Este texto é uma
continuação de outro, que pode ser acessado aqui:
Pretendia, nesta continuação, comentar alguns momentos da “audiência
pública” realizada pelo Diretório Nacional do PT, no passado 1 de junho.
Mas antes preciso comentar um texto de Jorge Furtado, criticando
as declarações que Lula deu, no final da tal audiência, acerca do manifesto “Juntos”.
Na primeira frase de seu texto, Furtado resume seu ponto de vista:
“Lula foi um dos maiores líderes políticos da história do Brasil”.
"Foi"!!!
Furtado diz que votou em
Lula oito vezes, sem arrependimento. Mas acrescenta o seguinte: “Há poucos
dias, Lula declarou que não mais seria candidato, mesmo que pudesse. Espero que
ele não mude de ideia, pois é evidente que Lula não está bem”.
Furtado está bem, por
acaso? Quem do bem poderia estar bem, no meio desta situação catastrófica em
que estamos?
O comentário de Furtado
deve-se a uma frase dita por Lula em entrevista ao Mino Carta, a saber: “ainda
bem que a natureza (...) criou esse monstro chamado coronavírus”.
Furtado mesmo reconhece
que Lula “logo pediu desculpas” (ato raríssimo comum entre lideranças políticas).
Além disso, Furtado diz
que esta foi a “maior besteira” dita por
Lula em sua “longa carreira”.
Buenas, depois de décadas de militância (e não de “carreira”, como diz
Furtado), atire a primeira pedra quem não tiver dito muitas “besteiras”.
A questão é que Furtado viu naquela frase não apenas uma “besteira”, mas
um “deslize”, um “terrível ato falho”, que “revelou
alguém que podia, de alguma maneira, ver qualquer coisa de positivo numa doença
que mata mil brasileiros por dia”.
Sugiro a Furtado dar um
google: encontrará frases de muita gente boa que, agora e em outros momentos de
crise, fez raciocínios de conteúdo similar ao de Lula, a saber, a de que grandes
tragédias, grandes catástrofes, grandes dificuldades, provocam desgraças e
também geram reações, reações que acabam permitindo à humanidade dar saltos em
sua história.
Sugiro, igualmente, que Furtado
acesse no youtube o discurso feito por Lula no 1º de maio de 2020, onde ele
diz: “A humanidade desperta
todos os dias torcendo para que o número de mortos de hoje seja menor que o de
ontem. Estamos vivendo os mais tenebrosos dias da nossa história. O vírus, que
ataca a todos, indistintamente, mostrou que a raça humana não é imortal e pode
até desaparecer. A História nos ensina, porém, que grandes tragédias costumam
ser parteiras de grandes transformações”.
Fiz as sugestões acima, mais por desencargo de consciência. Afinal, não é
possível que Furtado desconheça o que foi citado acima.
Sendo assim, porque “golpear abaixo da
cintura”?
Meu palpite é: a idéia de
que Lula já “foi”, “não está bem”, seria insensível a morte de mil brasileiros por dia,
reforça uma “narrativa” difundida todo santo dia por diversos porta-vozes.
A saber: a de que
precisamos combater e superar os extremismos de esquerda e de direita. A saída
estaria pelo centro.
Não por acaso, seu texto
passa imediatamente, sem mediações, da crítica contra Lula, à crítica contra a “corja
de alucinados, incompetentes, patifes, vigaristas” que governa o Brasil, corja
comandada por “um psicopata torpe e idiotizado, que desdenha da pandemia e
atenta diariamente contra a democracia, o bom senso e a lógica”.
Furtado desemboca no elogio a “textos” (ele não diz quais) que fazem um “apelo à razão, a superação
das diferenças mesquinhas, em defesa da democracia, da ciência, da boa
política, da paz”.
Para começo de conversa,
não há textos e textos.
“Basta”, por exemplo, é
diferente de “Juntos”.
Não dizem a mesma coisa, não
expressam a mesma coisa.
No texto https://valterpomar.blogspot.com/2020/06/estamos-juntos-lula.html analisei o "Juntos".
Voltando a Furtado, será que ela acha “mesquinho” lembrar que a corja só
chegou à presidência, porque contou com a entusiasmada ajuda de alguns dos
signatários do “Juntos”?
Será que ele acha ser “boa política” não falar de Bolsonaro, não falar do
impeachment, não falar de novas eleições, não criticar a tutela militar, não falar do neofacismo e, acima
de tudo, não falar do granadeiro Guedes??
Guedes e o que ele expressa constitui, na minha opinião, o centro de toda a confusão.
Lula alertou o PT e a
quem mais quis ouvir, que o "Juntos" faz parte de uma operação: tirar
Bolsonaro, para dar continuidade ao bolsonarismo, para dar continuidade à política
do Guedes.
Furtado concluiu seu texto dizendo ser “triste
ver um grande líder, que sempre defendeu os interesses do país, tornar-se
pequeno”.
Da minha parte, acho que
defender os interesses do país exige defender os interesses da grande maioria, que
é a classe trabalhadora.
Ao defender estes interesses, mesmo que remando contra o senso comum, inclusive contra o senso comum de boa parte do seu partido, da esquerda e da classe trabalhadora, Lula demonstrou que não "foi": é.
Camarada, pode explicar isso?
ResponderExcluirEduardo Moreira em passeata Direitista detonando Lula e Dilma.
https://youtu.be/OBn1I6WPZX4
PT é desonesto ao apresentar slogan ‘Haddad é Lula’ | Eduardo Moreira
https://youtu.be/AIdSm8J7mns
Abraços
João Bosco da Silva
(DZ - São Matheus - SP)