Fragmento extraído do texto “Contribuição para o debate”, de Valter Pomar. Disponível na íntegra em: https://valterpomar.blogspot.com/2018/11/contribuicao-para-o-debate.html?m=1
As eleições de 2018 transcorreram num ambiente totalmente contaminado
pelo golpe parlamentar, jurídico e midiático praticado contra o governo Dilma
Rousseff. Lula foi condenado injustamente, preso inconstitucionalmente e
arbitrariamente impedido de concorrer às eleições. Apesar disso, mesmo tendo
alertado que “eleição sem Lula é fraude”, o Partido dos Trabalhadores decidiu
participar e lançou um candidato substituto no dia 11 de setembro de 2018,
quando faltava menos de um mês para o primeiro turno.
As principais candidaturas adversárias utilizaram grande parte de seus
recursos midiáticos, financeiros e políticos para atacar o PT. Ainda assim,
conseguimos levar nossa candidatura ao segundo turno, elegemos a maior bancada
na Câmara dos Deputados, 4 governadores de estado, 4 senadores e um grande
número de deputados estaduais.
Apesar dos ataques, fomos o único dentre os principais partidos do país
a sobreviver ao “tsunami” das eleições de 2018.
Nossa sobrevivência decorre, em primeiro lugar, do empenho da militância
do Partido dos Trabalhadores. Decorre, em segundo lugar, especialmente no
Nordeste do Brasil, do prestígio eleitoral de Lula, vinculado ao que os
governos petistas fizeram em favor dos trabalhadores e trabalhadoras,
notadamente os mais pobres.
Contudo, estes resultados positivos obtidos pelo PT não alteram o
resultado global das eleições de 2018. Sofremos não apenas uma derrota
eleitoral, mas também uma derrota estratégica. Além disso, ficou claro o
esgotamento da estratégia adotada pelo Partido, incapaz de dar conta das
necessidades da nova etapa em que entrou a luta de classes no Brasil.
Portanto, ou promovemos uma reorientação na linha política e no
comportamento prático do Partido, ou sofreremos novas e ainda mais profundas
derrotas no período histórico aberto depois do segundo turno das eleições de
2018.
Se compreendermos o que ocorreu nas eleições 2018, se compreendermos
qual a natureza do governo Bolsonaro, se formos capazes de produzir uma nova
estratégia e um novo modo de atuação, poderemos utilizar a força e energia
confirmadas por nossos resultados eleitorais como ponto de partida para
resistir e, principalmente, para derrotar a coalizão golpista que conquistou o
governo federal.
A derrota eleitoral
Depois de 4 eleições presidenciais seguidas, em que a candidatura do PT
ficava em primeiro lugar no primeiro e no segundo turno, em 2018 ficamos no
segundo lugar tanto no primeiro quanto no segundo turno. Além disso, obtivemos
uma votação menor, em números absolutos e relativos, do que aquela obtida em
cada uma das 4 eleições presidenciais anteriores.
Nas eleições para a Câmara dos Deputados, embora tenhamos mantido a
primeira bancada e superado com larga vantagem os agora ex-grandes partidos
(PSDB e MDB), o fato é que nossa bancada de deputados e deputadas é inferior a
todas que elegemos desde 2002. No Senado, também retrocedemos.
Nas eleições para governador, embora tenhamos reafirmado nossa dianteira
na região nordeste (governadores petistas em 4 dos 9 estados, além de termos
participado da coligação vitoriosa em 9 dos 9 estados), sofremos derrotas
importantes em todo o país. Perdemos estados que governávamos (Minas Gerais e
Acre) e reduzimos nossa votação em estados política e eleitoralmente
fundamentais (Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul).
No segundo turno, nossa candidatura foi vitoriosa em maior número de
cidades. Entretanto, quando consideramos o número de habitantes e o número de
eleitores, a candidatura oponente foi vitoriosa nas maiores cidades do país.
De conjunto, portanto, os resultados eleitorais confirmam a força do PT,
mas confirmam também que recuamos em relação a eleições anteriores. Tudo indica
que este recuo eleitoral pode prosseguir, caso o inimigo tenha êxitos em sua
ação e caso não promovamos alterações na política e na conduta do nosso
Partido.
Derrota estratégica
Em 2018 ocorreu a oitava eleição presidencial desde 1989. Ganhamos 4 e
perdemos 4 destas eleições. Mas daí não decorre que tenhamos vivido em 2018
e/ou que passamos a viver uma situação de normalidade, na qual deveríamos nos
preparar para “desempatar” nas próximas eleições presidenciais, em 2022.
Talvez pudéssemos falar em “normalidade”, se os vencedores de 2018 não
tivessem o objetivo, proclamado publicamente, de destruir o PT e o conjunto da
esquerda. Claro que proclamar este desejo não garante que o desejo se realize.
Mas o simples fato da proclamação ser feita indica que estamos diante de uma
situação nova, diferente daquela que prevaleceu entre 1989 e 2014.
Desde o final do segundo turno de 2014, consolidou-se na classe
dominante brasileira e nos seus braços políticos e midiáticos a decisão de
destruir as condições que, entre 1989 e 2014, tornaram possível à esquerda
brasileira converter-se em alternativa de governo.
Desde o final de 2014, tornou-se hegemônica na classe dominante
brasileira a decisão de estigmatizar, criminalizar e destruir a esquerda
brasileira.
Ao que tudo indica, o “mapa do caminho” da coalizão golpista inclui: a)
cassar o fundo partidário e a legenda do PT; b) caçar e cassar parlamentares e
governantes petistas, assim como caçar e prender dirigentes e lideranças do
partido e de movimentos sociais; c) inviabilizar o exercício de nossos mandatos
legislativos e executivos; d) isolar o PT e aliados políticos e sociais; e)
criminalizar a luta social e o exercício da oposição; f) criminalizar as
próprias ideias e visão de mundo da esquerda brasileira.
O objetivo da classe dominante, portanto, não é apenas derrotar o PT na
próxima eleição. O objetivo é impedir que a esquerda brasileira continue sendo
alternativa de governo e eliminar qualquer chance de que possamos algum dia ser
alternativa de poder.
A derrota eleitoral de 2018 resultou de uma operação que pretendia nos
“tirar do jogo”. E, além disso, a derrota eleitoral de 2018 conferiu
legitimidade e legalidade a forças que proclamaram publicamente este desejo e
que demonstraram e seguem demonstrando que possuem a disposição e os meios para
perseguir estes objetivos.
Claro, pode ser dito que eles ainda não obtiveram este objetivo, que
pelo contrário o PT demonstrou enorme capacidade de resiliência e resistência.
Mas, ao constatar estes fatos, devemos completar o raciocínio: portanto, o que
virá pela frente será o uso de métodos estatais e paraestatais, legais e
ilegais, com o objetivo de “completar a missão”.
Para impedir que esta “missão” seja cumprida, é fundamental que não
adotemos critérios de avaliação que poderiam ser válidos no período histórico
que se encerrou em 2014: o lado de lá não está disposto a conviver com uma
oposição de esquerda que possa vencer as próximas eleições presidenciais.
O “lado de lá” não é apenas Bolsonaro, não é apenas a extrema-direita. A
coalizão vencedora em 2018 inclui a maior parte da classe dominante brasileira
(os empresários capitalistas), parte expressiva dos setores médios
(assalariados de alta renda e empresários capitalistas de pequeno e médio
porte), parte expressiva do aparato de Estado (com destaque para o sistema
judiciário, as forças armadas e as policiais militares), o oligopólio da mídia
e seus associados, a maior parte da base social e eleitoral dos partidos de
centro-direita (MDB e PSDB inclusive) e, por último mas não menos importante,
os governos e as comunidades de inteligência dos Estados Unidos e de Israel.
Foi esta ampla coalizão que conseguiu promover o impeachment-golpe;
condenar, prender e interditar Lula; quebrar nossa maioria eleitoral e social,
atraindo parte da classe trabalhadora e conseguindo que outra parte se
abstivesse de votar.
Por este conjunto de motivos expostos anteriormente, as eleições de 2018
constituem uma derrota eleitoral, revelam uma derrota estratégica e, além
disso, confirmam uma vez mais o esgotamento da estratégia adotada até aqui pelo
Partido dos Trabalhadores e pela maior parte da esquerda brasileira.
O esgotamento da estratégia
O esgotamento da estratégia é um tema acerca do qual temos insistido
desde 2005, e com mais ênfase desde 2015. Consideramos que o PT formulou uma
estratégia no 5º Encontro Nacional (1987) e adotou outra estratégia a partir do
10º Encontro Nacional (1995). Ao ser implementada, esta estratégia sofreu
diversas inflexões: mudou a postura do partido antes e depois das eleições
presidenciais de 2002; assim como há diferenças importantes, na implementação
da estratégia, entre os períodos 2003-2005, 2006-2010, 2011-2014, 2015-2016.
Entretanto, entendemos que desde 1995, prevaleceu no PT e na maior parte
da esquerda brasileira a mesma “ilusão estratégica”: a de que seria possível
buscar e materializar nossos objetivos de médio prazo (bem estar, democracia,
soberania e integração), e ao mesmo tempo “conviver” – ainda que de maneira
mais ou menos conflituosa -- com a classe dominante e com seus instrumentos de
poder.
Por causa daquela ilusão estratégica, não foram poucos os que disseram
que o golpe não viria, que Lula não seria preso, que Bolsonaro não se elegeria,
tudo porque o empresariado capitalista e seus principais operadores não
embarcariam nestas “aventuras”. Curiosamente, a extrema-direita nunca acreditou
na sinceridade dos iludidos e sempre achou que havia, por detrás de nossa
postura predominantemente moderada, uma sórdida conspiração em marcha, uma
“revolução silenciosa”, “gramscista”, urdida por uma articulação entre o PT e o
Foro de São Paulo, para converter o Brasil em um instrumento de implementação
da “URSAL”.
A vida demonstrou o contrário das ilusões: para o empresariado
capitalista, o “estratégico” é fazer o Brasil voltar à “normalidade”. E a
“normalidade”, em nosso país, é uma esquerda política e social frágil, incapaz
de garantir os direitos sociais e políticos que foram conquistados pela classe
trabalhadora noutras regiões do mundo.
Junto com a ilusão no compromisso da classe dominante com as liberdades
democráticas e com os interesses nacionais, esteve sempre presente a ilusão na
suposta “neutralidade” do aparato de Estado.
Esta ilusão “republicana” ajuda a explicar por quais motivos setores do
Partido contribuíram, com imenso gosto e dedicação, para o fortalecimento da
“autonomia” de instituições do Estado que foram essenciais para o golpe ter êxito,
como é o caso da Polícia Federal e do Ministério Público. Ou porque, até hoje, apóiam
ou pelo menos não conseguem compreender e criticar a finalidade real de
instrumentos como a Ficha Limpa e a Operação Lava Jato.
A ilusão “republicana” no caráter supostamente neutro do Estado ajuda a
entender, finalmente, por quais motivos indicamos quem indicamos para ocupar
postos estratégicos no Estado, seja no Banco Central, seja no Supremo Tribunal
Federal.
Ao menos na imensa maioria dos casos não se trata, como já virou comum
dizer, que estas pessoas tenham sido “mal escolhidas” ou que tenham cometido
“equívocos” ou “traição”. Seria assim se aquelas pessoas tivessem sido
escolhidas para defender os interesses estratégicos da classe trabalhadora e,
uma vez nos seus postos, tivessem feito o contrário.
Mas não foi assim: as escolhas foram feitas, ao menos na imensa maioria
dos casos, a partir de uma lógica “republicana”, a partir de critérios
supostamente neutros, “de Estado”. Acontece que nos momentos de crise, não há
neutralidade, e quem acredita nisto se converte em vítima ou em algoz.
A mesma ilusão na neutralidade do Estado se fez presente na relação com
as forças armadas. Assim como nossos governadores de estado, no mais das vezes,
não comandam efetivamente as polícias militares, nossos presidentes tampouco
comandaram efetivamente as forças armadas. Nunca houve efetiva subordinação ao
poder civil, nem mudança na mentalidade de “segurança nacional contra o inimigo
interno”. E, como agora se demonstrou, nem mesmo houve uma mudança na concepção
geopolítica.
Num certo sentido, é ainda pior do que em 1964: estamos diante de uma
geração de militares que está disposta a aprofundar nossa subordinação aos
interesses dos Estados Unidos. Disposta a trocar o projeto de um submarino por
propulsão nuclear por algumas dezenas de tanques de guerra. Disposta a trocar
uma doutrina sul-americana de Defesa, pela participação em um ataque da Otan
contra a Venezuela.
Durante anos, importantes governantes, dirigentes e intelectuais da
esquerda brasileira alimentaram ilusões nas forças armadas. Neste sentido, é
didático ver um dos ex-comandantes da Minustah, convertido agora em (futuro)
ministro da Defesa, acusar o companheiro Celso Amorim de “antipatriótico” por
defender internacionalmente alguém que o citado general considera ser um
“criminoso”. Fica claro, mais uma vez, que tipo de cultura foi reforçada por
nossa presença militar no Haiti.
Cabe lembrar que, ainda em 2017, importantes dirigentes e intelectuais
da esquerda brasileira acreditavam que o general Vilas Boas comandaria um setor
das forças armadas que seria nosso aliado, pelo menos na luta em defesa dos
interesses nacionais e contra a linha dura.
As ilusões republicanas no judiciário e nas forças armadas são
simétricas. Por um lado e por outro, buscava-se um “atalho” que tornasse
desnecessária uma estratégia de enfrentamento da classe dominante e seus
instrumentos de poder. Como se confirmou, este atalho não existe. Não apenas
perdemos tempo, mas também perdemos uma grande oportunidade de construir outro
caminho estratégico. O irônico é que fomos acusados de “gramscismo”, sem que
nunca tenhamos tentado efetivamente “ocupar” os espaços de poder.
A ausência de uma estratégia de poder fica clara, também, no tema da
comunicação de massas. Falou-se muito do papel das redes sociais na campanha
eleitoral. Alguns inclusive falam que os meios de comunicação tradicionais
teriam sido, ao menos em parte, derrotados; e que vão enfrentar tempos difíceis
na relação com o governo Bolsonaro.
Embora isto possa ser parcialmente verdadeiro, não se deve perder de
vista o essencial: desde 2003 até 2018, os meios de comunicação de massa foram
essenciais na operação de corrosão da imagem do Partido dos Trabalhadores, de
seus governos e lideranças. As fake news ganharam credibilidade, em boa parte
porque havia verossimilhança com aquilo que era dito nas “fox news” da vida: a
Globo, as demais TVs de sinal aberto, as rádios comerciais e seus noticiários
“padrão” Jovem Pan e CBN, a mídia impressa dos jornalões e revistas semanais,
as plataformas “sérias” da internet, as editores de livros que inundaram os
pontos de venda com obras de baixa qualidade contra a esquerda, e assim por
diante.
E o que se fez contra isto, ao longo de 12 anos de governos federais
encabeçados por nosso Partido? Muito pouco, quase nada. Não se construiu uma
rede de comunicação pública, não se organizou uma rede de comunicação da
esquerda, não se fortaleceram os meios de comunicação “alternativos”, não se
interrompeu a repressão contra as rádios comunitárias. Até mesmo nas eleições
de 2014, prevaleceu a ideia de que o único controle da mídia aceitável seria o
controle remoto. E neste ano de 2018, nosso candidato a presidência pediu aos
jornalistas e seus meios que “acordassem” para o que estava acontecendo. E
mesmo agora há quem esteja mais preocupado com o destino da Folha de S. Paulo,
do que com os blogueiros independentes e com as rádios comunitárias.
A legitimação das ideias de extrema direita não foi feita pelas fake
news do submundo da internet. A legitimação foi feita, dia após dia, pela mídia
oligopolista. Que hoje parte destes meios e parte dos profissionais que lá
trabalham também se convertam em vítimas da extrema-direita, e mereçam ser
defendidos por nós, não deve nos fazer esquecer quem fez o quê no verão
passado, não por rancor, mas para não repetir o erro.
Quem não constrói hegemonia, é hegemonizado, quem acha possível conviver
com o oligopólio da mídia, será engolido por ele.
Raciocínio similar pode ser feito no caso das igrejas pentecostais e, de
maneira geral, acerca da nossa relação com o mundo das religiões. Da mesma
forma como houve ilusão no caráter republicano e neutro do Estado, assim como
houve capitulação frente à confusão deliberada entre liberdade de imprensa e
liberdade de empresa, também houve uma interpretação equivocada quanto ao
significado do caráter laico do Estado.
Não há como negar que durante nossos governos federais, cresceu a
influência de igrejas que eram, na verdade, partidos-e-empresas. Este fenômeno
não foi adequadamente enfrentado como o que de fato era: uma ameaça ao caráter
laico do Estado e uma ameaça aos direitos civis de parcela da população.
Pelo contrário, prevaleceu em grande parte de nós a passividade e, em
muitos casos, a cumplicidade com alianças que, em nome da ausência de
preconceitos e do caráter laico do nosso partido e visão de política, na
verdade legitimavam a presença e o modus operandi destas
igrejas-empresas-partidos.
Mesmo diante de inúmeras evidências internacionais de que a extrema
direita e o grande empresariado capitalista estavam usando o artifício de
ocultar sua plataforma programática sob a máscara de uma “cruzada religiosa”,
agimos frente a esta operação de maneira “ecumênica”, similar a como a esquerda
agiu no passado recente e no presente na relação com a Igreja Católica, com as
Igrejas Protestantes históricas, com outras religiões e tradições.
A crença socialdemocrata nas possibilidades de convivência entre
capitalismo e democracia, a crença republicana no caráter neutro do Estado e de
seus aparatos, a crença ecumênica acerca da coexistência pacífica entre
democracia, oligopólio da mídia e fundamentalismo, a crença liberal no bom
comportamento dos Estados Unidos, integram o pano de fundo da estratégia
adotada pelo PT e pela maior parte da esquerda brasileira nas últimas décadas.
Aceitas aquelas premissas -- que podem ser resumidas na ideia de que o
lado de lá aceitaria o veredito das urnas, aceitaria que nossos governos
ampliassem o bem-estar e as liberdades democráticas, aceitaria a afirmação de
nossa soberania e da integração regional, aceitaria e não reagiria, desde que
fossemos moderados no programa e respeitássemos certos limites – construímos
uma estratégia cujo maior objetivo era conquistar governos e governar, abrindo
mão do objetivo de construir e de conquistar o poder.
Parte expressiva do nosso partido, aliás, passou a acreditar que ser
governo era igual a ser poder. O golpe de 2016 mostrou que isto nunca foi
verdade e que o poder, no Brasil, nunca mudou realmente de mãos. O golpe
demonstrou, também, que a postura predominante no empresariado capitalista
brasileiro, em seus sócios internacionais e também nos “setores médios
tradicionais”, não é a da conciliação de classe. Embora em alguns momentos,
determinados setores e porta-vozes do grande empresariado tenham estabelecido
relações amistosas com nossos governos e lideranças, o que predominou ao fim e
ao cabo foi o mesmo que em toda nossa histórica: o máximo de exploração, com o
mínimo de bem estar, liberdades e soberania.
Uma estratégia voltada a conquistar eleitoralmente governos e governar,
subordinava a este objetivo todo o demais. Assim, desde 1995 até hoje, temas
como o financiamento da política, a construção de alianças, a relação com os
movimentos sociais, com o restante da esquerda partidária e com o próprio
Partido dos Trabalhadores, a relação com as bancadas parlamentares e com o
mundo da cultura, foram colocados em função do objetivo de conquistar governos
e de governar.
O certo teria sido colocar todos estes temas, assim como a disputa das
eleições e o próprio exercício de governo, em função do objetivo de construir e
conquistar o poder. Pois não é possível melhorar de forma profunda, rápida e
sustentável a vida da maioria do povo, ampliar de maneira radical e permanente
as liberdades democráticas, defender a soberania nacional e promover a
integração regional, sem impor uma derrota profunda à classe dominante,
desestruturando seus instrumentos de poder.
Em alguns setores da esquerda, a crítica a esta estratégia centrada nas
eleições foi feita de forma torta: criticava-se o PT por ter deixado de lado um
“projeto de país”, em nome de um “projeto de poder”. Reforçava-se, assim, a
confusão entre governo e poder, como se buscar o “poder” fosse algo ruim, feio,
negativo. Quando, na verdade, o problema real estava em contentar-se apenas com
tentar ser governo, deixando o poder nas mãos de quem sempre o deteve.
Neste sentido, a “estratégia” que visava conquistar governos não era propriamente
uma estratégia, mas uma tática com mania de grandeza. Uma prova disto é que,
depois de nossa vitória em 2002 e de nosso crescimento em 2006, iniciamos uma
etapa de desacumulação de nossas forças na classe trabalhadora.
Desacumulação que ainda está em curso, como demonstra a curva dos
resultados eleitorais, assim como as dificuldades vividas e antevistas pelos
partidos de esquerda, pelos movimentos sociais e sindical.
Desde 2006, nossas votações vem caindo, eleição após eleição. A queda é
mais pronunciada naquelas regiões e setores onde iniciamos nossa trajetória. O
que confirma que devemos ter muita cautela ao comemorar nossos êxitos atuais,
pois eles podem ser um “pico” ao qual se seguirá novo declínio.
A desacumulação pode ser medida, também, do ponto de vista social e
organizativo. Por exemplo, a situação do movimento sindical, inclusive cutista,
resulta de um complexo de motivos, entre os quais a linha política majoritária
no sindicalismo, a conjuntura econômica e as mudanças na composição social da
classe trabalhadora. Mas vista a situação de conjunto, o fato é que a partir de
2015 perdemos parte substancial de nossa influência na classe trabalhadora.
Quando olhamos no tempo, fica claro que entre 1995-2002 o movimento
principal foi de acumulação de forças; entre 2003 e 2010, houve movimentos
contraditórios; mas desde 2011 o movimento principal tem sido perder espaços
conquistados. Esta situação está relacionada não apenas com as situações
conjunturais e táticas. A estratégia adotada também tem sua responsabilidade.
Nos últimos anos, foram feitos vários esforços no sentido de alterar
nossa estratégica. Alguns dos esforços, entretanto, apontavam no sentido de
enfatizar separadamente nossa relação com os setores médios, com as mulheres,
com a juventude, com as periferias, com os movimentos sociais, com os negros e
negras etc.
Cada um destes temas é importante, mas o mais importante é não perder de
vista o problema de conjunto. Nossa perda de influência em cada um dos setores
acima mencionados resulta de uma estratégia que desacumula, de conjunto, nossa
influência na classe trabalhadora. É a perda de influência no conjunto da
classe trabalhadora (que é predominantemente jovem, feminina e negra), que nos
leva a enfrentar problemas em cada segmento. A incompreensão desta relação
dialética contribuiu para as chamadas posturas “identitaristas”, espelho
simétrico e igualmente negativo das posturas que desconhecem a importância da
luta contra o racismo, a homofobia e a misoginia .
A desacumulação de forças também tem uma dimensão ideológica, cultural.
Sua expressão mais visível é o crescimento do antipetismo, presente inclusive
em parte do eleitorado que votou em nossas candidaturas tanto no primeiro
quanto no segundo turno. O PT sempre enfrentou acusações e críticas, mas o
antipetismo como fenômeno nacional surge a partir da chamada “crise do
mensalão”. Na cobertura midiática daquele episódio, e nas reformulações
narrativas posteriores, se construiu um discurso crítico ao PT baseado em três
afirmações articuladas: traição, corrupção e autoritarismo. O PT mente para
seus eleitores, o PT teria como objetivo roubar, o PT faz qualquer coisa para
se manter no poder. Essas três afirmações transformaram-se em “senso comum” de
milhões de pessoas, sendo repetidas de formas mais ou menos sofisticadas, por
gente de direita mas também por gente de esquerda.
A transformação do antipetismo num fenômeno nacional e de massas é
apenas uma parte do maremoto reacionário que se abateu sobre o país. A rigor, o
antipetismo prepara o terreno para o ataque do “neofascismo”, o fundamentalismo
religioso, o conservadorismo de costumes e, com destaque, o ultraliberalismo
sintetizado na frase “ou direitos sem emprego, ou empregos sem direitos”. Os
setores de centro e/ou esquerda que aderiram ao antipetismo acabam se vendo
diante do “dilema” ao qual sucumbiram FHC, Ciro e outros: qual dos demônios
seria pior, o petismo ou o neofascismo?
A difusão do antipetismo foi por ondas: em 2005, em 2013, em 2014, no
golpe do impeachment e agora, nas eleições de 2018. E, a cada onda, parte de
nosso Partido e da esquerda achavam que havíamos chegado ao fundo do poço, que
havíamos sobrevivido e que em seguida viria a recuperação.
A verdade é que não temos como saber se chegamos ao fundo do poço. Pelo
contrário, é bastante provável, pelos motivos expostos anteriormente, que ainda
soframos novos golpes, antes de poder retomar de forma consistente uma
acumulação de forças. Entretanto, para que seja possível uma retomada, é
necessário defender aquele que constitui o alvo central do ataque do inimigo: o
Partido dos Trabalhadores.
A defesa do Partido dos Trabalhadores
Claro que para muitos militantes de outros partidos, falar isso pode
soar como arrogância. Mas os fatos são os seguintes: desde 1989 até hoje, o PT
tem sido o principal protagonista e depositário da acumulação de forças da
classe trabalhadora, dos setores democráticos e populares, da esquerda
socialista no Brasil. Por isso é tão importante, para o grande empresariado e
para seus instrumentos políticos, desmoralizar, criminalizar e destruir o PT.
Claro que isto constitui um enorme problema político para os setores da
esquerda que discordam do PT e concorrem com o PT. Assim como constitui um
problema para os petistas que têm maiores ou menores divergências com a posição
adotada no presente e no passado recente pelo Partido. Mas assim é a realidade:
a resistência consequente ao bolsonarismo inclui defender o Partido dos
Trabalhadores de todos os ataques que são e serão feitos contra sua existência.
A defesa do PT exige enfrentar não apenas os ataques do bolsonarismo,
mas também os ataques provenientes de partidos e intelectuais que defendem
posições de centro, de esquerda e de ultra-esquerda.
Não nos referimos às críticas, com as quais o PT deve conviver, debater
e aprender, mesmo que discordando. As críticas não fazem mal ao nosso Partido,
até porque a trajetória recente demonstrou, a todos que imaginavam ser possível
ultrapassar o PT pela esquerda, que ao menos nas atuais condições históricas
isto não é possível.
O PT pode ser derrotado e atropelado pela direita. Mas superado pela
esquerda, não foi e nada indica que será. O que coloca, aos defensores de
outros projetos partidários, um dilema sobre como proceder no presente e no
futuro, em relação ao PT. Faz muitos setores discutirem a possibilidade de
ingressar (ou de reingressar) no PT. Assim como nos estimula a deflagrar uma
campanha de filiação partidária.
Neste sentido, devemos estimular a militância com quem atuamos lado a
lado no movimento sindical, no movimento de juventude, no movimento sem-terra,
nos movimentos populares, de mulheres, de combate ao racismo, LGBT, de cultura,
assim como nas campanhas eleitorais, a que entrem no Partido.
Quando falamos de enfrentar os ataques, nos referimos basicamente
àqueles que acusam o PT de ser “o” responsável pela ascensão e vitória do
bolsonarismo. A César o que é de César: quem legitimou a extrema direita e quem
abriu o caminho para ela vencer as eleições presidenciais de 2018, foi em
primeiro lugar quem tirou Lula da disputa presidencial; em segundo lugar, quem
não tomou nenhuma medida legal para impedir os crimes cometidos pela
candidatura de Bolsonaro; em terceiro lugar, quem estimulou a extrema direita a
ganhar espaço na sociedade brasileira, com o objetivo de derrotar o PT; em
quarto lugar, quem votou na candidatura de Bolsonaro; em quinto lugar, quem não
se posicionou no segundo turno.
A defesa do PT, para ter êxito, exigirá também derrotar aqueles setores
que desde há muito operam pelo desmonte do Partido e/ou que, agora, trabalham
para sua “modernização” via moderação.
A “estratégia de conquistar governos e governar” converteu-se, a partir
de um determinado momento, na primeira responsável pelo desmonte orgânico do
Partido e sua conversão em uma “máquina” principalmente eleitoral.
Temas estratégicos como o funcionamento das instâncias, a comunicação e
a formação de quadros, assim como a relação entre Partido e classe, foram sendo
deixados de lado. No seu lugar, cresceu a subordinação do Partido aos governos
e mandatos parlamentares, a transformação das instâncias em parlamentos, a
conversão da maior parte das tendências em mera fachada de interesses
parlamentares, a diluição dos vínculos organizativos do partido com a classe
(por exemplo, em quantas fábricas, escolas e bairros do país há núcleos de base
funcionando?).
Setores do Partido reconhecem que em 2018 houve uma derrota eleitoral e
até estratégica. Para enfrentar esta derrota, defendem uma “modernização” do
Partido, que inclui desde aceitar -- com naturalidade e até certa satisfação
pequeno-burguesa -- a progressiva mudança da origem social de nossas principais
figuras públicas, até renunciar a determinadas posições políticas e
ideológicas. Ou seja, para enfrentar as consequências de uma estratégia
centrada no eleitoral, estes setores defendem “dobrar a aposta” na conversão do
partido em um partido “da ordem”.
A campanha Lula Livre
Uma das nossas prioridades é a mobilização em defesa dos direitos
sociais e econômicos do povo, ameaçados pela política ultraliberal do governo
Bolsonaro.
De imediato, trata-se de mobilizar contra a reforma da previdência.
Outra das nossas prioridades é a luta em defesa da soberania nacional e
da integração regional, ameaçadas pela política externa bolsonarista de
submissão aos Estados Unidos, que estimula um conflito militar contra a
Venezuela.
Priorizamos, também, a luta pelas liberdades democráticas, entre as
quais os direitos de expressão, livre organização e manifestação, todos sob
ameaça da legislação neofascista da lei antiterrorismo e de outras medidas já
anunciadas pelo governo Bolsonaro.
Integra com destaque a luta pelas liberdades democráticas, a campanha
pela liberdade do companheiro Lula, condenado e preso por motivos políticos,
fato confirmado pela nomeação de Moro para o ministério de Bolsonaro.
Para o governo Bolsonaro e seus aliados, é fundamental manter Lula
preso. Isto por dois motivos fundamentais.
O primeiro deles é: Lula segue tendo uma imensa capacidade de
convocatória. Ele muito provavelmente teria vencido as eleições presidenciais
de 2018. E a oposição a Bolsonaro terá mais chances de êxito se contar com sua
contribuição.
O segundo motivo pelo qual é fundamental, para Bolsonaro e seus aliados,
manter Lula preso é: sua prisão dá verossimilhança para a narrativa segundo a
qual as posições de esquerda são, na verdade, fachada para a atuação de uma
organização corrupta e criminosa.
Como sabemos, em 1954, em 1964 e agora, o tema da corrupção foi
utilizado para confundir, dividir e jogar na defensiva as forças de esquerda.
Por razões opostas, é essencial — para o conjunto das forças
democráticas e populares — a campanha por Lula livre.
Caso esta campanha tenha sucesso imediato, ampliam-se nossas chances de
ter êxito na luta geral contra a extrema direita.
E, mesmo que esta campanha não tenha êxito imediato, ela é essencial
para desmontar a narrativa segundo a qual a esquerda é fachada de uma
organização corrupta e criminosa.
Entretanto, alguns setores progressistas, democráticos e populares —
mesmo concordando que Lula está preso injustamente e que ele deve ser libertado
— podem entender que fazer da campanha Lula Livre um dos eixos de atuação de
todos os setores democráticos e populares, seria subordinar o conjunto da
esquerda aos interesses e necessidades do PT.
Alguns setores chegam a dizer que caberia principalmente ao PT lidar com
a situação, afinal não é a esquerda como um todo, mas tão somente o PT que é
acusado de ser uma “organização corrupta e criminosa”.
Os argumentos acima relacionados não são disparatados.
De fato, a campanha por libertar Lula é em primeiro lugar uma luta do
PT, partido do qual Lula é presidente de honra.
Nesse mesmo sentido, desconstruir a narrativa que apresenta o PT como
uma “organização corrupta e criminosa” é, antes de mais nada, uma tarefa do
próprio PT.
Entretanto, Lula tem tamanha força e visibilidade política, tem tamanha
importância e relevância histórica, que não é possível desconhecer que manter
Lula preso afeta, para pior, a ação do conjunto das forças democráticas e
populares.
Lula foi candidato a presidente em 1989, 1994, 1998, 2002 e 2006, várias
vezes com o apoio de toda a esquerda.
Governou o país de 2003 a 2010, consolidando então sua posição principal
liderança da esquerda brasileira, ao menos do ponto de vista da maior parte do
povo, tanto do ponto de vista da parcela que o apoia, quanto da parcela que o
rejeita.
Fora da presidência Lula foi decisivo na votação obtida por Dilma em
2010 e 2014, assim como foi decisivo na votação obtida por Haddad no primeiro e
segundo turnos de 2018.
Assim, a Campanha Lula Livre não é do interesse apenas do PT ou de seus
aliados. Inclusive por razões humanitárias, mas principalmente por razões
políticas, é uma luta de interesse de todos os setores democráticos e populares
do Brasil.
A manutenção da sua prisão, além do mais sem resistência, seria um
símbolo de que o “sistema” poderia quase tudo, inclusive deixar “apodrecer na
cadeia” o maior líder político do povo brasileiro.
A campanha pela libertação de Lula é, por tudo isso, parte integrante da
luta geral do povo brasileiro pela recuperação de suas liberdades democráticas
plenas, de sua soberania nacional e de seu bem-estar social.
Evidente que travar esta luta, hoje, é algo mais complexo do que antes.
Provavelmente as condições carcerárias de Lula vão piorar.
É possível que ele seja condenado em terceira instância, assim como
condenado em outros processos.
É possível que outras lideranças populares sejam presas, seja com base
em acusações de corrupção, seja com base na lei antiterrorismo.
Por outro lado, é absolutamente improvável, na atual correlação de
forças, que do judiciário, do legislativo ou do executivo surja alguma
iniciativa no sentido de liberar Lula.
Claro que a nomeação de Moro para um superministério confirma que o
julgamento de Lula foi 100% partidário e farsesco, o que contribui para a
campanha internacional contra a prisão.
Mas do ponto de vista interno, reforça as posições de quem simplesmente
desconhecerá qualquer pressão internacional.
Assim, a tarefa que está posta na atual conjuntura, em primeiro lugar, é
alterar a correlação de forças.
E alterar a correlação de forças passa por algo básico: convencer a
maioria do povo brasileiro, de que a prisão de Lula é injusta.
Cabe lembrar, finalmente, que o governo Bolsonaro não é um governo que,
sob ataque, recua.
Pelo contrário, o governo Bolsonaro fará como fez na campanha: diante
das dificuldades, atacará.
E o ataque será baseado na criminalização do inimigo interno. Por isto
ilude-se quem acha que será possível esquecer de Lula ou minimizar sua
importância.
A sua prisão será lembrada, todo santo dia, para tentar confirmar a
legitimidade das ações passadas, presentes e futuras que forem exercitadas
contra toda a esquerda.
Mais um motivo pelo qual a campanha Lula Livre deve ser abraçada por
toda a esquerda democrática e popular, por razões políticas, táticas e
estratégicas, também por razões humanitárias e afetivas, mas nunca por razões
messiânicas.
Agora, evidentemente, o que vai definir a sobrevivência e o sucesso da
esquerda brasileira não é a campanha Lula Livre, ou qualquer outra luta em si
mesma, tomada isoladamente. O que vai definir a sobrevivência e o sucesso da
esquerda brasileira é o enfrentamento global do governo Bolsonaro,
especialmente nos temas que dizem respeito às condições diretas de vida do
povo. Esta é, aliás, a opinião do próprio companheiro Lula.
Este é o nosso ponto de vista, que nunca fomos “lulistas” e que na maior
parte das vezes lutamos contra a política que Lula defendia no interior do PT:
manter e reforçar a campanha Lula Livre é essencial para o conjunto da esquerda
brasileira. Aliás, os que hoje criticam o PT por não ter enfrentado com coragem
e radicalidade o tema da Anistia e dos crimes contra os direitos humanos
cometidos durante a ditadura, não deveriam deixar para depois aquilo que se
deve fazer agora.
Do ponto de vista específico do PT, a campanha Lula Livre faz parte de
uma operação de médio prazo, no sentido de reconstruir a imagem do Partido
frente aos setores que compraram a tese segundo a qual o PT converteu-se numa
“organização criminosa”, responsável pela “maior corrupção da história do
Brasil”.
É importante, neste sentido, retomar as formulações apresentadas e/ou
aprovadas no V congresso do Partido acerca de como enfrentar o debate acerca da
corrupção. E se há setores do Partido que consideram necessário que o PT
“enfrente seus demônios”, então é preciso decidir como isto pode ser feito, se
através de canais orgânicos (como os congressos e as comissões de ética), ou
através de mecanismos extraordinários, a exemplo de um “tribunal de honra
internacional” para analisar as acusações feitas contra o PT. Este segundo
caminho poderia ser uma maneira de enfrentar não apenas a tese da
extrema-direita, mas também a tese de setores de centro e esquerda que
argumentam na linha de que o PT “roubou, mas fez”. Personalidades
internacionais como Mujica, Chomski, Manuel Castels, Boaventura e outras
poderiam ser convidadas para um “tribunal” desta natureza. Seja qual for a
escolha que venha a ser adotada pelo Partido, o fundamental é não adotar uma
postura passiva frente às acusações, nem fingir de avestruz diante dos
problemas realmente existentes, presentes, passados e futuros.
Perspectivas do governo Bolsonaro
O governo Bolsonaro, pelo menos em sua fase inicial, terá ao que tudo
indica 4 características principais: um programa ultraliberal, o alinhamento
com os Estados Unidos, a política neofascista e uma tática de “denunciar e agir
permanentemente contra o inimigo interno”.
Frente a isto, haverá diferentes táticas na oposição. Alguns setores,
por exemplo, provavelmente se oporão ao neofascismo, mas dificilmente se oporão
ao conjunto das medidas ultraliberais. Por isto, não se deve tentar colocar
toda a oposição numa camisa de força, num leito de Procusto. É melhor trabalhar
com uma política de alianças e de frentes diversificada, que inclua uma frente
democrática e popular (onde se encontram a Frente Brasil Popular e a Frente Povo
Sem Medo, o PCdoB, o PSOL e o PCO, assim como setores do PSB e do PDT) e um
movimento amplo em defesa das liberdades democráticas.
Além se ser mais realista, esta postura, de uma “geometria variável” nas
alianças, permitirá ao PT lidar melhor com as tentativas de isolamento que se
farão contra nós. E permitirá, à nossas bancadas parlamentares, a nossos
governos estaduais e municipais, aos movimentos sindicais e populares, à
campanha Lula Livre e ao Partido enquanto tal, maior margem de manobra para operar
nas diferentes situações e regiões do país, sem ter que se “enquadrar” num
molde pré-concebido, único e nacional, incapaz de dar conta da situação
complexa em que estamos.
O essencial e inegociável, no que se aplica ao PT e aliados mais
próximos, deve ser: a) oposição a Bolsonaro e aos governos aliados de
Bolsonaro; b) uma oposição concentrada naquilo que afeta os direitos sociais,
econômicos e políticos da maioria do povo brasileiro; c) por isto mesmo,
centralidade total neste momento para derrotar a reforma da previdência; d)
manter e reforçar a campanha Lula Livre; e) construir a Frente Brasil Popular e
buscar o máximo de unidade de ação e inclusive orgânica entre as organizações
que a integram, na perspectiva inclusive de unificar com a FPSM; f) defender as
organizações contra os ataques, a começar pelo MST e pelo MTST; g) reforçar o
trabalho popular em geral, com destaque para a organização da classe
trabalhadora que está na produção, através do movimento sindical.
Nossa oposição ao governo Bolsonaro não deve partir do pressuposto de
que em 2020 e 2022 teremos uma revanche. Isto pode ocorrer, seja devido aos
nossos acertos, seja devido aos erros do lado de lá, seja devido a complexa
situação nacional e internacional. Mas também podemos estar diante de uma etapa
de defensiva mais prolongada.
Neste mesmo espírito, não devemos desconsiderar a hipótese de uma
retomada na atividade econômica. O lema “sem direitos, com empregos” pode se
materializar em certo volume de investimentos, beneficiados por salários
diretos e indiretos muito baixos, e por uma classe trabalhadora na defensiva
pelo desemprego e repressão. Embora a situação internacional seja complexa
demais, não devemos descartar este cenário de um mini-mini-“milagre”.
Igualmente devemos estar atentos para a possibilidade de conflito entre
a componente ultraliberal e a componente neofacista presentes no governo
Bolsonaro. Neofascismo que se exprime na disposição de exterminar os
adversários, na combinação entre formas de ação legais com ações ilegais e
paramilitares, e na conformação de um “movimento de massas” de extrema direita.
Por tudo isso, é preciso que o PT, assim como o conjunto do campo
democrático popular, tenha disposição para correr uma maratona com obstáculos.
Mesmo que o governo Bolsonaro não implique num aprofundamento do desacumulo que
já tivemos, aquilo que sofremos até agora exigirá muito tempo e esforço para
ser recomposto.
O balanço das eleições
O balanço detalhado das eleições 2018, em todas as regiões e níveis, é
essencial para o êxito do trabalho de oposição ao governo Bolsonaro e aos
governos estaduais com ele alinhados, assim como para nossa atuação no Senado e
Câmara dos Deputados.
Neste balanço, além de compreender o processo anterior às eleições
propriamente ditas, trata-se de entender com o máximo de precisão quais foram
os setores sociais que apoiaram e votaram em Bolsonaro; quais foram as táticas,
técnicas, instrumentos e argumentos utilizados; qual a relação entre isto e a
votação nas candidaturas ao parlamento e governos estaduais; a natureza
regional do voto, em particular onde fomos vitoriosos (nordeste), mas também
onde nos impuseram derrotas eleitoralmente decisivas (SP, MG e Rio); os
resultados obtidos e que tática parecem adotar os demais setores de
centro-direita, derrotados por Bolsonaro. Será necessário, também, analisar
detidamente como se distribuíram os recursos do fundo público dedicados a
financiar as campanhas eleitorais, pois há evidentes distorções, especialmente
no caso das candidaturas legislativas.
Quanto ao método de análise, nos parece essencial tomar como fio da
meada a candidatura de Bolsonaro, a partir dos movimentos feitos pela coalizão
golpista desde o day after do segundo turno de 2014. Afinal, desde então e até
hoje, são os golpistas que mantiveram a iniciativa política e a hegemonia. A
questão principal, portanto, é mostrar e explicar o que eles fizeram para
ganhar e não – como fazem alguns setores de centro, esquerda e
extrema-esquerda– adotar como fio da meada os movimentos feitos pelo PT, que
desde 2014 está na defensiva.
O ponto de partida da vitória de Bolsonaro encontra-se na operação
política, iniciada logo após o segundo turno de 2014, envolvendo amplos setores
da classe dominante e dos setores médios tradicionais, do aparelho de Estado,
dos meios de comunicação, das forças armadas e das polícias militares, com apoio
da comunidade de inteligência de pelo menos dois países, no sentido de derrubar
a presidenta Dilma e de prender o companheiro Lula.
Esta operação, para ter êxito, recorreu à uma tática de polarização
extrema com a esquerda. Isso abriu caminho para a que a extrema-direita tomasse
as ruas e os meios de comunicação, legitimando suas pautas, seus discursos e
suas lideranças. E consolidando a tese de que era preciso não apenas derrotar,
mas destruir o PT, apresentado como uma “organização criminosa”.
Este foi o ponto de partida para que Bolsonaro fosse visto, por setores
cada vez mais amplos da classe dominante e dos setores médios, bem como de seus
representantes políticos e midiáticos, como a candidatura certa, na hora certa
e no lugar certo para “varrer os vermelhos”.
Além de enfrentar a concorrência de Bolsonaro, os partidos da
centro-direita tradicional (como PSDB e MDB) suportaram o desgaste do
governo Temer. Esse desgaste também contribuiu na transferência dos votos
politicamente conservadores, oriundos dos setores médios e ricos, para
Bolsonaro.
Entretanto, a consolidação eleitoral da candidatura Bolsonaro dependia
dele ampliar o apoio recebido de setores populares. Isso era facilitado pela
imagem falsa, mas eficientemente cultivada, de que Bolsonaro seria
“anti-tudo-isto-que-está-aí”.
O fator decisivo para a consolidação de Bolsonaro nos setores populares
foi a interdição de Lula, interdição que empurrou parte de seu eleitorado para
a abstenção/nulo/branco, parte para outras candidaturas, grande parte para
Haddad, mas parte para Bolsonaro.
Se a candidatura de Bolsonaro não ocupou o primeiro lugar das pesquisas
desde o início da campanha, foi porque o PT manteve a candidatura de Lula até o
último limite possível. Se Lula fosse candidato, as pesquisas indicavam que ele
provavelmente venceria, derrotando inclusive Bolsonaro. Por outro lado, se a
candidatura substituta de Lula não tivesse atraído grande parte dos votos do
ex-presidente, Bolsonaro poderia ter vencido no primeiro turno.
Ainda no primeiro turno, depois que assume a liderança nas pesquisas,
turbinado pela interdição de Lula, Bolsonaro vai se convertendo no inimigo
número um de todas as demais candidaturas. É nesse momento que a facada
“blinda” sua candidatura contra as investidas, especialmente de Alckmin. A
facada cristaliza o núcleo duro de seu eleitorado.
Com as candidaturas e partidos enfrentando dificuldades para atacar
diretamente Bolsonaro, devido a comoção e ao pós-operatório, a contestação é
feita por diferentes setores da sociedade, que constroem as manifestações do
dia 29/9. Necessárias e legítimas, as manifestações não produziram entretanto o
resultado político e eleitoral desejado e necessário.
Ao priorizar as liberdades civis, sem conseguir destacar adequadamente o
vínculo entre estas liberdades e os direitos econômicos e sociais, as
manifestações limitaram seu alcance junto aos setores populares. Por outro
lado, a campanha de Bolsonaro deflagrou uma exitosa campanha de manipulação
contra as manifestações, ampliando seu apoio junto aos setores populares
conservadores, mobilizados principalmente pelas igrejas evangélicas.
A essa altura, Bolsonaro percebe que pode ganhar no primeiro turno, o
que seria mais cômodo e menos arriscado. E dispara uma intensa campanha ilegal
de fake news através de mensagens eletrônicas, que o deixa próximo da vitória e
amplia a performance de candidaturas bolsonaristas em todo o país.
Bolsonaro inicia o segundo turno combinando o discurso conservador e
antipetista tradicional, com uma série de vacinas destinadas a evitar perdas
nos setores populares de seu eleitorado popular.
Esta operação é facilitada por diversos erros cometidos pela campanha
Haddad, nos primeiros dias do segundo turno: a) a falta de planejamento deixa a
campanha sem materiais; b) o candidato fica em São Paulo, não viajando e
gastando seu tempo buscando atrair lideranças de centro, que na sua maioria
optam pela “neutralidade”; c) a campanha demora a construir um discurso
dirigido aos setores populares e de desconstrução total da candidatura
Bolsonaro.
No início do segundo turno, Bolsonaro joga publicamente na defensiva, ao
mesmo tempo que mantém intensa campanha violenta, subterrânea e ilegal. Mas, no
domingo anterior as eleições, provocado pela mobilização intensa da candidatura
Haddad em todo o país, mobilização combinada com as denúncias contra o
subterrâneo de sua campanha, Bolsonaro radicaliza com um discurso no qual
promete destruir a oposição. O resultado é uma reação e mobilização muito
intensa, especialmente em parte dos setores médios, em defesa da democracia.
Mas nos setores populares do sul e sudeste, o que prevalece é a imobilidade.
Por isso, a diferença se reduz bastante, mas Bolsonaro mantém a
dianteira e vence o segundo turno, assim como sagram-se vencedoras candidaturas
bolsonaristas de extrema direita no Rio, em São Paulo e em Minas Gerais.
No que diz respeito ao balanço da campanha presidencial desenvolvida
pelo PT, apontamos que:
a) foi correto insistir até o limite na candidatura de Lula. Correto
principalmente do ponto de vista político, mas também correto do ponto de vista
eleitoral: Haddad virou vice de Lula dia 5 de agosto e substituiu Lula dia 11
de setembro. E fomos ao segundo turno;
b) embora tenha sido inevitável, transferir para Lula a decisão final
sobre quem o substituiria revelou a imensa debilidade de fato da direção
partidária;
c) esta debilidade da direção partidária manifestou-se ao longo de toda
a campanha. Isso se manifestou especialmente na política de comunicação e no
diálogo com o candidato;
d) também foram confirmadas, ao longo da campanha, as debilidades da
chapa Haddad-Manuela, especialmente sua dificuldade em dialogar com os
problemas que afetam a maioria da classe trabalhadora brasileira;
e) as debilidades apontadas foram compensadas pela ação da militância,
organizada ou não, e pelo prestígio e força eleitoral do companheiro Lula,
especialmente no nordeste;
f) especialmente no segundo turno, foi um gravíssimo erro da campanha
presidencial não destacar a presença do companheiro Lula, por acreditar que
Haddad teria mais chance de crescer se mantivesse certa distância e autonomia
frente ao ex-presidente;
g) também foi um grave erro priorizar, na primeira semana do segundo
turno, o diálogo com os setores médios e politicamente de centro, deixando de
lado a busca dos votos populares;
h) em nome deste diálogo com os setores de centro, abriu-se mão de
aspectos importantes do programa (como o duplo mandato do BC), fizeram-se
concessões ideológicas gravíssimas (como é o caso do elogio ao trabalho da
Operação Lava Jato) e não se conseguiu defender adequadamente aliados (como no
caso da Venezuela).
Caso estes erros não tivessem sido cometidos, teria sido possível eleger
Haddad? É impossível responder com certeza esta pergunta. De todo forma, nós
que defendemos que “eleição sem Lula é fraude”, não devemos superestimar os
efeitos eleitorais dos erros cometidos pelo candidato, pela campanha e pelo
Partido. Como em 1989, as forças reunidas pelo lado inimigo suplantavam muito
as nossas. De toda forma, não foi a maioria do povo brasileiro que votou em
Bolsonaro. Não foi nem mesmo a maioria do eleitorado. O Brasil tem 147 milhões
de eleitores. Destes, pouco menos de 58 milhões (40% do total) votaram em
Bolsonaro no segundo turno.
O que nos parece essencial é impedir que os erros cometidos na campanha
se projetem no pós-eleição, como aconteceu no caso do tuíte enviado a Bolsonaro
desejando “boa sorte”; ou na ilusão de que Haddad poderia substituir Lula na
liderança do Partido, como se 47 milhões de votos em uma eleição derrotada
fossem capazes de substituir mais de 47 anos de militância política em todas as
frentes possíveis; ou nos erros cometidos na política de alianças, por exemplo
na decisão de “trocar Pernambuco por Minas Gerais”. Aliás, não passa de
dogmatismo a tese segundo a qual o resultado eleitoral no Nordeste deve-se
principalmente a “ampla” política de alianças. Os que falam isso apenas repetem
o que já diziam antes da eleição; não se dão ao trabalho de analisar os
resultados nem seus possíveis desdobramentos.
Uma nova estratégia
O governo Bolsonaro é resultado direto de uma mudança na estratégia da
classe dos capitalistas brasileiros. Depois de um período (1989-2014) em que
aceitaram que a esquerda disputasse, vencesse e governasse o país, entramos em
um período em que a maior parte da classe dominante brasileira não aceita que a
esquerda possa disputar o governo nacional com chances de vitória, nem que
possa ter meios de governar em favor das maiorias. Por isso operam para destruir
os meios que tornavam possível ambas coisas: uma legislação que permite
realizar políticas públicas estruturais em benefício da maioria; instituições
de Estado que permitam executar estas políticas; um partido com força e
presença nacionais; uma rede de movimentos sociais, populares e sindical com
liberdade para lutar; um conjunto de ideias que cimentam um campo de forças
democrático, popular e nacional.
O sucesso da nova estratégia dos capitalistas impõe aos trabalhadores
brasileiros que também mudemos de estratégia. Devemos continuar lutando por ser
governo e por governar. Mas nossa estratégia tem que levar em devida conta que
o lado de lá está tendo êxito em destruir as condições necessárias, tanto para
que possamos vencer, quanto para que possamos governar. Sendo assim, é preciso
uma nova estratégia, que reorganize o “lugar”, a importância, o peso e a
articulação entre a luta eleitoral-institucional, a luta social, a luta
cultural e o trabalho de auto-organização da classe trabalhadora.
Uma questão central na elaboração desta nova estratégia constitui em
localizar quais foram os setores da classe trabalhadora cooptados por Bolsonaro
e quais foram os setores “neutralizados” (abstenções, brancos, nulos); assim
como quais foram os argumentos, instrumentos e táticas utilizadas. Responder a
estas questões é algo decisivo, pois o centro de qualquer estratégia de
esquerda deve estar baseada na hegemonia junto à classe trabalhadora.
Outra questão central é perceber que o sucesso da extrema-direita
envolveu fatores circunstanciais, mas envolveu principalmente dois movimentos
centrais e explícitos: a) a construção de um núcleo duro de ideias; b) a
construção de um movimento de luta pelo poder. Em ambos casos, o contraste é
total. Enquanto parte da esquerda abandonou há tempos a ideia contida na tese
da “ditadura do proletariado”, a extrema-direita defende sem meias palavras a
ditadura militar. Enquanto parte da esquerda acreditava na neutralidade do
Estado, a extrema-direita colonizava o núcleo duro do Estado: o judiciário e as
forças armadas.
O processo de formulação, no âmbito da teoria, e de aplicação, no âmbito
da prática, de uma nova estratégia não será algo rápido nem tranquilo.
Envolverá lutas internas (ao Partido) e polêmicas no âmbito da esquerda e dos
setores democráticos, que conviverão com os ataques da extrema-direita e com as
reviravoltas da situação nacional e internacional. Uma nova estratégia não será
formulada, portanto, a frio e distante das lutas práticas. Pelo contrário.
Tampouco será formulada tentando copiar estratégias de situações passadas
(1968-1974, 1978-1989, 1995-2015 etc.). É preciso reconhecer que o Brasil que
temos diante de nós é profundamente diferente e exige uma análise concreta da
situação concreta, caso queiramos ter uma nova estratégia e não apenas uma
coleção de bravatas.
Em qualquer caso, não está posta para nós nenhuma duvida acerca da
necessidade de defender o patrimônio acumulado pela esquerda nas últimas
décadas, patrimônio que se concentra no Partido dos Trabalhadores. Não na
pessoa do Lula, não no grupo que hoje é majoritário na direção nacional do PT,
nem mesmo na estrutura partidária em si. Mas se concentra, isto sim, nos
milhões de trabalhadores e trabalhadoras que se consideram petistas. Esta nação
petista é o coração do PT e ela precisa ser defendida, tanto dos ataques
criminalizantes da direita, quanto das tentativas de desmoralização promovidas
por setores do centro e da direita.
Portanto, neste sentido, reafirmamos integralmente a visão construída
pela tendência petista Articulação de Esquerda, desde 1993 até hoje, acerca da
natureza estratégica do PT. E, portanto, seguiremos colocando como nossa
primeira tarefa defender o PT. Sabendo que defender o PT exige, hoje, mais do
que nunca, mudar a estratégia e o padrão de funcionamento do PT. E fazer isto
pela esquerda, ou seja, em direção à classe trabalhadora e em função da
luta pelo socialismo.
Esta mudança supõe a construção, na base social do PT e dentre os
filiados do PT, de uma nova maioria, disposta a construir um novo rumo para o
Partido. Esta nova maioria não resultará da formação de “coligações internas”
entre as tendências e grupos e lideranças atualmente existentes. Embora isto
possa fazer parte do processo, não constitui a sua essência. A essência do
processo reside em reconectar, resintonizar e colocar em movimento os setores
da classe trabalhadora que abraçam o petismo, buscando atrair os que de nós se
afastaram, no rumo de um enfrentamento com a classe dominante. Se não houver
base de massa para uma nova estratégia, não haverá na prática uma nova
estratégia. Portanto, se no âmbito da oposição a Bolsonaro estamos diante de
uma maratona, também na disputa de rumos do PT precisaremos de fôlego para uma
longa jornada.
7 de novembro de 2018
Quanto ao Lula Livre, pauta imprescindível agora, parece não contar com o apoio de alguns futuros deputados de esquerda (não sei muito bem se são, de fato). O 247 enfeita um pouco o que o deputado Marcelo Freixo (RJ) disse em entrevista à Época. O link está aqui: https://epoca.globo.com/thiago-prado/a-pauta-nao-pode-mais-ser-lula-livre-diz-marcelo-freixo-23229184
ResponderExcluirBoulos discorda de Freixo.
ExcluirVocê é um grande contabilista!....
ResponderExcluirContabilista da história!....
ResponderExcluirAs Religiões tem muito em comum com a esquerda. Porque não fica evidenciado isto na estratégia de comunicação?
ResponderExcluirParece que a esquerda tem horror em citar trechos do Evangelho, do Budismo do Alcorão etc ...que são em conteúdo semelhante as idéias de Marx
ResponderExcluirO que levou à vitória do Bolsonaro foi a reação da elite à ascensão das classes populares nos últimos anos.
ResponderExcluirA Religião é muito mais abrangente, explicitamente falando, do que a Política e mesmo a Ciência, porque abrange a vida após esta vida,o que torna um poder influenciador, muito pais forte, que qualquer outro.
ResponderExcluirBoa parte da manipulação das Religiões, neste caso entendidas como igrejas, pela direita, quer ideologicamente como financeiramente, só foi possível, devido ao vazio deixado pela esquerda, um certo desprezo pelo assunto, deixando espaço que foi ocupado pela direita conservadora.O estado deve ser laico, mas política não.
ResponderExcluirEstratégia: Derrotar o Golpe!
ResponderExcluirTática: Um passo atrás e dois na frente!...
Erramos nos dois!...
O Golpe venceu!....
ResponderExcluirLuta redobrada!...