1. O ano de 2015 está perto de acabar. Que balanço fazemos
deste ano? Qual foi o papel da Frente Brasil Popular? Quais desafios nos
esperam no ano de 2016?
2. A principal característica de 2015 foi a ofensiva das
elites contra os setores populares. Esta ofensiva teve diferentes protagonistas
(os setores médios reacionários, o grande capital, os partidos de direita, o
oligopólio da mídia, segmentos do aparato de Estado --com destaque para o
judiciário, o MP, a PF e as forças armadas) e teve múltiplos alvos (os direitos
trabalhistas, os direitos sociais, as liberdades democráticas, as mulheres, os
negros, a juventude especialmente da periferia, os movimentos sociais, os
partidos de esquerda, a política do governo, o mandato presidencial).
3. A ofensiva das elites não teve um único comando, nem
adotou uma única tática. Pelo contrário, desde o início de 2015 as elites
estiveram divididas em torno de duas táticas: os que consideravam prioritário o
ajuste fiscal recessivo, que teria o efeito colateral de desgastar o governo
Dilma e a esquerda, ajudando a criar o ambiente para vitórias das candidaturas
da elite em 2016 e 2018; e os que consideravam prioritário criar as condições
para interromper imediatamente o mandato da presidenta Dilma, interditar o PT e Lula, com o
objetivo de assumir desde já o controle integral do governo federal.
4. Apesar das divergências táticas, a ofensiva das elites foi e segue animada por objetivos estratégicos comuns: realinhar o Brasil aos EUA
(afastando-nos dos Brics e da integração latino-americana e caribenha); reduzir
o salário e a renda dos setores populares (diminuir as verbas das políticas
sociais, alterar a legislação trabalhista, reduzir direitos, não reajustar
salários e pensões, provocar desemprego e arrocho); e diminuir o acesso do povo
às liberdades democráticas (criminalizar a política, os movimentos sociais e os
partidos de esquerda, partidarizar a justiça, ampliar o terrorismo
policial-militar especialmente contra os pobres, moradores de periferia e
negros, subordinar o Estado laico ao fundamentalismo religioso, agredir os direitos das mulheres, dos setores populares, dos indígenas).
5. Ao longo de 2015, as elites adotaram várias táticas, mas mantiveram
sua unidade estratégia. O campo popular, por sua vez, esteve dividido tanto na
estratégia quanto na tática, com diferentes leituras da situação política
internacional, continental e nacional, diferentes posturas táticas frente a
ofensiva das elites e diferentes alternativas estratégicas.
6. Apesar disto, o ano de 2015: a) começou com os “coxinhas”
dominando as ruas e terminou com os setores populares dominando as ruas; b) iniciou
com Levy na Fazenda e terminou com Levy fora da Fazenda. Ou seja: embora as
elites continuem com a iniciativa política, embora os embates e os perigos continuem
intensos, ainda assim em 2015 a véspera do Natal está sendo melhor do que o Dia
de Reis. Ao que se deve isto?
7. Nada possui uma única explicação. Assim, o ano termina melhor
do que começou por diversos motivos. Mas dentre estes motivos, há dois muito
evidentes: no mês de dezembro de 2015, as elites viveram um momento de forte
divisão, ao mesmo tempo que o campo popular unificou sua ação.
8. A divisão das elites ocorreu quando o (neste momento
ainda) presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, para proteger seus
interesses pessoais, deflagrou o processo de impeachment, recorrendo às já conhecidas “manobras” regimentais, tanto ao
compor a comissão que analisaria o pedido de impedimento, quanto no Conselho de
Ética da Câmara. Embora parte das elites tenha apoiado a iniciativa, o processo
de impeachment nasceu sob o estigma do golpe animado por objetivos criminosos.
Como disse editorial de um importante jornal das elites: Cunha tornou-se "disfuncional". Como resultado, as manifestações de 13 de dezembro de 2015 foram
um fracasso de público e de crítica.
9. O início do processo de impeachment, marcado pelas
características criminosas já descritas, colocou os setores populares diante de
uma disjuntiva: unidade na ação ou derrota sem pena. É verdade que alguns
setores minoritários (não apenas na oposição de esquerda, mas também nos
partidos, bancadas e governo) “torceram o nariz” para a construção da unidade.
Mas a imensa maioria dos setores progressistas, democráticos e de esquerda iniciou
um processo em grande medida espontâneo de unificação, que ficou visível no
caráter plural e massivo das manifestações de 16 de dezembro de 2015.
10. As manifestações de 16 de dezembro foram convocadas
unitariamente, em torno das consignas “Contra o golpe, em defesa da democracia!”,
“Fora Cunha!” e “Por uma nova política econômica!”. Não em torno de uma única palavra de ordem,
mas em torno das três, deixando a cada setor envolvido a liberdade de
estabelecer as hierarquias e as vinculações entre cada um dos aspectos.
11. Logo após as manifestações, a presidenta Dilma recebeu a
Frente Brasil Popular; o Supremo Tribunal Federal derrotou os aspectos mais
aberrantes dos procedimentos adotados por Eduardo Cunha; e o ministro da Fazenda
Joaquim Levy deixou o governo. Medidas que não resultam do sucesso da mobilização
de 16 de dezembro, mas que vistas de conjunto resultam num saldo positivo para
os setores populares, ao término de um ano marcado pela ofensiva das elites.
12. Qual foi o papel da Frente Brasil Popular neste processo?
Sem prejuízo de um balanço mais detalhado, e ao mesmo tempo tomando cuidado
para não estimular uma disputa de protagonismos que apenas prejudica a unidade,
consideramos que a Frente Brasil Popular, assim como cada uma das organizações
e militantes que a integram, contribuímos muito para o processo anteriormente
descrito. Especialmente porque desde o início apostamos na unidade, apostamos na mobilização social, apostamos na
combinação das palavras de ordem, e foi este o caminho que nos levou ao
resultado atual.
13. Entretanto, a Frente Brasil Popular não quer ter um
grande passado pela frente. Nossos desafios maiores estão no futuro: a defesa
dos direitos, a defesa da democracia, a defesa da soberania nacional, a luta
pelas reformas estruturais e a defesa da integração latino-americana. E o ano
de 2016 será, como 2015, de grandes enfrentamentos entre as elites e os setores
populares.
14. A luta contra o golpismo continua. Não basta retirar Eduardo
Cunha da presidência da Câmara. Por um lado, ele precisa sair de lá em direção
à cadeia. Em segundo lugar, as elites vão tentar eleger para seu lugar alguém
mais “funcional” e certamente um setor importante buscará dar prosseguimento ao processo de impeachment.
Ademais, a importância assumida pelo STF e o papel que o Supremo atribuiu ao Senado constituem uma "faca de dois gumes", até porque o centro da questão é que não se pode retirar do
povo o direito de eleger a presidência da República.
15. A luta por outra política econômica continua. Não basta
substituir o ministro da Fazenda. É preciso adotar medidas imediatas e de médio
prazo, que interrompam o ajuste fiscal recessivo, que recomponham as políticas e
os direitos sociais e trabalhistas, que estimulem o emprego e o
desenvolvimento. Medidas que passam por libertar nossa economia e nossa
sociedade da ditadura do capital financeiro. Se o governo insistir numa política
econômica que provoca, direta ou indiretamente, desemprego, recessão e
desassistência, tornar-se-á muito mais difícil derrotar a ofensiva das elites.
16. A luta por reformas estruturais continua. Sem reformas
estruturais, as elites continuarão
dispondo dos meios para sabotar, deter e tentar reverter os processos de
mudança em nosso país. Sem reformas estruturais, a maioria do povo brasileiro continuará
sem usufruir as riquezas que produz. Sem reformas estruturais, nosso desenvolvimento continuará conservador, dependente e aquém das potencialidades e necessidades do país.
17. A luta pela integração regional continua. O avanço das
elites, em países como Argentina e Venezuela, amplia a importância do Brasil
continuar firme na defesa dos processos de integração sul-latino-americanos e
caribenhos, com destaque para o Mercosul, a Unasul e a Celac.
18. A luta pela construção da Frente Brasil Popular
continua. É preciso lançar a FBP em todos os estados do Brasil, em todas as cidades
brasileiras. Estimular as instâncias da FBP a terem um funcionamento regular,
capaz de oferecer um espaço de debate político acolhedor principalmente para as
centenas de milhares de militantes que ainda não fazem parte, nem pretendem
necessariamente fazer, de nenhuma organização partidária, popular, sindical ou
de juventude. Investir energias na
constituição de espaços unitários de comunicação, construídos a partir da
cooperação entre os instrumentos já existentes. E continuar apostando na
unidade de ação junto com outros setores e frentes. E discutir como tratar, no âmbito da Frente, das eleições 2016.
19. Não devemos descartar que no período de festas de 2015, a direita promova ações espetaculares, por exemplo no âmbito
da chamada Lava-Jato. Entretanto,sem baixar a guarda e sem deitar sobre os
louros, podemos afirmar que travamos o bom combate e tivemos êxito porque
ficamos do lado certo e adotamos a política correta. Buscaremos fazer o mesmo em 2016.
Boas festas e um ano novo de muitas lutas e vitórias para a classe trabalhadora!!!
Forças Armadas?...
ResponderExcluirA estória é interessante, mas faltou a parte do Papai Noel. Afinal, o Natal tá aí!
ResponderExcluirGracias Valter, los seguimos atentamente, un abrazo
ResponderExcluirFermin por la Coordinacion Socialista de Colombia
Oi Fermin, por favor envie para meu email pomar.valter@gmail.com informes sobre a situação política na Colômbia. de preferência textos que possam ser divulgamos através do www.pagina13.org.br
ExcluirUm grande abraço
Parece que tudo de ruim que aconteceu no País foi culpa da "ofensiva das elites", associar PT com trabalhador, depois de tantas derrotas trabalhistas nao é justo. PT nao é partido de esquerda e nem defende o trabalhador, os banqueiro estao lucrando muito, enquanto os mais pobres sofrem com inflação alta e juros altos e tendo que pagar a conta o rombo da Petrobras, por parte dos companheiros. Enfim, pão e circo, para o povo entreter, alimentar o sistema e proteger os donos do "circo". Lamentável o texto.
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