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Este
Página
13 107, de abril de 2012, aborda alguns temas centrais: o debate sobre
o golpe de 1964, a preparação do PT para as eleições 2012, os encontros
setoriais do PT, a situação internacional.
Fica
para a próxima edição uma análise do caso Demóstenes/Cachoeira, demonstração
flagrante não apenas da hipocrisia, mas principalmente da promiscuidade entre a
direita brasileira e o crime organizado. E revelador da urgência com que o PT
deve retomar a iniciativa por mudanças profundas na política brasileira,
articulando isto com nosso projeto de desenvolvimento.
A
história brasileira, ao longo do século XX e neste início do século XXI foi
marcada pela disputa entre dois projetos de desenvolvimento. Ambos projetos de
natureza capitalista, um deles ainda hegemônico, a saber: aquele que preserva e
acentua o caráter dependente, monopolista e anti-democrático do capitalismo
brasileiro.
O outro projeto, que busca combinar capitalismo com soberania nacional, bem-estar social e democracia, nunca foi hegemônico no Brasil. E não foi, entre outro motivos, porque para combinar estes componentes, ou bem o capitalismo brasileiro precisaria ter a seu dispor colônias de onde sacar recursos extraordinários; ou bem precisaríamos ter uma correlação de forças interna que obrigasse a classe dominante a ceder anéis, para não perder os dedos.
Pelo
menos desde os anos 20 do século XX, não foi a burguesia, mas sim a esquerda
brasileira (progressista, nacionalista, democrática, trabalhista, socialista,
comunista) quem defendeu a via democrática de desenvolvimento para o
capitalismo brasileiro.
O
que criava uma espécie de círculo vicioso: a única força capaz de sair da
armadilha imposta pelo capitalismo, preferia defender uma variante capitalista
de desenvolvimento, variante esta que nunca se materializava, entre outros
motivos por não ter apoio suficiente entre os próprios capitalistas, mais
interessados em associar-se com os latifundiários escravistas do passado e com
os imperialistas estrangeiros do presente.
Desde
2003, com a posse de Lula, vivemos numa etapa superior deste círculo vicioso: a
esquerda faz parte do governo de um país capitalista, em coalizão com frações
burguesas, buscando implementar um modelo de desenvolvimento econômico que crie
as condições de bem-estar social, democracia politica e soberania nacional. Mas
isto supõe fortalecer o Estado, o que exige tributar uma classe capitalista que
não quer ceder nada, e sem financiamento somos levados a um rebaixamento
sistemático dos horizontes da esquerda, tanto na prática de governo quanto no
debate teórico-programático.
É
neste contexto que trava-se o debate entre os desenvolvimentistas conservadores
privados (para quem desenvolvimento se traduz em empresas privadas fortes, o
que implica em reduzir salários e o que eles chamam de gastos sociais do
Estado), os nacional-desenvolvimentistas (para quem o centro está no
fortalecimento do Estado brasileiro, o que em determinadas condições pode
implicar no mesmo remédio proposto pelos desenvolvimentistas conservadores), os
social-desenvolvimentistas (que vinculam desenvolvimento à expansão do mercado
interno de massas, incluindo aí a oferta de serviços públicos pelo Estado) e
todas as variantes intermediárias.
Neste
debate, a esquerda socialista oscila entre dois extremos. Alguns rendem-se
totalmente ao desenvolvimentismo, aceitando como horizonte ideológico e teórico
o próprio capitalismo, transformando o socialismo em valores morais ou no
máximo em uma tensão de tipo social-democrata (leia-se: bem estar social).
Outros querem fugir do círculo vicioso, saltando fora dele: são os que negam qualquer
desenvolvimentismo, defendendo que a saída está, ora quem diria, no socialismo.
De
nossa parte, assumimos a postura do bardo: encontrar, no centro da própria
engrenagem, a contra-mola que resiste. Ou seja: tensionar por dentro e por fora
a disputa entre desenvolvimentismos. Por dentro, apoiando e radicalizando a
defesa de medidas nacional e social-desenvolvimentistas, pois no limite estas
medidas tensionam a natureza mesma do capitalismo brasileiro. Por fora,
estimulando a luta da classe trabalhadora por maiores cotas de poder, renda e
riqueza.
Traduzimos
esta postura naquelas palavras já conhecidas dos leitores de Página 13: um desenvolvimentismo
democrático-popular, articulado com uma estratégia socialista. O que exige um Partido dos Trabalhadores tão
preocupado em organizar a luta direta da classe trabalhadora, quanto se
preocupa em disputar eleições; e que consiga superar a degeneração que anos de
americanização da política introduziram entre nós.
Os
editores
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