, a equalização pelo
mercado e o rebote na produção NÃO são mais as únicas variáveis presentes. Um
faxineiro e um médico terão o valor de seus produtos equiparados NO MERCADO, mas
o rebote na produção (o acicate) não se produzirá da mesma forma. A divisão
social do trabalho buscará manter e ampliar as diferenças, mesmo que a divisão
técnica do trabalho opere no sentido oposto (vide as respectivamente
habilidades e salários de médicos e enfermeiros). E a medida que se automatiza
tudo, vai ficando cada vez mais clara a diferença entre o que é diferença
material e o que é diferença social. De toda forma, no plano que estamos
analisando, é correto dizer que...
Mesmo que uma mercadoria seja o
produto do trabalho mais complexo, seu valor a equipara ao produto do trabalho mais
simples
As diferentes proporções
em que os diferentes tipos de trabalho são reduzidos ao trabalho simples como
sua unidade de medida são determinadas por meio de um processo social que
ocorre pelas costas dos produtores e lhes parecem, assim, ter sido legadas pela
tradição. Para fins de simplificação,
de agora em diante consideraremos todo tipo de força de trabalho diretamente
como força de trabalho simples, com o que apenas nos poupamos o esforço de
redução.
Assim como nos valores casaco e
linho está abstraída a diferença entre seus valores de uso, também nos
trabalhos representados nesses valores não se leva em conta a diferença entre
suas formas úteis, a alfaiataria e a tecelagem. Assim como os valores de uso
casaco e linho constituem nexos de atividades produtivas orientadas a um fim e
realizadas com o tecido e o fio, ao passo que os valores casaco e linho são, ao
contrário, simples geleias de trabalho, também os trabalhos contidos nesses
valores não valem pela relação produtiva que guardam com o tecido e o fio, mas
tão somente como dispêndio de força humana de trabalho. Alfaiataria e tecelagem
são elementos formadores dos valores de uso, casaco e linho, precisamente
devido a suas diferentes qualidades; constituem substâncias do valor do casaco
e do valor do linho apenas na medida em que se abstraem suas qualidades
específicas e ambas possuem a mesma qualidade: a qualidade do trabalho humano.
Casaco e linho não são apenas
valores em geral, mas valores de determinada grandeza, e, de acordo com nossa
suposição, o casaco tem o dobro do valor de 10 braças de linho. De onde provém
essa diferença de suas grandezas de valor? Do fato de que o linho contém somente
a metade do trabalho contido no casaco, pois para a produção do último
requer-se um dispêndio de força de trabalho durante o dobro do tempo necessário
à produção do primeiro.
Portanto, se em
relação ao valor de uso o trabalho contido na mercadoria vale apenas qualitativamente,
em relação à grandeza de valor ele vale apenas quantitativamente, depois de ter
sido reduzido a trabalho humano sem qualquer outra qualidade. Lá, trata-se do
“como” e do “quê” do trabalho; aqui, trata-se de seu “quanto”, de sua duração.
Como a grandeza do valor de uma mercadoria expressa apenas a quantidade de
trabalho nela contida, as mercadorias devem, em dadas proporções, ser sempre
valores de mesma grandeza.
Mantendo-se inalterada a força produtiva,
digamos, de todos os trabalhos úteis requeridos para a produção de um casaco, a
grandeza de valor do casaco aumenta com sua própria quantidade. Se um casaco contém
x dias de trabalho, dois casacos contêm 2x, e assim por diante. Suponha, porém,
que o trabalho necessário à produção de um casaco dobre ou caia pela metade. No
primeiro caso, um casaco tem o mesmo valor que antes tinham dois casacos; no
segundo caso, dois casacos têm o mesmo valor que antes tinha apenas um casaco,
embora nos dois casos um casaco continue a prestar os mesmos serviços e o
trabalho útil nele contido conserve a mesma qualidade. Alterou-se, porém, a
quantidade de trabalho despendida em sua produção.
O TRECHO A SEGUIR MERECE SER ANALISADO COM
CALMA
Uma quantidade maior de
trabalho constitui, por si mesma, uma maior riqueza material, dois casacos em
vez de um. Com dois casacos podem-se vestir duas pessoas; com um casaco,
somente uma etc. No entanto, ao aumento da massa da
riqueza material pode corresponder uma queda simultânea de sua grandeza de
valor. Esse movimento antitético resulta do duplo caráter do trabalho.
-este raciocínio é chave, por nele estar
contido, mais uma vez, a “contradição fatal” do capitalismo: a quantidade de
valor de uso pode aumentar ao mesmo tempo em que pode cair a quantidade de valor
-o que empurra o capitalismo a produzir
mais valores de uso do que os necessários, o que o empurra por sua vez a ampliar
as necessidades humanas, numa voragem pantagruélica
-na base disto está, como acentua Marx, o
duplo caráter do trabalho
Naturalmente, a força produtiva
é sempre a força produtiva de trabalho útil, concreto, e determina, na verdade,
apenas o grau de eficácia de uma atividade produtiva adequada a um fim, num
dado período de tempo. O trabalho útil se torna, desse modo, uma fonte mais rica
ou mais pobre de produtos em proporção direta com o aumento ou a queda de sua
força produtiva
VEJAMOS AGORA A FRASE SEGUINTE
Ao contrário, por si mesma, uma
mudança da força produtiva não afeta em nada o trabalho representado no valor.
-qual é a premissa?
-A premissa é que 1 hora de trabalho
socialmente necessário, continua sendo 1 hora de trabalho socialmente
necessário, não importa quanto se produza de útil nesta 1 hora. Como se diz
adiante:
Como a força produtiva diz
respeito à forma concreta e útil do trabalho, é evidente que ela não pode mais
afetar o trabalho, tão logo se abstraia dessa sua forma concreta e útil. Assim, o mesmo trabalho produz, nos mesmos períodos de tempo,
sempre a mesma grandeza de valor, independentemente da variação da força
produtiva.
-note-se, entretanto, que há um problema na
frase: a rigor não se TRATA MAIS DO “MESMO
TRABALHO”. É VERDADE QUE A VARIAÇÃO DA FORÇA PRODUTIVA DIZ RESPEITO AO TRABALHO
UTIL. MAS a variação da força produtiva afeta o TEMPO DE TRABALHO socialmente NECESSÁRIO,
e isso não se faz de forma uniforme, homogênea, simultânea, PORTANTO a rigor NÃO
FAZ SENTIDO DIZER QUE É O “MESMO TRABALHO”.
-de toda maneira,
a essência do raciocínio não se altera e é repisada abaixo:
Mas ele fornece, no mesmo
espaço de tempo, diferentes quantidades de valores de uso: uma quantidade maior
quando a produtividade aumenta e menor quando ela diminui. A mesma variação da
força produtiva, que aumenta a fertilidade do trabalho e, com isso, a massa dos
valores de uso por ele produzida, diminui a grandeza de
valor dessa massa total aumentada ao reduzir a quantidade de tempo de trabalho
necessário à sua produção. E vice-versa.
NÃO COMENTAREMOS AQUI (NOTAS DE RODAPÉ
SERÃO TRATADAS NOUTRO MOMENTO), MAS É IMPORTANTE LER detalhamente
a nota explicativa na página 124 da edição da Boitempo
Todo trabalho é, por um lado,
dispêndio de força humana de trabalho em sentido fisiológico, e graças a essa
sua propriedade de trabalho humano igual ou abstrato ele gera o valor das mercadorias.
Por outro lado, todo trabalho é dispêndio de força humana de trabalho numa
forma específica, determinada à realização de um fim, e, nessa qualidade de
trabalho concreto e útil, ele produz valores de uso.
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