O que segue abaixo é o roteiro da exposição feita no I Congresso dos Estudantes da Universidade de Guarulhos, no dia 10 de setembro de 2020.
DEMOCRACIA NÃO É A
VONTADE DA MAIORIA
Bom dia a todos, bom
dia a todas.
Bom dia às professoras
Gabriela Kermessi e Helena Vieira.
Bom dia ao professor
Pedro Ivo.
E bom dia as alunas e
aos alunos, participantes do I Congresso dos Estudantes de Direito da Universidade
de Guarulhos.
Agradeço pelo convite.
Nós fomos convidados
para falar, durante 30 minutos, acerca do tema “democracia não é a vontade da
maioria”.
Estamos diante de uma afirmação,
não de uma pergunta.
E, portanto, um bom
ponto de partida é dizer se estamos de acordo, ou não, com esta afirmação.
Estou parcialmente de
acordo.
A democracia também é
a vontade da maioria.
Mas a democracia não é
apenas a vontade da maioria.
Alguns dirão que a democracia,
para merecer este nome, tem de atender a uma série de requisitos, inclusive a
defesa dos direitos das minorias.
De fato, eu considero
que os direitos das minorias são parte muito importante das liberdades democráticas.
Mas isto é resultado de um processo histórico, não uma definição a priori.
Ou seja, isso que
chamamos de democracia não é definido por lista de requisitos, cujo atendimento
atestaria que uma sociedade ou um Estado é mais ou menos democrático.
Democracia é uma forma
de organizar a política, no limite uma forma de organizar o poder de Estado.
Uma forma em que o
Estado não é propriedade privada de um indivíduo, mas sim de uma coletividade.
A questão é: que
coletividade é esta?
Na velha Atenas, na
antiguidade, democracia era o governo dos cidadãos, mas ficavam de fora da “cidadania”
os estrangeiros, os escravos, as mulheres.
Durante grande parte
do século XIX e boa parte do século XX, a democracia oficial foi essencialmente
censitária, era misógina, era racista.
Nos EUA, só a partir
de 1965 os direitos civis se estenderam a toda população negra.
Na Suíça, até 1971, só metade da população tinha direito
a votar, pois as mulheres não votavam em nenhum dos cantões.
Na África do
Sul, até os anos 1980, apenas um terço dos habitantes tinha direitos políticos.
Fatos,
inclusive o da supostamente civilizada Suíça, importantes de lembrar, nestes
tempos em que Lula propõe -- como fez no seu discurso de 7 de setembro de 2020--
um novo “contrato social”.
Poderíamos
prosseguir nos exemplos, mas o fato é que nas democracias realmente existentes,
ao longo dos últimos duzentos anos, variou muito quem fazia parte da
coletividade que exercia (e, portanto, constituía) a democracia.
Por isso é algumas
pessoas apelam para o oximoro: democracia oligárquica.
Evidentemente,
os que estão de fora, os que não fazem parte da coletividade que exerce aquela democracia,
podem adotar duas posturas fundamentais (ou um combinado delas):
1/ou lutar
para destruir aquele tipo de democracia e construir outro tipo de democracia
(ou seja, trocar a coletividade que exerce o poder);
2/ou lutar
para incorporar outros setores na coletividade que possui direitos, ampliando
portanto os limites daquele estado democrático, sem destruí-lo.
Ao longo dos
últimos duzentos anos, estas duas posturas estiveram presentes na luta dos
excluídos, dos setores populares, das classes trabalhadoras, dos povos submetidos
ao imperialismo.
Aquelas duas
posturas são resumidas nas palavras “reforma” e “revolução”.
Quais foram
os efeitos daquela luta?
No plano das
formalidades, das palavras, das teorias, o efeito daquela luta foi um sucesso:
hoje não se considera democrático um Estado que priva de direitos políticos as mulheres,
os pobres, os analfabetos, os negros etc.
No plano das
realidades, dos fatos, da história tal como ela é, o efeito daquela luta foi um
copo meio cheio, um fracasso relativo: na maioria dos estados supostamente democráticos,
a ampliação dos direitos legais não foi acompanhada da criação das condições
que permitam exercer estes direitos; isto quando não foram, também, acompanhadas
de novas restrições que limitam o exercício real desses direitos.
O efeito
prático disto é que o chamado Estado democrático realmente existente, na maior
parte do mundo, na maior parte do tempo, continua sendo muito mais democrático
para alguns e menos democrático para outros.
Basta pensar
em quem morre de Covid, quem morre numa ação policial, quem pode pagar livros
não importa se eles são taxados ou não, quem enriquece e quem vai para a
miséria em momentos de crise etc.
Vejamos o caso do
nosso país.
O Estado brasileiro é democrático?
A política brasileira é democrática?
Eu diria: do ponto de
vista formal, sim, embora cada vez menos democrática, isto devido ao golpe de
2016, a Operação Lava Jato, a fraude de 2018 e devido às ações do governo Bolsonaro.
Mas não basta perguntar
se o Estado é formalmente democrático.
É preciso perguntar:
para quem ele é realmente democrático? Quem de fato controla o Estado brasileiro?
Não são os 210 milhões
de brasileiros e brasileiras que controlam o Estado, que controlam o poder.
A verdade é que a
população brasileira é heterogênea.
Alguns não têm do que
viver e já estão na rua da amargura. Outros lutam para sobreviver, batalham
todo dia para ter o dia seguinte.
Não são poucos os que
estão nessa situação. Cerca de 40 milhões de brasileiros gostariam de estar
trabalhando e não acham emprego.
E mesmo os que
trabalham, seja como assalariados, seja como pequenos proprietários ou autônomos,
mesmo quando querem, têm poucos instrumentos para fazer a disputa política.
Em geral, não têm televisões,
não têm rádios, não têm revistas, não têm jornais, não controlam as redes
sociais, não têm tempo livre para “fazer política”, não têm dinheiro para financiar
suas organizações.
Quem têm esses meios
para exercer o poder?
Alguns respondem: os
políticos. Alguns chegam a falar de que existiria uma “classe política”. E, por
tabela, outros concluem que a política seria uma atividade dos políticos profissionais.
Esta ideia –de que
existiria uma classe política—é duplamente errada.
Primeiro, porque todos
fazemos política. Especialmente os que se abstém fazem política, similar ao
fato de que também é agressor o que vê uma agressão e não faz nada, olha para o
outro lado, não intervém.
Todos fazemos política;
a questão é se temos consciência isso, que política fazemos, como fazemos.
Segundo, porque dizer
que a política é uma atividade dos políticos profissionais confunde a forma com
o conteúdo (ou, se quiserem, confunde classe com casta, essência com aparência).
A pergunta é: por qual
motivo, na sociedade contemporânea, prevalece a situação em que grande parte
das pessoas que exerce o poder, o faz como se fosse uma atividade profissional.
Tipo, sou advogado,
sou professor, sou dentista, sou... político?!?!
Porque, na sociedade
contemporânea, a coletividade com direitos formais transfere o exercício
cotidiano da politica para um grupo seleto?
Alguém pode responder
que isto é resultado da complexidade da vida moderna, que exige especialização
para tudo.
Isto não é totalmente
falso, mas é essencialmente falso.
O motivo principal que
leva uma categoria de pessoas a se especializar no exercício do poder, é porque
isto constitui um dos muitos antídotos contra a ampliação da democracia.
Ou seja: a profissionalização
da política é um antídoto contra a popularização do poder.
E a quem isto
beneficia? Quem se beneficia destes antídotos que limitam, que neutralizam, os
esforços feitos, ao longo dos últimos duzentos anos, para ampliar a democracia?
A resposta: quem se
beneficia são os “pais fundadores”, e os herdeiros dos pais fundadores deste
suposto ESTADO DEMOCRATICO, ou melhor dizendo, da DEMOCRACIA realmente existente
na maior parte do mundo, nos últimos duzentos anos.
A saber: os burgueses,
os capitalistas, os donos do dinheiro.
Voltemos à frase
original, que foi proposta para esta atividade: “DEMOCRACIA NÃO É A VONTADE DA
MAIORIA”.
Um burguês consciente
pensa exatamente isto.
Um burguês com
consciência de que é burguês não vai considerar “democrática” uma decisão
majoritária que, por exemplo, decida que os bancos passarão a ser propriedade
pública.
Um burguês com consciência
de que é burguês não vai considerar “democrática” uma decisão majoritária que
diga que os empresários brasileiros devem pagar o mesmo percentual de impostos
que é pago, digamos, pelos empresários alemães. Ou pelos gringos.
Mas quando um burguês tem
consciência de classe, sua consciência é culpada. Ele sabe, entre outras coisas,
que pega mal quando uma minoria rica reclama de uma decisão anti-plutocrática
adotada pela maioria.
E o que ele faz, se
for um capitalista consciente de seus verdadeiros interesses e minimamente
hábil? Ele tomará, de maneira permanente, medidas para que as maiorias pensem,
apoiem e votem a favor das posições das minorias.
Que tipo de medidas?
Por exemplo:
1/dificultar a participação
eleitoral (como nos EUA, onde o direito de se cadastrar como eleitor é dificultado
ao máximo);
2/distorcer a
representação eleitoral (no Brasil, por exemplo, a maioria do Senado e inúmeras
maiorias da Câmara não representam, nem mesmo numericamente, a maioria do povo);
3/estabelecer
mecanismos de “tutela” e “controle externo”, através dos quais certas instituições
que não foram eleitas (como o judiciário ou as forças armadas) podem se
sobrepor as decisões das instituições que foram eleitas;
4/fazer a cabeça do povo,
cotidianamente, para que ele pense com a cabeça dos seus opressores e
exploradores (via, por exemplo, os meios de comunicação. A Rede Globo, por
exemplo, é uma cria da ditadura militar).
E se, mesmo assim,
nada disso der certo?
E se, por acaso, as maiorias
conseguirem se libertar da influência das minorias? E se as maiorias decidirem apoiar
e votar contra as posições das minorias? E se as maiorias decidirem apoiar e
votar a favor das posições das próprias maiorias?
Bom, nesse caso um golpe,
um regime de exceção e uma ditadura são as melhores soluções, do ponto de vista
do nosso burguês com consciência de classe.
E este burguês consciente
não terá o menor pudor de dizer que o golpe, o regime de exceção e a ditadura
são para defender a democracia.
E, de preferência, nosso
burguês consciente usará como um dos argumentos, como um dos pretextos, a corrupção.
Dirá que um grupo de
ladrões, “abusando da democracia”, se apoderou do governo para roubar. Obrigando
a Liga da Justiça a intervir, para tirar os ladrões e instalar uma ditadura saneadora,
colocando tudo de volta no lugar.
Foi o que quase aconteceu
em 1954.
E foi o que aconteceu
em 1964 e em 2016.
Nessas duas ocasiões, houve
um golpe de Estado.
Golpe de Estado é um
golpe dado por umas instituições do Estado contra outras.
Em 1964, as forças armadas
deram o golpe contra o governo Goulart, com o respaldo do Congresso e do STF.
Em 2016, o Congresso
deu o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, com o respaldo do STF e das
forças armadas.
E, nos dois casos, os
golpistas falaram em nome da democracia.
Estavam mentindo,
estavam sendo hipócritas, mas também estavam nos lembrando que a democracia é
como Minas Gerais, são várias.
Cada setor social
enxerga a democracia sob seu prisma e, como Narciso, acha feio e antidemocrático
o que não é espelho.
Os golpistas deram o
golpe para proteger aquela democracia, em que eles são a coletividade que
decide.
Por isso, eu prefiro adjetivar
a democracia.
E evito falar de
Estado democrático de direito, que passa a incorreta impressão de que a
democracia é, sob o capitalismo, algo universal.
Nós queremos que a
democracia seja universal, mas até para que ela venha a ser, temos que partir
da realidade: ela, hoje, não é universal.
Noutros termos, a
democracia que temos no Brasil não é popular. É burguesa.
Eu e o dono do Madero
temos direito a um voto. Neste sentido, somos politicamente iguais.
Mas o dono do Madero,
ou o velho da Havan, têm a sua disposição meios que tornam a eles, e aos demais
capitalistas como eles, mais influentes do que o simples número permitiria.
Por isso a democracia
que temos no Brasil é burguesa: ela permite aos burgueses, mesmo em menor número,
terem muito mais influência.
Mesmo quando elegemos
Dilma e Lula para a presidência da República, ainda assim a maioria dos governantes
e dos parlamentares seguiu na defesa dos interesses da classe dominante, seguiu
na defesa dos capitalistas.
Portanto, a democracia
não é “a vontade da maioria”. Deveria ser, mas não é.
Portanto, a democracia
não é o governo da maioria. Deveria ser, mas não é.
A democracia é uma
forma de organizar o poder. Esta forma pode ser mais ou menos “democrática”, a
depender das circunstâncias históricas concretas.
Às vezes, a minoria “convence”
a maioria (geralmente, uma maioria relativa).
Às vezes, a minoria golpeia
a maioria (as vezes com o apoio ou a passividade de parte desta maioria).
Às vezes a maioria
ganha consciência, se organiza, luta e consegue conquistar o governo no voto,
ou conquistar o poder nas armas, como nas grandes revoluções.
Vale dizer que o uso inadvertido
dos termos “maioria” e “minoria” pode nos conduzir ao engano, entre outros
motivos porque o universo deliberativo não é homogêneo.
Se todos fossem não
apenas iguais perante a lei, mas socialmente iguais, poderíamos até dizer que
democracia é a vontade da maioria, sempre lembrando que isso deve pressupor que
a minoria possa se converter em maioria; e, também, que diferentes minorias e
maiorias possam se formar.
Mas como não somos socialmente
iguais, essencialmente porque alguns são proprietários dos meios de produção e
outros não, dizer que democracia é a vontade da maioria não quer dizer por si
mesmo muita coisa.
Pois se faz necessário
discutir como se forma esta vontade, que maioria é esta etc.
Por exemplo: às vezes o
domínio da minoria se faz usando mecanismos que fazem questão de parecer
democráticos.
Bolsonaro, por
exemplo, adora falar em nome da maioria, embora de fato ele não tenha o apoio nem
da maioria absoluta da população, nem da maioria absoluta do eleitorado.
Aliás, nos últimos
meses houve momentos em que ele deixou de ter, inclusive, o apoio da maioria
dos que votaram nele...
Mas há, também,
momentos em que o domínio da minoria se faz através de métodos que são
escancaradamente antidemocráticos.
Quando, por exemplo, uma
minoria que controla o monopólio da violência usa a força das armas para impor
uma ditadura militar. E deixa claro o que está fazendo, como fez o general
argentino Ibérico Saint Jean, em 1977, quando disse num discurso o seguinte: «Primero
mataremos a todos los subversivos, luego mataremos a sus colaboradores, después
a sus simpatizantes, enseguida a aquellos que permanecen indiferentes y,
finalmente, mataremos a los tímidos».
Este mesmo Ibérico, um
cavernícola padrão Bolsonaro, afirmou em 1980, numa atividade em um Rotary Club
de Mar del Plata, que a democracia "sirve para imponer la dictadura de la
mayoría” e que “puede ser mucho peor cuando los tiranos son muchos que cuando
es uno solo".
Por outro lado, pode
acontecer de uma maioria ter de realizar uma revolução, destruindo o tal “Estado
democrático” efetivamente controlado por uma minoria e construindo outro tipo
de Estado democrático, que para a antiga minoria governante será percebido como
uma ditadura.
Esta revolução, como
toda revolução aliás, incluirá o uso da força das armas. Que também são protagonistas
dos golpes militares. As armas, portanto, podem ser um instrumento a favor das
minorias ou a favor das maiorias, a favor ou contra as liberdades democráticas.
Agora pensemos na
seguinte situação: um país ocupado por forças estrangeiras, uma maioria da população
que se acomodou com a ocupação, uma minoria da população que luta contra a ocupação.
Esta minoria não tem o
mandato formal da maioria. Ocorre, entretanto, que a parcela de um povo que não
luta contra a ocupação de seu país, está por definição abrindo mão de seus direitos
políticos. E, portanto, aquela minoria numérica que luta pode e deve falar em nome
do povo, da nação e da... democracia.
Esses exemplos que dei
até agora revelam que o debate sobre a democracia é bastante interessante e nada
óbvio.
Aliás, como já citei
antes, a própria palavra democracia traz implícita, na sua origem, esta ambiguidade,
esta contradição, esta complexidade.
Para concluir, aqui na
América Latina, a democracia sempre foi bastante limitada.
Durante
grande parte de nossa história, fomos território ocupado, monarquias,
republicas oligárquicas, ditaduras militares. Sem falar na escravidão e em
outras formas de exploração e dominação extremas.
E as
oligarquias da América Latina e do Caribe muitas vezes afirmaram que era assim,
porque o povo não estaria, na opinião das oligarquias, preparado para exercer a
democracia.
Donde
decorre a visão explicitamente patrimonialista que as oligarquias da região têm
acerca do Estado. Para elas, trata-se de sua propriedade privada. E por isso adotam,
com máximo afinco, todas as medidas para impedir que o povo possa ampliar sua
participação política neste Estado, sem falar das medidas que tomam para
impedir que o povo possa fazer uma revolução e construir outro tipo de Estado,
outro tipo de democracia.
Medidas que
incluem classificar como democracias, os locais onde eles governam; e
ditaduras, os locais onde eles não governam. Cuba e Venezuela, por exemplo,
seriam antidemocráticas e seus governantes chamados de ditadores. Mas os
governantes da Arábia Saudita, por exemplo, estes são tratados com tolerância.
Falei das
oligarquias. E nós? Nós não devemos ter medo da democracia, no sentido da mais
ampla e cotidiana participação das pessoas na política.
Queremos
democracias cada vez mais democráticas. Não só democracias eleitorais, onde o
cidadão vota e vai para casa, voltando dois ou quatro anos depois.
Queremos que
o maior número possível de pessoas tome parte da política, exerça o poder. Votando,
podendo apresentar suas candidaturas, competindo em condições de igualdade,
podendo destituir os eleitos se não respeitam o mandato que receberam de seus
eleitores.
Queremos, além
da democracia eleitoral, democracia participativa, democracia direta,
democracia nas empresas, nas escolas, nas casas, nas discussões orçamentárias
(hoje, por exemplo, o Congresso está debatendo tirar dinheiro da saúde e da
educação e transferir para as forças armadas), nas decisões sobre saúde, sobre educação,
comunicação, energia, transporte, cultura, tudo.
Por isso,
embora a democracia não seja a vontade da maioria, queremos que a maioria exerça
o poder. Ao fazer isso, certamente cometerá muitos erros, mas estes erros podem
ser corrigidos pela experiencia. Inclusive o erro de achar que a democracia é apenas
a vontade da maioria.
ps. três
últimos comentários, feitos após ouvir as professoras Gabriela Kermessi e Helena
Vieira, o professor Pedro Ivo e as perguntas.
Quando debatemos
o tema da democracia, é preciso perceber que a classe dominante consegue o
apoio, ativo ou passivo, da maioria porque tem o poder; ou seja, não foi conquistando
o apoio da maioria que ela se converteu em classe dominante.
Portanto, a
polarização é um dado da realidade. As vezes a polarização torna-se aguda. Os
que falam que “não gostam da polarização”, que a polarização é “negativa”, não
percebem que é nos momentos de polarização aguda que podemos criar as condições
para superar a polarização crônica, cujo fundo é a divisão da sociedade em
classes.
A crise sistêmica
que o mundo vive, é uma crise sistêmica do capitalismo. A superação desta crise
pode ser feita de três formas: ou através da destruição total da humanidade; ou
através do aprofundamento do capitalismo; ou através da superação do
capitalismo, superação que exige uma transição socialista em direção a uma sociedade
comunista, fundada na propriedade social dos meios de produção.
Conseguiremos
fazer isso? É comum pensar que nossos tempos são totalmente diferentes, ou
melhores, ou piores, mas essencialmente diferentes. Eu penso que os tempos em
que vivemos são diferentes, mas também têm traços semelhantes a tempos
passados. Por isso, do mesmo jeito que a humanidade já enfrentou e superou crises
brutais (pensemos no período 1914-1945, duas guerras mundiais, o nazismo etc.),
considero que também vamos superar a crise atual, à condição de que façamos o
que gente como a gente fez no passado: lutar por um mundo diferente. Lutar
revolucionariamente por um mundo socialista.
Por fim: o mundo
de amanhã está se decidindo agora. Portanto, não devemos deixar coisa alguma
para “depois da pandemia”. Nossa palavra de ordem deve ser: não deixar para
amanhã nenhuma luta que possamos fazer hoje.
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