quarta-feira, 29 de maio de 2019

Pedido para quem souber explicar





Confesso que havia achado um pouco “estranha” a tática da bancada do PT na Câmara dos Deputados, na votação da MP da “reforma administrativa”.

Conforme escrevi ao líder Pimenta, ainda durante a votação, me parecia melhor votar contra de ponta a ponta. 

Me foi dito que a tática dos destaques era melhor, para derrotar Moro e tirar dele o COAF.

Me foi dito, posteriormente, que além do COAF, a FUNAI ficou na Justiça, voltou o CONSEA etc.

Confesso que sigo achando “estranho”, especialmente porque ter o COAF com Guedes ou com Moro não me parece argumento suficiente para justificar a tática dos destaques.

Como disse um companheiro, “Moro continuará tendo acesso aos dados do COAF. Inclusive, Ônyx Lorenzoni já anunciou a edição de um decreto abrindo ao Ministério da Justiça os dados do cobiçado órgão”.

Segundo o mesmo companheiro, “o COAF pareceu o que se chama em química de anodo de sacrifício, ou seja, aquele metal com eletronegatividade maior do que aquele que se quer proteger e que enferruja no lugar dele”.

Admito, entretanto, que a tática adotada na Câmara podia ser “estranha”, mas fazia algum sentido, já que contribuía para desgastar Moro e ampliar a confusão do lado de lá, além de contribuir para algumas vitórias parciais.

O mesmo não pode ser dito da tática adotada pela bancada do PT na votação da MP no Senado. 

O que fez a bancada do PT no Senado? 

Se entendi direito, escolheu votar com o Centrão e com o governo, para aprovar a MP tal como veio da Câmara. 

Ou seja: Moro seguiu perdendo. Mas não se ampliou a confusão do lado de lá. 

No caso da Câmara, havia um argumento (que não me convenceu) para se fazer o que se fez.

No caso do Senado, qual seria o argumento?

O único que ouvi até agora — na manhã de terça, antes mesmo da votação — era a possibilidade de, caso a MP voltasse para a Câmara, o governo vencer.

Esta possibilidade existia? Claro. Até porque faltaram cerca de 18 votos para o governo vencer na votação da Câmara.

Um deputado amigo chegou a dizer que “não havia possibilidade de cair a MP, porque o Centrão ao fim e ao cabo garantiria a sua votação”.

Pode ser. Mas também havia outra possibilidade: se o Senado alterasse o que fora decidido pela Câmara, a MP voltaria para nova votação e poderia até caducar.

Neste caso, provocaríamos ainda mais confusão do lado de lá. E continuaríamos atingindo  Moro, pois caso a MP caducasse, o COAF iria para uma recriada Fazenda.

O amigo deputado acima citado achou “errado termos nos envolvido no ‘convencimento’ do Senado. Ficou confuso. Ainda assim, o resultado apareceu como uma derrota do Moro”.

O argumento seria bom, não fosse por um “detalhe”, informado publicamente  pelo Senador Humberto Costa: Bolsonaro e Moro enviaram carta informando que “não querem” que o COAF ficasse na Justiça.

Portanto, para o governo, o risco maior era — paradoxalmente — o dele vencer no Senado, o que faria a MP voltar para a Câmara.

Segundo a síntese de uma dirigente nacional do Partido, que neste momento trabalha no parlamento: “a pequena diferença de 18 votos mostrou que poderia ter passado na Câmara o texto original do governo, e aí seria uma vitória do governo, que não se reverteria no Senado. É evidente que o governo sofreu uma derrota na Câmara, mesmo que pequena, e a carta ao Senado é prova disso. Eles recuaram e praticamente imploraram pra manter como a Câmara aprovou, sob pena de perder tudo. No Senado, por causa dos prazos, era nossa chance de colocar sob a mesa o risco de o governo perder tudo, mesmo que ao fim e ao cabo o centrão resolvesse pro governo”.

Portanto, na melhor das hipóteses a bancada do PT no Senado escolheu não correr risco. Na pior das hipóteses, optou por uma tática errada. Que consistiu em escolher votar, nesta questão, com o governo, Bolsonaro e Moro.

Se alguém puder explicar qual a hipótese mais próxima da realidade, agradeço.

Enquanto isso, fico com a impressão de que nossa bancada no Senado ajudou a manter a governabilidade de Bolsonaro.

Valter Pomar

Um comentário:

  1. O desempenho eleitoral do pt em 2020 será melhor do que aquele de 2016.

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