1.
Bom dia/boa tarde/boa noite
2.
Apresentação
3.
Agradecimento
4.
Começar a exposição refletindo sobre o nome: Partido dos Trabalhadores.
5.
Partidos políticos, como os conhecemos hoje, surgem na revolução francesa de
1789.
6.
Apesar dos partidos serem uma criação da revolução burguesa, a burguesia com o
passar do tempo foi diminuindo a importância dos partidos. E quem herdou a
tradição partidária foram os trabalhadores, a esquerda.
7.
Por quê? Porque os partidos são instrumentos para conquistar o poder político.
E como a burguesia já detém o poder político, ela dispõe de outros mecanismos
para manter o poder: o Estado, a mídia, a indústria cultural, as escolas, as
igrejas conservadoras, a disciplina empresarial imposta aos trabalhadores e, se
nada disso funciona, as forças armadas.
8.
Já os trabalhadores que não dispõem do poder, precisam do Partido para
conquistar o poder. Ou seja, para defender suas ideias, para organizar a
sociedade, para mobilizar a sociedade, para implementar as estratégias, as
táticas, as formas de organização e luta necessárias para conquistar o poder
político.
9.
Por isto os partidos são tão importantes para nós, trabalhadores, pessoas de
esquerda.
10.
Vamos agora olhar o outro termo: partido dos trabalhadores.
11.
Se fosse criado hoje, é possível que nos chamássemos dos trabalhadores e das
trabalhadoras. Ou partido da classe trabalhadora. Por razões de gênero.
12.
As mulheres são metade e foi a luta que deu visibilidade para suas reivindicações
e direitos.
13.
Os trabalhadores e trabalhadoras são a ampla maioria da sociedade. Mas não
controlamos o poder. Vivemos numa democracia, mas a maioria social não é
maioria política.
14.
Quem é a classe trabalhadora? Os que vivem do seu trabalho, que não exploram o
trabalho dos outros.
15.
Há basicamente três grandes classes sociais no Brasil: os que vivem de explorar
o trabalho dos outros (os capitalistas, os burgueses, o grande empresariado);
os que vivem do seu trabalho e não exploram o trabalho dos outros (a classe
trabalhadora, o proletariado); e os que combinam as duas características,
vivendo em parte de seu trabalho e em parte explorando o trabalho dos outros,
familiares ou agregados ou assalariados (os pequenos proprietários).
16.
O PT é o partido dos que vivem do seu trabalho.
17.
Isto não quer dizer que não possam se filiar ao PT empresários ou pequenos
proprietários. Nem significa que o Partido esteja impedido de fazer alianças
com partidos que expressam os interesses de outras classes.
18.
Mas significa que o PT como partido tem como objetivo programático,
estratégico, defender os interesses da ampla maioria, que é de trabalhadores
assalariados.
19.
Estas duas noções são fundamentais: somos um partido (portanto estamos numa
organização que luta para conquistar o poder) e um partido da classe
trabalhadora (portanto defendemos os interesses de uma parte da sociedade).
Notem que a palavra “partido” já traz embutida a ideia de “parte”.
20.
Isso às vezes gera preconceito: vocês são apenas de uma parte. Sim, mas somos
de uma parte que é a maioria e cuja proposta é universal, ou seja, queremos uma
sociedade onde não haja exploração nem opressão, o socialismo.
21.
Isto nos remete para a segunda parte da exposição: o que propomos?
22.
Um partido político deve ser definido não pelo que acha de si mesmo, mas pela
sua obra. E sua obra não pode ser apenas o passado, mas sim principalmente o
presente e o futuro.
23.
E como o presente e o futuro estão sendo construídos, discutir isto é discutir
onde queremos chegar (o programa), como queremos chegar (a estratégia, a tática
e as formas de luta) e como nos organizamos para chegar (as formas de
organização).
24.
O programa de um partido começa com um diagnóstico da sociedade em que vivemos.
25.
Qual o nosso diagnóstico: vivemos numa sociedade capitalista, mas numa
sociedade capitalista específica, marcada por grande dependência externa,
grande desigualdade social e pouca democracia. Estas três características são
ligadas uma as outras.
26. O território que hoje chamamos
de Brasil foi invadido pelos europeus, mais ou menos na mesma época em que o
restante do continente. E após a invasão, as riquezas existentes aqui foram
exploradas para subsidiar a economia de algumas regiões europeias e, com isso,
acabamos ajudando a fazer nascer o capitalismo.
27.
Aí alguém pode se perguntar, 500 anos depois: como pode um país como o Brasil
que começou depois e durante séculos foi colônia, ter se convertido em uma das
principais economias capitalistas do mundo?
28.
Esta questão é objeto de muitos debates. Portanto, o que vamos falar aqui é uma
simplificação: apesar de sermos dependentes, chegamos aonde chegamos, porque
entre outros motivos abusamos da exploração, o que gerou uma das sociedades
mais desiguais do mundo.
29.
Lembrando que desigualdade não é pobreza, mas sim a distância entre os que mais
tem e os que menos tem.
30.
E como foi que durante tantos séculos mantivemos tanta desigualdade? Mantendo
baixas taxas de democracia: muito império, muita monarquia, muita ditadura,
muita ditadura limitada.
31.
Portanto, o tipo de sociedade que temos aqui no Brasil é capitalista, mas um
capitalismo dependente, desigual e com baixas doses de democracia.
32.
Para exemplificar este tema da democracia: temos 513 anos de história, dos
quais 322 de império, 388 de escravidão, 389 de monarquia, depois 41 anos de
uma república velha com voto fraudulento, depois 15 anos de ditadura varguista,
depois 18 anos de uma democracia pela metade (com repressão ao movimento
sindical e restrições a vida política de esquerda), depois mais 21 anos de
ditadura militar, depois mais 4 anos de uma transição conservadora e, só em
1989, 489 anos depois, tivemos eleições presidenciais relativamente livres.
33.
E bastou isto para quase o PT ganhar a presidência.
34.
E depois de 1989, foram necessários apenas 13 anos para o PT vencer. Entendem
porque a democracia política é um perigo para a classe dominante?
35.
Voltando: nossos principais problemas são a dependência, a desigualdade e a
democracia restrita. Estes problemas foram mantidos durante a época do
desenvolvimentismo conservador, de 1930 a 1980; e foram mantidos na época
neoliberal, de 1990 a 2002.
36.
Frente a estes problemas, o que defendemos: acabar com o neoliberalismo,
realizar reformas estruturais democráticas e populares, construir uma sociedade
socialista.
37.
Há toda uma discussão, dentro do PT, sobre como estes três objetivos
programáticos se traduzem em políticas concretas e como eles se articulam uns
com os outros. Ou seja: como combinar a luta contra o neoliberalismo, contra o
desenvolvimentismo conservador e contra o capitalismo; e como traduzir estes
objetivos em programas, em ações concretas.
38.
Esta discussão é o que chamamos de estratégia.
39.
No PT existem diferentes visões sobre a estratégia do Partido. O que podemos
destacar aqui são algumas premissas fundamentais e fundantes da estratégia
petista: o caráter de massas, a acumulação de forças e a necessidade de
diferenciar as alianças estratégicas das táticas.
40.
O PT é um partido de massas. Muita gente interpreta isto como número e, é
claro, falar de massas também é falar de números. Mas quando a gente fala que
somos um partido de massas, estamos nos referindo a um aspecto estratégico de
nossa política: fazemos política para dezenas de milhões de pessoas, com o
objetivo de ganhar estes milhões para nossas posições, com o objetivo de que
estes milhões façam por si mesmo política, se organizem e lutem e construam uma
sociedade diferente.
41.
Isto significa, por uma parte, que não queremos o poder para o Partido, mas sim
queremos que a maioria da sociedade detenha o poder e, para que isto seja
possível, construa um jeito diferente de exercer o poder.
42.
Isto significa, por outro lado, que o PT não pode fazer política apenas nos
locais tradicionais. O PT não surgiu para
disputar eleições, exercer mandatos e governar. O PT surgiu para organizar a
classe trabalhadora, para organizar a maioria da sociedade, para que esta
maioria se auto-governe. Por isto temos que estar presentes e atuantes em todos
os espaços da sociedade. E por isto disputar eleições, exercer mandatos e
governar constituem meios, não fins em si.
43.
Isto nos remete para a combinação de formas de luta. Para o PT atingir seus
objetivos, é preciso construir um movimento político cultural de massas,
organizar os movimentos sociais, disputar espaços institucionais e organizar o
próprio Partido.
44.
A ideia de movimento político cultural de massas é muito importante: se
queremos viver numa sociedade diferente, temos que lutar para nos libertar dos
velhos hábitos, costumes, inércias, obediências devidas que caracterizam a
sociedade que vivemos.
45.Quando a gente fala da luta
contra o racismo, contra a homofobia, contra o machismo, contra o preconceito
contra idosos e contra jovens, contra o individualismo etc. estamos falando disto.
Quando a gente fala de desenvolver novos conteúdos na educação, de construir
uma cultura que não seja voltada ao lucro, de construir uma mídia democrática,
de construir uma cultura de tolerância e solidariedade, estamos falando disto.
46.
Organizar os movimentos sociais significa que devemos estimular a
autoorganização, a conscientização e a mobilização de cada setor de nossa parte
da sociedade. Tem gente que vem direto para o PT,
mas o PT não deve querer ser o Partido de todos os trabalhadores e
trabalhadoras. Mas o PT deve sim lutar para que todos os trabalhadores e trabalhadoras, todos os
aposentados e todos os filhos e filhas da classe trabalhadora estejam
organizados em sindicatos, em grêmios, em associações de bairro, em
organizações de mulheres, de negros, de jovens, de índios. É fundamental que
nossa sociedade se auto-organize, e que lute, porque a classe dominante esta
tem seus próprios meios e os usa muito bem, em seu interesse.
47.
Disputas espaços institucionais é outra dimensão estratégica para o Partido:
trata-se de disputar as eleições, exercer mandatos parlamentares e exercer
mandatos executivos.
48.
Isto é importante porque nos permite começar a implementar, agora, parte de
nosso programa. Mas atenção: um bom mandato,
especialmente um bom mandato executivo, não é o objetivo final. É um meio. E
para ser um meio exitoso, precisa estar articulado com as outras dimensões
estratégicas que eu citei: a cultura de massas, a organização da sociedade; e
com a organização do Partido.
49.
Vejam o caso de nossos 10 anos de governo federal. Estamos melhor do que
estávamos sob FHC e estamos melhor do que estaríamos se Serra ou Alckmin
tivessem ganho as eleições presidenciais.
50.
Mas atenção: parte importante do povo que melhorou de vida graças aos nossos
governos, não atribui isto ao PT nem aos governos encabeçados pelo PT. Atribui
isto a seu esforço pessoal. Isto tem um lado bom: é importante que as pessoas
confiem em si mesmas e ninguém deve ficar grato por ter seus direitos. Mas tem
um lado ruim: significa que parte das pessoas que melhoraram de vida, continuam
culturalmente, politicamente, prisioneiras das mesmas forças políticas que
querem que o povo piore de vida.
51.
E porque acontece isto? Porque não conseguimos fazer reforma política, porque
não conseguimos democratizar a comunicação, porque não conseguimos organizar a
sociedade como deveríamos e precisamos, porque o Partido ainda é muito débil.
52.
Temos muito o que fazer e só faremos o que precisa ser feito se continuarmos
ganhando eleições presidenciais, se governarmos os grandes estados brasileiros,
a começar de SP, RJ e MG; se conquistarmos a maioria do parlamento nacional,
dos parlamentos estaduais e municipais, bem como das prefeituras.
53.
E isso será possível se tivermos partido, luta
social, disputa político-cultural. Portanto, é muito importante
onde a gente é governo, não confundir a defesa dos nossos governos, com o
governismo.
54.
Governismo é aquela atitude de quem acha que ser governo basta. Quem defende o
governo sabe que é importante ter partido, ter movimento social, ter debate de
ideias e, inclusive, sabe que às vezes é preciso
que o Partido pressione o governo de fora para dentro e de baixo para cima, para
compensar as pressões que outras forças fazem.
55.
Isto nos remete para o último aspecto que eu citei: a política de alianças.
56.
O PT não é o único partido que busca
defender os interesses da classe
trabalhadora, não é o único partido socialista, não é o único que critica o
neoliberalismo e o desenvolvimentismo conservador.
57.
Por outro lado, sozinhos não vamos conseguir dar conta dos nossos objetivos
programáticos. Assim, o PT está disposto a fazer alianças, tanto alianças
estratégicas (com aqueles partidos que coincidem conosco nos objetivos mais
gerais) quanto alianças táticas (com aqueles partidos com os quais divergimos
quanto ao objetivo final, mas estamos de acordo em temas pontuais ou
intermediários).
58.
Evidentemente existe uma grande polêmica dentro do PT acerca de quem são nossos
aliados estratégicos e táticos.
59.
Já falei de onde queremos chegar (o programa), de como queremos chegar (a
estratégia, a tática e as formas de luta) e agora quero falar das formas de
organização.
60.
Somos um partido, um partido de trabalhadores, um partido socialista,
democrático-popular e antineoliberal, que acumula forças no debate ideológico,
na luta de massas, na luta institucional e que constrói a si mesmo.
61.
O tema da construção do Partido é muito importante, pois de certa forma o PT
deve antecipar, no seu funcionamento interno, aquilo que desejamos para a
sociedade.
62.
Queremos ser um partido de milhões. Temos apenas 1.800.000, precisamos de muito
mais.
63.
Queremos milhões de pessoas conscientes, por isto precisamos de formação
política, de meios de comunicação internos e de instituições como a Fundação
Perseu Abramo.
64.
Queremos que estes milhões interajam com o restante da sociedade, por isto
precisamos de comunicação de massas, setoriais, núcleos de base e diretórios
que funcionam permanentemente.
65.
Queremos que o Partido expresse a classe trabalhadora, por isso precisamos de
jovens, de negros, de mulheres, de expressão regional. Daí as cotas.
66.
E queremos que o Partido seja dirigido por si mesmo, o que significa que deve
haver eleições periódicas, liberdade de opinião e organização de tendências,
funcionamento intenso.
67.
Por fim: estamos num momento muito especial da vida do Brasil, da América
Latina e do mundo. No mundo há uma enorme crise, uma crise do capitalismo,
combinada com grandes transformações: uma potência ainda poderosa, mas que vai
perdendo espaço; e novos polos de poder que vão emergindo, entre eles o próprio
Brasil e nosso continente.
68.
Portanto, estamos num momento muito perigoso, mas também cheio de esperanças e
possibilidades. O que vai predominar? Depende em parte de todos nós e de cada
um de vocês. Por isto, para vocês que estão entrando no PT, o que dizemos é
sejam bem vindos e ao trabalho, que há muita luta, uma boa luta, para travarmos
juntos por um mundo e um Brasil sem opressão nem exploração.
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